ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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23.8.03
CARLOS FINO EM BAGDAD
A RTP enviou Carlos Fino de novo ao Iraque. Fino é um jornalista experimentado, seguro, que não hesita em correr riscos para estar no sítio certo no tempo certo. Essa capacidade permitiu-lhe momentos de reportagem que qualquer jornalista gostaria de ter. Mas Fino não é um jornalista objectivo, nem nada que se pareça. Já me reduzo a considerar objectividade, apenas a procura de objectividade, que isso qualquer pessoa sabe o que é , sente se existe. Fino é um jornalista programático, que desenvolve o seu trabalho em função da sua opinião e só vê e só comenta o que com ela coincide. Se analisarmos os seus relatos da guerra, na estadia anterior, eles revelam um enorme desequilíbrio, insisto, enorme. O que Fino relatou, dia após dia, não só não se verificou como foi contrariado pelos factos de forma gritante. Fino continuou na mesma, imperturbável, mesmo quando a queda de Bagdad de Saddam, foi um desmentido flagrante do que ele dizia na véspera. Na RTP, ninguém quer saber destas minudências e Fino foi de novo enviado para o Iraque. E, desde o primeiro minuto, está a repetir o mesmo que já fez: as suas intervenções nos noticiários são completamente programáticas e tão previsíveis que as podia fazer de Lisboa. A linha actual é simples e repisada a propósito de tudo: o Iraque está mais inseguro do que alguma vez esteve, tudo corre mal aos americanos, nada se estabiliza e a situação é um beco sem saída. Todos os dias ele vai dizer o mesmo, todos os dias ele vai procurar um pretexto de reportagem para dizer o mesmo. Que a situação no Iraque é de insegurança, nós sabemos. Que nem tudo corre bem para os americanos, nós também sabemos. Se é um beco sem saída, isso não sabemos. Agora o que sabemos certamente é que o Iraque de Saddam , há meia dúzia de meses, era um regime de torturas, fuzilamentos sumários, prisões e espancamentos , opressão da maioria chiita, de violência absoluta. Talvez por isso, quando vemos numa reportagem de Fino, um iraquiano exaltado à frente de uma manifestação de desempregados, com muito pouco gente aliás, a berrar que “hoje se está pior do que no tempo de Saddam” , nos faça falta algum enquadramento, que um jornalista isento faria sobre o valor deste “testemunho”. É um pouco a mesma coisa que ver o 25 de Abril em 1975 pelos olhos de um legionário. (url)
© José Pacheco Pereira
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