ABRUPTO

19.8.03


BAGDAD / JERUSALÉM

Não foi preciso deixar o Assassínio na Catedral de T. S. Eliot (tradução de José Blanc de Portugal):

Entorpecida a mão, secos os olhos,
Continua o horror e mais horrível sempre;
Mais horrível que o rasgar dos nossos ventres
Continua o horror e mais horrível inda
Que o torcer dos nossos dedos
E o que as cabeças nos espedaçava;
Pior que os passos pela claustra;
Pior que as sombras do portal;
Pior que o furor no paço episcopal.
Sumiram-se os agentes do inferno, os homens amesquinham-se, encolhem-se e esgueiram-se.
Solutos na poeira do vento, esquecidos, imemoráveis; apenas aqui fica
A branca lisa face da Morte, de Deus silenciosa serva;
E atrás dela o Final Juízo;
E atrás do Juízo o Vazio vem; o Vazio ainda mais horrível que as activas formas do inferno;
Vacuidade, ausência, separação de Deus; o horror da jornada inesforçada para a terra vazia,
Terra que o não é, apenas vacuidade, ausência, o Vazio
Onde os que foram homens mais não podem tornar seu pensamento,
Ou distraírem-se, ou iludirem-se, fugirem para os sonhos, simularem;
Onde a alma enganar-se näo mais pode pois lá não existem nem Sons nem objectos,
Nem cores nem formas que a distraíam ou afastem
Da visão de Si própria, vilmente unida eternamente, nada de nada,
Não o que chamamos morte mas o que lhe e além e não é monte;
Temos medo! Medo! Quem então me pode defender,
Interceder por mim na necessidade extrema?”


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© José Pacheco Pereira
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