ABRUPTO

22.8.03


BAGDAD / JERUSALÉM 6

Quanto mais vou aprendendo sobre o mundo islâmico, sem querer meter tudo no mesmo saco, mas falando genericamente, porque não deixa de ser neste caso possível, mais importância atribuo ao domínio dos homens sobre as mulheres como factor de uma forte e agressiva diferenciação cultural, na origem de muitos dos actuais conflitos.

Na guerra actual, como em todas as guerras, há um elemento de poder presente, poder que se quer ganhar, poder que se quer defender. Um dos elementos que cada vez me parece mais importante neste conflito é a defesa da autoridade quase absoluta dos homens sobre as mulheres no mundo islâmico. Bernard Lewis tinha já chamado a atenção para esta característica do mundo islâmico, como uma das grandes barreiras à modernização, uma das coisas que explicava o “que correu mal”.

É verdade, como muitos muçulmanos dizem, com razão, que a autoridade masculina, seja do marido, seja do pai, seja dos irmãos, acompanha direitos, principalmente patrimoniais, da mulher, que foram pioneiros em relação ao mundo ocidental. Mas mesmo aí o que se defende é mais a família original da mulher do que a mulher em si, que sai de uma servidão para outra. A escravatura sexual da mulher, a sua ausência de direitos cívicos ou quaisquer outros, a imposição de uma autoridade absoluta e desigual, é uma das características culturais e sociais mais violentamente defendidas pelos homens.

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© José Pacheco Pereira
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