ABRUPTO

21.8.03


BAGDAD / JERUSALÉM 3

Como esperava, o que escrevi sobre os atentados em Bagdad e em Jerusalém suscitou muito correio. Alguns dos textos enviados apareceram entretanto nos blogues dos seus autores, pelo que para aí remeto os leitores. Há algumas cartas que contem textos que directamente confrontam o que escrevi. Seleccionei algumas, compreendendo bem que palavras duras suscitam palavras duras. Como é obvio, não concordo com o seu conteúdo, mas penso que suscitam questões que merecem reflexão, ou que são significativas do modo como as pessoas vêm esta muito complexa situação.


"Porque razão é que as mortes israelitas, na sua enorme brutalidade, não suscitam um milionésimo de reacção, da fácil reacção que outras mortes causam, mas apenas incomodo? (…) Porque razão as mortes iraquianas suscitam lágrimas e as israelitas comentários?" (perguntas de JPP)

Pela mesma razão pela qual tomamos o partido dos indíos de lança na mão contra o dos cowboys de Gatling na cintura.

Pela mesma razão pela qual se nos confrangemos ao vermos o longo braço armado de Israel entrar por território alheio adentro e arrasar a casa do 'mártir' que se fez explodir ontem.. (como essa fosse a terapia indicada para impedir a barbárie! Como se essa fosse a melhor política de relações públicas que alguém pudesse imaginar no sentido de angariar boas vontades a nível mundial!)

Pela mesma razão pela qual me arrepio ao ver os judeus Hasidi, ultra- ortodoxos, por todo o lado. Homens, todos. São homens severos, velhos e novos que se vestem de negro, que usam um chapéu antiquado (ou um streimel) ao invés da kippa, que exibem as tzitzis por sobre as calças e os payos (aquelas longas tranças por sobre as orelhas, geralmente com o restante couro cabeludo rapado à máquina de pente um mandatadas por Deus no Levítico 19:27) com orgulho e que balançam devagarinho, para trás e para frente, enquanto murmuram preces em hebraico sonegadas a livros assebentados que parecem deles fazer parte integral. Entram-me em casa pela televisão, saltam-me aos olhos na capa do Público, sempre rígidos e severos, sempre calados, proverbialmente vingativos
e castigadores.

O fundamentalismo é sempre assustador, seja lá qual for a forma sob a qual se apresente. E a intolerância é sempre a mãe de todos os conflitos, a pedra de toque de um futuro que teima em não haver, com ou sem vítimas politicamente correctas. Ou não."

(Alexandre Monteiro do No Arame)


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Li no seu blogue:

"Porque é que não se pode dizer que Sérgio Vieira de Mello morreu pelo mesmo objectivo por que morrem os soldados americanos? Por ter sido funcionário da ONU?"

Sou um grande fan do seu blogue, mas as frases anteriores revelam uma grande hipocrisia e má vontade por parte do seu autor, pois facilmente se vê que Sérgio Vieira de Mello não fazia parte de um exército de ocupação
.” (Pedro Andrade)

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Escreveu no abrupto sobre os atentados de Badgade e Jerusalém: «É que há muita gente que prefere os seus confortinhos ideológicos, ao decente sentimento de poupar a dor a pessoas concretas»

Não me leve a mal, mas quanto ao decente sentimento de poupar a dor a pessoas concretas, não me ocorre ninguém com menos legitimidade em invocá-lo do que aqueles que, como o Senhor, fizeram a apologia da intervenção militar no Iraque.
” (Manuel Anselmo Torres)

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© José Pacheco Pereira
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