ABRUPTO

25.7.03


TRATADO DOS TELEMÓVEIS – algum correio

Paulo Alves sugere que se substitua devices por "dispositivos".

Mário Chainho fornece elementos suplementares e é mais prudente quanto a algumas previsões:

"As evoluções que preconizou para os telemóveis (prefiro chamar-lhes de terminais móveis) são mais do domínio da ficção científica que do razoavelmente expectável nas próximas décadas. O actual sistema utilizado em toda Europa e um pouco por todo o mundo (GSM) é das obras mais complexas feitas pelo homem, só possível devido a avanços espontâneos e provocados em vários domínios, não sou na tecnologia mas também ao nível da investigação científica feita em empresas e universidades de todo o mundo. No entanto, tudo parece ainda muito tosco. E tudo isto porque a tarefa de colocar uma rede de comunicações móveis a funcionar nos moldes actuais não é nada fácil, parecendo mesmo uma tarefa impossível de realizar. Ao contrário dos telefones fixos, em que tudo é estável e basta ligar um fio de um lado ao outro (não é bem assim porque a rede central pode ser muito complexa), nas comunicações móveis o suporte é o ar e tudo atrapalha: O nível de sinal pode cair de um instante para o outro cerca de 100 000 vezes, mas essa é apenas uma das milhares de dificuldades encontradas, e todas foram sendo resolvidas. As primeiras normas sobre o sistema GSM, há mais de 10 anos, tinham mais de 5000 páginas, e apenas faziam referência aos interfaces entre os vários dispositivos da rede e suas funções. P.e., nenhuma das normas referia como se fazia um telemóvel mas apenas as suas funcionalidade e formas de interacção com a rede - e a partir daí cada fabricante poderia fazer os terminais como queria. Parece-me que os devices integrados no corpo estão tão longe dos actuais terminais como um F-16 de um papagaio de papel - mas são bem conhecidas previsões sobre o futuro feitas por grandes figuras que saíram completamente erradas, e de grande figura eu nada tenho.

Talvez os avanços na tecnologia atinjam uma saturação mais rápida do que se julga. Fico por vezes com essa ideia porque para haver progressos lineares na tecnologia a quantidade de problemas a resolver aumenta geometricamente - assim me parece.

Em relação à "Sociologia do Telemóvel", trabalhando numa empresa de comunicações móveis tenho o privilégio de ver algumas das melhores e piores utilizações do aparelho. Entre as melhores acho que se podem nomear: reforçar dinâmicas de trabalho, criando novas oportunidades de negócio nas mais diversas áreas; Aproximar o país, já que uma ligação Açores - Lisboa é semelhante e custa o mesmo que uma ligação Lisboa - Lisboa.
As desvantagens são também bem conhecidas. Muitas já aqui foram apontadas. Existem mesmo casos doentios de utilização dos telemóveis e são inegáveis os condicionamentos sociais que eles podem provocar, melhor, o telemóvel é mais uma das variáveis na luta pelo estatuto e pela felicidade - por si nada faz. O que prende as pessoas são os seus desejos e ansiedades e não um qualquer aparelho exterior a si - só quem se deixa dominar fica dominado. "


Smaug comenta no Incongruências as notas sobre telemóveis:

O nome que sempre dei aos telemóveis, e aos seus antecessores bips/telebips [estes já podem ser acrescentados à lista de objectos em extinção], foi “A Trela”. Estes malogrados objectos funcionam como uma trela sem fio, mas que se pode sempre, ou quase sempre, puxar.

“Onde estás?!” – tornou-se pergunta inicial que quase todas as conversas telefónicas, só depois se pergunta “Como estás?” (se se perguntar...). Uma coisa muito útil é a personalização dos toques do telemóvel dependendo de quem nos está a ligar, o meu só toca para meia dúzia de números, para o resto faz um discreto “bip” e deixa-se ficar caladinho.

Faço uma pequena correcção ao texto de JPP, na parte do “2. Diálogos de um futuro muito imediato – cedências de liberdade”. As redes de telemóveis, por motivos intrínsecos ao seu funcionamento técnico, sabem sempre a localização dos aparelhos com uma margem de erro relativamente pequena, a Optimus e a Vodafone comercializam serviços que fazem uso dessa capacidade.




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© José Pacheco Pereira
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