ABRUPTO

17.7.03


OS ESPIÕES DE CAMBRIDGE

Li referências elogiosas à série Cambridge Spies de que vi um ou dois episódios, o suficiente para perceber como é idealizado o que aconteceu. É verdade que, mais do que o costume, a série mostra o “estilo de vida” do grupo dos “apóstolos” transformados em espiões soviéticos. Mas a idealização, neste caso, é particularmente mistificadora porque prolonga a mesma complacência snobe que permitiu a longa sobrevivência do grupo. Esta gente matou – a lista dos agentes albaneses entregue aos soviéticos matou-os um a um, ou mandou alguns e as suas famílias para campos de concentração toda a vida.

Fossem eles nazis e a complacência seria nula. Mas a verdade é que se os “apóstolos” eram genuínos comunistas na sua juventude, em breve se tornaram cínicos que prezavam acima de tudo a snobeira de serem contra o establishment de uma forma irresponsavelmente perigosa. Entre as bebedeiras, o “catalogue raisonné” de Poussin, as gravatas certas, o tom upper class da má língua e os encontros clandestinos com o KGB, tudo parece fácil e exerce nos espectadores o mesmo efeito de atracção das fotografias do jet set em férias ou das casas dos ricos e poderosos. Olha-se para cima , quando se devia olhar para baixo.

É um traço sinistro do “comunismo” das classes altas inglesas, que se encontra também nas manas Mitford, levarem o ar blasé das conversas dos clubes de Oxford e Cambridge a um elevado grau de imaturidade social e politica. A idealização dos Cambridge Spies é isso mesmo: o elogio da irresponsabilidade.

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© José Pacheco Pereira
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