ABRUPTO

12.7.03


LUGARES DA DECADÊNCIA

Casino em Baku ( ou foi em Ashkabad ?)

Não é uma cave, mas parece uma cave. Neons a brilhar na rua escura : Casino Las Vegas ou semelhante. Las Vegas em Baku, a descer para o porto, cheirando a petróleo, passando pelos palácios escalavrados dos magnates do início do século, estuque a cair, passando pela ópera, uma torre otomana, no meio do lixo e dos retratos do presidente Aliev.

É uma sala pequena, poucos metros, quatro ou cinco mesas de roleta, um bar da Moviflor, em bom rigor é tudo da Moviflor, de alguma Moviflor turca. Predomina a napa preta e vermelha. Vidros, espelhos, reflexos. Junto às mesas da roleta a napa está brilhante. Mesas de plástico para pousar os copos. Muitos cinzeiros que isto é terra do Marlbourough man, para onde se retiraram as firmas de tabaco .

Mais silêncio do que seria de esperar em terras onde está sempre a tocar qualquer coisa. A televisão turca. A lambada. Outras lambadas de que já ninguém se lembra, mas sobrevivem aqui uma vida post-mortem. Silêncio, ocasionalmente algum universal “oh!” dos que ganham ou perdem. O barulho de uma slot-machine, o rolar da bola na roleta, “rien ne va plus” em azeri, em inglês.

Nunca está muita gente, mas está sempre gente. A gente da casa: os homens em fato preto gasto, as armas bem visíveis por baixo da roupa. As mulheres, nas mesas da roleta, ou servindo, ou estando em grupos silenciosos numa mesa do canto, russas, ucranianas, uma ou outra azeri, turcas, vestidas de erótica de motel dos anos cinquenta.

Bebidas ocidentais escuras numa terra dominada ainda pelas bebidas brancas, aguardentes e vodkas. Whisky, cocktails coloridos para as senhoras, Cuba livre, misturas. Baku é uma terra de misturas.

A moeda que entra e aquela em que se joga é o dólar, a moeda em que se recebe às vezes não é o dólar, qualquer cupão fotocopiado local que passa por moeda e que se recebe em sacos, liras turcas, rublos, etc.

Os jogadores não são muitos. Trabalhadores ocidentais das companhias de petróleo, muita coisa vista, muita coisa vivida, rugas, pele dura, corpos enormes que manobrar um poço de petróleo não é brinquedo. Orientais, porque há sempre um chinês, um coreano, um japonês, junto de uma mesa de roleta. Pequenos, intensos, parecendo ter decorado as últimas cem jogadas da mesa, colocam as fichas de súbito, sem dúvidas. Depois a fauna local , masculina, de bigode otomano, fato completo, brutalidade à flor da pele, mãos grossas empunhando um rolo de notas de dólar, centenas, milhares de dólares . São os que fazem mais barulho e movimentam-se em grupo

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© José Pacheco Pereira
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