ABRUPTO

10.7.03


LER DUAS VEZES 5

Não é bem ler duas vezes, é olhar para o mesmo livro a partir de uma enorme distância. O livro é o Adriano de Marguerite Yourcenar, antes de ser o Adriano da Yourcenar.
Durante muitos anos um dos livros que oferecia aos mais intímos , como uma oferta especial porque reveladora, era o Adriano. Era barato, estava numa edição esquecida da Ulisseia que se encontrava nos monos da Feira do Livro do Porto. Tinha uma capa castanha de Sebastião Rodrigues, fora publicado numa colecção que se chamava “Vidas Apaixonantes” e o livro tinha o título A Vida Apaixonante de Adriano. Reparo agora, com alguma surpresa, que a tradução era de Maria Lamas.
Era um livro em que ninguém reparava, os leitores comuns da época, que seriam hoje leitores incomuns, desconheciam completamente a senhora e o livro. Por isso oferecê-lo era oferecer muito. Lendo-o o meu entusiasmo não é novidade para os dias de hoje e, movido por esse entusiasmo, escrevi a Yourcenar. O Eugénio de Andrade tinha-se correspondido com a Yourcenar e ofereceu-me um envelope manuscrito com o mítico endereço. Yourcenar respondeu-me com bastante afabilidade e paciência.
Alguém imagina Yourcenar no limbo dos livros?

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© José Pacheco Pereira
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