ABRUPTO

31.7.06
 


PIRATARIAS 12

Como se viu há pouco mais de meia hora, (obrigada aos leitores que prontamente comunicam a aparição do falso Abrupto) e ontem por volta das 20 horas, por um pequeno período de tempo, os ataques continuam. O Blogger tem conhecimento desta situação há cerca de quinze dias. Logo a seguir ao primeiro ataque, e já várias vezes posteriormente, me escreveram a dizer que o problema, que reconhecem ser uma exploração de uma falha do próprio Blogger, estava resolvido. Alguém continua a tentar sobrepor um falso blogue ao verdadeiro, usando uma falha do Blogger que este se revela incapaz de resolver.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM CHINATOWN, NOVA IORQUE, EUA



Nova Iorque, cabeleireiro em Chinatown, 2001

(Carlos Fernandes)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 31 de Julho de 2006


"Má fé" no Kontratempos.

Acrescento mais um exemplo: a utilização da palavra "massacre" nos noticiários da RTP1 e no Público de hoje (os que vi, é provável que apareça noutros meios de comunicação). No Dicionário da Academia é claro que a palavra implica matar "indiscriminadamente" "com selvajaria e crueldade", tendo como significados "chacina", "matança", e o acto de massacrar significa "chacinar" "trucidar", "dizimar", "exterminar". Podem parecer cruéis estes preciosismos vocabulares, mas o uso da palavra "massacre" não é descritivo é propagandístico porque implica haver dolo por parte de Israel. Se um inquérito revelar que o ataque a civis foi deliberado, então é legítimo usar a palavra "massacre", até lá é uma opinião disfarçada de notícia. Qualquer manual de deontologia jornalística ensina o que se deve fazer em casos destes, seja qual for a opinião do jornalista, a indignação que possa ter perante a violência da guerra e a sua inerente injustiça face a inocentes.

*
Confesso que me incomodam alguns comentários de leitores do Abrupto que na minha opinião fazem uma leitura muito ligeira do que se passa no Líbano. Como se vê pelos vários comentários, opiniões e “notícias” é cada vez mais difícil a uma Democracia fazer a Guerra. Há até quem defenda que a barbárie não depende dos actos, mas antes da condição de quem os pratica.

Pode hoje um regime democrático defender-se de um ataque terrorista? Ou de uma acção militar? Sabemos que qualquer guerra implica actos violentos, bárbaros, massacres se quiserem e quase sempre provoca vitimas inocentes e que nada têm a ver com o conflito. Houve demasiados exemplos durante o século XX para que alguém ache que uma Guerra pode não ser assim. É por isso legitimo colocar a questão; pode um regime democrático cometer actos de barbárie mesmo em legitima defesa? Se pode, então há quem questione se de facto o regime é ou não democrático; se não pode, então a democracia está impedida de existir quando é atacada.

A resposta à questão parece-me evidente. Uma Democracia deve poder defender-se com todos os meios ao seu alcance quando é atacada. Não obstante tentar evitar ao máximo atacar quem nada tem que ver com o conflito, sabe contudo, que quando inicia a sua defesa vai inevitavelmente causar sofrimento, cometer barbaridades e com probabilidade elevada vitimizar, massacrar inocentes. É isto a Guerra.

É importante que não nos esqueçamos destes “detalhes” quando nos apressamos a condenar Israel pelos ataques ao Sul do Líbano. Têm sido usados os mesmos adjectivos para analisar os actos terroristas do Hezbolla, que matam inocentes de forma deliberada, dos ataques de Israel às posições do grupo terrorista que mata inocentes de forma acidental. Só espíritos malévolos e pouco dados à análise concluem que Israel atacou postos das NU e matou inocentes em Qana de forma deliberada. Como é evidente isso só prejudica a posição política de Israel. Os pressupostos dos ataques do Hezbolla e de Israel não se confundem. Os primeiros visam o terror e o extermínio e por isso o objectivo principal é atacar alvos civis; os segundos têm como objectivo criar uma zona tampão que evite os bombardeamentos às cidades do Norte de Israel e por isso actuam sobretudo sobre as posições do grupo terrorista. O que também toda a gente conhece é que o Hezbolla se refugia junto de civis para evitar os ataques do exercito israelita. Só isto já demonstra o carácter sinistro deste tipo de actuação, que para tirar dividendos políticos não se importa de pôr em risco as populações compatriotas.

(Ricardo Sousa)

*

Impressiona-me a rapidez, e a precisão vocabular, com que procura “desmontar” a suposta má fé no tratamento da notícia relativa ao massacre perpetrado pelos Israelitas sobre a população libanesa. Com que vocabulário podemos então descrever as constantes humilhações que a população palestiniana tem sofrido há décadas? Os actos de resistência dos Palestinianos contra a ocupação israelita, já o sabemos, são rápida e comodamente designados de terrorismo… Impressiona-me, além do mais, na leitura de blogs e da imprensa, uma tendência fortemente maniqueísta no tratamento deste tema. Estudei especificamente a construção do discurso ideológico de justificação da guerra territorial contra o Islão entre os séculos XI e XIII (tese em história medieval, fcsh/unl) e não encontro, nos discursos contemporâneos, a diferença que justificaria a passagem, de então para cá, de mais de oito séculos. Confesso que as minhas leituras sobre temas contemporâneos têm sido pouco sistemáticas, dada a cronologia das minhas investigações, e por isso gostaria sinceramente que o Dr. J. Pacheco Pereira, que creio conhece bem estas matérias, nos oferecesse um texto escrito sob o ponto de vista palestiniano (quer queiramos quer não, o actual problema do Líbano insere-se basicamente na questão palestiniana). Li há meses o livro de Hamira Hass e fiquei impressionado com a arbitrariedade e a humilhação a que são sujeitos os Palestinianos, visível também num excelente documentário sobre os “checkpoints” apresentado no festival Doc.Lisboa no ano passado.

(Armando de Sousa Pereira)

*

Na Wikipedia "massacre" : "the human rights commission agreed on a specific definition: "A massacre shall be considered the execution of five or more people, in the same place, as part of the same operation and whose victims were in an indefensible state."

(Filipe Dias)

*

Como é que chamaria ao "incidente", como lhe chama a CNN?
Dano colateral?
Aquele que não tem nome?
Para que não me chame anti-semita e para que não pense que estou de má-fé, deixe-me dizer-lhe que conheço israelitas, que vivem e trabalham em Israel, na classe média, sem as vantagens dos políticos ou diplomatas, e não conheço árabes. E que gosto dos israelitas que conheço. São pessoas decentes, trabalhadoras, sensíveis, que criticam os que no seu próprio lado vêem apenas um lado da questão. Gosto de ouvir falar com mais inteligência do que a dos partidários de uma coisa. Como diria o outro, o mundo está perigoso. Não é hora de fundamentalismos. Nunca é hora de fundamentalismos.

(M.)
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: LAGOS EM TITÃ

Em vez de água, metano.
 


EARLY MORNING BLOGS
829 -Lune de Miel

Ils ont vu les Pays-Bas, ils rentrent à Terre Haute;
Mais une nuit d'été, les voici à Ravenne,
A l'sur le dos écartant les genoux
De quatre jambes molles tout gonflées de morsures.
On relève le drap pour mieux égratigner.
Moins d'une lieue d'ici est Saint Apollinaire
In Classe, basilique connue des amateurs
De chapitaux d'acanthe que touraoie le vent.

Ils vont prendre le train de huit heures
Prolonger leurs misères de Padoue à Milan
Ou se trouvent le Cène, et un restaurant pas cher.
Lui pense aux pourboires, et redige son bilan.
Ils auront vu la Suisse et traversé la France.
Et Saint Apollinaire, raide et ascétique,
Vieille usine désaffectée de Dieu, tient encore
Dans ses pierres ècroulantes la forme precise de Byzance.

(Thomas Stearns Eliot)

*

Bom dia!

30.7.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LOURES, PORTUGAL



Operário da construção na nova fase da Urbanização do Infantado-Loures.

(Luís Miguel Reino)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 30 de Julho de 2006


Vale cem números da Visão a entrevista a Miguel Veiga. O Miguel Veiga é um dos últimos originais antigos, - os originais modernos são muito menos originais -, um excêntrico na melhor tradição inglesa, logo portuense, ou vice-versa, e um homem de grande dignidade pessoal, bem rara qualidade. Meu amigo, de momentos bons e maus, como é suposto nos amigos.

*





O rolo de On the Road de Kerouac, um dos manuscritos (bom, não é bem manuscrito mas escrito à máquina com correcções) mais originais da história da literatura vai ser publicado na versão original, a enrolada.

*

Como eu o percebo:
"Ce n'est pas pour me vanter mais dans quelques jours, je partirais en vacances. Ne croyez pas que je vous lâcherais pour autant, chers amis et chers ennemis : mon PC me suit partout et le tavernier continuera à servir à boire et à manger tous les jours ou presque. Si je vous raconte ça, c'est parce qu'en songeant à la valise à faire, le même doute m'envahit comme toujours en cette occasion : quels livres emporter ? Il faut dire que je suis du genre à emporter deux livres plutôt qu'un lorsque je dois prendre le bus ou le métro, c'est à dire tous les jours, par prudence au cas où il y aurait une panne. Pour les trajets en avion, j'emmène trois livres plutôt que deux en cas de détournement prolongé. Vous aurez compris que la perspective de me retrouver bloqué quelque part sans avoir rien à lire me rend malade par avance. Je n'en suis pas à emmener un livre avant de prendre l'ascenseur (et puis on peut toujours relire la notice) mais je n'en suis pas loin."
Eu levo mais, mas é doença.

*

No Scientific American :
"A man walks along the inside of a circle of chess tables, glancing at each for two or three seconds before making his move. On the outer rim, dozens of amateurs sit pondering their replies until he completes the circuit. The year is 1909, the man is José Raúl Capablanca of Cuba, and the result is a whitewash: 28 wins in as many games. The exhibition was part of a tour in which Capablanca won 168 games in a row.

How did he play so well, so quickly? And how far ahead could he calculate under such constraints? "I see only one move ahead," Capablanca is said to have answered, "but it is always the correct one."

*

Aqueles para quem o fim do mundo (o fim de um mundo) chega antes: os últimos Shakers.
 


EARLY MORNING BLOGS
828 - ...haviam de achar homens homens, haviam de achar homens brutos, haviam de achar homens troncos, haviam de achar homens pedras.

Quando Cristo mandou pregar os Apóstolos pelo Mundo, disse-lhes desta maneira: Euntes in mundum universum, praedicate omni creaturae: «Ide, e pregai a toda a criatura». Como assim, Senhor?! Os animais não são criaturas?! As árvores não são criaturas?! As pedras não são criaturas?! Pois hão os Apóstolos de pregar às pedras?! Hão-de pregar aos troncos?! Hão-de pregar aos animais?! Sim, diz S. Gregório, depois de Santo Agostinho. Porque como os Apóstolos iam pregar a todas as nações do Mundo, muitas delas bárbaras e incultas, haviam de achar os homens degenerados em todas as espécies de criaturas: haviam de achar homens homens, haviam de achar homens brutos, haviam de achar homens troncos, haviam de achar homens pedras. E quando os pregadores evangélicos vão pregar a toda a criatura, que se armem contra eles todas as criaturas?! Grande desgraça!

(Padre António Vieira)

*

Bom dia!
 


PIRATARIAS 11





Vinte e quatro horas sem "perder" o Abrupto genuíno a favor do falso. É bom, mas ainda é cedo para pensar que tudo está resolvido e acabaram as tentativas de "substituição". Pelo caminho ficaram as imagens de arquivo que estou a ver se recupero.

29.7.06
 


RETRATOS DO TRABALHO

Os Retratos têm um programa simples: pessoas normais a trabalharem normalmente. É o lado da vida das pessoas que mais lhes determina o quotidiano, a que horas se levantam, os caminhos que levam, o tempo que têm ou não têm, o esforço de todos os dias, o modo como se relacionam socialmente, o dinheiro que têm. O trabalho raras vezes é fonte de felicidade, mas ter trabalho dá uma dignidade que faz muita diferença, em tempos de desemprego. O trabalho, salvo raríssimas excepções, é o resultado de uma maldição: o "suor do teu rosto" começou na expulsão do Paraíso e os nazis escreveram a mais cínica (porque infinitamente verdadeira no outro sentido que as coisas têm) frase sobre ele: "Arbeit macht Frei".

Muitos leitores do Abrupto têm olhado assim para o trabalho. Obrigado.

 


RETRATOS DO TRABALHO EM MATOSINHOS, PORTUGAL



À entrada da lota de Matosinhos. Esta manhã.

(Gil Coelho)
 


EARLY MORNING BLOGS
827 - Executive

I am a young executive. No cuffs than mine are cleaner;
I have a Slimline brief-case and I use the firm's Cortina.
In every roadside hostelry from here to Burgess Hill
The maîtres d'hôtel all know me well, and let me sign the bill.

You ask me what it is I do. Well, actually, you know,
I'm partly a liaison man, and partly P.R.O.
Essentially, I integrate the current export drive
And basically I'm viable from ten o'clock till five.

For vital off-the-record work - that's talking transport-wise -
I've a scarlet Aston-Martin - and does she go? She flies!
Pedestrians and dogs and cats, we mark them down for slaughter.
I also own a speedboat which has never touched the water.

She's built of fibre-glass, of course. I call her 'Mandy Jane'
After a bird I used to know - No soda, please, just plain -
And how did I acquire her? Well, to tell you about that
And to put you in the picture, I must wear my other hat.

I do some mild developing. The sort of place I need
Is a quiet country market town that's rather run to seed
A luncheon and a drink or two, a little savoir faire -
I fix the Planning Officer, the Town Clerk and the Mayor.

And if some Preservationist attempts to interfere
A 'dangerous structure' notice from the Borough Engineer
Will settle any buildings that are standing in our way -
The modern style, sir, with respect, has really come to stay.

(John Betjeman)

*

Bom dia!
 


CONTRIBUIÇÕES PARA AS MELHORES OBRAS DE REFERÊNCIA EM PORTUGUÊS
(Última série)



Os eventos dos últimos dias que perturbaram a publicação do Abrupto impediram a finalização desta série. Aqui ficam as últimas sugestões antes da lista final.


Qualquer lista que pretenda elecar as vinte melhores obras de referência em Português, e que não inclua a Bíblia Sagrada, é manifestamente incompleta. Ainda por cima no ano em que se comemora o 325º. aniversário da primeira edição do Novo Testamento da tradução para a língua portuguesa, por João Ferreira de Almeida (1681).

A Bíblia não é só um livro de fé, é uma obra basilar da Cultura e da Literatura, que pertence ao património da humanidade.
Ignorá-lo, só por preconceito ou ignorância...

(Brissos Lino )

*

(...) algumas obras de referência:

a) No campo da poesia (além de alguns já referidos):

- As quatro séries das Líricas Portuguesas : Primeira (1944), organizada por José Régio, com autores nascidos desde o séc. XII até 1894; Segunda (1945), organizada por Cabral do Nascimento, com autores nascidos entre 1859 e 1908; Terceira (1958/1972/1983), organizada por Jorge de Sena, em dois volumes, com autores nascidos entre 1871 e 1929; Quarta (1969), organizada por António Ramos Rosa, com autores nascidos entre 1930 e 1941.

- Número especial da revista da editora Assírio & Alvim, "A Phala", intitulada "Um Século de Poesia" (1989 - ideia de Manuel Hermínio Monteiro), com textos de vários autores sobre a poesia portuguesa entre 1888 e 1988.

b) No campo da religião:

- História da Igreja em Portugal de Fortunato de Almeida (4 vo. - 1967-1971)

- História Religiosa de Portugal (3 vol. - 2000-2002) e Dicionário da História Religiosa de Portugal (4 vol. - 2000-2001), sob a direcção de Carlos Moreira Azevedo

c) No campo da história:

- A colecção de biografias que o Círculo de Leitores está a editar, de todos os Reis de Portugal

- Colecção de fotobiografias de todos os Presidentes até Jorge Sampaio, que o Museu da Presidência da República editou no último ano

(Rui Almeida)

*

Há o "livro das saudades da Terra" de Gaspar frutuoso. Obra fundamental (e monumental) sobre os Açores de Quinhentos.

Depois estou a lembrar-me sobre um livro sobre a arquitectura popular dos Açores (não tenho aqui a referência). Há aliás um conjunto de livros sobre a arquitectura vernácula de portugal tem tem bastante interesse.

(Gilberto Carreira)

*

Gostei da sua iniciativa sobre as melhores obras de referência em português.

Aqui vão as minhas sugestões (algo regionalistas é certo):

- Maria Natália Almeida d'Eça, Roteiro artesão português, Porto, Tipografia Inova, várias datas (1980s - 2000).

Tem vários volumes, nunca os consultei a todos, sobre a totalidade (?) das regiões do país.

- Pedro Branco (com colab. de Luís Vidigal), Notas para a história dos bonifrates, presépios, fantoches, robertos e marionetas em Portugal, Oeiras, Biblioteca Operária, 1983. [Colecção Cadernos da Biblioteca Operária Oeirense]

- Túlio Espanca (1913-1993), Évora, 2ª ed., Lisboa : Presença, 1996. [Colecção Cidades e vilas de Portugal]

- José Augusto Alegria (cónego), Arquivo das Músicas da Sé de Évora. Catálogo, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1973.


(Jorge Moleirinho)

28.7.06
 


COISAS DA SÁBADO

ISRAEL, A ESQUERDA E A DIREITA, AMERICANISMO, ANTI-AMERICANISMO

Já se escreveu que o anti-americanismo é o anti-semitismo dos nossos dias. É um anti-semitismo diferente, mas é muito parecido. Israel está a ser vítima dessa forma peculiar de anti-semitismo.

A história não ensina tanto como pensamos, mas dá-nos comparações úteis. O caso de Israel é muito interessante para a análise das evoluções políticas e ideológicas do século XX. Quando nasceu o estado de Israel, a ferro e fogo contra os ingleses e os partidários do Grande Mufti de Jerusalém, amigo dos nazis, a causa sionista era sentida como uma causa da esquerda. Foi a URSS uma grande impulsionadora das resoluções da ONU para a partilha da Palestina, e o primeiro estado a reconhecer Israel. Estava-se na altura em que o nosso Avante! clandestino saudava a luta de Israel contra as “monarquias feudais àrabes” que lhe faziam guerra e a saga socialista dos kibutz fazia parte do imaginário utópico de toda a esquerda e não só da comunista. Os socialistas e a sua Internacional deram grande apoio político ao jovem estado.

Ora, desde o primeiro minuto que a “causa” de Israel dependeu de ganhar as guerras aos países que o rodeavam e mesmo aos que estavam longe. Recordo-me de visitar a Argélia há uns anos e ter verificado com alguma surpresa que ainda havia um estado de guerra com Israel, muitos anos depois do último conflito militar que opôs o estado judeu a outros estados e não a grupos de guerrilha ou grupos terroristas.

Ora, nas suas guerras, sempre de natureza defensiva – não adianta explicar aos que estão de má fé que o carácter ofensivo de algumas operações militares nada tem a ver com o carácter defensivo do conflito - , o Israel de hoje não é distinto do do fim dos anos quarenta. No centro dessas guerras esteve sempre a pura sobrevivência do estado de Israel , quer de um lado quer do outro. A recusa da existência de Israel esteve sempre no centro das guerras árabes, agora cada vez mais muçulmanas, e só muito mais tarde é que a “questão palestiniana” surgiu.

A inflexão da esquerda contra Israel acompanhou a política soviética de Krutchev de apoio ao nacionalismo árabe, que levou a prazo a uma mudança de aliados na região. Apoiando Nasser, reagindo ao último estertor do colonialismo, o conflito do Suez, a URSS abriu caminho ao progressivo isolamento de Israel dos seus apoios na esquerda socialista e comunista. Nos anos sessenta, setenta, oitenta, até ao fim da própria URSS, esta tornou-se um dos principais apoios logísticos e políticos dos movimentos de guerrilha e terroristas palestinianos, ou pró-palestinianos, embora o seu controle nunca fosse total, devido ao emaranhado muito complexo das intrigas nacionais e de clãs que sempre atravessaram o Norte de Africa e o Médio oriente. Ter que lidar com a Líbia, a Síria, o Iraque, o Irão, a rede de terrorismo internacional que ia do Japão à Alemanha, era difícil, mas mesmo assim os soviéticos estiveram sempre presentes nesse mundo e sub-mundo.

Foram os americanos, nem sempre muito voluntaristas na região (como mostraram durante a guerra do Suez), que acabaram por se tornar os principais aliados de Israel. Para que isso acontecesse houve razões de guerra fria e pressões do importante lobi judaico na América, mas foi assim que se criou a realidade das alianças actuais. Logo, os israelitas acabam também por ser alvo, e nalguns casos mais do que isso, pretexto central, do anti-americanismo contemporâneo.

A paralisia europeia numa região do mundo que faz parte da sua esfera geopolítica vem desse anti-americanismo, em que a Europa, em grande parte por pressão de uma França pós-gaullista, se deixou enredar tornando-a irrelevante. Ver um estado que foi uma criação francesa como o Líbano hoje ser vassalo da Síria e assistir à completa impotência militar e política da França é apenas o sintoma maior da mesma impotência da União Europeia separada dos EUA.

Tudo isto é fora, à margem. Para Israel muito pouco mudou desde o dia 15 de Maio de 1948 em que imediatamente a seguir à formalização da independência pela ONU, os estados da Liga árabe declararam guerra a Israel que foi atacada pela Jordânia, o Líbano, o Egipto, o Iraque, e Arábia Saudita. O secretário geral da Liga árabe, Azzam Pasha, invocou a jihad e apelou a uma “guerra de extermínio”. Algumas coisas mudaram desde este dia e algumas para melhor, mas para Israel continua a ser uma questão de pura sobrevivência. É por ser assim que em Israel, nunca a esquerda e a direita se dividiram no essencial sobre a conduta de operações militares para defender o estado de Israel.


*

Ao ler o artigo de hoje fiquei com sérias dúvidas se existe uma correspondência entre estas duas fobias ideológicas. Parece-me que o antisemitismo é essencialmente racista e não diferencia judeus bons e judeus maus. Nesse sentido, o anti-sionismo tem sido confundido com o antisemitismo quando, creio eu, se trata da oposição ao regresso dos judeus da Diáspora à Terra Santa e/ou consequente refundação dum estado judaico.

O anti-americanismo é um fenómeno que está ligado à cultura, à política, à economia, etc e tal, dum país com uma influência mundial como jamais se viu. Mas não tem uma vertente racista.

A diferença pode ser secundária quando estas expressões estão completamente inquinadas por preconceitos odiosos e virulentos que nada têm a ver com a clareza dos conceitos e das posições políticas/ideológicas. Pessoalmente creio ser relevante a distinção entre uma ideologia racista e as outras.

Uma das situações (tragicamente) caricatas é assistir à evolução do discurso anti-sionista de expressão árabe para o antisemitismo clássico, profundamente ilustrado com estereótipos racistas vulgares da Europa anterior ao Nazismo e que este elevou à categoria de ideologia do próprio estado alemão, e às suas versões revisionistas.

Curiosamente, quando o tema são os Estados Unidos e/ou Israel, o discurso político da extrema-direita e de certa esquerda anti-americana é muito semelhante.

Possivelmente, também existem semelhanças entre certo discurso anti-árabe/islão por parte de tendências políticas pró-israelitas e o discurso da extrema-direita europeia quando aborda os temas da Imigração e do Islão na Europa.

Mundo confuso, né?

(Pedro Freire de Almeida)
 


PIRATARIAS 10

O problema não está resolvido como qualquer pessoa que cá viesse durante a noite tinha ocasião de ver, e o Blogger, apesar das sucessivas afirmações de que corrigiu a pirataria, também ainda não a resolveu. Agora diz-me que vai impedir qualquer nova nota no falso Abrupto e que "tomou posse desse blogue".

O meu dilema está entre não querer conceder aos energúmenos que estão a criar e a reavivar o falso Abrupto e o tempo que me fazem perder a mim e aos outros que gentilmente se têm dedicado a ajudar a acabar com este ataque.
 


EARLY MORNING BLOGS
826 - Before Sleep


The lateral vibrations caress me,
They leap and caress me,
They work pathetically in my favour,
They seek my financial good.

She of the spear stands present.
The gods of the underworld attend me, O Annubis,
These are they of thy company.
With a pathetic solicitude they attend me;
Undulant,
Their realm is the lateral courses.


Light!
I am up to follow thee, Pallas.
Up and out of their caresses.
You were gone up as a rocket,
Bending your passages from right to left and from left to right
In the flat projection of a spiral.
The gods of drugged sleep attend me,
Wishing me well;
I am up to follow thee, Pallas.

(Ezra Pound)

*

Bom dia!

27.7.06
 


PIRATARIAS 9



O Blogger comunicou-me (às 19.30) que conseguiu finalmente apagar o falso Abrupto. Espero para ver, dado que há dois dias me disse estar o problema resolvido e ele voltou de novo. Se alguém lá for parar pelo genuíno endereço, faça o favor de me comunicar.

Esta questão não está encerrada, porque de facto não está encerrada, mas podem ter a certeza que o que mais desejo é voltar ao business as usual aqui no Abrupto.

NOTA (às 23.30) - O problema continua exactamente na mesma. Obrigada a quem me alertou. A actualização desta nota deve apagà-lo, mas mostra que o Blogger não resolveu o assunto e continuam os ataques contra o Abrupto. Para quem acreditava na "história" de um inocente do outro lado, ele agora mudou de nome de Alex para Mike.
 


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



Reparação dos telhados. Igreja de S.Francisco no Porto, há instantes.

(Gil Coelho)
 


QUE SEJA BEM CLARO



que acho que Rui Rio tem razão, no essencial, quanto às posições que toma em defesa das instituições e do poder democrático face à arrogância dos poderes fácticos e dos interesses não escrutinados que muitas vezes defendem. Rui Rio é uma enorme raridade na vida política portuguesa e o facto de a minha cidade o ter eleito só pode prestigiar o Porto. Mas exactamente por pensar assim e o ter defendido (na última Quadratura do Círculo) não quer dizer que não considere isto inadmíssivel numa página de uma autarquia.
 


PIRATARIAS 8



Para uma discussão (entre outras) da falha do Blogger que permite o ataque ao Abrupto veja-se aqui e aqui. O problema parece estar a ser controlado, mas ainda não está resolvido. Para não facilitar a vida ao autor do ataque e identificá-lo se possível, alguns elementos já existentes não podem nem devem ser divulgados. Mas há fantasmas e fantasmas de fantasmas em acção. Como é habitual neste mundo, nada do que parece é.
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 27 de Julho de 2006


Vale a pena o artigo de Carlos Gaspar no Público (sem ligação) em defesa de uma intervenção militar da UE no Líbano:
"A União Europeia, desde a crise iraquiana e os referenda negativos do ano passado, entrou numa crise profunda: as divisões internas minaram a sua credibilidade, num momento crucial. A guerra do Líbano e a intervenção militar nesse conflito pode inverter o veredicto iraquiano, quer quanto à decomposição da comunidade transatlântica de defesa, quer quanto à comunidade europeia de defesa. Há três anos, a intervenção dos Estados Unidos no Iraque abriu uma dupla crise da unidade atlântica e da aliança europeia, que está longe de ter sido ultrapassada, sobretudo na opinião pública norte-americana. Hoje, porém, são os Estados Unidos que não querem intervir no Líbano, para não abrir uma segunda frente ou correr o risco de criar um "segundo Iraque", desta vez contra uma minoria xiita. A oportunidade da União Europeia é também uma forma de revelar a sua capacidade para ultrapassar as divisões internas e para resolver uma crise decisiva. Essa demonstração, com a intervenção militar da União Europeia na guerra do Líbano, podia ser o primeiro passo da política europeia de segurança e de defesa, a primeira demonstração de que existe uma vontade política e estratégica europeia para lá das fórmulas opacas e estéreis sobre as virtudes da potência normativa e os valores éticos da União Europeia."
 


EARLY MORNING BLOGS
825 - ...obra má de má argila...

E agora o mundo parece-me um imenso montão de ruínas onde a minha alma solitária, como um exilado que erra por entre colunas tombadas, geme, sem descontinuar...

As flores dos meus aposentos murcham e ninguém as renova: toda a luz me parece uma tocha: e quando as minhas amantes vêm, na brancura dos seus penteadores, encostar-se ao meu leito, eu choro - como se avistasse a legião amortalhada das minhas alegrias defuntas...

Sinto-me morrer. Tenho o meu testamento feito. Nele lego os meus milhões ao Demónio; pertencem-lhe; ele que os reclame e que os reparta...

E a vós, homens, lego-vos apenas, sem comentários, estas palavras: «Só sabe bem o pão que dia a dia ganham as nossas mãos: nunca mates o Mandarim!»

E todavia, ao expirar, consola-me prodigiosamente esta ideia: que do norte ao sul e do oeste a leste, desde a Grande Muralha da Tartária até às ondas do mar Amarelo, em todo o vasto Império da China, nenhum mandarim ficaria vivo, se tu, tão facilmente como eu, o pudesses suprimir e herdar-lhe os milhões, ó leitor, criatura improvisada por Deus, obra má de má argila, meu semelhante e meu irmão!

(Eça de Queiroz, O Mandarim)

*

Bom dia!

26.7.06
 


PIRATARIAS 7



O problema subsiste com a aparição há cerca de meia-hora, após um dia de calma, do falso Abrupto. Este não tem nada escrito de novo, mas apresenta uma "identidade" americana, certamente para reforçar a "história" que alguns tomam à letra, de um inocente surpreendido com um hacker português, eu, que lhe assalta o blogue. E ele tão preso ao nome de "Abrupto" vá-se lá saber porquê, não quer mudar o endereço, nem percebe o que se passa. Para bot, como alguns "técnicos" diziam, é muito esperto.

A falha é do Blogger, isso já se sabe e o Blogger admite, mas a exploração da falha é feita contra o Abrupto e continua.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM FEZ, MARROCOS



Tintureiros.

(Diogo Vasconcelos)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 26 de Julho de 2006


José Rodrigues dos Santos no telejornal da RTP1 das 20 horas disse as primeiras coisas sensatas aí ditas há muito tempo. São sensatas, evidentes e conhecidas de há muito, mas parecem blasfémias ditas nos noticiários mais anti-americanos e israelitas da televisão portuguesa. Disse que muitos libaneses sentem que o seu país está a ser violado por sírios e iranianos para o usarem para uma guerra estrangeira ao Líbano. Disse que era preciso cuidado com a utilização do termo "civis" porque o Hezbollah era só constituído por civis e que usava casas civis de famílias civis para esconder o armamento. Não é novidade nenhuma e não precisava de ir ao Líbano para nos dizer isto, mas no meio da contínua manipulação das palavras que constitui o grosso das notícias sobre o conflito foi um oásis, mais para o lado do jornalismo do que do "jornalismo de causas".

Relativamente ao seu post comentando a desrição feita por José Rodrigues dos Santos no Telejornal, fiquei também surpreendido pois soava um pouco distante tom habitual dos noticiários nacionais. Aquela descrição, como disse, não trazia de facto nada de novo em termos noticiosos mas causou impacto por ser verdadeira e imparcial!

Outro aspecto que me tem chamado à atenção é a terminologia utilizada pelos jornalistas em relação às tropas Israelitas. Muitas vezes referem-se a elas como as "tropas Judaicas" como se o conflito fosse única e exclusivamente religioso. Parece-me ser terminologia usada de forma deliberada e intencional ou então não ser fruto de qualquer reflexão por parte de quem a utiliza. Esquecem-se, no entanto, de usar os termos "tropas do partido de Deus" quando se referem às tropas do Hezbollah.

(Miguel Castro)
*

No BLOGUITICA:
Peço desculpa, mas terão de me explicar como se eu fosse muito burro: a que propósito é que o líder do principal partido político da Oposição vem exigir esclarecimentos públicos sobre a reforma de Manuel Alegre? Trata-se de uma atitude populista que não o dignifica.
Inteiramente de acordo. Há águas turvas em que o peixe que vem à linha está sempre envenenado.

*










Todos os números são excelentes para os cientistas, mas nem todos para os amadores. Este é excelente para os curiosos: uma nota muito crítica sobre o PowerPoint, uma série de artigos que levantam a questão do "homem biónico", e um balanço do estado da geologia, "Geology: The start of the world as we know it" (sem ligação).
 


 


FIM DA PIRATARIA?

talvez sim, talvez não.

Vamos ver. O autor do falso Abrupto, que é uma pessoa e não um programa automatizado, passou o dia todo num pingue-pongue com o Abrupto e o Blogger. Ah! e sabe português...

Como estou em trânsito, os detalhes ficam para depois.

PS.[Actualizado] talvez ... ainda não.

Actualização 2 - Cuidado! Não enviar comentários quando o falso Abrupto aparece!

Actualização 3 - Obrigado às muitas pessoas, que nomearei depois, que estão a tentar solucionar o ataque contra o Abrupto. Sim, porque é disso que se trata, basta ver o teatro que está a fazer o pseudo-autor. mimando as queixas genuínas do verdadeiro Abrupto.

25.7.06
 


PIRATARIAS 6




Não sei se vão conseguir ver esta nota e durante quanto tempo. Os textos publicados hoje no falso Abrupto deixam poucas dúvidas quanto à intencionalidade do ataque.
 


CONTRIBUIÇÕES PARA AS MELHORES OBRAS DE REFERÊNCIA EM PORTUGUÊS



Se continua o levantamento das obras de referência, há ainda duas que não devem ser esquecidas. São ambas do Pe. Francisco Leite de Faria:

- Estudos bibliográficos sobre Damião de Góis e a sua época (Lisboa, SEC, 1977) - uma obra-prima da bibliografia!

- As muitas edições da "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto (Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1992).

Não esquecer também dois catálogos monumentais, ambos de 1972 e relativos ao IV Centenário da publicação de Os Lusíadas:

- Catálogo da exposição bibliográfica, iconográfica e medalhística de Camões (da responsabilidade de J. V. de Pina Martins), Lisboa, BN, 1972.

- IV Centenário de Os Lusíadas de Camões (da responsabilidade do Dr. Coimbra Martins), Madrid, Biblioteca Nacional, 1972.

E, já que estamos em Camões, não esquecer ainda duas obras:

- A Colecção Camoniana, de José do Canto.

- o CDRom Camões and the first edition of the Lusiads, 1572,editado por Keneth David Jackson.

(Vasco Graça Moura)

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Já agora

Religiões da Lusitânia, de Leite de Vasconcelos (ou Vasconcellos?) - não tenho comigo o livro

(José Pimentel Teixeira)

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Portugaliae monumenta cartographica [ Material cartográfico / Armando Cortesão, Avelino Teixeira da Mota ; pref. J. Caeiro da Mota

Cartografia e cartógrafos portugueses dos séculos XV e XVI : (contribuição para um estudo completo) / Armando Cortesão

História da cartografia portuguesa / Armando Cortesão

(Isabel Goulão)

 


PIRATARIAS 5



Durante a noite o falso Abrupto voltou, de manhã esvaneceu-se. Faz-lhe mal o sol.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM FEZ, MARROCOS



Curtidor de peles.

(Diogo Vasconcelos)
 


EARLY MORNING BLOGS
824 - De la graja y de los pavones.

monesta esta fábula que ninguno deve fazer grandes muestras de cosas agenas, mas que es mejor que de esso poco que tiene, se comporte y componga porque quando lo que no es suyo le fuere quitado no sea en vergüença.

La graja, llena de sobervia, tomando una vana osadía, presumió de se componer y vestir de las plumas de los pavones que halló. E assí mucho guarnecida, menospreciando a sus yguales, ella se entró en la compañía de los pavones, los quales, conociendo que era de su naturaleza, por fuerça le quitaron las plumas y le dieron picadas e la acocearon. E assí, escapando medio muerta e gravemente llagada, avía vergüença, como estava assí destroçada o despedaçada, a su propia generación, donde en el tiempo de su pompa, a muchos de los amigos injurió e menospreció. A la qual se dize que dixo una de su linaje:

-Si tú oviesses amado y estimado estas vestiduras que tu naturaleza te dio, assaz te ovieran abastado, como son d' ellas contentas otras tus semejantes. E assí no padescieras injuria, ni de nosotras fueras lançada y echada, y te fuera buena si bivieras contenta con lo que naturaleza te dava.

El que se ennoblece con lo ajeno, al tiempo que le es quitado queda afrentado


(La vida y fábulas del Ysopo, Valencia, 1520)

*

Bom dia!

24.7.06
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DEZOITO QUILOS DE CREME



Segundo o PortugalDiário de ontem, e em relação a um dos grandes pânicos regularmente cultivados nesta época estival – o cancro da pele e o hábito obviamente suicidário que as sociedades (ocidentais, claro) têm em se expor ao sol – o presidente da Associação Portuguesa do Cancro Cutâneo terá afirmado, sobre a necessidade de protecção solar, que a quantidade ideal de creme a aplicar é, nada mais, nada menos, do que um grama por centímetro quadrado. «É essa a quantidade recomendada», sublinha o dermatologista
Só um pequeno comentário, na sequência de um hábito, também saudável, que é o de fazer contas aos números que com tanto gosto como displicência os senhores jornalistas gostam de nos alarmar:
A superfície média do corpo humano anda por volta dos 1,80 metros quadrados (1,81 para uma pessoa de 70 quilos e 1,70 metros). São portanto 18.000 (DEZOITO MIL) centímetros quadrados. A um grama cada, são DEZOITO QUILOS DE CREME (a aplicar de duas em duas horas se também seguirmos as regras)!

Mesmo descontando as partes não expostas (poucas, como sabemos), convenhamos que é uma bela besuntadela e um excelente negócio para as farmácias e fabricantes. Pode mesmo criar novos postos de trabalho para "carregadores balneários", uma vez que uma família de 4 indivíduos precisará de transportar, para cada duas horas de praia, qualquer coisa como 60 a 80 quilos de cremes. Não imagino com que aspecto ficará uma pessoa depois de aplicar o creme recomendado, mas calculo que não lhe ficaria mal colocar por cima meia dúzia de azeitonas e um raminho de salsa.

Fernando Gomes da Costa (médico)

... E SELECÇÃO NATURAL...


Foi notícia em quase todos os órgãos de informação nacionais que, no passado fim-de-semana, na praia do Magoito, uma pedra de 40 kg caiu, esmagando a perna de um senhor que estava no sítio errado na hora errada.

O caso não seria mais do que um lamentável acidente (não totalmente inesperado para quem, como eu, conhece o sítio), se não se desse o caso de, pouco depois dessa ocorrência, uma equipa de reportagem de TV ter ido ao mesmo local, onde entrevistou pessoas que, segundo declararam com o ar mais natural do mundo, sabiam perfeitamente o perigo que corriam (pois a zona perigosa estava bem assinalada) mas não tencionavam sair dali.

A minha primeira reacção resumiu-se a lamentar a possibilidade de, através dos meus impostos, ter de vir a pagar o transporte e o tratamento de pessoas que agem assim. No entanto, se analisar o assunto em termos de longo prazo, a conclusão já poderá ser optimista:

Sucede que a chamada «selecção natural» (como Darwin tão bem explicou) funciona sempre no sentido da «melhoria das espécies»: as mais fracas (de corpo ou de mente) acabam, a longo prazo, por desaparecer - ou porque são comidas por predadores, ou porque são vítimas de desastres aos quais a sua diminuta inteligência não permite que se furtem.

(C. Medina Ribeiro)
 


NOTA SOBRE AS MELHORES OBRAS DE REFERÊNCIA EM PORTUGUÊS



Ainda há um grupo de contribuições a acrescentar às que já foram publicadas. Em função dos contributos recebidos vou fazer uma pequena alteração na proposta inicial - farei uma lista com cinquenta obras de referência, para cobrir as várias áreas de forma equilibrada, por ordem alfabética, e uma lista mais curta de dez, para as obras-primas da erudição nacional, em função do seu carácter exaustivo, qualidade da investigação e utilidade actual. São bem-vindas todas as sugestões, mas a responsabilidade da lista final será minha.
 


COISAS DA SÁBADO: A GULBENKIAN

A Gulbenkian é das poucas presenças do Médio Oriente na nossa vida nacional, embora poucos a vejam assim. Gulbenkian era arménio, ou seja um homem de nenhures – pátria errada, religião errada, lado do mundo errado, péssima geografia, boa história, a combinação para o desastre. A Arménia era cristã em terras do Islão, e olhando-se à volta nos anos do fim do império otomano só se encontra esta geografia errada: gregos ortodoxos há centenas de anos vivendo em comunidades sob a égide do Sultão e depois do “Pai dos Turcos”, curdos entre várias possessões e o martelo de Ataturk, iraquianos sunitas e chiitas, a irem parar aos despojos ingleses do império, enquanto relutantemente sírios e libaneses ficavam franceses pelo mais absurdo argumento histórico: tinham sido “franceses” os “reinos” das Cruzadas. E depois o fogo zoarastriano eterno que escorria da terra, entre lamas e betumes, e de que Gulbenkian tirava os seu proverbiais cinco por cento, e nós o verdadeiro Ministério da Cultura que nunca tivemos.

É por tudo isto que a melhor comemoração do aniversário é a exposição sobre a “arte do livro do Oriente para o Ocidente”, que através dos livros da colecção Gulbenkian nos lembra essa origem e essa história entre dois mundos que se conhecem pouco.

NOTA: Livro veneziano do século XVI, com capa ao estilo oriental.
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 24 de Julho de 2006



Se vem no Cebolinha, o mundo está perdido de todo. E vem, pela voz do Bloguinho que fala internetês. :)!

*
Msg d Z e M :)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL



Obras em curso no Laboratório Chimico da Universidade de Lisboa. O edifício é, agora, parte do Museu de Ciência da mesma Universidade. Está em curso a recuperação e musealização do único laboratório químico do século XIX ainda existente em Portugal e na Europa Ocidental. Na realidade, os grandes laboratórios químicos universitários da Europa foram sendo sucessivamente remodelados e modernizados enquanto o "nosso" parou, a dado momento, no tempo. O atraso científico do País e a falta de investimento torno-o, agora, um espaço único.

(Vasco Teixeira, Museu de Ciência (MCUL))
 


EARLY MORNING BLOGS
823 - «Quem muito viu...»

Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos,
mágoas, humilhações, tristes surpresas;
e foi traído, e foi roubado, e foi
privado em extremo da justiça justa;

e andou terras e gentes, conheceu
os mundos e submundos; e viveu
dentro de si o amor de ter criado;
quem tudo leu e amou, quem tudo foi -

não sabe nada, nem triunfar lhe cabe
em sorte como a todos os que vivem.
Apenas não viver lhe dava tudo.

Inquieto e franco, altivo e carinhoso,
será sempre sem pátria. E a própria morte,
quando o buscar, há-de encontrá-lo morto.

(Jorge de Sena)

*

Bom dia!

23.7.06
 


COISAS DA SÁBADO:
70º ANIVERSÁRIO DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA : DILEMAS

http://www.donquijote.org/culture/spain/history/images/spanish_civil_war_photo.jpg

Uma nova historiografia revisionista entende arrombar portas de há muito abertas, insistindo em que na guerra civil espanhola não havia lado “bom”. O motivo é evidentemente político: ao se igualizar os “lados” e ao se retirar qualquer conotação moral às escolhas dramáticas da época, ajuda-se a igualizar ambos os beligerantes e a justificar quase sempre, o que ganha. Quem precisava desesperadamente desta revisão da história eram os franquistas, não os republicanos, o que também mostra a dificuldade de iludir dilemas que só nos parecem neutros porque já estamos distantes dos eventos.

Há nesta história revisionista um pequeno problema; é que se os dois lados eram maus, não era possível na época deixar de escolher um. Quem, dos muito poucos que achavam na altura que os dois lados eram maus, não o fazia explicitamente, acabava sempre por servir o mais forte que estava geograficamente do seu lado. Unamuno percebeu-o muito bem.

É que a história não dilui a moralidade, nem o dilema das escolhas feitas sob o fio da navalha, mas torna algumas coisas impossíveis a um momento dado. Há coisas que pura e simplesmente não se podem fazer em determinados momentos, sem não as fazendo, escolhermos. Os maniqueísmos não são desejáveis, mas nem sempre são evitáveis. Para alguns homens, provavelmente dos melhores, isso é de uma enorme violência, que nalguns conduziu ao suicídio, físico ou ético, e a muitos a remorsos e culpas que arrastam toda a vida. Mas a verdadeira tragédia da história é que há momentos em que não nos deixa escolhas. É mesmo assim.

*
A propósito da guerra civil de Espanha, já por vezes meditei no que faria eu se lá tivesse estado, sabendo daquela guerra o que sabemos hoje. E não partilho a sua opinião de que há momentos em que não temos escolha entre dois lados maus.
Naquele caso, por exemplo, como em outros semelhantes, há uma escolha de princípio sempre de tentar: sair de lá, se possível antes da guerra começar, o que requer uma grande capacidade de previsão. Era, em grande medida, o que faziam os jovens portugueses que emigravam para escapar à guerra colonial.

A não ser possível essa recusa da escolha, há pelo menos outra possível: a da recusa interior de identificação com a parte em que se for obrigado a estar, e a procura de uma participação reduzida ao máximo ao estrito humanitarismo. Era também, em grande medida, a atitude da maioria dos nossos jovens que iam à guerra colonial, razão importante da falta de empenho do nosso exército naquela guerra.

E, na II Guerra Mundial – aliás como na própria guerra civil espanhola, nas batalhas a norte de Madrid – os italianos do exército regular de Mussolini, nada convictos do ideário de Mussolini, rendiam-se em massa. A História viria a dá-los como cobardes, mas eu fui ensinado a considerá-los muito mais inteligentes que os disciplinados alemães de Hitler, que sempre me foram caracterizados como sendo dos que se atiravam a um poço quando o chefe tal lhes ordenava...

(Pinto de Sá)

*

No seu texto "70º ANIVERSÁRIO DA GUERRA CIVIL DE ESPANHA : DILEMAS", toca o risco de revisões à posteriori da História, serem transpostas para a época dos acontecimentos.

Hoje em dia sabemos que na Guerra Civil de Espanha não havia o "lado bom". Entendendo o lado bom, como o lado da Democracia e da Liberdade. Franco, tal como a grande maioria dos ditadores de direita, nunca se escondeu debaixo de uma pele de cordeiro. O lado "Republicano" era na realidade um "lobo" tão perigoso quanto o lobo nacionalista, mas usou sempre uma pele de cordeiro. Nem os anarquistas do POUM, nem os comunistas do PCE lutavam para uma sociedade democrática. Apenas lutavam para impor a sua "ditadura", ditadura onde não havia lugar para qualquer outra facção.

Mas há 70 anos atrás, o comunismo e o anarquismo ainda eram umas doutrinas românticas, ainda se acreditava que efectivamente trariam algo de novo. por isso não podemos julgar à luz do conhecimento actual as decisões que foram tomadas há 70 anos atrás. Os estrangeiros que serviram nas brigadas internacionais (sobretudo os de origem ocidental) julgaram sempre estar a lutar no lado "democrático" e de liberdade, por isso não podemos julgar a sua decisão à luz do conhecimento actual.

(Luís Bonifácio)

*

Aos exemplos nacionais que referi acima, de sensata recusa em fazer escolhas
impossíveis, faltou-me acrescentar a rendição de Vassalo e Silva na Índia,
atitude similar à dos italianos que eu referira e que creio merecer o apoio
geral dos portugueses. E, se me permite, gostaria de acrescentar especificamente quanto à Guerra Civil de Espanha:

A definição do lado bom era na altura fácil, com o que (não) se sabia da
História e em pleno apogeu das grandes ilusões ideológicas totalitárias do
século XX.Para uns, era evidente que a desordem popular punha em perigo mortal valores sagrados: a unidade nacional com toda a sua mitologia histórica, a religião
católica (basta ir a Sevilha na Páscoa para perceber o que isso significa em
Espanha), a ordem e a paz sociais.

Para os outros, o golpe militar justificava o fim da conciliação com a apenas
tolerada democracia e o início da revolução, a um tempo genuinamente popular
na violência com que se matavam clérigos, patrões e administradores, e para
outros a oportunidade de estender a revolução russa a um segundo país. Não nos
esqueçamos que a maioria dos combatentes das Brigadas Internacionais não eram
democratas românticos como hemingway, mas sim comunistas organizados pelo
Komintern que em muitos casos estavam fugidos de ditaduras fascistas nos seus
próprios países.

A lutar pela democracia houve muitos poucos, e os que houve, como Azanha,
foram rapidamente marginalizados pelos outros. Em tal cenário, a escolha era fácil, à luz da época, mas quase de certeza
errada. Qualquer que fosse.

Ah, para o leitor Bonifácio: a principal organização anarquista era a FAI e
não o POUM. O POUM era trotskista, e um dos episódios mais vergonhosos da
República foi a liquidação do POUM pelo PCE, em ferozes combates de rua numa
Barcelona com os "nacionales" à porta, e a execução dos dirigentes do POUM á
boa maneira estalinista (levados a maio da noite para nenhures).

(Pinto de Sá)
 


PIRATARIAS 4



A pirataria (como é que eu chamo a alguém apropriar-se do trabalho de outrem?) continua. Entre ontem e hoje o falso Abrupto esteve em linha em vez do verdadeiro. A investigação do que se passa continua e já tem alguns frutos.

Como muitas vezes acontece na mesquinhez colectiva, as vítimas são os culpados. Pelos vistos nada aconteceu, nada acontece e se acontece é o acaso a funcionar,. Entre dois mil ou três mil blogues portugueses foi o Abrupto a vítima, certamente porque tem uma culpabilidade "objectiva". Em vez de palavras de preocupação (pode vir a suceder a outros...) e condenação com o que acontece, é o Abrupto que criticam. Por existir, presumo. Eu devia ter-me calado caladinho.

Pouca sorte, meus amigos, enquanto não me explicarem a razão porque foi comigo e que se saiba, não há um surto de ataques do mesmo tipo um pouco por todo o lado (a maioria dos exemplos que me são dados, aliás escassíssimos, ou nada tem a ver com o que se passou, ou foram há muito tempo, ou ocorreram em circunstâncias – roubos de password, ou apagamentos de blogues reclamados por outrém, por exemplo – que não se aplicam ao Abrupto), eu não posso dexar de pensar que o Abrupto foi o alvo deliberado. Devo dizer aliás que há mais racionalidade em pensar assim do que em imaginar que me calhou o azar entre quarenta e cinco milhões de blogues. Muitos dos falsos exemplos que me são dados são aliás um exercício de má fé pura, apenas para enganar quem não vai ler as explicações sobre o que aconteceu. Este afã de dizer que o que aconteceu ao Abrupto é normal, legitima o autor da pirataria, porque alguém a fez, não é verdade? Um qualquer hacker da Tailândia que encontrou uma falha no Blogger e escolheu ao acaso um blogue português, não é do que me querem convencer?

Devo ignorar que numa certa lama da blogosfera, se houvesse um botão miraculoso como a campainha do Mandarim que matasse o chinês na China, já havia há muito uma sinfonia de toques e empurrões para chegar ao botão. Aliás a campainha não parava, tantos eram os candidatos a quererem "matar" o Abrupto. Basta ler alguns blogues, entre a pura má fé, até ao enorme contentamento e festejos pela "morte" anunciada. Não terão muita sorte, mas é uma atitude reveladora do incómodo que a mera existência de um blogue como o Abrupto traz à mediocridade invejosa. O mundo para eles seria muito mais aceitável se tudo fosse medíocre, igual na lama. Compreendo bem, mas sigo a regra de George Bernard Shaw: "Never wrestle with a pig. You get dirty and besides the pig likes it".

21.7.06
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: XANADU EM TITÃ

Screenshot from the 'Titan's Geological Goldmine - Radar movie'

In Xanadu did Kubla Khan
A stately pleasure-dome decree :
Where Alph, the sacred river, ran
Through caverns measureless to man
Down to a sunless sea.

Um filme com faces familiares.
 


HOJE, CORES DE UM CERTO FIM DA TARDE

 


INTENDÊNCIA

Em actualização os ESTUDOS SOBRE COMUNISMO .
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES. O PÃNICO DO DIA



Mote do dia na área do alarmismo pacóvio: “O Paracetamol destrói o fígado” (diversos jornais on-line, rádios e logo à noite, provavelmente, na RTP e SIC e de certeza na TVI.

Diz, por exemplo, o “Portugal Diário” que “O medicamento mais vendido sem receita médica provocou, nos últimos três anos, meia centena de reacções adversas em Portugal, segundo o Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed), e foi recentemente associado à destruição do fígado, mesmo quando tomado em doses recomendadas…Para o estudo foram utilizados 106 participantes, divididos por três grupos: dois tomaram diariamente quatro gramas de paracetamol ao longo de duas semanas, e o terceiro tomou apenas placebo…Entre quem tomou o «remédio falso» não houve problemas de fígado, mas cerca de 40 por cento dos restantes participantes revelaram indícios de danificação daquele órgão.

PRIMEIRO: 4 gramas de paracetamol são OITO "Ben-u-rons" por dia. Vezes duas semanas dá a módica quantia de 112 comprimidos. O facto de só haver "indícios" de lesão hepática (algo muito subjectivo de analisar em termos médicos, uma vez que existem muitas outras coisas, a começar pelo álcool e gorduras que o podem fazer) é antes de mais uma mostra da inocuidade do produto. Do mesmo modo, 50 reacções adversas em Portugal (que muitas vezes são uma simples urticária e nenhuma grave foi comunicada à classe médica) em 3 anos, sendo que em cada dia são prescritas embalagens na ordem dos milhares (fora as adquiridas sem receita), mostra que as probabilidades de haver problemas são bem menores que as de ser, por exemplo, atropelado por um jornalista.

SEGUNDO: nas recomendações de uso deste medicamento SEMPRE constaram avisos sobre os cuidados a ter em caso de toma prolongada ou em altas doses, sobretudo em relação ao fígado e rins. Não se percebe bem o porquê desta notícia ou "estudo" sobre uma coisa que não é novidade nenhuma, mas que pode ser alguma preparação para um novo produto a chegar ao mercado...

TERCEIRO: todos sabemos da papalvice e gosto pelo alarmismo de muito jornalista e da generalidade do público português. Fica então a sugestão: TODOS os medicamentos têm normas de utilização, taxas de efeitos secundários e contra-indicações, como poderá ser facilmente constatado, por exemplo, no Prontuário Terapêutico. Fazendo contas aos milhares de medicamentos comercializados, já viram o manancial de notícias assustadoras não devidamente aproveitadas? Vá lá senhores jornalistas: aproveitem a silly season, para lançarem uns belos pânicos. Já agora: se levarem os vossos filhos à consulta, cheios de febre, preferem que lhes dêem chazinhos?

Fernando Gomes da Costa (médico)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES; O EDUQUÊS EM AVALIAÇÃO



Muito se tem falado de processos de avaliação, centrada a discussão no teste de Física da primeira fase. Não posso deixar de verificar escandalizada o seguinte, que diz respeito à maioria dos testes do Secundário que pelos quais se tem avaliado os nossos alunos :

1- As questões são de tal maneira sui generis, enviesadas e distantes do programa e da realidade escolar (atenção, meus senhores, o país vai de Trás-os-Montes ao Algarve), que ter investido ou não em estudo não é relevante;

2- Numa reforma que pela primeira vez é testada, não foram enviadas provas- referência;

3-O exame de 11º de Biologia e Geologia, por exemplo, para além da formulação imprecisa de perguntas, tem aspectos absolutamente mirabolantes:
a) depois do investimento,por parte das escolas e colégios,em material de laboratório para pôr a funcionar os trabalhos laboratoriais, ao abrigo da penúltima reforma, os trabalhos laboratoriais foram "extintos"na última e actual reforma. E é precisamente o exame de Biologia e Geologia, 1ª fase, que pede ao aluno que invente uma experiência;
b)depois da invenção da experiência, propõe-se que crie um projecto de investigação (!). Isto é muito interessante como experiência para preencher 90 m de aula - será oportuno num exame? Fico a saber que a figura de "jovens investigadores" , utilizada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, se deve aplicar a jovens examinandos do Secundário.

4-Como Coordenadora Científica de um Centro de Investigação (e mãe de uma aluna sujeita a esta brincadeira de mau gosto), pergunto: andam a brincar com o contribuinte, com os nossos jovens ou aos investigadores?

5- Faço outra pergunta, do fundo da minha indignação cívica - a um professor que ouse "reter" um aluno são pedidos x formulários, relatórios, justificações - e a uma comissão de incompetentes, aquartelada no semi-anonimato do GAVE, que é responsável pela desestabilização e hecatombe de um país inteiro, pela motivação de jovens para irem estudar para fora destas fronteiras, ? que se faz? não há responsabilidades a pedir? bate-se palmas? de ciência pouco sabem e da realidade de aplicação e aplicabilidade dos programas ainda menos. Sinceramente, a Senhora Ministra pode estar cheia de boas intenções para impor regras ao sistema, mas a primeira regra é não se rodear de incompetentes ...e brincalhões.


(Maria do Céu Fialho, Prof. Caterática da Universidade de Coimbra e Coordenadora Científica de um Centro de Investigação sem alunos do Secundário nem membros do GAVE.)

*

Vi ontem no canal parlamento e em directo, a prestação da Ministra da Educação. Fiquei com a sensação que não é ela quem governa o seu ministério, devendo alguém trabalhar por ela. Como é que por detrás de tantas políticas educativas pode estar uma pessoa que não sabe falar, não compreende o teor das perguntas directas feitas pelos demais intervenientes, engasgando-se, ruborizando, como se fosse uma caloira? Porque é que não responsabiliza o GAVE? Porque é que não demite quem está à frente do referido Gabinete? Isto deixa-nos perceber claramente que existem motivos obscuros que “obrigaram” às conhecidas medidas políticas. Vários exames tinham erros, eram extensos, quem os realizou – os “experts” ao serviço da Ministra, deviam ser devidamente responsabilizados/demitidos.

Outra questão foi a declaração mentirosa da Ministra relativamente aos resultados do exame nacional de matemática do 9º ano. A dita afirmou que a óbvia melhoria dos resultados do exame a matemática neste ano, se devia à implementação das suas novas políticas. Eu vigiei esse exame, e tive a oportunidade de o ler: espantar-se-ia se lhe dissesse que qualquer pessoa com a antiga quarta classe, o saberia fazer tirando positiva. Pois é, até o fiz de cabeça. Algumas questões pareciam aqueles passatempos que compramos no quiosque para levarmos para férias. Aí está a política de rigor e exigência da Ministra – a mentira. E já falou que o próximo objectivo será a Língua Portuguesa – adivinhe como será o exame nacional do 9º ano no próximo ano: fazer uma cópia sobre o texto “O capuchinho vermelho”, dizer o presente do indicativo do verbo mentir, e escrever uma composição sobre as férias de Verão que hão-de vir… É uma vergonha.

(Sofia Silveira)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 21 de Julho de 2006


Staline, Chostakovitch e a arte de agradar e desprezar no fio da navalha ou do tiro na nuca no Guardian.

*

Grundsprache. Freud e o alemão em La République des Livres:
"Freud aurait-il pu découvrir l'inconscient dans une autre langue que l'allemand ? Voilà probablement l'une des questions les plus sensées que les professionnels de la profession aient posée à l'occasion du 150 ème anniversaire de la naissance de cher Sigmund."
*

Luís na Natureza do Mal: "A minha geração sofreu três gravíssimas contrariedades: primeiro aprendeu o mundo pelos compêndios do salazarismo. Depois pela vulgata marxista. A seguir veio o ruído insuportável do entertainment."
 


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



(...) uuma foto que tirei ontem, algures na cidade do Porto e que vá-se lá saber porquê me fez recordar os primeiros versos da tão conhecida e belíssima "TABACARIA", de Álvaro de Campos:

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada


(Álvaro Mendonça)
 


EARLY MORNING BLOGS
822 - Devemos perdonar a los ignorantes y resistir a los locos.

De los que se ríen y escarnecen de los que no deven, el sabio propuso tal fábula.

Algunos hombres son enojosos y burladores, y escarnecedores de otros, mas a sí mismos causan y fazen mal, assí como un asno que encontró con un león, y díxole burlándose d' él:

-¡Dios te salve, hermano!

Y rióse d' él. E león, indignándose de sus palabras, dixo entre sí:

-No quiera Dios que vana sangre ensuzie mis dientes, ca convernía dexarte injuriado o despedaçado.

Significa esta fábula que devemos perdonar a los ignorantes, mas devemos resistir y defendernos de los locos que quieren acometer a otros mejores de sí. Y que el loco fantástico no deve de reyrse de los hombres nobles y sabios y virtuosos, ni se ygualar con ellos.

Devemos perdonar a los ignorantes y resistir a los locos


(La vida y fábulas del Ysopo, Valencia, 1520.)

*

Bom dia!
 


A SOLIDÃO DOS GUERREIROS

A gente é feita pelas nossas conversas. Conversas que nunca se esquecem, conversas que ficam e ficam e ficam, mudando, dizendo coisas diferentes em tempos diferentes. Mas ficam, lá atrás de qualquer coisa que somos. Recordo-me nestes dias de ferro e fogo no Médio Oriente de uma que tive com a mais improvável pessoa para lembrar neste contexto: Jonas Savimbi. Ou talvez não.

A Jamba, quartel operacional de Savimbi no Sul de Angola, quando se tornou na sua sala de visitas, caiu no mesmo logro de que era parte: o logro da propaganda para ocidentais desejosos de exotismo e de um pouco de aventura. Savimbi aprendera com os chineses, que por sua vez tinham aprendido com os soviéticos, a arte das aldeias Potemkine, a arte da "massagem do ego", a arte de iludir. Nas "excursões" à Jamba como lhe chamavam os seus detractores, tudo era cuidadosamente pensado para responder às ilusões, obtendo efeitos de propaganda, mas havia outra Jamba por detrás da que era mostrada e essa era bem menos amável e bem menos utópica. Numa viagem que lá fiz, pude ver e ser sujeito a todas estas artes da ilusão e da propaganda mas, sem querer gabar-me de qualquer omnisciência ou cinismo militante, nem por isso deixava de saber que havia muito cenário.

Mas havia uma coisa na Jamba de natureza diferente do seu "sinaleiro", das suas aulas de Latim, da sua fanfarra marcial, e essa coisa era Jonas Savimbi ele mesmo, personagem maior que a vida, maior que a morte, personagem da história, cruel, obsessivo, tenebroso, mas uma "carácter". Fiel aos mitos que alimentava, um dos quais era de que não dormia, encontrei-o uma vez às três da manhã. O local era uma cabana de madeira e colmo, com umas cadeiras de plástico e uma improvável cortina florida daquelas que se encontram nos quartos de banho suburbanos. Era mesmo uma cortina, triste e pobre, o improvável cenário dos homens que rodeavam Savimbi, todos hoje já fantasmas no Inferno.

Era uma noite de crise, havia combates em Mavinga, e Magnus Malan tinha feito declarações incómodas para Savimbi, pelo que as relações com os aliados sul-africanos não deviam estar pelo melhor dos mundos. A guerra corria-lhe bem, talvez fosse isso que levou os sul-africanos a reivindicar o seu papel, o que atrapalhava a propaganda da UNITA. Talvez por isso, a meio da conversa e sem qualquer necessidade, Savimbi começou um longo monólogo, meio interior, meio para eu ouvir, muito longe do que se podia esperar pela ocasião e pelo interlocutor português. Savimbi começou a falar da solidão na luta. Disse-me: "Agora tenho todos comigo, os sul-africanos, os americanos, mas sei que isso não pode durar." "Já vi todos os meus aliados deixarem-me sozinhos, já vi os americanos com a síndrome do pós-Vietname, a abandonar os seus amigos... Quando fiz a minha "Longa Marcha" , até comemos cascas de árvore e chegámos à Jamba meia dúzia de homens para começar tudo de novo." E insistia: "Agora tenho amigos, mas sei que posso ficar outra vez sozinho, só posso contar comigo e com os meus maninhos..." Havia um tom de tristeza e de resignação, pouco habitual em Savimbi, que não era dado a ter estados de alma.

The image “http://www.rhetorik.ch/Aktuell/trophy/savimbi.jpg” cannot be displayed, because it contains errors.Ele sentia-se ofendido pelos sul-africanos, este era o motivo próximo, e Savimbi era orgulhoso. Mas ele tinha uma premonição sobre o que se iria passar, muitos anos depois, a sua morte em combate, sozinho, abandonado, apenas com meia dúzia de fieis irredutíveis muitos dos quais morreram com ele. Ele era uma raridade para um líder africano, não tinha atracção pela vida faustosa no exílio dourado, não era corrupto, embora corrompesse, e toda a vida foi um general da frente de batalha, que liderava do chão perto dos seus homens. Era perigoso como poucos e sabia muito.

Recordo-me desta conversa nocturna, quando vejo mais uma vez o modo como os israelitas são deixados sozinhos para se defenderem, o que eles só podem fazer atacando (olhe-se para um mapa de Israel para se perceber), perante uma opinião pública e publicada que também ela, como os sul-africanos e americanos a Savimbi, os abandonou. Israel não é defensável em termos de um conflito clássico, e só com muito saber de experiência feita consegue conter em termos aceitáveis o terrorismo de que é vítima. À sua volta só tem inimigos, que não datam da "questão palestiniana" como muitos pensam, mas do dia seguinte à criação do Estado de Israel, quando este foi invadido por todos os exércitos dos países árabes. O mesmo cenário repetiu-se várias vezes, até que as ofensivas militares tradicionais, todas derrotadas, foram progressivamente substituídas por actos de terrorismo localizado, mas sistémico. Apesar de tudo, a situação de segurança de Israel melhorou, em grande parte porque a ocupação dos territórios da Cisjordânia e da Síria melhorou a sua capacidade de defesa, deu-lhe profundidade. A situação de Israel também melhorou, porque o "mundo árabe" se dividiu, alguns corajosos chefes de Estado no Egipto e na Jordânia aceitaram a realidade do seu Estado e o mesmo aconteceu com alguns palestinianos, a começar por dirigentes da OLP e da Fatah. Esse caminho foi positivo e é positivo.
http://ec.europa.eu/comm/external_relations/israel/images/acp_israel_w600.gif

Mas há uma realidade nova no Médio Oriente que pode inverter completamente a situação e fragilizar Israel e os seus amigos árabes, de novo: a combinação do fundamentalismo islâmico com a nuclearização do Irão. O Irão e a Síria são hoje a vanguarda de todos os que negam a pura existência de Israel, e o Hamas e o Hezbollah são os braços armados dessa nova realidade. Se somarmos a essa situação o caminho perigosíssimo do Irão, Israel tem hoje de novo um desequilíbrio que se está a construir à sua volta. O problema não são os palestinianos, é o choque de políticas nacionais de hegemonia regional, e a utilização da religião como arma de mobilização e radicalismo. Israel tem que conter o Irão, a Síria, o Hamas e o Hezbollah quanto antes, antes de terem armamento nuclear, antes de se armarem com as novas armas do terrorismo, incluindo uma capacidade maior de projecção de mísseis sobre o seu território sem profundidade. É uma realidade militar antes de ser política.

Os israelitas fazem certamente muitas asneiras, porque não são passivos mas pró-activos. Não assistem sentados à sua progressiva neutralização e destruição. Não podem deixar de o ser e é por isso que conservadores e trabalhistas, partidos religiosos e socialistas não diferem muito na legitimação da actuação militar. É mesmo uma questão de sobrevivência e a ideia de que se trata de "um conflito assimétrico" onde os "poderosos" esmagam os "fracos" é enganadora: há assimetrias de tamanho que são a favor dos aparentemente mais fracos.

Percebe-se o que os israelitas querem com esta resposta violenta aos actos de guerra do Hezbollah e do Hamas: mostrar que a paz só é possível se não houver qualquer transigência com os grupos que são os braços armados de estratégias de aniquilação do Estado de Israel. E estes, e os Estados que os alimentam, só percebem uma única linguagem, a da força. Israel também de há muito sabe que só pode haver paz com quem a deseja e, do mesmo modo que o Irão lhe quis enviar uma mensagem, Israel responde em espécie. É duro, mas naquele canto do mundo não há muito terreno para amabilidades, e, infelizmente, muita gente sofre de passagem. A expressão "danos colaterais" é cruel na sua frieza, mas verdadeira.

É face a esta situação que a comunidade internacional não cumpriu as suas obrigações. Fechou os olhos à presença de milícias sírio-iranianas no Sul do Líbano, não se dispôs a fornecer reais garantias a Israel da sua segurança, para poder exigir o fim da ocupação dos territórios palestinianos com razoabilidade e sem risco para Israel. O último passo para a paz, a retirada unilateral da Faixa de Gaza, não foi acompanhada pelas devidas pressões sobre o Hamas para que mude de política face a Israel.

Bem pelo contrário, a União Europeia, cuja política no Médio Oriente é claramente anti-israelita e por isso inútil para mediar qualquer coisa, continua a financiar a Autoridade Palestiniana controlada pelo Hamas. Os americanos dão uma última garantia de segurança a Israel, mas essa só funciona num ambiente de Armagedão, e a Bíblia e os seus apocalipses não são os melhores conselheiros. Até lá, e esperamos, sem necessidade de chegar lá (um conflito nuclear), Israel está sozinho e só pode contar consigo mesmo. Eles sabem muito bem disso, como Savimbi sabia. Ele perdeu tudo, os israelitas fazem tudo para que o mesmo não lhes aconteça.

(No Público de 20/7/2006)

20.7.06
 


COISAS SIMPLES: A NOITE



(I. Levitan)
 


PIRATARIAS 3



A pirataria ainda não está resolvida, mas está a ser investigada. Uma informação preciosa seria a de saber que outros blogues em português, ou casos recentes fora de Portugal, conheceram o mesmo problema. Até agora nos blogues portugueses no Blogger apenas se conhece o caso do Abrupto, o que parece indicar deliberada intenção e não ataque ao acaso como alguns se apressam a concluir. Exemplos portugueses seriam importantes para ajudar a compreender a pirataria e o seu carácter.
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 20 de Julho de 2006


Interessante e intrigante artigo de Ruben de Carvalho no Diário de Notícias:
"A acompanhar uma amável entrevista com Francisco Louçã, o Expresso da passada semana publicou o que pretende ser o até hoje mais completo estudo sobre a realidade orgânica do Bloco, clinicamente aliás intitulado Radiografia do Bloco de Esquerda. Com direito a um pormenorizado mapa de Portugal, especificando os números bloquistas por distrito e regiões autónomas, de militantes e de votos nas legislativas de 2005.

Os resultados são deveras interessantes. Segundo o semanário, o Bloco possui em Portalegre 61 militantes; em Viana do Castelo, Vila Real, Bragança, Guarda, Castelo Branco, Évora, Beja e Açores, em cada um, 122 militantes (o que, verifica-se, corresponde em todos exactamente ao dobro de Portalegre, 2x61); em Leiria serão 183 (ou seja, 3x61); em Aveiro, Santarém, Faro e Viseu atingem em cada os 244 (uns quadrangulares 4x61); em Braga, Coimbra e Madeira já sobem para uns distritais 305 (isto é, 5x61); em Setúbal o factor multiplicativo é de 12, a saber, 12x61=732. As maiores multiplicações do Bloco ocorrem no Porto e em Lisboa, no primeiro 13 Portalegres (793=13x61), atingindo na segunda 24 Portalegres (1464=24x61)."
*

O jornal Expresso publicou na sua última edição uma Radiografia do Bloco de Esquerda onde publicava uma pequena discrição sobre a implantação distrital do movimento, nomeadamente o seu número de militantes. No gráfico que acompanhava a notícia, podia ver-se que, em vários distritos, o Bloco parecia ter o mesmo número de filiados. Como é natural, essa informação poderá suscitar uma sensação de estranheza nos leitores, e por essa razão o Bloco entende prestar o seguinte esclarecimento.

A pedido do Expresso, o Bloco indicou o número total dos seus inscritos e a percentagem por distrito. Estes valores foram indicados por aproximação à unidade. Assim, para um distrito que tenha aproximadamente 1% dos aderentes do Bloco, o Expresso extrapolou que seriam 61 (1% de 6100) e assim sucessivamente. É isso que explica que o Expresso tenha publicado nesse gráfico o mesmo número de militantes do Bloco em vários distritos.

Nota ao jornal Expresso que o Bloco de Esquerda enviou para esse mesmo jornal na passada segunda-feira,

(Pedro Sales, Assessor de Imprensa do Bloco de Esquerda)

*

Ora aqui está um excelente exemplo do que acontece quando se sabe pouco de matemática. Quando digo pouco, digo pouco. Muito pouco mesmo. Matemática de 4ª classe (antiga, que pela nova é preciso o 9º ano)..

Quando se brincam com percentagens de números muito pequenos, e as percentagens são arredondadas à unidade (percentual), acontecem, inevitavelmente dessas coisas. Desagradáveis. Até parece que se trata de um preconceito contra as vírgulas.

Há quem diga que a esquerda detesta contas. Este exemplo não vai ao arrepio dessa afirmação.

Quantos mais disparates serão ditos ao abrigo da mesmo arredondamento?

(H. Martins)

*

A rábula dos «múltiplos-múltiplos de 61» (relativa aos militantes do BE) faz-me lembrar a anedota do Solnado:

- Meu general, vêm aí os índios!
- Quantos são eles?
- 1001, meu general!
- E como é que os contaste tão depressa?
- É que vem 1 à frente, e atrás são para aí uns 1000!

(C. Medina Ribeiro)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM NOVA DELI, ÍNDIA



Na Índia, há um mês - homem ganhando a vida a pesar pessoas, com balança portátil.

(Fernando Correia de Oliveira)
 


MAIS CONTRIBUTOS PARA
AS VINTE MELHORES OBRAS DE REFERÊNCIA EM PORTUGUÊS 1.0
(2ª série)




E é também no seguimento dos contributos para as vinte melhores obras de refererência em português que lhe escrevo.E mais um par delas:

_ ANSELMO, António Joaquim [1977], Bibliografia das obras impressas em Portugal no século XVI, Lisboa. B.N.

_ PEREIRA, Paulo (dir. de) [1995], História da Arte Portuguesa. Lisboa. Círculo de Leitores.

_CARVALHO, Joaquim de [1947, 1948, 1949], Estudos sobre a Cultura Portuguesa dos séculos XV e XVI.

_ Como complemento às Normas do Padre Avelino, servindo de treino paleográfico: COSTA, P. Avelino de Jesus [1997], Álbum de Paleografia e Diplomática portuguesas. Estampas. 6ª Edição. Coimbra. FLUC.

_BRANDÃO, Fr. Francisco. [1976], Monarquia Lusitana. Ed. facsimilada. Lisboa. INCM.

_ Não esquecer nunca:

SERRÃO, Joel e MARQUES, A.H. de Oliveira (dir. de), Nova História de Portugal. Ed. Presença.

_ CARDOSO, Pe. Jorge [1652], Agiologia Lusitana.

_ Como expressão paradigmática do movimento de Erudição em Portugal, a obra orientada por Alexandre Herculano: Portugaliae Monumenta Historica a saeculo octavo post Christum usque ad quintumdecimun, jussu Academiae Scientiarum Olisiponensis edita, nova série.

_ GODINHO, Vitorino Magalhães, Os Descobrimentos e a Economia Mundial. Ed. Presença.4 vols.

_ FIGUEIREDO, Cândido de [1996], Grande Dicionário da Língua Portuguesa. 25ª Ed., 2 vols.

_ De elevada utilidade, um guia fundamental de obras gerais, disciplinas documentais e outras disciplinas de incidência Histórica: REPERTÓRIO BIBLIOGRÁFICO DA HISTORIOGRAFIA PORTUGUESA. [1974-1994], FLUC, Inst. Camões.

sandra costa


*

Noto que as obras de referência que têm entrado no Abrupto vão sempre para as mesmas áreas: filosofias, histórias, literaturas. Que tal meter um pouco de outra ciência nisso:
Desenho Técnico, de Luís Veiga da Cunha, FCG Introdução à Análise Matemática, de Campos Ferreira, FCG

(nuno de magalhães)

*

Três sugestões na área da ópera e do espectáculo:

MOREAU, Mário - Teatro de S. Carlos : dois séculos de história. Lisboa : Hugin, 1999. 2 vol. ISBN 972-8534-50-5

Está lá tudo. Todos os concertos, todas as récitas, todas as óperas, todos os bailados, todos os cantores, todos os maestros, todos os bailarinos, todos os actores, todos os encenadores, todos os cenógrafos, todos, todos, todos.

MOREAU, Mário - Cantores de ópera portugueses. Amadora : Bertrand, 1981. 3 vol.
Também estão todos, do Séc. 18 até 1981.

BASTOS, Sousa - Carteira do artista : apontamentos para a história do theatro portuguez e brazileiro acompanhados de noticias sobre os principaes artistas, escriptores dramaticos e compositores estrangeiros. Lisboa : Antiga Casa Bartrand - José Bastos, 1898

O autor era o marido da actriz Palmira Bastos. Um trabalho muito interessante que pretendeu ser exaustivo. Está organizado em jeito de efemérides e contém, no final, uma bibliografia e vários índices (actores portugueses e brasileiros, aderecistas, arquitectos e figurinistas, actores estrangeiros, beneméritos, cabeleireiros, cantores portugueses, companhias, contraregras, curiosidades, decretos, portarias, tratados e outros documentos, empregados diversos, dramas, comédias, tragédias, operas-cómicas, revistas e peças, empresários, ensaiadores, escritores e críticos, guarda-roupas, maquinistas, músicos, óperas e danças, pontos, cenógrafos, teatros e ainda um índice de gravuras). Uma preciosidade!

Maria Clara Assunção

*

Eu juntaria:

A Poesia dos Trovadores (Séculos XII-XV), selecção e prefácio de Vitorino Nemésio, edição do Instituto para a Alta Cultura, Lisboa, 1950.

(Torquato da Luz)

*

Não sei se li todas as sugestões todas, mas pareceu-me que faltava esta: Portugaliae Monumenta Historica, fruto da enorme capacidade de trabalho e dedicação de Alexandre Herculano.

(Maria Pereira Stocker)
 


EARLY MORNING BLOGS
821 - Vinte mil réis mensais são uma vergonha social!

- Então, realmente, aconselha-me que toque a campainha?

Ele ergueu um pouco o chapéu, descobrindo a fronte estreita, enfeitada de uma gaforinha crespa e negrejante como a do fabuloso Alcides, e respondeu, palavra a palavra: - Aqui está o seu caso, estimável Teodoro. Vinte mil réis mensais são uma vergonha social! Por outro lado, há sobre este globo coisas prodigiosas: há vinhos de Borgonha, como por exemplo o Romanée-Conti de 58 e o Chambertin, de 61, que custam, cada garrafa, de dez a onze mil réis; e quem bebe o primeiro cálice, não hesitará, para beber o segundo, em assassinar seu pai... Fabricam-se em Paris e em Londres carruagens de tão suaves molas, de tão mimosos estofos, que é preferível percorrer nelas o Campo Grande, a viajar, como os antigos deuses, pelos céus, sobre os fofos coxins das nuvens... Não farei à sua instrução a ofensa de o informar que se mobilam hoje casas, de um estilo e de um conforto, que são elas que realizam superiormente esse regalo fictício, chamado outrora a «bem-aventurança». Não lhe falarei, Teodoro, de outros gozos terrestres: como, por exemplo, o Teatro do Palais Royal, o baile Laborde, o Café Anglais... Só chamarei a sua atenção para este facto: existem seres que se chamam Mulheres - diferentes daqueles que conhece, e que se denominam Fêmeas. Estes seres, Teodoro, no meu tempo, a páginas 3 da Bíblia, apenas usavam exteriormente uma folha de vinha. Hoje, Teodoro, é toda uma sinfonia, todo um engenhoso e delicado poema de rendas, baptistes, cetins, flores, jóias, caxemiras, gazes e veludos... Compreende a satisfação inenarrável que haverá, para os cinco dedos de um cristão, em percorrer, palpar estas maravilhas macias; - mas também percebe que não é com o troco de uma placa honesta de cinco tostões que se pagam as contas destes querubins... Mas elas possuem melhor, Teodoro: são os cabelos cor do ouro ou cor da treva, tendo assim nas suas tranças a aparência emblemática das duas grandes tentações humanas - a fome do metal precioso e o conhecimento do absoluto transcendente. E ainda têm mais: são os braços cor de mármore, de uma frescura de lírio orvalhado; são os seios, sobre os quais o grande Praxíteles modelou a sua Taça, que é a linha mais pura e mais ideal da Antiguidade... Os seios, outrora (na ideia desse ingénuo Ancião que os formou, que fabricou o mundo, e de quem uma inimizade secular me veda de pronunciar o nome), eram destinados à nutrição augusta da humanidade; sossegue porém, Teodoro; hoje nenhuma mamã racional os expõe a essa função deterioradora e severa; servem só para resplandecer, aninhados em rendas, ao gás das soirées, - e para outros usos secretos. As conveniências impedem-me de prosseguir nesta exposição radiosa das belezas que constituem o fatal feminino... De resto as suas pupilas já rebrilham... Ora todas estas coisas, Teodoro, estão para além, infinitamente para além dos seus vinte mil réis por mês... Confesse, ao menos, que estas palavras têm o venerável selo da verdade!...

Eu murmurei, com as faces abrasadas:

- Têm.

(Eça de Queiroz, O Mandarim)

*

Bom dia!
 


PIRATARIAS 2



Desde o momento em que a pirataria surgiu, ontem ao fim da tarde, não tive muito tempo para me dedicar ao assunto. Vou fazê-lo agora, começando por ler as mais de trezentas mensagens entretanto recebidas e que desde já agradeço. Desde o início da tarde que o Abrupto genuíno tem estado continuamente em linha, mas ,como não sei ainda o que realmente aconteceu, parto do príncipio de que o problema continua.

Amanhã tratarei do assunto em mais detalhe, mas podem ter a certeza de que aconteça o que acontecer o Abrupto continuará. Não será por esta via que acabam com ele.

19.7.06
 


PIRATARIAS



O problema continua. Quando acrescento uma nota nova ou refresco uma antiga, o falso "abrupto" desaparece, regressando mais tarde. Não penso ser um problema de password, visto que a mudei mal surgiu a pirataria e a anterior só pode ter sido "roubada" electronicamente. O conteúdo no Blogger parece intacto. Muito obrigada a todos que estão a dar-me sugestões para resolver o problema e identificar a origem.

18.7.06
 


INTERMITÊNCIAS



O Abrupto continua a ser substituído intermitentemente por outro abrupto pirata. Alguém sabe se o mesmo está a acontecer a outros blogues do Blogger?

*

Suponho que isso poderá acontecer, mas só parcialmente

Será o caso de pessoas que usem, como servidores de DNS, servidores nos quais seja possível configurar domínios de forma interactiva (directamente pelo browser, na qualidade de cliente).

Neste caso, configurando um domínio abrupto.blogspot.com, os utilizadores desse servidor de DNS serão direccionados para o domínio falso.

Claro que esse embuste só funcionará para os que usarem o servidor de DNS "armadilhado", mas se numa dada região ou país (Portugal é muito pequeno) alguém fizer isso a um servidor, por exemplo da Netcabo, a coisa resulta substancialmente bem.

Dando um exemplo. Imaginemos que eu me apresento a um Internet Service Provider (ISP) local, me inscrevo On Line, e configuro nele o domínio abrupto.blogspot.com. Muitos ISPs deixam que isso aconteça, por estranho que pareça, simplesmente porque não há forma de, On Line, se saber se o inscrito é o dono legítimo da coisa.. Todo o mundo continuará a aceder ao endereço legítimo, mas os utilizadores do ISP em causa são direccionados para o endereço falso.

No caso dos domínios .COM (o caso presente) os servidores de DNS, numa boa parte dos ISPs, seguem as "instruções" da Internic (a autoridade máxima dos .COM) desde que não haja uma configuração local que determine algo diverso (o caso do domínio falso). Caso haja um "caso diverso" ...

Mas há ISPs que só aceitam os dados recebidos via Internic.

Estamos no domínio da roleta russa.

Ainda ando às voltas com um caso em que um espertalhão configurou um domínio yahoo.com num servidor que tenho que usar (por razões irrelevantes neste caso). De cada vez que quero aceder à Yahoo (eu e muitos outros), vou parar a um monte de lixo. O espertalhão inscreveu-se como cliente, pagou, configurou um domínio yahoo.com e “inventou” um site Yahoo.

Os ISPs deviam somente disponibilizar aos clientes servidores que estivessem só dependentes da Internic, mas, por nabice ou outra razão, frequentemente não o fazem.

Como se sai daqui? Com muita arrelia, sem garantias.

Em primeiro lugar é preciso descobrir qual é o servidor de DNS "armadilhado". Para se saber é preciso saber que servidor usa o queixoso (quem reposta a anomalia). O problema +é que, habitualmente, para quem cai no embuste esta conversa é chinês.

Se se conseguir descobrir o servidor de DNS, há que chatear o dono dele, explicando a coisa. Se o dono estiver para se ralar, pode até resolver a coisa, mas duvido que dure muito. Como disse, se o servidor de DNS for usado por quem quer que seja como "o servidor que vai ajudar o computador - de cada um - a encontrar os sites" (a missão habitual dos servidores de DNS cujos endereços são adquiridos pelos nossos computadores no momento que que se ligam à Internet - DHCP) e esse servidor de DNS for, em simultâneo, o servidor de DNS dos clientes que podem configurar domínios, só não há um conflito de interesses se não se apresentarem "voluntários".

Esta casualidade (só os que usam o servidor armadilhado) pode explicar os casos mais ou manos esporádicos. Há quem se queixe, mas a maioria acede sem problemas. Se, por exemplo, o servidor “ajeitado” for do grupo PT, é provável que a maioria dos visitantes vão parar ao site errado. E o grupo PT é muito mais nabo do que parece.

Tenho muita pena, mas ... o mundo é muito grande e está cheio de espertalhões e de nabos.

(Henique Martins)
 


TENTATIVAS DE DEITAR ABAIXO O ABRUPTO

tem sido muitas e repetidas desde o início. Hoje durante algum tempo um outro Abrupto aparecia no mesmo endereço. Obrigado a quem me alertou. Vou ver se percebo o que aconteceu mas é certamente um caso de pirataria.
 


RETRATOS DO TRABALHO NO BOMBARRAL, PORTUGAL



Bombarral, Festival do Vinho, Julho, 2006

(Mário Rui Araújo)
 


MAIS CONTRIBUTOS PARA
AS VINTE MELHORES OBRAS DE REFERÊNCIA EM PORTUGUÊS 1.0




Colóquio dos simples e drogas e cousas medicinais da índia, de Garcia da Orta, Goa, 1563. Está disponível numa edição de 1963 da Academia das Ciências de lisboa. Na Europa da altura, e durante muito tempo, foi considerado O livro", a referência sobre a psicogeografia das drogas. Em certo sentido, é absolutamente actual ( veja-se o capítulo sobre o anfião, ou seja, o ópio).

(Filipe Nunes Vicente)

*

Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e L. F. Lindley Cintra

Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro/Porto 2001-Assírio & Alvim

Dicionário Latino-Português, Francisco Torrinha

Dicionário Português-Latim, Francisco Torrinha

Teoria da Literatura, Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Almedina

Gramática Simbólica do Português, Óscar Lopes, Fundação Calouste Gulbenkian

Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Machado

Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro Machado

Dicionário da Lìngua Portuguesa, Porto Editora

Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, Magnus Bergstrom e Neves Reis

Dicionário de Literatura, direcção de Jacinto do Prado Coelho, Figueirinhas

Biblos - Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa

Novo Aurélio Século XXI: o Dicionário da Língua Portuguesa, 3.ª Edição

História Crítica da Literatura Portuguesa, direcção de Carlos Reis, Verbo

História da Língua Portuguesa, Paul Teyssier

O Ritmo na Poesia de António Nobre, Luís Filipe Lindley Cintra, IN-CM

História de Portugal, dir. de José Mattoso

História Concisa de Portugal, José Hermano Saraiva

Ditos Portugueses Dignos de Memória, José Hermano Saraiva

Ao Contrário de Penélope, Jacinto do Prado Coelho

Tratado de Versificação Portuguesa, Amorim de Carvalho

Edoi Lelia Doura: antologia das vozes comunicantes da poesia moderna portuguesa, organização de Herberto Helder

Dicionário Bibliográfico Português, Inocêncio Francisco da Silva

Dicionário da Língua Portuguesa, António de Morais Silva (Dicionário de Morais)

Retórica e Teorização Literária em Portugal: do Humanismo ao Neoclassicismo, Aníbal Pinto de Castro

A Oratória Barroca de Vieira, Margarida Vieira Mendes

Hélade: Antologia da Cultura Grega, Maria Helena da Rocha Pereira

Romana: Antologia da Cultura Latina, Maria Helena da Rocha Pereira

História da Literatura Portuguesa, António José Saraiva e Óscar Lopes

Gramática da Língua Portuguesa, Maria Helena Mira Mateus et al., Caminho

Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

Enciclopédia Verbo Luso-Brasileira da Cultura - Edição Século XXI, dir. de João Bigotte Chorão

Lello Universal - Dicionário Enciclopédico em 2 Volumes

Dicionário da Literatura Medieval Galega e Portuguesa, org. e coord. de Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani

(Nelson B.)

*

Casanova - O Direito nas Revistas Portuguesas. Pesquisáveis por autor, por título, por assunto, por revista, por ramo do direito, estão lá todos, absolutamente todos, os artigos jurídicos publicados em revistas portuguesas (e não só revistas jurídicas), desde os finais do séc. XIX, até 1990. A obra não se vendeu e a Almedina desinteressou-se da sua actualização ou da sua conversão para uma base de dados on-line.
Se fosse futebol...

(Antónoio Cardoso da Conceição)

*

Duas sugestões na área da Filosofia:

Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia (Verbo)

História do pensamento filosófico português , dir. Pedro Calafate (Caminho ou Círculo de Leitores)

(Pedro Valadares)

*

A sua leitora Isabel G recomendou-lhe a História da Igreja em Portugal, de Fortunato de Almeida, como obra de referência. Quer-me parecer que, dentro daquela área, serão talvez preferíveis a História Religiosa de Portugal e o Dicionário de História Religiosa de Portugal, ambos escritos sob a direcção de Carlos Moreira Azevedo.

(José Carlos Santos)

*

Dicionário de autores de literaturas africanas de língua portuguesa / Aldónio Gomes, Fernanda Cavacas (Ed Caminho)

Dicionário de pseudónimos e iniciais de escritores portugueses / Adriano da Guerra Andrade (ed. Biblioteca Nacional)

Jornais e revistas portugueses do séc. XIX / Biblioteca Nacional

Marquês de Pombal : catálogo bibliográfico e iconográfico / Comissão Organizadora das Comemorações do Bicentenário da Morte do Marquês de Pombal (ed. Biblioteca Nacional)

A inquisição em Portugal (1536-1821) : catálogo da exposição organizada por ocasião do 1o Congresso Luso-Brasileiro sobre Inquisição / Biblioteca Nacional. (Ed. Biblioteca Nacional)

(Isabel G)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 18 de Julho de 2006


No Público de hoje, sem ligação, Vital Moreira escreve um artigo exemplar da "má fé" de que falavam Fernando Gil e Paulo Tunhas em Impasses:

Quando um Estado, para responder a uma acção bélica inimiga, resolve atacar alvos civis, matar gente inocente a esmo, destruir estradas e pontes, portos e aeroportos, centrais eléctricas e bairros urbanos, isso tem um nome feio: terrorismo. No caso, terrorismo de Estado. Na vertigem da violência que é o interminável conflito israelo-palestiniano, Israel adopta decididamente a mesma lógica fatal de que acusa os seus inimigos, ou seja, transformar os civis em carne para canhão.

(Sublinhados meus.)

É difícil fazer melhor (pior).
*

No Correio da Manhã, Ferreira Fernandes pergunta: George W. Bush merece sanção?


*

Dava um Prémio Nobel da Paz imediato, excepcional, automático a quem inventasse um mecanismo eficaz para "farejar" explosivos a uma certa distância. Não resolvia os imensos problemas do Iraque, mas ajudava muito. E seria uma homenagem irónica ao inventor dos explosivos modernos, o senhor Alfred Nobel.
 


RETRATOS DO TRABALHO NO BOMBARRAL, PORTUGAL



Bombarral, Festival do Vinho, Julho, 2006.

(Mário Rui Araújo)
 


EARLY MORNING BLOGS
820 - As felicidades haviam de vir...

Não posso negar, porém, que nesse tempo eu era ambicioso - como o reconheciam sagazmente a Madame Marques e o lépido Couceiro. Não que me revolvesse o peito o apetite heróico de dirigir, do alto de um trono, vastos rebanhos humanos; não que a minha louca alma jamais aspirasse a rodar pela Baixa em trem da Companhia, seguida de um correio choutando; - mas pungia-me o desejo de poder jantar no Hotel Central com champanhe, apertar a mão mimosa de viscondessas, e, pelo menos duas vezes por semana, adormecer, num êxtase mudo, sobre o seio fresco de Vénus. Oh! moços que vos dirigíeis vivamente a S. Carlos, atabafados em paletós caros onde alvejava a gravata de soirée! Oh! tipóias, apinhadas de andaluzas, batendo galhardamente para os touros - quantas vezes me fizestes suspirar! Porque a certeza de que os meus vinte mil réis por mês e o meu jeito encolhido de enguiço, me excluíam para sempre dessas alegrias sociais, vinha-me então ferir o peito - como uma frecha que se crava num tronco, e fica muito tempo vibrando!

Ainda assim, eu não me considerava sombriamente um «pária». A vida humilde tem doçuras: é grato, numa manhã de sol alegre, com o guardanapo ao pescoço, diante do bife de grelha, desdobrar o «Diário de Notícias»; pelas tardes de Verão, nos bancos gratuitos do Passeio, gozam-se suavidades de idílio; é saboroso à noite no Martinho, sorvendo aos goles um café, ouvir os verbosos injuriar a pátria... Depois, nunca fui excessivamente infeliz - porque não tenho imaginação: não me consumia, rondando e almejando em torno de paraísos fictícios, nascidos da minha própria alma desejosa como nuvens da evaporação de um lago; não suspirava, olhando as lúcidas estrelas, por um amor à Romeu ou por uma glória social à Camors. Sou um positivo. Só aspirava ao racional, ao tangível, ao que já fora alcançado por outros no meu bairro, ao que é acessível ao bacharel. E ia-me resignando, como quem a uma table d'hôte mastiga a bucha de pão seco à espera que lhe chegue o prato rico da charlotte russe. As felicidades haviam de vir: e para as apressar eu fazia tudo o que devia como português e como constitucional: - pedia-as todas as noites a Nossa Senhora das Dores, e comprava décimos da lotaria.

(Eça de Queiroz)

*

Bom dia!

17.7.06
 


COISAS DA SÁBADO:

SOLIDÃO QUEM A TEM CHAMA-LHE SUA - UM LIVRO SOBRE AS PESSOAS SÓS

A obra de José Machado Pais tem sido, de há muitos anos a esta parte, do melhor que nos deu a sociologia em Portugal. Os seus estudos são pioneiros do conhecimento sociológico em Portugal nas áreas a que se dedica, combinando uma investigação empírica séria com uma sólida teoria, tudo vertido numa linguagem sem academismos e pretensões. E, o que ele estuda está no centro do nosso (des) conhecimento da realidade dos dias de hoje, do Portugal que existe mesmo fora dos livros, nas ruas, nos bairros degradados, nos gangs juvenis, na droga, nas discotecas.

O último livro intitulado Nos Rastos da Solidão é um estudo sobre o quotidiano na grande cidade onde quase todos vivemos e a sua produção de solidão, de pessoas sós que se sentem sós, e sobre as estratégias de combate e de esquecimento dessa solidão. Compreende um conjunto de ensaios sobre os sem-abrigo, o consumismo, a velhice, o "desencanto", os emigrantes de Leste, os "animais de companhia". Dois estudos mostram os pólos opostos da solidão urbana, opostos social, etária e intelectualmente, mas nem por isso menos diferentes na solidão: as tabernas e os chats. Este livro deveria ser de leitura obrigatória para todos os que querem saber as linhas menos visíveis que se cosem nos centros comerciais, à noite diante de um computador, nos ajuntamentos de madrugada dos trabalhadores ucranianos para as obras, nas velhas dos gatos que em cada rua antiga são os alvos da ira popular. Os gatos, os cães e os pombos sujam tudo, mas sujam bastante menos do que estas solidões. A ler absolutamente.

 


RETRATOS DO TRABALHO NO TIBETE



Pastora.

(José Manuel Fernandes)
 


CONTRIBUTOS PARA
AS VINTE MELHORES OBRAS DE REFERÊNCIA EM PORTUGUÊS 1.0




O Dicionário de pintores e escultores portugueses ou que trabalharam em Portugal / Fernando de Pamplona ; pref. Ricardo do Espírito Santo Silva

Diccionário histórico e documental dos architectos, engenheiros e constructores portuguezes ou a serviço de Portugal / coordenado por Sousa Viterbo

Inventário artístico ilustrado de Portugal / José Correia de Azevedo

Inventário artístico de Portugal / [ed.] Academia Nacional de Belas Artes

História da igreja em Portugal / Fortunato de Almeida

Nobiliário de famílias de Portugal / Manuel José da Costa Felgueiras Gayo

História genealógica da casa real portuguesa / D. António Caetano de Sousa

Portugal antigo e moderno : diccionário geográphico, estatístico, chorographico, heraldico, archeologico, historico, biographico e etymologico de todas as cidades, villas e freguesias de Portugal e grande número de aldeias / Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho Leal

Dicionário de expressões populares portuguesas / Guilherme Augusto Simöes

Dicionário do cinema português 1962-1988 / Jorge Leitão Ramos

Dicionário do teatro português / dir. de Luís Francisco Rebello

Diccionario do Theatro portuguez / Sousa Bastos

Dicionário de história da Igreja em Portugal / dir. de António Alberto Banha de Andrade

Lello Universal : dicionário enciclopédico luso-brasileiro / José Lello e Edgar Lello

Descripção geral e histórica das moedas cunhadas em nome dos reis, regentes e governadores de Portugal / A. C. Teixeira de Aragão

(Isabel G)

*


Lombadas da Europa Portuguesa do Manuel de Faria e Sousa

(
fotos de Ana Gaiaz)

*

Uma sugestão para as "AS VINTE MELHORES OBRAS DE REFERÊNCIA EM PORTUGUÊS 1.0" (só vinte serão suficientes?):

Avelino de Jesus da Costa, Normas gerais de transcrição e publicação de documentos medievais e modernos, 3ª ed., Coimbra, 1993
Trata-se de um companheiro essencial para os Historiadores que queiram fazer um boa transcrição e edição de manuscritos medievais e modernos. E bem precisamos que essas transcrições e edições se façam, para acordarmos a nossa memória, adormecida no pó dos arquivos.

(Paulo Agostinho)

*

Parecem-me certeiras as suas escolhas (desconhecendo, embora, duas ou três referências). Uma delas, porém, cuja selecção subscrevo inteiramente, apesar de conter inevitáveis erros e algumas omissões, a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, é comentada como sendo “(…) o título singular mais útil para qualquer investigação sobre o período anterior aos anos cinquenta do século XIX”. Eu tenho a “Portuguesa e Brasileira” e penso que apenas por equívoco baliza a sua utilidade até ao período que refere. Na verdade parece-me mais correcto afirmar “anterior aos anos cinquenta do século XX”.
[NOTA JPP: foi uma gralha que já está corrigida, é mesmo século XX.] Seja como for, é curioso reparar como muitas figuras do nosso burgo, quando entrevistadas em casa, fazem questão de se colocar para a fotografia, frente à estante onde a “Grande Enciclopédia” repousa. Já a vi no “lar” de muita gente “notável”. Esta recorrência comprova um mérito adicional da obra. Se há “lombadas” que dão caução cultural à nossa gente pública são estas, intermináveis e sólidas, imensas na latitude da estante, imponentes no seu vermelho e negro avivado a ouro. É como se se pudesse pensar: “Ah, este tem, este deve saber muito!”.

Uma curiosidade complementar, a propósito das omissões: eu moro na Rua Damasceno Monteiro e, pesquisando na Net e noutras fontes, não descobri em lugar nenhum quem foi o senhor. Até que me lembrei da “Grande Enciclopédia”. “Estou safo”, pensei. Enganei-me. Foi o primeiro grande desapontamento que a minha “luso-tropical” (nome carinhoso com que é tratada lá em casa) me deu. Até hoje não sei quem foi o cidadão homenageado com o seu nome nesta extensa rua de Lisboa.

(Manuel Margarido)
Para o seu leitor Manuel Margarido, milagres do Google.

(Tiago Azevedo Fernandes)
*


O Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses (dir. Luís de Albuquerque)
o Índice Analítico do vocabulário de Os Lusíadas (dir. A. Geraldo da Cunha)
o Dicionário de Camilo Castelo Branco (Caminho)
o Dicionário de personagens da novela camiliana (Caminho)
o Elucidário de Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo
os "dicionários" e repertórios de Sousa Viterbo (p. ex., Trabalhos náuticos dos Portugueses, ou o diconário dos artistas...)
o Vocabulário ortográfico da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves (conquanto de 1940, é insuperável)
o Tratado das alcunhas alentejanas, de Francisco Martins Ramos e Carlos Alberto da Silva
a Bibliografia Geral Portuguesa
a "Tradução em Portugal", de Gonçalves Rodrigues
o Dicionário Etimológico de J. Pedro Machado
Nova gramática do Português contemporâneo, de Lindley Cintra e Celso Cunha
a Biblos, Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa
o Dicionário de Literatura Portuguesa de A. Manuel Machado
a Monarchia Lusitana de D. António Caetano de Sousa
a Enciclopédia Verbo (nova edição)
a Biblioteca Lusitana, de Barbosa Machado

... sem esquecer a Micrologia Camoniana, de João Franco Barreto, os Índices dos livros proíbidos em Portugal no século XVI (ed. Moreira de Sá) e a Bibliografia das obras impressas em Portugal no séc. XVI de António Joaquim Anselmo...
E há mais.

(Vasco Graça Moura)

*

Uma sugestão: dentro das obras de referência, uma há da minha área profissional que julgo que não só em Portugal, como também no estrangeiro, é reconhecida como obra marcante e invlugar, que é a recolha feita por grupos de arquitectos nos anos 50 sobre a Arquitectura Popular Portuguesa, então da Associação de Arquitectos e agora Ordem dos Arquitectos. É uma obra fundamental, nos seus textos, desenhos e fotografias porque feita num momento anterior ao inicio da urbanização desenfreada de Portugal com o advento da entrada do dinheiro dos portugueses da diáspora iniciada nos anos 60 e onde podemos assim conhecer coisas que mais do que da "arquitectura" são da "cultura" e "tradições" portuguesas.

(Nuno Silva Leal)

*


A propósito desta sua lista e dada a proposta do seu leitor Luís Manuel Rodrigues, lembrando o esquecido Cantu, permito-me enviar uma fotografia das lombadas da obra (tirada para um post que nunca cheguei a realizar).

(José Pimentel Teixeira)

*

E claro. Como me fui esquecer disto?

Dicionário de literatura : literatura portuguesa, literatura brasileira, literatura galega, estilística, literária / dir. Jacinto do Prado Coelho

(Isabel G.)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: ENTRE ALVAREZ E O FISCO



Estava eu já mergulhado na mais profunda alienação daquilo que se passou na semana passada (não sei porquê mas são coisas que me acontecem) e absolutamente rejuvenescido para os temas da actualidade desta semana (preocupa-me seriamente a crise do Médio Oriente), quando ao ler o seguinte excerto do seu texto sobre a exposição do pintor Domingos Alvarez na Gulbenkian se fez luz: «(...) foi Kafka que primeiro nos mostrou que os homens do século XX iriam ser assim, andando como John Cleese com passos de "silly walk", no meio de uma burocracia que lhes retira individualidade e poder». Assim, ainda a propósito das listas negras do Fisco, e depois de ter conversado sobre isto com uma amiga minha que é advogada, não deixei de me espantar quando ela me disse que em muitos casos de violação dos direitos dos cidadãos, o único factor de individualidade é o económico. Quer isto dizer que, apesar de em teoria os direitos existirem para todos, uma verdadeira informação e esclarecimento do cidadão e o acesso ao direito no sentido próprio e pleno da expressão, realmente quase só se verificam quando há dinheiro. Ou seja, se o contribuinte não tem recursos, não vai procurar ajuda para se informar e ser acompanhado... e as Finanças não vão esclarecê-lo de forma alguma porque quanto menos esclarecido estiver o contribuinte, mais fácil é para as Finanças fazer as coisas como lhe convém. Palavras dela. Por isso, parece-me bem real essa imagem dos homens, agora do século XXI, no meio de uma burocracia que lhes retira individualidade e poder. A quem não tem dinheiro. Pois. Porque quem tem vai ser sempre tratado pelo nome próprio. E assim caminhamos desgraçadamente, com os tais passos de "silly walk", num meio que cospe no prato que come. O episódio das listas negras do Fisco é demasiado simbólico. E acaba por estar em perfeita sintonia com o princípio orientador do nosso Governo que tudo o que decide nos apresenta como o único e inevitável caminho. É o que acontece quando nos deixamos levar pelas más companhias. Mais estúpidas do que ladras, na definição de Cipolla.

(Ricardo S. Reis dos Santos)

16.7.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM JODHPUR, ÍNDIA



Mulher varrendo a rua em Jodhpur, no Rajastão.

(Fernando Correia de Oliveira)
 


INTENDÊNCIA

Actualizada a nota PARA QUE FIQUE REGISTADO.
 


DUAS LISTAS NEGRAS DO FISCO E NÃO UMA SÓ

PEDRO ARROJA - NEM UMA , NEM DUAS, ZERO



Sobre o tema "Duas listas negras para o fisco, e não uma só", eu gostaria de dar a minha contribuição (...)

Um princípio - qualquer princípio -, é bom, não porque permita resolver todos os problemas associados à situação a que se aplica, mas porque permite resolver a maior parte deles e, sobretudo, porque permite evitar males que seriam ainda maiores.

Neste sentido, o princípio do sigilo fiscal é, inegavelmente, um bom princípio. Basta pensar no que seria a vida em sociedade - se é que a vida em sociedade seria possível de todo - sem ele. O princípio do sigilo fiscal não foi concebido como instrumento para proteger contribuintes faltosos, por isso, a sua revogação não será nunca um instrumento eficaz para os penalizar.

Pelo contrário, a revogação deste princípio, conduz ao processo que você próprio desencadeou: o Estado propõe-se divulgar a lista dos contribuintes faltosos (primeira violação) e você propõe também que se divulgue a lista dos serviços do Estado que estão em falta para com os cidadão (segunda violação); vem depois um leitor seu pedir que se divulgue a lista das dívidas do Estado para com os advogados que prestam apoio judiciário (terceira violação). Quando este processo estiver terminado, existirão argumentos, todos eles perfeitamente racionais, para que se divulgue a lista dos cidadãos que devem aos Bancos, aos supermercados, aos senhorios e aos padeiros, dos pais que devem aos filhos e dos maridos que devem às mulheres. Pergunto-lhe se acha possível viver numa sociedade assim.

Na minha opinião, o número óptimo de listas negras não é uma nem, muito menos, duas. É zero.

(Pedro Arroja)
 


MAIS SOBRE DOMINGUEZ ALVAREZ:
UM QUADRO DE UMA COLECÇÃO PRIVADA RARAMENTE VISTO



Por gentileza de C. Medina Ribeiro, esta "Rua de Sto. Ildefonso", óleo sobre tela, sem data, 18x22 [cm], pertencente a uma colecção privada, que só esteve exposto uma única vez.
 


AS VINTE MELHORES OBRAS DE REFERÊNCIA EM PORTUGUÊS 1.0



[NOTA: lista inicial, ainda incompleta, por ordem alfabética, esperando sugestões e debate. Irei colocando versões posteriores e, por fim, uma lista definitiva que revisitarei ano a ano.]


* H. de Mendonça e Cunha, Regras do Cerimonial Português

* Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

["O" dicionário de português.]
* Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
[Do alto dos seus mais de quarenta volumes, continua a ser o título singular mais útil para qualquer investigação sobre o período anterior aos anos cinquenta do século XX e uma massa gigantesca de informação, muita desactualizada no plano científico. mas mesmo assim indispensável.]
* Instituto Português do Livro e da Leitura, Dicionário Cronológico de Autores Portugueses
[Impossível de encontrar, com volumes esgotados há muito, elaborado com um critério de entradas cronológico que torna difícil a consulta, os seus defeitos não bastam para sobrepor-se à qualidade de ser a melhor colecção de biografias literárias - e quase toda a gente escreveu alguma coisa que justifique a entrada - existente.]
* A. Campos e Matos, Dicionário de Citações de Eça de Queiroz

* A. H. de Oliveira Marques / João José Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português

* Carlos Alberto Medeiros (Direcção), Geografia de Portugal

* Maria de Lourdes Modesto, Cozinha Tradicional Portuguesa

[A Biblía da culinária, resultado de muito estudo e muita prática, com uma notável recolha de receitas populares.]

* Maria Filomena Mónica (Coordenação), Dicionário Biográfico Parlamentar

* Cristóvão Alão de Morais, Pedatura Lusitana

[ Uma das "mães de todas as genealogias".]
* António Nóvoa (Org.), Dicionário de Educadores Portugueses

* João Figueiredo Pereira / José Ferreira Vicente, O Valor do Livro Antigo em Portugal
[Embora seja um livro destinado ao mercado livreiro alfarrabista a qualidade da sua execução e massa de informação recolhida tornam-o indispensável para o estudo do livro em Portugal.]
* Daniel Pires
, Dicionário da Imprensa Períodica Literária Portuguesa do Século XX


* Raul Proença e outros, Guia de Portugal
[O velho guia da Gulbenkian continua a ser uma obra ímpar, cada vez mais para sabermos como Portugal foi. A qualidade de muitos dos seus textos ainda acentua mais esse aspecto de retrato do passado, talvez a última vez que o Portugal rural e interior foi descrito ao pormenor antes de desaparecer.]

* Público, Livro de Estilo

* (Joel Serrão e na actualização António Barreto /Filomena Mónica), Dicionário de História de Portugal

* Inocêncio F. da Silva, Dicionário Bibliográfico Português

[Uma obra monumental, de uma vida inteira, ordenada por critérios antiquados e caóticos, de muito difícil consulta, mas mesmo assim sem par para produção bibliográfica até ao século XIX. ]


*
Estas são as minhas sugestões:

Diccionario da chorographia de Portugal contendo a indicação de todas as cidades, villas e freguezias... / coord. por J. Leite de Vasconcellos. - Porto : Livraria Portuense de Clavel, 1884. - [8], 191 p. a 2 colns ; 21 cm


Armorial lusitano: Genealogia e Heráldica / dir. e coord. Afonso Eduardo Martins Zúquete, colabr. António Machado de Faria, des. João Carlos, J.
Ricardo da Silva. - 4". ed. - Lisboa : Zairol, 2000. - 733 p. : il. ; 25 cm.
- Ed. orig. por Editorial Enciclopédia. - ISBN 972-9362-24-6

(Isabel G.)

*

Apenas uma achega,no campo da Culinária, de um apreciador dessa "arte", como consumidor e executante.

Tenho o excelente "Pantagruel", do tempo do casamento dos meus Pais(tenho 50 anos) e tenho também o(na minha opinião) fabuloso Tratado Completo de Cozinha e de Copa , de Carlos Bento da Maia, que foi da minha Avó Paterna, Maria Inês Trindade Antolin, uma das mais completas cozinheiras que na sua residência, na Ribeira de Santarém, durante anos "oficiou", conforme ainda hoje há quem possa testemunhar.

(Fernando Antolin)

*

Uma sugestão: Instrumentos Musicais Populares Portugueses, obra justamente ainda hoje referida como "a bíblia" dos instrumentos musicais populares portugueses, da autoria de um etnólogo com um trabalho de campo extraordinário que escreveu diversas monografias sobre variados temas, desde A Arquitectura Tradicional Português, Espigueiros Portugueses, o fascinante Construções Primitivas em Portugal, Sistemas primitivos de moagem em Portugal, Moinhos de vento Açores e Porto Santo, Manjares cerimoniais do Entrudo em Portugal, O linho: tecnologia tradicional portuguesa, Actividades agro-marítimas em Portugal , Alfaia agrícola portuguesa, Algumas notas sobre pisões portugueses , Festividades cíclicas em Portugal , etc., etc., etc. Ou seja, um autor sem par, cuja obra é absolutamente essencial para entender o Portugal tradicional, que estará de certo entre os vinte mais importantes do século XX português, mesmo que não concorde em colocar, entre as primeiras vinte, nenhuma das suas obras.

OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, 1910-1990
Instrumentos musicais populares portugueses / Ernesto Veiga de Oliveira. - Lisboa : Fund. Calouste Gulbenkian, 1966. - 239, [76], XXII p. : il. ; 31 cm

OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, 1910-1990
Instrumentos musicais populares portugueses / Ernesto Veiga de Oliveira, análises e transcrições musicais de Domingos Morais... [et al.]. - 2" ed. - Lisboa :
Gulbenkian, 1982. - 526 p. : il. ; 24 cm

OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, 1910-1990
Instrumentos musicais populares portugueses / Ernesto Veiga de Oliveira, coord. Fundação Calouste Gulbenkian, Museu Nacional de Etnologia, dir. Benjamim Pereira. - 3ª ed. - Lisboa : F.C.G. : M.N.E., 2000. -
496 p. : il., not. mus. ; 26 cm. - Bibliografia, p.
480-490. - ISBN 972-666-075-0

Esta terceira edição inclui uma obra previamente publicada à parte intitulada Instrumentos Musicais Populares dos Açores.

(Hnerique Oliveira)

*

Permita-me discordar da sua opinião sobre o livro de gastronomia mais importante em língua Portuguesa.

Sem dúvida que o trabalho de Maria de Lurdes Modesto sobre a cozinha tradicional Portuguesa é o mais importante que alguma vez foi feito, mas não é uma "Biblia da culinária". É apenas a Biblia da Cozinha tradicional de Portugal, importante sobretudo se atendermos ao trabalho de investigação necessário à sua elaboração.

Existe apenas uma Biblia da culinária escrita em Português, Estou-me a referir ao Livro de Pantagruel de Bertha Rosa-Limpo. Fundamental para quem quiser dominar os "tachos".

(Luís Bonifácio)

*

Posso sugerir mais duas obras de referência? Aqui vão:

Rafael Bluteau, Vocabulario Portuguez e Latino (4 vols), Coimbra 1712-1728 Sebastiao Rodolfo Dalgado, Glossario Luso-Asiatico, 2 vols, Coimbra,
1919-1921. Acho estes imprescendiveis por quem estuda a história portuguesa pré-moderna.

(Liam M. Brockey, Assistant Professor of History, Princeton University)

*

Sugestão: História da Literatura Portuguesa, de Óscar Lopes e António José Saraiva.


(José Carlos Santos)

*

Uma sugestão: História Universal, de César Cantu., em 20 cols. Em cada volume, um capítulo dedicado a Portugal, da responsabilidade, salvo erro, de Ayres de Ornelas.
Excelente, cronologicamente e pela relação entre o que se passava em Portugal e no resto do Mundo – embora essa seja tarefa do leitor, facilitada apenas por estar contida no mesmo volume.

(Luís Manuel Rodrigues)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 16 de Julho de 2006


No número de Julho da The image “http://www.mdt.co.uk/PUBLIC/IMAGES/CM/Awards_Gram.gif” cannot be displayed, because it contains errors.dois artigos que valem a pena. Um, "Why are we obsessed with Shostakovich?"; o outro sobre o concerto da Boston Symphony Orchestra, em 18 de Janeiro de 1973, em que foi tocada a peça Four Organs de Steve Reich, a que só faltou pancadaria na sala.

Um dia será interessante estudar por que razão os melómanos são tão dados ao tumulto. Lenine parece que disse que quando tinha que tomar decisões difíceis não queria ouvir música que o punha "mole". Outros são wagnerianos e sonham com a cavalaria alada para dizerem "I love the smell of napalm in the morning." Não sei em que ficamos.

*
Em 1913, em Viena, num concerto com a Kammersymphonie No. 1 de Schönberg, não faltou pancadaria na sala! Reacções apaixonadas... Um caso, num certo sentido inverso, é o de Freud, que parece que, quando uma banda tocava num dos coretos de Viena, imediatamente se afastava furibundo: dizia ele que detestava emocionar-se sem perceber porquê...

(Carlos David Botelho)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM ISRAEL



Agricultores.

(José Manuel Fernandes)
 


EARLY MORNING BLOGS

819 - Vento sulla mezzaluna

.......................................Edimburgo

Il grande ponte non portava a te.
T’avrei raggiunta anche navigando
nelle chiaviche, a un tuo comando. Ma
già le forze, col sole sui cristalli
delle verande, andavano stremandosi.

L’uomo che predicava sul Crescente
mi chiese «Sai dov’è Dio?». Lo sapevo
e glielo dissi. Scosse il capo. Sparve
nel turbine che prese uomini e case
e li sollevò in alto, sulla pece.

(Eugenio Montale)

*

Bom dia!

15.7.06
 


COISAS DA SÁBADO:
SOLIDÃO QUEM A TEM CHAMA-LHE SUA: UMA EXPOSIÇÃO ÚNICA DE UM PINTOR ÚNICO

http://www.unex.es/unex/servicios/comunicacion/archivo/2004/052004/19052004/art1/Image00012427A exposição não está num dos espaços mais nobres da Gulbenkian , com luz e árvores ao fundo. Está numa cave ao lado dos auditórios. E, num certo sentido, esta escolha menor pareceu-me muito apropriada para exibir aquilo que é a mais completa exposição de Domingos Alvarez, o pintor galego do Porto. Aqueles quadros e desenhos, todos de muito pequena dimensão, cabem bem nos fundos da Gulbenkian e o seu mundo sinistro ainda cabe melhor.

Alvarez é daqueles pintores que parecem dar razão à negação do biografismo que os estruturalistas exigiam. Vamos para a biografia, aos tempos e aos sítios, e os quadros parecem mais triviais, cenas de pequenos entes à porta de tabernas, bêbados, cangalheiros, escriturários tristes em roupa que já não se usa. Este mundo estava à porta de casa de Alvarez, e ele pintou-o como ele estava. Mas quero lá saber da verosimilhança, é em Kafka que penso a ver os quadros de Alvarez, é em coisas universais, muito longe das ruas interiores do Porto que ele retratou, das tabernas e das fábricas, dos moinhos de Castela, da morrinha galego-minhota que parece estar a cair nalgum lado, mesmo quando os seus gnomos trazem guarda-chuva. Também pouco me cuida que Alvarez fosse culto ou não, que a sua pintura e os seus desenhos reflectissem uma história da pintura, um expressionismo irónico, ou um minimalismo trágico ou coisa nenhuma, uma espontaneidade genial e bruta. Não quero de todo saber, pelo menos para já. Quero ver.

A pintura de Alvarez não é ingénua é metafísica. Aqueles homenzinhos patéticos, reduzidos a símbolos torturados ou hirtos são os homens do século XX, mais números do que homens, mais ícones do que homens, mais vírgulas e pontos numa paisagem do que coisas que agem. Por isso, volto a Kafka, porque foi Kafka que primeiro nos mostrou que os homens do século XX iriam ser assim, andando como John Cleese com passos de "silly walk", no meio de uma burocracia que lhes retira individualidade e poder.

 


RETRATOS DO TRABALHO EM GDANSK, POLÓNIA


Fotojornalistas.

(José Manuel Fernandes)
 


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: UM CASAL

http://ec1.images-amazon.com/images/P/3791335871.01._AA240_SCLZZZZZZZ_V58488350_.jpg

No livro de Peter-Cornell Richter, Georgia O'Keeffe and Alfred Stieglitz, uma das mais expressivas fotografias de um casal.
 


EARLY MORNING BLOGS

818 - Mélange adultère de tout

En Amerique, professeur;
En Angleterre, journaliste;
C'est à grands pas et en sueur
Que vous suivrez à peine ma piste.
En Yorkshire, conferencier;
A Londres, un peu banquier,
Vous me paierez bien la tête.
C'est à Paris que je me coiffe
Casque noir de jemenfoutiste.
En Allemagne, philosophe
Surexcité par Emporheben
Au grand air de Bergsteigleben;
J'erre toujours de-ci de-là
A divers coups de tra la la
De Damas jusqu'à Omaha.
Je celebrai mon jour de fête
Dans une oasis d'Afrique
Vêtu d'une peau de girafe.

On montrera mon cénotaphe
Aux côtes brûlantes de Mozambique.


(T.S.Eliot)

*

Bom dia!

14.7.06
 


PARA QUE FIQUE REGISTADO 2



Parece que o Parlamento Europeu quer ouvir o actual MNE, o director do Instituto Nacional de Aviação Civil, Luís Almeida, o director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Manuel Jarmela Palos, e o director-geral do Serviço de Informações de Segurança, Antero Luís, a propósito da obscura questão do "caso dos voos da CIA". A proposta é de Ana Gomes (tinha que ser) e obteve a complacência de Carlos Coelho, em ambos os casos tomando muito infelizes atitudes, para não dizer outra coisa. Espero bem que os nossos responsáveis nas áreas mais sensíveis da nossa política externa e segurança nacional digam claramente que não, que não aceitam este tipo de intromissões do PE num estado soberano.
 


BIBLIOFILIA: UMA COLECÇÃO POPULAR



Volumes da Colecção "Novela", uma das muitas séries de publicações populares existentes nos anos cinquenta e sessenta.
 


PARA QUE FIQUE REGISTADO



Há dias escrevi o seguinte:

"Se em cada medida de política se escolher a que mais nos dá liberdade, política, social, económica, cultural, é esse o caminho. "

A proposta de reforma da segurança social apresentada por Marques Mendes em nome do PSD no último debate parlamentar vai neste sentido e é de louvar. Significa uma mudança política no presente e um compromisso para o futuro, que não devem ser ignoradas por razões sectárias. É socialmente mais justa e é perfeitamente exequível. E, mesmo não sendo puramente liberal, é mais liberal, dá mais liberdade. Corresponde ao "caminho".

Se o Primeiro-ministro e o governo tivessem argumentado contra esta proposta defendendo o seu modelo em termos ideológicos, vá que não vá. Agora, para mais com a arrogância monumental que todos lhe permitimos, a começar pela comunicação social, é absurdo que se responda com a minudência da retórica parlamentar de "que a proposta veio tarde demais", quando se está em pleno período de discussão, o que mostra como é difícil ter espaço público para propostas alternativas, sérias e pensadas. Sim, a começar pela comunicação social, que tende a repetir o discurso governamental em matéria de segurança social, apresentando-o como "inevitável", e a minimizar as posições alternativas, fazendo eco da displicência quase insultuosa de discursos como o de Sócrates, Santos Silva e Alberto Martins no debate do "estado da nação". Como é que se discute se tudo o que faz o governo nos é servido como "inevitável"? Sinal dos tempos. Pensamento único.

*

Agora, sobre o seu texto acerca da reforma da Segurança Social proposta por Marques Mendes. Claro que é uma boa idéia que merece ser discutida e, na minha opinião, implementada.

Trata-se de uma variante da idéia que presidiu à reforma da Segurança Social no Chile em 1980 sob a direcção do então ministro do trabalho, José Piñera, e que entretanto tem vindo a ser adoptada, numa ou noutra das suas variantes, em outros países.

Para a história da idéia, sua implementação e avaliação de experiências concretas da sua aplicação, comece talvez por aqui.

(P. Arroja )
 


RETRATOS DO TRABALHO EM MEM MARTINS - LISBOA, PORTUGAL


Pinturas de rua e o “Rei dos alhos” em Mem Martins a maior freguesia de Portugal.

A banca está mesmo ali ao lado.

(RM)

 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:



FUTEBOLÂNDIAS DIVERSAS PARA UMA ANTROPOLOGIA DO FUTURO

Há uma enorme vantagem em usar o pretexto da Futebolândia para recordar os verdadeiros problemas do País. É que escrevendo sobre a Futebolândia, toda a gente lê. (É como convocar uma peregrinação a Fátima para o dia 13 de Maio, ou fazer um apelo aos Futebolandeses para irem receber a selecção nacional ao Estádio).

Mais vantagem ainda há em escrever sobre a Futebolândia para dizer mal dela. É que nós não gostamos de ser apanhados a divertir-nos quando devíamos estar a trabalhar. E a repreensão marca, maça, chateia, em suma!

(RM)

*

E' um alivio ver terminar o mundial. Porque tambem aqui no reino unido e' zidane q abre os jornais. A bbc (a quem se fazem apologias constantemente, nao sei
porque) contracta um italiano para ler os labios do jogador do mesmo pais para saber q insultos magoaram zidane. Enquanto isso morrem britanicos no Afeganistao. Enquanto isso o Iraque... nem sei que dizer... Quem faz servico publico? Eu acho que apenas o "channel 4", pelo menos na informacao. Porque a bbc alem de futebol tem Ascot e o Wimbledon (para outras classes...)

(Miguel Filipe Cortes da Silva)

*

Interesso-me pouco por futebol, e pouco tenho pretensões de perceber.
Interesso-me pouco por futebol e, por isso, poucos jogos vejo e, por isso, custa-me avaliar se os jogadores portugueses são piores ou iguais aos outros no que toca a simularem faltas, isto é, em batota para tentar prejudicar o adversário. Tenho dúvidas de que os comentadores estrangeiros sejam tão descarados como os portugueses a elogiar essas mesmas faltas, mas, como digo, interesso-me pouco por futebol e, por isso, nunca ouvi um relato feito por estrangeiros e, por isso, não posso garantir a bondade das minhas dúvidas. Interesso-me pouco por futebol, mas, por vezes, leio uns textos do Francisco José Viegas, ou do bloguista "Maradona", ou, como me aconteceu na semana passada, oiço uns podcasts de gente divertida e inteligente a discutir futebol (no site do Daily Telegraph), e interrogo-me se não estarei a perder qualquer coisa. E lá vou tentar ver mais um jogo, tentar apreender as subtilezas do beautiful game. No Domingo vi a final do Mundial, aos bocados, que aquilo era subtil de mais para mim. Mas vi a parte em que o Zidane dava uma cabeçada num italiano. Na Segunda-Feira, oiço nas notícias que o Zidane pode vir a ser eleito, oficialmente, o melhor jogador do Mundial. De algum modo, a beleza do beautiful game escapa-me mais uma vez.

(Frederico Pinheiro de Melo)

*

Na verdade, não moro em Portugal, ou Futebolândia, se o quiserem. Só que não me parece que a importância que o futebol têm em Portugal seja de modo algum superior à que tem noutros países. Dado ser o país pequeno que mais se destaca no futebol internacional, diria até que a importância é pequena quando comparada às Futebolândias estrangeiras.
Tem-se escrito como seria preferível Portugal ser melhor noutras coisas. Talvez... ou talvez não. Dada a importância que o futebol tem no mundo inteiro, estes 6 jogos de futebol foram a melhor publicidade que alguma vez poderia ter sido feita ao nosso país. Acham que o Scolari ganha muito? Invistam esse dinheiro em outdoors pelo mundo e vejam se é tão bom investimento.

Parece que ninguém se lembra...a memória é curta. Eu ainda não tenho 30 anos mas quantas vezes ouvi: "Portugal é na Europa?", "Portugal é uma cidade/província espanhola?", e isto de europeus; imagino a total ignorância sobre Portugal no resto do mundo.

Depois deste Mundial, Portugal é um país que todo o mundo conhece, criancas de todo o mundo teem como ídolo o Cristiano Ronaldo, homens e mulheres de todo o mundo admiram o Figo (de formas diferentes). 78% dos votantes no site da FIFA elegeram Portugal como a equipa mais divertida de ver jogar - sao muitos milhares de pessoas, a maioria chineses! Os países grandes, em geral, passaram a ter-nos raiva, em vez do desprezo sobranceiro. Os espanhóis já dobram a língua, e os brasileiros olham-nos com surpresa e admiração - de repente, notam os "laços que sempre existiram entre as duas nações".
E não é só o futebol. A boa aparência, o profissionalismo e a personalidade que os jogadores portugueses demonstraram neste Mundial vão ficar por muito tempo associadas à ideia de Portugal.

Imaginam as consequencias económicas disto? "Made in Portugal" já não é sinónimo de "Made in Albânia". E as consequências na auto-estima de cada português? "Afinal a fartura em Portugal não tem que ser pior que a fome de fora, quem sabe eu não consigo fazer bem a minha actividade?". Para não falar na alegria e melhoria económica que esta nova imagem de Portugal possibilita aos portugueses emigrados.

Deixemos de parte os orgulhos intelectuais e uma "objectividade" que ignora a raíz do coração humano. Viva a histeria futebolísitica, viva Portugal, e aproveitemos para capitalizar no sucesso dos nossos futebolistas!!

(Rodrigo Gouveia-Oliveira)

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Meteoro...lógica

Como habitualmente, ontem, os noticiários da RDP incluíam informação meteorológica.
A novidade era ficarmos a saber as temperaturas do ar em... Munique - onde jogava a selecção.

(C. Medina Ribeiro)

*

Há 2 anos, em pleno Euro 2004, eu trabalhava como operador de Call Center numa empresa de telecomunicações. Um dia, recebi uma chamada de um cliente a pedir o "toque do Hino da Selecção" para o cartão do seu telemóvel. Como procedimento da empresa, reformulei o pedido do cliente, perguntando se seria o "toque do Hino de Portugal". O cliente respondeu de imediato, parecendo um pouco aflito: "não, não, do Hino da Selecção!", talvez receando que fosse enviado para o seu cartão um toque diferente do desejado (obviamente, é o mesmo). Este cliente não queria confusões!

(Pedro Marques)
*

Estou um pouco estupefacto pela importância que você dá ao futebol. Embora seja criticando, a verdade é que dá!
Eu gosto de futebol. Sou sócio de um clube. Percebo que quem não entende de futebol -e manifestamente o JPP não percebe- pense que é estupidificante o tempo gasto exaferadamente com o futebol. Reconheço que há algo de irracional nesta febre do desporto. Mas convenhamos: você acha mesmo que o futebol aliena? Que é responsável por qualquer mel do país? Pela crise, o deficite, os tais funcionários a mais, os politicos medíocres? Acha que se não houvesse o campeonato do mundo os portugueses ligavam mais às remodelações? Que o país se rebelava com qualquer medida? Que alguém se indignava com as análises que comentadores e economistas fazem com a maior leviandade? Que alguém se importa com a forma como os jornalistas dão notícias sem o minimo de escrúpulos de as investigarem?
Estou um pouco farto de culparem o futebol da alienação do país e os funcionários das desgraças dos problemas de Portugal.
Vivemos um tempo onde o direito há revolta e à indignação não existem. Onde o facilitismo impera.
Já agora uma lição do futebol. Uma equipa de futebol constituída por jogadores medianamente bons e menos bons, está nas meias finais de um campeonato do mundo de futebol. A razão pode ser encontrada na gestão, na capacidade de liderança de um treinador . Tivesse o país alguns lideres assim e garanto-lhe que outra coisa seria Portugal.

(J. Leitão)

FÉRIAS NAS FORÇAS ARMADAS

Nem mais. Vamos chegar a Agosto e com a totalidade das unidades militares de férias, por exemplo. Não havendo ameaça à vista e ainda por cima com as últimas missões militares no estrangeiro entregues à GNR, as FA de férias.
Naturalmente, a maioria dos membros do governo estará, de férias, no MDN inclusive, ou com o novo Secretário de Estado a estudar os dossiers (para quê a substituição de há dias?).
Quanto ao flagelo dos incêndios, os últimos três anos parece não terem ensinado nada a ninguém. Quanto aos bombeiros mortos em combate, e para alem dos seus familiares, quem quer saber?
Cada militar em missões no exterior, se falecido durante a comissão, deixa à família um seguro de 50 mil euros, pago de imediato pela seguradora. Suportado pelo Estado, depois de na primeira missão (Bósnia, 1996), ter sido suportado por mais de 90 por cento dos interessados (pára-quedistas).
Quanto e que tempo depois, espera receber cada família dos bombeiros?
Entremos portanto de férias:
Com os aviões ligeiros e helicópteros da Força Aérea parqueados nas respectivas bases aéreas – dezenas de aparelhos.
Com os pilotos da FA, de férias.
Com duas dezenas de pilotos no Exército, que espera há anos por helicópteros, impedidos de voar pelas suas chefias! Estes estão de férias há anos!
Dispensados portanto de:
Termos o território do país permanentemente vigiado do ar durante o dia.
Termos nos meios aéreos em voo um comandante dos bombeiros, para a direcção e controlo dos destacamentos de bombeiros no solo, durante o combate aos incêndios.
De férias, a realidade surgirá lá mais para diante, cantando e rindo.

(Barroca Monteiro)

DO PATRIOTISMO EUROPEU


V. foi euro-deputado e por isso deve conhecer os "Eurobarómetros" (e até talvez se tenha divertido a ler as perguntas por vezes capciosas). Mas já viu o último, relativo à Primavera de 2006? Se não o tiver, eu mando-lhe um aqui de Bruxelas. Lá se diz, na pág. 51 da versão electrónica, que «pela primeira vez em dez anos, a percentagem de portugueses que acreditam que pertencer à União Europeia é positivo desceu para abaixo dos 50 por cento». Quando acabar o Mundial de Futebol, não será boa altura para falar nisto?

(E, já agora, não resisto a um aparte: também por cá houve uma profusão bacoca de bandeirinhas nacionais de várias cores. Mas nem no Berlaymont vi um único adepto a arvorar a bandeira azul com doze estrelas!)

(Manuel Costa)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM TIJUANA, MÉXICO



A fotografia mostra o trabalho de vendedores ambulantes na mais movimentada fronteira terrestre do mundo: a que separa a cidade mexicana de Tijuana do condado americano de San Diego. No regresso aos Estados Unidos, emigrantres, turistas, ou simplesmente trabalhadores mexicanos, esperam a sua vez para poderem passar a fronteira. No entretanto, outros tentam ganhar vida com as filas de espera.

(Fotografia tirada em Novembro de 2005 no lado mexicano por Luís Reino & Joana Santana.)
 


VIVER HABITUALMENTE



O festival patriótico do futebol vai pouco a pouco entrando na normalidade. Os sindromas de abstinência continuam a manifestar-se, mas é só uma questão de tempo até a euforia dar lugar à depressão. Sozinhos, com o nosso pequeno mundo sem glória voltamos ao habitualmente, sem grandeza e quase sem esperança. Também a isto podemos fechar os olhos, uma especialidade muito nossa, mas a realidade tem muita força e o “material tem sempre razão”.

No rescaldo do rescaldo, o incidente do pedido de isenção fiscal para os prémios dos jogadores foi o primeiro sinal de que a nossa assustadora realidade estava bem ancorada por detrás da ilusão. De repente, os jogadores passaram de “heróis” a bestas que querem privilégios do fisco, esse tenebroso monstro que personifica melhor do que ninguém, junto com o subsídio, o Estado. A Federação Portuguesa de Futebol lembrou-nos que, mais do que “nacionais”, os jogadores são “profissionais” o que, aliás, é uma das razões do seu sucesso, e ousou quebrar o mito de que o dinheiro nada tem a ver com isto. E o dinheiro é hoje, na escala do nojo, muito pior do que o sexo. Os jogadores, que são na maioria dos casos trabalhadores qualificados no estrangeiro, seguem as regras do estrangeiro, as mesmas que fazem os emigrantes ter sucesso. Por cá a inveja social, a pulsão igualitária, a rasoira do mérito lá surgiram na sua plenitude, mostrando a hipocrisia de tudo o resto.

As reacções a tudo isto são interessantes e alimentarão muita antropologia vindoura. Ver-se-á um retrato muito interessante do Portugal 2006 que nenhuma sondagem, nenhuma votação, nenhum inquérito de opinião, revela com tanto rigor e primor. Intelectuais e povo, mostraram-se sem ambiguidades.

Os intelectuais é o que se sabe, tem uma longa tradição de justificar tudo. Tem uma outra longa tradição: escrevem quase sempre sobre si próprios e sobre o seu papel como conselheiros, consiglieri, sibilas e adivinhadores, mesmo quando parecem escrever sobre os outros. São muito sensíveis ao modo como a sociedade os trata e hoje a sociedade trata-os bastante mal, como o império das audiências na televisão, a queda de tiragens dos jornais, etc. revelam. A democracia e o acesso das massas aos consumos, incluindo os culturais, varreram-nos do seu papel e o longo lamento que fazem ouve-se em Andrómeda. São livres de me aplicar todas estas palavras, que é a maldição de quem as escreve, mas não há maneira de as escrever sem esse risco.

Uns, como não conseguem vencer o “povo” (e todos os intelectuais querem “vencer” o povo e quem disser o contrário mente) juntam-se a eles. Houve muito disso, houve quase só disso. Todos os dias dizem as maiores aleivosias contra o “povo” e contra os “portugueses”, mas chegados ao futebol tornam-se compreensivos e amáveis, “moscovitas” no sentido do poema de Pessoa, dão todo o dinheiro, do bolso onde tem pouco.

Outros, a espécie mais perversa, deu uma no cravo e outra na ferradura, com cinismo quanto baste, sempre preocupados em não parecerem nefelibatas mas homens comuns e colocando-se no melhor lugar, na bancada mais alta, acima dos futeboleiros e acima dos críticos do futebol. Na realidade. o único objectivo deste discurso é para criticar os críticos do futebol que só eles afrontam. Na verdade, odeiam mais os outros intelectuais do que o “povo” do futebol, a que tratam com complacência. Quanto ao futebol, fumam mas não inalam. No Inferno de Dante há um lugar para eles, o da acedia.

Sobra o “povo”, ou seja todos os que andaram estes dias em festa permanente. No “povo”, verifica-se mais uma vez uma velha suspeita que fazia as delícias dos “filósofos portugueses” dos anos do salazarismo nas suas elucubrações sobre a identidade nacional: os portugueses gostam de si próprios, estão de bem com o “rectângulo” para usar a expressão de Alberto João Jardim, não tem problemas com Portugal. Somos bons, vibraram em uníssono as almas e os corpos durante o Mundial, e, sabendo como somos bons, o Mundo do Mundial conspira contra nós impedindo-nos de chegar à nossa putativa grandeza de melhores do mundo. Há sempre um árbitro, um conluio, uma diferença de critérios. Há sempre uma conspiração pelo caminho para impedir o Quinto Império. Há sempre um estrangeiro momentaneamente mais poderoso que nós, que nos faz um Ultimatum.

Fazem falta, dirão os velhos do Restelo, os façanhudos de antanho que brandindo a espada apareciam em sonhos ao fidalgo da Casa de Ramires e que faziam a diferença entre o sr. Oliveira da Figueira do Tintim e Fernão Mendes Pinto e os seus companheiros. Mas, mal ou bem, é dessa raça que somos e esperamos sempre que um fantasma do passado nos venha redimir dos pecados da actualidade. D. Sebastião, claro está, mas um D. Sebastião que vem para um povo que o merece.

Mas isto não é eterno e pode estar a acabar. A última vez que andámos a matar-nos uns aos outros foi no imediato pós 28 de Maio, em que o conflito entre os “revolucionários nacionais” e os “republicanos” se fez de uma história violenta de revoltas com mortos, de deportações de exílios e de mudança maciça de cargos e prebendas. Não foi a mesma coisa que as lutas entre liberais e absolutistas, mas ao nosso nível ainda deu origem a umas centenas de mortos e a muita vida estragada.

Quero com isto dizer que há muito tempo que nos entendemos uns com os outros muito bem e o unanimismo do futebol mostrou-o mais uma vez. Nem a guerra colonial nos dividiu de forma significativa, nem quando durou, nem quando acabou. Nem o Império escapou a uma indiferença activa em que somos especialistas. Centenas de milhares de portugueses regressaram, esperavam-se os maiores cataclismos políticos, uma reedição dos pieds noirs franceses virando a balança política e zero. Os “retornados” vieram do nada e voltaram para o nada. O nosso sólido entendimento continuou firme e hirto.

Até um dia. E esse dia o futebol o escondeu de novo. É que a enorme plasticidade do nosso tecido social, a sua capacidade de absorver conflitos tornando-os moderados e macios, tem um preço. Esse preço é uma troca entre um Estado que não se reforma, que não só resiste à mudança como impede que nele caiba a mudança, e a moderação do conflito social. Greves a sério, pancadaria nas ruas, violência social não existem, como também não existem reformas que mudem o Estado. A vantagem de uma paga-se com o preço das outras.

Só que o modelo de onde emana esse tão eficaz estado-almofada está esgotado e o miolo da almofada vai escasseando deixando ver a dureza do catre. A globalização tirou-nos o bom ar português dos nossos tradicionais e queridos defeitos, que agora são cada vez mais apenas defeitos e isso confunde-nos. O futebol é é apenas ilusão, não tábua de salvação. O mundo à nossa volta é o do fecho da GM na Azambuja e não se resolve a pontapé na bola. O que torna o futebol muito mais do que futebol é o seu poderoso ingrediente de escapismo, a última coisa que precisamos em Portugal nos dias de hoje.

(No Público de ontem.)

*

O seu artigo de ontem do Público recordou-me duas notícias:

- Li há dias (não me lembro onde) que um estudo feito às participações da Selecção Inglesa nos mundiais de futebol revelou que os mundias onde aquela selecção passou dos quartos-de-final foram precisamente aqueles que tiveram lugar em anos em que a economia do Reino Unido estava pior.

- Foi ontem mencionado na Sábado que os quatro países cujas selecções chegaram às meias-finais do último campeonato do mundo (Itália, França, Alemanha e Portugal) são precisamente os quatro países da União Europeia com défice mais elevado.

Curioso, não?

(José Carlos Santos)

*

Não sendo uma adepta de futebol, acho de facto excessivas as suas observações e análises. Como tem sido dito e como constatei directamente (porque vi o Mundial na Eslovénia e na Croacia) o entusiasmo com a sua futebolãndia era geral: nas capitais destes dois países (Ljubljana e Zagreb, esta última muitíssimo mais interessante do que a outra) as esplanadas, todas com um aspecto irrepreensível, tinham grandes ecrãs gigantes e ficavam absolutamente repletas em cada jogo. Também constatei que a equipa portuguesa tinha muitíssimos fãs, não só entre Croatas e Eslovenos, mas entre italianos e outros. Na altura, esta sensação era agradável.

O que é triste não é o entusiasmo com o futebol; o que é triste é que o futebol é o único indicador positivo sobre Portugal lá fora, mesmo que por vezes de forma injusta. Participei num congresso em Ljubljana sobre habitação: no plenário inicial, uma investigadora eslovena fazia uma comunicação sobre o panorama habitacional no seu país. Fez então uma análise comparada com Portugal, argumentando que era o caso mais semelhante. Estou perfeitamente convencida que terá utilizado dados com mais de 30 anos, pois, entre várias coisas, referia o seguinte dado: Portugal tem mais de 40% de casas sem casa de banho. Isto é positivamente falso. Mas, qual é a legitimidade de dois portugueses, num congresso com cerca de 1000 pessoas, em contra-argumentar? A questão é esta: o que é triste é o desinvestimento em Portugal nas outras áreas. Se, para apresentar uma comunicação num congresso internacional, um investigador tem que pagar parte das despesas do seu bolso...fá-lo pela sua carreira pessoal. Mas tem sempre, no seu dístico identificativo, o nome do seu país: PORTUGAL. Mas este nome é de facto um estigma a priori, sendo que o esforço que lhe é exigido para o desfazer é muitíssimo superior ao dos cidadãos de outros países europeus. Não é com iniciativas absurdas, como as da Associação dos Bolseiros de Investigação que se comporta numa lógica sindicalista, que vamos lá: é com dinheiro e com profissionalismo.

E já agora o fascínio que a equipa de Portugal exerce noutros povos europeus não é necessariamente positivo; pode muito bem ser revelador da vingança dos pequenos contra os poderosos. Relembro que o que é verdadeiramente escandaloso é o jantar no parlamento dos "deputados dragões" com direito a honras do presidente da assembleia.

(Sandra Marques Pereira)

*

Você deve se o único que consegue manter-se indiferente ao futebol
Li o seu artigo, hoje, no público, e você está frio, rígido e indiferente a uma festarola genuinamente popular
Se puder explique-nos porquê que o escapadismo é mau, quando todos andamos à procura de escapar a qualquer coisa.
A próprio História, sua dama, pode ser a sua maneira de escapar ao "seu" presente ( ao futuro não direi, pois todos os sociologos/historiadores gostam muito de fazer as leis da história futura)
Essa de não aderir às emoções que inegávelmente o futebol gera (experimente ir a um estádio, nos dia de boom) deve ser um bloqueamento seu contra o popularucho.Porquê? Talvez um complexo de superioridade.

(Alice Nunes)
 


EARLY MORNING BLOGS

817 - Señoras damas

eñoras damas. Resplandeciente virtud. Estrellas relumbrantes. Gloria de los cavalleros. Espejo de gala. Celestial hermosura. Exemplo de criança. Graciosa conversación. Leyes y mando en la tierra para dar vida y muerte y fama de inmortal memoria. Quién será tan ignorante que no conozca todo lo sobredicho ser poca alabança para tanto merecimiento. No ay ninguno que ignore que con mucha razón os podemos dezir señoras damas, pues soys tan señoras que no ay poder humano que sea poder delante el vuestro. Si no, dígame alguno qué poder humano ay en esta vida que pueda hazer una tan gran cosa como las damas hazen en mudar un hombre y hazelle todo otro de lo que es. Ninguno en este mundo podrá hazer de un covarde valiente ni de un avaro liberal sino estas tan poderosas señoras que mudan condición, ser y vida al hombre que por ellas es hombre. También con mucha razón os podemos dezir resplandeciente virtud. Pues siendo la mesma virtud, resplandecéys tanto en virtudes que cegáys a todos los ojos que con vicio os miran, como el rayo del sol a la vista humana, y days tan clara y fuerte vista a los ojos que con virtud os miran como tiene el águila mirando el rayo del sol. También con mucha razón os podemos dezir estrellas relumbrantes, pues pareciendo por la tierra entre la vulgar gente relumbráys como las estrellas del cielo entre las tinieblas de la noche. También con mucha razón hos podemos dezir gloria de los cavalleros, pues todo lo que parece trabajo por servir las damas es gloria. Que si la gloria es descanso de trabajos y contentamiento de vista y alegría de pensamientos, ¿qué otra cosa es el trabajo del cavallero sirviendo su dama como cavallero sino descanso? ¿Y qué mayor contentamiento en este mundo para la vista que ver una gentil dama? ¿Ni qué mayor alegría de pensamiento que veros servidor de quien os haze tan señor? No parece el señor ser tan señor ni el cavallero tan cavallero, sino serviendo las damas con tales servicios, que el trabajo se convierta en descanso y el mirar en contentamiento, y el pensar en alegría. También con mucha razón os podemos dezir espejo de gala, pues nunca se tiene el cavallero ni es tenido por perfecto galán muy bien aderesçado de cuerpo y de alma, sino quando las damas dizen que lo es. Pues si el cavallero no es galán si las damas no lo dizen, con mucha razón las podemos tener por la misma gala, pues el buen parescer dellas es espejo de gala, donde nos avemos de mirar para parescer bien. También con mucha razón hos podemos dezir celestial hermosura, pues ninguna hermosura parece tanto ser venida del cielo como la de las damas y señoras. Que aunque toda hermosura es criada por el criador de todos, en las damas se paresce más aquello que dize: signatum est super nos lumenvultus tui domine.

(Luis Milán, Libro de motes de damas y caballeros)

*

Bom dia!
 


INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas NUNCA É TARDE PARA APRENDER: MAIS DIAS DO FIM e DUAS LISTAS NEGRAS DO FISCO E NÃO UMA SÓ.

13.7.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 13 de Julho de 2006


Sobre o nosso estimado Rocketboom (que agora recebo no iPod) e as suas atribulações:
Não sei se tem acompanhado a recente saída da "nossa" Amanda Congdon do Rocketboom. É muito interessante verificar como é que uma saída aparentemente pacífica (na versão "oficial" dada inicialmente pelo proprietário do blog) rapidamente se tornou num acontecimento nacional nos EUA, com destaque na CNN, WPost, NYT, NBC News, TimesOnline, etc.. Outro facto interessante, é a grande dificuldade em distorcer factos perante os actuais recursos tecnológicos. O proprietário (em 51%) e sócio da apresentadora (49%) do blog em questão veio dizer que esta tinha querido ir para LA para prosseguir a sua carreira em Hollywood, o que em si mesmo era imcompatível com a manutenção do programa, sendo imediatamente desmentido no próprio blog da apresentadora (www.amandaunboomed.blogspot.com), no qual, através de um vídeo, a mesma apresenta a sua versão dos factos.

Tudo isto é imediato, sem filtros, sem grandes tratamentos. Acho que seria interessante referi-lo como mais uma demonstração das tendências actuais dos media, realçando a importância dos blogs. Nesse sentido, há uma entrevista muito interessante (penso que com data de ontem) feita pela NBC News a Amanda Congdon, na qual o entrevistador lhe pergunta o que a atrai nos novos media, por comparação com os "velhos" media. A resposta é peculiar. Veremos se ela se transfere para os "velhos" media, arrastando consigo uma legião de 300.000 leitores/ espectadores e, se for esse o caso, por quanto tempo os consegue manter num formato diferente.

(Rui Esperança)
 


DUAS LISTAS NEGRAS DO FISCO E NÃO UMA SÓ
[Continuação e actualização]




O estado não é uma pessoa de bem... Exige juros de 7% e paga 2%, exige dívidas mas deve, e o mais perto que alguém esteve de admitir esse facto foi o ex. Primeiro Ministro Santana Lopes quando disse "O estado é uma pessoa de bem". Como dizia alguém (Madeleine Albright ?) ‘O contrário da verdade já é suficientemente próximo da verdade’. Ora como podemos continuar a insistir na hipócrita ideia de que o estado pode e deve reger-se por leis diferentes das que aplica a todos os outros cidadãos !

(Luis Filipe)

*

Sob todos os aspectos o Estado é caloteiro; na sequencia dum despejo,foi accionado (apos 4 anos em tribunal) o fiador . Este foi obrigado a pagar a quantia em divida (sou um senhorio cheio de sorte) num prazo de um mes. Adivinhe quanto tempo demorou o tribunal a transferir a verba paga ? Eu ajudo - 3 (três) anos ! Acha que recebi juros ? Deixo-lhe esta para adivinhar agora sem ajuda...


(A.Noronha)

*

Quanto à lista dos devedores ao Fisco, e dentro do debate que vem a ser efectuado no ?Abrupto?, ocorre-me perguntar: para quê? O que é que se pretende atingir com semelhante medida? Que eu saiba, Portugal é um Estado de Direito, o que significa que na sua relação com os cidadãos se tem que pautar por formas e critérios de Direito - e apenas por esses. Se existem dívidas, essas dívidas devem ser reembolsadas, mas tudo quanto o Estado está legitimado para fazer é, junto dos cidadãos em falta, insistir e, sendo o caso, diligenciar pela sua regularização. Para o reembolso, ainda que coercivo, de dívidas, ainda que fiscais, existem procedimentos jurídicos institucionalizados, e são esses, e apenas esses, que podem ser usados. E para além do Estado, que é o credor, não vejo a quem mais possa interessar saber, se o cidadão A ou B ou C deve alguma verba ao Fisco. Ao cidadão o que interessa é que o Estado tenha as suas finanças em ordem, e não o motivo pelo qual as não tem. Esta publicação de listas tem, obviamente, uma finalidade infamante. Porém, a infâmia não é um meio jurídico admissível num Estado de Direito, seja para atingir o fim que fôr. Mesmo que o Estado se debata com problemas de organização ou de carências em pessoal e instalações, ainda assim a infâmia não consta do elenco dos recursos jurídicos disponíveis.

Este procedimento traduz-se afinal em quê? Em lançar os cidadãos uns contra os outros, criando ressentimentos pessoais, fazendo dos cidadãos fiscais e juízes recíprocos, sem que para tal tenham a devida isenção, enquanto o Estado, que é o único responsável por se ter chegado a este ponto, se demite das suas próprias responsabilidades. O problema das dívidas fiscais- dito de outra forma, o problema do financiamento do Estado ? não se resolve com a publicação de listas infamantes. É muito mais difícil do que isso.

(João Alexandrino Fernandes)
 


EARLY MORNING BLOGS

816 - ...paresçe que llorades vuestro daño e non amades al asno.

Léesse otro exiemplo.

Léesse en el Libro de los siete dones del Spíritu Sancto que un homne sancto religioso fue rogado que visitasse a una dueña, mujer de un grand príncipe que muriera, el cual, como viniesse a ella, díxole un tal exiemplo:

-En el mi monesterio havía un asno muy bueno e muy provechoso a los frailes del dicho monesterio, e acaesçió que vino un príncipe al dicho monesterio, e, como oyesse la bondat de aquel asno, quiso en todas maneras haverlo, e demandónoslo. E porque éramos mucho obligados a él, non podimos negarlo. E como los dichos frailes hoviessen grand dolor de la pérdida del asno, acaesció que aquel príncipe tornó una vez al monesterio e traxo consigo el asno, e como lo viessen los frailes más gordo e más fermoso e bien guarneçido de buen albarda e cubierta, començaron de llorar e haver grand dolor por él, más que hovieron de antes cuando le dieron. Entonçes díxoles un sabidor: "¿Por qué llorades assí aquel asno?, ca mejor come agora e más fuelga e menos trabaja. E, assí, paresçe que llorades vuestro daño e non amades al asno".

(Exemplos muy Notables, manuscrito 5.626 da Biblioteca Nacional de Madrid )

*

Bom dia!
 


RETRATOS DO TRABALHO EM CÔJA-ARGANIL, PORTUGAL



Profissão de “dorador” na área da conservação e restauro de arte sacra.

(Daniel Fonseca)

12.7.06
 


TEORIA DAS CAIXINHAS - APLICAÇÕES JORNALÍSTICAS

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(Continua)
 


TEORIA DAS CAIXINHAS - FONTES

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1. Little boxes on the hillside,
Little boxes made of ticky-tacky,
Little boxes, little boxes,
Little boxes, all the same.
There's a green one and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky-tacky
And they all look just the same.

2. And the people in the houses
All go to the university,
And they all get put in boxes,
Little boxes, all the same.
And there's doctors and there's lawyers
And business executives,
And they're all made out of ticky-tacky
And they all look just the same.

3. And they all play on the golf-course,
And drink their Martini dry,
And they all have pretty children,
And the children go to school.
And the children go to summer camp
And then to the university,
And they all get put in boxes
And they all come out the same.

4. And the boys go into business,
And marry, and raise a family,
And they all get put in boxes,
Little boxes, all the same.
There's a green one and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky-tacky
And they all look just the same.

(Malvina Reynolds )
 


INTENDÊNCIA

Actualização de COISAS DA SÁBADO: DUAS LISTAS NEGRAS DO FISCO E NÃO UMA SÓ.
 


SCRITTI VENETI



Pormenor do túmulo de Joseph Brodsky na Isola de San Michele em Veneza: alguém deixou um manuscrito numa pasta de plástico, pedrinhas, canetas, uma foto. Pequenas dedicações.

11.7.06
 


SCRITTI VENETI



 


COISAS DA SÁBADO:
DUAS LISTAS NEGRAS DO FISCO E NÃO UMA SÓ




Eu do Fisco quero a publicação de duas listas negras e não de uma só. Quero a dos contribuintes em falta para com o Fisco, e quero a do Fisco em falta para os contribuintes. Em bom rigor deveríamos ter uma lista permanente das dívidas do Estado aos seus concidadãos para se perceber até que ponto o estado não dá o exemplo que exige aos outros. E também quero responsabilidade na elaboração das listas, penalizações claras para os serviços que cometam erros, meios rápidos e drásticos para redimir informações falsas que afectem o bom-nome dos cidadãos. O Fisco é hoje um dos instrumentos mais eficazes para atirar para a lama cidadãos e empresas, por isso todo o cuidado é pouco e há males que são irremediáveis. Se querem usar armamento pesado, que penso ser legítimo usar para quem o merece, ao menos que usem do inteligente para minimizar “danos colaterais”.

Ah! E volto ao princípio, não se esqueçam que são duas listas. Duas listas. Duas listas.

*
A propósito do seu post "Duas listas negras do fisco e não uma só", permita-me que lhe sugira uma terceira lista negra: a das dívidas do Estado aos Advogados oficiosos. De facto, estes desde Dezembro passado que não são pagos pelas diligências oficiosas que patrocinaram - o que, como é óbvio, afecta sobremaneira os Advogados mais jovens cujos rendimentos dependem bastante de tais serviços.

Não deixa de ser irónico tratar-se do mesmo Estado que, por via dos tribunais, condena os cidadãos que não cumprem pontualmente com as suas obrigações

(José Manuel de Figueiredo)

*

"Eu do Fisco quero a publicação de duas listas negras e não de uma só".

Esta sua frase juntamente com os mailes dos seus leitores que se seguem, aconchegaram-me o espírito, uma vez que gradualmente (já há muito tempo) se assiste na blogosfera a um coro de vozes livres dando forma, sem estarem formatadas, ao repto de Pedro Arroja no Blasfémias - responder aos desmandos do Estado. Efectivamente, como repara um belga que conheço, residente em Portugal há muitos anos, ainda vivemos num sistema com tiques fascistas - fascista o Estado e fascistas os cidadãos porque ainda não conseguem (por defeito) insurgir-se contra ele - por medo, e quando as vozes se levantam, não são pacíficas - são de revolta, porque acho que, logo à partida, já sabemos que vamos perder.

As listas, as duas, aposto que hão-de ficar só pela intenção. Senão, há-de ver a luz do dia uma única e infâme.

(Maria Baldinho)

*

Já que tanto se fala de Fisco e de futebol: Alguém sabe informar como vai o Totonegócio?

(C. Medina Ribeiro)

*

(...)se em principio a lista de devedores será divuldada em algum portal da DGCI como por exemplo o das Declarações Electrónicas porque não criam os próprios credores o portal que reclama no seu artigo. Não seria talvez mais justo e responsável até para termos pelos um bocadinho de menor e melhor Estado de que toda a gente anda à procura.

(António Fonseca)

*

Concordo em absoluto com a sua pretensão de o Fisco dever publicar duas listas negras e não apenas uma. Porém, em tudo isto há muito fumo. Relativamente às listas de devedores, parece-me relevante que a metodologia do Fisco na cobrança das dívidas assente no princípio de que os fins justificam os meios. O problema começa quando os fins são diferentes. Por exemplo, ao mais comum dos cidadãos, muito provavelmente da quase extinta classe média, a máquina fiscal é extremamente eficiente na cobrança das suas dívidas, nomeadamente através da retenção do reembolso do IRS. Por outro lado, as notícias que vêm a público é que, por exemplo, os clubes de futebol devem milhares de euros ao Fisco e aqui, para uns naturalmente, a máquina fiscal é tolerante. Esta "pequena" nuance pode não ser significativa para aqueles que gostam de futebol mas a mim parece-me exemplar na representação dos princípios de actuação do Fisco e que são sobretudo de discriminação. Sendo os fins diferentes, em termos de importância, os meios também são necessariamente diferentes. E sendo as listas de devedores um meio, estou curioso para verificar se de facto elas incluem o grupo dos "intocáveis". Por outro lado, o facto de o Fisco querer publicar apenas uma lista não é dissonante com o "ser português". Recordo-me de uma mercearia no norte do país ter colado na sua montra um papel com os nomes das pessoas que deviam mas de modo algum colou um papel com o nome dos seus credores. Normalmente, queixamo-nos de quem nos deve e raramente queixamo-nos a quem devemos. Quero com isto dizer que este método é unidireccional e tem claramente uma vertente ad hominem que é muito típica do "ser português". O processo consiste em criar na "vítima" sentimentos de vergonha, de culpa e de medo. E são precisamente estes sentimentos que levam a "vítima" a fazer tudo por tudo para pagar o que deve e recuperar o "bom nome" e a "honra". Os problemas começam quando o "fazer tudo por tudo" não chega. Isto leva-nos para outra conversa sobre a tolerância do Fisco mas isso por enquanto fica para outras núpcias. Resumindo, concluindo e baralhando, o que mais me inquieta é de facto o que está por detrás de tudo isto. E que ninguém vê. É o tal fumo. E o que está por detrás de tudo isto é a manipulação arrogante por parte do Estado com o fim último de nos aterrorizar a vida para sacar o seu legítimo quinhão. Na prática, convenhamos, é uma espécie de pré-contencioso muito mais barato. E para esta administração, os fins justificam qualquer tipo de meios. Desde que os fins sejam devedores, é claro.

(Ricardo S. Reis dos Santos)

*

Ainda a propósito das listas, só o seguinte desabafo: acho detestável que um Estado que não consegue cumprir com as suas obrigações tenha uma autorização automática para inspeccionar as contas bancárias dos seus cidadãos-contribuintes perante qualquer, sublinho, qualquer incorrecção verificada por parte destes. Não é certamente o mais importante, mas uma das coisas que prezo é a discrição no que concerne à minha (e dos meus) situação financeira. Isto é tanto mais verdade, quanto é comprovável que parte pelo menos significativa das vezes é o próprio Estado a cometer incorrecções (que, justamente, podem levar - e levarão de ora em diante - à quebra do sigilo bancário). Como contribuinte respeitador, considero isto uma falta de respeito pelo direito à privacidade e discrição. Quem me garante a mim que os senhores funcionários das Finanças, ainda que obrigados a tal, não "brincam" com tais informações? Quem me garante a mim que o funcionário das Finanças que, por acaso, é meu vizinho e me conhece (e eu, que o conheço, não faço sequer ideia do que ele faz), por acaso também andou a verificar a minha situação financeira, só porque existe uma incorrecção de 10 ou 20 ou 100 ou 1000 euros relativa aos impostos do ano passado?

Como é óbvio, o sistema das autorizações judiciais não funcionava, pelo menos para o comum das situações. Não duvido, porém, que era a mais justa e respeitadora de um Estado de Direito Democrático (expressão cada vez mais vazia de sentido, devendo (voltar a) ser substituída por Estado-Polícia), só que, por incapacidade dos tribunais e de articulação destes com a administração fiscal, o Governo teve que optar por uma solução mais fácil e célere. Não importa se os direitos dos cidadãos ficam postos em causa. Mais uma vez são estes que pagam as incapacidades de funcionamento da máquina. Esta, porém, continua a alimentar-se a ela própria de forma voraz e incontrolável.

(Rui Esperança)

*

Acabo de ler o seu blog e lamento que não se faça o que pede. Já agora o que pede, também, o leitor Nuno Dias. Não sou dos penalizados, mas privo com quem o é; inclusivamente conheço casos (plural) de quem tem de contrair empréstimos bancários para pagar o IVA devido, referente a facturas que o Estado não pagou no prazo, ou mesmo o IRS, se o ano fiscal mudou. Os juros ao banco não são pequenos e não é o Estado (devedor e sempre com as costas quentes) que os pagam. E nem todos têm liquidez para pagar os impostos e, simultaneamente, alimentar a família…

Duas listas. Diz bem: duas listas

(Gonçalo Wahnon)

*


Enquanto se discute a publicção ou não da lista dos devedores ao Fisco, ninguém parecem preocupado pelo facto de ano atrás de ano o Estado restituir aos contribuintes pagadores fora de hora e sem a devida taxa de juro o imposto indevidamente cobrado Ou seja, ano a ano o Fisco não cumpre a legislação em vigor e, ao que parece, ninguém se sente atingido. De facto em Portugal, país corrupto e laxista, a Justiça só funciona para os pequeninos, os Grandes e os Poderosos não podiam estar melhor, nem na Colômbia...

(Alberto Fernando Sá Resende )

*

A propósito das "listas",(...) não tem no Parlamento a mesma facilidade que há no PE de dirigir "perguntas escritas" e efectivamente obter uma resposta ? o regulamento permite-o ? seria interessante pedir uma destas listas.

(Manuel Pinheiro)

*


Se me permite e a propósito da queixa que faz no seu blogue pedindo a publicação da lista de dívidas do estado a credores pela administração fiscal deixe-me dizer-lhe que não faz nenhum sentido. Uma coisa é o papel da cobrança de dívidas ao cidadão comum pelo orgão competente, outra coisa inteiramente distinta são as más práticas de gestão e o laxismo que exista por cada cada organismo como entidade autónoma e com capacidade para assumir compromissos. Este 'meter no mesmo saco' o 'monstro' Estado na análise política e na opinião pública em geral só vem trazer confusões a estas matérias que em nada servem a reforma da administração pública. Veja-se a título de exemplo o caso recente da reforma no ensino onde só se olhou para os 'casos' problemáticos e de muitas outras mudanças para as quais se relevam de imediato as más consequências que por vezes não passam de ser excepções a um caso geral. Neste tipo de clima terrorista e vago não se vai a lado nenhum e só saiem reforçadas as reacções demagógica. Como vai sendo hábito a demagogia costuma tomar logo de rompante a primeira palavra e frequentemente no mesmo modo fica-se também pela última. Isso é mau.

(António Fonseca)

*

Se houvesse decoro não deviam publicar as listas de devedores ao fisco. Revelam que a Administração Fiscal não cumpriu o seu dever, que a legislação lhe confere. Esta situação é de todos os responsaveis políticos dos últimos anos. Mas, parece que em Portugal, cada partido que vai para o Governo, estava em Marte, e fica surpreendido com o que encontra no país. Haja decência!

Também gostava que fosse publicada a lista das dívidas do Estado às empresas e aos particulares, e para não ser muito exigente, dívidas superiores a um ano. Com certeza ter-se-ia de pedir aos credores essa informação, pois o Estado não a deverá conhecer nem está muito interessado, pois trata os Portugueses com arrogância. Desafio-o a pedir a economistas o estudo da influência desta situação na economia do País. Qual é a Empresa que pode pagar atempadamente aos seus fornecedores quando o cliente Estado se atraza com prazos superiores a 3 anos, e exige o pagamento dos impostos dessas dívidas.

Eu próprio sou credor dum Tribunal por peritagem efectuada à três anos.

(Dias Eugénio , Técnico Oficial de Contas)

*

.. outras listas que eu gostava de ver:

Também gostava de ver a lista dos cidadãos com processos de licenciamento (comercial, ambiental, turísticos, etc) sem resposta atempada.
Conheço vários casos de investidores estrangeiros que acabaram por desistir de Portugal pelo tempo de demora a licenciar as actividades. Poderão não ser investimentos da dimensão de uma Opel, não ter dimensão para vir nos jornais. Mas são uma autêntica sangria. Não só no investimento estrangeiro que se perde como no nacional que definha.
Também gostava que houvesse um prazo para decisão de processos judiciais e que houvesse uma lista dos cidadãos que esperam essas respostas.
Sobre isto, penso que é dispensável exemplificar.
Também gostava de ver a lista de diplomas de regulamentação previstos em leis e decretos-leis e os respectivos prazos de elaboração e saber o tempo de incumprimento dos mesmos.
A título de exemplo, veja-se o art. 13º do DL nº 53-A/98, de 11 de Março.

(Nuno Dias)
 


EARLY MORNING BLOGS

815 - Quien so grande brevedad / Dessea ver gran sentencia...


Aunque recela no teme
El coraçón qu´es sin culpa,
Pues la verdad lo desculpa.

Si quiebra la lealtad,
Para tan fea rotura
No se halla soldadura.

Averiguado es y cierto
Que quien no sabe callar
No puede saber hablar.

La yra y la presteza
Al consejo son contrarias,
Y muy duras y adversarias.

Desconcierto yo no hallo
Que tanto me descontente
Como estar con ruin gente.

Lo que a tu amigo dieres
No lo temas ya perder,
Que tuyo siempre ha de ser.

El que merca muchas cosas
Sin haverlas menester,
Lo que cumple ha de vender.

Del ypócrita no fies,
Que a lo baxo el s´encara
Y en lo más alto despara.

Recela y huye más
La embidia del amigo
Qu´el odio del enemigo.

No hallo tierras agenas
Para [e]l qu´es fuerte varón,
Pues patria todas le son.

No dexes para después
Lo que bien luego pudieres,
Si tú sabio ser quisieres.

Nunca falta galardón
De virtud al virtuoso,
Ni de mal al malicioso.

(Trezientos proverbios, consejos y avisos muy provechosos para el discurso de nuestra humana vida. Compuestos por muy breve estillo por el noble don Pedro Luys Sanz, Doctor en derechos, advogado de la insigne ciudad de Valencia, etc.)

*

Bom dia!

10.7.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM PINAMAR, ARGENTINA



Ferrando um cavalo em Pinamar, cidade balnear argentina.

(Francisco F. Teixeira)
 


LÁ VAMOS CANTANDO E RINDO...

http://www.occultopedia.com/images_/titanic_sinking1.jpg

Próxima agenda nacional: férias. Férias a seguir a férias, porque isto do Mundial foram também férias. Duvido que este festival de "auto-estima" não dê lugar a uma maior depressão. E não demorará muito tempo. Os fogos continuam a bom ritmo, matando pelo caminho. Mas, como foram chilenos a maioria dos mortos, sem estarem embrulhados nas cores verde-rubras, não haverá muita comoção. Lá por Outubro, com as primeiras chuvas, com os meninos a ir para a escola, os engarrafamentos, a insuportável banalidade do dia a dia, a bolsa a apertar, as dívidas para pagar, como acontece sempre estas euforias vão azedar-se em múltiplas irritações. E como é que podia deixar de ser assim? O que é que construímos para ser diferente? Onde é que trabalhámos para ter mais? Onde é que poupámos para os dias maus? O que é que aprendemos para nos melhorarmos? Para onde foi o tempo? A culpa será certamente dos "políticos", como é costume.

Volto à minha velha imagem: parece o Titanic, com a orquestra a tocar e a maioria dos viajantes convencida de que é mais um concerto, mais um jogo, mais um Rock in Rio, tudo está bem, curte-se esta cena boa, amanhã se verá. Mais uma cerveja, mais um cachecol, mais uma bandeira, mais um "às armas" que "nós até os comemos!". E a água gelada a subir no porão, atingindo primeiro os da "terceira classe", mas subindo sempre. Sempre.
 


EARLY MORNING BLOGS

814 - ... s'il parlait peu, il écoutait beaucoup...


Il était une fois un bûcheron et une bûcheronne qui avaient sept enfants, tous des garçons. L'aîné n'avait que dix ans et le plus jeune n'en avait que sept. On s'étonnera que le bûcheron ait eu tant d'enfants en si peu de temps; mais c'est que sa femme allait vite en besogne, et n'en faisait pas moins de deux à la fois. Ils étaient très pauvres, et leurs sept enfants les incommodaient beaucoup, parce qu'aucun d'eux ne pouvait encore gagner sa vie. Ce qui les chagrinait encore, c'est que le plus jeune était fort délicat et ne disait mot : prenant pour bêtise ce qui était une marque de la bonté de son esprit. Il était tout petit, et quand il vint au monde, il n'était guère plus gros que le pouce, ce qui fit que l'on l'appela le petit Poucet. Ce pauvre enfant était le souffre-douleurs de la maison, et on lui donnait toujours tort. Cependant il était le plus fin, et le plus avisé de tous ses frères, et s'il parlait peu, il écoutait beaucoup.

(Charles Perrault, Le Petit Poucet)

*

Bom dia!

9.7.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA DISNEYLÂNDIA, PARIS


Rato Mickey a trabalhar.

(Diana Gonçalves)
 


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: OLHAR SOBRE NÓS MESMOS

João Leal, Antropologia em Portugal. Mestres, Percursos, Transições, Livros Horizonte, 2006

Excelente, excelente livro para ler nestes dias em que os portugueses oferecem ao antropólogo (e ao sociólogo) do futuro muitos materiais de análise! Quando quase nada um curioso podia encontrar sobre Portugal, havia sempre as recolhas de contos e lendas, os estudos de Jorge Dias, os desenhos de Galhano, os livros desirmanados (faltava sempre um volume) de Leite de Vasconcelos. Era por eles que se ia a Vilarinho das Furnas, era por eles que se ia a Rio de Onor. Por eles e pelo mito de que havia comunismo primitivo, como os clássicos descreviam e nós acreditávamos. Em Rio de Onor, em Guadramil (por onde atravessei a fronteira clandestinamente), mais tarde no Barroso. Foi por um destes "mestres", Cutileiro, que me interessei pelos trabalhadores rurais alentejanos. Encontrá-los todos numa história da génese da antropologia em Portugal e perceber os seus passos contraditórios, mas seguros, é o mérito deste livro. Eles, sim, eram patriotas.
 


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: MAIS DIAS DO FIM

http://www.westminsterbookshop.co.uk/images/475/1850436673.jpgKrisztián Ungváry, Battle for Budapest, Nova Iorque, I.B. Tauris, 2003

Na extensa lista de batalhas, cercos, atrocidades, dias do fim, da II Guerra, a batalha de Budapeste é ignorada e pouco conhecida. E no entanto, é um caso quase único de um cerco a uma cidade em que a população civil ficou retida (cerca de 800.000 pessoas), num campo de batalha urbano, em que alemães, húngaros (aliados dos alemães), russos, romenos e húngaros (que tinham desertado para o lado soviético e participaram no combate), lutaram com enorme ferocidade. Ocorrida entre os últimos dias de 1944, e os meses de Janeiro e Fevereiro de 1945, pouco antes do fim da guerra, a batalha de Budapeste durou cem dias, num ambiente de fim de tudo, com a cidade formalmente controlada pelas milícias do movimento fascista Cruz de Flechas dirigido por Szálasi, que tinha tomado conta do poder num golpe de estado com apoio alemão, quando Horthy tentou negociar um cessar-fogo com os aliados. Hitler impediu a guarnição alemã de tentar quebrar o cerco quando tal era possível, o que encurralou os seus oficiais e soldados numa luta casa a casa, e os levou a uma última e desesperada tentativa de fuga, através dos esgotos e nos bosques circundantes, que resultou numa chacina. Na cidade, as milícias do Cruz de Flechas faziam execuções sistemáticas de todos os que lhes resistiam, incluindo muitos oficiais do exército regular húngaro, e dedicavam-se à perseguição dos judeus. O destino dos judeus húngaros foi trágico, mas foi também em Budapeste nestes dias que vários diplomatas, incluindo portugueses, fizeram genuínos esforços para salvar muitos membros da comunidade, com algum sucesso.

Quando, depois do fracasso das tentativas de fuga organizadas pelos alemães, a partir do seu reduto final no Castelo de Buda, a cidade caiu nas mãos dos soviéticos, estes executaram um número significativo de militares alemães, incluindo os que se rendiam, e os feridos nos hospitais, num festival de violência que durou vários dias. Todos os testemunhos de sobreviventes, que saíam das caves onde estavam escondidos, descrevem uma cidade silenciosa, aparentemente vazia, com as ruas cheias de cadáveres. O Danúbio, cujos cais eram o local preferido para as execuções dos milicianos do Cruz de Flechas, estava também pontuado de corpos presos no gelo. Era Inverno, tinha sido Natal há pouco tempo e, também há muito pouco tempo, a ópera de Budapeste dera a sua última récita, já com a cidade cercada.

*
Raoul Wallemberg foi o representante diplomático da Suécia - país neutral - em Budapeste nos últimos meses da 2.ª Grande Guerra. Na verdade, era apenas parente muito afastado dos grandes industriais e financeiros suecos Wallemberg. De harmonia com instruções do seu Governo, R. Wallenberg desenvolveu um importantíssimo papel na ajuda a inúmeros refugiados judeus e não judeus durante o final do conflito, o que lhe valeu a má-vontade soviética. Moscovo levou muitos anos a reconhecer que o tinha preso sob uma vaga e certamente falsa acusação de espionagem e nunca esclareceu cabalmente qual o destino que lhe dera. Consta que uma das dificuldades dos soviéticos teria que ver com o facto do Exército Vermelho
ter-se apoderado de um avultado fundo oficial em ouro quando assaltou a Embaixada da Suécia em Budapeste e prendeu R. Wallenberg. Era com esse fundo que a Embaixada negociava a libertação e o transporte dos refugiados, na sua maioria mulheres e crianças. Nunca se soube o que aconteceu a esse ouro...

(Francisco F. Machado)

*

O leitor «Pinto de Sá» faz referência ao grande diplomata Raoul Wallemberg. Só a título de curiosidade, a irmã desse diplomata, Nina Lagergreen, é mãe de Nane Annan, esposa de Koffi Anann, secretário-geral da ONU. O mundo é pequeno...

(Gabriel Silva)

*

De Budapeste ainda guardo a imagem recente (pouco mais de um ano) de edifícios no Castelo de Buda crivados de impactos de balas. Lembro tambem a homenagem no cemitério judaico, em laje rodeada de pedrinhas (que são as flores do culto judaico), a vários que os ajudaram no pavor da 2ª guerra entre os quais está o nome do diplomata português acreditado na altura em Budapeste (o nome escapa-me mas tenho impressão que teria apelido Branquinho).

Curiosamente, na árvore que lhe está ao lado, artificial com folhas de prata oferecidas pelas famílias dos que morreram ou escaparam mas cuja memória pretendem perpetuar, peguei numa folha ao acaso e li o nome que estava escrito: Spielberger. Que o célebre realizador saxonizou anos mais tarde. A História, que se faz da história de cada um, é realmente fascinante.

De Budapeste hoje práticamente não se tem ideia dos vários horrores que por lá correram, e os húngaros, não esquecendo a sua grande História, dão-lhe hoje um ar romanceado, heróico e doce. Das boas recordações que de lá trouxe curiosamente a mais forte não teve a ver com a cidade própriamente dita: ao visitar o museu de Belas Artes deparei-me com um óleo de Gustavo Doré, talvez pouco conhecido como pintor. Representava uma bela inglesa por quem ele certamente se apaixonou. Se há pintura onde se demonstra o seu amor, pintando ao mesmo tempo a impossibilidade de o mostrar, está ali numa parede de esquina da secção de impressionistas do Museu de Budapeste.

(Miguel Geraldes Cardoso)

*

(...) como nota às atrocidades que você menciona, duas referências que sempre me impressionaram:

1. Uma das “experiências” que os guardas de ferro faziam nas execuções de judeus junto ao Danúbio, era a de ver quantos se conseguiam matar com uma só bala. Mandavam porem-se em linha os vários membros de uma família, e tentavam que a mesma bala os atravessasse a todos...

2. Um dos diplomatas que mais judeus ajudaram a escapar, foi o sueco Wallemberg. Quando os russos chegaram, porém, ele “desapareceu”, e apesar de por muito tempo a Suécia o ter reclamado, foi só depois de Gorbachov que a Rússia admitiu que o levara para uma prisão no seu território, onde morrera nos anos 50. Ora Wallenberg pertencia a uma família capitalista sueca de origem aristocrática, muito conhecida ainda hoje por ser a principal proprietária da conhecida empresa de material eléctrico pesado ABB...

(Pinto de Sá)
 


EARLY MORNING BLOGS

813 - “Fiquem onde estão!”

A vazia sandália de S. Francisco

A gratidão da macieira e a amnésia do gato
nunca pautaram o curso dos meus dias.
“Fiquem onde estão!”,
foi a minha ordem para a macieira e para o gato,
ainda bem exteriores ao meu fraco por eles.

Salvei-os (e salvei-me!) de uma fábula
cuja moral necessariamente devia ser eu, o parlante
amigo de macieiras e conhecido de gatos.

Dá um certo desconforto malbaratar assim amigos
em dois reinos da natureza.
Mas também dá liberdade.

Há uma gente que desponta do outro lado do vale.
Está a correr para cá.
São os meus semelhantes.
Com eles vou desentender-me (mais que certo!),
mas a ideia que deles faço
é ainda um laço.

Repousem em paz as macieiras e os gatos.

(Alexandre O'Neill)

*

Bom dia!

8.7.06
 


EARLY MORNING BLOGS

812 - ...every walk is a sort of crusade...

I wish to speak a word for Nature, for absolute freedom and wildness, as contrasted with a freedom and culture merely civil--to regard man as an inhabitant, or a part and parcel of Nature, rather than a member of society. I wish to make an extreme statement, if so I may make an emphatic one, for there are enough champions of civilization: the minister and the school committee and every one of you will take care of that.

I have met with but one or two persons in the course of my life who understood the art of Walking, that is, of taking walks--who had a genius, so to speak, for sauntering, which word is beautifully derived "from idle people who roved about the country, in the Middle Ages, and asked charity, under pretense of going a la Sainte Terre," to the Holy Land, till the children exclaimed, "There goes a Sainte-Terrer," a Saunterer, a Holy-Lander. They who never go to the Holy Land in their walks, as they pretend, are indeed mere idlers and vagabonds; but they who do go there are saunterers in the good sense, such as I mean. Some, however, would derive the word from sans terre without land or a home, which, therefore, in the good sense, will mean, having no particular home, but equally at home everywhere. For this is the secret of successful sauntering. He who sits still in a house all the time may be the greatest vagrant of all; but the saunterer, in the good sense, is no more vagrant than the meandering river, which is all the while sedulously seeking the shortest course to the sea. But I prefer the first, which, indeed, is the most probable derivation. For every walk is a sort of crusade, preached by some Peter the Hermit in us, to go forth and reconquer this Holy Land from the hands of the Infidels.

It is true, we are but faint-hearted crusaders, even the walkers, nowadays, who undertake no persevering, never-ending enterprises. Our expeditions are but tours, and come round again at evening to the old hearth-side from which we set out. Half the walk is but retracing our steps. We should go forth on the shortest walk, perchance, in the spirit of undying adventure, never to return-- prepared to send back our embalmed hearts only as relics to our desolate kingdoms. If you are ready to leave father and mother, and brother and sister, and wife and child and friends, and never see them again--if you have paid your debts, and made your will, and settled all your affairs, and are a free man--then you are ready for a walk.

(Henry David Thoreau)

*

Bom dia!
 


RETRATOS DO TRABALHO NO DOURO, PORTUGAL



A "Esponta" duma vinha no Douro.

(Gil Regueiro)

7.7.06
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MEMÓRIAS, FILMES, MÚSICAS

http://images.amazon.com/images/P/6301965612.01.LZZZZZZZ.jpgVeja bem o que o “seu” Caruso veio acordar: O “over there”, para a maior parte de nós (os mais velhos, mas não tanto como os discos do Caruso…) é inesquecível na interpretação de James Cagney no “Yankee doodle dandy”, a biografia (fantaziada) de George Cohan, num filme de Michael Curtiz (176 filmes, metade na Hungria e Áustria até1926 - os restantes nos EU, dirigiu Robin Hood, Casablanca, o Gavião dos Mares, Life with Father, etc, etc.). Cagney sempre disse que era o seu filme favorito: não “era” gangster”, não havia tiros nem murros, havia o seu talento inicial de “hoofer” e uma voz esplêndida, num grande musical clássico

O Tiperary, como a inesquecível e muito germânica “Lili Marlene” na 2ª guerra, ganhou um estatuto extra-nacionalidade, muito para além dos regimentos irlandeses que a trouxeram. Havia uma versão em Alemão e em Italiano. Em russo, não sei, mas duvido muito…

A “Waltzing Matilda” foi importada pelos australianos e conheceu renome em Galipolí. Nos anos 30, o tanque médio de acompanhamento de infantaria briotânico – e viu acção até às campanhas do deserto do Norte de África, lento, mal armado, mas bem blindado (tivemos um ou dois esquadrões deles em Calavaria 7) – chamava-se “Matilda”. Havia de ser a canção de marcha por excelência, dos “Aussies” nas guerras seguintes – WWII e Coreia).

Outra grande canção da 1ª guerra que obteve nacionalidade portuguesa, foi a muito Inglesa (não britânica…) “Pack up your troubles in your old kit bag - and smile, smile, smile…”, que ganhou versos muito bem adaptados do André Brun e foi, até 1959, canção de marcha de Caçadores 5 – uma das grandes e mais condecoradas unidades de infantaria portuguesa de sempre!

“Se bem me lembro”, a letra corria assim:

«Guarda as tristezas no bornal, rapaz!
Tens de rir, rir rir”
Enquanto rires tú será capaz
De tudo conseguir!

Marcha a cantar
Marcha a sorrir … etc etc»

Aposto que isto vai fazer sorrir de saudade e relembrar a juventude, a um punhado de velhotes como eu.

(Luís Rodrigues)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM GATWICK, REINO UNIDO



Junto a um avião da TAP.

(Luís Miguel Reino)
 


NO PUEDE SER

Há anos que estou para contar esta história. Um dia, ainda o PSD era membro da Internacional Liberal e Reformista, calhou-me ir numa missão à Guatemala. Havia um pedido de um partido guatemalteco, que fazia ou queria fazer parte da Internacional, para que esta enviasse alguém para uma missão "importante", num altura em que se estava a tentar estabilizar uma frágil democracia no país. Não se sabia praticamente nada mais do que isto. Lá fui, sem saber muito bem o que ia fazer.

Quando cheguei ao aeroporto estava à minha espera um americano, o que me pareceu pelo menos bizarro. Levou-me para o Hotel Camino Real, um clássico das histórias da CIA na América Latina. A viagem prometia. No caminho para o Camino, ele explicou-me que trabalhava para um daqueles programas que o Congresso americano subsidiava para apoiar as experiências democráticas e que quem organizava a sessão era o Parlamento guatemalteco. Também não sabia detalhes.

Pouco depois apareceu-me pela primeira vez um membro do partido, a Unión del Centro Nacional (UCN), que se percebia estar um pouco nervoso. Não era capaz de me dar muitos detalhes sobre o que se passava e remeteu-me para uma conversa com o líder do partido, com quem me ia encontrar. Levou-me à sede do partido, uma espécie de armazém com dois andares, sendo o de baixo uma tipografia. Uns cidadãos que pareciam sair de um filme colombiano faziam a segurança ao prédio. Subimos ao andar de cima, onde havia uma espécie de penthouse com um ambiente de luxo. Em vários sofás de couro estava o directório da UCN à volta do seu presidente, a beber um uísque.

Jorge Carpio Nicolle era uma personagem que de imediato se percebia ter uma grande autoridade sobre os seus homens. Ninguém falava antes dele e ninguém falava depois dele. Tinha sido responsável por El Gráfico, um dos grandes jornais guatemaltecos, fora embaixador da Guatemala na ONU e presidente da Cruz Vermelha. Fundara a UCN em 1984, e candidatara-se à Presidência da Guatemala sem sucesso. Era considerado um dos impulsionadores do difícil caminho que a Guatemala então tentava percorrer para a democracia e para a liberdade, ultrapassando um período de violências, torturas e assassinatos. Vários esquadrões da morte e grupos paramilitares ainda estavam activos, e marcaram presença em toda esta história.

Continuava sem saber para que é que eu fora à Guatemala, embora percebesse que a legitimação de uma Internacional era muito importante para o frágil sistema partidário que se estava a esboçar. Mas, na conversa com Jorge Carpio Nicolle, encontrei a mesma tensão e nervosismo que já notara antes. Ele explicou-me que, ao abrigo de um programa destinado a consolidar o Parlamento guatemalteco, ir-se-ia organizar um debate em que cada partido tinha convidado um membro da "sua" Internacional para falar de uma doutrina política. Como ele sabia tanto sobre mim e sobre o PSD como eu sobre a UCN, estavam apreensivos sobre o que eu ia dizer numa situação muito volátil em que cada palavra contava, e na Guatemala matava.

Começou então uma daquelas conversas que só se tem uma vez na vida. De que é que eu iria falar? Bom, das ideias da Internacional liberal... Do liberalismo...

"- No puede ser. Aqui o liberalismo é a direita e nós somos um partido do centro constitucional...

- Bom e então posso falar do programa do meu partido social-democrata...

- No puede ser. Aqui a social-democracia é a esquerda e nós somos um partido do centro constitucional...

- Então se quiser posso falar dos novos fenómenos eleitorais na Europa que revelam um pragmatismo do eleitorado, escolhendo mais por mérito do que pela camisola (não disse bem assim, mas como tinha escrito então uns textos sobre o aparecimento daquilo a que chamara um "novo centro", talvez servisse para a função).

- No puede ser. E se falasse do centrismo?

- (Então já um pouco irritado pela conversa) No puede ser. Porque em Portugal o centrismo é a direita..."

A conversa não adiantou muito, enterrados nos sofás por cima da cidade de Guatemala, bebendo uísque, rodeados por vasos de plantas a darem a única nota de cor no cinzento do cimento dos prédios e de um crepúsculo a anunciar a época das chuvas que já devia ter vindo e se atrasara. No dia seguinte, parti para Atitlán, junto ao lago e aos vulcões sobre os quais Aldous Huxley escrevera, um dos sítios mais bonitos do mundo, mas então situado numa zona em que havia guerrilhas.

Em Atitlán passaram-se toda uma outra série de histórias, que ficam para outra altura, reveladoras da violência em que mergulhava a política guatemalteca, com ameaças de morte, avisos sinistros e uma panóplia de personagens saídos dos livros e voltadas para os livros. O encontro teve o mesmo ambiente único dos momentos em que tudo está a mudar, com resistências e coragens diversas. Muitos dos que lá estiveram, guatemaltecos e salvadorenhos (o delegado da Internacional Democrata-Cristã era de Salvador) tiveram percursos complicados, um foi Presidente e acabou preso por corrupção, outro foi primeiro-ministro, outros já desapareceram. Jorge Carpio Nicolle foi morto a tiro numa emboscada, pouco tempo depois, a caminho para Chichicastenango, num assassinato por encomenda de um esquadrão da morte ainda hoje não inteiramente esclarecido.

Das Internacionais apareceu apenas a minha e a Internacional Democrata-Cristã, o membro do PSOE que devia representar a Internacional Socialista faltou já não me lembro porquê. O representante do partido guatemalteco socialista pediu-me se falava também do "socialismo", cedendo-me o seu tempo, o que naquele ambiente me pareceu normal. Na verdade, a questão mais importante era a que separava a liberdade da ditadura, os que queriam acabar com as violações dos direitos humanos e os que não conheciam outra maneira de mandar. Estavam aliás todos, os bons, os maus, e os assim-assim, na sala envidraçada do pequeno hotel inacabado, onde ao longe se vislumbrava o círculo dos vulcões, o Atitlán, o San Pedro e o Tolimán, altos nos seus cones perfeitos, a mais de 3000 metros.

Por que é que esta conversa me veio à memória? Porque estamos em Portugal a cair numa mesma obsessão pelas palavras. Pelos nomes das coisas. Mais pelo nome das coisas do que pelas coisas. Como na Guatemala, nomes e identidade eram tão fortes que nomear alguma coisa era logo arregimentar-nos num exército.

Há uma semana, escrevi aqui sobre a necessidade de uma "oposição liberal moderada", o que é o mesmo que há muito tempo defendo. Escolhi as palavras e a sua ligação, substantivo e adjectivo, com um cuidado guatemalteco, recordando-me do seu poder ilusório, do seu enorme poder porque é ilusório. Escrevi uma "oposição liberal moderada", como podia ter também ter escrito uma "oposição liberal reformista", o que ofende os puristas, e parece querer dizer nada, mas diz bastante. O que não dá, nem eu a procuro, é identidade pelo nome. É liberalismo, mas não é o "liberalismo". É a prática mais do que a doutrina, porque, se houver pulsão liberal, basta-me. Se em cada medida de política se escolher a que mais nos dá liberdade, política, social, económica, cultural, é esse o caminho. É mais facilmente distinguir e escolher assim do que numa discussão doutrinária abstracta.

Não me interessa discutir a privatização dos rios, posso bem deixá-la para um longínquo futuro, mas já me importa combater pela saída do Estado dos partidos políticos, das centrais sindicais, das confederações patronais, das companhias de teatro subsidiadas, das "bolsas para escritores", do futebol, dos órgãos de comunicação social, ou seja do negócio da propaganda, do subsídio e da protecção. Feito isto, expulsado o Estado de onde ele não deve estar, nem muito nem pouco, podemos passar para onde ele deve estar minimamente. É que sem Estado mínimo, não há justiça social. O Estado máximo que temos é a melhor garantia de que os recursos escassos serão sempre mais para os que não precisam do que para os que precisam. E é isso que me interessa, não é ter uma camisola com o nome de liberalismo ao peito.

E eu acho, certamente com a mesma cegueira daquelas conversas guatemaltecas, que somos bem capazes de distinguir entre uma solução liberal e uma estatista e escolher entre as duas. Se vamos para os dogmas, perdemo-nos; se olharmos para as políticas, achamo-nos. Mais do que liberalismo pela cartilha doutrinária eu quero políticas liberais, vontade liberal, gosto irredutível por todas as liberdades. Se não, no puede ser.

(No Público.)
 


EARLY MORNING BLOGS

811 - "I have promises to keep"

Stopping By Woods On A Snowy Evening

Whose woods these are I think I know.
His house is in the village, though;
He will not see me stopping here
To watch his woods fill up with snow.

My little horse must think it's queer
To stop without a farmhouse near
Between the woods and frozen lake
The darkest evening of the year.

He gives his harness bells a shake
To ask if there's some mistake.
The only other sound's the sweep
Of easy wind and downy flake.

The woods are lovely, dark, and deep,
But I have promises to keep,
And miles to go before I sleep,
And miles to go before I sleep.

(Robert Lee Frost)

*

Bom dia!

4.7.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 4 de Julho de 2006


Para além do serviços prestado pelos Frescos, as escolhas laterais de ligações são equilibradas e interessantes. Um exemplo: a tempestade sobre Viena.
 


RETRATOS DO TRABALHO NA ALEMANHA



Um polícia alemão a "patrulhar" durante o Mundial...

(Helena Ferro de Gouveia)
 


EARLY MORNING BLOGS

810 - "NÃO PUDE NEGAR - QUE ERA POUCO"

Ao outro dia cedo, encerrado com o general num dos quiosques do jardim, contei-lhe a minha lamentável história e os motivos fabulosos que me traziam a Pequim. O herói escutava, cofiando sombriamente o seu espesso bigode cossaco.

- O meu prezado hóspede sabe o chinês? - perguntou-me de repente, fixando em mim a pupila sagaz.

- Sei duas palavras importantes, general: «mandarim» e «chá».

Ele passou a sua mão de fortes cordoveias sobre a medonha cicatriz que lhe sulcava a calva:

- «Mandarim», meu Amigo, não é uma palavra chinesa, e ninguém a entende na China. É o nome que no século XVI os navegadores do seu país, do seu belo país...

- Quando nós tínhamos navegadores... murmurei, suspirando.

Ele suspirou também, por polidez, e continuou:

- Que os seus navegadores deram aos funcionários chineses. Vem do seu verbo, do seu lindo verbo...

- Quando tínhamos verbos... - rosnei, no hábito instintivo de deprimir a Pátria. Ele esgazeou um momento o seu olho redondo de velho mocho - e prosseguiu paciente e grave:

- Do seu lindo verbo «mandar»... Resta-lhe portanto «chá». É um vocábulo que tem um vasto papel na vida chinesa, mas julgo-o insuficiente para servir a todas as relações sociais. O meu estimável hóspede pretende esposar uma senhora da família Ti Chin-Fu, continuar a grossa influência que exercia o Mandarim, substituir, doméstica e socialmente, esse chorado defunto... Para tudo isto dispõe da palavra «chá». É pouco.

Não pude negar - que era pouco.

(Eça de Queirós, O Mandarim)

*

Bom dia!

3.7.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA PENSILVÂNIA. EUA



(E. Hopper)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 3 de Julho de 2006


América - Caruso a cantar em inglês e francês, com a sombra do sotaque italiano a brilhar como uma luzinha, uma canção patriótica para as trincheiras da Flandres:

Over there, over there,
Send the word, send the word over there -
That the Yanks are coming,
The Yanks are coming,
The drums rum-tumming
Ev'rywhere.
So prepare, say a pray'r,
Send the word, send the word to beware.
We'll be over, we're coming over,
And we won't come back till it's over
Over there.

*

E já agora que estamos numa de acrisolado amor pela pátria, ouça-se também o It's a Long Way to Tipperary. com John McCormack a cantar nos idos de 1914.

*

Mais pão: o país mais optimista do mundo.

*

Ouvido algures: "isto do hino e da bandeira está tudo transformado numa macaquice."

*

Pouco pão e muito circo. Notícias da Futebolândia: secção de "destaque" do Público (em linha) tem 12 artigos sobre futebol, na secção de "opinião" do Correio da Manhã (em linha) há 7 artigos todos sobre futebol. As capas já restauram um certo equilíbrio, dando notícias, que é aquilo para que é suposto os jornais existirem.



Entretanto não acontece nada no país: deu-se uma importante remodelação governamental, em que foi embora o único ministro com autonomia política, parece que as férias dos portugueses começam a revelar a crise (meio caminho andado para a Revolução), os agricultores vão poder construir casas de primeira habitação em áreas classificadas como Reserva Ecológica Nacional (vão ver o número de agricultores a aumentar...) na Bolívia continua o plano inclinado para a desgraça da América Latina, na Palestina as coisas estão como se sabe, etc. Não acontece verdadeiramente nada que nos distraia do que é importante.

*

No Kontratempos , "Imprensa na Prensa".

*

Por falar em ministros quadrados e redondos, Filipe Charters de Azevedo conta esta história:
No dia da demissão de Campos e Cunha eu estava no parlamento a cobrir a discussão das Grandes Opções do Plano. O ex-ministro foi meu professor e nessa qualidade mostrava um enorme sentido de humor e boa disposição. Ao contrário do papel que desempenhava como ministro onde era cinzento.

Porém, nesse dia do parlamento Campos e Cunha estava imbatível. Dizia piadas e arrumava a oposição sempre em duas ou três palavras sensatas.

Do bate boca habitual lembro-me de um dialogo entre Campos e Cunha e o deputado Honório Novo do PCP. O comunista argumentava que “estas eram as Grandes Opções de um Plano que não existia”. O titular da pasta das Finanças replicou que era verdade, mas este era um documento que não fazia sentido, “era um resquício da passagem do PC pelo Governo”. Perante as criticas dos deputados mais à esquerda, que argumentavam que essa era uma crítica sem sentido, com mais de trinta anos, o ministro explicou com um incrível ar de raposão, que “ninguém se esquecia do tempo em que o PC foi Governo.”

Campos e Cunha explicou ainda a sua visão para as Finanças: havia funcionários públicos a mais, que a alta-velocidade não era necessariamente um TGV, e que, obviamente, todo o investimento público tem de ser estudado e analisado. Tratava-se de um ministro bicudo, quadradissimo.

A análise que se fez então foi reveladora de como as questões complexas são tratadas pela comunicação social. Peres Metelo, na sua habitual crónica da TSF, argumentou que no dia do debate das GOP era evidente o cansaço físico e intelectual do ministro, “que estava mais magro”(!). Recentemente o Ministro da Presidência explicou, numa entrevista, que a escolha de Campos e Cunha foi como um erro de casting.

*

Entretanto ligou-me o ministro da presidência a dizer que nunca tinha dito que a escolha de Campos e Cunha tinha sido "um erro de casting" e que tinha a melhor opinião do ex-ministro das finanças.
Em abono do direito à resposta peço-lhe que acrescente este comentário ao post anterior .

(Filipe Charters de Azevedo)
 


EARLY MORNING BLOGS

809 - PETER

Once upon a time there were four little Rabbits, and their names were-- Flopsy, Mopsy, Cotton-tail, and Peter.

They lived with their Mother in a sand-bank, underneath the root of a very big fir-tree.

"Now, my dears," said old Mrs. Rabbit one morning, "you may go into the fields or down the lane, but don't go into Mr. McGregor's garden: your Father had an accident there; he was put in a pie by Mrs. McGregor."

"Now run along, and don't get into mischief. I am going out."

Then old Mrs. Rabbit took a basket and her umbrella, and went through the wood to the baker's. She bought a loaf of brown bread and five currant buns.

Flopsy, Mopsy, and Cotton-tail, who were good little bunnies, went down the lane to gather blackberries;

But Peter, who was very naughty, ran straight away to Mr. McGregor's garden, and squeezed under the gate!

(Beatrix Potter)

*

Bom dia!

2.7.06
 


INTENDÊNCIA

http://ultralight.caltech.edu/web-site/common/logos/hp-logo.jpg

A saga do novo HP parece estar a chegar ao fim. Depois de vários dias de tentativas sucessivas para instalar o Windows XP Pro (sem sucesso) e para fazer o computador funcionar mais do que um minuto numa ligação ADSL sem bloquear completamente, telefonei à assistência da HP. Como já referi, a assistência da HP explicou-me que tudo o que estava errado estava "normalmente" errado e que a HP não tinha nenhuma responsabilidade. O problema devia ser com a Telepac e, quanto ao Windows, era "normal" não se poder fazer o upgrade devido às características do software que vinha de fábrica. Disse ao "assistente" que talvez fosse melhor colocar um autocolante nos computadores a dizer que "não funciona com o Windows XP Pro" e "bloqueia com a mais comum instalação da banda larga e não há nada a fazer". O registo da avaria foi o nº 7206048124, sem qualquer resultado.

Vários leitores escreveram-me contando problemas semelhantes e idênticas queixas quanto à qualidade e utilidade da assistência da HP. No momento em que estava a desistir, revoltado com o tempo perdido visto que já tinha os dados no disco duro amovível do HP (uma coisa boa do computador), segui os conselhos de Eduardo Pitta e Nuno Cabeçadas, que este último aqui resume:
"Efectivamente, passar de um XP Home para uma versão Pro levanta problemas, pelo que sugiro que instale o XP Pro de raiz usando um CD não HP e socorrendo-se dos que vêm fornecidos com o equipamento caso precise de algum "software" adicional.

Poderá usar o número de série do actual/antigo computador para validar a instalação.

Após esta instalação, normalmente instalo todos os programas manualmente e vou migrando os dados, a começar pelos menos utilizados e terminando nos documentos de uso corrente e no conteúdo do correio electrónico.

Este tem sido o caminho que tenho seguido em todos os HP que tenho em casa, e são 3, de modo a ter uma instalação "limpa", sem programas proprietários de que não preciso e podem degradar a performance do sistema, para além de tornar mais difícil o suporte por parte de empresas que não a própria HP, que, normalmente, se preocupa com o "hardware" e não com a funcionalidade do equipamento."
Em desespero de causa, apaguei tudo que estava no disco e instalei o Windows XP Pro de raiz. Tudo bem. Logo a seguir tinha a ligação à Internet em banda larga a funcionar perfeitamente, não tinha som, nem muitas das funcionalidades e programas que vinham com o computador. O disco de recuperação que tinha feito, não é claro quanto à possibilidade de fazer apenas instalações selectivas e como não estava disposto a corromper o Windows XP Pro e a ter que começar tudo de novo, não arrisquei usá-lo. Fiz tudo peça a peça. Vinte e quatro horas depois já tenho som e, com alguns programas grátis, a maioria das funcionalidades está disponível. Mas ainda falta. Porque não posso perder mais tempo, vou ficar com o HP, mas foi o último que comprei. Amanhã, vamos ver o que me diz assistência da HP quanto aos controladores e programas que tenho que reinstalar. Vou então saber se é possível ou se é "normal" que não o possa fazer.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
FUTEBOL, FUTEBÓIS, FUTEBOLÂNDIA




Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do desenvolvimento científico!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo dos Hábitos de Leitura e nas práticas culturais!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade de vida das cidades e do ordenamento do território!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo do combate às desigualdades sociais e à pobreza!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade da educação e da nossa saúde!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da qualidade dos nossos dirigentes políticos e da capacidade das nossas elites!

Que bom que era Portugal estar nas Meias-Finais do Campeonato do Mundo da defesa do nosso património!

Fico-me por aqui pois apesar de ser um crítico da "Futebolândia" excessiva que existe no nosso país sou da opinião que o futebol é das poucas áreas em que nos podemos orgulhar como lideres de mercado e um sector onde somos realmente bons em ambiente de concorrência aberta num mercado global e liberal!
Esta campanha de Portugal no Mundial de 2006 (onde antigamente existia desorganização, lobbies diversos e comportamentos arruaceiros e temos agora competência, organização e resultados)leva-me a consolidar uma ideia: o que falta a este país para ser tão desenvolvido como os demais países da UE tem muito a ver com a liderança e visão estratégica que (talvez desde o Marquês de Pombal) tem faltado nas diversas elites nacionais (culturais, económicas, sindicais, políticas, sociais, universitárias, etc). Não é por acaso que os portugueses na estrangeiro produzem e são elogiados no seu desempenho profissional pois existe toda uma lógica de organização, saber e liderança completamente diferentes do que existe neste país.
Talvez fosse a hora (em jeito de brincadeira) de tal como o fizemos no Futebol chamarmos para nos dirigir em sectores realmente vitais para nos afirmarmos como país no Século XXI os diferentes Campeões do Mundo de cada área. Um país onde o mérito, a recompensa do esforço e a ética da conduta pessoal e do trabalho são subalternizados em relação à cunha, ao carreirismo político-partidário, ao amiguismo, aos interesses e lobbies instalados e à doce mediocridade nacionais, é um país adiado e muito pouco Europeu e Moderno!

De um bibliotecário intelectual (adepto moderado do Futebol e desporto em geral) de 35 anos, amante da nossa história e deste país com 853 anos de existência que já merecia ser feliz e proporcionar aos seus habitantes uma melhor qualidade de vida....

(Jorge Lopes)

*

Hoje, ao entrar para um “tram”, que me conduziria ao convívio com a alegria Portuguesa em festa numa Bruxelas com uns impossíveis 30 graus à sombra, assisti a uma breve troca de palavras entre um velho, ressentido e, muito, muito emigrante e um puto, louro, cabelo e olhos em contraste com o feio encarnado e verde da sua camisola “Cristiano Ronaldo”.

O velho, saindo do “tram”, com uma voz que lhe denunciava todo o ressentimento e frustração de uma vida, gritava irado para o puto: “porque é tens essa camisola vestida!?, porque é que não falas português!?”. O puto, que o olhava com um ar, não de desafio, mas de pena, respondia: “porque estou na Bélgica...”. Depois, já com o “tram” em andamento ouvi-o explicar em francês a todos os que o rodeavam, claramente a maioria não entenderia a nossa difícil língua (apesar de alguns também serem portadores de camisolas “Cristiano Ronaldo”) o conteúdo da sua altercação com o velho. De facto o miúdo tinha qualquer coisa de Cristiano Ronaldo, era uma estrela, todos à sua volta o admiravam, felizes pelo seu líder informalmente eleito ali mesmo na luta com o velho. E essa felicidade exprimia-se em francês.

A esta hora os putos loiros e de camisolas “Cristiano Ronaldo” andarão por aí por essas ruas belgas. Celebrarão em francês?... E o velho, celebrará de todo?

(Carlos Campos)

*

Na série "Os Homens do Presidente" imagino alguém a sugerir "Sr. Presidente, não devíamos afastar um pouco mais o anúncio da saída do Secretário de Estado, do jogo da equipa nacional, porque senão vai soar horrivelmente a spin?"

(Jorge Gomes)

*

Já desisti de lhe explicar que não existe nenhum conflito entre "intelectualidade" e "futebol"... nunca ouviu pessoas dizerem que uma pessoa "religiosa" é intelectualmente inferior? E depois cita-se o Einstein, Hawkings, Dostoievsky e Gogol mas não interessa...
O JPP é assim com o futebol. Que preconceito danado... Mas não interessa!

A ideia que lhe queria transmitir a si é que devia aproveitar o Abrupto para falar de xadrez, não como oposição ao futebol mas valendo por si mesmo, porque o xadrez vale. Jogou com o Spassky, fale-nos disso ou de como começou a jogar. Eu jogo xadrez e sei por experiência que muita gente gostava de jogar e de aprender a jogar. Mostre como havia tipos com pinta, como o Humphrey Bogart, que eram grandes jogadores de xadrez! Tem um blogue com tantas visitas e tanta visibilidade, se essa paixão pelo xadrez é sincera, então não o use como "oposto" ao futebol. A propósito, nas escolas, o que devia haver era música, escolas de música gratuitas.
(Lourenço)

*

Bandeiras e outras manifestações de orgulho nacional que me causam algum desconforto. Onde estão estas pessoas no resto do ano? Onde está este "amor a Portugal" nos outros dias ? Este é o país que perdeu a última oportunidade de dar o salto e recuperar anos de atraso preferindo gastar em "formação profissional" os fundos e ajudas da comunidade. O país onde o que é estrangeiro é sempre melhor... O país que só é bom a exportar jovens investigadores e estudantes de Erasmus.
(Pedro Dias)

*

Vi hoje no seu blog que já "encerrou a edição" dos comentários relativos ao dito artigo. Mas não poderia deixar de fazer esta referência. A propósito, deixo quatro comentários.

1. Concordo consigo relativamente à excessiva importância do futebol na nossa sociedade. Não costumo assistir a esses espectáculos, e tenho consciência do vício que se tornou. Quando olho à minha volta e vejo que os jovens da minha idade, exceptuando eu e outra pessoa que conheço, não lêem senão jornais desportivos, não vêm blocos informativos senão o Jornal de Desporto, e que, em relação às raparigas, o mesmo se passa (no caso, imprensa cor-de-rosa), sinto que algo de preocupante se passa. Não que não seja natural, porque é. Numa evolução social democrática, bem o sei, tende a haver uma divisão cada vez mais acentuada entre uma elite cultural extrema e uma classe popular totalmente ignorante em relação aos assuntos político-intelectuais que se torna claramente maioritária. Veja-se o caso dos EUA, exemplo que penso que seguiremos em termos sociais, um erro a meu ver. Os Estados Unidos devem ser, para mim, um exemplo político e económico a seguir(o que nós não estamos a fazer), mas nunca social.

2. O que disse antes não invalida que considere também necessária uma dose de cultura pop para nos evadirmos. Eu próprio assisto a programas, música e cinema pop, talvez influenciado pela degeneração social, mas penso que isso é bom sobretudo para podermos relaxar do ritmo frenético em que vivemos.

3. Discordo consigo em relação ao futebol internacional. Penso que, se há uma forma de esta gente ser patriota, isso é bom. Mesmo que seja através do futebol. Por isso vibro com a nossa selecção. É muito bonito ver essa "banalização" dos símbolos nacionais. O que é pena é que não tenhamos sempre, com ou sem Mundial e Euro, uma bandeira à nossa janela a mostrar o nosso amor por Portugal. Gostava de ver as pessoas a trabalhar em regime de voluntariado pelo País ou a ler um livro com o mesmo empenho com saem à rua para festejar a vitória conquistada por outrem. O que não invalida que isso seja positivo, pois é pelo nosso País.

4. Em suma, o que critico não é o futebol em si, é a excessiva importância que lhe damos. Tenho o meu clube, mas isso não significa que assista loucamente aos seus jogos, exceptuando as finais dos campeonatos. É também um abuso os salários que as pessoas desse meio auferem, tendo em conta a sua fraca importância para o desenvolvimento da sociedade - um cientista ou um investigador contribuem muito mais para a evolução mundial do que um presidente de um clube ou um jogador. Concordo consigo que o xadrez é bem mais útil, e por isso sou um grande fã desse desporto mental ao alcance de todos.

(Pedro Prola)
 


EARLY MORNING BLOGS

808 - "Un giorno, un solo /giorno per noi"


ANNO DOMINI MCMXLVII

Avete "to di battere i tamburi
a cadenza di morte su tutti gli orizzonti
dietro le bare strette alle bandiere,
di rendere piaghe e lacrime a pietà
nelle città distrutte, rovina su rovina.
E più nessuno grida: «Mio Dio,
perché m'hai lasciato?» E non scorre più latte
né sangue dal petto forato. E ora
che avete nascosto i cannoni fra le magnolie,
lasciateci un giorno senz'armi sopra l'erba
al rumore dell'acqua in movimento,
delle foglie di canna fresche tra i capelli,
mentre abbracciamo la donna che ci ama.
Che non suoni di colpo'avanti notte
l'ora del coprifuoco. Un giorno, un solo
giorno per noi, o padroni della terra,
prima che rulli ancora l'aria e il ferro
e una scheggia ci bruci in piena fronte.

(Salvatore Quasimodo)

*

Bom dia!

1.7.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NO MONTIJO, PORTUGAL



(Madalena Santos)
 


MINISTROS REDONDOS E MINISTROS QUADRADOS



Freitas do Amaral era um ministro quadrado, Luís Amado e Nuno Severiano Teixeira são ministros redondos. O anterior Ministro das Finanças era um ministro quadrado, o actual é um ministro redondo. A Ministra da Educação é uma ministra quadrada, vamos ver quanto tempo dura até ser substituída por um(a) ministro(a) redonda. Idem para o Ministro da Agricultura. O Ministro António Costa é um ministro habilmente redondo, que tem a melhor máquina para alisar os terrenos por onde passa de modo a nunca parecer quadrado. Todos os ministros querem ser redondos e, quando são redondos, sonham em ser quadrados de vez em quando, um dia, à aventura. O Ministro do Ambiente é redondíssimo. Alguns ministros redondos são eficazes, alguns ministros quadrados são eficazes. Há pastas em que se se é redondo e não se faz nada e vice-versa. O mais eficaz dos ministros quadrados é o Primeiro-ministro que só quer ministros redondos. Saindo Freitas do Amaral e entrando mais ministros redondos, o governo está cada mais redondo e as características de Sócrates como ministro quadrado aparecerão mais visíveis.

*

Embora não esteja alinhada com o espírito do seu texto, gostava de lhe referir uma velha rábula a propósito dos políticos que passam a vida a destruir o que os anteriores fizeram. Nela, relata-se uma reunião de maluquinhos que se juntaram para reinventar a roda. A certa altura, depois de um deles apresentar a «roda quadrada», outro aparece com um melhoramento nada despiciendo: A «roda triangular», que poupa um solavanco.

(C. Medina Ribeiro)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 1 de Julho de 2006


O Diário de Notícias em linha considera esta a notícia mais importante de ontem, onde, por acaso, houve uma importante remodelação do Governo. É um critério jornalístico bizarro, para não dizer outra coisa.
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Actualidade
Figo lidera estratégia e Scolari esconde Ronaldo
Num jogo que deverá ser "decidido nos detalhes", como o seleccionador Luiz Felipe Scolari referiu na antevisão do Portugal-Inglaterra, Luís Figo tem o papel central na estratégia da selecção.

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No Diário de Notícias em papel o futebol divide a meio a primeira página com Freitas do Amaral



, o que apesar de tudo é mais equilibrado do que o Público que esmaga com Scolari as mudanças do Governo. O Correio da Manhã é o único a dar importância à demissão, talvez porque não precise de competir pela popularidade.

Sócrates tem sorte ou a sorte cada um a faz escolhendo o dia de ontem para garantir que não houvesse ondas com a saída de Freitas do Amaral?

Lá vamos, pois, cantando e rindo...
 


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: LUGARES ONDE SE ESCREVE

http://www.tchekhov.com.br/livraria/images/capalugar.jpg (Em breve.)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BUENOS AIRES, ARGENTINA



Distribuindo carne de vaca pelos talhos de Buenos Aires.

(Francisco F.Teixeira)
 


EARLY MORNING BLOGS

807 - " Apologize"

Once upon a time and a very good time it was there was a moocow coming down along the road and this moocow that was coming down along the road met a nicens little boy named baby tuckoo

His father told him that story: his father looked at him through a glass: he had a hairy face.

He was baby tuckoo. The moocow came down the road where Betty Byrne lived: she sold lemon platt.

O, the wild rose blossoms
On the little green place.

He sang that song. That was his song.

O, the green wothe botheth.

When you wet the bed first it is warm then it gets cold. His mother put on the oilsheet. That had the queer smell.

His mother had a nicer smell than his father. She played on the piano the sailor's hornpipe for him to dance. He danced:

Tralala lala,
Tralala tralaladdy,
Tralala lala,
Tralala lala.

Uncle Charles and Dante clapped. They were older than his father and mother but uncle Charles was older than Dante.

Dante had two brushes in her press. The brush with the maroon velvet back was for Michael Davitt and the brush with the green velvet back was for Parnell. Dante gave him a cachou every time he brought her a piece of tissue paper.

The Vances lived in number seven. They had a different father and mother. They were Eileen's father and mother. When they were grown up he was going to marry Eileen. He hid under the table. His mother said:

-- O, Stephen will apologize.

Dante said:

-- O, if not, the eagles will come and pull out his eyes.--

Pull out his eyes,
Apologize,
Apologize,
Pull out his eyes.

Apologize,
Pull out his eyes,
Pull out his eyes,
Apologize.

(James Joyce, A Portrait of the Artist as a Young Man)

*

Bom dia!

© José Pacheco Pereira
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