ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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16.1.10
(url) (url) God grant a blessing on this tower and cottage And on my heirs, if all remain unspoiled, No table or chair or stool not simple enough For shepherd lads in Galilee; and grant That I myself for portions of the year May handle nothing and set eyes on nothing But what the great and passionate have used Throughout so many varying centuries We take it for the norm; yet should I dream Sinbad the sailor's brought a painted chest, Or image, from beyond the Loadstone Mountain, That dream is a norm; and should some limb of the Devil Destroy the view by cutting down an ash That shades the road, or setting up a cottage Planned in a government office, shorten his life, Manacle his soul upon the Red Sea bottom. (William Butler Yeats) (url) 15.1.10
COISAS DA SÁBADO: BREJNEV VOLTA À TERRA Lenine e Staline matavam os seus adversários, os reais e os inexistentes para dar o exemplo. Krutchov, depois de liquidar Beria, prendia-os, mas instaurou costumes de perseguição mais moderados. Brejnev inventou o asilo psiquiátrico para os dissidentes. Como é que, sem profundas perturbações mentais, se podia negar a realidade gloriosa do socialismo soviético, a sabedoria perfeita dos seus líderes, a máxima racionalidade do comunismo? Só um louco é que podia negar a magnificência do Sol da Terra, logo o lugar dos dissidentes era os manicómios. Hoje, existe uma frente da calúnia vinda dos amigos de Sócrates na comunicação social e nos blogues. Alguém duvida do Nosso Sol da Terra e dos seus feitos económicos, sociais e culturais? Leva logo com uma chuva de insultos destinada a colocá-lo na ordem. No meio desses insultos, um tema tem vindo a ganhar proeminência: aqueles que atacam Sócrates têm que estar loucos, têm que ir ao médico, ao psiquiatra, estão senis, coloquem-lhes uma camisa de varas já. Tudo isto foi escrito ipsis verbis, com os alvos habituais, desde o Presidente da República, passando por Rangel e Manuela Ferreira Leite, acabando neste humilde louco, eu próprio. Brejnev voltou e estar bem acompanhado. De facto, como é que não se pode deixar de reverenciar, admirar, louvar, esse Primeiro-ministro genial, o melhor desde o 25 de Abril, que nos leva no caminho do progresso e do radiante porvir? Só por doença mental. (url) 13.1.10
"Defamation is sufficiently copious. The general lampooner of mankind may find long exercise for his zeal or wit, in the defects of nature, the vexations of life, the follies of opinion, and the corruptions of practice. But fiction is easier than discernment; and most of these writers spare themselves the labour of inquiry, and exhaust their virulence upon imaginary crimes, which, as they never existed, can never be amended." (Samuel Johnson) (url) 12.1.10
MAIS UMA VEZ
Para trabalhar tive que mudar de casa, de terra, de concelho, de distrito, porque a EDP, à primeira chuvada, corta a energia. (url) 11.1.10
(url) (url) (url) Quel couchant douloureux nous avons eu ce soir!
Dans les arbres pleurait un vent de désespoir, Abattant du bois mort dans les feuilles rouillées. À travers le lacis des branches dépouillées Dont l'eau-forte sabrait le ciel bleu-clair et froid, Solitaire et navrant, descendait l'astre-roi. Ô Soleil ! l'autre été, magnifique en ta gloire, Tu sombrais, radieux comme un grand Saint-Ciboire, Incendiant l'azur! À présent, nous voyons Un disque safrané, malade, sans rayons, Qui meurt à l'horizon balayé de cinabre, Tout seul, dans un décor poitrinaire et macabre, Colorant faiblement les nuages frileux En blanc morne et livide, en verdâtre fielleux, Vieil or, rose-fané, gris de plomb, lilas pâle. Oh! c'est fini, fini! longuement le vent râle, Tout est jaune et poussif; les jours sont révolus, La Terre a fait son temps; ses reins n'en peuvent plus. Et ses pauvres enfants, grêles, chauves et blêmes D'avoir trop médité les éternels problèmes, Grelottants et voûtés sous le poids des foulards Au gaz jaune et mourant des brumeux boulevards, D'un œil vide et muet contemplent leurs absinthes, Riant amèrement, quand des femmes enceintes Défilent, étalant leurs ventres et leurs seins, Dans l'orgueil bestial des esclaves divins... Ouragans inconnus des débâcles finales, Accourrez! déchaînez vos trombes de rafales! Prenez ce globe immonde et poussif! balayez Sa lèpre de cités et ses fils ennuyés ! Et jetez ses débris sans nom au noir immense! Et qu'on ne sache rien dans la grande innocence Des soleils éternels, des étoiles d'amour, De ce Cerveau pourri qui fut la Terre, un jour. (Jules Laforgue) (url) 10.1.10
Ele há dias em que de facto apetece dizer "tirem-me daqui". Quando o "daqui" é o Parlamento, um lugar a que pertenço, onde sou parte com gosto e interesse, um lugar que, contrariamente à opinião corrente, prezo exactamente por ser uma emanação do que de mais fundo existe na vida política democrática: a diferença de opiniões, os "partidos" em que nos dividimos, a representação imperfeita que seja, da turbulência que é a vida política em liberdade. É exactamente a imperfeição do Parlamento, que emana do seu carácter democrático, que sempre me interessou, porque só brilharia de perfeições se fosse totalitário ou apenas demagógico. A Assembleia Nacional salazarista era isso mesmo, tudo tão educado, tudo tão respeitador, tudo tão "vossas excelências" e "excelentíssimo senhor Presidente do Conselho", tudo sábios e doutores e comendadores e digníssimos representantes da nação, e nada de democracia. De todas as instituições políticas, mais nas suas fraquezas que nas suas forças, o Parlamento é o que é o Portugal político, não o Portugal dos políticos, mas o Portugal político que existe, tão próximo do comum dos cidadãos que estes o maltratam com a proximidade de uma coisa sua, de uma zanga de vizinhos, de uma querela conjugal, de uma valente discussão de café. Este aspecto igualitário que faz com o que o homem comum olhe de cima para o Parlamento torna muito árdua a função parlamentar, mas é, no fundo, normal. Há lá virtudes, mas o homem comum prefere vê-lo como o retrato dos seus vícios, e nas suas críticas demagógicas ao Parlamento presta-lhe a homenagem de o sentir mais seu do que alguma vez o admitirá. Mas há dias em que o Parlamento falha completamente, quando se torna uma pequena côterie de iluminados que querem contra tudo e contra todos, com uma superficialidade gritante, aceitando uma retórica tão inflamada como vazia, decidindo quase a brincar coisas cujas consequências não são pensadas a sério, em grande parte por modismo e por subserviência ao politicamente correcto. Ontem, o Parlamento tornou-se um ecossistema de todas as bizarrias da vida política portuguesa, um lugar puramente superstrutural, fora do país, sem laços com qualquer realidade, vivendo de uma ficção entre a festa radical chic e os movimentos da extrema-esquerda tardia, que descobriu com o atraso de trinta anos as "causas fracturantes". Ontem, o Parlamento afastou-se de qualquer fundação democrática real e tornou-se apenas o espelho formal de "causas" ultraminoritárias, próprias de uma cultura alternativa, minoritária mesmo entre os homossexuais e lésbicas, a maioria dos quais ainda estão dentro do "armário", num contexto social e etário muito diferente dos jovens que comemoravam nas escadas da Assembleia o seu dia de glória mediática. Essa maioria invisível, essa sim é que vive mal e infeliz, e estes folclores não a ajudam porque contribuem para reforçar a homofobia e não a combatê-la. O que mais me assusta é a irresponsabilidade de toda esta "festa". Os jornais e as televisões ardem de falsa indignação quando um deputado chama palhaço a outro ou o manda a qualquer lugar feio, mas não é isso que ajuda a estragar o Parlamento: é o momento em que este, sem sequer parar para pensar, se desvia do país para navegar causas absurdas com as quais gasta as melhores das suas palavras. Quando ouvia interiormente o "tirem-me daqui", foi quando assistia aos discursos grandiloquentes sobre o dia da "decência", o momento de "grande dignidade", a "reparação dos direitos ofendidos", a dádiva da "maior felicidade", com hipérbole sobre hipérbole, desde o primeiro-ministro aos Verdes, do Bloco de Esquerda ao discurso de puro insulto inflamado de um deputado da JS. No meio disto tudo, o discurso de Vale de Almeida parecia um exemplo de moderação, apesar do seu tom de oração evangélica aos "irmãos e irmãs", que fazia chorar as pedras da calçada. E mesmo Assis, que é bem melhor do que a sua bancada, colocava entre parêntesis o seu pessimismo antropológico para saudar o "progresso" daquele dia, em que o Sol rasgava as trevas ignaras da Reacção. Parecia o Congresso a aprovar a Declaração da Independência. Só o PCP, embora votando junto com a esquerda, mantinha uma reserva e discrição envergonhada, eles que ainda mantêm o fio da corrente ligado à terra e sabem bem que tudo aquilo é mais folclore do que qualquer emancipação de um direito. E era tudo, no fundo, tão ridículo, que eu me perguntava: será que "eles" não dão por ela? Se calhar não. As principais vítimas de tudo isto serão aqueles que amam ou desejam alguém do mesmo sexo, homossexuais e lésbicas, mais os primeiros do que as segundas, que sitiados por uma sociedade que efectivamente os hostiliza e maltrata, serão vítimas de ver o seu amor ou o seu desejo ainda mais marginalizado pela exibição mais ou menos folclórica e "fracturante" de meia dúzia de intelectuais, pequenos e médios criadores e artistas, gente do mundo da comunicação social, das indústrias culturais, da moda, urbana, jovem, bem arranjada e chique, que em conjunto com alguns políticos, deram origem a uma pseudocausa, de um pseudodireito, o do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O Partido Socialista frágil nas suas convicções e sem uma ideia consistente para o país, que cada vez menos conhece, abriu a brecha por onde o Bloco de Esquerda entrou. E não o fez só agora, já com a legislação sobre o divórcio se andam a meter nas andanças da engenharia social "fracturante", gerando uma sociedade mais fragilizada e menos justa para os fracos, como as mulheres divorciadas por carta e os homossexuais que não pertencem ao beautiful people. A ilusão de que o acesso ao casamento quebra uma barreira simbólica que ajuda a terminar com a homofobia efectivamente existente, o argumento mais hábil de Vale de Almeida, repousa numa ambiguidade e numa hipocrisia. Porque Vale de Almeida sabe perfeitamente que ele e muitos outros a última coisa que pretendem é casar-se, ou sequer imaginam no casamento qualquer virtude especial. Eles sabem bem que o casamento é algo dos "outros", não por causa da lei que os exclui, mas porque o que vem virtualmente no pacote do casamento, a instituição familiar convencional, os "deveres conjugais", não correspondem ao mesmo mundo cultural e emocional do seu entendimento da "causa" dos homossexuais e lésbicas. Para eles o que conta é a "causa", não o mérito da instituição a cujas portas pretendem aceder e por isso a questão é outra, bem longe da luta por um direito, é um ataque a uma determinada forma de viver em sociedade, que abominam e desprezam e tem pouco a ver com a sua cultura e a sua mundovisão. Sabem que ao romper na lei a relação do casamento com a família nuclear, que implica possibilidade real da procriação, erodem para outros um valor que não desejam. É por isso que se trata de uma "luta", não por direitos, mas contra uma determinada forma de sociedade. E é também por isso que por todo o debate mostrou uma enorme intolerância num só sentido. "Fanáticos", "intolerantes", "retrógrados", "reaccionários", "aberrantes", foram palavras comuns, ecoando o que era o tom de muita comunicação social que tomou a causa como sua. "Tacanhos" eram todos os que se opunham ao casamento de pessoas do mesmo sexo. Não é "luta de classes", mas é kulturkampf. O que irá acontecer nos próximos dias é previsível. Os primeiros casamentos de pessoas do mesmo sexo serão eventos "mediáticos". Vão lá estar todas as televisões. Haverá muita festa e depois, pouco a pouco, haverá cada vez menos casamentos e cada vez menos novidade. Apenas meia dúzia de pessoas se casará, o que mostrará como era vazia a força do direito ofendido. Mas será o folclore que "passará", uma espécie de travestismo perverso e o seu efeito será aumentar a intolerância homofóbica. (Versão do Público de 9 de Janeiro de 2010.) (url) ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE
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COISAS DA SÁBADO: A FRENTE DA CALÚNIA
O Primeiro-ministro José Sócrates, ele próprio, suscita na blogosfera um apoio muito especial, sem equivalente no mundo exterior fora da Rede. Não sei se por desespero,- as coisas não tem corrido bem à persona tutelar, - se por simpatia, no sentido preciso do termo, se por imitação, os blogues socráticos desenvolveram um estilo agressivo de insulto e calúnia pessoalizada, que não tem paralelo com qualquer outra área política (se exceptuarmos algumas personagens passo-coelhistas como Nogueira Leite, conhecido por insultar tudo e todos no conforto do Twitter e do Facebook). Esses blogues, como o Câmara Corporativa, o Aspirina B, o Jugular, escritos muitas vezes sob o anonimato e onde pululam empregados do governo, e às vezes mais acima - o anonimato serve para ocultar os autores, mas o estilo denuncia-os –, representam um mundo aparte na blogosfera que revela as fontes do radicalismo que emana nos dias de hoje do centro do poder socialista à volta de Sócrates. Quem se mete com José Sócrates leva de imediato uma caterva de insultos, que inclui todos os clássicos e é sujeito a uma campanha ad hominem grosseira e, zanguem-se agora a sério, muito miguelista mas sem as qualidades de José Agostinho de Macedo. A mecânica destes blogues está longe de ser a discussão política, mas uma regra típica dos aprendizes de feiticeiro: a destruição dos adversários a golpes de insultos e calúnias, já que não se pode prende-los, nem censurá-los. Os seus executores são gente mais à esquerda do que o PS, com pretensões intelectuais, mas com a pior das tentações intelectuais, a que vem da desenvoltura e do sentido de impunidade de quem acha que está no poder e tudo lhe é permitido. (url) Esos rasgos de luz, esas centellas
que cobran con amagos superiores alimentos del sol en resplandores aquello viven que se duele de ellas. Flores nocturnas son: aunque tan bellas, efímeras padecen sus ardores, pues si un día es el siglo de las flores, una noche es la edad de las estrellas. De esa, pues, primavera fugitiva, ya nuestro mal, ya nuestro bien se infiere; registro es nuestro, o muera el sol o viva. ¿Qué duración habrá que el hombre espere, o que mudanza habrá que no reciba de astro que cada noche nace y muere? (Calderón de la Barca) (url)
© José Pacheco Pereira
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