ABRUPTO

12.11.06
 


NUNCA � TARDE PARA APRENDER:
O HOMEM QUE DEU BOA FAMA AOS ANDR�IDES


Philip K. Dick, O Andr�ide e o Humano, Lisboa, Vega, s.d.

Pouca gente como Philip K. Dick tem t�o grande arte dos t�tulos. N�o h� nenhum que n�o apete�a ler de imediato - esta � a arte. Flow My Tears, The Policeman Said, How To Build a Universe That Doesn't Fall Apart Two Days Later, Do Android Dreams of Electric Sheep? (que conhecemos pelo filme Blade Runner), We Can Build You, The Pre-Persons e muitos outros.

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Um excelente pref�cio de Jorge Martins Rosa. Tr�s ensaios de Dick, sob a forma de confer�ncias feitas em conven��es de fic��o cient�fica. O primeiro, e mais interessante, d� o t�tulo ao livro. A diferen�a entre o primeiro texto e os outros tem a ver com uma esp�cie de epifania on�rica do autor, que marca um antes e um depois. Eu prefiro o antes (o ensaio de 1972, depois v�rias vezes revisto), a medita��o sobre n�s em carne e n�s em metal como se fosse carne, e os elementos dist�picos das tecnologias, a p�gina sobre os "phone phreaks" t�o certeira sobre o mundo dos telem�veis, em vez de sonhos e vis�es que d�o, por regra, origem a m� filosofia e a muito misticismo.

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"My theme for years in my writing has been, "The devil has a metal face." Perhaps this should be amended now. What I glimpsed and then wrote about was in fact not a face; it was a mask over a face. And the true face is the reverse of the mask. Of course it would be. You do not place fierce cold metal over fierce cold metal. You place it over soft flesh, as the harmless moth adorns itself artfully to terrorize others with ocelli. "
 


BIBLIOFILIA: GRANDES CAPAS

 


TESTEMUNHOS E OPINI�ES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES 6



A verdadeira greve dos professores seria, n�o estar ausente, mas cumprir as regras que o Minist�rio exige �stricto senso�.

Assim, os professores estariam na escola as horas semanais exigidas.

Claro que n�o poderiam trabalhar a preparar aulas, corrigir testes ou estudar, porque n�o t�m gabinetes dispon�veis e ningu�m consegue concentrar-se numa sala de professores onde os sucessivos intervalos s�o 15 minutos de imperiosa e barulhenta descontrac��o, ou corridas esbaforidas de 5 minutos de fecha porta, desce escadarias, atravessa o p�tio, sobe escadarias, troca o livro de ponto e despacha as pernas para atravessar de novo o p�tio e trepar novas escadarias de um outro bloco do edif�cio, isto enquanto consulta rapidamente e em equil�brio prec�rio as suas notas sobre o que deve ser a aula seguinte..

Tamb�m seria imposs�vel usar os computadores, numa m�dia de 5 para setenta professores (com sorte). Quando se acaba de reformatar o programa que antes tinha sido usado por um colega e se come�a um trabalho, descobre-se que est�o dois professores em p�, � porta do cub�culo, � espera de que acabemos. Imposs�vel a concentra��o.

Claro que tamb�m que sucederiam cenas como esta:

- Set�ra, arranja um bocadinho para falar comigo!!! Os meus pais nunca t�m tempo!

- Set�ra, o meu dente est� a cair!

- Set�ra, o Z� bateu-me�

E a resposta seria � �Meu filho, n�o posso fazer nada. Tenho muita pena mas o meu hor�rio acaba dentro de 25 segundos.�

Depois ir�amos para casa e olhar�amos sem stress os materiais e instrumentos que durante anos pag�mos do nosso bolso, desde computadores e impressoras (esses, valha a verdade, com alguma redu��o no IRS) os dossiers, as rimas de papel, os livros, dezenas e dezenas de livros, os Cds, as canetas, os acetatos, etc, etc (todos estes sem qualquer desconto no IRS). Nada para ali fazer, o nosso hor�rio estaria cumprido. Poder�amos at� despachar toda aquela tralha que durante tantos anos nos obrigou a pagar uma casa maior.

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� no entanto imposs�vel fazer esta greve. Nenhum verdadeiro professor seria capaz disso. Nenhum verdadeiro professor quereria dar aos seus alunos o exemplo de incumprimento de tarefas, nenhum verdadeiro professor deixa de consolar e ajudar um aluno aflito, sejam quais forem as horas para que ser� obrigado a atrasar a sua sa�da do local de trabalho.

Portanto, tendo-lhe sido imposs�vel fazer uma parte importante do seu trabalho na escola durante as horas obrigat�rias de presen�a, enfrenta em casa mais 2, 3 ou 4 horas de pap�is, computador o caneta vermelha. Se, de estafado, n�o consegue, olhar� o fim-de-semana como a salva��o. Os fins-de-semana j� eram a salva��o dos professores, em muitos casos. Temo � que agora deixem de ser tempo suficiente antes de se ir para o hospital.

(Margarida Ribeiro)
 


IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 5


Desenhos de Stuart no Sempre Fixe antes da pedofilia...
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 12 de Novembro de 2006


Eu n�o posso dizer que h� dias em que me reconcilio com os jornais, porque estou sempre "conciliado" com eles. Mas h� dias muito n�os, e dias assim-assim e �s vezes dias sim. Hoje h� coisas muito sim, outras curiosas e outras pedag�gicas.

*

Muito sim: no P�blico dois textos, um de Ant�nio Barreto e outro do Provedor (ambos sem liga��o). Ant�nio Barreto explica o Congresso do PS:
Como v�rias vezes aconteceu, com o PS e o PSD, estamos em pleno no congresso do governo. Qualquer semelhan�a com um congresso de partido � coincid�ncia. Eleito � maneira "� coreana", S�crates bem merece uma Epifania. � o que ter�. Na sala, reina a paz. O partido n�o est� feliz, mas gosta de ser governo.
e como o PS acaba sempre por desfazer, empurrado pela necessidade, o que fez, empurrado pela clientela e a ideologia. No meio ficam enormes custos para o pa�s.
Os socialistas desfazem tudo o que fazem. Sempre foi assim. Empregos p�blicos a mais. Privil�gios para as corpora��es. Facilidades na sa�de. Desperd�cio na educa��o. Obras p�blicas sem controlo. Laxismo nas autarquias. Desorganiza��o da justi�a. Auto-estradas sem portagem. Muito e de tudo. Abriu e fechou maternidades e escolas. Nacionalizou e reprivatizou empresas e sectores econ�micos. Hostilizou e seduziu os mesmos capitalistas. Perturbou e namorou a Igreja. A lista � longa. O que hoje � virtude, ontem foi pecado mortal. O que hoje � proibido, amanh� ser� obrigat�rio. O PS esteve em todas as revolu��es e reformas, tal como em todas as contra-revolu��es e contra-reformas. � o mais contorcionista de todos os partidos portugueses. Chegou quase sempre tarde � compreens�o de algumas necessidades: resistiu � revis�o constitucional, � privatiza��o da economia, � liberaliza��o do mercado, � regionaliza��o e � cria��o do referendo, mas, quando chegou, viu-se logo como o campe�o das novas causas. A hist�ria das propinas escolares e das taxas moderadoras da sa�de � uma hist�ria triste de acrobacia, de adiamento e de desperd�cio. A hist�ria da reforma da Seguran�a Social � uma hist�ria exemplar de irresponsabilidade e demagogia. O que os socialistas adiam sai caro ao pa�s.
(...) Perigosamente reduzido a um partido alicer�ado na Administra��o P�blica, com s�lidas bases ancoradas nos sistemas educativo, de sa�de e aut�rquico, o partido e o governo v�em-se agora obrigados a reduzir efectivos, despedir, congelar recrutamentos, diminuir vencimentos, baixar as pens�es e cortar nos privil�gios colaterais. Mais uma vez, desfaz o que fez. Se persistir, at� ao fim do mandato, nas pol�ticas que tem anunciado, ter� de ir muito mais longe e prestar�, talvez, insignes servi�os �s finan�as p�blicas.
Mas deixar� destro�ada a sua clientela, os seus militantes, as suas bases e o seu eleitorado. Pelo contr�rio, se, como � h�bito, n�o for t�o longe quanto � necess�rio e enveredar pela demagogia pr�via ao segundo mandato, tornar� in�teis os sacrif�cios actuais e voltar� a deixar em crise o Estado social. Ou, mais simplesmente, o Estado.
Leia-se todo que vale muito a pena.

*

Exemplar do que deve ser um Provedor, � Rui Ara�jo do P�blico. Iniciando uma resposta �s queixas de Miguel Sousa Tavares sobre o modo como foi tratada a quest�o do seu "pl�gio", Rui Ara�jo "grelha" os jornalistas do P�blico como nos filmes americanos fazem os Internal Affairs, a pol�cia da pol�cia. Faz bem, deve haver tanto receio de um Provedor nos jornais, como confian�a na sua defesa de jornalistas injustamente atacados por leitores e grupos de press�o. Aqui vai para amostra uma primeira conclus�o:
� �bvio que "qualquer informa��o, an�nima ou n�o, pode ser investigada e pode vir a resultar numa not�cia". O problema � que as jornalistas (e at� contrariamente ao que elas pr�prias defendem na sua resposta) n�o cuidaram de investigar o cerne de toda esta quest�o, isto �: se sim ou n�o houve pl�gio.

As jornalistas dizem, por outro lado, que tentaram "encontrar um exemplar do livro de Lapierre e Collins "Freedom at Midnight"" e logo a seguir que "a not�cia � sobre um escritor que vendeu 270 mil exemplares ter decidido processar um an�nimo que o acusa de pl�gio - editorialmente, � incontest�vel que isto � not�cia. O centro da not�cia n�o � o pl�gio, mas a queixa."

Se a not�cia era de facto a queixa e n�o o pl�gio - como pretendem - qual a justifica��o para procurar o livro? N�o ser� esta uma forma de reconhecer implicitamente que a queixa � uma consequ�ncia e n�o a causa? E como explicam terem avan�ado com a not�cia sem terem lido o livro quando consideravam importante consult�-lo?
De novo, vale a pena ler tudo.

*


Muito n�o. Curioso politicamente este muito socialista editorial de Jo�o Morgado Fernandes no Di�rio de Not�cias que, neste caso, pode ser lido todo em linha e que conclui assim:
Confirmada a sonol�ncia do PS - n�o apareceram alternativas globais, mas tamb�m n�o h� a reter uma �nica ideia sobre educa��o, sa�de ou fun��o p�blica -, confirmada a sonol�ncia da oposi��o (veja-se o debate do Or�amento do Estado), S�crates e o Governo voltam a ficar confrontados com o essencial: o pa�s e as inadi�veis reformas dos v�rios subsistemas do Estado. Que, independentemente de acertos e rectifica��es de tom, a maioria reconhece estarem no rumo certo. (Sublinhados meus)
"Rumo certo", manter o rumo" � a frase-chave actual da propaganda governamental e � interessante encontr�-la validada num editorial de um jornal. J� agora, que "maioria" � esta que aparece sem qualifica��o, a das sondagens, a das manifesta��es, a dos "portugueses" no sentido teresa-guilhermiano do termo?
 


EARLY MORNING BLOGS

908 - Peekabo, I Almost See You

Middle-aged life is merry, and I love to lead it,
But there comes a day when your eyes are all right but your arm
isn't long enough to hold the telephone book where you can read it,
And your friends get jocular, so you go to the oculist,
And of all your friends he is the joculist,
So over his facetiousness let us skim,
Only noting that he has been waiting for you ever since you said
Good evening to his grandfather clock under the impression
that it was him,
And you look at his chart and it says SHRDLU QWERTYOP, and
you say Well, why SHRDNTLU QWERTYOP? and he says one
set of glasses won't do.
You need two.
One for reading Erle Stanley Gardner's Perry Mason and Keats's
"Endymion" with,
And the other for walking around without saying Hello to strange
wymion with.
So you spend your time taking off your seeing glasses to put on
your reading glasses, and then remembering that your reading
glasses are upstairs or in the car,
And then you can't find your seeing glasses again because without
them on you can't see where they are.
Enough of such misshaps, they would try the patience of an ox,
I prefer to forget both pairs of glasses and pass my declining
years saluting strange women and grandfather clocks.

(Ogden Nash)

*

Bom dia!

11.11.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA GOLEG�, PORTUGAL


Venda de p�o.

(R.M.)
 


TESTEMUNHOS E OPINI�ES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES 5



Parece que a conquista do poder, ao mesmo tempo que tende a apagar as ideologias, vai compensando isso com uma maior personaliza��o no exerc�cio do pol�tico, tanto maior quanto mais forte for o peso da vota��o. O efeito, pelo menos em Portugal, vem sendo o de revelar os �instintos gen�ticos� (no sentido familiar e social) dos l�deres por tal �carga gen�tica� se transferir quase directamente para a sua ac��o pol�tica. Assim como a origem social do Prof. Cavaco Silva o fez valorizar o �self made man�, o Eng.� Ant�nio Guterres acabou bloqueado pelo seu piedoso ber�o cat�lico, e agora o Eng.� Jos� S�crates n�o disfar�a que vem de uma fam�lia cujo atributo essencial s�o �as posses� (ou simplesmente a riqueza). A felicidade e auto-elogio do Primeiro Ministro pelas suas �reformas� talvez se devam ao facto de no seu subconsciente ter atingido o nirvana dos �detentores do capital e/ou dos meios de produ��o� (sei que recorro ao marxismo-leninismo prim�rio, do qual nunca padeci, mas os tempos que correm fazem milagres) ao conseguir colocar os pobres e as classes m�dias uns contra os outros. � a subvers�o completa da luta de classes, cren�a que sustenta o estado social, mesmo que estivesse (e cada vez mais) apenas subjacente. A vers�o que se vai tornar para n�s recorrente nos pr�ximos anos � a da oposi��o entre funcion�rios p�blicos e funcion�rios do sector privado. Portugal entrou assim de modo abrupto no problema social do s�culo XXI. H�, por outro lado, sintomas interessantes na modela��o dos discursos p�blicos (basta ler o seu blog a prop�sito das greves): parece que os funcion�rios p�blicos n�o pagam impostos e quando v�o �s reparti��es ou ao hospital, quem os atende reconhece-os instintivamente e confere-lhes tratamento privilegiado, como se houvesse uma �sociedade dos p�blicos� e outra �sociedade dos privados�. Mas as ideologias sempre foram assim, pois simplificam, �s vezes de modo radical, a complexidade do real. O que o mundo mudou. Incr�vel � que isto venha da �esquerda� que assim enterra a luta de classes na vers�o �vertical� marxista e inaugura outra �horizontal� que permite aos que podem �tirar o corpo de fora�. Resistir�o as utopias da coes�o social e da igualdade? Vivem-se tempos interessantes.

(Gabriel Mith� Ribeiro)

*

J� que a conversa parece estar a desviar-se para a justifica��o das greves em geral, ocorre-me recordar as teorias recentes do ide�logo Jo�o Bernardo sobre como o modelo actual de greve � uma forma de luta completamente anacr�nica. Segundo ele, a greve vista como paralisa��o de actividades e aus�ncia do local de trabalho � uma reminisc�ncia da velha greve oper�ria da grande f�brica, em que essa era com efeito a �nica forma de parar a produ��o, por natureza organizada e ultra-disciplinada. Os consumidores n�o davam por nada e s� o capitalista era penalizado.

Na nova economia de servi�os, tal tipo de greve s� prejudicaria os consumidores, que se viram contra os grevistas. Por conseguinte, defende ele, a forma de luta a adoptar dever� ser a continua��o da produ��o dos servi�os, eventualmente acompanhada de propaganda junto dos clienes/consumidores, de forma a manter o seu apoio, mas... n�o cobrando pelos mesmos! Assim, de facto, s� o patr�o seria prejudicado!

Baseia-se Jo�o Bernardo na experi�ncia da greve da Carris de 1969, que decorreu dessa maneira (presta��o do servi�o mas aus�ncia de cobran�a), e onde por sinal a organiza��o marxista-leninista de que Bernardo era dirigente teve algum papel, mas claro que a extrapola��o directa n�o � em geral poss�vel por que os condutores da Carris s�o dos raros trabalhadores que s�o simultaneamente cobradores. No entanto, Bernardo sugere adapta��es: por exemplo, que os professores estejam nas escolas mas, em vez de darem o programa lectivo definido pelo Minist�rio, d�m programas alternativos...

Acho imensa gra�a a estas ideias �criativas� de Jo�o Bernardo, mas � claro que s�o pueris e na pr�tica t�o contra a pr�pria greve como o patronato. As escolas, por exemplo, e como diz Medina Carreira, s�o entre n�s e antes de mais uns locais onde a maioria dos alunos e professores tem de estar fechada at� ao fim da tarde, e pouco importa � maioria dos pais que l� se ensine ou n�o, desde que desempenhem o seu papel de deposit�rias dos filhos, ou seja, de creches...
No entanto n�o deixa de ser verdade, penso eu, que a greve como se fazia antigamente nas f�bricas vira hoje o p�blico consumidor contra os grevistas da economia de servi�os e pouco prejudica os patr�es. No Estado, por exemplo, at� ajudam a reduzir o d�fice p�blico...

(Pinto de S�)

*

Falando da fun��o p�blica, parece estar encontrado o bode espiat�rio para o estado da na��o... Todo bom portugu�s anda agora, mais do que nunca, com a mira no pregui�oso e sugador de recursos comuns que mais n�o faz que nadar em regalias e previl�gios! A ignorancia n�o � desculpa para tudo, ou melhor a ignorancia n�o � desculpa (sem mais). Sou funcion�rio do estado e (surpresa) contribuo mais para o er�rio p�blico que os funcion�rios com categoria equivalente no sector privado (em percentagem e atendendo ao facto de que n�o me chega nada por baixo da mesa). Por vezes dou comigo a imaginar se todos esses malandros saissem da fun��o p�blica e fossem trabalhar para o sector privado. Se, na minha �rea (a Sa�de), tudo entrasse na al�ada do poder privado... Podem ter algumas certezas: Eu trabalharia o mesmo; receberia mais ao fim do m�s; provavelmente descontaria menos!; com a veemente convic��o de que o portugu�s comum (o do sal�rio minimo e pouco mais) teriam muito menos hip�teses de serem servidos por um servi�o de qualidade e principalmente em situa��o de igalidade, repito igualidade de tratamento. Acabem l� com o funcionalismo p�blico numa prespectiva redutora, mandem todos os servi�os para o sector privado... Por mim tudo bem! Posso pagar um seguro de Sa�de razo�vel! E o resto dos portugues? Quando ouvirem: n�o fazemos a sua cirurgia ou o seu tratamento porque o seguro n�o cobre e o estado tamb�m n�o, v� morrer longe! Falo com conhecimento de causa tanto do sector p�blico como do sector privado.

J� agora digam l�, quais as regalias do funcion�rio p�blico, que ainda n�o as vi...

(Filipe Martins)

*

(...) Falava eu com um catedr�tico de Coimbra sobre a greve geral �ltima, quando fico a saber que Carvalho da Silva, o sindicalista, estava a prepara a tese de Mestrado em Sociologia. N�o sei se a prop�sito, ou se seria a tese em si que versava sobre o tema, o Professor abordou a teoria da possibilidade de estarem as greves previstas para acabarem. Isto � que se estaria a pensar em encontrar formas de luta ( igualmente de press�o, penso) para encontra arternativas, uma vez cito" as greves s�o ideias do S�c XIX e � preciso renovar as formas de reivindicar. Estar� a greve fora de moda?

(Jos� Jo�o Canavilhas)

*


SOBRE OS FUNDAMENTOS DA GREVE E DOS PRIVILEGIADOS, julgo ser necess�rio descer ao caso concreto, at� para as pessoas melhor perceberem do que estamos a falar.

Considere-se�

Um curricula:

Curso do secund�rio em humanidades com m�dia final de 18 valores. Provas de entrada na Universidade com 19,1 e 18,5 valores (Hist�ria e Filosofia, respectivamente). Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra aos 22 anos, com 14 valores. P�s-graduado em Direito das Empresas pela mesma Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Curso de est�gio pela Ordem dos Advogados com m�dia de 16 valores. Titular do Curso de Estudos Avan�ados em Gest�o P�blica (p�s-gradua��o), pelo Instituto Nacional de Administra��o (num total de 2000 pessoas que concorreram, ficou em 3.� lugar), o qual finalizou com 16 valores, curso esse que lhe possibilitou entrar na fun��o p�blica. Mestre em Gest�o P�blica, pela Universidade de Aveiro, com distin��o. Mestrando no Mestrado em Direito P�blico/Administrativo pela Universidade Cat�lica de Lisboa.

Um desempenho profissional, na fun��o p�blica:

Obteve a classifica��o de Muito Bom e de Excelente com o novo sistema de avalia��o (SIADAP), nos �ltimos 4 anos, num organismo com mais de 2000 funcion�rios � note-se que nos termos do SIADAP, apenas 5% do total dos funcion�rios pode ter excelente�

Contributo para o interesse p�blico/cidad�o do meu desempenho profissional:

No �mbito de diversos projectos de simplifica��o e de reestrutura��o regulamentar, procedimental e organizacional por mim apresentados e superiormente aprovados (antes mesmo do SIMPLEX), foram alcan�ados os seguintes resultados: diminui��o de 3 anos para 8 meses do tempo total de um determinado licenciamento; diminui��o de 12 meses para menos de 1 m�s de mais de 9 processos administrativos internos de resposta ao cidad�o; redu��o em mais de 50 % da totalidade das reclama��es dos utentes/cidad�os; ..etc, etc. (com o SIMPLEX 2006 (e tamb�m do pr�ximo de 2007), no �mbito de dois projectos/planos por mim apresentados, o organismo esteve representado em mais de 10% da totalidade das medidas, tendo concretizado 95% das mesmas).

Retribui��o:

Sal�rio? 1100 euros l�quidos.

Descontos? 300 euros de IRS todos os meses (reten��o na fonte, porque no final do ano fiscal acabo sempre por pagar mais +/- 700 euros, o que d� � volta de 4000 euros anuais) + 200 euros referentes � Caixa Geral de Aposenta��es e � ADSE.

QUEST�O: SOU UM PRIVILEGIADO?

Antes de ser funcion�rio p�blico, exercia a advocacia: em termos l�quidos, anuais e m�dios, auferia cerca de 3 vezes mais do que actualmente, e pagava sensivelmente menos de metade dos actuais descontos. Antes de ser advogado, tive tamb�m outras experi�ncias profissionais, onde mais de metade do meu sal�rio era por mim recebido fora da minha folha de vencimentos (o mesmo acontecia com os demais funcion�rios e colaboradores).

Em resposta � pergunta e para quem considere que sim, sou um privilegiado, pois bem, eu tamb�m�, tanto assim que estou neste momento � espera de autoriza��o superior para sair, o que espero que aconte�a at� ao final do presente ano (apesar de saber que o Secret�rio de Estado leva +/- 2 meses para decidir�).

Algumas precis�es:

1. Na Administra��o P�blica 47,7% dos trabalhadores t�m um n�vel de escolaridade superior (v.g. M�dicos, Enfermeiros, Ju�zes, Professores), enquanto no sector privado a percentagem de trabalhadores com forma��o superior � inferior a 13,7%;

2. Em compara��o (feita por profiss�es/qualifica��es), as remunera��es praticadas na Administra��o P�blica s�o significativamente inferiores �s remunera��es praticadas no sector privado. Tomando como base tudo aquilo que o trabalhador recebe, a diferen�a para menos na Administra��o P�blica, quando comparado com o pago no sector privado, varia da seguinte forma por profiss�es: Grupo "T�cnico": entre -188% e -156%; Grupo "T�cnico profissional": entre -75% e -46%;

3. O total de descontos em 2007 na FP vai ser 11,5%, enquanto no privado vai ser de 11%;

4. Mais de 33% do total de trabalhadores entraram para a Fun��o P�blica nos �ltimos 15 anos atrav�s dos Gabinetes Ministeriais, Cargos de Direc��o e Ag�ncias ou Unidades de Miss�o (todos de escolha pol�tica), primeiramente atrav�s de contratos de presta��o de servi�os e de tarefa (v.g. aven�as) e sequentemente atrav�s da sua integra��o dos quadros por via legislativa ou atrav�s de concursos p�blicos orientados.


Para quem gostar de aprofundar estes temas para al�m do banal, do barulho e da �propaganda�, sugere-se, entre muitos, os seguintes:

- Alves, A. e Moreira, J. M., (2004), O que � a Escolha P�blica? Para uma an�lise econ�mica da pol�tica, PRINCIPIA, Publica��es Universit�rias e Cient�ficas, Cascais.

- Bauby, P., (1998), Reconstruire l�Action publique. Services publics, au service de qui?, Syros, Paris.

- Bonwitt, B., (1989), �Reforme de l�administration publique: des missions aux objectives�, Revue Internationale des Sciences Administratives, vol. 55, n.� 2, pp. 255-275.

- Bjorkman, J. M., (2003), Health Sector Reform � Measures, Meddles and Mires, Institute of Social Studies, The Hague, The Netherlands.

- Boyne, G., Jenkins, G. e Poole, M. (1999), �Human resource management in the public and private sectors: an empirical comparison�, Public Administration, vol. 77, n.� 2, Summer, pp. 407-420.

- Cabral, M. V., Silva, P. A. e Mendes, H., (2002), Sa�de e Doen�a em Portugal, Imprensa de Ci�ncias Sociais, Viseu.

- Campbell, D. e Stanley, J., (1963), Experimental and Quasi-experimental Designs for Research, Houghton Mifflin Company, USA, Boston.

- Canotilho, J. J. e Moreira, V. (1985), Constitui��o da Rep�blica Portuguesa Anotada, 2� edi��o, Coimbra Editora, Coimbra.

- Corte-Real, I., (1995), O Livro de Moderniza��o Administrativa: 1986-1995, Lisboa, Secretariado de Estado de Moderniza��o Administrativa.

- Denhardt, V. e Denhardt, R., (2003), The New Public Service: serving, not steering, M. E. Sharpe, New York.

- Egeberg, M., (2003), �How bureaucratic structure matters: an organizational perspective�, in B. G. Peters e J. Pierre (eds.), Handbook of Public Administration, Sage Publications, London.

- Harrison, M., (2002), �Can competition transform public organization? European attempts to revitalize hospitals trough market mechanisms�, in E. Vigoda (ed.), Public Administration, An Interdisciplinary Critical Analysis, Marcel Dekker, Inc., New York.

- Hayek, F., (1977), O Caminho para a Servid�o, Teoremas, Lisboa.

- Heeks, R., (2002), �Reinventing government in the information age�, in R. Heeks (ed.), Reinventing government in the information age, International practice in IT-enabled public sector reform, Routledge, London.

- Hood, C., (1995), �The �new public management� in the 1980�s: variations on a theme�, Accountig, Organization and Society, vol. 20, n.� 2/3, pp. 93-109.

- Hood, Christopher (1991), �A public management for all seasons�, Public Administration, vol. 69, n.� 1, Spring, pp. 3-19.

- Howorth, C., (1997), �Can we explain recent developments in British health policy as the product of a general crisis in the welfare states� of modern market economies�, in http://www.sun.rhbnc.ac.uk/~uhtm005/nhs.htm.

- Mintzberg, H., (1979, 1999), Estrutura e Din�mica das Organiza��es, 2� Edi��o, Publica��es Dom Quixote, Lisboa.

- Moreira, V. (2003), �Sebenta Direito Administrativo� para a disciplina Fundamentos Jur�dicos, do Curso de Estudos Avan�ados em Gest�o P�blica (CEAGP), 3� edi��o Mouzinho da Silveira, INA, Oeiras.

- Morris, D., (1998), �Moving from public administration to the public management�, In: Micheal Hunt e Barry O�Tolle, Reform, Ethics and Leadership in Public Service, Hants, Ashgate Publishing Limited, cap. 4, pp. 55-66.

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- Mozzicafredo, J. e Gomes, J. S., (2001), Administra��o e Pol�tica, Oeiras, Celta Editora.

- Mozzicafredo, J., Gomes, J. S. e Batista, J. S. (2003), �tica e Administra��o � Como modernizar os servi�os p�blicos?, Oeiras, Celta Editora.

- Mozzicafreddo, J., (2000), Estado-Provid�ncia e Cidadania em Portugal, Celta Editora, Oeiras.

- Mozzicafreddo, J., (1998), �Estado, modernidade e cidadania�, in J. Leite Viegas e A. Firmino da Costa (orgs.), Portugal, que modernidade?, Celta Editora, Oeiras.

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- Peters, B. G. e Pierre, J., (2003), �Introduction : The role of public administration in governing�, In B. G. Peters e J. Pierre (eds.), Handbook of Public Administration, Sage Publications, London.

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- Pollitt, C., (2003), The Essential Public Manager, Maidenhead, Open University Press.

- Rosenbloom, D., (1998), Public Administration. Understanding management, politics and law in the public sector. McGraw-Hill Companies, Inc, New York.

- Rouban, L., (2000), �Introduction � Le service public en devenir: la mondialisation, l�Europe et les ruptures socials�, in Luc Rouban (dir.), Le Service Public en Devenir, L�Harmattan, Paris.

- Stewart, J. e Walsh, K. (1992), �Change in the management of public services�, Public Administration, vol. 70 (winter), pp.499-518.

- Teixeira, C. (2003), �Atitude dos funcion�rios face � moderniza��o da administra��o p�blica�, in Juan Mozzicafreddo, Jo�o Salis Gomes e Jo�o S. Batista, �tica e Administra��o, Oeiras, Celta Editora, Cap. 4, pp. 47-79.

- Warin, Philippe (1997), Quelle Modernisation des services publics? Les usagers au c�ur des r�formes, Paris, La D�courverte.

- Wright, V. (2000), �Blurring the Public-Private Divide�, in B. G. Peters e D. J. Savoie (eds.), Governance in the Twenty-first century: revitalizing the public service, Canadian Centre for Management Development, McGill-Queen�s University Press, Montreal e Kingston.

(Daniel de Sousa)
 


IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 4

Os desenhos de John Kent no Guardian e no Sunday Times foram violentamente atacados pelos grupos feministas, que contribuiram para o silenciar. Este � do tempo do PREC e Varoomshka encontra o nosso general Otelo que a coloca atr�s das grades por delito de opini�o.
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 11 de Novembro de 2006


Recorda��es de um mundo perdido no Almanaque republicano.

*

http://images.bestwebbuys.com/muze/bookmed/24/0801443024.jpg Para o Passado/Presente e a sua "constru��o da mem�ria " este livro: Richard H. Armstrong, A Compulsion For Antiquity: Freud And The Ancient World (Cornell Studies in the History of Psychiatry) .

� um livro �convoluted", complicado, mas brilhante:
"To sum up so far, long before Freud, the ancient archive was a space of synaesthetic interaction in modern European thought, a realm of imaginary freedom and eros tied to highly valued norms of culture�which continues to fascinate even the post-modern mind, to judge from the amount of work on ancient sexuality produced in the wake of Michel Foucault. For Freud as for many thinkers in the nineteenth century, historical consciousness is itself an expression of freedom, even when it bears an admixture of other determinants and ought not to be exaggerated into a basis for radical free will. The exposure of unconscious motives in one's fascination with the ancient archive does not lead to a dismissal of this fascination as mere projection; for Freud, it rather establishes a genuine psychological connection, the discovery of a common unconscious ground that expands the import of research, intensifies its power, and validates its outcomes."
 


COISAS SIMPLES


(Levitan)
 


EARLY MORNING BLOGS

907 -L'homme et son image

Un homme qui s'aimait sans avoir de rivaux
Passait dans son esprit pour le plus beau du monde:
Il accusait toujours les miroirs d'�tre faux,
Vivant plus que content dans une erreur profonde.
Afin de le gu�rir, le sort officieux
Pr�sentait partout � ses yeux
Les conseillers muets dont se servent nos dames:
Miroirs dans les logis, miroirs chez les marchands,
Miroirs aux poches des galands,
Miroirs aux ceintures des femmes.
Que fait notre Narcisse? Il se va confiner
Aux lieux les plus cach�s qu'il peut s'imaginer,
N'osant plus des miroirs �prouver l'aventure.
Mais un canal, form� par une source pure,
Se trouve en ces lieux �cart�s:
Il s'y voit, il se f�che, et ses yeux irrit�s
Pensent apercevoir une chim�re vaine.
Il fait tout ce qu'il peut pour �viter cette eau;
Mais quoi? Le canal est si beau
Qu'il ne le quitte qu'avec peine.

On voit bien o� je veux venir.
Je parle � tous; et cette erreur extr�me
Est un mal que chacun se pla�t d'entretenir.
Notre �me, c'est cet homme amoureux de lui-m�me;
Tant de miroirs, ce sont les sottises d'autrui,
Miroirs, de nos d�fauts les peintres l�gitimes;
Et quant au canal, c'est celui
Que chacun sait, le livre des Maximes.

(Jean de la Fontaine)

*

Bom dia!
 


TESTEMUNHOS E OPINI�ES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES 4



A minha mulher, educadora do ensino especial (mi�dos deficientes), desta vez n�o fez greve. A escola dela funcionou. Eu n�o fiz greve, na Universidade, que me pareceu estar a trabalhar �as usual�. O meu filho, estudante universit�rio noutra escola, tamb�m teve as aulas todas, e a minha filha (12� ano) notou a falta de alguns professores, mas teve aulas de substitui��o, na sua aus�ncia.

E no entanto, o descontentamento � geral, no ensino. Porqu�, ent�o, esta greve suave?
Uma causa ser� o custo econ�mico dela, como notou um leitor seu. Outra, o facto de os Sindicatos estarem algo descredibilizados. Mas eu acho que h� outra causa mais s�ria: o an�ncio de que boa parte dos docentes vai para o desemprego no pr�ximo ano, e que os que ficarem v�o ter de se esfor�ar muito para ascenderem de escal�o remunerativo. H� medo. E a no��o de que as grandes lutas ainda est�o para vir, agora que ningu�m se vai reformar em breve. Talvez me engane, mas palpita-me que 2007 vai ser um ano de brasa!...

Mas fora da fun��o p�blica, um taxista que o � h� 32 anos, disse-me ontem que os privil�gios dos funcion�rios p�blicos eram um esc�ndalo, antes das novas leis. E contou-me o mesmo tipo de hist�rias do seu leitor Manuel Castelo Branco. Querer� ele nivelar por baixo? Nos EUA, li ontem numa revista, o hor�rio m�dio semanal de trabalho de um engenheiro � de 46 horas (c�, varia entre as 35 e as 40)... e em geral, ainda que a produtividade m�dia hor�ria do trabalho norte-americano n�o supere a norueguesa ou a alem�, acontece que o n�mero m�dio de horas de trabalho per capita � l� muito superior. Claro que por outro lado, os ritmos de vida no litoral brasileiro ou em Mo�ambique, por exemplo, s�o de uma falta de stress invej�vel (�qualidade de vida�, diz-se). O que n�o se pode � ter o melhor desses dois mundos...

(Pinto de S�)

*

Diz o Sr Fernando Reis, que fica chocado com a "reac��o de uma parte significativa da popula��o que tem sido ouvida nos �rg�os de comunica��o". Refere ainda que "Essas pessoas que acusam...s�o em muitos casos, as mesmas que aceitam trabalhar em m�s condi��es, com sal�rios muito baixos, e com poucas ou nenhumas regalias sociais." Diz ainda o Sr Fernando Reis que estas pessoas v�em "Privil�gios", onde ele v� apenas "Direitos".

Fico impressionado com o racioc�nio. S� est� na situa��o de ter um trabalho em m�s condi��es, mau sal�rio e nenhumas regalias, as pessoas que o aceitam. Esquece-se que essas m� condi��es decorrem essencialmente da situa��o econ�mica do pa�s, onde h� pouco emprego gerado, levando as pessoas a ter que aceitar o que aparece. Os patr�es menos escrupulosos, percebendo a afli��o do empregado em manter o emprego que lhe permite um m�nimo de sobreviv�ncia, permitem-se explor�-lo como entendem, n�o havendo for�a sindical ou tribunal que lhe valha. � �bvio que para estes trabalhadores, as vantagens da fun��o p�blica s�o obscenas, porque s�o obtidas em parte � custa daquilo que ele desconta todos os meses.

Os "direitos" do Sr Fernando Reis s�o os deveres de desconto dos trabalhadores que ele critica por n�o compreenderem a posi��o dos funcion�rios p�blicos. E o trabalhador sente-se obviamente injusti�ado por, com o seu dinheiro, darem aos outros aquilo de que ele n�o usufrui. Chamar a isto "inveja" �, no m�nimo, uma provoca��o irreflectida. O dinheiro que � pago aos funcion�rios p�blicos tem origem nos impostos que todos pagamos. � nosso dever e direito garantir que seja gasto com o melhor �ndice de aproveitamento poss�vel e benef�cio pr�tico dos cidad�os pagantes. N�o � o que tem acontecido. O desperd�cio abunda, as perdas s�o enormes e parece que, muitas vezes as formalidades s� existem para justificar uns quantos empregos pagos com dinheiro que seria mais �til noutros lados. Nem que fosse no bolso de onde saiu.

Se a crise diminui os empregos dispon�veis, os sal�rios e as condi��es de trabalho, logo, o rendimento do Estado proveniente dos impostos, porque � que os trabalhadores da administra��o central continuam como se nada se passasse, montados nos seus "direitos" inalien�veis? A crise � s� para alguns?

( L� fora passa um carro do lixo, em abstin�ncia da greve, que todos na rua agradecem concerteza. J� neste trabalho, por exemplo, acho que n�o h� privil�gios. Apenas algumas vantagens que tentam compensar um trabalho em condi��es extremas, a que poucos se sujeitam, mas que aproveita a todos n�s).

(Pedro Malheiros Fonseca)

*

Sou uma funcion�ria p�blica que fez greve ontem, dia 9 de Novembro. Hoje n�o aderi. E n�o o fiz porque considero que a decis�o de fazer greve n�o pode, de forma alguma, correr o risco de poder estar associada a uma maneira expedita de conseguir um fim-de-semana prolongado.


Num pa�s como Portugal, em que � fundamental aumentar a produtividade, entendo que o acto de fazer greve dever� ser reflexo de uma atitude c�vica respons�vel, de recurso extremo, face a uma situa��o de manifesta gravidade.

Mas, de facto, � muito grave o que se est� a passar na Fun��o P�blica, tanto mais que n�o se pode considerar o �fen�meno Fun��o P�blica� como extr�nseco � pr�pria realidade da sociedade portuguesa.

Se � certo que, por natureza, e tendencialmente, se oferece resist�ncia � mudan�a, a verdade � que a gravidade de que falo nada tem a ver com a reestrutura��o dos Servi�os da Fun��o P�blica, enquanto tal.

Todos os que querem que Portugal cres�a qualitativamente sabem o quanto � necess�rio alterar o sistema de funcionamento de grande parte destes Servi�os.

A gravidade adv�m do facto de n�o ser poss�vel, em qualquer tipo de servi�o � seja p�blico ou privado �, mudar no sentido da melhoria e do desenvolvimento, se essa mudan�a n�o se basear no rigor, na objectividade e na efic�cia, princ�pios fundamentais numa gest�o orientada para o sucesso.

O novo sistema de avalia��o dos funcion�rios p�blicos (Sistema Integrado de Avalia��o da Administra��o P�blica) �, apenas, uma ferramenta de gest�o que, como qualquer outra, pode ser bem ou mal usada.

Ter a ferramenta � importante, mas n�o � suficiente. � necess�rio assegurar a sua boa aplica��o. E isso nem sempre est� a acontecer.

Infelizmente, s�o do meu conhecimento casos concretos, nos quais, com comprovada falta de isen��o, s�o atribu�das classifica��es de insuficiente na decorr�ncia de raz�es que nada t�m a ver com o desempenho do funcion�rio, visando a sua sa�da da institui��o e seu o poss�vel desvio para os chamados supranumer�rios.

- A lei prev� que os funcion�rios que se sentirem injusti�ados possam recorrer da classifica��o de que foram alvo � dir�o muitos.

Mas, voltando � objectividade dos casos concretos, acrescentarei:

- Sim, sem d�vida, recorrer�o aqueles funcion�rios cujo perfil seja suficientemente forte para resistirem ao processo de desencorajamento de que v�o ser alvo, quando ap�s dois ou tr�s contactos, paralelamente � garantia de poder recorrer � que ningu�m nega � v�o ouvir falar de coisas como �se tiver coragem�, �se estiver disposto a enfrentar poss�veis repres�lias�, ou, pura e simplesmente, �se for capaz de entrar num processo de grandes desigualdades de poder�: de um lado o funcion�rio; do outro o dirigente de topo da institui��o, que, em algumas situa��es, � o pr�prio avaliador, ou mesmo o membro do Governo competente, que, ami�de, ter� nomeado aquele.
Recorrer�o, ainda, os que n�o se deixarem entorpecer pelas anestesiantes e recorrentes express�es �n�o se pode fazer nada�, ou �o melhor � mudar para outra institui��o�.

N�o h� boa gest�o sem sistema de avalia��o. � preciso avaliar para poder melhorar.
� preciso associar o reconhecimento do m�rito a quem trabalha bem e penalizar quem tem um mau desempenho. � compreens�vel que quem n�o cumpra, de forma adequada, as suas fun��es, deva ser dispensado. S� assim poder� haver mudan�a qualitativa na Fun��o P�blica.

Qualquer pessoa entende isto. Mais, qualquer pessoa de bem o deseja.

Mas o grave � que, infelizmente � como acima referi �, h� casos que mostram que a realidade � bem diferente. E se � �bvio que seria abusivo, e at� injusto, tomar a parte pelo todo, tamb�m n�o � veros�mil que aquilo que conhe�o seja apenas um caso singular, ou a tal excep��o � regra.

Neste texto, a palavra �infelizmente� � recorrente.

Na verdade, pela primeira vez, na minha j� muito longa vida de funcion�ria p�blica, � de um modo infeliz que convivo com o meu quotidiano profissional, n�o s� por aquilo a que venho a assistir ultimamente, dia ap�s dia, mas porque receio pelo amanh� de um pa�s em que � poss�vel, em democracia, e no seio das institui��es do Estado, utilizar de modo perverso uma ferramenta de gest�o � a classifica��o �, n�o para o desenvolvimento e para a mudan�a qualitativa, mas antes para actos vexat�rios que atentam contra um dos valores mais sublimes: a dignidade do indiv�duo.

E se a pr�tica de tais actos j� � grave, mais grave ainda � a sua impunidade, indiciando uma sociedade dormente, que j� perdeu a capacidade de se indignar.

(F. P.)

*

Com ou sem greves, (as quais eu n�o acredito uma vez que trabalhei mais de 45 anos numa firma privada, ali passei o 25 Abril, o sector a que pertencia chegou a fazer v�rias greves, mas eu n�o) acho que j� vai sendo tempo de deixar de branquear o funcionalismo p�blico, no que se refere a privil�gios. Sen�o vejamos: em 1959, com 17 anos de idade, comecei a trabalhar numa determinada empresa e nessa altura tinha um grande amigo, da minha idade, que come�ou igualmente a trabalhar no funcionalismo p�blico. Em 1989, isto �, com 30 anos de servi�o o meu amigo, na altura com 47 anos, reformou-se e nessa altura foi-lhe atribu�do uma pens�o igual a 100% do seu �ltimo ordenado. Eu tive de trabalhar at� 2004, e isto porque resolvi fazer uma pr�-reforma, e na altura tinha 63 anos de idade, quarenta e cinco anos de descontos e mesmo assim fui penalizado na minha reforma em 0,5% porque aos 55 anos faltava-me 6 meses para atingir �x� tempo de descontos. A minha reforma foi calculada na base da m�dia dos melhores 10, dos �ltimos 15 anos de sal�rios. Al�m disso, n�o pude dispor de um sistema especial de sa�de (ADSE) como o meu amigo.

Mas o mais irritante � que, durante os meus 45 anos de trabalho eu mensalmente descontei, para a Seguran�a Social, 11% do meu sal�rio e a firma onde prestei servi�o, 23,75% tamb�m daquele sal�rio, para o mesmo fim, o que quer dizer que ambos descontamos 23,75% do meu sal�rio em cada m�s. O patr�o do meu amigo, esse n�o descontou um centavo, mas no fim o meu amigo tem muito melhor reforma do que eu.

Afinal, ser� que o funcionalismo p�blico estar� assim t�o mal ? E se assim �, porqu� no tempo de Ant�nio Guterres somente, entraram 100.000 novos funcion�rios p�blicos? Ser�o todos masoquistas ?

(Manuel Castelo Branco)

10.11.06
 


A DIFEREN�A ENTRE UM QUIOSQUE E A BLOGOSFERA

Se eu olhar para um quiosque de jornais como muita gente olha para os blogues, o que eu vejo � isto: Maria, O Jornal do Crime, A M�e Ideal, Novenas Milagrosas, Lux, VIP, Nova Gente, Maxman, o Borda de �gua, P�blico, Flash!, �nica, 24 Horas, Nova Cidadania, TV Guia, TV Mais, Ana, Teleculin�ria, MM, Sa�de, Record, Atl�ntico, A Bola, Autosport, Correio da Manh�, O Diabo, uns t�tulos em ucraniano, o Guia Astrol�gico, Os Meus Livros, Cosmopolitan, Prevenir, Sporting, Blitz, Guia Astral, Mini-Recreio, Activa, GQ, Di�rio de Not�cias, Selec��es...

Se abrir as folhas ao acaso, como se consultar blogues ao acaso, coisas sinistras est�o sempre a cair de dentro das folhas: not�cias falsas, especula��es, falsidades an�nimas, pl�gios, voyeurismo, egos � prova de bala, ignor�ncia, erros, invejas, ajustes de contas, presun��o, arrog�ncia, esquemas diversos, banha da cobra, cobras. H� gente que fala com Deus e gente que namora o Diabo, h� quem coma a namorada, como o Dr. Lecter, h� o professor Karamba, e h� umas meninas para todos os gostos, h� extraterrestres, boatos, insinua��es, muita "informa��o" an�nima, pornografia strictu sensu, pornografia intelectual, quartos � hora, hot�is � noite, etc., etc. Uma selvajaria, o Mundo C�o, o Faroeste, os baixos fundos, o jet set, um conde, o tatuador, a tatuada, a esposa, o marido, a amante, o escroque, o bondoso, o franciscano e o tolo...


Ah! Diz-me uma voz, mas est�s a misturar tudo! Pois estou, � como fazem os que falam dos blogues misturando tudo, como Miguel Sousa Tavares e Eduardo Prado Coelho fizeram recentemente para se defenderem (o que � leg�timo) de acusa��es e falsifica��es an�nimas. � verdade que os jornais e revistas t�m respons�veis e n�o s�o como as cartas an�nimas, ou os blogues que funcionam como cartas an�nimas, mas quando os primeiros transcrevem os segundos ficam iguais. No caso do Miguel Sousa Tavares, o que falhou foi a imprensa tradicional, que aceitou citar fontes an�nimas, sem um julgamento de m�rito. A not�cia n�o � que um blogue an�nimo acuse Miguel Sousa Tavares de pl�gio, a not�cia � que Miguel Sousa Tavares cometeu pl�gio, se o tivesse cometido, e a� o autor da not�cia devia fazer o seu pr�prio julgamento e s� publicar caso esse julgamento fosse que sim. N�o sendo, o blogue � como uma carta an�nima, incit�vel e inaceit�vel. Foi isso que falhou e hoje em dia falha cada vez mais, porque a comunica��o social escrita precisa de pretextos para violar as regras de que se gaba como sendo distintivas e, na Internet, encontra-os com facilidade, entrando depois facilmente na selvajaria. Est� l� no computador, para milh�es verem, por isso est� "publicado", logo posso citar e levar a s�rio, sem ter responsabilidade.

O mal n�o est� nos blogues em si, est� na nossa incapacidade para ler e escrever blogues, como para ler e escrever jornais com uma dec�ncia m�nima. O problema � mais comum do que se pensa, embora seja verdade que as pessoas se sentem mais impotentes para se defenderem da Internet do que no mundo da comunica��o social tradicional, mas o que � crime c� fora � crime l� dentro.

Mas a reac��o aos blogues, selvagens, in�teis, desviadores da aten��o, perdul�rios do nosso tempo, oculta-nos muita coisa de interessante que est� a passar-se diante dos nossos olhos e que n�o percebemos porque os vemos t�o misturados como o Jornal do Crime est� com o P�blico no quiosque de jornais, ou como se o P�blico para falar de ci�ncia citasse o Guia Astrol�gico como fonte. Os blogues s�o apenas uma das pontas do mundo novo em que j� estamos, uma pequena ponta, mas t�o reveladora que mesmo estes epis�dios lesivos de Miguel Sousa Tavares (acusado de pl�gio) e de Eduardo Prado Coelho (que tem um texto falso a circular na Rede) s�o dele sinal. Ora nunca ningu�m disse que era o Admir�vel Mundo Novo, a n�o ser os utopistas que pensam que as tecnologias mudam o mundo sem o pano de fundo das sociedades onde elas existem.

Vamos admitir, o que n�o me custa nada, porque at� acho que � verdade, que mais de 90 por cento do que est� na blogosfera � lixo. Temos em seguida que convir que tamb�m 90 por cento do que est� nos quiosques � lixo, a julgar pelo nosso quiosque. N�o � por a� que se faz a diferen�a. Para isso � preciso olhar com um pouco mais de aten��o quer para os 90 por cento de lixo, quer para os 10 por cento sobrantes, porque, tendo muita coisa em comum, t�m tamb�m diferen�as importantes. Para se perceber o que est� a mudar no conjunto do sistema comunicacional temos que analisar o lixo e o luxo na Rede.

http://www.johnbreslin.com/blog/wp-content/20051221a.pngO lixo nos blogues, como antes (e agora) o lixo na Rede t�m muito de comum com o lixo nos di�rios pessoais, nos jornais locais, nos boletins de par�quia, nas r�dios locais, nos panfletos partid�rios, nas cartas an�nimas, na pequena, grande e m�dia comunica��o social, nessa imensa voz entre sussurrada e gritada que nos acompanha sempre, na maioria dos casos como pura est�tica, lixo escrito, lixo dito, lixo visto. Mas tem diferen�as interessantes como esta que n�o � meramente quantitativa: mais indiv�duos falam na Rede do que alguma vez falaram em jornais, revistas, di�rios, cartas an�nimas ou assinadas.

O n�mero espantoso dos milh�es de blogues, com o seu crescimento exponencial, � um fen�meno radicalmente novo. Estes milh�es de pessoas que escrevem na Rede, em nome pr�prio, com pseud�nimos ou anonimamente, s�o uma manifesta��o da principal caracter�stica das sociedades p�s-industriais, as que nasceram em espa�os urbanos dominados por servi�os, pela produ��o, distribui��o e consumo de informa��o - s�o sociedades de massas, onde impera o que antigamente se chamava "psicologia de massas". S�o ainda poucos, mas s�o o primeiro destacamento, o destacamento loquaz, o que anuncia o que a� vem, os que ocupam o espa�o p�blico com as suas vozes no mesmo movimento com que um centro comercial se enche quando abre as portas �s 10 da manh�, ou o prime time das novelas fica habitado das suas audi�ncias, ou as praias do Algarve e os est�dios de futebol se enchem.
http://www.school-for-champions.com/science/images/noise-white.gif
Essas pessoas falam porque t�m alguma coisa a dizer? Acrescentam alguma coisa ou s�o elas mesmo um sinal de cacofonia? Depende como se v� a quest�o: elas t�m alguma coisa a dizer porque querem dizer alguma coisa - essencialmente que existem e que s�o elas que v�o mandar, que s�o elas que j� mandam. O que t�m a dizer n�o � novo, � ru�do, � pobre, � insignificante em termos culturais, est�ticos, criadores, mas � a voz que fala cada vez mais alto, a voz que se ouve, a est�tica gerada pelas multid�es e que exige ser ouvida nas sondagens, nas pseudo-sondagens dos telefonemas para dizer sim ou n�o, nas audi�ncias da televis�o, a que n�o quer esperar, n�o quer delegar, n�o quer aprender, n�o quer sofrer. Quer tudo e j�, e s� n�o o tem porque os "pol�ticos" a enganam e desviam.

O n�mero dos blogues significa que tamb�m, pouco a pouco, as massas das sociedades de massas chegam � Rede como nunca antes chegaram aos jornais ou chegam hoje � televis�o. Trazem com elas aquilo que antes, nos primeiros par�grafos deste texto, chamei "selvajaria": n�o querem media��es, que s�o o poder do passado, o poder dos intelectuais, o poder dos antigos poderosos. Querem democracia "participativa", n�o querem democracia representativa, n�o querem saber de nada que possa significar privil�gio dos s�bios, ricos e poderosos. N�o prezam a intimidade e a privacidade, porque no seu mundo n�o existem e n�o s�o valores, n�o prezam a propriedade porque a t�m pouco, s�o anti-intelectuais, combatem todos os que parecem atentar ao seu igualitarismo funcional e punem-nos na Rede como gostariam de os punir c� fora: "� bem feito" � a express�o que mais se ouve por todo o lado. Miguel Sousa Tavares � "arrogante", o "povo" acusa-te de pl�gio; Eduardo Prado Coelho mandaste na intelectualidade durante muito tempo, leva l� com um texto falso para aprenderes que aqui somos todos iguais! Por bizarro que pare�a, tudo isto foi escrito em linha, quer em caixas de coment�rios, as furnas da Internet, quer nos blogues an�nimos e ignorados, os degraus superiores do Inferno.

� por isto que os blogues s�o interessantes, porque se move ali um monstro, que existe bem fora dos electr�es. Esse monstro fala - nos blogues e nos jornais - e n�s n�o o queremos ouvir porque ele nos coloca em causa, coloca em causa o lugar que ocupamos. Ele luta ali pelas suas regras pr�prias e n�o pelas que tomamos por adquiridas e, desse ponto de vista, conv�m conhec�-lo muito bem. � por isso que se aprende mesmo com os 90 por cento de lixo na blogosfera. E aprende-se ainda melhor se olharmos para o 10 por cento que n�o � lixo, porque para essa parte da Rede ir� migrar uma parte mais din�mica do espa�o p�blico, que conhece melhor o monstro e que j� fez a prova do monstro.

Tratar os blogues como um quiosque dos jornais indiferenciado � deitar fora o menino com a �gua do banho. Vamos em seguida falar dos 10 por cento, n�mero optimista, eu sei.

(No P�blico de 9 de Novembro de 2006)
 


TESTEMUNHOS E OPINI�ES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES 3



Quem me conhece sabe que, por princ�pio, defendo os trabalhadores e os seus direitos. Sabe ainda que me bato pelo lugar-comum segundo o qual os funcion�rios p�blicos e os servi�os p�blicos s�o med�ocres. � ainda capaz de saber que acho que os �ltimos Governos t�m vindo a tratar mal os funcion�rios p�blicos, fazendo-os perder poder de compra, h� anos sucessivos.
Esta situa��o � suficiente para que eu entenda que os trabalhadores do Estado t�m legitimidade para recorrer � greve. S� que, pelo que atr�s expus sobre os lugares-comuns nesta mat�ria, defendo que os funcion�rios p�blicos t�m de tentar ganhar a simpatia da generalidade da opini�o p�blica. Para isso, dependem muito daquilo que os sindicatos que os representam decidam.

O problema � que uma parte substancial dos sindicalistas s�o, eles sim e n�o os trabalhadores que dizem defender, med�ocres. � gente que se perpetua h� d�cadas no trabalho sindical e que j� n�o trabalha h� largos anos no emprego de origem. S�o pessoas que, deste modo, t�m uma vida muito mais descansada do que quando tinham chefes e patr�es a quem prestar contas. Agora limitam-se a fazer o que manda o controleiro partid�rio que os dirige de cima. E quem os dirige quer agita��o social a todo o custo. N�o entende as greves como uma forma de press�o negocial, entende-as apenas como bra�os-de-ferro para demonstrar uma suposta influ�ncia social. � por isso que convoca greves para perto dos fins-de-semana. Deste modo, aumentam a ades�o aos protestos: aderem os trabalhadores conscientes e aqueles que apenas querem ter um fim-de-semana prolongado. Assim, n�o se ganha a simpatia da opini�o p�blica. Pelo contr�rio, isolam-se os grevistas, que at� t�m raz�o para reivindicar. Ficam isolados e s�o apontados a dedo pelo cidad�o comum, um cidad�o que v� a greve - e com alguma raz�o - apenas como uma desculpa para a cria��o de uma ponte de S�o Martinho.

J� era tempo de os sindicalistas defenderem realmente aqueles que representam e de convocarem greves para o meio da semana. � que ganhar a opini�o p�blica � meio caminho andado para vencer as justas reivindica��es. S� desvaloriza isto quem v� nas lutas laborais apenas um pretexto para uma agenda pol�tica mais ou menos oculta.

(Jos� Carlos Gomes)

*

O que me choca mais neste momento de contesta��o, � a reac��o de uma parte significativa da popula��o que tem sido ouvida nos �rg�os de comunica��o. Para l� de qualquer poss�vel estrat�gia de apoio ou contesta��o � greve, � ineg�vel que cada vez mais pessoas s�o contra as greves.

Uma das raz�es mais apontadas para esta posi��o � a ideia de que os funcion�rios p�blicos s�o privilegiados, t�m emprego garantido, sal�rios altos, e reformas boas. Bem, a quest�o das reformas, agora que s�o aos 65 anos e foram reduzidas em valor, j� n�o se ouve tanto. Mas a ideia de que h� funcion�rios a mais, de que estes n�o trabalham, ou que trabalham mal, e que ganham de mais, � muito generalizada.

Porque me chocam estas opini�es? Porque revelam um desconhecimento enorme da realidade. Da realidade dos funcion�rios p�blicos, dos servi�os p�blicos e da sua organiza��o, e dos direitos dos trabalhadores. Essas pessoas que acusam, a meu ver injustamente, os trabalhadores da administra��o p�blicos de tudo o que consideram mau, s�o em muitos casos, as mesmas que aceitam trabalhar em m�s condi��es, com sal�rios muito baixos, e com poucas ou nenhumas regalias sociais. Desta forma, tendem a conceber os direitos sociais como privil�gios. Isto � muito preocupante...

Na medida em que revelam um pessimismo generalizado, uma inveja latente, uma no��o de que os direitos s�o privil�gios e n�o direitos, de que todos devem sofrer como eles sofrem, estas opini�es s�o perigosas. N�o para os funcion�rios p�blicos, que parecem estar condenados a continuar a perder poder de compra e direitos, mas para a generalidade dos trabalhadores por conta de outr�m. Isto revela uma submiss�o e uma subservi�ncia ao poder econ�mico, que acaba por se generalizar e diminuir, se n�o extinguir, direitos que eram considerados, at� h� pouco tempo, fundamentais.

N�o me parece ser este um bom caminho. Puxando os funcion�rios p�blicos para baixo, toda a sociedade portuguesa vai ser puxada para baixo, e vamos assistir, j� estamos a assistir, a um aumento da diferen�a entre ricos e pobres, ou seja, ao enfraquecimento das classes m�dias. Isto � mau para o colectivo, por bom que seja para os empres�rios, propriet�rios de riqueza e de bens de produ��o.

Ser� que vamos ser todos empres�rios? Ser� que vamos todos ter empregados a trabalhar para n�s, e a quem vamos pagar o m�nimo poss�vel?

Mais uma vez a hipocrisia leva a melhor. O mesmo povo que tem um dos �ndices mais altos de posse e utiliza��o de telem�veis, e de outros bens n�o essenciais, reclama agora uma justi�a social nivelada por baixo, como se isso fosse bom para todos. Hiprcrisia perigosa, digo eu, porque vai calcar ainda mais o n�vel de vida dos portugueses, de todos, incluindo os funcion�rios p�blicos. Ser� que os n�o-funcion�rios p�blicos ganham alguma coisa com isso? Tenho a convic��o que n�o, mas ficam felizes com esta vinga�azinha, do portugu�s "toma l� que � para n�o pensares que �s melhor que eu...eu estou mal mas tu tamb�m ficas."

(Fernando Reis)

*


Aqui vai um testemunho relativo � ades�o � greve dos funcion�rios da Administra��o P�blica. Eu pr�pria, e v�rios colegas, aderimos � greve no passado m�s de Outubro tendo inclusive participado na manifesta��o que se realizou no mesmo dia. No meu caso, em 23 anos de servi�o na AP, foi a primeira vez que fiz greve e participei numa manifesta��o desta �ndole.

Por raz�es de ordem financeira � o respectivo desconto de um ou dois dias no sal�rio � decidi que n�o tenho condi��es de o fazer. Anoto que sou t�cnica superior e estou no topo da carreira. No meu servi�o, desta vez tamb�m ningu�m fez greve.

Na escola do meu filho os professores fizeram greve no dia da greve apenas da greve dos docentes. Ouvi, esta semana, alguns professores referirem que tamb�m n�o o poderiam fazer por raz�es de ordem financeira. Curiosamente ontem a escola funcionou normalmente, hoje fechou por ades�o � greve por parte dos funcion�rios. Manifestamente organizaram-se para a fazer s� num dia.

H� aqui mat�ria para os sindicatos reflectirem sobre a sua estrat�gia.

(Rosa Barreto)

*

Vamos l� ent�o a um testemunho pessoal sobre greves:


Nos idos anos de 1975/76 fiz parte de uma comiss�o de trabalhadores de uma empresa sediada no distrito de Set�bal, cujo patr�o se havia ausentado abruptamente para o Brasil, tendo o governo intervido na empresa nomeando uma comiss�o administrativa para a gerir. A este tipo de empresas se chamavam de intervencionadas.
Na �poca a Intersindical decretou uma greve no sector com intuitos meramente politicos e intimamente ligados aos interesses estrat�gicos do PCP e n�s, comiss�o de trabalhadores, que n�o �ramos nem de perto nem de longe uns �amarelos�, resolvemos �furar� a greve, exactamente pelas suas ra�zes e motiva��es e pensando �nicamente no interesse particular da empresa, que se debatia com dificuldades econ�mico-financeiras, n�o podendo por isso desperdi�ar uma hora que fosse da sua produ��o.

Hoje ainda me pergunto, se o patr�o estivesse na gest�o da empresa se assim ter�amos pensado e agido ?

N�o depender�o muitas greves mais de quem est� no lado contr�rio do que do interesse imediato de quem as faz ?

(JCB)

*

Sugiro-lhe alguma dec�ncia. Verifico mais uma vez que recai no h�bito de lan�ar uma discuss�o com premissas mais que contest�veis. Assim costuma fazer a manipula��o, que n�o est� em qualquer racioc�nio l�gico que siga depois, mas no estabelecimento das premissas, que s�o colocadas com tal rapidez e eloqu�ncia que a audi�ncia as toma por verdadeiras. Com isto ponho em causa a sua afirma��o absoluta: "as greves t�m hoje m� imprensa e m� fama". Sem me prop�r desconstruir a frase em si, o que obrigaria a um trabalho espartilhado de modera��o (para explicar que "nem tanto ao mar nem tanto � terra") sugiro-lhe que leia o que os blogs do Jo�o Morgado Fernandes e do Eduardo Pitta dizem sobre o assunto.

(Jo�o Machado)
 


NUNCA � TARDE PARA APRENDER:
PERCEBER O PAPA COMO UM ALEM�O MUITO ESPECIAL - UM CAT�LICO B�VARO (UM PLEONASMO T�PICO)

http://www.somlivre.pt/capas/682785.jpgJeanne Perego, A Baviera de Joseph Ratzinger

H� um ano nunca compraria este livro, fosse qual fosse o seu m�rito. Nunca tive muita curiosidade pelas biografias dos papas contempor�neos, antes de serem papas. Os trajectos dos papas italianos pareciam-me t�picos da ascens�o burocr�tica da institucional igreja, suporte do Vaticano.Quando eles deixaram de ser italianos, interessei-me mais, mas, como Jo�o Paulo II era polaco, uma mistura entre a hist�ria da Pol�nia e do Solidariedade pareciam-me chegar. Como de costume, h� aqui muita ignor�ncia, mas a verdade � que tamb�m n�o havia curiosidade.

Com Joseph Ratzinger as coisas s�o diferentes. O interesse que o papa me suscita � intelectual e cultural, n�o � religioso per se. Traduz um movimento, que penso ser mais vasto, de reflex�o identit�ria sobre a Europa, sobre as ra�zes civilizacionais da nossa hist�ria do "Ocidente", como sinal da esp�cie de kulturkampf que simult�neamente o fundamentalismo mu�ulmano e o seu terrorismo apocal�ptico, denso de atitudes culturais e civilizacionais, e o chamado "multiculturalismo" trouxeram aos nossos dias. Ora, apercebemo-nos agora (de novo, a ignor�ncia...), que o papa Bento XVI foi um dos intelectuais que com mais import�ncia e influ�ncia pelo seu papel em muitos documentos da Igreja, tratou destas quest�es em termos teol�gicos, filos�ficos, hist�ricos e culturais.

http://content.answers.com/main/content/wp/en-commons/thumb/c/cf/250px-MarktlamInn.jpg

O papa � alem�o, b�varo, e isso conta. O catolicismo b�varo, verdadeiramente cat�lico-apost�lico-romano n�o � igual aos outros catolicismos nacionais. � bem diferente do nosso t�o proclamado catolicismo, mais popular do que burgu�s, anticlerical, inculto, mais fiel do que piedoso, mais temeroso do que crente, mais social do que cultural. Coisas da hist�ria e da geografia. � o que este livro nos mostra, a abrir com uma foto de Ratzinger cardeal com um copo de cerveja, na mais t�mida e hier�tica postura imagin�vel, mas mesmo assim poss�vel. E ao olhar o retrato dessas pequenas vilas e aldeias da fronteira com a �ustria, limpas, s�lidas, pr�speras, em que a torre da igreja � sempre a primeira coisa que se v� de longe, cheias de conventos, mosteiros, faculdades de teologia e semin�rios, percebe-se um comunitarismo piedoso, que nos � bastante alheio. The image �http://www.dw-world.de/image/0,,1557550_1,00.jpg� cannot be displayed, because it contains errors.Depois as fotografias dos Ratzinger, a casa, os dois irm�os padres para orgulho da fam�lia, tudo nos aponta para um catolicismo calmo e consolidado. Muito da biografia de Ratzinger pode ser explicado pelo choque dessa placidez antiga, com o Mundo que encontrou l� fora, o mundo da laicidade agressiva da Europa feita por Napole�o, o mundo das perturba��es de Maio de 68, t�o importantes para a viragem conservadora do peritus progressista do Vaticano II.
 


TESTEMUNHOS E OPINI�ES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES 2



Segue como opini�o uma vez que o testemunho me est� interdito:

Esta greve � irrelevante e n�o alterar� nada de fundamental na pol�tica do governo.
Ela � feita b�sicamente porque o espa�o de actua��o dos sindicatos deixou h� muito de existir na economia real (privada). No meu caso ela n�o me afecta em nada, pelo contr�rio, o tr�nsito matinal at� me facilita e encurta o tempo de desloca��o para o trabalho.
Dois dias sem escola tamb�m n�o � assim t�o importante: afinal de contas os mi�dos n�o est�o a aprender nada na escola. Para eles s�o dois dias em que as brincadeiras na escola s�o substitu�das por brincadeiras em casa dos amigos.
� uma greve de ricos e n�o de pobres. Apenas a fazem aqueles que t�m o emprego garantido at� � reforma.
Ao ouvir alguns banqueiros, funcion�rios p�blicos, professores,m�dicos e enfermeiros a queixarem-se tanto , chego � conclus�o de que este governo deve estar a fazer alguma coisa acertada.
O resto do pa�s trabalha,mas esse j� n�o tem acesso �s televis�es.
Pode acontecer que o "resto" seja apenas residual...uma descoberta que n�o me surpreenderia.

Seguirei com algum interesse qual vai ser a l�gica distintiva entre "opini�o" e "testemunho" . Simples curiosidade de um velho leitor do Abrupto.

P. S. (salvo seja) : n�o sou, nem nunca votei socialista.

(Jo�o Costa)

*

Sobre a credibiliza��o dos sindicatos e das greves e suas causas:

1) Porque ser� que as greves s�o sempre coladas a fim de semana / feriados?

2) Os sindicatos n�o est�o suficientemente modernizados p/ perceberem que isso s� agrava a m� imprensa e a m� fama de que gozam?

3) Ser� que se por exemplo as greves em toda a fun��o publica n�o abrangessem servi�os essenciais / urgentes como a sa�de e as escolas (exceptuando em ambas partes puramente administrativas), o impacto da medi�tico da greve seria menor? Tal n�o daria um maior credibiliza��o � greve?

4) E que tal se os trabalhadores em greve comparecessem nos seus locais de trabalho, envergassem um sinal qualquer de est�o em greve e n�o trabalhassem (n�o necessitam de fazer manifs e erguer grandes cartazes). Isto n�o refor�aria o sentido da luta e esvaziaria a m� fama de que �as greves s�o s� para terem fins de semana prolongados�? Al�m disso permitiria aos trabalhadores resolver qualquer situa��o urgente que surgisse nos seus servi�os, dando uma imagem muito mais positiva da respectiva luta.

Declara��o de interesses: n�o sou funcion�rio p�blico nem sindicalizado. S�o meras achegas de quem est� de fora

(Miguel Sebasti�o)
 


AS NOSSAS NOVAS PAISAGENS


7h e 25m da manh�, junto a Videmonte, Guarda.

(J. Guerra)
 


PARA SE PERCEBEREM OS MECANISMOS PARTID�RIOS
E OS HOMENS QUE NELES MANDAM



Um homem chamado Miguel Coelho ataca um homem chamado Nuno Gaioso, num cl�ssico da acusa��o aparelh�stica: culpado de excesso de protagonismo.

A concelhia socialista de Lisboa anunciou hoje a retirada da confian�a pol�tica ao vereador Nuno Gaioso Ribeiro, a quem convida a demitir-se, depois das cr�ticas feitas a Manuel Maria Carrilho. A decis�o do secretariado do PS-Lisboa surge na sequ�ncia da publica��o, na edi��o de ontem do �Di�rio de Not�cias�, de uma entrevista na qual Nuno Gaioso Ribeiro acusa o l�der da verea��o socialista de ter na autarquia um comportamento pol�tico "irrespons�vel, ausente e displicente".

"Embora reconhecendo o direito � cr�tica, quando ela for construtiva e apresentada nos �rg�os pr�prios, o que n�o aconteceu, n�o podemos permitir que um manifesto caso de vaidade pessoal se transforme num facto criado sem nenhuma correspond�ncia com a realidade", l�-se num comunicado emitido pela concelhia.

No comunicado, o secretariado do PS-Lisboa adianta ter decidido, por unanimidade, retirar a confian�a pol�tica ao vereador Nuno Gaioso Ribeiro e, em consequ�ncia, "convid�-lo a demitir-se do cargo que exerce em nome do PS". Tamb�m por unanimidade, a concelhia reiterou a sua confian�a em Manuel Maria Carrilho, manifestando-se solid�ria com o vereador.

(...) "O Secretariado do PS-Lisboa s� pode entender estas declara��es do vereador Gaioso Ribeiro como fazendo parte de uma estrat�gia pessoal de afirma��o � � custa de quem o escolheu e defendeu como candidato � mesmo que para tal prejudique deliberadamente a efic�cia das decis�es e delibera��es dos �rg�os leg�timos e condutores da afirma��o pol�tica do PS em Lisboa".
Sublinhados meus. Depois disso, tiraram-lhe o gabinete.

*

� um homem que se chama Pedro Duarte que decide sobre um homem que se chama Rui Rio. Hoje n�o o recandidataria:

- Se hoje houvesse elei��es, e teria de ser feita essa avalia��o, Rio seria candidato?

- Objectivamente, hoje n�o. (Entrevista ao Jornal de Not�cias.)

*

Um dos mais graves problemas dos partidos est� aqui retratado: as pessoas que os aparelhos produzem e que s� t�m vida no espa�o p�blico pelo seu poder dentro deles. S�crates e Marques Mendes s� ganhariam se dissessem preto no branco que nos partidos que dirigem n�o h� lugar para estas atitudes, at� porque ambos s�o suspeitos de virem desta massa. Fa�o a ambos a justi�a de considerar que j� perceberam que n�o � com estas pessoas nem com estas atitudes que se credibilizam os partidos.
 


TESTEMUNHOS E OPINI�ES DOS LEITORES DO ABRUPTO SOBRE AS GREVES



As greves t�m hoje m� imprensa e m� fama. Fazem parte das coisas que est�o fora de moda. H� muitas raz�es para isso ter acontecido, incluindo a estatiza��o dos sindicatos, que se tornaram um ap�ndice org�nico do estado do "modelo social europeu" e perderam independ�ncia na sua ac��o. Com o "modelo" em crise, os sindicatos do "modelo" (socialistas) e os que se colaram ao "modelo" (os comunistas) entraram tamb�m em crise. No caso portugu�s, h� tamb�m uma grande partidariza��o dos sindicatos, com a CGTP e a UGT dependentes de estrat�gias dos partidos. Acresce que uma comunica��o social "econ�mica", que funciona como porta-voz das empresas e dos gestores, por sua vez igualmente politizados como se v� pelos seus "Compromissos", conseguiu uma hegemonia interpretativa, hoje ao lado dos interesses do Governo, que oculta outros elementos importantes para julgar o que se passa.

Mas tudo isto n�o deve impedir-nos de estar atentos � greve da fun��o p�blica e a outras greves simult�neas, n�o as tratando como movimentos sociais ultrapassados e �fora de moda�. Por aqui pensa-se que � importante, numa sociedade democr�tica, a exist�ncia de institui��es de media��o, sem as quais a democracia representativa fica enfraquecida. Os sindicatos s�o uma dessas institui��es. A produ��o de "equil�brio social", quase sempre via conflitualidade social, aberta ou latente no processo negocial, � um mecanismo que se pode inserir nos checks and balances de uma sociedade democr�tica. Ora, uma das caracter�sticas da puls�o para a chamada "democracia participativa", no meu ponto de vista uma degrada��o demag�gica da democracia, � para a destrui��o dessas media��es. Por isso, seja qual for a concord�ncia que se tenha com os objectivos das greves, elas n�o ser�o aqui desvalorizadas. Podem ser discutidas, podem ser contestadas na sua raz�o, podem p�r-se em causa os seus objectivos e oportunidade, mas a experi�ncia de fazer greve � uma experi�ncia c�vica que n�o pode ser ignorada.

Apela-se por isso aos leitores do Abrupto para que, durante o dia de hoje, enviem testemunhos (opini�es tamb�m, mas os testemunhos ter�o prioridade) sobre o que se est� a passar. De quem entendeu fazer greve, de quem entendeu n�o a fazer, de quem � por ela prejudicado, de quem n�o estando no universo dos sectores em greve assistiu a epis�dios da greve. Seguindo as regras habituais, ser�o aqui publicados.

*
O secret�rio de estado, Jo�o Figueiredo, faz lembrar o ministro da informa��o iraquiano, Mohammed Saeed Al-Sahhaf. Os seus 11,7% de ades�o � greve da fun��o p�blica hoje (9.11.2006), por exemplo, na educa��o, querem dizer que a escola est� aberta, apenas com um ou dois funcion�rios. Um deles na portaria. Os professores entram, est�o nas escolas, n�o podem ir �s salas de aula porque os pavilh�es est�o fechados. Ficam confinados � sala de professores e ao caf� em frente da escola. Os alunos n�o podem entrar no recinto escolar por falta de pessoal. Mas a escola funcionou e n�o houve greve! Pelo que se passou hoje, amanh� os alunos nem se preocupar�o em levantar-se a horas. N�o quer dizer que tomo como l�quidos os 80% de ades�o referidos pelos sindicatos. Mas...

(Gabriel Mith� Ribeiro)

*

Como se sabe, o Governo precisou de uma eternidade para saber quantos funcion�rios p�blicos existem; no entanto, no primeiro dia de greve da fun��o p�blica, bastou-lhe um par de horas para saber que a percentagem de aderentes foi de 11,74%. Assim sendo, vale a pena passar adiante da recorrente anedota que s�o os n�meros d�spares esgrimidos por governos e sindicatos e, desta vez, matutar apenas no rigor do valor apresentado.

A mim, pelo menos, faz-me lembrar um director de uma empresa - que eu em tempos conheci - que, face aos or�amentos que os seus t�cnicos lhe preparavam, dava sempre uns retoques, transformando, por exemplo, 1 milh�o de contos em 1.000.000.000$10

Dizia ele que, com isso, mostrava aos clientes como a empresa era rigorosa a fazer or�amentos - e nunca ningu�m teve coragem de lhe dizer que ele era alvo da chacota geral - dizendo-se, no meio, que padecia do "Centesi... Mal".

(C. Medina Ribeiro)
 


EARLY MORNING BLOGS

906 - Henri quatre

Henri quatre
Voulait se battre
Henri trois
Ne voulait pas
Henri deux
Se moquait d'eux
Henri un
Ne disait rien.

(An�nimo)

*

Bom dia!

9.11.06
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: MIL CORES

Saturn's rings

nos an�is de Saturno.

Uma verdadeira imagem extra-terrestre ou seja uma imagem, uma paisagem, que nunca tinhamos visto.
 


INTEND�NCIA

Actualizada a nota A FRAGILIDADE DE TUDO e LENDO VENDO OUVINDO �TOMOS E BITS de 7 de Novembro de 2006.
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL


Construindo a �rvore de Natal da Pra�a do Com�rcio .

(Ant�nio Pedro)

8.11.06
 


COISAS SIMPLES / COISAS MUITO COMPLICADAS



Ivan Aivazovsky, Mar Negro

7.11.06
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 7 de Novembro de 2006


Para quem tem d�vidas sobre a governamentaliza��o da RTP, o telejornal de hoje deve ser visto muito atentamente. Para quem est� sempre a pedir exemplos, e a quem se est� sempre a dar exemplos que depois n�o se quer discutir, o telejornal de hoje � um excelente exemplo. Hoje foi o dia do debate parlamentar sobre o OE. At� aos primeiros minutos tudo esteve bem: o debate foi animado e permitiu uma pe�a din�mica de contradit�rio. Por ela se pode ver que o debate n�o correu muito bem ao Primeiro-Ministro, mas isso n�o � em si relevante, s� viria a favor da s�ntese televisiva. O problema � o que acontece depois, mais um Momento-Ch�vez perfeito.

� sa�da. O Primeiro-Ministro � perguntado sobre declara��es de Jardim, reduzidas ao estilo do som que morde ou seja, depuradas de argumentos, a favor da frase bruta. A� a culpa � s� de Jardim que se p�e a jeito pelo modo como fala. At� aqui muito bem, era um facto novo e tinha sentido perguntar, naquelas entrevistas de porta de sa�da, o que o Primeiro-Ministro pensava. O problema � que, depois dos 15 segundos que s�o relevantes para a resposta, seguiu-se uma longa exposi��o de v�rios minutos, uma imensidade de televis�o que desequilibra totalmente a reportagem, em que, num discurso limpo, se repetem pela en�sima vez argumentos conhecidos das teses governamentais sobre o OE.

O Primeiro-Ministro acaba assim, sem nunca ter sido interrompido por uma corte de jornalistas silenciosos (pelo menos da RTP), por repetir sem contradit�rio o que acabara de dizer dentro da sala, refor�ando nessa fala l�mpida tudo o que o governo queria dizer. Do ponto de vista jornal�stico n�o h� a� nada de novo, e � isso que � favorecer a propaganda do governo. O Primeiro-Ministro faz o seu papel, debita o seu spin, os jornalistas da RTP, que n�o o interromperam ou n�o reduziram a pe�a aos poucos segundos iniciais, � que n�o est�o a fazer o deles.

Quando estiver em Rede este telejornal das 20 horas de hoje, vale a pena ver e que cada um julgue por si.

*

Um bom exemplo de privatiza��o e do princ�pio consumidor / pagador :
"O Teatro Art"Imagem n�o est� sozinho (...) O movimento Juntos pelo Rivoli vai lan�ar uma campanha de recolha de fundos que incluir� um leil�o de obras de arte e um concerto com m�sicos do Porto. Os eventos ainda n�o t�m data marcada, mas o objectivo est� definido: somar os 20 mil euros de que aquele grupo teatral se viu privado, depois de ter recusado subscrever a cl�usula do protocolo que o impedia de criticar o munic�pio."
(hoje no P�blico.)

*
Enquanto estudante e profissional da ind�stria da comunica��o tenho seguido com bastante interesse as op��es editoriais dos jornalistas que trabalham nos notici�rios da RTP. Tenho a felicidade de poder debater este tema com um grupo de amigos que n�o t�m qualquer forma��o ou interesse particular pelo jornalismo, mas que, enquanto espectadores atentos, facilmente chegam �s mesmas conclus�es que eu: h� muito que os jornalistas-editores da esta��o televisiva p�blica n�o tinham t�o pouco para fazer entre as 18 e as 21. E provavelmente durante o resto do dia, no que respeita � composi��o do notici�rio.

Ontem tive oportunidade para ver abertura do telejornal. Fiquei atento at� aos 15 minutos. Durante esse per�odo fiz uma amador�ssima an�lise de conte�do, em tempo real, das pe�as que passaram. A sua an�lise j� esclarece um pouco sobre o que se passou, mas gostaria de acrescentar apenas mais alguns dados, pistas sobre a forma como a informa��o da RTP parece estar altamente condicionada pelo crivo dos gabinetes de comunica��o governamentais:

- O notici�rio abriu com o an�ncio de S�crates sobre o aumento da inspec��o fiscal da banca. Durante a pe�a, foi poss�vel ver, durante mais de 2 minutos, o Primeiro-Ministro num permanente auto-elogio e promo��o das medidas governativas que t�m obtido resultados positivos. A refer�ncia ao aumento da inspec��o fiscal da banca surgiu apenas numa pequena frase de Jos� S�crates, sem qualquer contextualiza��o ou desenvolvimento da aplica��o da medida. Curiosamente, uma pequena refer�ncia ao tom do PM na resposta �s interrup��es no seu discurso provocadas por elementos exaltados dos partidos de oposi��o, (algo como "Caros deputados, com gritaria n�o fazem valer os vossos argumentos") teve a mesma dura��o.

- O contradit�rio foi mau demais: O PSD teve o destaque �bvio, mas nessa pe�a, cerca de dois ter�os do tempo foi dedicado � pol�mica "Madeira", que merecia refer�ncia mas n�o o destaque principal. Os restantes partidos foram remetidos a pequen�ssimos excertos dos seus l�deres, com a interven��o do CDS/PP a remeter-se exclusivamente �s SCUT, o PCP ao discurso contra "o grande capital" e o Bloco de Esquerda � pol�mica entre Lou�� e S�crates relativa � redistribui��o do aux�lio financeiro a deficientes. E de novo com grande destaque para a resposta do PM, no seu registo deselegante, autorit�rio.

- Conclus�o: n�o tivemos a oportunidade de ver e ouvir a opini�o da Oposi��o sobre a nova medida do Governo, que teve destaque de abertura do notici�rio e acabou por ser, apenas, uma medi�tica refer�ncia numa diminuta frase do PM. J� na SIC e TVI os telespectadores puderam ouvir especialistas do CDS e do PSD a defenderem a sua posi��o relativamente � medida, bem como o coment�rio de Miguel Sousa Tavares sobre o debate do Or�amento de Estado. O necess�rio contradit�rio para que a informa��o seja isenta e cumpre a sua fun��o: informe a opini�o p�blica sem a direccionar para uma determinada corrente de pensamento.

- Seguiu-se a "entrevista" a S�crates, com o seu mon�logo habitual - o referido "Momento-Ch�vez". E sem qualquer contradit�rio ou pergunta da jornalista.

Trata-se de uma quest�o que nos afecta a todos - estudantes, jornalistas, professores, pol�ticos, cidad�os - por se tratar da esta��o p�blica, de dinheiro que � de todos, de uma mensagem que deveria ser para todos. E que parece ser produzida � medida de alguns, para reduzir a amplitude de an�lise e pensamento de quem v� as not�cias sem um olhar cr�tico, constante. Por isso quis deixar este pequeno apontamento, um pequeno contributo (sem ambi��o ou tratamento cient�ficos) para o debate.

(Guilherme Pires)

*

Devo come�ar por lhe dizer que n�o me encontro nos defensores deste governo, nem t�o pouco da RTP. Mas acho que devemos procurar ser justos nas nossas aprecia��es e n�o embarcar em campanhas como a que V.Ex� quer protagonizar: a de que a RTP tem favorecido o governo. Vejo os telejornais e, sinceramente, n�o me parece haver nada de compar�vel com o que consta que se passa na Venezuela. Pelo contr�rio. O que dizer, por exemplo, da forma com que ontem o telejornal abriu lan�ando a ideia de que "o governo declarou guerra aos bancos"? para todos concluirmos que este governo � conflituoso com todos os sectores; o que pensar daquele spot que come�a assim:"Ganhou o n�o no referendo..."?sendo afinal uma not�cia do anterior referendo ao aborto do tempo de Guterres. Dois exemplos apenas. Mas j� agora outro:Ent�o o senhor n�o acha vergonhosa a "entrevista" que foi feita no Canal Dois pela jornalista de servi�o � Ministra da Educa��o? Ser� aquilo uma entrevista? Bastava olhar para os olhos da entrevistadora, de que agora n�o me recorda o nome, para se ficar com a ideia de como a senhora detestava, ou mesmo odiava, a ministra. No final da pretensa conversa a jornalista tem o desplante de fazer a sua aprecia��o pessoal sobre os casos quentes do Minist�rio da Educa��o n�o ligando nenhuma, absolutamente nenhuma, import�ncia �s declara��es da Ministra. Bem esta queria acrescentar no fim algumas palavras, mas a jornalista, do alto do seu poder, alegou que n�o havia tempo. S� havia de facto tempo para a sua opini�o pessoal. A forma como essa entrevista decorreu diz bem da falta de educa��o da pivot, para al�m de constituir uma li��o de como n�o se deve entrevistar seja quem for - amigo ou inimigo.

N�o acho, pois, que o senhor tenha raz�o. Tenho a lamentar o facto de um homem inteligente, independente quanto baste, e observador muitas vezes arguto que d� gosto ler, tome algumas posi��es t�o parciais como a que constitui objecto desta cr�tica. Com que objectivo?

(Fernando Barros)
 


LUZ DO PORTO



Hoje, quase agora.

(Gil Coelho)
 


A FRAGILIDADE DE TUDO

Fora de Lisboa, como em Lisboa, tudo � fr�gil. Chove, falta a luz, v�o-se as estradas, desaparecem o telefone e a Internet em todas as bandas. Para quem trabalha em linha, n�o se pode trabalhar. Durante 24 horas sumiu o telefone e a Internet por estes lados, a menos de setenta quil�metros de Lisboa, como se fosse o Burkina Faso. At� a� poder-se-ia aceitar o que se passa como mal menor, outros sofrer�o mais, com as casas inundadas, sem transportes. Agora o que n�o se pode aceitar - para al�m do tempo infinito que tudo demora - � a desresponsabiliza��o que as empresas de telecomunica��es, supostamente na vanguarda de todas as tecnologias, ostentam face aos problemas dos seus clientes. Os "call centers", para garantirem a sua m�o de obra barat�ssima, reduzem os procedimentos ao n�vel do formul�rio para imbecis, com mecanismos t�o r�gidos que nos momentos de crise n�o servem para rigorosamente nada.

O servi�o da ADSL.pt para clientes profissionais ent�o � a suprema ironia: fornece um n�mero de telefone para avarias que n�o pode ser acedido pelo telem�vel, o �nico que funciona quando as linhas avariam, e ainda pede que se diga o que se est� a ver no �cr� de um computador que obviamente est� ao lado de um telefone morto. J� desconto o facto de durante parte do dia, o servi�o responder que n�o podia tomar conta das reclama��es porque estava o sistema "em manuten��o" e face � insist�ncia de que ao menos anotassem a avaria, a resposta ser um irritado "j� disse que o sistema est� em baixo, telefone noutra altura".

E que tal a PT, ou qualquer outra operadora, pelo menos para as assinaturas profissionais, ser obrigada ap�s um prazo razo�vel para corrigir a avaria, a ressarcir o cliente dos custos da interrup��o? Tenho a certeza que o servi�o melhoraria de imediato e as empresas seriam mais dedicadas a servir os seus clientes...

*
Est� cheio de sorte! Aqui por Penalva do Castelo, distrito de Viseu, foram mais de 200 cortes no abastecimento de energia em apenas 45 dias. No dia 20 de Outubro, entre as 14 e as 15h foram mais de 20. As consequ�ncias s�o as conhecidas: aparelhos queimados, mesmo as UPS. Dizem-nos que s�o "picos de energia" e que a "solu��o" � colocar um "descarregador de sub tens�o" no quadro el�ctrico. S� que o aparelhinho custa 250,00�.

Quanto � PT e ao ADSL subscrevo por baixo tudo o que escreveu. No meu caso foram 8 dias sem telefone e ADSL. E porque meti "cunha". A previs�o era de 2 semanas (de 20 de Outubro a 3 de Novembro). Ao que parece por causa das cheias em Leiria e Pombal. Tive de ir trabalhar para Viseu em casa de um amigo...

Se quiser mais pormenores basta ler a reportagem no "Jornal do Centro" da pr�xima sexta-feira 10 de Novembro.

(Ant�nio Vilarigues)

*

Sobre o pequenino texto que tem o t�tulo em ep�grafe, muito directo e verdadeiro, gostaria de acrescentar o seguinte, se permite: H� dias faltou, em algumas zonas de Lisboa, menos de uma hora de energia. "Caiu o Carmo e a Trindade ...", soaram sinetas de alarme, notici�rios em p�nico, t�tulo de primeira p�gina. H� duas ou tr�s semanas, estive entre 4 e 5 horas sem energia (e isto acontece v�rias vezes por ano!). "No pasa nada ...". Espera e aguenta.
H� em Portugal gente de 1�, 2� e 3�. H� tratamento diferenciado para os utentes de um mesmo pa�s.
Pode ser "natural", acredito. Para quem teve a desdita, de escolher morar "longe" de Lisboa, sofre consequ�ncias.

(Rui)

*

Nunca percebi muito bem porque � que a PT n�o oferece aos seus assinantes a possibilidade (alternativa) de receberem as Listas Telef�nicas em CD pois, mesmo que n�o fizesse qualquer desconto por esse facto, pelo menos os ganhos ecol�gicos seriam consider�veis. Claro que, quanto ao custo envolvido, as actuais listas em papel n�o devem constituir qualquer problema (antes pelo contr�ro), pois quem as consulta � porque tenciona fazer chamadas, e � atrav�s destas que o investimento � amortizado.
E foi por isso que fiquei perplexo quando soube que o Servi�o de Informa��es� (o velhinho �118�) passou a ser pago. � como ir a um restaurante e ter de pagar, al�m da refei��o, a consulta da lista!
NOTA: Esta analogia veio da associa��o-de-ideias com o facto de as pessoas se referirem � PT como sendo a Portugal Tele... Come.

(C. Medina Ribeiro)

6.11.06
 


INTEND�NCIA

Actualizadas as notas O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TLEBS DE NOVO , e LER, ESCREVER, CONTAR, VER TELEVIS�O E PESQUISAR EM LINHA - VOLTANDO � WIKIPEDIA com coment�rios de leitores.
 


CONTRA A PENA DE MORTE



logo contra a execu��o de Saddam. Sem nenhum "mas".
 


IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 3



"O princ�pio da sabedoria est� no temor a Deus."

Do Ecclesiasticus na Vulgata: Initium sapientiae timor Domini et cum fidelibus in vulva concreatus est et cum electis seminis creditur et cum iustis et fidelibus agnoscitur ...
 


LER, ESCREVER, CONTAR, VER TELEVIS�O E PESQUISAR EM LINHA
- VOLTANDO � WIKIPEDIA



(Continua��o das notas sobre a Wikipedia.)

A compara��o dos artigos da Wikipedia com os artigos de revista e com os jornais pode fazer-se, muitas vezes com vantagem para a Wikipedia, mas n�o me parece que seja a compara��o correcta. A quest�o com a Wikipedia n�o � apenas saber se esta � mais ou menos "correcta" no seu conjunto do que a informa��o dispon�vel noutras fontes. � saber como � que o erro, a falsifica��o, intencional ou n�o, s�o detectados, corrigidos ou evitados, num texto que aparece como sendo de refer�ncia.

Os artigos de uma enciclop�dia pretendem ter um estatuto de refer�ncia pelo que a sua compara��o tem que ser feita com textos com o mesmo estatuto e n�o com artigos de jornais.
Esta compara��o foi feita entre a Wikipedia e a Enciclopedia Britannica para as entradas sobre ci�ncia pela revista Nature, com resultados favor�veis para a primeira. Este estudo foi veementemente contestado pela Britannica e recebeu uma contra-resposta da Nature.
N�o h� maneira de escapar ao problema da valida��o cient�fica no julgamento da Wikipedia e isso levanta o problema da edi��o das entradas na enciclop�dia e coloca em causa o m�todo "democr�tico" dos "grandes n�meros" de colaboradores corrigindo-se uns aos outros. Os problemas adensam-se nas �reas das ci�ncias humanas e nas �reas mais perif�ricas, logo menos escrutinadas, da Wikipedia, como � o caso da parte portuguesa. O problema parece-me insol�vel quanto se trata de quest�es muito controversas, cultural, religiosa e politicamente sens�veis.

No momento em que a Wikipedia se torna cada vez mais uma fonte para os trabalhos escolares, e para a cita��o em linha de curto f�lego, ela revela de forma muito interessante todos os problemas das novas literacias que s�o necess�rias para trabalhar na Rede. Literacias ligadas � pesquisa e recolha de informa��o deveriam fazer parte de qualquer aprendizagem escolar desde o b�sico. Ler, escrever, contar, ver televis�o e pesquisar em linha, s�o as literacias b�sicas do dia a dia de hoje. Todas, e todas ao mesmo tempo.

A Wikipedia � uma grande realiza��o da Rede, compreende nas suas p�ginas uma imensa quantidade de informa��o, mas padece de problemas estruturais, que decorrem do seu modelo. Como muitas vezes acontece, o que lhe permitiu o sucesso � o que a torna doente. O debate sobre o projecto da Wikipedia � um dos que est� no centro dos problemas da Rede enquanto "f�brica de informa��o", e um dos debates do imediato futuro.

Continuaremos.

*

Um exemplo. Outro dos artigos proposto para os melhores da Wikipedia portuguesa � o artigo sobre a "Oposi��o � ditadura". Como o artigo sobre o PCP ele suscita as maiores reservas. No seu conjunto ele tem erros factuais, mas acima de tudo prop�e uma vis�o da hist�ria essencialmente ideol�gica, interpretativa politicamente. No in�cio do artigo, uma fotografia de Cunhal de um lado e de uma foice e o martelo do outro, mostram bem a intencionalidade pol�tica do texto, com a agravante em termos de legibilidade de ter sido corrompido por tentativas de introduzir um vocabul�rio valorativo com outras origens (p.e. "a Ac��o Revolucion�ria Armada (ARA), apoiada e criada pelo PCP, e as Brigadas Revolucion�rias (BR) se revelaram como uma importante forma de resist�ncia contra o sistema colonial portugu�s, praticando actos terroristas e atacando principalmente o Ex�rcito e as suas bases militares", sublinhados meus a vermelho).

Os problemas de estilo narrativo, que s�o fundamentais nas entradas em mat�rias de ci�ncias humanas, e em hist�ria em particular, colocam o texto ao n�vel das piores redac��es escolares infantis, como pode ver aqui:
A oposi��o foi muito importante para a Hist�ria de Portugal visto que ela contribuiu bastante para acabar a ditadura, acabando assim a repress�o, a guerra colonial e o isolamento. Muitos intelectuais e pessoas importantes, como Humberto Delgado, �lvaro Cunhal, Norton de Matos, participaram na oposi��o e contribu�ram muito. A oposi��o sofria muito com as persegui��es e repress�o da PIDE, a pol�cia pol�tica do Estado Novo, por isso ela optou pela clandestinidade. Muitos opositores foram for�ados a exilar-se para o estrangeiro e alguns at� foram assasinados pela PIDE, como o General Humberto Delgado.
N�o � preciso ir mais longe do que a caracteriza��o de um �nico per�odo da hist�ria da oposi��o (1926-1943) onde se somam os erros factuais, uns a seguir aos outros, as omiss�es, entre as mais flagrantes o papel da guerra de Espanha, com a vers�o desvalorizadora da oposi��o anarquista e republicana, que faz apenas nascer a oposi��o eficaz com os comunistas e, dentro dos comunistas, com a direc��o de Cunhal:
* Oposi��o fraca, desorganizada e violenta.

No princ�pio da ditadura, a oposi��o era desorganizada, era dominada por concep��es anarquistas que privilegiavam a ac��o violenta, radical e armada.

Os republicanos democr�ticos organizaram e comandaram v�rias revoltas como as de 1927, 1928 e 1931 e tiveram lugar no Porto, Lisboa, Set�bal, A�ores, Madeira e Guin�, mas todas elas fracassadas.

A revolta de 1934 que foi organizada pelos comunistas e oper�rios que tentaram op�r-se � corporativiza��o dos sindicatos, teve lugar na Marinha Grande, mas esta revolta, como as outras, fracassou.

Em 1935, os nacionais-sindicalistas, liderados por Francisco Rol�o Preto (um integralista, defensor do Corporativismo e fundador do Movimento Nacional-Sindicalista, um movimento cat�lico da Direita fascista, fundado em 1933 e proibido por Salazar em 1934 devido aos seus discursos anti-salazaristas), tentaram uma revolta ("tentativa de revolta do navio Bartolomeu Dias e do destacamento militar do Quartel da Penha de Fran�a") para derrubar o Estado Novo, em 1935, mas esta fracassou-se. Preto e alguns dos seus apoiantes nacionais-sindicalistas teve de exilar-se para Espanha.

Em 1938, um grupo de anarco-sindicalistas tentaram assassinar Salazar, o "Chefe", quando este se dirijia para a missa mas ele conseguiu escapar ileso."
A vermelho est�o sublinhados os erros, quer factuais quer de classifica��o e caracteriza��o. O resto do artigo � do mesmo g�nero.

*
N�o consegui deixar de esbo�ar um pequeno sorriso ao ler os seus coment�rios sobre a entrada que refere na Wikipedia.

Se a entrada tem do seu ponto de vista erros pode:

1 - Aceder � p�gina da Wikipedia e alterar o seu conte�do

2 - Criar uma p�gina de discuss�o onde poder� colocar as suas reservas face ao conte�do do mesmo.

E assim que vive a Wikipedia: altera��es e discuss�es.

E assim nasce uma enciclop�dia com 3,5 milh�es de entradas em 205 idiomas e dialectos.

Na vers�o inglesa existem 1.469.342 entradas e 6.277.941 de outras p�ginas como p�ginas de discuss�o onde os diferentes utilizadores podem trocar pontos de vista sobre os conte�dos das entradas (na vers�o portuguesa existem 194.011 entradas e 516.818 outras p�ginas).

Estas estat�sticas mostram o car�cter avassalador do projecto Wikipedia que apenas � poss�vel porque existe a Internet e pessoas dispostas a colaborar sem custos num projecto cujo objectivo �ltimo � criar uma base de conhecimento universal e de acesso gratuito.

Este projecto baseia-se em 2 pilares sendo um contratual e o outro
tecnol�gico:

1 - Licen�a GNU: esta licen�a nasceu em 1991 com o advento do software livre. Em termos b�sicos, esta licen�a afirma que todas as altera��es realizadas por algu�m a algo que est� afectado por uma licen�a GNU tamb�m ficam do dom�nio p�blico. Ningu�m pode reclamar como suas as altera��es que realiza a algo que j� � do dom�nio p�blico.

2 - Tecnologia Wiki: a Wikipedia assenta numa plataforma Wiki que n�o � mais que uma aplica��o de gest�o de conte�dos adaptada a portais colaborativos.
Todos podem alterar os conte�dos desse portal logo � importante ter um gest�o de vers�es onde todas as altera��es efectuadas s�o registas e existe sempre a possibilidade de colocar um artigo num estado anterior ao da sua modifica��o (como acontece nos casos em que as p�ginas s�o vandalizadas).

Os seus pontos de vista sobre a Wikipedia fazem-me lembrar as discuss�es sobre o software livre. Steve Balmer da Microsoft caracterizava esse software como um cancro porque n�o tinha qualidade. A semana passada, numa jogada magistral, a Microsoft assina com a Novell um contrato para uma melhor integra��o do Windows com o Suse Linux da Novell (ver aqui.)

Outros exemplos do "cancro" do software livre podem ser apontados como o Firefox e o OpenOffice.

A Wikipedia vive dos mesmos princ�pios que est�o no software livre e que provaram ser os ingredientes para uma receita de sucesso.

Eu sei as raz�es porque o Dr. Pacheco Pereira tem de dizer mal da Wikipedia.

A primeira � porque a Wikipedia veio mostrar que o saber n�o � propriedade de uma meia d�zia de pessoas que t�m acesso f�cil aos meios de comunica��o tradicionais (como televis�o) e que por isso podem brilhar. A Wikipedia mostra que existem milhares de Pachecos Pereiras t�o bons ou melhores que o original Pacheco Pereira.

Em 2� lugar atinge as suas fontes de rendimento. A elite intelectual vive de se ter de pagar para aceder ao saber (compra de um livro, de um jornal ou de uma enciclop�dia). A Wikipedia � algo que vai atingir algumas dessas fontes de rendimento.

Mas como em tudo na vida nada � garantido. Pode dormir em paz, Dr. Pacheco Pereira, porque a Wikipedia tem a sua sobreviv�ncia sempre em risco quer seja pela falta de volunt�rios para escrever artigos ou pela falta de donativos que s�o a �nica fonte de rendimento deste projecto.

(Daniel Nunes)

*

Convenhamos. Nem tudo � perfeito. A Wikip�dia, como qualquer outra coisa inventada por n�s, tem os seus pr�s e os seus contras. A minha opini�o vem a seguir. Obviamente conspurcada dos pr�s e contras da minha pr�pria exist�ncia intelectual.

Como pr�s destaco:

- consulta r�pida, f�cil e gratuita;

- utilidade do hipertexto;

- n�o h� impress�o do erro e ap�s a sua detec��o permite uma r�pida correc��o.

� ineg�vel a facilidade e a universalidade de consulta da Wikip�dia. As enciclop�dias de papel s�o demasiado caras e demasiado port�teis. O hipertexto � tamb�m de extrema utilidade que permite, no imediato, relacionar temas, nomes, palavras, conceitos, teorias. Por outro lado parece-me interessante que n�o haja a impress�o do erro. Numa enciclop�dia em suporte de papel o erro imprime-se e a sua detec��o � mais dif�cil (o nosso estado de alerta para o erro de uma enciclop�dia popular, por acharmos que � uma esp�cie de b�blia, est� praticamente adormecido) e a sua correc��o fica sujeita � edi��o de um novo volume, o que demora muito tempo e quase sempre tempo demais. Neste particular, a Wikip�dia assume vantagem porque permite a r�pida correc��o do erro.

Como contras destaco:

- o anonimato dos colaboradores;

- as entradas raramente est�o finalizadas;

- uso do espa�o para fins sociais perniciosos.

O anonimato dos colaboradores � potencialmente cr�tico. E digo potencialmente porque n�o considero que esta quest�o se coloque entre os que sabem tudo e os que sabem nada, sendo os primeiros os "colaboradores das enciclop�dias cl�ssicas" e do outro os "colaboradores da Wikip�dia". Isto levanta uma quest�o interessante e que tem a ver com a acredita��o das enciclop�dias. N�o tendo as enciclop�dias cl�ssicas (a partir de agora refiro-me desta forma �s enciclop�dias em suporte de papel) bibliografia, os seus cr�ditos s�o obtidos pelo nome da editora ou institui��o que a edita e pelo coordenador dos volumes. Espontaneamente associamos uma enciclop�dia cl�ssica a um trabalho feito por gente que sabe tudo, vulgarmente conhecidos por especialistas. A Wikip�dia seguiu o mesmo caminho, procurando credibilidade atrav�s do nome, algo que facilmente conquistou. Mas come�a a haver um maior cuidado no apoio bibliogr�fico das entradas o que pode ser uma vantagem para a Wikip�dia.

Repito. � um erro muito grande partirmos do princ�pio que esta quest�o se coloca entre os que sabem tudo e os que sabem nada. At� porque as enciclop�dias cl�ssicas, ditas de refer�ncia, tamb�m incluem erros e em propor��es n�o muito d�spares daquelas que apresenta a Wikip�dia. Vejamos um exemplo. Num coment�rio � obra "Vida de Arist�teles" de Ant�nio Pedro Mesquita, o Jos� Pacheco Pereira escreveu que �(...) O que nela se aprende n�o � apenas sobre Arist�teles, mas tamb�m sobre a f�brica de uma biografia antiga, as fontes, os textos, os boatos, os fragmentos, as querelas de autoria e de identifica��o, as vers�es pr�ximas ou long�nquas ao original. Este aspecto, sem desmerecer a qualidade da pr�pria biografia, ensina-nos muito sobre como se investiga a partir de uma realidade que os anos fragmentaram, dispersaram e corromperam, e isso diz-nos muito sobre o que o tempo e a hist�ria fazem a uma obra e � mem�ria de um homem.� O mesmo problema ocorre com o neurologista portugu�s Ant�nio Egas Moniz. As fontes secund�rias foram-se produzindo com base noutras fontes secund�rias (num total despreza pela fontes prim�rias, quanto mais n�o fosse para verificar a veracidade da informa��o) e dessa forma fomos assistindo ao longo do tempo a uma deforma��o da realidade e � cria��o de uma imagem que serve unicamente causas sociais absolutamente perniciosos. Resolvi por isso fazer uma coisa muito simples. Peguei no maior n�mero poss�vel de dicion�rios biogr�ficos e enciclop�dias, e fui pesquisar o dizem sobre a leucotomia, a lobotomia e sobre Ant�nio Egas Moniz . Os erros s�o imensos (ver aqui) e, pior, s�o erros impressos, que circulam sob a m�scara da credibilidade editorial. Quando detectados n�o h� forma de corrigi-los a n�o ser atrav�s da edi��o de um novo volume.

Para terminar, gostava de alertar para o perigo do uso do espa�o Wikip�dia com fins sociais perniciosos. Recentemente vi-me envolvido numa discuss�o contra desconhecidos (os tais colaboradores an�nimos) porque na entrada "Clara Pinto Correia", ainda muito incompleta, algu�m tinha colocado em destaque o epis�dio do pl�gio na revista Vis�o. A forma como aquela p�gina se apresentava era inaceit�vel pois era provinciano e difamat�rio. Depois de uma discuss�o (ver aqui) a situa��o ficou resolvida.

Na minha opini�o, a Wikip�dia pode ser um excelente instrumento de trabalho mas precisa de ser restruturada. N�o podemos ignorar o facto de a Wikip�dia ser usada como fonte bibliogr�fica por milhares de estudantes. Mas � tamb�m nossa obriga��o aproveitar o pretexto e repensar o modelo actual das enciclop�dias cl�ssicas que, convenhamos, deixam muito a desejar.

(Ricardo S. Reis dos Santos)

*

O que afirma sobre os artigos no seu post referidos � verdade. No entanto, esses artigos n�o citam fontes, fazem afirma��es n�o sustentadas e n�o s�o neutrais -- como bem refere no seu post.

Ora, os princ�pios da Wikipedia explicitamente recomendam que:

* "os artigos da wikip�dia devem ser imparciais, ou seja, devem ser escritos numa forma com a qual ambos (ou todos) os lados envolvidos possam concordar com ele." (aqui)

* "os artigos n�o devem conter conceitos, recolha de dados, pesquisas ou teorias que n�o tenham sido anteriormente publicados em ve�culos adequados e reconhecidos para o efeito." (aqui)

* "qualquer leitor dever� poder aferir que tal material foi j� publicado por uma fonte fi�vel" (aqui)

Donde:

1. N�o parece ser um problema fundamental com a Wikipedia

2. N�o se percebe como a entrada sobre a Oposi��o � Ditadura pode ser candidado a um dos melhores artigos. Deveria pelo contr�rio ser assinalado como opinativo e sem fontes (ver por exemplo o seguinte
artigo em ingl�s, onde est� visivelmente assinalado o facto de haver disputas acerca da precis�o dos factos).

3. Porque � que ainda ningu�m assinalou este artigo como contendo factos discut�veis ou como sendo opinativo, permanece para mim um mist�rio.

(Tiago Loureiro)

*

Num mundo ideal talvez a Wikipedia ou outra qualquer enciclop�dia podessem ambicionar a um estatuto de refer�ncia. A seguir ao importante acontecimento recente (durante o ICM2006), que foi o reconhecimento do matem�tico russo Gregory Perelman pela comunidade matem�tica internacional, atribuindo-lhe a medalha Fields pelo seu trabalho sobre a conjectura de Poincar�, a qual ele recusou, levantaram-se diversas quest�es. Uma relaciona-se com o papel dos jornais e revistas matem�ticas na valida��o e arquivo do conhecimento matem�tico, pois Perelman n�o procedeu da forma habitual, que seria submeter os seus artigos a essas revistas, antes divulgando-os apenas no servidor arXiv. O que � facto � que estes artigos foram considerados importantes para serem analisados pelos seus pares, embora tivesse havido uma quebra das regras. N�o estaremos perante um caso semelhante, quando falamos da Wikipedia?

(Am�rico C. L. Tavares)

*

A prop�sito dos marroquinos, espanh�is e portugueses no artigo da Wikipedia, conv�m referir que basta aceder ao hist�rico da p�gina.
Podem-se comparar as vers�es da p�gina. V�-se claramente quando e quem as efectuou. Um recurso valios�ssimo que est� ausente das vers�es em papel. E mais: pode-se ver que mais tem escrito cada pessoa!
Quanto � altera��o de vandalismo, pode-se ver claramente que foi efectuada �s 7:21 de 6 de Novembro e anulada �s 8:07 do mesmo dia. Um mero acto de vandalismo, facilmente resolvido. O problema coloca-se quando os v�ndalos s�o persistentes, o que felizmente n�o � muito frequente (e geralmente leva a que passado algum tempo se encerrem as altera��es � p�gina, para resolver o problema).
Gra�as � pr�pria Wikipedia, pude detectar uma altera��o do mesmo utilizador � p�gina da cidade do Porto, de menor teor, e anul�-la.

(Leonel)

*

Em resposta aos seus coment�rios sobre a fiabilidade da informa��o contida na Wikipedia, gostaria de levantar as seguintes objec��es:

1) At� agora, todos os artigos que consultei na Wikipedia estavam n�o s� correctos mas tamb�m, algumas vezes, mais completos e actualizados do que os seus correspondentes em enciclop�dias com edi��o revista. Mas tamb�m acrescento que praticamente todas as pesquisas que fiz foram relativas a temas cient�ficos e n�o hist�ricos e, se bem me lembro, nunca li nenhuma entrada em portugu�s.

2) Relativamente � fiabilidade dos artigos da �rea das ci�ncias humanas, talvez este artigo seja interessante.

3) Como j� disse, n�o conhe�o o n�vel geral dos artigos em portugu�s, ou relativos a assuntos portugueses, mas n�o ficaria espantado se fosse fraco. S� que eu n�o acho que isto seja uma falha da Wikipedia, acho que apenas reflecte a debilidade da nossa classe acad�mica, e a escassez do debate intelectual e cr�tico na nossa sociedade (e tamb�m a nossa irrelev�ncia no contexto intelectual global). Afinal, quantos erros semelhantes �queles que apontou s�o cometidos nas edi��es, seja de livros ou revistas especializadas, com revis�o, portuguesas?

(Jo�o Soares)
 


EARLY MORNING BLOGS

905 - Je te vends ma vache

Je te vends ma vache
Bonne � beurre
Bonne � lait
Bonne � veau
Bonne � tout ce que tu voudras
Un plat de morue
March� conclu
Ma vache est vendue.

*

Bom dia!

5.11.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NA AGUDA, PORTUGAL



Trabalho na praia de Aguda.

(Gil Coelho)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TLEBS DE NOVO



A prop�sito da Nova Terminologia Lingu�stica do Ensino B�sico e Secund�rio, e como Professora de Portugu�s, ocorrem-me muitas quest�es, sendo algumas as seguintes:

Que sentido faz para uma crian�a uma classifica��o como esta 'adv�rbio disjunto restritivo da verdade de asser��o'? Algu�m deseja explicar-me que significa isto?

E �gua , por exemplo, que , por Portugal inteiro tem sido uma farturinha? Vai ser um nome quantific�vel? mas � sempre quantific�vel? ou s� o � se estiver bem medida dentro de uma garrafa? Porque n�o vejo ningu�m a quantificar a �gua de uma catarata do Niagara, de uma cheia ou de uma enxurrada!

Que vai ganhar uma crian�a, aprendendo toda uma terminologia sobre a qual nem os pr�prios linguistas se entendem, para falar bem , escrever bem, dar as suas opini�es ? E para saborear as palavras de um texto?

(Ter�o que se queimar todas as gram�ticas e dicion�rios 'antigos'? J� houve quem dissesse que era tudo para ir para o lixo. Vamos ler de modo diferente, um Cam�es, um E�a , um Saramago, um Lobo Antunes?... Ou a ideia � essa mesma : deixar os bons livros para uns tantos intelectuais e afastar as crian�as e jovens deles por causa de tais terminologias? Ou j� se esqueceram da tremenda asneira de ensinar 'Os Lus�adas' quase s� � base da 'divis�o de ora��es', que tornaram, para muitos , a obra intrag�vel e detestada? E porque tem a nossa L�ngua, rom�nica, que submeter-se aos ditames da Gram�tica Inglesa , anglo-sax�nica?

N�o creio que os problemas do ensino da L�ngua Portuguesa se ultrapassem com estas medicinas, nem - parafraseando uns quantos versos de Fernando Pessoa - consta que os grandes Escritores da nossa L�ngua conhecessem tais Terminologias. E, no entanto, escreveram como escreveram.

Mas isto sou eu a divagar, uma simples e an�nima Professora de Portugu�s do 2� ciclo, pelo trig�simo quarto ano, que n�o sabe nada, nem pode nada...contra as modas! Ainda se lembram da experi�ncia da Gram�tica Generativa e das ' �rvores' todas? Pois, j� ningu�m se lembra... Mas, para os linguistas foi uma experi�ncia muito bonita!

(Alexandrina Pinto)
*
Na Nova Terminologia, ( um exemplo entre v�rios) nomes epicenos, sobrecomuns, comuns de dois que agora se retoma nem sequer � novidade nenhuma. Estudei esta terminologia na minha 4� classe , h� mais de quarenta anos...

(Alexandrina Pinto)

*

� O ensino da TLEBS, cujo conte�do contempla a Portaria 1488/2004, de 24 de Dezembro, sendo obrigat�rio e fazendo parte do curr�culo escolar, ter� que ser adoptado na escola.

� A Associa��o de Professores de Portugu�s (� claro que haver� outras que t�m outra percep��o) apoia a introdu��o da nova terminologia (que substitui a nomenclatura de 1967), pelas raz�es que podem ser consultadas no respectivo site, tendo essa associa��o deixado os contributos na feitura da TLEBS que ali se mencionam.

� Considera��es como se ser� preciso saber Lingu�stica para escrever ser�o sempre inconclusivas. De todo o modo, a Lingu�stica n�o � a ci�ncia que ensina a escrever obras liter�rias.

� � bem verdade que esta reforma, como todas as reformas, poder� ter conota��es ideol�gicas, como diz o Sr. Mith� Ribeiro. E tamb�m � bem verdade que o mesmo acontece com a �rea de Projecto, de objectivos totalmente falhados. Mas o problema mais prosaico da �rea de Projecto � que � visto como mera perda de tempo pelos alunos, por muitos professores ao que parece, e pelos pais, que estamos totalmente alheados do mundo escolar, por op��o e por imposi��o. � devastador para a credibilidade da escola que existam disciplinas cujo �nico objectivo percebido seja o de �perder� o tempo que podia ser dedicado as disciplinas �importantes�.

(Carmen Formigo)

*

Era bom que se distinguisse progresso cient�fico, t�cnico ou humanista de �engenharia social�. Caso contr�rio, continuaremos a ver apenas virtudes nas revolu��es e nos revolucion�rios. Para que conste, sublinho que a quest�o da TLEBS � apenas um sintoma de uma �Revolu��o Cultural � Portuguesa� que se arrasta no ensino b�sico e secund�rio h� meia d�cada. N�o discuto tecnicamente a TLEBS. Mas preocupa-me o sentido ideol�gico em que se enquadra. Outro exemplo clar�ssimo e n�o menos dram�tico que deriva do mesmo �esp�rito inovador� da TLEBS � a �rea de Projecto. Escrevo porque estou neste momento �com a m�o na massa�. Est� tamb�m a romper-se com o passado, incentivando, de modo quase bo�al, os alunos a realizar trabalhos de investiga��o apenas porque t�m umas luzes sobre leitura, escrita e �problemas sociais� (muitas vezes nem isso). � algo compar�vel � ideia do incentivo � actividade sexual na puberdade por ordem do Estado apenas porque biologicamente j� se est� apto. Est� a for�ar-se de modo compulsivo a maturidade intelectual e c�vica. Corremos o risco com estas �experi�ncias� de n�o s� n�o inovar, como matar em idades precoces o interesse futuro por projectos de investiga��o ou desviar os professores de modo inaceit�vel de uma determinada empatia que desenvolveram ao longo da vida com o conhecimento. E vamos caindo em banaliza��es e simplismos irrespons�veis, como se o social se mudasse por decreto e por muitas ac��es de forma��o.

Sobre a �rea de Projecto, adolescentes que, por exemplo, frequentam agora no 7� ano, arriscam-se a chegar ao 12� ano com �n� �investiga��es� ou �projectos� sobre droga, sexo, terrorismo, viol�ncia, religi�o, racismo, doen�as terminais, eutan�sia, m�sica, desporto, ambiente, cinema, etc. A lista de temas da �rea de Projecto por esse pa�s fora, para pessoas com dois dedos de testa, mostra claramente que na esmagadora maioria dos casos tratam-se de temas de grande sensibilidade moral, intelectual, cultural, ideol�gica, acad�mica, aqueles que exigem mais saber e maturidade para serem tratados com o m�nimo de seriedade; ou ent�o s�o temas que em si e no modo como s�o tratados servem objectivamente para denegrir o papel intelectual e civilizacional da escola. Est� a brincar-se com a vida social, com as institui��es e com o conhecimento naquilo que h� neles de mais profundo. Como tudo tem sido feito, a �Revolu��o Cultural� que o Estado est� a impor �s escolas � t�o perigosa e socialmente nefasta quanto o simplismo intelectual da �Revolu��o Cultural Chinesa�.

No caso da �rea de Projecto, porque a iniciativa � entregue aos alunos, a massa popular de onde brotam as preocupa��es e quest�es �genu�nas�, o resultado pr�tico � demonstrar como o Estado est� a dar o seu melhor para estupidificar os mais carenciados, a maioria dos alunos da escola p�blica. Enquanto as turmas excepcionais de classe m�dia escolhem temas como �o ambiente�, �o teatro� ou �a arte�, a esmagadora maioria das turmas de classe m�dia-baixa e baixa anda � volta do �sexo, drogas & viol�ncia�. Quando, por exemplo, se solicita aos alunos organizados em grupos (outra medida �colectivista�) que coloquem quest�es que gostariam de ver esclarecidas sobre o �seu� tema, surgem em adolescentes de 12-13 anos quest�es do tipo �Quais s�o as vantagens e desvantagens do sexo oral?�, �Porque � que os jovens praticam tanto sexo?�, �Quais as drogas com maior consumo?�. Uma vez que as turmas n�o s�o rigorosamente homog�neas (e mesmo que assim n�o fosse), o Estado Democr�tico for�a-nos a colocar crian�as com um mais saud�vel enquadramento familiar (e felizmente distantes destas quest�es), face a problemas que �a turma acha importantes que sejam debatidos�. Portanto, n�o s� n�o se resolvem os problemas de quem os tem, como se permite que eles sejam irresponsavelmente modeladores de comportamentos e atitudes dos outros, esses outros � alunos e professores � que o Estado deveria formar e proteger da barb�rie. Se juntarmos a isso a desorienta��o (e at� uma justa revolta entre os professores) provocada pelas TLEBS, percebemos como se gere a educa��o.

Um Estado que corta nos excessos (e bem!) e que deveria ser racional, deveria esclarecer quanto custam ao er�rio p�blico por dia as �reas Curriculares N�o Disciplinares (�rea de Projecto; Estudo Acompanhado e Forma��o C�vica). Cada turma consome cerca de um dia inteiro de aulas com tais barbaridades que podem equivaler a mais de um quinto dos sal�rios pagos aos professores. Pior: h� professores impedidos de ter mais horas da sua disciplina que tanta falta fazem (como hist�ria no 7� ano) porque o seu tempo lectivo e dos seus alunos � ocupado com essas �causas-mao�stas-vers�o-s�culo-XXI�.

(...) Por muito que seja uma solu��o terceiro-mundista, espero que as elites que est�o a oferecer de m�o beijada um novo Estatuto da Carreira Docente � Ministra como panaceia para os males da educa��o, ao menos exijam em troca um pouco de intelig�ncia, dignidade e estabilidade para o ensino. Quantas mais d�cadas isto continuar�?

(Gabriel Mith� Ribeiro)

*

Tendo sido aludida pela Sra. D. C�rmen Formigo que n�o conhe�o de parte nenhuma, cumpre-me apenas dizer que:

- n�o tenho que aprender nada que muitos linguistas dizem que est� errado;
- que , como a referida Senhora n�o me conhece n�o sabe o que j� estudei pela vida fora e continuo a estudar todos os dias, porque n�o sei nada. A �nica motiva��o para ensinar s�o os meus alunos, os de trinta e tr�s anos e os actuais. � perante com eles que sinto responsabilidade.
- para que eu n�o seja Professora das suas crian�as � muito f�cil, deve saber como se faz;
- e repito que nenhum dos GRANDES ESCRITORES da nossa L�ngua precisam de saber Lingu�stica para serem GRANDES. Muitos nem sequer estudaram Humanidades, como agora se chama.Com certeza, Cam�es n�o estudou.

Com isto , (...) dou por finda esta troca de palavras que nunca imaginei poder originar, apenas quis mostar o meu sentir e de muitas colegas que n�o t�m coragem de o dizer para n�o serem mal interpretadas. Eu, com a idade que tenho, j� n�o me impressiono com ataques. Muito menos vindos de quem n�o me conhece e que se sente autorizado a fazer ju�zos de valor sem conhecer a minha vida profissional.

(Alexandrina Pinto, Professora de Portugu�s do 2� ciclo)

*

Como m�e de alunos do 2� Ciclo, preocupa-me a resist�ncia � auto-forma��o cont�nua da professora Alexandrina Pinto, na medida em que pode ser representativa do que acontece entre, espero que muito poucos, professores.

Ningu�m tem que explicar aos professores a Nova Terminologia Lingu�stica. Antes deveriam ser eles a procurar aprender (t�m informa��o disponibilizada pelo Minist�rio de Educa��o desde, pelo menos, 2004 e capacidades intelectuais suficientes). Porque aprender sempre � o que todos esperamos que fa�am os m�dicos que nos curam, os engenheiros que constroem as nossas casas e os professores que ensinam os nossos filhos.

A TLEBS � aplicada por fases, segundo me parece. Os alunos n�o levam com toda ela de uma vez.

A terminologia cient�fica � necess�ria em todas as disciplinas cient�ficas, da Matem�tica � F�sica, da Biologia � L�ngua.

N�o h� que deitar fora as gram�ticas antigas, que s�o imprescind�veis. Mas a verdade � que, custe a quem custar, a ci�ncia evolui. H� muito que a medicina deixou de se basear no estudo dos quatro humores e na receita de sangrias.

Tenho a certeza de que os escritores conhecem o funcionamento da l�ngua, porque o estudaram. Quem n�o o conhece, poder� escrever, mas n�o � escritor. Se dominam ou n�o a terminologia cient�fica, � outro assunto totalmente diferente.

Todos os professores, an�nimos ou n�o, t�m que estudar. N�o podem ter medo e, pior ainda, incutir aos pais e aos alunos, medo dos novos avan�os cient�ficos. O conhecimento humano � cada vez maior. Custa cada vez mais trabalho saber. Hoje, estudar � uma tarefa que n�o tem mais fim.

(Carmen Formigo)
 


CORES � VOLTA



Figueira, damasqueiro, t�lia, cam�lia, �rvores perdendo-se das cores antigas.

 


INTEND�NCIA

Actualizada a nota O PROBLEMA DA WIKIPEDIA: OS ERROS DO ARTIGO �PARTIDO COMUNISTA PORTUGU�S� com exemplos enviados pelos leitores que confirmam as maiores reservas quanto ao "conte�do" portugu�s da Wikipedia.

[NOTA: depois das refer�ncias a estes textos, quer o do PCP, quer outros citados pelos leitores - o texto absurdo na entrada em ingl�s sobre Portugal estava de facto em linha, verifiquei-o pessoalmente - foram retirados. � hora a que escrevo (12 horas), o texto ingl�s foi retirado e no texto sobre o PCP aparece uma anota��o que diz "A Wikip�dia n�o tem um artigo com este nome." Vai ser interessante assistir � evolu��o deste caso, escrita pela "m�o invis�vel" dos internautas, mas, at� por isso, a iniciativa que aqui se tomou veio revelar o problema de fundo da "informa��o" da Wikipedia. Mesmo que a coloca��o de textos fraudulentos tenha sido feita intencionalmente para comprometer o projecto da Wikipedia, nem por isso o facto de eles permanecerem em linha deixa de p�r em causa a credibilidade da enciclop�dia como refer�ncia, potenciado pela prioridade que o Google d� �s suas entradas em qualquer procura. Depois, subsiste outro problema suplementar: como � que "informa��o" t�o flagrantemente errada permanecia em linha, sem que fosse posta em causa a sua qualidade, durante tanto tempo?]

NOTA 2: Conforme mensagem de Jos� Carlos Santos, a informa��o respeitante � p�gina original do PCP encontra-se ainda hoje, com os mesmos erros, noutra liga��o distinta (aqui tamb�m) daquela onde ainda ontem se encontrava o mesmo texto. Quanto ao texto citado da p�gina inglesa sobre Portugal, esteve em linha 14 horas como se pode ver aqui. O texto foi apagado depois de o Abrupto o ter referido.

Em contrapartida, j� h� anos que a Encyclopaedia Britannica cont�m um erro crasso no artigo sobre Pedro Nunes que, tanto quanto sei, continua por corrigir.

(Jos� Carlos Santos) ]

Actualizada a nota O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO com os coment�rios dos leitores.

Em actualiza��o durante o dia de hoje os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

*

O Sr. est� a cometer um erro nas suas aprecia��es sobre a entrada do Partido Comunista Portugu�s na Wikipedia.

Quer na vers�o em Portugu�s quer na vers�o em Ingl�s j� existe vai para muito tempo as entradas sobre o PCP:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Comunista_Portugu�s

http://en.wikipedia.org/wiki/Portuguese_Communist_Party

O que acontece � que os seus links est�o mas escritos no seu blog. O link que tem no seu blog � este:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Comunista_Portugu%C3%83%C2%AAs

E se clicar obviamente que o Wikipedia lhe vai dizer que n�o existe nenhum artigo sobre o Partido Comunista Portugu%C3%83%C2%Aas.

Isto acontece quando no blogger se copia directamente do browser os links da Wikipedia que t�m caracteres acentuados. O blogger ao gravar o post altera os caracteres acentuados do URL. Por exemplo o � � subsituido por %C3%83%C2%AA.

Para que isso n�o aconte�a deve depois de copiar/colar o link da Wikipedia para o Blogger apagar os caracteres acentudados introduzindo-os novamento no URL que acabou de colar (descobri isto porque no meu blog fa�o v�rias links para a Wikipedia e ao inicio tamb�m me dava esse erro).

Espero que sinceramente publique uma correc��o ao que afirmou sobre os artigos do PCP porque eles sempre estiveram na Wikipedia e n�o foi necess�ria a interven��o do Abrupto para a sua exist�ncia.

(Daniel Nunes)

[NOTA : N�o tenho d�vidas sobre o que diz o leitor, tanto mais que o mesmo aconteceu com a liga��o ao artigo sobre a oposi��o. Mas tamb�m � verdade que tendo verificado as liga��es logo a seguir � coloca��o da nota, elas funcionavam correctamente, e o mesmo aconteceu com outros leitores que tiveram a ocasi�o de p verificar seguindo a liga��o. De qualquer modo n�o � esta quest�o que � central para mim, mas sim o facto dos erros continuarem em linha v�rios dias depois de serem assinalados. A "m�o invis�vel" dos editores colectivos da Wikipedia n�o parece actuar e � relevante para esta pequena experi�ncia que n�o seja eu a corrigir. Ali�s teria muita dificuldade porque o texto todo � mau, teria que ser substitu�do em conjunto.]
 


RETRATOS DO TRABALHO NA ILHA DE MO�AMBIQUE, MO�AMBIQUE



Resolu��o de equa��es de 2� grau.

Ao ver a foto da escola no Qu�nia lembrei-me desta foto, tirada em 2005 na Ilha de Mo�ambique. Impressionou-me a vontade daqueles alunos, de camisas pu�das, quase rotas, mas impecavelmente brancas, de sairem dos musseques e irem � escola, numa zona t�o pobre. Uma li��o.

(JPTelo)
 


EARLY MORNING BLOGS

904 - Papivole


Papivole
Vole vole
S'il faut chaud
Vole en haut
S'il fait frou�
Va te cacher.

*

Bom dia!

4.11.06
 


COISAS SIMPLES



(Giorgio Morandi)
 


RETRATOS DO TRABALHO NO RIO TEJO, PORTUGAL



Afinando cabos, Setembro 2006.

(MJ)
 


O PROBLEMA DA WIKIPEDIA:
OS ERROS DO ARTIGO �PARTIDO COMUNISTA PORTUGU�S�




O debate sobre a Wikipedia tem vindo a acentuar-se no �ltimo ano, referindo-se a enorme massa de informa��o dispon�vel em linha, numa dimens�o sem paralelo com as enciclop�dias tradicionais no papel e na Rede, assim como o seu aspecto de projecto de colabora��o colectiva volunt�ria, sem autoria, mas tamb�m sem edi��o qualificada. � este �ltimo aspecto que mais reservas tem suscitado � Wikipedia como fonte de conhecimento rigoroso e cient�fico, e que tem levado os respons�veis da pr�pria enciclop�dia a refor�ar o seu controlo editorial. No entanto, quanto mais remoto for o tema, e quanto mais sens�vel do ponto de vista ideol�gico e pol�tico for, maior � a probabilidade de a Wikipedia ser o reposit�rio n�o s� de erros factuais graves, como de falsifica��es deliberadas. Um caso t�pico deste g�nero de problemas � a entrada �Partido Comunista Portugu�s�.

Todo o texto � confuso, mal escrito, parece ter sido pensado ou escrito originalmente numa l�ngua estrangeira, cont�m erros factuais graves e revela como um conjunto de colabora��es contradit�rias (pr� e contra a institui��o PCP e o comunismo) d�o origem a um texto ideologicamente controlado, n�o s� in�til como perigoso como fonte para qualquer leitor, estudante ou investigador que o queira usar de boa f�.

Como autor de muitos trabalhos sobre o PCP, nalguns casos os �nicos existentes para determinados per�odos da sua hist�ria, eu reconhe�o muito facilmente o que deles foi retirado, embora n�o haja nenhuma atribui��o na bibliografia, que privilegia como fontes hist�ricas os textos oficiais do PCP. Percebe-se que houve colaboradores da Wikipedia que tentaram introduzir alguns dados exteriores � hist�ria oficial do PCP, mas que acabaram por ser vencidos por outros colaboradores que impediram o texto de se afastar da ortodoxia. O resultado � um texto in�til e, acima de tudo, enganador.

Vejamos alguns exemplos (a vermelho os textos originais da Wikipedia a que me refiro)

1.
O Partido Comunista Portugu�s ou PCP, � um partido pol�tico de esquerda. � um partido comunista marxista-leninista e a sua organiza��o � baseada no centralismo democr�tico. O partido considera-se tamb�m patri�tico e o internacionalista.
Uma algaraviada ideol�gica e pol�tica, in�til como caracteriza��o. O PCP � tudo e o seu contr�rio.

2.

Ap�s o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, Portugal caiu numa grave crise econ�mica, em parte devido � interven��o militar na guerra. A classe dos trabalhadores respondeu ao deteriorar do seu n�vel de vida com uma onda de greves. Com o apoio da Uni�o Oper�ria, cresceram as movimenta��es reivindicativas e, no fogo dessas lutas, a classe oper�ria conquistou, finalmente, a hist�rica vit�ria da jornada de 8 horas de trabalho.
Errado.

3.

Em Setembro de 1919, o movimento da classe dos trabalhadores fundou a Confedera��o Geral do Trabalho, ou CGT. Contudo, a falta de poder pol�tico devido, por sua vez, � falta de uma estrat�gia pol�tica coerente entre os trabalhadores, levou � funda��o da Federa��o Maximalista Portuguesa (FMP) em 1919. O seu principal objectivo era promover ideias revolucion�rias e socialistas, e organizar e desenvolver um movimento dos trabalhadores.
Afirma��o puramente de ortodoxia ideol�gica e n�o hist�rica.

4.
Ap�s algum tempo os membros da FMP sentiram a necessidade de uma "vanguarda revolucion�ria" entre os trabalhadores Portugueses. Depois de v�rias reuni�es em v�rias sedes dos sindicatos, e com a ajuda da Comintern, foi fundado o Partido Comunista Portugu�s, ou PCP, como a sec��o Portuguesa do Internacional Comunista (Comintern), no dia 6 de Mar�o de 1921.
O mesmo do anterior.

5.

O quinto congresso, realizado em Setembro de 1957, foi o primeiro e �nico a ser realizado fora do pa�s. Em Kiev, na Uni�o Sovi�tica, o Partido aprovou os seus primeiros programas e estatutos.
Errado. O V Congresso realizou-se no interior de Portugal e s� VI Congresso � que foi em Kiev.

6.
O congresso tomou, pela primeira vez, uma posi��o oficial em rela��o ao Colonialismo, defendendo que todas as pessoas t�m o direito � auto-determina��o, e deixou claro o apoio aos movimentos populares de liberta��o das col�nias Portuguesas, como o MPLA em Angola, FRELIMO em Mo�ambique, e PAIGC na Guin�-Bissau.
Hist�ria oficial. O anexo sobre as col�nias � contradit�rio com os documentos pol�ticos do pr�prio Congresso e � um documento que s� � valorizado na hist�ria oficial pela necessidade de encontrar uma posi��o anti-colonial politicamente correcta antes do in�cio da luta armada em 1961.

7.

Toda a parte respeitante a 1974-5 ilude o "PREC" e n�o fala no 25 de Novembro


8.
No final dos anos 80, o Bloco Socialista da Europa de Leste come�ou a desintegrar-se e o Partido passou por uma das maiores crises na hist�ria.
O que � o Bloco Socialista da Europa do Leste? Ser� que se quer dizer que permaneceu intacto o Bloco Socialista Asi�tico ou Latino-Americano? Terminologia pol�tica e ideol�gica.

9.

Lista de L�deres: J�lio Foga�a (1942-1961)
Errado. Foga�a nunca assumiu cargos formais de lideran�a e o seu poder manifesta-se apenas de 1956 a 1961, sempre num clima de contesta��o interna.


Etc., etc.

*

Este artigo � um dos candidatos a "melhor artigo da Wikipedia em portugu�s", o que diz muito sobre a inconsist�ncia da escolha. Esta meia d�zia de exemplos podia ser refor�ada por muitos erros, omiss�es, falsifica��es noutros artigos para que este remete, como a Cronologia do PCP para v�rias entradas sobre a oposi��o portuguesa e o sistema pol�tico-partid�rio nacional.

Haver� quem diga que, em consequ�ncia, o que h� a fazer � introduzir estas altera��es na Wikipedia, corrigindo-a. Duvido que assim seja, at� porque n�o acredito que qualquer "m�o invis�vel" colectiva consiga escrever artigos cient�ficos sem uma edi��o especializada, quer quanto ao seu conte�do quer quanto � sua forma, visto que a escrita narrativa � um elemento fundamental na compreens�o de um texto hist�rico. A Wikipedia � um esfor�o gigantesco, bem avontadado, e que utiliza recursos que s� existem hoje em linha na Rede. Mas, sem um crit�rio de valida��o, serve pouco para o trabalho cient�fico.

*

O coment�rio de um seu leitor ao artigo da Wikipedia sobre Crist�v�o Colombo trouxe-me � mem�ria um livro autobiogr�fico de Cavanna, chamado B�te et M�chant. A�, o autor descreve a sua viagem, levada a cabo em meados dos anos cinquenta, at� � terra natal do seu pai: Bettola, em It�lia. Quando ele chegou � pra�a central da terra, viu que havia l� uma est�tua. Foi ver o que dizia o pedestal e, para seu grande espanto, leu:

QUI NELLA CITTA DI BETTOLA E NATO NELL' ANNO 145O CRISTOFORO COLOMBO NAVIGATORE ITALIANO IL QUALE PRIMO DI TUTTI SCOPRI L'AMERICA

Isto n�o fazia sentido! Como era poss�vel que nunca nenhum dos seus parentes origin�rios daquela regi�o lhe tivesse alguma vez mencionado que Bettola era a terra natal de Crist�v�o Colombo? Cavanna viu ent�o o padre da igreja local e p�s-lhe aquela d�vida. O padre explicou-lhe que, em toda aquela regi�o, em praticamente qualquer povoa��o com mais de mil habitantes havia uma est�tua, mais ou menos bem conseguida do ponto de vista art�stico e de riqueza do material, onde era dito de forma inequ�voca que Crist�v�o Colombo nascera l�.

J� agora, n�o resisto a transcrever o texto da contra-capa do livro em
quest�o:

Qualquer semelhan�a entre nomes citados neste livro e imbecis vivos n�o passa de pura coincid�ncia. Com efeito, tive o cuidado de mudar o nome dos imbecis, pois os imbecis s�o maus e eu sou cobarde.

Consequentemente, qualquer semelhan�a entre nomes citados neste livro e nomes de pessoas vivas � uma homenagem � n�o-imbecilidade dessa pessoas. A menos, naturalmente, que elas desatem a fornecer a demonstra��o, arranjando-me chatices, de que errei ao confiar nelas neste aspecto.

(Jos� Carlos Santos)

P. S. Sobre Cavanna, pode consultar a Wikipedia.

*

Venho pelo presente chamar a aten��o para o conte�do da entrada "Portugal" na wikipedia em l�ngua inglesa. Penso que o teor, que em seguida reproduzo, � suficientemente eloquente para merecer a aten��o sobretudo pelo rigor cient�fico que presumivelmente se prop�e demonstrar, atestado por diversas cita��es.
Qualquer que tenha sido a inten��o do seu autor,julgo que a perplexidade n�o poder� ser menor que a minha.

(David Guerra Bonif�cio, Duke University Law School)


"The Status of Portugal

Portuguese rebels led by General Spinola were engaged in heavy fighting against successive Spanish and Moroccan regimes from 1960 to 1971. In March 1973, Spain announced a peace plan providing for Portuguese autonomy. The plan was to be implemented in four years.[3] However, at the same time, the Franco regime started an Spaniardization program in the peasant regions of Faro and Azores.[4] The peace agreement did not last long, and in 1972, the Moroccan government began a new offensive against the Portuguese claiming them to be rightfully Moroccan. Moreover in March of that year, Spain and Morocco signed the Palermo Pact in Sicily in front of international monitors according to which Morocco cut supplies to Portuguese people. Spain then started yet another wave of Spaniardization by moving Catelans to the holiday regions of the Algarve, particularly the ones around the seaside.[5] Between 1975 and 1978, 700,000 Portuguese rebels were deported to other parts of Spain.[6] During the Anglo-Argentinian war in 1982, the regime implemented anti-Portuguese policies and a de facto civil war broke out. Spain was widely-condemned by the international community, but was never seriously punished for oppressive measures, such as mass murder of hundreds of thousands of civilians, wholesale destruction of thousands of villages and deportation of thousands of Portuguese to southern and central Europe. The campaign of the Moroccan government on the other hand against Portuguese in 1988 was called Anfal (Spoils of War). The Anfal attacks led to destruction of 2,000 villages and death of 300,000 Portuguese.[7]

After the Portuguese uprising in 1991 (Portuguese:Raper�n, led by the Portuguese Peasant Army and Portuguese Fascist Factor), Moroccan troops finally recaptured the Portuguese areas, hundreds of thousand of Portuguese returned to their homes. To alleviate the situation a safe haven was established by the Security Council. The autonomous Portuguese area was mainly controlled by the rival parties PFF and PPA. The Portuguese population welcomed the entry into NATO by Spain. The area controlled by peshmerga was expanded, and Portuguese peasants now have effective control in Porto and parts of Northern Portugal. By the beginning of 2006 the two Portuguese areas were merged into one unified region. A series of referenda are scheduled to be held in 2007, to determine the final borders of the Portuguese region. For now it remains an autonomous province of Morocco and no longer a Spanish Crownland as it was before September 2, 2002."

*

A Wikip�dia parte duma ideia simples: que cada um d� um pouco do que sabe para contribuir para o conhecimento de todos. Com isso quem n�o sabe aprende, quem julga saber pode ser corrigido e quem sabe ensina. Mas s� em Utopia se considera que o conhecimento vale pelo conhecimento em si e que este n�o � um instrumento de domina��o.

Contudo, no mundo real nada disto se passa. Aqui, o conhecimento, a sua aus�ncia ou a sua manipula��o s�o usados para dominar, para prevalecer sobre os demais, por isso n�o � estranho que um instrumento simples como a Wikip�dia seja transformado no oposto daquilo para que foi concebido.

Tal como o exemplo da entrada �PCP�, a de �Crist�v�o Colombo� tamb�m � candidata a "melhor artigo da Wikipedia em portugu�s" - que anedota!

- O que t�m os dois em comum?

- Ambos s�o pseudo-hist�ria com uns pequenos laivos de Hist�ria.

(Jo�o C. da Silva de Jesus)

 


EARLY MORNING BLOGS

903 - Rain-Songs

The rain streams down like harp-strings from the sky;
The wind, that world-old harpist sitteth by;
And ever as he sings his low refrain,
He plays upon the harp-strings of the rain.

(Paul Laurence Dunbar)

*

Bom dia!

3.11.06
 


RETRATOS DO TRABALHO NO QU�NIA



Fotografia tirada em 2003 numa aldeia El Molo no Lago Turkana, Qu�nia.

(Jo�o Monge)
 


O INVERNO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO



As pessoas t�m os estados de alma associados ao tempo. Come�a a entrar-se no Inverno, nem sentem o Outono. Vem as brumas e as chuvas e entra-lhes a morrinha da nossa Rosalia pela pele dentro. Come�a a chover-lhes na alma e a ficarem tristes e deprimidas. Os psiquiatras recebem novos clientes. Os div�rcios come�am a gerar-se nas zangas cont�nuas. A casa conjugal parece um fardo infinito, com cada parede a exclamar: "Esta n�o � a vida que sonhavas." Namoros acabam lavados em l�grimas e recrimina��es. Nos quartos min�sculos dos sub�rbios muitos adolescentes escrevem di�rios e poemas e abrem blogues. O telem�vel sobrecarrega-se de chamadas s� para falar, por falar. Tudo parece mais penoso, tudo parece mais pesado, a exist�ncia um fardo.


Estas nuvens pertencem a um quadro de Courbet intitulado Eternidade, uma das mais dram�ticas ilustra��es da rela��o entre o tempo e uma ideia abstracta, ou um sentimento. O mau tempo, as nuvens amea�adoras, s�o a eternidade. O fragmento dela que vivemos � como este c�u, este mar, estas rochas.
C� fora o mundo exterior encarrega-se de atirar ainda mais cinza para as almas perdidas no Inverno. Chega o Inverno, nas cidades chega o inferno. As ruas tornam-se intransit�veis, os transportes um mart�rio. Os carros nas ruas triplicam como por milagre e tudo fica bloqueado. Trajectos de um quarto de hora demoram uma hora. Molhada, encharcada, cansada. Levar os filhos � escola � perder as horas certas para entrar no emprego.


Ningu�m melhor que Hopper...

Comer de p�, num qualquer caf� transformado em restaurante de almo�os r�pidos, � participar numa colis�o de corpos informes e desconfortados, guarda-chuvas a pingar, competindo por uns cent�metros de balc�o pouco limpo. Nada aquece, nada est� aquecido. Aquela sopa n�o se pode comer, n�o sei porque venho sempre aqui. Sei, sei, � mais perto, � mais barato.

A imensa humidade que se espalha por todo o lado entra em tudo. Mesmo quando se olha pelo vidro da janela, quando se tem a sorte de ter uma janela por perto, tudo est� t�o completamente cinzento, castanho, pardo que n�o h� cor que sobreviva. O c�u est� da cor da televis�o, dizia Gibson. Est�, da cor da est�tica, do ru�do. Como n�o temos h�bito de usar as flores para colorir os espa�os, o n�on brilha com crueza. Tudo se habita mal quando todos habitam mal em si pr�prios.

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The sky above the port was the color of television, tuned to a dead channel.

Depois h� menos dinheiro, cada vez menos dinheiro. Em contrapartida h� cada vez mais d�vidas dif�ceis, os cart�es de cr�dito mostram a sua face rapace, por detr�s da enganadora facilidade de comprar sem pagar dinheiro. Falta dinheiro para comprar os livros para a escola, centenas de euros se se fizesse o que a "escola" pedia. Falta dinheiro para pagar esta an�lise, demasiado cara. Falta dinheiro para o aparelho dos dentes. Os telem�veis do pai, da m�e, do filho adolescente, da filha no 3.� ano da escolaridade, custam cada vez mais, mas como � que se pode viver sem eles?
�gua, luz, TV Cabo com Sport TV, o carro, as compras no supermercado, as viagens, as presta��es da casa, da mob�lia t�o gentilmente empurrada pelo cr�dito ao consumo, das f�rias, sobem sem parar. J� fui uma vez ao Corte Ingl�s, agora vou ao Modelo, amanh� irei ao Lidl. Felizmente que os jornais gratuitos j� n�o obrigam a comprar outros jornais que n�o os desportivos. E h� as revistas, a Nova Gente, a Lux, que tamb�m s�o t�o caras como indispens�veis. Como � que eu saberia com quem "anda" a Elsa Raposo sem ler a literatura especializada? O rapaz vem da escola a querer s� roupa de marca, embora se contente com roupa de marca comprada na feira, aos ciganos, desde que tenha a etiqueta. Vai querer um computador s� para ele, para "estudar". Ser� que ele se droga? Parece t�o cansado, brusco...


Este cinzento � o fundo do quadro O Inverno de David Teniers, o Jovem, pintado por volta de 1644, quatro anos depois da Restaura��o, reinava Sua Majestade D. Jo�o IV. As cores do Inverno n�o mudam.
Inseguran�a. Mais inseguran�a, medo, preocupa��es. Medo de ir � rua � noite, medo de ir ao Multibanco mesmo quando preciso, medo que me risquem o carro, que me roubem o r�dio, j� que a antena eu levo para casa todas as noites. Atarracho, desatarracho. A culpa � de quem trouxe os pretos para aqui. N�o respeitam nada. As f�bricas t�xteis fecham no Ver�o, ou melhor, n�o abrem no Outono. Mas como ser� na empresa, no escrit�rio, onde o neg�cio anda mal? Vou ser despedido? E na reparti��o ser� que a minha mulher vai para o quadro dos excedentes? O chefe vai ter que nos classificar, mas ele foi l� posto pelo PS (ou pelo PSD) e vai de certeza escolher os da "cor".

Os professores entram na escola desinteressados e sentindo-se humilhados. Como � que pode ser doutra maneira com "esta" ministra? Pois vou ter que passar horas a "substituir" a minha colega que faltou? Est� bem, como n�o sou obrigado a ensinar nada, estas horas n�o podem ser "lectivas", ponho-os a jogar e a fazer puzzles ou simplesmente quietos. Ser� que posso p�r "aquele" rufia na rua? N�o posso, tenho medo. Medo que me fure os pneus, medo que me agrida com o seu gang. Depois a quem me queixo? Ningu�m faz nada. Ele ficar� sempre aqui, a amea�ar-me.

Medo de perder o pouco que tenho, medo que o pouco que tenho n�o me chegue. Medo que se perceba que n�o tenho capacidade para fazer o que estou a fazer. Medo de ser avaliado com justi�a. Medo de ser injustamente avaliado para cumprir qualquer quota, ou fazer qualquer poupan�a ou para que o "chefe" ajuste as suas contas. Cada ano ganho menos. Nunca fui a uma manifesta��o, n�o gosto dos comunistas, sempre fui PS (ou PSD), mas este ano vou. E se n�o vou � manifesta��o, porque n�o gosto dessas coisas, e tenho medo de me mostrar, fa�o greve. Com medo, mas fa�o.

"Eles", os pol�ticos, n�o sabem nada disto, nem querem saber, repete-se no Norte nos caf�s, no Sul nas pastelarias e snack-bars. Se houvesse um coro como nas trag�dias gregas, ele sussurraria avisos para os de cima como o dos Idos de Mar�o, avisaria que c� por baixo os �nimos exaltam-se ou as pessoas se cansam. Pior do que a exalta��o, � a resigna��o.
N�o vai ser f�cil este Inverno. J� ningu�m acredita em qualquer luz no fundo do t�nel. Nem acredita, nem caminha para o fim do t�nel. Tende a caminhar para o princ�pio, para tr�s, onde tem a falsa mem�ria de que estava luz. Talvez na Primavera tudo melhore e sempre se podem fazer f�rias no Algarve outra vez. Corso, ricorso.

(No P�blico de 2 de Novembro de 2006)

*
Gostei da imagem do coro - assim os seus colegas politicos soubessem o que significa e fosse aos caf�s ouvir o "povo an�nimo".

Contudo, h� factores de esperan�a. Eis um: este ano estou a dar aulas a dezenas de pessoas que entraram na Universidade por causa lei dos mais 23. E digo-lhe: a for�a daquela gente, � impressionante. Lutam que nem uns danados, para agarrarem uma oportunidade de se licenciarem. E de melhorarem a vida. Oxal� aguentem o Inverno. Eu vou ajud�-los. Na Primavera digo-lhe o que sucedeu.

(ET)

*

(...) capta muito bem o Pathos urbano do Inverno. Fiquei s� a perguntar-me se esses tra�os sao de facto conjunturais ou estruturais nos portugueses. Para mais, recordou-me um seu outro artigo, acerca do casal da margem sul, talvez nao por mero acaso.

Nao resisto a fazer somente uma sugestao. Imagine o que � uma pessoa atravessar esses dias de descontentamento e, usando o metro (Odivelas), como eu e muitos, se depara com um revisor. E por acaso nesse dia voc� at� se tinha esquecido de trazer ou renovar o passe (e acontece). Resultado: multa. Digo-o simplesmente porque, andando de metro desde h� 3 anos, nunca tinha visto um revisor at� recentemente. Surgiram do nada. Parecem ter escolhido justamente estes dias sombrios para melhor deprimir as pessoas. Sao mais uma acha na fogueira que � avivada ao longo de um dia dif�cil. Sabe Deus onde � consumida.

(Pedro Oliveira)

*

Traduz e expressa bem a realidade portuguesa, a nossa realidade. Aquela que os pol�ticos e o povo querem ignorar. Aquela que alguns de n�s � gra�as a Deus, ainda h� alguns de n�s � sabem existir e grassar cada vez mais.
Qualquer dia, j� nem vale a pena escrever coisas destas. S�o tal incompreendidas ou, ent�o, mal recebidas, que n�o vale a pena. A �nica luz que vejo � a do passado, a de que, em finais de 1800, tamb�m assim era, mutatis mutandis. Ler E�a ou As Farpas � perceber isso. Mas, confesso-lhe, n�o me consola.

(Rui Esperan�a)

*

Estive a ler o seu "Inverno do nosso descontentamento" e embora seja um optimista, n�o posso deixar de concordar consigo. Portugal est�-me a deixar cada vez mais pessimista. Tenho 36 anos e a vida puxou-me o tapete aos 25 quando me diagnosticaram esclerose m�ltipla.Fui entretanto estagi�rio, vendedor, respons�vel de zona, director de marketing em v�rias empresas. Agora sou pensionista.

Felizmente nunca fugi � seguran�a social (mesmo quando servia � mesa numa pizaria nos tempos de estudante) e hoje usufruo de 396 euros mensais. Felizmente sempre fui precavido e acho que o que o que investi me vai dar para viver. Felizmente tenho uns pais maravilhosos que me v�o ajudando enquanto podem com as tarefas do dia a dia. Felizmente tenho amigos que t�m estado sempre presentes.

S� penso � nos deficientes que n�o t�m tanta sorte como eu: nos que ganham mais de 485 euros e v�o come�ar a ter menos benef�cios fiscais, nos que t�m pais ou amigos que n�o os podem ajudar. Nos que n�o puderam juntar algum dinheiro.
Estes varredores de tost�es, ao retirarem estas migalhas, esquecem-se de todas as outras despesas ligadas ao portador de uma defici�ncia. No meu caso, fisioterapia paga por mim, alguns medicamentos n�o comparticipados, desloca��es que n�o podem ser feitas em transportes p�blicos...

Foi s� um desabafo. E de algu�m que tem sorte.

(miguel abreu)


*

... mas se poderia supor-se alguma empatia pelos problemas das pessoas comuns, essa ideia parece dissolver-se na constata��o de que nada do que relata o afecta a si. Ali�s, como � que se pode deixar de ter estados de alma? Se Descartes errou, como Ant�nio Dam�sio refere...

(S.)

*

Da sua (...) cr�nica, que reflecte fielmente o esp�rito que prevalece transversalmente na sociedade portuguesa, uma palavra se destaca de todas as outras.: O Medo...esse medo de que fala � paralizante, tolhe a iniciativa, afecta a auto estima, debilita a din�mica social...� um medo quase Kafkiano, end�geno quase tang�vel.

Portugal continua a ser na sua ess�ncia um pa�s adiado, apesar dos mega bytes medi�ticos do actual governo, anunciando "amanh�s que cantam", pondo em marcha uma esp�cie de "marcha cultural balofa" pela moderniza��o tecnol�gica num pa�s em que as telecomunica��es s�o encaradas como um bem de luxo e como tal oneradas com a taxa m�xima de IVA de 21 %. S�o estes sinais contradit�rios entre politica econ�mica "tecnologicamente pura" e pol�tica fiscal diametralmente oposta que colide com os objectivos estrat�gicos de desenvolvimento anunciados, que confundem o cidad�o e descrebilizam o actual governo fazendo deste um agente do tal clima de medo e frustra��o.

(Ant�nio Ruivo)
 


EARLY MORNING BLOGS

902 - ...connaissant la mondaine inconstance, / Puisque Dieu seul au temps fait r�sistance

C'�tait alors que le pr�sent des dieux
Plus doucement s'�coule aux yeux de l'homme,
Faisant noyer dedans l'oubli du somme
Tout le souci du jour laborieux;

Quand un d�mon apparut � mes yeux
Dessus le bord du grand fleuve de Rome,
Qui, m'appelant du nom dont je me nomme,
Me commanda regarder vers les cieux :

Puis m'�cria : Vois, dit-il, et contemple
Tout ce qui est compris sous ce grand temple,
Vois comme tout n'est rien que vanit�.

Lors, connaissant la mondaine inconstance,
Puisque Dieu seul au temps fait r�sistance,
N'esp�re rien qu'en la divinit�.

(Joachim Du Bellay, Les Antiquit�s de Rome)

*

Bom dia!
 


INTEND�NCIA

Actualizadas as notas O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TERMINOLOGIAS, e COISAS DA S�BADO: ASCENS�O E QUEDA DA IMPRENSA DI�RIA E DEZ MILH�ES, IRRELEV�NCIA E BENS ESCASSOS.

Continua a lenta recupera��o das imagens perdidas.

2.11.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL NO PASSADO



(Artur Pastor)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 2 de Novembro de 2006



Passa na abertura do telejornal da RTP das 13 horas mais um Momento-Ch�vez do Primeiro-ministro, com o respectivo eco na voz da senhora jornalista. Propaganda pura, intacta, sem m�cula, como deve ser. Palavras certas, cores certas, imagens certas. Palco controlado, assist�ncia reverencial, nenhuma d�vida, nenhuma pergunta inc�moda, nenhum escrut�nio.


Hoje, o P�blico (declara��o de interesses conhecida, ainda por cima � quinta-feira...) est� um bom jornal, que acrescenta informa��o e alarga os temas, segundo uma agenda pr�pria, para mat�rias relevantes, pouco ou nada tratadas na comunica��o social portuguesa como a resposta dos sindicatos � globaliza��o. Depois h� F�tima Bonif�cio sobre o "estado de gra�a", uma not�cia relevante sobre as contrapartidas nas compras de material de guerra e v�rias not�cias de qualidade, dispersas nas �reas da cultura e media. A reportagem sobre a partida das tropas para o L�bano tem uma s�rie de fotos e mini-biografias de alguns militares portugueses, as fotos muito ao estilo esteticizante da Vanity Fair. A not�cia sobre a pol�mica da missa em latim em Fran�a � apenas a ponta do icebergue do impacto das posi��es lit�rgicas do novo Papa que, tendo impulsionado muitas das reformas do Vaticano II, veio depois a conden�-las como perigosas e perversas. Por fim, vejo com alguma ironia percursora, que a CNN vai repetir, na cobertura das elei��es, o que o Abrupto fez em directo tamb�m numa cobertura eleitoral da SIC, e que penso ter sido � data original. Se fosse a SIC reivindicava a primazia.
 


RETRATOS DO TRABALHO NA CHARNECA DA PERALVA - TOMAR, PORTUGAL



Charneca da Peralva, um lugar perto de Tomar, onde se comprova que uns t�m que trabalhar para outros comerem.

(Jos� Farinha)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BERLIM, ALEMANHA



Limpeza de uma est�tua na Unter den Linden (Berlim), h� cerca de 3 semanas.

(C�sar de Oliveira)
 


EARLY MORNING BLOGS

901 - Who lived in the utmost disorder...

There was an old man on the Border,
Who lived in the utmost disorder;
He danced with the cat,
And made tea in his hat,
Which vexed all the folks on the Border.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

1.11.06
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TERMINOLOGIAS



Tenho vivido no Reino Unido no ultimo ano (e por isso peco desculpa pela grafia e pela falta de acentos) tenho contudo seguido atentamente a imprensa portuguesa. A cronica de Vasco Graca Moura (VGM) no DN de hoje sobre a nova terminologia lingu�stica para os ensinos b�sico e secund�rio (TLEBS) voltou a chamar-me a atencao para um debate que comecou ha cerca de um ano e que, talvez por ser demasiado tecnico, se tem mantido sem a devida atencao da comunicacao social.

Ao ler hoje algumas das alteracoes propostas :

� Entre outros, h� pronomes indefinidos que d�o agora pelos nomes sorumb�ticos de "quantificadores indefinidos", "quantificadores universais" e "quantificadores relativos". Nos adv�rbios, encontramos coisas alucinantes como "adv�rbios disjuntos avaliativos", "adv�rbios disjuntos modais", "adv�rbios disjuntos refor�adores da verdade da asser��o" e "adv�rbios disjuntos restritivos da verdade da asser��o". O sujeito indefinido passa a ser o luminoso "sujeito nulo expletivo". O "aposto ou continuado" chama-se bombasticamente "modificador do nome apositivo", podendo ser do tipo "nominal", "adjectival", "proposicional" ou "fr�sico"... �

Ficou-me a pergunta: sera que a lingua que aprendi na escola mudou tanto nos ultimos 15 anos? E mais, nao estaram a complicar o que e simples?

E alem destas resta a outra questao, que esta subjacente a a toda a cronica de
VGM: sera que se pode ensinar uma lingua esquecendo a literatura que a fixa e a cria, desmontando-a apenas nas suas componentes mais tecnicas?

Nao me parece que esta seja a melhor forma de ensinar o portugues e talvez seja altura de pensar que o cronico fracasso com a matematica possa estar relacionado com todas estas questoes. Ja ha 20 anos, a maior parte dos meus colegas tinha dificuldades em interpretar os enunciados dos problemas em matematica no 5o e no 6o anos. O fracasso e a sucessiva rejeicao comecaram ai, muito cedo.

Por esta e outras questoes acho que o debate sobre a TLEBS merecia um pouco mais de visibilidade, afinal, tambem e por aqui que passa o futuro do pais que queremos tirar da crise.

Como nota acrescento que nem sequer estou ligado as letras ou humanidades sou Bioquimico, mas nenhum plano tecnologico resultara se falharmos nas coisas mais basicas.

(Andre M. N. Silva)

*
Acabo de ler o texto de Andr� M N Silva sobre a TLEBS, publicado no "Abrupto". Tanto quanto me apercebo, tudo se resume a classificar de um modo diferente daquele a que estavamos habituados os nomes que integram a nossa l�ngua. Ignoro as vantagens do exerc�cio. Mas o exerc�cio em si mesmo relembrou-me o texto "El idioma anal�tico de John Wilkins", de Jorge Luis Borges, (...) numa vers�o encontrada aqui. Talvez os respons�veis pela TLEBS ganhassem alguma coisa em l�-lo.

(Ant�nio Cardosos da Concei��o)

*

Se a TLEBS tem certamente muitos defeitos -- como a mudan�a gratuita dos "nomes" em "substantivos" e, porventura, a suposi��o antipedag�gica de que as aulas de gram�tica, nos liceus, seriam aulas de lingu�stica (n�o s�o) -- � preciso notar que a oposi��o de VGM � TLEBS se insere na sua antiga oposi��o... aos linguistas, bem clara nos seus ataques palavrosos e, de resto, v�cuos dispon�veis on line no Ciberd�vidas, devidamente respondidos por In�s Duarte.

E muitas das cr�ticas que faz s�o puro desconhecimento. Por exemplo, o desconhecimento de que muitos dos antigos "pronomes" n�o eram pronomes e alguns dos "sujeitos indefinidos" n�o tinham nada de indefinido. As aulas de gram�tica n�o s�o aulas de lingu�stica, mas conv�m saber um m�nimo de lingu�stica para perceber, pelo menos, que os quantificadores s�o mesmo quantificadores.
As tristes guerras entre "literatos" e "linguistas" dificilmente nos trar�o alguma coisa de bom. Sobretudo, impedem que se vejam alguns meios termos �bvios, soterrados pelo facciosismo e pela confus�o.

(Pedro M�rias)
 


RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL



A foto foi tirada durante este m�s de Outubro na feira dos p�ssaros que todos os Domingos tem lugar no jardim da Cordoaria, em frente � antiga Cadeia da Rela��o. Pelos menos nestes momentos o centro hist�rico fica animado...

(Jorge Silva)

 


BOA SORTE

http://www.voanews.com/english/images/un_unifil_logo_195_eng_17aug06.jpg

Bom trabalho!
Voltem todos e bem.
 


COISAS DA S�BADO: ASCENS�O E QUEDA DA IMPRENSA DI�RIA

O dicion�rio Jornais Di�rios Portugueses do S�culo XX de M�rio Matos e Lemos, editado pela ariadne editora � uma obra que devia estar em todas as redac��es para, como o espectro do Manifesto Comunista, �assombrar� todos os jornalistas. Infelizmente, para quem gosta de jornais, �assombra� tamb�m os leitores dedicados da imprensa.

Este dicion�rio � uma esp�cie de cemit�rio muito especial, o dos grandes t�tulos da imprensa, dos jornais mais ambiciosos e com mais recursos para se abalan�arem a publicar-se diariamente e que, em diferentes tempos e por diversas raz�es, acabaram por morrer nem sempre gloriosamente. Ele permite comparar os diferentes per�odos da hist�ria e ver facilmente a ascens�o e queda da imprensa escrita. Fazendo o balan�o da sobreviv�ncia de um s�culo, do s�culo XIX para o XXI, apenas quatro jornais do continente em oito jornais, os outros s�o das ilhas com relevo para os A�ores, sobreviveram. Mas mesmo este escasso n�mero � enganador: entretanto o Com�rcio do Porto, morreu e o Primeiro de Janeiro sobrevive com muitas dificuldades. Na verdade, apenas o Di�rio de Not�cias e o Jornal de Not�cias fizeram o salto.

O que se verifica � que mesmo entre o momento em que este dicion�rio foi escrito e aquele em que foi publicado, a crise da imprensa atingiu mesmo as listas mais selectas, que se pensava poderem ter outra dura��o. Para al�m do Com�rcio do Porto, tamb�m j� acabou A Capital, e O Dia, que vem na lista, nem sei bem se existe num limbo qualquer. O �ltimo di�rio criado foi o 24 Horas em 1998, porque o dicion�rio n�o menciona os gratuitos. O panorama, como se v�, n�o � brilhante.

Desde 1998 , surgiu pelo menos mais um di�rio. O Jornal de Neg�cios que era seman�rio e que se transformou em di�rio. Julgo que a transforma��o foi em 2003.

(Jo�o Melo)
 


DEZ MILH�ES, IRRELEV�NCIA E BENS ESCASSOS



Somos, mais ou menos, dez milh�es de pessoas, num canto da Europa, entregues � nossa sorte. Pouca gente se importa connosco fora de Portugal, contamos muito pouco para quase nada fora do nosso cantinho. A l�ngua, que � maior que n�s, � cada vez mais definida pelo Brasil, e � natural que seja l� que esteja o Museu da L�ngua. Temos alguma poesia e literatura de primeira �gua, mas muito pouca. Temos a hist�ria que temos, menos tr�gica do que a da maioria da Europa. N�o temos economia que conte para nada no mundo globalizado e, a que temos, vive muito dependente de tudo o que est� fora e de alguns subs�dios europeus.

Temos muito pouca no��o do que verdadeiramente somos e do que valemos. N�o somos nacionalistas porque j� n�o h� Imp�rio e mesmo a sua fic��o p�stuma j� n�o entusiasma ningu�m. N�o somos patriotas a n�o ser sob forma futebol�stica, ou seja nem sequer sabemos o que isso �. Nem sequer o �ltimo luxo c�nico de nos vermos ao espelho temos, porque esse espelho est� sempre perturbado pelo efeito contradit�rio, por um lado da mania das grandezas (Descobrimentos, & etc.), e por outro pela imensa manha camponesa de um povo que ainda tem a pobreza muito perto para se dar ao luxo de fazer experi�ncias. Todos os bens s�o escassos, h� sempre mais gente do que empregos, prebendas, cargos, dinheiro e fama. A inveja, naturalmente, � uma doen�a nacional profunda. Este � o pano de fundo de muita coisa.

*
Nem menos. Mas h� mais para se apontar.
Se toda esta maneira de viver tivesse sido apenas de portas para dentro talvez o isolamento se transformasse no pr�prio rem�dio.
Mas n�o. Durante s�culos envangilisamos outros povos com esta cultura.
O resultado est� � vista: pelo menos sete pa�ses funcionam e vivem sob o efeito directo desta cultura.
Em todos eles se apela ao patriotismo por estarem convencidos que s�o uma ra�a.
Em todos eles se estima muito as remessas dos emigrantes.
Em todos eles se mede o desenvolvimento pelo investimento estrangeiro.
Em todos eles o Estado � que � o sustento do pr�prio pa�s.
E em todos eles a alegria � contagiante tal como a pobreza de esp�rito.
A solu��o tem nome: tempo e democracia.

(S�rgio)
 


LENDO
VENDO
OUVINDO

�TOMOS E BITS

de 1 de Novembro de 2006


Muito apropriado: ser acordado por uns mi�dos a pedir o "p�o por Deus". Espertos, finos, habilidosos, transformaram o Dia dos Mortos em rebu�ados.
S� uma correc��o: o �Dia dos Mortos� ou, de acordo com o calend�rio lit�rgico cat�lico, o dia dos Fi�is Defuntos, � amanh�, dia 2 de Novembro. Hoje celebra-se a Solenidade de Todos os Santos e � dia de festa!
O facto de amanh� ser dia de trabalho levou a que a romagem aos cemit�rios fosse feita no feriado. Com o tempo, principalmente entre os que n�o participam nas celebra��es lit�rgicas e que, portanto, est�o menos informados, come�aram a confundir-se as datas...

(Manuela Silva)
*

Uma tradu��o do poema de Auden , The Fall Of Rome no EARLY MORNING BLOGS - 898, num blogue brasileiro, enviado pelo pr�prio.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UMA PERGUNTA COM PR�MIO

Na imagem, v�-se um dos muitos ciber-pontos que, em boa-hora, foram semeados pelas esta��es dos CTT.

Uma etiqueta pequena informa o contribuinte que foi �Co-financiado pelo FEDER e pelo Plano Operacional para a Sociedade do Conhecimento�, mas um letreiro maior � um pouco mais claro: �FORA DE SERVI�O / OUT OF ORDER�.

Tenho comigo um cart�o Netpost (que me custou 5,49� e ainda tem algum saldo) que ofere�o � primeira pessoa que tiver "conhecimento" de uma esta��o dos CTT onde exista uma m�quina destas a funcionar.

(C. Medina Ribeiro)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LADOEIRO-IDANHA-A-NOVA, PORTUGAL



Retratos do trabalho em Ladoeiro, Idanha-a-Nova, Portugal. Arrieiro conduz � guia uma jovem parelha de mulas, numa opera��o de gradagem da terra.

(Pedro Rego)
 


EARLY MORNING BLOGS

900 - ...a mystery

There was a young person whose history,
Was always considered a mystery;
She sate in a ditch,
Although no one knew which,
And composed a small treatise on history.

(Edward Lear)

*

Bom dia!

� Jos� Pacheco Pereira
In�cio
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