ABRUPTO

31.5.06
 


BIBLIOFILIA: NA FEIRA DO LIVRO



Uma Feira do Livro de Lisboa muito deserta, mas cheia de excelentes livros nos alfarrabistas em contraste com toneladas de lixo nas editoras. Baratos, bastantes (nunca chegam � certo...) e curiosos. Acima de tudo muitas coisas curiosas, que nunca tinha visto. Como esta edi��o dos navios de guerra do mundo, publicada por Fred T. Jane, o fundador das edi��es militares de refer�ncia. Aqui est�, a t�tulo de exemplo, a silhueta de um navio turco.

Ao longe no mar, ou no perisc�pio de um submarino, era assim que se identificava uma amigo ou um inimigo. Depois h� uma s�rie de ensaios de C. S. Lewis publicados nos anos cinquenta, que desconhecia e que hoje n�o est�o acess�veis no mercado. Por �ltimo, h� uma pe�a de propaganda nazi, editada em 1942 em Berlim e Paris, por uma Sociedade Editora "Europa Lda. "Quando as alcateias dos lobos vermelhos invadiram a Let�nia..." o nosso c�nsul let�o agradece aos alem�es salvarem-lhe a vida.

(Continua)
 


UMA AVARIA NO BLOGGER



impediu a actualiza��o do Abrupto durante o dia.
 


ESTEVE PARA SER UM EARLY MORNING BLOGS

" Look here, Cranly, he said. You have asked me what I would do and what I would not do. I will tell you what I will do and what I will not do. I will not serve that in which I no longer believe whether it call itself my home, my fatherland or my church: and I will try to express myself in some mode of life or art as freely as I can, and as wholly as I can, using for my defence the only arms I allow myself to use.. silence, exile, and cunning."

James Joyce, A Portrait of the Artist as a Young Man

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Boa noite!
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O NOVO ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE (2� s�rie)


Em rela��o ao assunto "Estatuto da Carreira Docente", vou ficando preocupado � medida que n�o vejo surgirem reac��es de intensidade an�logas aquelas que se t�m verificado sempre que est�o em jogo quest�es remunerat�rias. A ser assim, adensam-se as nuvens sobre a classe. Ser� que estamos nos carris de uma linha denominada "desde que paguem interessa pouco aquilo que faremos"?

(H. Martins)
*

Espanta-me que se acredite que exista um "lobby de cientistas da educa��o"...essa denomina��o nem sequer tem raz�o de ser! Quando eu era imberbe e loira discutia-se a "unidade versus pluralidade da Psicologia", por culpa do sr. Lagache e das suas ambi��es de chegar a uma ci�ncia unit�ria ou de a destruir. Ficou tudo pelo saud�vel sabor da argumenta��o.

J� as ditas ci�ncias da educa��o ou, mais pragmaticamente, os supostos cujos das ditas,... estas/estes, s�o t�o heterog�neos que jamais se uniriam ao ponto de poder criar um grupo de press�o, nem sequer de opini�o, quanto mais.... (...)

Agora falar de lobbies? Por favor, meus senhores! Antes existissem, e certamente n�o seriam da parte das "ci�ncias" da educa��o. Falta aos professores/investigadores portugueses a cultura da pol�tica profissional, � semelhan�a do que se observa em outros pa�ses (vide USA, UK). Continuam demasiado agarrados aos bot�es e aos tost�es para se poderem organizar para al�m do que concerne � sua pr� no final do m�s e cultivam a mentalidade sindicalista, pr�-movimentos culturais ou de interesses. (...)

Afinal toda a gente sabe de educa��o, toda a gente (tal como no futebol) se acha conhecedor de quais os rem�dios milagrosos para tornar os portugueses os mais educados e formados da Europa sen�o do Mundo e que, s� por acaso, s�o sempre diferentes daqueles que s�o implementados por seja qual for a for�a pol�tica - oh m� sorte, oh fado! Deve ser por m� fado que estamos atr�s de todos os pa�ses rec�m-chegados � Uni�o.

Se os directamente implicados na educa��o fossem avaliados (n�o pelos encarregados de educa��o, valha-nos todos os deuses do olimpo,...esses tamb�m teriam que o ser, e a bola de neve n�o mais acabaria) como qualquer outro profissional do sector empresarial n�o p�blico, obviamente, talvez as coisas n�o acontecessem com tanto preju�zo para os seus destinat�rios.

Irrita-me que sempre que se fala de educa��o se esque�a quem s�o os verdadeiros alvos desse sistema pouco eficaz ou sub-avaliado: ou se idolatram as criaturas imbecis e irritantes que mereciam umas boas palmadas dos seus progenitores antes de chegarem � escola ou se vitimizam os pobres meninos cujo destino fica hipotecado pela in�pcia da Escola. Que tal uma vis�o mais realista? Os "pirralhos" s�o fruto das conting�ncias que lhes oferecemos, sem negar as influ�ncias biol�gicas.

A Escola � apenas e s� (e isto singularizando as m�ltiplas influ�ncias que exerce) um dos lugares onde todos temos que passar 9, 12, 16, 18 ou mais anos...� uma vida dentro de uma vida - e se formos honestos todos nos lembramos disso com mais prazer do que desprazer; n�o � apenas o lugar central, metaf�rico, das disputas ideol�gicamente vazias com que todas as for�as (fraquezas) pol�ticas deste pa�s resolvem fazer festinhas de faz-de-conta. (...) Estou irritada, sim. Ainda me consigo irritar ao fim de tantos anos de viver aqui - para mim, � sinal de sa�de mental. Mal seria se deixasse de rabiar.

Ser profissional no campo da educa��o n�o � igual a ser profissional na fabrica��o do vidro ou na coloca��o de tijolos - todos sabemos -, mas pode e deve ser avaliado com o mesmo n�vel de exig�ncia. N�o ser� pela contagem do n�mero de tijolos ou pela qualidade do vidro produzido, mas h� muito de cristal na avalia��o da educa��o...exige pureza e quebra-se facilmente.

Tal como sempre achei que os "funcion�rios" do Governo - ministros, secret�rios e sub-secret�rios...para n�o falar nos directores gerais e sub-directores das empresas p�blicas -devem ser avaliados, tamb�m defendo que todos os outros profissionais o sejam e que da� decorram benef�cios ou puni��es, em fun��o do seu desempenho. Mas se a impunidade vigora a alto-n�vel como implementar a justi�a na base da pir�mide?...enfim...

O problema est� em "o que" avaliar , "como" avaliar e por "quem" avaliar. O que � ser um "bom professor", se estes nem sabem ao certo o que � suposto fazer para o ser, e nem quem os manda sabe o que eles devem ser capazes de fazer?...se a avalia��o incidisse nas taxas de sucesso (como no plano Roberto Carneiro), era ver a ignor�ncia deste pa�s certificada....Como desempenhar bem a tarefa de doc�ncia se esta vai muito para al�m da mesma e entra muito mais no trabalho maternage/paternage, de secretaria, ou investiga��o e divulga��o (consoante os n�veis de ensino)? Ent�o em que moldes o fazer, com que crit�rios?... E quem tem a compet�ncia para avaliar?

Algu�m acredita que o caminho da recupera��o formativa se faz assombrando e (eventualmente) punindo quem trabalha na �rea que verdadeiramente faz a diferen�a face aos novos pa�ses da UE? Desiludam-se, ainda nem come�ou a competi��o e j� estamos atr�s.
Que alguma coisa deve ser feita, n�o tenho d�vidas, mas de que maneira?

Abram a caixinha, mas a Pandora vai fazer muitas v�timas e espero que as primeiras sejam aquelas que resolveram libertar a "bicha".Mas infelizmente sei que n�o, quem paga s�o todos "os outros". (...)

(N.M.)
*

Devo, antes de comentar qualquer aspecto relacionado com a proposta ministerial de altera��o do ECD, fazer a minha declara��o de interesses: Sou professor do 2� Ciclo do Ensino B�sico, com 28 anos de servi�o e como tal estou no 10� escal�o, usufruindo de uma redu��o da componente lectiva de 8 horas. Como � f�cil perceber, estou no topo da carreira e as altera��es agora propostas n�o me afectam em termos de progress�o.

Quero no entanto chamar a aten��o para o facto de que a ministra se prepara para cumprir a miss�o para a qual foi nomeada, quando aceitou a pasta da Educa��o: o objectivo fundamental desta proposta � garantir um congelamento estatut�rio da progress�o na carreira, para o maior n�mero poss�vel de professores. Tudo o resto que se encontra na proposta, do ponto de vista da miss�o desta ministra, pouco mais � do que folclore, e n�o me custa a admitir que em sede de negocia��o, mat�rias como a avalia��o dos professores pelos encarregados de educa��o, ou outras semelhantes, venham a ser "oferecidas" numa bandeja aos sindicatos.

Porque o essencial � que fique garantido que nos pr�ximos quinze/vinte anos, nenhum dos professores que hoje ainda n�o se encontra no 9� ou 10� escal�o, possa vir a atingir o acesso � categoria de professor titular, e com isso garantir que apenas os actuais professores desses dois escal�es atinjam o topo da carreira. Isso na pr�tica ir� significar uma estagna��o na progress�o ao fim de 18 anos para a esmagadora maioria dos actuais e futuros professores, garantindo uma enorme conten��o or�amental.

Porque ao contr�rio do que se apregoa, as preocupa��es da ministra com a qualidade do ensino, apenas aparecem no discurso porque a central de comunica��es do ME acha que isso faz boa imprensa. Sen�o, como se explicaria que a ministra, tendo identificado como males do sistema as turmas da manh� feitas para os melhores alunos, onde s�o colocados os filhos de alunos e funcion�rios, e escolas que se organizam em fun��o de crit�rios burocr�tico/administrativos em vez de se preocuparem com o sucesso educativo, n�o seja consequente com essa avalia��o, e n�o actue sobre os Conselhos Executivos, que s�o o �rg�o de gest�o que tem a compet�ncia de definir projecto educativo e o projecto curricular da escola, o seu regime de funcionamento , organizar as turmas e distribuir o servi�o docente.

Cada vez que a ministra e os seus secret�rios de estado se atiram aos professores, acusando-nos dos males do ensino, fazem-no identificando tarefas e compet�ncias mal cumpridas ou negligenciadas pelos Conselhos Executivos. E no entanto n�o h� not�cia, mais de um ano ap�s a sua tomada de posse, de qualquer medida correctiva destas m�s pr�ticas, n�o dos professores, mas dos �rg�os de gest�o dos estabelecimentos de ensino.

(Francisco Santos)
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N�o posso deixar de exprimir a minha mais profunda revolta e tristeza pela forma como t�m sido os professores tratados. Hoje perante as primeiras p�ginas dos jornais n�o posso deixar de sentir revolta. N�o vou comentar a necessidade de revis�o nem esta revis�o. Quero apenas expressar que considero indigno a forma como estrategicamente estas noticias aparecem na comunica��o social.

Penso n�o ter esp�rito de persegui��o. Poderei estar enganado, mas sempre que querem "apertar o papo" aos prof�s a ministra parte para uma "peixeirada" p�blica que muito diz dos pol�ticos que temos. Sei que n�o � politicamente correcto dize-lo. Que normalmente isto � dito apenas por "gentinha", mas temos uma ministra que nitidamente n�o se sabe comportar e temos todos os outros a assistir e a aplaudir. Fala alto, aos berros e tem medo que n�o lhe obede�am. Necessita da coa��o p�blica. Necessita de denegrir os seus funcion�rios perante a opini�o p�blica, perante pais e alunos. Como enfrentar�o, os professores, amanh� os seus alunos?

N�o resisto a fazer um coment�rio ao estatuto da carreira docente proposto: n�o promove quem merece. coloca � partida docentes no topo da carreira a avaliar outros possivelmente (quase certo) com mais forma��o. Teremos Bachar�is a avaliar pessoas doutoradas. Ser� razo�vel?

(Carlos Br�s)
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Tinha que ser a pedagogia - com p pequeno - a fazer-me intervir num blog. Apenas para aplaudir a interven��o dos seus co-bloguistas Gabriel Mith� Ribeiro e Joaquim Albano Ferreira Duarte. Morra a pedagogia, morra Pim - com P grande.

(Paulo Freitas)
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-Como eventual t�tulo da sec��o "fun��es e tarefas" de um docente, colocaria : MAIS NADA?

-Quanto � sec��o final (art.111,ponto 2), a coisa parece-me t�o GRAVE (principalmente no que se l� impl�citamente), que n�o tenho palavras para quaisquer t�tulos, pois comecei a sentir algo dentro de mim que me censura a minha humilde inspira��o.

(J. A. )

( Professor que est� seriamente a pensar em pedir asilo politico a Espanha ou a qualquer outro pa�s, onde me possa ser apenas 1 cidad�o que n�o se sinta a sofucar, dia pra dia ).
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BUENOS AIRES, ARGENTINA



Oper�rios em trabalhos de manuten��o da rede de cabos de uma empresa de televisao de Buenos Aires.

(Francisco F. Teixeira)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O NOVO ESTATUTO DA CARREIRA DOCENTE
(Actualizado)



Acabo de ler a proposta para o novo Estatuto da Carreira Docente (ECD) e fiquei siderado. Est� certo que � uma primeira impress�o. Mas o que l� est� parece-me excessivamente perigoso. O documento mostra como o PS se rendeu �s �Ci�ncias da Educa��o� e a consequente desvaloriza��o do papel central que os saberes cient�ficos ou acad�micos espec�ficos deveriam ter no sistema de ensino. A quest�o da avalia��o dos professores pelos encarregados de educa��o seria um pormenor �acidental� e �remov�vel� se n�o traduzisse o esp�rito do documento. Mas traduz. Parece estar a acontecer aquilo que receava do mais perigoso do populismo do governo do Eng.� Jos� S�crates: ao misturarem-se quest�es salariais dos docentes com quest�es �pedag�gicas� (mais propriamente ideol�gicas) da fun��o educativa, inquinaram-se quase irremediavelmente para as pr�ximas d�cadas as condi��es para uma reforma de fundo naquilo que � substantivo para o ensino: a rela��o de sala de aula ou a rela��o professor-aluno-conhecimento. N�o sei se este PS est� a reformar o ensino ou a queimar esterilmente o terreno social favor�vel para a reforma que existia no tempo do Prof. David Justino (por muitas cr�ticas que possam ser dirigidas a esse ex-ministro da educa��o).

O ECD parece-me anunciar a blindagem das Ci�ncias da Educa��o dentro do Estado e do sistema de ensino (b�sico, secund�rio e superior). N�o discutir politicamente a express�o �Ci�ncias da Educa��o� que consta no Art� 54 da proposta e que confirma a not�vel conquista da �ltima d�cada de foro de �ci�ncia privilegiada�, conquista essa decidida por decreto governativo e n�o pelo prest�gio social assente no valor irrefut�vel do seu saber, � tomarem-nos por est�pidos. Tirem-se esse tipo de muletas pol�ticas aos cientistas da educa��o e ver-se-� o que sobra: pouco mais do que um lobby ideologicamente organizado. O problema n�o � s� o que est� expl�cito como o que est� impl�cito em todo o documento.

Como � poss�vel que um lobby (dos �cientistas da educa��o� ou qualquer outro) tome de assalto o ensino (e o estado) sem que isso gere um verdadeiro, profundo e genu�no debate p�blico sobre quem � ou n�o dono do pensamento social sobre educa��o/ensino num pa�s que se auto-referencia como democr�tico, livre, civilizado? Porque raz�es o pensamento dito liberal hiberna nestes momentos cruciais? Andaremos nos pr�ximos meses a discutir quest�es laterais e deixaremos o essencial, como � h�bito. O pa�s arrisca-se, uma vez mais, a pagar caro por mais umas d�cadas este apoio leviano a quem, com a capa de �reformista�, nos empurra para o desastre educativo, desta vez com um sorriso de quem disparata escudado numa confort�vel maioria absoluta. N�o me preocupa a quest�o dos sal�rios dos docentes. O problema � uma ideologia tacanha que, ao n�o ser combatida, vai persistindo de um modo inacredit�vel. Ser� que existe oposi��o em Portugal? Ser� que a classe pol�tica ligada �s quest�es educativas tem lucidez m�nima para avan�ar com esse tipo de debates? Ou o simples r�tulo de �ci�ncia� transforma uma qualquer �rea do saber em vaca sagrada?

(Gabriel Mith� Ribeiro)
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Para entender a clariss�ma incompet�ncia desta "equipa" ministerial deixo aqui apenas as fun��es e tarefas exigidas a um docente:


"O docente desenvolve a sua actividade profissional de acordo com as orienta��es de pol�tica educativa e no quadro da forma��o integral do aluno, cabendo-lhe genericamente:

a) Identificar saberes e compet�ncias-chave dos programas curriculares de forma a desenvolver situa��es did�cticas em articula��o permanente entre conte�dos, objectivos e situa��es de aprendizagem, adequadas � diversidade dos alunos;

b) Gerir os conte�dos program�ticos, criando situa��es de aprendizagem que favore�am a apropria��o activa, criativa e aut�noma dos saberes da disciplina ou da �rea disciplinar, de forma integrada com o desenvolvimento de compet�ncias transversais;

c) Trabalhar em equipa com professores e outros profissionais, envolvidos nos mesmos processos de aprendizagem;

d) Desenvolver, como pr�tica da sua ac��o formativa, a utiliza��o correcta da l�ngua portuguesa nas suas vertentes oral e escrita;

e) Assegurar as actividades educativas de apoio e enriquecimento curricular dos alunos, cooperando na detec��o e acompanhamento de dificuldades de aprendizagem;

f) Assegurar e desenvolver actividades educativas de apoio aos alunos, colaborando na detec��o e acompanhamento de crian�as e jovens com necessidades educativas especiais;

g) Utilizar adequadamente recursos educativos variados, nomeadamente as tecnologias de informa��o e conhecimento, no contexto do ensino e das aprendizagens;

h) Utilizar a avalia��o como elemento regulador e promotor da qualidade do ensino, das aprendizagens e do seu pr�prio desenvolvimento profissional;

i) Participar na constru��o, realiza��o e avalia��o do projecto educativo e curricular de escola;

j) Participar nas actividades de administra��o e gest�o da escola, nomeadamente no planeamento e gest�o de recursos;

l) Participar em actividades institucionais, designadamente em servi�os de exames e outras reuni�es de avalia��o;

m) Colaborar com as fam�lias e encarregados de educa��o no processo educativo, em projectos de orienta��o escolar e profissional;

n) Promover projectos de inova��o e partilha de boas pr�ticas, com outras escolas, institui��es e parceiros sociais;

o) Fomentar a qualidade do ensino e das aprendizagens, promovendo a sua permanente actualiza��o cient�fica e pedag�gica apoiado na reflex�o e na investiga��o;

p) Fomentar o desenvolvimento da autonomia dos alunos, respeitando as suas diferen�as culturais e pessoais, valorizando os diferentes saberes e culturas e combatendo processos de exclus�o e discrimina��o;

q) Demonstrar capacidade relacional e de comunica��o, assim como equil�brio emocional nas mais variadas circunst�ncias;

r) Desenvolver estrat�gias pedag�gicas diferenciadas, promovendo aprendizagens significativas no �mbito dos objectivos curriculares de ciclo e de ano;

s) Assumir a sua actividade profissional, com sentido �tico, c�vico e formativo;

t) Desenvolver compet�ncias pessoais, sociais e profissionais para conceber respostas inovadoras �s novas necessidades da sociedade do conhecimento;

u) Promover o seu pr�prio desenvolvimento profissional, criando situa��es de autoforma��o diversificadas, nomeadamente em equipa com outros profissionais, na resolu��o de problemas emergentes de educativas situa��es;

v) Avaliar as suas pr�ticas, conhecimentos cient�ficos e pedag�gicos e gerir o seu pr�prio plano de forma��o.

Ao professor titular s�o atribu�das, al�m das previstas no n�mero anterior, as seguintes fun��es:

a) Coordena��o pedag�gica do ano, ciclo ou curso;

b) Direc��o de centros de forma��o das associa��es de escolas;

c) Exerc�cio dos cargos de direc��o executiva da escola;

d) Coordena��o de departamentos curriculares e conselhos de docentes;

e) Orienta��o da pr�tica pedag�gica supervisionada a n�vel da escola;

f) Coordena��o de programas de desenvolvimento;

g) Exerc�cio das fun��es de professor supervisor;

h) Participa��o nos j�ris das provas nacionais de avalia��o de conhecimentos e

compet�ncias para admiss�o na carreira ou da prova de avalia��o e discuss�o

curricular para acesso � categoria."

Repare na quantindade infind�vel de tarefas e fun��es a que v�o obrigar os docentes (vinte e nove). Repare, ainda na complexidade dos processos envolvidos em cada uma delas.

Levanto apenas tr�s quest�es:

1. Que ser humano � capaz de cumprir com tal n�mero de tarefas e fun��es?

2. Que ser humano do mundo ocidental aceita realizar tal n�mero de taferas por mil euros?

3. Quem vai preparar as aulas?

O problema principal da escola p�blica portuguesa � a insensatez, a profus�o de quest�es ideol�gicas e a falta de pragmatismo. A escola p�blica portuguesa, actualmente, n�o serve ningu�m, porque transformou-se num centro de apoio social, de entretenimento e de guarda de crian�as e jovens. Tudo isto devido �s �ci�ncias� da educa��o, repare na enorme quantidade de �parasitas� que vivem � custa da escola p�blica:

Escolas Superiores de Educa��o;
Faculdades que leccionam licenciaturas em Educa��o;
Docentes dessas escolas;
�Investigadores� das �ci�ncias� da educa��o;
Editoras que publicam os textos (todos muito semelhantes e completamente vazios) destes �investigadores�;
Entre outros.

Isto chega ao ponto de se obrigar professores com 3 anos de experi�ncia na forma��o de jovens e adultos e mais de 8 anos de experi�ncia a leccionar no ensino superior polit�cnico a fazerem est�gio pedag�gico! As �ci�ncias� da educa��o dominam de tal forma a escola p�blica, que os professores com mais de 6 anos de experi�ncia s�o obrigados a frequentar uma Escola Superior de Educa��o para assistirem e serem avaliados a disciplinas como: �Psicologia da Educa��o�, �Sociologia da Educa��o�, �Organiza��o Curricular e Avalia��o�; �Organiza��o e Gest�o Escolar� e finalmente aquela que realmente interessa: �T�cnicas pedag�gicas�. Para perceber ao ponto a que isto chegou, raramente � leccionada qualquer aula nas quatro disciplinas acima referidas, os alunos � que as leccionam...! Justifica��o? A legisla��o est� sempre a mudar...!
(...) Se em Portugal n�o for poss�vel encontrar quem seja capaz de o fazer, que se contrate algu�m de fora; porque a escola p�blica est�-se a esvaziar de alunos oriundos das classes m�dia, m�dia alta e alta. Est�-se a transformar num centro social para as classes sociais mais desfavorecidas.
(...)

Devido ao teor de todo o texto do novo ECD, � impossibilidade de qualquer ser humano ser capaz de cumprir o exigido e � humilha��o a que a classe docente tem estado exposta, pondero seriamente abondar o ensino p�blico portugu�s. E, se tal acontecer, tudo farei para deixar de vez este miser�vel pa�s. Infelizmente, uma boa parte dos docentes das �reas tecnol�gicas (licenciados em engenharia) com quem tenho conversado, j� tomou esta decis�o uma vez que n�o est�o para mais vexames p�blicos.

(..) um docente cansado de tanta insensatez e tanta humilha��o p�blica,

(Carla Maria Fonseca Gouveia)

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No art� 111 da Proposta de Altera��o do Regime Legal da Carreira do Pessoal Docente apresentada pelo Governo este fim de semana, diz-se o seguinte (sublinhados meus):

"1 � O exerc�cio de fun��es docentes em estabelecimentos de educa��o ou de ensino

p�blicos � feito em regime de exclusividade.

2 � O regime de exclusividade implica a ren�ncia ao exerc�cio de quaisquer outras actividades ou fun��es de natureza profissional, p�blicas ou privadas, remuneradas ou n�o, salvo nos casos previstos nos n�meros seguintes.

3 �� permitida a acumula��o do exerc�cio de fun��es docentes em estabelecimentos de educa��o ou de ensino p�blicos com:

a) Actividades de car�cter ocasional que possam ser consideradas como complemento da actividade docente;

b) O exerc�cio de fun��es docentes em outros estabelecimentos de educa��o ou de ensino."


Eu n�o percebo muito de leis, mas parece-me que, com este artigo, o Governo pretende dizer aos professores o que eles devem ou n�o fazer no seu tempo livre e privado. Percebo, por exemplo, que o Governo pretende impedir-me at� de fazer trabalho volunt�rio (j� que nem mesmo admite as actividades n�o remuneradas), coisa que eu fa�o desde os meus 14 anos! Mas com que direito? E seremos n�s, os professores, um bal�o de ensaio com o objectivo de estender a outros esta vontade de controlar sem limites as vidas dos cidad�os?

(Rui Monteiro, professor de matem�tica)

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N�o posso deixar de exprimir a minha mais profunda revolta e tristeza pela forma como t�m sido os professores tratados. Hoje perante as primeiras p�ginas dos jornais n�o posso deixar de sentir revolta. N�o vou comentar a necessidade de revis�o nem esta revis�o. Quero apenas expressar que considero indigno a forma como estrategicamente estas noticias aparecem na comunica��o social.

Penso n�o ter esp�rito de persegui��o. Poderei estar enganado, mas sempre que querem "apertar o papo" aos prof�s a ministra parte para uma "peixeirada" p�blica que muito diz dos pol�ticos que temos. Sei que n�o � politicamente correcto dize-lo. Que normalmente isto � dito apenas por "gentinha", mas temos uma ministra que nitidamente n�o se sabe comportar e temos todos os outros a assistir e a aplaudir. Fala alto, aos berros e tem medo que n�o lhe obede�am. Necessita da coac��o p�blica. Necessita de denegrir os seus funcion�rios perante a opini�o p�blica, perante pais e alunos. Como enfrentar�o, os professores, amanh� os seus alunos?

N�o resisto a fazer um coment�rio ao estatuto da carreira docente proposto: n�o promove quem merece. coloca � partida docentes no topo da carreira a avaliar outros possivelmente (quase certo) com mais forma��o. Teremos Bachar�is a avaliar pessoas doutoradas. Ser� razo�vel?

(Carlos Br�s)

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Julgo que se estar� a entrar numa profunda demagogia com esta lista de fun��es docentes. Obviamente que nenhum professor ir� cumprir TODAS essas tarefas. Mas poder� (pela primeira vez) cumprir alguma delas nos seus tempos livres. Finalmente deixaremos de ter professores dispensados da Escola por �aus�ncia de servi�o�. Uma situa��o recorrente em quase todas as Escolas deste Pa�s que n�o � conhecido pelo sucesso das suas escolas e dos seus alunos. Uma situa��o que permitia �s Direc��es Escolares (eleitas pelos professores) dar muitos dias de f�rias aos a quem os elegeu, para al�m dos devidos por lei. Nomeadamente nos per�odos de interrup��o das actividades lectivas. Agora, sem preju�zo dos seus hor�rios (de 35 horas), os professores poder�o contribuir para a melhoria da sua Escola. Clarifica-se, deste modo, uma quest�o importante: o que devem fazer os professores na escola�

(Gon�alo Ara�jo)

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QUEM SABE FAZ, QUEM N�O SABE ENSINA, E QUEM N�O SABE ENSINAR �... �AGENTE EDUCATIVO�

Asseverou-me um amigo bi�logo, especialista em esp�cies aut�ctones em perigo, que o homo docens, comummente conhecido como professor, se encontra em vias de extin��o. Por incapacidade adaptativa �s novas exig�ncias ambientais/ profissionais, o professor, isto �, aquele que estuda e ensina, ir�, num f�sforo, transformar-se numa raridade zool�gica. Os seus tropismos adaptativos (estudar , ler, ensinar, pois �!) j� n�o s�o eficazes, e � v�-lo agora a so�obrar (tamb�m de t�dio!) nas intermin�veis reuni�es dos conselhos (pedag�gico, de turma, de directores de turma, de departamento, de grupo...), que se transformaram numa morosa (logo)terapia grupal. � v�-lo a arquejar nos labirintos processuais dos projectos/planifica��es/forma��es/avalia��es, e muitas outras ninhices pedag�gico/did�cticas, � espera de ser professor, isto �, estudar, ler, ensinar.

(Paulo Ferreira)

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Os coment�rios ao Novo Estatuto da Carreira Docente levantam-me preocupa��o. E preocupam-me porque � falta de subst�ncia (tirando o coment�rio muito pertinente acerca da inger�ncia na vida privada), optam por criar um manto de d�vidas para criar confus�o e medo. Usam-no batendo nas ci�ncias da educa��o, porque est� na moda bater nelas. Como estaria na moda bater na f�sica de Galileu durante o Renascimento ou j� esteve na moda bater em muitas outras ci�ncias no seu in�cio. Sim, porque cem anos ou pouco mais n�o � sen�o o in�cio de uma ci�ncia. Na inform�tica, mas tamb�m nos meios militares e politicos, e em muitos outros, h� hoje um nome para isto: ataque por FUD (Fear, uncertainty and doubt).

Critica-se a "quantidade infind�vel de tarefas e fun��es" (29), n�o querendo ver que surgem como requisitos, que n�o s�o uma lista para ir marcando de cruz � medida que s�o feitas... Discuss�o objectiva � isto: se s�o muitas, apontem-se as que est�o a mais. Como no c�lebre filme Amadeus, em que perante a sugest�o do imperador que a sua m�sica tinha notas a mais, Mozart perguntava ent�o quais devia tirar.

Falam-se em "parasitas" das educa��o, apontando Escolas Superiores, Faculdades, Docentes, Editores. Ent�o, pergunto: eliminem-se estes actores, e como se forma um professor? Sem sem ensinado por ningu�m, sem nada ler? Ser� que est�o a propor que se aprenda a ensinar na l�gica "atirem-se � �gua para nadar"? Aprende-se melhor a nadar na �gua dentro dela, n�o a ter aulas te�ricas sobre nata��o, � o que se tenta explicar muitas vezes. Que n�o � o mesmo que dizer que as aulas te�ricas sobre nata��o n�o sejam importantes. � apenas dizer que, sendo �teis, n�o bastam para saber nadar.

Critica-se a "obriga��o" de professores com experi�ncia terem de estudar sociologia, psicologia, organiza��o e avalia��o, porque o que interessaria seriam apenas as t�cnicas pedag�gicas. � triste ouvir isto. J� agora, tivesse-se a coragem (falo ironicamente) para propor n�o aprender mais do que o estritamente necess�rio ao exerc�cio das fun��es manuais. Francamente! Ent�o ter no��es de psicologia, de sociologia, de m�todos de avalia��o n�o interessa?!? Porventura s�o no��es �bvias e evidentes, que s� porque um professor tem experi�ncia certamente domina?!? De modo algum!! Dou aulas h� 7 anos e continuo a procurar mais informa��o sobre todos estes elementos, n�o apenas sobre as "t�cnicas pedag�gicas". � como um carpinteiro dizer que s� quer saber de cortar madeira, n�o de economia, n�o de atendimento a clientes, n�o de conserva��o das madeiras em armaz�m ou depois de entregues os m�veis aos clientes...

As ci�ncias da educa��o, como em qualquer outra �rea cient�fica emergente, cont�m grande valor e grande quantidade de irrelev�ncia ou desinforma��o. Simplesmente, os professores, que deveriam ter um esp�rito cr�tico para avaliar e julgar o que l�em e ouvem, preferem geralmente receber informa��o doutrin�ria, "a papinha feita", e assim d�-la (mesmo a n�vel superior), mais do que ter de assumir uma vida perante conhecimento que, por ser cient�fico, � imperfeito e incerto. � mais dif�cil receber informa��o, pensamentos, ideias, conhecimento que apresentem contradi��es, que possam entrar em contradi��o com o que se v� e pensa... E tentar resolver essas contradi��es. � mais f�cil dizer "fa�a-se como sempre que se fez, n�o tenho de pensar tanto".

Se as ci�ncias da educa��o em Portugal foram t�o m�s para o Ensino, ent�o porque est� a popula��o em geral muito mais bem formada? Proventura esquecem-se as pessoas do que era o ensino no anos 70 e anteriores, da quantidade de pessoas que simplesmente saia do sistema ou era deixada para tr�s... E que hoje est�o na escola. Comparar os poucos (e �ramos poucos) que conseguiam prosseguir no sistema de ensino com a globalidade da popula��o que o faz hoje � n�o apenas cegueira, mas muito perigoso.

(Leonel)

30.5.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM FRANKFURT, ALEMANHA



Esta foto foi tirada ontem, no parque de autocarros do aeroporto de Frankfurt Hanh. O motorista de um autocarro aproveitou a pausa entre duas viagens, e o bonito sol que fazia na altura, para colocar os emails em dia.

(Paulo Moreira)

29.5.06
 


BIBLIOFILIA: ENSAIOS

The image �http://www.fantasticfiction.co.uk/images/x1/x5908.jpg� cannot be displayed, because it contains errors.A Temple of Texts


David Lodge, Consciousness and the Novel : Connected Essays

William H. Gass, A Temple of Texts

Christopher Woodward, In Ruins

 


INTEND�NCIA

Actualizados os ESTUDOS SOBRE COMUNISMO.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: V�RIA

SOBRE TIMOR

Na democracia de Timor-Leste h� um problema de fundo que ningu�m tem falado. Al�m dos v�rios problemas sobre o "n�o respeito das minorias", h� este problema de fundo: as �nicas elei��es que existiram em Timor-Leste, al�m da Presid�ncia da Rep�blica, foram para a Assembleia Constituinte, em 2001, organizadas pelas Na��es Unidas. Como � normal, em qualquer processo democr�tico, estava previsto fazer-se as elei��es para o Parlamento Nacional de acordo com a nova Constitui��o.

Com o consentimento de S�rgio Vieira de Melo, a Fretilim, que tinha a maioria absoluta, incluiu uma cl�usula na Constitui��o que diz: Artigo 167 da Constitui��o de Timor-Leste: �A Assembleia Constituinte transforma-se em Parlamento Nacional com a entrada em vigor da Constitui��o da Rep�blica.�

Ou seja, O ACTUAL PARLAMENTO E ACTUAL GOVERNO DE TIMOR-LESTE N�O RESULTARAM DE ELEI��ES.

A inten��o seria "evitar despesas" com elei��es. No entanto, os partidos mais pequenos, e principalmente os que n�o t�m deputados, estavam � espera das elei��es para se afirmarem, ficaram frustrados e nunca "perdoaram" nem aceitaram esta "transforma��o". Por isso, desde sempre, que esses partidos minorit�rios t�m apoiado manifesta��es contra o Governo por n�o ter sido democraticamente eleito, mas "nomeado".

ESTRAT�GIAS PARA ESMAGAR A OPOSI��ES

Al�m da estrat�gia da Constitui��o, que "eliminou" qualquer hip�tese de oposi��o, existem outras amea�as:

E o problema mais grave surge porque existem receios (e "amea�as") de v�rias estrat�gias para "esmagar" toda e qualquer oposi��o dentro e fora do partido, utilizando, para o efeito, v�rias estrat�gias legislativa formais.

Nas elei��es para os Chefes de Sucos, em 2005, � �ltima da hora foi introduzida legisla��o que inviabiliza a apresenta��o de candidatos pelos partidos da oposi��o, por exemplo.

A recente "elei��o de bra�o no ar", no congresso, embora dentro do partido foi mais um indicio que o Governo utiliza todas as estrat�gias para evitar oposi��es (como o fez com os chefes de Sucos).

O que a comunidade internacional tem a fazer � vigiar e pressionar para que exista verdadeira democracia, e n�o democracia formal. Caso contr�rio, continuar�o a surgir tenta��es totalit�rias, estimuladas com o dinheiro do petr�leo.

(Marcos)

*

A etnicidade � um combust�vel ao qual se pode chegar o fogo mas � claro que nem todos - dos mais de 20 grupos etno-lingu�sticos e das centenas (pelo menos) de cl�s - se agregam de forma f�cil das duas designa��es etnicas colectivas: Firaku e kaladi.


Timor � um pa�s mais cl�nica do que �tnico. Mas isso n�o melhora a situa��o.

O problem�tico desta crise � a de poder ser reduzida - pelo desconhecimento - a uma crise pol�tico-institucional (o que parece ser a sua posi��o) no esquecimento dos problemas socio-culturais. Assim, a reconstru��o vai outra vez usar os militares os pol�tico e os juristas e esquecer-se das �reas soft da Antropologia e das ferramentas de constru��o das na��es.

(Paulo Castro Seixas)

Fragmento do artigo de Paulo Castro Seixas, "Firaku e Kaladi: Etnicidades Prevalentes nas Imagina��es Unit�rias em Timor Leste", Trabalhos de Antropologia e Etnologia, vol. 45 (1-2) SPAE, Porto
Em 2001, na altura da campanha eleitoral para a Assembleia Constituinte e Parlamento em Agosto, quando em casa do Francisco (um dos meus interpretes da cultura timorense) com alguns membros da sua fam�lia e muitas crian�as, vision�vamos no LCD da minha c�mara um dos com�cios em Liqui��, numa conversa do Francisco com o seu irm�o, a certa altura, surge a refer�ncia a algu�m no com�cio que � classificado como �Firaku�. Foi neste contexto, j� pol�tico, que pela primeira vez (apesar de em 2000 j� ter efectuado uma estadia de terreno) ouvi este termo. Quando perguntei o que queria dizer �Firaku�, surgiu ali a primeira vers�o desta hist�ria na voz do Francisco com a ajuda do seu irm�o e que de seguida parafraseio:

Quando os Portugueses chegaram a Timor, falaram primeiro com os timorenses de Dili. Os timorenses ouviram e ficaram calados. Depois foram para leste e voltaram a falar com os timorenses dali mas neste caso os timorenses simplesmente viraram as costas aos portugueses. E, assim, os calados ficaram �Kaladi� e os que viraram as costas tornaram-se �vira-cus� e depois �Firaku�. Os �Firaku� s�o os timorenses de Lorosae, de Manatuto para leste e s�o mais extrovertidos, negociantes e meliantes; os �Kaladi� s�o os de Loromono, de Manatuto para Oeste e s�o mais introvertidos, mais pergui�osos, mais consensuais. (Esta foi a vers�o contada por dois Kaladi).

Apesar de ter regressado a Timor em 2002 e em 2003, s� em 2004 (Mar�o-Abril) considerei que era o tempo prop�cio para apalavrar esta quest�o pois com a entrega da seguran�a interna e externa ao governo timorense pela UNMISSET ter�amos os timorenses entregues a si pr�prios e �s suas diferen�as. Portanto, Firaku e Kaladi caracterizariam diferen�as entre os timorenses, tal qual foram percebidas pelos portugueses. E tais representa��es culturais, cuja origem estaria no primeiro �confronto do olhar� dos portugueses com os timorenses, teriam talvez como elemento pr�vio ou, pelo contr�rio, ganharam ao longo do tempo, uma densidade �tnica na mem�ria e representa��o actual da sociedade timorense. No entanto, ao longo dos �ltimos 4 anos de trabalho sobre Timor (com 5 estadias no pa�s de cerca de m�s e meio cada) percebi que esta classifica��o � uma estrutura latente e n�o � apalavrada nas conversas correntes, pelo menos explicitamente atrav�s de tais denomina��es apesar de fazer parte dos sentidos das conversas, por vezes mesmo antes delas se iniciarem .

*

SOBRE A FUTEBOL�NDIA


A prop�sito da futebol�ndia, Albert Camus, que adorava o futebol, dizia que "os detractores do futebol s�o tremendos: obrigam-se a falar do futebol" porque a concep��o que tinha do jogo encerrava-se nesta asser��o:"Ce que finalement, je sais de plus s�r de la morale et des obligations des hommes, c'est au football que je le dois...". � poss�vel que esta vis�o do jogo constituisse o modelo existencialista corrente e j� globalizado nos dois primeiros quarteis do s�culo XX, a ajuizar pelas declara��es do ent�o Presidente da Federa��o Internacional de Futebol, Jules Rimet: "Je suis comme Charles-Quint, le soleil ne se couche jamais sur mon empire". O que � indesment�vel.

(Jo�o Boaventura)

*

SOBRE O PLANO NACIONAL DE LEITURA

(...) Tenho tamb�m algumas d�vidas sobre a efic�cia de um Plano Nacional de Leitura uma vez que partilho do ponto de vista do leitor do Abrupto Gabriel Mith� Ribeiro que questiona a legitimidade de tal plano num universo em que nada de fundo � anunciado para aumentar o saber dos alunos, mantendo um n�vel de complac�ncia geral e acreditando que aulas de substitui��o e a presen�a dos professores na escola, para l� das horas de aula (medidas com as quais tamb�m eu concordo) resolvem o que quer que seja. Ningu�m nunca falou em exigir mais dos alunos: disciplina, aprendizagem e avalia��o. Ningu�m nunca falou em altera��es profundas aos curr�culos nomeadamente questionando o que se d�, as disciplinas que se imp�em aos alunos: eu continuo sem perceber a utilidade de disciplinas como Estudo Acompanhado, �rea Projecto e Educa��o C�vica, esta �ltima ent�o, � de um politicamente correcto absolutamente assustador num universo em que os alunos tem uma literacia baixa, capacidades matem�ticas baixas, e s�rios problemas de viol�ncia (f�sica, verbal, intimida��o) e disciplina.

O problema com a leitura e a literacia � um problema social. N�o sei, tamb�m aqui, como Planos disto ou de aquilo poder�o modificar algo de estrutural e t�o enraizado como a marginaliza��o da leitura face outras actividades mais imediatamente "gratificantes". Os h�bitos de leitura surgem quando a crian�a, e at� o adulto est� num ambiente de leitura. Quando t�m livros � sua volta, quando v�m os outros, pais, fam�lia, amigos, conhecidos a ler. S� se gosta de ler, lendo.

Eu poderia escrever muit�ssimo mais sobre este assunto, quer enquanto m�e de filhos em idade escolar, quer enquanto amante de leitura, quer enquanto grande cr�tica dos curr�culos escolares cheios de ru�do e pouca subst�ncia que formam uma sociedade de pl�stico e tipo Morangos com A��car.

(J.)
 


EARLY MORNING BLOGS 784

In The Naked Bed, In Plato's Cave


In the naked bed, in Plato's cave,
Reflected headlights slowly slid the wall,
Carpenters hammered under the shaded window,
Wind troubled the window curtains all night long,
A fleet of trucks strained uphill, grinding,
Their freights covered, as usual.
The ceiling lightened again, the slanting diagram
Slid slowly forth.
Hearing the milkman's clop,
his striving up the stair, the bottle's chink,
I rose from bed, lit a cigarette,
And walked to the window. The stony street
Displayed the stillness in which buildings stand,
The street-lamp's vigil and the horse's patience.
The winter sky's pure capital
Turned me back to bed with exhausted eyes.

Strangeness grew in the motionless air. The loose
Film grayed. Shaking wagons, hooves' waterfalls,
Sounded far off, increasing, louder and nearer.
A car coughed, starting. Morning softly
Melting the air, lifted the half-covered chair
From underseas, kindled the looking-glass,
Distinguished the dresser and the white wall.
The bird called tentatively, whistled, called,
Bubbled and whistled, so! Perplexed, still wet
With sleep, affectionate, hungry and cold. So, so,
O son of man, the ignorant night, the travail
Of early morning, the mystery of the beginning
Again and again,
while history is unforgiven.


(Delmore Schwartz)

*

Bom dia!

28.5.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL


Arrumando uma locomotiva em S. Apol�nia.

(Carlos Monteiro)

27.5.06
 


QUEM DESCEU PRIMEIRO AS ESCADAS, O QUE COMERAM AO PEQUENO ALMO�O, O TORNOZELO QUE EST� VERMELHO, �GOSTAVA DE VIR A PEGAR NELA [A TA�A]�, �OS RAPAZES V�O TER UM BOCADO DE PRESS�O�, � A ALEMANHA NATURALIZOU FANTASISTAS COMO O NANDO�, �ESTOU NUM GRANDE MOMENTO F�SICO E PSICOL�GICO�, �O DESEJO CRESCENTE QUE CADA VEZ MAIS ENVOLVE A NA��O LUSA�, �FAZ FALTA QUARESMA PORQUE FOI MUITO CONSISTENTE�, AS BANCADAS DO LUSITANO EST�O SEM LICEN�A. �O DO MEIO TINHA COMO FUN��O FINALIZAR OS CENTROS DA ESQUERDA E DA DIREITA�, MANICHE DEU O �TIRO MAIS SONORO AO POSTE�, OS JOGADORES �MANIFESTARAM SINTONIA�, A CONSTIPA��O INIMIGA DA SELEC��O, �COMO TENHO MUITAS SAUDADES DA MINHA MULHER�, �TUDO O QUE FIZER MISTER SCOLARI, EST� BEM�, ETC, ETC.



Ah! minha bela Futebol�ndia! Segue o exemplo do Montenegro e torna-te independente. Leva a televis�o, a r�dio e os jornais... J� tens bandeira e hino e a UE dar-te-� seguramente guarida. Deixa o sil�ncio por c�. V�, r�pido!

(Na S�bado.)
 


EARLY MORNING BLOGS 783

Vida


Choveu! E logo da terra humosa
Irrompe o campo das lili�ceas.
Foi bem fecunda, a esta��o pluviosa!
Que vigor no campo das lili�ceas!

Calquem. Recalquem, n�o o afogam.
Deixem. N�o calquem. Que tudo invadam.
N�o as extinguem. Porque as degradam?
Para que as calcam? N�o as afogam.

Olhem o fogo que anda na serra.
� a queimada... Que lumar�u!
Podem calc�-lo, deitar-lhe terra,
Que n�o apagam o lumar�u.

Deixem! N�o calquem! Deixem arder.
Se aqui o pisam, rebenta al�m.
- E se arde tudo? - Isso que tem?
Deitam-lhe fogo, � para arder...


(Camilo Pessanha)

*

Bom dia!

26.5.06
 


RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL


Padeiros

Poucos, muito poucos, se lembram, que, quando comem um peda�o de p�o ao pequeno almo�o, ao almo�o ou ao jantar, existe uma actividade muito especifica subjacente � produ��o de tal alimento. Uma actividade exercida de noite...das 00.00 �s 06.00/07.00, cujo resultado � depois distribu�do pelos motoristas �s mercearias, restaurantes, cantinas fabris, escolas, etc...actividade oculta, exercida por homens que n�o t�m mais do que a antiga 4� classe, muitos deles analfabetos, mas que produzem algo (enquanto os outros est�o a dormir) que muitas pessoas n�o dispensa no seu dia a dia: O P�O!

(Fernando Machado)
 


EARLY MORNING BLOGS 782

A Manh� fresca est�, sereno o vento,
O monte verde, o rio transparente,
O bosque ameno; e o prado florescente
Frag�ncias exalando cento a cento.

O Peixe, a Ave, o Bruto, o branco Armento,
Tudo se alegra; e at� sair a gente
Dos r�sticos casais se v� contente,
E discorrer com v�rio movimento.

Este cava, outro ceifa e aquele o gado
Traz no campo a pastar de posto em posto;
Outro pega na fouce, outro no arado.

Tudo alegre se mostra: e s� disposto
Tem contra mim o indispens�vel fado,
Que em nada encontre al�vio, em nada gosto.


(Abade de Jazente)

*

Bom dia!

25.5.06
 


INTEND�NCIA

Actualizado O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: LEITURA, LEITURAS.

Actualiza��o em curso dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.
 


O QUE ESTAVA NA GAVETA

Muitas vezes se perguntou, depois do 25 de Abril, sobre os romances e outros escritos liter�rios que estariam na gaveta sem poderem ser publicados devido � Censura. Hoje sabemos que n�o havia nada de significativo na gaveta, o que n�o deixa de ser surpreendente dada a dura��o da ditadura e o facto de alguns escritores e intelectuais estarem exilados, fora dos constrangimentos policiais do regime, podendo ter escrito textos para al�m da censura. Se exceptuarmos meia d�zia de poesias, s� os textos clandestinos de autores comunistas, os contos "vermelhos" de Soeiro Pereira Gomes e a obra ficcional de Cunhal escrita na cadeia, o At� Amanh� Camaradas e o Cinco Dias, Cinco Noites, foram escritos para al�m da Censura.

Quer se queira quer n�o, a Censura exerceu o seu poder muito para al�m da sua realidade f�sica, mostrando a sua enorme efic�cia como institui��o, provavelmente, e cada vez me inclino mais para essa avalia��o, como a mais poderosa e eficaz institui��o da ditadura. O caso portugu�s ganha em ser comparado com outros casos de literatura "clandestina", como a produzida pela Resist�ncia francesa, ou pela "dissid�ncia" sovi�tica, onde toda uma tradi��o liter�ria, po�tica, ficcional e ensa�stica, foi mantida sem interrup��o, mesmo nos anos mais duros das grandes purgas estalinistas. Nas cozinhas e nas salas dos pequenos apartamentos urbanos, onde poucos cabiam sem se acotovelar, nas dachas perif�ricas, manuscritos, tiragens fr�geis ou apenas a for�a da memoriza��o mantinham uma vida liter�ria de resist�ncia que nunca o comunismo conseguiu destruir.

N�o estando romances, nem novelas, nas gavetas dos nossos escritores da oposi��o, o que agora se verifica � que estavam cartas. A correspond�ncia torna-se assim a revela��o em grande parte por fazer sobre a vida portuguesa subterr�nea, que s� tenuemente chegava aos jornais e revistas, e que flu�a com maior liberdade nas cartas do que nos textos para publicar, embora essa liberdade fosse tamb�m vigiada pela PIDE. A correspond�ncia era controlada, as cartas desviadas nos CTT e interceptadas, de forma dirigida ou ao acaso. V�rias pris�es foram feitas a partir de cartas interceptadas e nas buscas policiais a correspond�ncia era especialmente procurada.

Mas havia correspond�ncia e o pouco que j� se conhece mostra a sua import�ncia como fonte �mpar para o conhecimento da �poca e tamb�m, nalguns casos, pelo seu valor liter�rio e ensa�stico. A publica��o de v�rios grupos de correspond�ncia, incluindo a de Luiz Pacheco com alguns dos seus companheiros, a excepcional s�rie de cartas entre �scar Lopes e Ant�nio Jos� Saraiva � agora acrescentada pela correspond�ncia entre Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena, cobrindo os anos de 1959-1978, editada pela Guerra e Paz. O livro � obrigat�rio por todas as raz�es, por Sena, por Sophia e pelo Portugal cultural e pol�tico desses anos tristes e convulsos.

Personalidades muito diferentes, Sophia, prudente, calma e contida, e Sena agitado, infeliz e zangado com o mundo, trocam cartas numa �poca em que as cartas eram ainda importantes e n�o eram substitu�das pelo telefone, cujo uso era escasso, porque caro, para longas dist�ncias e muito menos pelo inexistente e-mail. Escrever-se era primeiro que tudo um exerc�cio de amizade e � essa a plataforma em que Sena e Sophia se "falam", escrevendo cartas.

De que falam? Do seu mundo, t�o diferente em muitos aspectos do actual, a n�o ser nos comportamentos, e esse mundo � dominado pela literatura, pela pol�tica, pela vida pessoal de cada um, em particular quando emanava dos dois temas anteriores. � uma correspond�ncia reservada, pouco �ntima, mas que se solta na avalia��o de sentimentos, de sentimentos vindos de fora, como as impress�es de Sophia sobre o impacto que teve a sua viagem � Gr�cia.

Falam mais de pol�tica do que hoje � habitual, porque a pol�tica integrava-se na sua rela��o c�vica e intelectual com o mundo. Nos anos da ditadura, sendo ambos oposicionistas moderados, ou seja n�o comunistas, a obriga��o da pol�tica tinha um aspecto de exig�ncia �tica que � dif�cil de compreender nos nossos dias. Nas suas cartas aparece o dilema dos poucos intelectuais portugueses que estavam entalados entre a recusa da ditadura e a desconfian�a activa com a hegemonia dos comunistas na cultura da oposi��o. Quer Sena, quer Sophia relatam v�rios casos de manipula��o dos escritores portugueses pela rede nacional e internacional de apoios, pr�mios e promo��o que favorecia o c�none neo-realista e a fidelidade ideol�gica em detrimento da qualidade liter�ria. Sena chega a dizer de forma premonit�ria: "Agora est�o os Cidades e os Pimp�es contra mim, tempo vir� em que os Saraivas se opor�o a que eu tenha alguma c�tedra" (carta de 1964).

Este isolamento pol�tico acentuava as quez�lias nos meios liter�rios e, na correspond�ncia, essa eterna caracter�stica portuguesa (e n�o s�) � bem retratada, em particular por Sena, que sofria de um enorme ressentimento por n�o ver o seu valor reconhecido como entendia dever ser. Sena era uma personagem muito mais controversa do que Sophia e as suas atribula��es de ex�lio ainda acentuavam mais a sua permanente zanga com tudo o que era portugu�s, melhor, portuguezinho. O peso do ex�lio � uma constante nas cartas de Sena, que afirmava n�o "fazer profiss�o de exilado pol�tico inassimil�vel" e que dizia "comportar-se como brasileiro em tudo", acrescentando depois, com amargura, "sem abdicar em nada de ser o portugu�s que ningu�m � mais do que eu" (Carta de 1962).

Falando na sua qualidade de poetas, de poeta a poeta, Sophia descreve a impress�o que teve na sua viagem � Gr�cia em 1964: "foi ali a minha total felicidade", "encontrei na Gr�cia a minha pr�pria poesia (...) encontrei um mundo em que j� n�o ousava acreditar". Na correspond�ncia de Sophia, estas s�o as p�ginas mais intensas, e d�o, mais tarde, origem a uma discuss�o entre ambos sobre a tradu��o, que se percebe ter a ver com "ler" a Gr�cia. Sophia quer conhec�-la em tradu��es o mais pr�ximas poss�vel ao original e Sena, ent�o a publicar a sua antologia de tradu��es, defende a recria��o do texto. As tradu��es tinham um papel no trabalho de ambos porque eram uma das poucas formas de ganhar dinheiro com uma actividade intelectual e criativa, e o dinheiro faltava, em particular, a Sena.

Muito mais se podia escrever sobre esta correspond�ncia, mas basta come�ar a ler qualquer carta para se perceber a sua import�ncia para conhecer Sena e Sophia, mais o primeiro do que a segunda, e para se perceber o Portugal do s�culo XX, claustrof�bico, pequeno e provinciano. Como Sena escreve, com dureza:

"Cada vez mais penso que Portugal n�o precisa de ser salvo, porque estar� sempre perdido como merece. N�s todos � que precisamos que nos salvem dele."

(No P�blico de hoje.)

*

NOTA: Fernando Ven�ncio chama a aten��o para que havia mais coisas na gaveta.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UM LIVRO PARA ENTENDER OS BALC�S

The image �http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/f/f3/1943sept17.jpg� cannot be displayed, because it contains errors.H� livros que, de repente, lan�am uma grande luz sobre quest�es que se nos afiguravam dif�ceis de entender, obscuras ou irracionais. Acabei agora de reler, pela en�sima vez, um livrinho do Brigadeiro Fitzroy McLean, (autor, tamb�m do �Eastern approaches�) e falecido h� alguns anos na sua bela propriedade na Esc�cia.

O livro, o primeiro que ele escreveu com conhecimento directo de causa (McLean foi o primeiro oficial superior da Intelig�ncia Militar brit�nica a ser lan�ado nas montanhas da antiga Jugosl�via, para ser o contacto e o agente de liga��o entre os �Partisan� de Tito e o pr�prio Winston Churchill - que desconfiava, j� na altura, dos �C�tniks� de Mihailovic) chama-se �A batalha do Neretva� e os seus primeiros cap�tulos s�o, num brilhante resumo, o mais esclarecedor e l�cido documento sobre o que aconteceu na Jugosl�via p�s-Tito e em toda a c complica��o e sangueira balc�nica dos nossos dias.

Quem quiser compreender os conflitos que envolveram a S�rvia, o Kosovo, a Cro�cia, a Eslov�nia e a B�snia Herzegovina e julgue que conteceram �de repente�, tem naquele livro � escrito em 1948 � tudo o que � preciso, mas mesmo tudo, para adquirir uma perspectiva hist�rica e � medida que vai lendo, de vez em quando dir�: �...ah! por isso!!!�.�; e mais uma d�vida ou perplexidade desaparecer�.

Procurem em alfarrabistas, na Barateira ou encomendem na net (a �Amazon� - amazon.co.uk - � a mais completa e eficiente organiza��o do ramo): �The Battle of the Neretva�, by Brigadier Fitzroy McLean. Vale tamb�m a pena ler o �Eastern Approaches�� talvez fiquem a perceber muito do que se passa no Ir�o e no Iraque.

E j� agora, complementarmente, releiam no �Kaput�, do Curzio Malaparte, o cap�tulo intitulado �a basket of oisters�. Quem, depois disso, se sentir ainda intrigado com os balkans, n�o perceber� nunca coisa alguma..

(Luiz Rodrigues)

 


BIBLIOFILIA / FILATELIA: OBJECTOS EM RISCO DE EXTIN��O?


Os cat�logos de selos da Afinsa.


E COISAS DA S�BADO sobre os POBRES SELOS

Que j� lhes basta n�o terem fun��o nos dias de hoje que um computador, uma tira de papel com cola, um carimbo vermelho n�o substitua e ainda por cima verem-se envolvidos numa poss�vel fraude financeira em que servem de pretexto. Como filatelista amador, os selos s�o para mim um mundo de prazer e afei��o e a Afinsa um bom fornecedor de material filat�lico. Registe-se que o que l� compro, trago para casa, e nunca �investi� em selos pelo que n�o fa�o parte dos milhares em fila que acreditam em �esquemas� que d�o juros imagin�rios. N�o sei se a Afinsa cometia ilegalidades, mas se a firma desaparecer acabam os servi�os que quase s� ela fornecia: cat�logos de qualidade, assinaturas de novidades, folhas de �lbuns. Pobres selos, pobres filatelistas que n�o acreditam em investimentos milagreiros, mas apenas na compulsiva paix�o de encher os vazios dos �lbuns com hist�ria condensada. Sim, porque os selos, principalmente os cl�ssicos, s�o hist�ria condensada.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: BIBLIOTECAS E EST�DIOS

A prop�sito da "futebol�ndia" que tanto exp�e e critica nos seus escritos remeto-lhe o link de um interessante Blog que cont�m um trabalho estat�stico curioso. Compara-se a m�dia mensal de assist�ncia dos est�dios dos dois maiores clubes de Lisboa com o n�mero de visitantes da rede de bibliotecas da capital. Talvez nem tudo esteja perdido......

(Jorge Lopes)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: LEITURA, LEITURAS

No domingo 21 de Maio a cr�nica de Vasco Pulido Valente no P�blico refere-se a um convite que lhe ter� sido enviado por tr�s ministros para pertencer � Comiss�o do Honra do Plano Nacional de Leitura. Afirma ter resolvido responder em p�blico. Mas afinal limita-se a usar o convite como pretexto para um arrazoado de ataques incongruentes e despropositados. Acusa os ministros de lan�arem �uma fantasia�, sem se dar ao trabalho de esclarecer o leitor qual � afinal o conte�do do dito Plano.

Acusa o Dr. Gra�a Moura, de fazer propaganda ao governo (!) Acusa a televis�o, o computador e o telem�vel de impedirem as �criancinhas� de lerem, para afirmar na frase seguinte que afinal nunca se leu tanto em Portugal. Acusa o Miguel Sousa Tavares, a Margarida Rebelo Pinto e o Saramago porque �vendem�livros. Acusa os best-sellers e seus leitores de existirem. Afirma que os hipermercados promovem mais a leitura do que as escolas e as bibliotecas, enfim, n�o vale a pena continuar a reproduzir o chorrilho de asneiras.

� �bvio que o autor da cr�nica ignora, (ou quer ignorar?) quais s�o os resultados dos portugueses nos estudos internacionais de literacia. Bastava-lhe ter lido os jornais na altura da publica��o do relat�rio do PISA 2003, ou consultar a net., para se informar. Se o tivesse feito, poderia verificar que a compet�ncia de leitura de 48% dos jovens de 15 anos � m�nima. Apenas lhes permite localizar uma informa��o num texto ou identificar o tema principal do que leram. Um t�o baixo n�vel de dom�nio da leitura no final do ensino b�sico exige que se tomem medidas, pois deixa irremediavelmente comprometido o sucesso acad�mico e profissional das novas gera��es e impossibilita o desenvolvimento do pa�s. Face a este panorama, considero absolutamente extraordin�rio, que se possa considerar �inimagin�vel� a interven��o do Estado, usando como argumento que se deve deixar agir o mercado, ou mais precisamente o �hipermercado�.

Saber� o autor que praticamente todos os pa�ses europeus, mesmo os que apresentam resultados bastante favor�veis, lan�aram ou est�o a preparar medidas de �mbito nacional para desenvolver a literacia? Que pa�ses com tradi��es de interven��o minimalista do Estado nas �reas da Educa��o e da Cultura (por exemplo o Reino Unido) lan�aram planos nacionais e t�m apresentado resultados muito positivos? N�o leu, n�o sabe e provavelmente n�o lhe interessa saber. (...) A mim, como professora, interessa e muito e espero que o governo neste plano siga o bom exemplo ingl�s que pode ser visto aqui.

(Ol�via Cardoso)

*

Ao contr�rio da minha Colega Ol�via Cardoso, fui dos que reagi no P�BLICO favoravelmente ao texto de Vasco Pulido Valente. Independentemente das especificidades do Plano Nacional de Leitura e do tom veemente do autor, o problema � que esse tipo de planos, certamente �causas nobres� (para usar a express�o de VPV), t�m sistematicamente desviado a ac��o governativa das medidas de fundo que teimosamente continuam a ser adiadas no ensino. N�o � �� volta do ensino� que se resolve o problema da literacia, mas dentro do pr�prio ensino, sem me � permitida a imagem. Para usar uma express�o do Primeiro-Ministro, �N�o h� volta a dar�. Os mesmos governantes que desvalorizam o papel de saberes estruturais para a identidade civilizacional a que pertencemos (a n�vel liter�rio, cient�fico ou, numa palavra, humanista), atrav�s da imposi��o ou toler�ncia face a curr�culos e programas que muitas vezes n�o revelam mais do que �dio ao conhecimento; os mesmos governantes que se entret�m com as aulas de substitui��o (com as quais concordo), mas que n�o mudam nada de substantivo no modelo esgotado de sala de aula e de rela��o professor-aluno-conhecimento; os mesmos governantes que fingem n�o entender que a tranquilidade (e mesmo o sil�ncio) s�o decisivos para a qualidade das aprendizagens e mant�m uma pol�tica de avestruz face aos problemas de indisciplina; os mesmos governantes que pressionam o corpo docente no sentido do facilitismo (por exemplo, incentivando a que a avalia��o incida sobre absurdos como as �compet�ncias� ou as �atitudes� e cada vez menos sobre a qualidade do que os alunos, de facto, l�em, escrevem ou s�o capazes de calcular) � tais governantes n�o t�m depois grande legitimidade para, tal qual almas c�ndidas, virem propor �planos� para corrigir o monstro que deixam arrastar. Admitia legitimidade a tais �planos� se eles viessem complementar pol�ticas de fundo. Mas, lamentavelmente, n�o � nada disso que est� a acontecer. Um outro aspecto que me parece preocupante � que os consensos que tais �planos� bem-intencionados quase invariavelmente geram (tal qual organismos in�cuos como o Conselho Nacional de Educa��o) na pr�tica tendem a apagar a dimens�o verdadeiramente pol�tica e democr�tica (e porque n�o ideol�gica) do debate educativo. Foi a quase aus�ncia do contradit�rio, do debate frontal sobre op��es ditas �pedag�gicas�, que fez do ensino aquilo que ele �: o territ�rio onde se manifestam, por excel�ncia, efeitos socialmente nefastos do politicamente correcto. Creio que a esse n�vel, ingleses ou europeus, n�o nos podem dar grandes exemplos. H� apenas, em benef�cio deles, uma diferen�a de grau. Mas o problema � de fundo.

(Gabriel Mith� Ribeiro)
 


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVIS�ES, IMAGENS, SONS, PAP�IS, PAREDES)
(25 de Maio de 2006)


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Finalmente no Correio da Manh� meia d�zia de perguntas e respostas simples para se perceber o conflito timorense. Mas a pergunta que deve ser feita � nossa comunica��o social, que j� publicou centenas de milhares de linhas, que j� gastou milh�es de palavras sobre Timor, que est� presente em Timor mais do que em qualquer outro s�tio, � por que � que s� agora sabemos que existe este conflito �tnico com gravidade bastante para desencadear uma guerra civil?

*

Nas paredes do Audit�rio de um encontro sobre poesia que se deu em Vila do Conde, havia um conjunto de excelentes fotografias dos participantes no encontro anterior, muitas das quais retratos de gente dos blogues. Em Nelson d'Aires podem-se ver essas fotos e muito mais, de um fotografo freelancer que deve ser muito mais conhecido e reconhecido. N�o h� olhos que vejam?

Peregrinos na translada��o da irm� L�cia.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FORMAS DE TRATAMENTO

Um dos factores reveladores do provincianismo e atraso portugu�s � o modo como os jornalistas se dirigem aos treinadores de futebol nas entrevistas e confer�ncias de imprensa, colocando Sr. � frente do nome quando s�o estrangeiros (Sr. "Co" Adrianse, Sr. Luis Filipe Scolari, Sr. Ronald Koeman) e omitindo-o quando se trata de portugueses (Paulo Bento, Ant�nio Oliveira, etc). O facto de alguns treinadores portugueses terem sido jogadores de topo e essa maior "familiaridade" (vamos chamar-lhe assim) advir desse facto n�o serve de justifica��o, pois muitos tamb�m nunca o foram. Podemos verificar a diferen�a em rela��o a Inglaterra, onde os jornalistas se dirigem a Jos� Mourinho, que at� tem um grau acad�mico, tratando-o, invariavelmente, por Jos� e a Eriksson (seleccionador nacional) por Sven. � �bvio que existem diferen�as de "culturas". Trabalhei em multinacionais de influ�ncia anglo-sax�nica - tratamento pelo 1� nome - e alem� - "Herr" e "Frau" eram a forma mais comum - mas em ambas s� por acaso soube o grau acad�mico de alguns dos meus colegas e eles o meu. Mas o que est� em causa aqui, numa primeira an�lise, n�o � tanto a forma de tratamento, mas sim, no caso focado, a diferencia��o desse mesmo tratamento em fun��o da nacionalidade, que, para al�m do provincianismo que demonstra, pode inclusivamente ocultar, no limite, um comportamento na fronteira da xenofobia, sob a capa, aparente, de um "tom" cerimonioso

(Jo�o C�lia)

*
Em complemento do que diz Jo�o C�lia acerca do provincianismo da nossa Futebol�ndia, recordemos que um clube que �, entre n�s, conhecido como �o Milan de Rui Costa� vai ficar sem esse jogador.

Ora, se � verdade, como se diz, que ele vai para o Benfica, como � que o Milan passar� a ser referido na comunica��o social? E passaremos a ter, em compensa��o, �o Benfica de Rui Costa�?

(C. Medina Ribeiro)
 


EARLY MORNING BLOGS 781

A Noiseless Patient Spider


A noiseless patient spider,
I marked where on a promontory it stood isolated,
Marked how to explore the vacant vast surrounding,
It launched forth filament, filament, filament, out of itself,
Ever unreeling them, ever tirelessly speeding them.

And you O my soul where you stand,
Surrounded, detached, in measureless oceans of space,
Ceaselessly musing, venturing, throwing, seeking the spheres to connect them,
Till the bridge you will need be formed, till the ductile anchor hold,
Till the gossamer thread you fling catch somwhere, O my soul.


(Walt Whitman)

*

Bom dia!

23.5.06
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DESTRUI��ES EM TACITOLU (TIMOR)



(T.)

22.5.06
 


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVIS�ES, IMAGENS, SONS, PAP�IS, PAREDES)
(22 de Maio de 2006)


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O debate como luta de gladiadores moderna, e a televis�o como sua arena, vista pela publicidade do Pr�s e Contras na RTP1.

*

Um acad�mico descobre a realidade da selva onde habitamos todos j� h� muito tempo.

*

H� um grupo de homens para quem os Balc�s n�o t�m nunca novidade: os filatelistas. Independ�ncia do Montenegro? D�j� vu:

*
A prop�sito da sua refer�ncia � independ�ncia do Montenegro, n�o tenho deixado de pensar na minha, at� agora, �nica viagem ao pa�s, nos tempos da Jugosl�via de Tito, nos idos de 70 do s�culo passado e, principalmente, na minha visita a Cetinje, antiga capital do pa�s, numa tarde de fim de Ver�o, ido de Budva, no litoral montenegrino, onde estava de f�rias. De repente, senti-me transportado a um pa�s irreal, quase como num sonho, ou, melhor ainda, numa recrea��o fant�stica e fantasiada dos tempos do Imp�rio, misturando Sissi, o Imperador Francisco Jos�, "O Prisioneiro do Castelo de Zenda" e imagens da Sild�via do Tintin do "Ceptro de Ottokar" com a "modernidade" pronvinciana de uma Jugosl�via "socialista" mas que se pretendia "liberal", que j� n�o era a do litoral tur�stico mas misturava cenas que poderiam ter sido retiradas do Portugal de prov�ncia com tra�os decadentes, principalmente em edif�cios, de algum esplendor antigo do Imp�rio onde a influ�ncia turca era ainda assinal�vel. Ali, numa pequena cidade de 10.000 habitantes, "enfiada" entre montanhas, onde n�o esperamos encontrar nada que nos surpreenda, mt� menos estas duas realidades que coexistiam mas se pareciam ignorar e repelir mutuamente. Ainda hoje, quando penso nessa visita, as imagens que ainda retenho mais me parecem retiradas de um sonho ou de uma qualquer recrea��o fant�stica da realidade, do que de algo que tenha efectivamente acontecido.

(Jo�o C�lia)
 


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL H�NGARA:

10. OUTUBRO (KAROLY FERENCZY)

October

 


EARLY MORNING BLOGS 780

la chanson d'un dada�ste
qui avait dada au coeur
fatiguait trop son moteur
qui avait dada au coeur

l'ascenseur portait un roi
lourd fragile autonome
il coupa son grand bras droit
l'envoya au pape � rome

c'est pourquoi
l'ascenseur
n'avait plus dada au coeur

mangez du chocolat
lavez votre cerveau
dada
dada
buvez de l'eau

(T. Tzara)

*

Bom dia!

21.5.06
 


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL H�NGARA:

9. RETRATO DE S�NDOR ZIFFER (VILMOS PERLROTT-CSABA)

http://www.hung-art.hu/kep/p/perlrott/muvek/1/perlr102.jpg
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: CAMPOS DE PEDRAS

(Em Marte.)
 


PERGUNTA RESPONDIDA, TUDO O RESTO EST� EM ABERTO



"A pergunta

O QUE � QUE ACONTECEU AO INQU�RITO "URGENTE" PARA SABER COMO � QUE LISTAS DE TELEFONES E TELEFONEMAS DE ALTAS INDIVIDUALIDADES DO ESTADO FORAM PARAR AO "ENVELOPE 9" DO PROCESSO CASA PIA?


tem p�s para andar, porque � uma exig�ncia c�vica. "

Isto foi escrito aqui no dia 19, uma semana depois de a pergunta ter sido formulada e ter sido retomada por v�rios blogues , assim como em not�cias e artigos de opini�o nos jornais. No dia 20, o Procurador Geral da Rep�blica respondia a esta pergunta numa declara��o-entrevista no Expresso fornecendo a sua explica��o sobre as raz�es do atraso do inqu�rito "urgente". Fez bem em explicar o atraso, mesmo que essa explica��o comporte op��es do Minist�rio P�blico na condu��o do inqu�rito que s�o discut�veis na sua oportunidade, necessidade e relev�ncia. Foi, no entanto, ainda mais longe e forneceu informa��es substantivas sobre o inqu�rito antes da sua conclus�o, que por si s� levantam muitas perplexidades e exigem s�ria discuss�o. Ela far-se-�, inevitavelmente.

19.5.06
 


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVIS�ES, IMAGENS, SONS, PAP�IS, PAREDES)
(19 de Maio de 2006)


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A ler: LIBERDADE E UTOPIA no Kontratempos.

*

A pergunta

O QUE � QUE ACONTECEU AO INQU�RITO "URGENTE" PARA SABER COMO � QUE LISTAS DE TELEFONES E TELEFONEMAS DE ALTAS INDIVIDUALIDADES DO ESTADO FORAM PARAR AO "ENVELOPE 9" DO PROCESSO CASA PIA?


tem p�s para andar, porque � uma exig�ncia c�vica. Hoje Eduardo Prado Coelho retoma-a no P�blico:
"Acontece que o mundo medi�tico tem uma regra (que vai contaminando as diversas �reas da nossa exist�ncia): pega num tema, explora-o at� � exaust�o e depois esquece-o e passa a outro para evitar a satura��o dos leitores. E as coisas desaparecem na voragem da mem�ria. E h� quem se aproveite destas coisas para continuar a sobreviver na nossa vida p�blica. Neste caso, estamos perante um verdadeiro esc�ndalo."
*

M�rio Crespo na SICN fez a melhor entrevista a Carrilho at� agora realizada sobre o seu livro. Com um interlocutor dif�cil, sem nunca ultrapassar a condi��o de entrevistador, tendo estudado a mat�ria e sem preconceitos corporativos, fez perguntas certeiras para as quais n�o houve resposta cabal. E tirou do livro de Jos� Gil uma interpreta��o certa, que um fil�sofo como Carrilho, que tamb�m cita Gil a prop�sito da inveja, perceber� que se lhe aplica. Onde, no seu livro, est� "inscrita" a derrota eleitoral de Lisboa?

Cito da entrevista de Gil ao P�blico, a parte relevante:
P. � � aquilo a que chama "n�o inscri��o". Que significa?

R. � Significa que os acontecimentos n�o influenciam a nossa vida, � como se n�o acontecessem. Por exemplo, quando uma pessoa ama, esse sentimento n�o afectar a outra pessoa, objecto do amor. Quando acabamos de ver um espect�culo, n�o falarmos sobre ele. Quando muito, dizemos que gost�mos ou n�o gost�mos, mais nada. N�o tem nenhum efeito nas nossas vidas, n�o se inscreve nelas, n�o as transforma. Ainda outro exemplo: o primeiro-ministro, Santana Lopes, classificou a dissolu��o da Assembleia da Rep�blica pelo Presidente como "enigm�tica". N�o disse que era incorrecta ou injusta, mas "enigm�tica", o que � a forma mais eficaz de a transformar em n�o-acontecimento.

P. � E, n�o tendo acontecido, ningu�m � respons�vel.

R. � Exactamente. Pode-se continuar como se nada se tivesse passado. Os acontecimentos n�o se inscrevem em n�s, nem nas nossas vidas, nem n�s nos inscrevemos na Hist�ria. Por isso, em Portugal nada acontece.
 


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL H�NGARA:

8. MULHER TOCANDO VIOLONCELO (ROBERT BER�NY)

http://hungart.euroweb.hu/kep/b/bereny/muvek/1921-30/csellozo.jpg
 


EARLY MORNING BLOGS 779

Before The World Was Made


If I make the lashes dark
And the eyes more bright
And the lips more scarlet,
Or ask if all be right
From mirror after mirror,
No vanity�s displayed:
I�m looking for the face I had
Before the world was made.

What if I look upon a man
As though on my beloved,
And my blood be cold the while
And my heart unmoved?
Why should he think me cruel
Or that he is betrayed?
I�d have him love the thing that was
Before the world was made.


(William Butler Yeats)

*

Bom dia!

18.5.06
 


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVIS�ES, IMAGENS, SONS, PAP�IS, PAREDES)
(18 de Maio de 2006)


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Com p�s para andar: as "micro-causas", uma inven��o c� da casa, tem no Miniscente uma primeira an�lise substantiva.

And now for something completely different:

O QUE � QUE ACONTECEU AO INQU�RITO "URGENTE" PARA SABER COMO � QUE LISTAS DE TELEFONES E TELEFONEMAS DE ALTAS INDIVIDUALIDADES DO ESTADO FORAM PARAR AO "ENVELOPE 9" DO PROCESSO CASA PIA?
 


A VIT�RIA P�STUMA DO XVI GOVERNO CONSTITUCIONAL

Hoje, muita gente que deu o chamado "benef�cio da d�vida", ou at� bem mais do que isso, ao dr. Lopes, abomina-o com vigor... e sem mem�ria. Eu, que nunca lhe dei esse benef�cio, estou � vontade para ver o pano de fundo em que ele cresceu, e por breves momentos venceu, e perceber que esse pano de fundo est� c� bem mais ancorado do que parece. A personagem que o simbolizava "anda por a�", mas o mundo que o criou est� bem mais "por aqui" do que muitos querem ver.
http://multimedia.iol.pt/oratvi/multimedia/imagem/id/173761/220
Os sinais desse Portugal est�o � vista todos os dias mostrando como s� para os outros, para outro Portugal, � que existe a realidade da crise, dos despedimentos, das dificuldades econ�micas, da perda do poder de compra e da quebra das expectativas. J� sabemos que a ind�stria das f�rias tropicais est� de vento em popa, como uma breve visita ao aeroporto de Lisboa revela, com as pequenas multid�es que partem p�lidas e regressam coloridas e com chap�us, sand�lias e modismos brasileiros, mexicanos, dominicanos e cubanos. J� sabemos que, ponte sobre ponte, o Algarve se enche de gente com carro e fam�lias, entupindo as estradas, consumindo uma gasolina que � suposto estar cara, mas que nunca esmoreceu as centenas de quil�metros em direc��o ao Sul. J� sabemos que o novo Casino, p�rola da governa��o lisboeta, mil vezes mais eficaz na sua capacidade de existir do que as contrapartidas que foram prometidas para a sua autoriza��o, est� cheio de povo, do povo de todas as classes A, B e C, na classifica��o do marketing. E o povo desloca-se alegre e feliz para os "bandidos com um s� bra�o" que funcionam barato e r�pido, deglutindo milhares de moedas, como se elas n�o faltassem a montante e jusante do Casino. � a "retoma", e quem tinha raz�o foi quem a anunciou. L� voltamos ao chefe do XVI Governo Constitucional e � sua omnisci�ncia. Todos estes portugueses nunca passaram pela "toma", est�o sempre na "retoma", e folgam como � sua condi��o.
http://www.fpf.pt/seleccoes/futebol11/masculino/aa/microsites/mundial2006/mundial/imagens/equipa.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/thumb/e/ec/Vegas_slots.JPG/250px-Vegas_slots.JPG
Mas a vit�ria p�stuma do XVI Governo Constitucional n�o se limita a ser econ�mico-social, � tamb�m cultural. J� dou de barato o futebol, essa "paix�o" nacional que tudo faz parar e que t�o do agrado era do chefe do XVI Governo Constitucional, ele pr�prio dirigente e comentador desportivo. Ele sentir-se-� bem com a gl�ria anunciada do escapismo futebol�stico, que nos vai encher as casas nos pr�ximos meses, com uma m�o cheia de nada e outra de coisa nenhuma. O Governo, qualquer governo, agradece imenso que haja muito futebol e municia a televis�o p�blica de abundantes fundos para nos encher o ecr� (por falar nisso, j� comprou o seu ecr� plano gigante para ver os jogos do Mundial?). Mais vale ver futebol do que pensar no "estado da na��o".

Depois h� o novo Campo Pequeno, cuja inaugura��o teve honras de grande espect�culo levado ao pa�s todo pela televis�o p�blica. Se deix�ssemos o lazer e os brinquedos tecnol�gicos, podia ser a televis�o de Salazar e Caetano a fazer aquela festa. Melhor: podia ser a sociedade do salazarismo a fazer aquela festa. Touros e o mundo dos touros, banda filarm�nica tipo Sociedade Imparcial 15 de Janeiro de 1898 de Alcochete (sem desprimor para esta, justa vencedora do 1.� lugar na categoria de Tauromaquia no Concurso de Bandas do Ateneu Vila-franquense), sevilhanas e fados marialvo-toureiro-taurinos, e at� o pobre do Lorca, que mais uma vez morreu �s cinco em ponto da tarde �s m�os de Simone de Oliveira.
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O jet set que se acotovelava para ser entrevistado pela RTP tamb�m frequentava os sal�es do XVI Governo Constitucional. Era o seu mundo "cultural", personificado numa das mais entusiastas e filmadas figuras da bancada da Pra�a de Touros, Cinha Jardim. Tudo aquilo n�o foi um vulgar espect�culo, como nos explicavam os entrevistados, mas uma recria��o do "Portugal tradicional", mito perdido numas brumas long�nquas recuperadas pelos fumos de palco. Como eu sou do Porto, onde n�o h� touros, o �nico fadista conhecido era o Neca Rafael e o �nico fado popular era o "j� est�s com os copos", n�o me lembro desta "tradi��o" assim t�o portuguesa, mas percebo muito bem o que � que nos querem dizer.

Este mundo tradicional � modernizado para os dias de hoje, pelo espect�culo, em particular por vidas vividas como um reality show. Por isso mesmo, outra vingan�a p�stuma do chefe do XVI Governo Constitucional foi ver uma das suas N�mesis, Manuel Maria Carrilho - N�mesis id�ntica porque ambos fizeram a mesma "pol�tica cultural" moldada em Jacques Lang, s� que com clientelas distintas -, a n�o perceber que o mundo l� fora tem ru�do e que a imensa imagem que temos de n�s pr�prios n�o o transforma em espelho. O dr. Lopes viu-se assim com algu�m a seguir a sua escola de pensamento sobre a correla��o entre derrotas eleitorais e conspira��es comunicacionais.
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De facto, s� a nossa curt�ssima mem�ria c�vica nos impediu de ver at� que ponto � mim�tico o livro do dr. Carrilho das queixas plangentes do dr. Santana Lopes. O chefe do XVI Governo Constitucional tamb�m era lesto em referir conspira��es contra ele. Tamb�m ele declarou que havia ag�ncias de comunica��o que eram pagas para o denegrir, assim como nomeava os jornalistas que, por cart�o de partido ou conjugalidade, participavam no universal ataque de que se sentia v�tima. O mesmo denunciou dezenas de conspira��es equivalentes �s do v�deo com o pequeno Diniz, desde a fotografia com a banda na cabe�a, "fora do contexto", at� �s perip�cias de uma sesta, ou da incompatibilidade da agenda do jet set com a agenda oficial. E n�o foi ele que amea�ou processar empresas de sondagens porque lhe prometiam resultados eleitorais negativos?

Exemplos absolutamente id�nticos abundam. A �nica diferen�a � que o chefe do XVI Governo Constitucional nunca gozou da complac�ncia com que o dr. Carrilho � recebido, muito para al�m da subst�ncia igualmente autista do seu livro, com artigos que lhe louvam a "coragem" da den�ncia e respeit�veis professores de comunica��o a lev�-lo a s�rio, quando nada, insisto nada, � diferente na mec�nica do seu livro com as elucubra��es do "menino guerreiro".

Ambos demonstram a veracidade do ditado: "Se vives pela imprensa, morres pela imprensa." Quer um quer outro brincaram com um fogo perigoso, o da exposi��o p�blica com fins promocionais, ou seja, em pol�tica, eleitorais. A vaidade de aparecer corroeu-lhes o ser e, se em Carrilho isso � mais devastador devido � sua indiscut�vel obra intelectual, iguala-o a Lopes no produto final.

A vit�ria p�stuma do XVI Governo Constitucional ao ver florescer o seu mundo em pleno socialismo n�o � um epifen�meno. O mesmo Portugal que o fez, desf�-lo como uma personagem do Purgat�rio de Dante dizia: "Siena mi f�, disfecemi Maremma." Mas desf�-lo para o recriar, desf�-lo porque havia uma efic�cia que ele n�o lhe trazia nem podia trazer: o cen�rio politicamente mais correcto para o Portugal do dr. Lopes � o de um socialismo manso, que pague o custo ret�rico do "social" dos pobres, mas que deixe brilhar esse outro "social", o da nossa pobre classe m�dia deslumbrada com expectativas mais caras do que as pode pagar. Foi j� assim em Espanha, com Felipe Gonz�lez e os seus novos-ricos. A hist�ria � sempre ir�nica, quando n�o � tr�gica.

(No P�blico de hoje.)
 


TER UM PENSAMENTO DE ESTADO SOBRE O ESTADO

� o que manifestamente o PS n�o tem. A proposta para restringir drasticamente a possibilidade de suspens�o do mandato dos deputados � mais uma medida ad hoc, pontual, desirmanada, demag�gica e que nada tem a ver com qualquer problema s�rio do Parlamento. Segue a linha autopunitiva e desqualificadora de muitas outras medidas, igualmente pontuais e demag�gicas, tomadas nos �ltimos anos e completamente in�teis porque atiram ao lado. Teria sido muito mais �til e prestigiante se, de uma vez por todas, se acabasse com a efectiva promiscuidade de alguma grande advocacia, ao mesmo tempo participante num org�o de fiscaliza��o do Estado e clientelar desse mesmo Estado, mas sobre isso impediu que alguma coisa se fizesse. Mais um passo na degrada��o do Parlamento.

 


BIBLIOFILIA: AMERICANA

http://www.scoop.co.nz/stories/images/0603/8664bcc8c57fba94d38f.jpeg http://www.longitudebooks.com/images/book_large/NYC28.jpg

Kevin Phillips, American Theocracy : The Peril and Politics of Radical Religion, Oil, and Borrowed Money in the 21stCentury

E.B. White, Here is New York

Michael R. Gordon / Bernard E. Trainor, Cobra II : The Inside Story of the Invasion and Occupation of Iraq
 


EARLY MORNING BLOGS 778

Encostei-me


Encostei-me para tr�s na cadeira de conv�s e fechei os olhos,
E o meu destino apareceu-me na alma como um precip�cio.
A minha vida passada misturou-se com a futura,
E houve no meio um ru�do do sal�o de fumo,
Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez.

Ah, balou�ado
Na sensa��o das ondas,
Ah, embalado
Na id�ia t�o confort�vel de hoje ainda n�o ser amanh�,
De pelo menos neste momento n�o ter responsabilidades nenhumas,
De n�o ter personalidade propriamente, mas sentir-me ali,
Em cima da cadeira como um livro que a sueca ali deixasse.

Ah, afundado
Num torpor da imagina��o, sem d�vida um pouco sono,
Irrequieto t�o sossegadamente,
T�o an�logo de repente � crian�a que fui outrora
Quando brincava na quinta e n�o sabia �lgebra,
Nem as outras �lgebras com x e y's de sentimento.

Ah, todo eu anseio
Por esse momento sem import�ncia nenhuma
Na minha vida,
Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros an�logos �
Aqueles momentos em que n�o tive import�ncia nenhuma,
Aqueles em que compreendi todo o v�cuo da exist�ncia sem intelig�ncia para o
compreender
E havia luar e mar e a solid�o, � �lvaro.


(�lvaro de Campos)

*

Bom dia!

17.5.06
 


RETRATOS DE UM MUNDO LITER�RIO ANTIGO

Luiz Pacheco , Cartas ao L�u. Vinte e duas cartas de Luiz Pacheco a Jo�o Carlos Raposo Nunes, Organiza��o e notas de Ant�nio C�ndido Franco, Vila Nova de Famalic�o, Quasi, 2005



As cartas de Pacheco n�o t�m interesse quase nenhum, mas as notas de Ant�nio C�ndido Franco valem o livro. Elas s�o o retrato de um certo mundo liter�rio marginal, que existia nas franjas dos autores e editores mais estabelecidos. Em muitas destas notas, ainda se vai mais longe no recenseamento quase erudito da marginalidade, sai-se da Cervejaria Trindade e da Brasileira do Chiado para a prov�ncia, Set�bal. Este mundo n�o era parco em deixar tra�os por todo o lado, livros de autor, brochuras, manifestos, artigos mendigados nos suplementos liter�rios que j� desapareceram. Aqueles que por l� andavam queriam ser ouvidos, tinham pouca ironia sobre a sua voz, tomavam-se a s�rio, atravessavam muitas dificuldades econ�micas para pagar do seu bolso uma edi��o, ficavam a dever dinheiro a toda a gente (uma especialidade sobre a qual Pacheco muito escreve), alguns tiveram fim tr�gico. Sem muito do que Pacheco escreveu e sem trabalhos como o de Ant�nio C�ndido Franco, estariam ainda mais esquecidos do que o que est�o. Hoje s�o uma esp�cie morta, sem livros como este, nem se sabia deles.
 


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL H�NGARA:

7. IGREJA EM NAGYB�NYA (LAJOS TIHANYI)

 


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVIS�ES, IMAGENS, SONS, PAP�IS, PAREDES)
(17 de Maio de 2006)


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Fotografia como saber: a "arquitectura da densidade" de Michael Wolf.
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: A M�QUINA DO MUNDO

A vista from Cassini, showing moons and the rings

Vistos pela sonda Cassini, o pequeno Epimeteu, o grande Tit� e os an�is que anunciam o gigante Saturno.
 


EARLY MORNING BLOGS 777

A Man Said to the Universe


A man said to the universe:
"Sir I exist!"
"However," replied the universe,
"The fact has not created in me
A sense of obligation."


(Stephen Crane)

*

Bom dia!

16.5.06
 


CRISE? DESPEDIMENTOS? DEPRESS�O?

http://www.occultopedia.com/images_/titanic_sinking1.jpg

Qual qu�! Jogo no Casino, futebol por todo o lado, fado e touros. Parece o Titanic com a orquestra a tocar.
 


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL H�NGARA:

6. INTERIOR (S�NDOR GALIMBERTI)

 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: POL�TICA FISCAL
(R�PLICA DE ANT�NIO LOBO XAVIER A MANUEL ANSELMO TORRES)



[Na sequ�ncia de LENDO / VENDO /OUVINDO (11 de Maio de 2006) e O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: IMPOSTOS E DEMAGOGIA. ]

Desculpem-me os leitores do abrupto por voltar ao tema entediante da pol�tica fiscal, mas o Manuel Anselmo Torres merece-me muita considera��o, pelo que n�o pode ficar sem r�plica, enquanto o Jos� Pacheco Pereira n�o me expulsar.

1 � Nem de longe nem de perto pretendi sustentar dogmaticamente � como poderia faz�-lo? � a inevitabilidade da isen��o das mais-valias para efeitos de IRS. � claro que a progressividade das taxas de um imposto sobre as pessoas f�sicas � compat�vel com a tributa��o dos ganhos fortuitos: o problema consiste justamente em saber se se justifica que estes �ltimos recebam naquele um tratamento especial, em homenagem � sua particular natureza. A comiss�o da reforma fiscal, em 1988, optou por responder afirmativamente a esta quest�o, em nome de algumas das refer�ncias que escrevi no primeiro post (est� no pre�mbulo do C�digo).

2- Lamento, mas n�o � verdade que o efeito de restri��o da venda (lock-in) s� se verifique quando a tributa��o das mais-valias � mais gravosa do que a que corresponde aos restantes rendimentos. Em face de um imposto progressivo e admitindo que o aumento do valor de um certo bem se formou ao longo de v�rios anos, � �bvio que a tributa��o da mais-valia no momento da respectiva realiza��o tender� a ser mais gravosa do que na hip�tese em que se pudesse tributar uma frac��o em cada ano (efeito de bunching). Em face desta circunst�ncia, admite-se que o propriet�rio do bem possa prolongar a sua deten��o � especialmente quando o sistema tamb�m isenta as transmiss�es por morte, em certos casos -, com o que se introduz uma distor��o fiscal � circula��o da propriedade. Trata-se de um efeito te�rico? Provavelmente, mas era nesse exacto plano que me colocava quando escrevi.

3 � O facto de n�o se admitir a comunica��o de perdas, para efeitos de IRS, entre as diversas categorias do imposto, n�o justifica que se isente uma categoria? Claro que n�o justifica. O que eu criticava era justamente os que, no discurso pol�tico, advogam a unidade do imposto s� quando isso significa agravamento da tributa��o do capital, esquecendo os movimentos em sentido inverso que a mesma unidade igualmente reclama.

4 � Ao contr�rio do que o Manuel Anselmo Torres escreve, h� dupla tributa��o econ�mica � porque n�o se integra completamente a tributa��o das pessoas e das sociedades - quando eu tributo o lucro da sociedade e a mais-valia realizada pelo accionista. A manifesta��o de riqueza subjacente � a mesma, e � com esse motivo que alguns pa�ses (Canad�, v.g.) justificam expressamente o seu pr�prio regime de isen��o de mais-valias relativo � venda de participa��es sociais. N�o sou eu que o digo, mas �pessoas que sabem muito mais do que eu� - n�o, n�o vou fazer cita��es, resisto a essa presun��o -, justamente como uma consequ�ncia do princ�pio da unidade da tributa��o do rendimento (e da ideia de que a tributa��o das sociedades constitui apenas uma esp�cie de reten��o na fonte relativamente � tributa��o das pessoas). � claro, cada sistema sabe os n�veis de dupla tributa��o com que consegue viver�

5 � Admitir a dedu��o dos encargos financeiros com uma aquisi��o (OPA) � permitir a eros�o da base tribut�vel? Eu chamo a isso permitir a tributa��o de acordo com o rendimento real. A diferen�a � muito grande, muito maior do que todas as que se encontram acima. Estamos frequentemente de acordo com muitas coisas, n�o h� mal nenhum em que n�o seja com tudo.

(ANT�NIO LOBO XAVIER)

*
Prometendo ao Ant�nio Lobo Xavier aprofundar o debate em pr�xima ocasi�o sem tomar ref�ns os leitores do abruto, diria apenas que n�o discordamos tanto quanto possa parecer... mas n�o h� tema pol�tico mais trai�oeiro que o fiscal.

(Manuel Anselmo Torres)

15.5.06
 


O QUE � QUE ACONTECEU AO INQU�RITO "URGENTE" PARA SABER COMO � QUE LISTAS DE TELEFONES E TELEFONEMAS DE ALTAS INDIVIDUALIDADES DO ESTADO FORAM PARAR AO "ENVELOPE 9" DO PROCESSO CASA PIA?


� que, por muito que se esteja habituado ao esquecimento de tudo, a "urg�ncia" foi um pedido expresso e p�blico do Presidente da Rep�blica, reiterado pelo Procurador Geral da Rep�blica, e, tantos meses depois, n�o h� resultados, nada se sabe, n�o h� uma explica��o, um esclarecimento, nada. � um pouco afrontoso para o Presidente da Rep�blica, ou n�o �? E n�o � muito afrontoso para todos os que exigem em termos de cidadania m�nima, um esclarecimento? �. Ou h� uma gigantesca conspira��o � volta do envelope, que exige meses e meses de trabalho investigat�rio, ou ent�o ningu�m percebe a complexidade e a demora em saber uma simples coisa que deve ter deixado um rasto de papel atr�s.

 


BIBLIOFILIAS: CENTROS E LESTES 3

http://www.britishbookshop.at/shop/images/products/thumbs/thm_01-22-96-00-90-00_1.jpg http://www.ihrc.umn.edu/news/Graphics/atlas.jpg

Paul Lendvai, Hungarians

Paul Magocsi, Historical Atlas of Central Europe

Poucos livros s�o por si s� t�o elucidativos do que � a "Europa Central", como esta rigorosa colec��o de mapas comentados. N�o � preciso ler, basta olhar. Olhando para os mapas percebe-se a maldi��o da geografia e todo o sentido do ditado polaco: "trocamos a nossa gloriosa hist�ria por uma melhor geografia". Para n�o ir mais longe do que o s�culo XX, alguns dos mapas, como o das desloca��es de popula��es no �ltimo ano da II Guerra, revelam a enorme trag�dia dos povos do Centro e do Leste da Europa, assim como o "empurrar" das fronteiras dos pa�ses para o Ocidente pelo Ex�rcito Vermelho. A descentra��o �tnica, lingu�stica, cultural, e religiosa significa toda uma "hist�ria" por resolver (por exemplo, a importante popula��o que fala h�ngaro e que ficou na Rom�nia, como se v� no mapa da "distribui��o etnolingu�stica por volta de 1900").
 


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVIS�ES, IMAGENS, SONS, PAP�IS, PAREDES)
(15 de Maio de 2006)


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Numa rua de P�cs, Hungria. Uma linguagem quase universal: a dos graffiti. Espero que n�o seja uma obscenidade.

 


EARLY MORNING BLOGS 776

Fragmento de "Irony Is Not Enough: Essay On My Life as Catherine Deneuve (2nd draft)" de MEN IN THE OFF HOURS


saison qui chante saison rapide

je commence

Beginnings are hard. Sappho put it simply. Speaking of a young girl Sappho said, You burn me. Deneuve usually begins with herself and a girl together in a hotel room. This is mental. Meanwhile the body persists. Sweater buttoned almost to the neck, she sits at the head of the seminar table expounding aspects of Athenian monetary reform. It was Solon who introduced into Athens a coinage which had a forced currency. Citizens had to accept issues called drachmas, didrachmas, obols, etc. although these did not contain silver of that value. Token coinages. Money that lies about itself. Seminar students are writing everything down carefully, one is asleep, Deneuve continues to talk about money and surfaces. Little blues, little whites, little hotel taffetas. This is mental. Bell rings to mark the end of class. He has a foreskin but for fear of wearing it out he uses another man's when he copulates, is what Solon's enemies liked to say of him, Deneuve concludes. Fiscal metaphor. She buttons her top button and the seminar is over.

(Anne Carson)

*

Bom dia!

14.5.06
 


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL H�NGARA:

5. NATUREZA MORTA (G�ZA BORNEMISZA)

 


RETRATOS DO TRABALHO NO DOURO, PORTUGAL


Colocando esteios numa nova vinha

(Gil Regueiro)
 


EARLY MORNING BLOGS 775

The little lives of earth and form


The little lives of earth and form,
Of finding food, and keeping warm,
Are not like ours, and yet
A kinship lingers nonetheless:
We hanker for the homeliness
Of den, and hole, and set.

And this identity we feel
- Perhaps not right, perhaps not real -
Will link us constantly;
I see the rock, the clay, the chalk,
The flattened grass, the swaying stalk,
And it is you I see.

(Philip Larkin)

*

Bom dia!
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BALI, INDON�SIA



Actividade piscat�ria de uma comunidade de pescadores que vive na praia de Jimbaran (praia que meses mais tarde sofreu um cobarde atentado terrorista).

(Miguel Salazar)

13.5.06
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: IMPOSTOS E DEMAGOGIA

(Continua��o da discuss�o da nota LENDO / VENDO /OUVINDO (11 de Maio de 2006)

Diz Ant�nio Lobo Xavier no Abrupto:

"Do ponto de vista te�rico, s� h� tr�s tipos de justifica��o para atenuar ou eliminar a tributa��o das mais-valias de ac��es. A primeira tem que ver com o facto de se tratarem de rendimentos ocasionais, �trazidos pelo vento�, para os quais porventura ser� exagerado aplicar taxas progressivas que foram pensadas para rendimentos peri�dicos, que se repetem, ordin�rios, ainda para mais quando o IRS na pr�tica impede a comunica��o das perdas entre as categorias; em geral, pode dizer-se, de facto, que as perdas n�o t�m relevo fiscal no IRS!. A segunda tem que ver com a preocupa��o de evitar um efeito de lock-in, que o propriet�rio de bens que se pretende que circulem os conserve mais tempo do que seria desej�vel para evitar o imposto. A terceira, a mais importante, prende-se com a preocupa��o em evitar a dupla tributa��o. Os ganhos feitos com as ac��es correspondem � antecipa��o ou realiza��o dos ganhos ou incrementos de valor experimentados pelas pr�prias empresas, os quais s�o normalmente tributados em IRC. � poss�vel dizer, por isso, em grande medida, que h� dupla tributa��o se simultaneamente tributarmos as empresas pelo respectivo incremento de valor e depois as pessoas singulares, quando realizam pela venda das ac��es o mesmo incremento de valor. � claro que isto n�o conduz automaticamente a uma isen��o das mais-valias de ac��es realizadas por particulares. Cada sistema escolhe a medida toler�vel de dupla tributa��o. O problema ser� sempre um problema de pol�tica fiscal, de atrac��o do investimento ou de facilita��o de obten��o de fundos em mercado de capitais. O resto � conversa demag�gica em que o discurso pol�tico � f�rtil quando se trata de impostos.

A proposta do BE n�o fica por aqui, contudo. Aquilo que mostra o seu �dio ao capitalismo e seus instrumentos � a proposta de n�o aceitar como custo fiscal os encargos financeiros com a aquisi��o de empresas! N�o lembra a ningu�m, � de um basismo chocante! � melhor a empresa que faz aquisi��es com capital pr�prio do que a que faz o mesmo com cr�dito? Por que raz�o os custos financeiros s�o menos dignos do que todos os outros, para apurarmos o rendimento real? O bloco desconhece que as SGPS n�o podem j� deduzir os custos financeiros com aquisi��es, desconhece que as suas menos-valias n�o s�o consideradas, enfim, parece que estamos na Alb�nia h� mais de trinta anos. Podia ser s� ideologicamente simb�lico, mas n�o �: � b�sico, irracional e retr�grado."

Sem querer defender Lou��, permito-me contrapor o seguinte:

1. O fundamento de taxas nominalmente progressivas n�o � incompat�vel com a tributa��o dos ganhos fortuitos, antes pelo contr�rio. A utilidade marginal dos ganhos fortuitos � menor que a dos rendimentos ordin�rios, pelo que justificaria uma progressividade ainda maior. Dito isto, muito mais chocante do que a isen��o das mais-valias � a isen��o do Euromilh�es.

As limita��es � comunica��o de perdas entre categorias de IRS n�o justificam a isen��o de qualquer uma das categorias. As derroga��es � unidade do imposto n�o se combatem com mais derroga��es.

2. O efeito lock-in s� existe se a tributa��o das mais-valias for mais gravosa do que a dos restantes rendimentos. De contr�rio, temos de nos preocupar primeiro com o efeito de lock-in sobre o �cio em resultado da tributa��o do trabalho.

3. N�o h� dupla tributa��o econ�mica dos lucros n�o distribu�dos ou nem sequer realizados. Mesmo considerando que as mais-valias representam o valor presente dos dividendos futuros esperados, que por defini��o s�o l�quidos do IRC sobre os resultados, o que faz sentido n�o � isentar as mais-valias, mas sim trat�-las como os dividendos, at� para evitar uma arbitragem ineficiente do ponto de vista do mercado.

4. O problema da dedu��o dos encargos com o financiamento de OPAs aos resultados operacionais das empresas adquiridas n�o releva do amor ou �dio ao capitalismo, mas da medida admiss�vel de subcapitaliza��o do adquirente. � um problema de eros�o da base tribut�vel e, por essa via, da repercuss�o do esfor�o fiscal sobre os demais contribuintes. (Nem s� as SGPS lan�am OPAs)

(Manuel Anselmo Torres)
 


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVIS�ES, IMAGENS, SONS, PAP�IS, PAREDES)
(13 de Maio de 2006)


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O P�blico introduziu uma novidade interactiva no seu s�tio na rede, com a pergunta sobre se uma fotografia violenta dos corpos calcinados na explos�o do oleoduto nigeriano devia vir na primeira p�gina. A resposta parece relativamente �bvia: n�o. N�o, porque n�o h� necessidade informativa na publica��o destacada que seja maior do que o poderoso e perigoso espect�culo da morte em cima dos nossos olhos. A quest�o, no entanto, merece discuss�o, porque pode haver outras circunst�ncias que justifiquem a publica��o de uma fotografia daquele tipo, quando � necess�rio n�o apenas informar, mas tamb�m denunciar. Talvez num jornal nigeriano, se acaso houve inc�ria na explos�o e nas mortes, se justifique a publica��o, mas num portugu�s seria mais espect�culo do que informa��o.

No entanto, h� outras perguntas mais complicadas que o P�blico deve fazer, como seja a de saber se deveria estar na primeira p�gina de hoje a seguinte frase: "Menina retirada aos pais foi assassinada depois de ir passar a noite a casa".

*

O Esplanar passa a contar com Carlos Leone, autor de alguns dos estudos t�o interessantes como ignorados sobre o nosso pensamento contempor�neo.

*
Duas boas livrarias de livros estrangeiros em Budapeste: a Atlantisz, que parece grande por ter uma montra tr�s vezes maior do que a livraria, e a BestSellers. A primeira tem uma not�vel colec��o de filosofia, que se exibe na gigantesca montra e se aperta na pequena loja; a segunda, de rela��es internacionais e hist�ria, especializada na Europa Central e de Leste, com as edi��es da Central European University.




*

EXPRESSO Semanal Perguntas que n�o fazemos: por que raz�o o Expresso distingue em duas sec��es, na sua vers�o em linha, entre "Pa�s", onde se concentram as not�cias da pol�tica caseira que n�o v�o para a primeira e �ltima p�ginas, e "Pa�s real" onde se fala do... pa�s. A express�o "pa�s real" esteve na moda h� alguns anos atr�s, baseada numa distin��o de Maurras, cuja genealogia antidemocr�tica foi esquecida. Um dia se far� a hist�ria destas express�es, como "pa�s real" e "sociedade civil", - e o momento da sua apari��o � significativo - , no l�xico pol�tico. E l� ficaram, esquecidas na sua estratigrafia, na arruma��o do Expresso.

Exemplos do "Pa�s" de hoje: �S�crates apaga fogos�, �Os jornalistas segundo Carrilho�, �PS/Lisboa com livro alternativo�, �O EXPRESSO e Freitas�, �Barrosistas alinham com Marques Mendes�, �CDS junta os cacos�, �Paulo Portas �anda por a��, �Extrema-direita inquieta Vila de Rei�, etc. Exemplos do "Pa�s real": ��vora e Badajoz desenvolvem energias limpas�, �Inspec��o fecha restaurantes em F�tima�, �Agentes alem�es promovem Algarve�, �Santa Catarina recria mercado do s�c.XVI.�

Outra observa��o: no Expresso h� sempre mais "Pa�s" do que "Pa�s real", o que � um pouco bizarro.
 


EARLY MORNING BLOGS 774

A CASA DO MUNDO

Aquilo que �s vezes parece
um sinal no rosto
� a casa do mundo
� um arm�rio poderoso
com tecidos sangu�neos guardados
e a sua tribo de portas sens�veis.

Cheira a teias er�ticas. Arca delirante
arca sobre o cheiro a mar de amar.

Mar fresco. Muros romanos. Toda a m�sica.
O corredor lembra uma corda suspensa entre
os Pirin�us, as janelas entre faces gregas.
Janelas que cheiram ao ar de fora
� n�pcia do ar com a casa ardente.


Luzindo cheguei � porta.
interrompo os objetos de fam�lia, atiro-lhes
a porta
Acendo os interruptores, acendo a interrup��o,
as novas paisagens t�m cabe�a, a luz
� uma pintura clara, mais claramente me lembro:
uma porta, um arm�rio, aquela casa.

Um espelho verde de face oval
� que parece uma lata de conservas dilatada
com um tubar�o a revirar-se no est�mago
no f�gado, nos rins, nos tecidos sang��neos.
� a casa do mundo:
desaparece em seguida.

( Luiza Neto Jorge )

*

Bom dia!

12.5.06
 


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL H�NGARA:

4. PAISAGEM COM VEDA��O (SANDOR ZIFFER)

 


COISAS DA S�BADO: UM PARTIDO QUE S�O DOIS

http://bugs.bio.usyd.edu.au/Entomology/IMAGES/Topics/intAnatomy/parasitoidWaspLarvae.jpg

Depois do que aconteceu neste Congresso n�o auguro muito futuro ao CDS/PP. Em pol�tica � sempre arriscado matar algu�m, seja partido ou pessoa, h� sempre um �por a� por onde se pode andar e conseguir as peri�dicas entrevistas de �sinal de vida�, que os jornais fazem ciclicamente quando se esgotam os outros interesses e se volta � �novidade� que tinha deixado de o ser seis meses atr�s. Que o digam Manuel Monteiro ou Santana Lopes. Mas o CDS/PP parece ter mesmo uma doen�a terminal na sua f�rmula h�brida de CDS/PP, e mesmo na fatia CDS. N�o sei se com a fatia PP o mesmo se passa.

O CDS/PP s�o dois partidos diferentes agrafados num s� e cada um est� doente do outro. O autor da doen�a, o homem que inoculou o v�rus destinado a matar o CDS foi Paulo Portas, que fez um partido novo dentro da concha e do corpo do CDS. Como acontece com algumas das mais macabras bizarrias da natureza, o PP nasceu dentro do CDS, e cresceu parasitando-lhe o corpo. Ribeiro e Castro foi o �ltimo sobressalto do corpo doente do CDS para conseguir sa�de, mas surgiu enfraquecido pela ecologia exterior, onde o v�rus Paulo Portas o deixou: na oposi��o depois de uma derrota.

A solu��o CDS/PP foi uma solu��o de conveni�ncia, que n�o foi boa para o CDS nem � hoje boa para o PP. O uso das siglas conheceu v�rios momentos diferenciados, sem outra l�gica que n�o fosse a carreira pol�tica de Paulo Portas e do �portismo� que ele criou � sua imagem e semelhan�a. Come�ou por ser uma f�rmula destinada a gerar o PP contra o CDS. Era quando Portas falava apenas do PP e o PP tinha, como sempre, como inimigo principal o PSD, entendendo-se bem com o PS. Mas, com o tempo e com os desaires eleitorais, (Portas teve sempre sozinho piores resultados do que Manuel Monteiro), Portas foi voltando � f�rmula mista do CDS/PP. Passou de �popular� a �democrata-crist�o�, e de anti-europeista radical a �euro-moderado�. Acabou a votar a Constitui��o Europeia como se sabe.

Uma gest�o sempre muito h�bil de expectativas, associada a um puro pragmatismo pol�tico, e � desorienta��o do PSD, permitiu-lhe impor a presen�a no governo do maoista Dur�o Barroso, que pouco antes os autocolantes do PP, representavam ao lado de Marx, Lenine, Staline e de mim pr�prio. No governo, Portas obteve a complac�ncia da esquerda que ele tanto diaboliza fazendo uma pol�tica estatista na Defesa, e tentou vestir a pele do �sentido de Estado�, para se credibilizar. Acabou por ser mais um a arrancar os tubos da incubadora, como hoje se sabe, convencido que as elei��es o premiariam.

Foi o voto do CDS que ele tentou cativar nas urnas, deixando para tr�s o do PP, o do �Paulinho das feiras�. Acabou por n�o ter nem um nem outro e voltar ao limbo com o �nico verdadeiro patrim�nio que foi capaz de construir: o PP. Atrav�s dos seus fi�is, e do Grupo Parlamentar monol�tico que deixou, ele sabe que n�o h� CDS/PP capaz de escapar ao seu droit de regard. Ribeiro e Castro perturbou-lhe os planos, baralhou-lhe os tempos, mas, como se viu, n�o teve for�a suficiente para escapar � sua presen�a ausente. Por isso, Ribeiro e Castro est� condenado a governar um monstro hibr�do, o CDS/PP, arrastando um corpo que cada vez lhe � mais alheio. Quando a lista de Pires de Lima ganhou o Conselho Nacional, devia ter-se demitido.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
A "REVOLU��O DE MAIO" DE ANT�NIO LOPES RIBEIRO


Ant�nio Lopes Ribeiro (Col. Cinemateca Portuguesa)A raz�o para n�o haver uma edi��o em v�deo de "A Revolu��o de Maio" dever� ser concerteza o medo de que seja mal interpretado. "O Triunfo da Vontade" ainda � um filme maldito, apesar de ser v�rias vezes melhor enquanto cinema que "A Revolu��o de Maio", e os filmes de propaganda aliados (tanto brit�nicos como americanos) n�o s�o f�ceis de encontrar.

"A Revolu��o de Maio", visto por olhos que j� n�o passaram pelo Estado Novo como os meus, � um peda�o de propaganda t�o pouco subtil que me pergunto se de facto funcionaria de facto em 1937 ou se provocaria a mesma reac��o de distancia��o que provocou em mim, no caso, o riso. Al�m da dist�ncia temporal que me separa de "A Revolu��o de Maio", tamb�m o mundo que me rodeia me tornou muito mais alerta para as possibilidades de manipula��o da mensagem audiovisual pelo bombardeamento constante de mensagens publicit�rias a que sou sujeito, da� que talvez se possa presumir que o portugu�s de 1937 seria mais "crente" que o portugu�s de 2006.

No entanto, para muita gente que viveu o Estado Novo, a disponibiliza��o de um filme que o glorifica desta forma t�o b�sica e esfusiante parecer� concerteza provoca��o, a n�o ser que se chame a aten��o para que a inaptid�o do exerc�cio � ela pr�pria um reflexo do tipo de regime que era, do p�blico a quem se dirigia e da personalidade de Ant�nio Ferro. Da� que este filme n�o pode ser editado sem um trabalho cr�tico nos materiais de apoio, coisa a que as editoras de DVD em Portugal n�o est�o habituadas. Por seu turno, a Cinemateca Portuguesa n�o edita DVDs.

Se os direitos de "A Revolu��o de Maio" ainda estiverem integrados no esp�lio da companhia de produ��o de Ant�nio Lopes Ribeiro, a Lusomundo recentemente comprou um pacote de filmes desta companhia, de que resultaram a edi��o em 2005 de "O Pai Tirano" e de "O P�tio das Cantigas", por isso os direitos de "A Revolu��o de Maio" dever�o provir da mesma fonte. O A.N.I.M., tamb�m em 2005, procedeu a um restauro de imagem e encomendou o restauro de som � empresa para a qual trabalho, cujo resultado foi a projec��o de "A Revolu��o de Maio" h� alguns meses na Cinemateca Portuguesa em c�pia restaurada.

(Tiago Jo�o Silva)

*
O interesse deste filme vai para al�m da quest�o da propaganda propriamente dita. Como o filme foi feito sob a supervis�o do SPN os seus or�amentos constam das listas mensais enviadas pel SPN para a Presid�ncia do Conselho. Assim temos a possibilidade de saber rigorosamente com que meios se trabalhava na �poca, em Portugal.
Muito expressivo no filme � o uso de imagens reais nomeadamente as que Ant�nio Lopes Ribeiro recolheu em 1936, durante as celebra��es do 1� de Maio em Barcelos. Igualmente relevante, at� porque d� conta do universo de pequenas hist�rias em que se alicer�ava a propaganda do SPN, � a inspira��o numa figura real- Quim Marinheiro - para se construir a personagem principal, C�sar Valente.

(Helena Matos)
 


RETRATOS DO TRABALHO EM BUENOS AIRES, ARGENTINA



"Sapateiro remend�o" que trabalha numa das feiras semanais dos bairros de Buenos Aires.

(Francisco F. Teixeira)
 




A partir de hoje, os novos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO, d�o continuidade a um projecto de trabalho com mais de vinte anos, e que teve origem numa revista pioneira destes estudos, passando a ter agora como sua casa a plataforma Wordpress. Do ponto de vista editorial, a orienta��o continua a mesma da "velha" revista, cujo texto inicial acima se publica, como homenagem a dois dos companheiros do princ�pio que j� morreram, Manuel Sert�rio e Jose Alexandre Magro ("Ramiro da Costa").

Todos os materiais dos antigos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO (vers�o antiga), assim como os existentes em �LVARO CUNHAL - BIOGRAFIA POL�TICA , encontram-se aqui reunidos, dada a natureza pr�xima do seu conte�do. Nesta nova plataforma algumas funcionalidades foram utilizadas para organizar melhor o material dispon�vel, incluindo a possibilidade de colocar no cabe�alho as bibliografias que se encontram em actualiza��o. Alguns problemas, como sejam as discrep�ncias dos caracteres que se verificam nas notas e o arranjo gr�fico ainda rudimentar, ser�o corrigidos � medida do meu tempo e saber. As notas bibliogr�ficas sofreram com a interrup��o destes meses e precisam de ser actualizadas. Tudo est� ainda numa forma experimental.


Os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO s�o desde j� o mais completo reposit�rio de informa��o sobre a hist�ria do comunismo, dos movimentos radicais e da hist�ria da oposi��o portuguesa na Rede, mas este trabalho � em grande medida solit�rio, e por isso sujeito �s flutua��es de tempo do seu autor. Renovo aqui o apelo a todos os que se interessam por estes assuntos para tamb�m utilizarem este s�tio como instrumento de trabalho de investiga��o e divulga��o dos seus resultados.

 


INTEND�NCIA MUITO ESPECIAL

Vai animada a discuss�o (l� para baixo nos LENDO / VENDO /OUVINDO de ontem) sobre Lou�� e os impostos, feita por gente que sabe do que est� a falar. E l� vem uma interessante refer�ncia a Marx e a bolsa para ilustra��o dos incautos.

E h� mais em GATO POR LEBRE .

E para ser MUITO ESPECIAL esta INTEND�NCIA falta anunciar com grande gosto que hoje abrir�o os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO em nova casa, fundindo todo o material j� dispon�vel no antigo, mais o que estava no blogue do livro sobre Cunhal. Em breve.
 


EARLY MORNING BLOGS 773

The Brain�is wider than the Sky


The Brain�is wider than the Sky�
For�put them side by side�
The one the other will contain
With ease�and You�beside�

The Brain is deeper than the sea�
For�hold them�Blue to Blue�
The one the other will absorb�
As Sponges�Buckets�do�

The Brain is just the weight of God�
For�Heft them�Pound for Pound�
And they will differ�if they do�
As Syllable from Sound�


(Emily Dickinson)

*

Bom dia!
 


BIBLIOFILIAS: CENTROS E LESTES 2

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Miklos Molnar, A Concise History of Hungary

Imre Kertesz, Fatelessness

David Crowley / Susan Emily Reid, Socialist Spaces : Sites of Everyday Life in the Eastern Bloc

11.5.06
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: ESQUECIMENTOS



Ao ler hoje os coment�rios nos jornais econ�micos sobre a "suposta" (porque parece quase certa) fraude filat�lica, parecia que quem escrevia j� antecipara h� muito a desgra�a de tantas pessoas, bastando para isso o racioc�nio de cartilha econ�mica de calcular o "risco" inerente ao investimento. E como j� sabiam, agora quase que gozam com quem foi enganado. O interessante � encontrar este artigo no mesmo Di�rio Econ�mico (de 26/08/2005), de que envio apenas este excerto:
"Investimento seguro
Apesar de o t�pico filatelista n�o ponderar a hip�tese de vender, algum dia, a sua colec��o, a verdade � que este � um investimento que ganha cada vez mais for�a em Portugal. Prova disso s�o os mais de 15 mil clientes que a Afinsa, empresa especializada no mercado de bens tang�veis de colec��o e l�der mundial no sector da filatelia, tem no nosso pa�s. �H� um conhecimento cada vez maior e, por consequ�ncia, uma maior apet�ncia para acorrer a este mercado�, explica Maria do Carmo Lencastre, directora da Afinsa Investimentos em Portugal. Este conhecimento crescente deve-se em muito a esta empresa que se dedica ao investimento e ao coleccionismo e que, anualmente, edita um cat�logo de Selos de Portugal, com a actualiza��o das cota��es e com as emiss�es que sa�ram desde o ano anterior. Verificar como as cota��es crescem de ano para ano � mais uma prova da valoriza��o deste sector. E caso restem d�vidas de que este mercado est� mais din�mico do que nunca, basta ir a um leil�o, que em Portugal se realizam periodicamente, confirmar o excelente volume de vendas.
Esta evolu��o da import�ncia do selo �, ali�s, uma das vantagens para se investir em filatelia, na opini�o de Jo�o Pedro de Figueiredo, um dos mais importantes leiloeiros nacionais. �A filatelia n�o tem risco porque a valoriza��o � garantida. Nem um produto banc�rio d� tanto como a filatelia�, al�m de que �o mercado est� bom porque em tempos de crise as pessoas investem mais na filatelia porque sabem que vai valorizar�, defende."
No artigo n�o se faz qualquer men��o dos riscos que agora os directores e sub-directores dos jornais apresentam como absolutamente claros e previs�veis.
N�o sendo jornalista e n�o tendo qualquer interesse (felizmente) no caso em si, espanta-me que o nosso jornalismo econ�mico saiba tanta coisa e partilhe t�o pouco com os seus leitores. E espanta-me ainda mais por que raz�o nunca publicaram nenhum artigo com estudos, investiga��es e perguntas "dif�ceis", em vez do jornalismo subserviente que praticam. � que talvez isso tivesse evitado que tantos confiassem nas empresas em causa... e nos pr�prios jornalistas.

Se escrevo isto, � apenas porque ao ver na TVE as filas de pessoas, muitas delas nitidamente remediadas, a verem as suas poupan�as de uma vida por �gua abaixo, me chocou o ar de "superioridade" com que muitos jornalistas escrevem sobre o caso, quando eles pr�prios n�o s� contribu�ram para isso, como n�o cumpriram o seu dever de informar correctamente. E agora em vez de guardarem a reserva devida, ainda se d�o a ares de quem leu manuais de Introdu��o � Economia.
Este caso diz muito sobre o nosso "jornalismo econ�mico" e da confian�a que podemos ter naquilo que nele se l�.

(Jo�o Lopes)
 


INTEND�NCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO /OUVINDO com um coment�rio de Ant�nio Lobo Xavier sobre a tributa��o das mais-valias das ac��es e as propostas do BE.
 


MEM�RIA, HIST�RIA E RECUSA

O debate que periodicamente se esbo�a em Portugal sobre como tratar a mem�ria dos anos da ditadura n�o � diferente do que atravessa os pa�ses que estiveram sob o dom�nio do comunismo at� 1989. C� e nesses pa�ses, como na Alemanha do p�s-guerra, a quest�o � saber como tratar dos restos �hist�ricos� desses regimes, casa, espa�os, s�mbolos, est�tuas, placas, livros, discos, filmes, objectos decorativos.

� compreens�vel que, enquanto a gera��o que viveu os efeitos da ditadura est� viva, o tratamento da mem�ria n�o seja puramente hist�rico, mas tenha um aspecto de den�ncia, de pedagogia do mal, de recusa. Onde a mudan�a ainda est� fresca, este � o aspecto dominante. Compreende-se por isso solu��es como a da Casa do Terror e do Parque das Est�tuas em Budapeste, utilizando a antiga sede da pol�cia pol�tica, que j� fora a sede de uma organiza��o nazi, assim como as est�tuas retiradas dos lugares p�blicos, como monumentos destinados a lembrar e a condenar a ditadura comunista. Os museus do Holocausto, a come�ar pelo paradigma de todos eles o Yad Vashem em Jerusal�m, t�m fun��o id�ntica: mais do que registrar e preservar, a sua fun��o � recordar para condenar. Organizam-se � volta de uma ideia, de uma interpreta��o moral da hist�ria e n�o da hist�ria em si. No seu interior h� uma narrativa do bem e do mal, n�o uma mera exposi��o de uma �poca e, naturalmente, centram-se na repress�o, na viol�ncia e na guerra, pretendendo de algum modo reparar as v�timas, denunciando os culpados.

Nestes museus e exposi��es, muito pr�ximos dos acontecimentos que esconjuram, o modo como � tratada a mem�ria � significativa da situa��o pol�tica de cada pa�s. Por exemplo, enquanto que na antiga RDA, nos pa�ses b�lticos, na Hungria e na Rep�blica Checa tudo o que lembrava o regime comunista e a ocupa��o militar sovi�tica foi retirado dos lugares p�blicos; na Ucr�nia e na R�ssia, assim como em v�rias rep�blicas da antiga URSS, muito da estatu�ria e da nomenclatura urbana foi mantida. Na R�ssia, as mudan�as inicialmente foram mais radicais e depois foram travadas. A pol�mica com o eventual retorno da est�tua de Dzerjinski, o fundador da pol�cia pol�tica dos comunistas, que foi derrubada em 1991, para o seu lugar central em frente � sede do KGB, � mais significativa da evolu��o do sistema sovi�tico, do que muitas declara��es ret�ricas de democracia. A ambiguidade reinante � patente no antigo Museu da Revolu��o de Moscovo, actualmente Museu de Hist�ria Contempor�nea Russa, onde um re-arranjo das pe�as existentes permitiu transformar o proselitismo comunista numa vis�o �hist�rica� desculpabilizadora. Os turistas que correm para os andares superiores, onde est� acumulado o kitsch dos presentes a Staline, fazem-no com a mesma displic�ncia folcl�rica com que compram na rua falsos emblemas do KGB. Os russos n�o acham a mesma gra�a.

O caso portugu�s, a trinta anos do 25 de Abril, j� pode ser visto com outra distancia��o, embora a regra da gera��o viva, ainda implicar que a ditadura de Salazar e Caetano n�o pode ser tratada apenas como pura hist�ria, e implicar um sentimento de respeito e repara��o com as suas v�timas. Mas , a trinta anos do fim da ditadura, seria mais eficaz quer para a mem�ria, quer para a hist�ria, quer para a recusa, perceber que o seu equil�brio se faz cada vez mais pela hist�ria e que esta � a forma mais segura de fazer respeitar ou condenar o que merece ser respeitado e condenado. Sendo assim n�o me parece muito �til, nem realista, a reivindica��o de transformar a antiga sede de Lisboa da PIDE, num museu da resist�ncia, num momento em que n�o h� recursos, nem disponibilidade nacional para a� criar uma verdadeira institui��o. Seria prefer�vel melhorar o que mais perto est� de ser um memorial da resist�ncia, o Museu da Fortaleza de Peniche, e dar-lhe uma dimens�o para al�m da mem�ria prisional. N�o � em Lisboa, mas nada obriga a que tenha que ser em Lisboa, e nem sequer que a dimens�o simb�lica do local � menor do que a sede da PIDE.
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No centro espectacular do Museu permaneceriam as celas dos blocos prisionais que est�o j� abertos ao p�blico, e que asseguram um n�mero de visitantes consider�vel. A exposi��o das condi��es prisionais, dos trabalhos dos reclusos, e a hist�ria da fuga de Cunhal e dos seus companheiros em 1960, permitem mostrar a dimens�o repressiva fundamental do regime que poderia ser complementada por materiais sobre as outras pris�es, as torturas e as mortes da PIDE. Peniche seria o principal centro dessa mem�ria pedag�gica que motiva os que desejam a preserva��o da sede da PIDE. Mas podia-se ir mais longe, respondendo a outras exig�ncias.

H� na Fortaleza todo um vasto espa�o dispon�vel, em ru�nas ou em grande decad�ncia, que podia servir para um reposit�rio museol�gico mais vasto do meio s�culo do Estado Novo. Penso ali�s que numa pris�o, que � ao mesmo tempo um monumento nacional e um local com interesse arquitect�nico e paisag�stico, se podia tamb�m recolher muito do esp�lio do Estado Novo para al�m da ideia de fazer um museu apenas da resist�ncia. A componente que move os que querem uma pedagogia de recusa e de condena��o, n�o se perderia, ao mesmo tempo que ali se poderia fazer o que n�o existe em lado nenhum: o embri�o de um museu da nossa contemporaneidade, do s�culo XX.

Do ponto de vista da hist�ria, a resist�ncia n�o se percebe sem se perceber o regime e para o seu estudo � fundamental recolher muito material com valor museol�gico que est� em risco de se perder. Algum desse material merece ser divulgado, para acabar com hiatos incompreens�veis como seja o facto de A Revolu��o de Maio de Ant�nio Lopes Ribeiro n�o existir nem em v�deo nem em DVD. Tem sentido expor os cartazes do Estado Novo, as suas publica��es propagand�sticas, e os objectos que sobraram de um esp�lio que se dispersou, est�tuas de Salazar, bustos dos seus not�veis, placas arrancadas, pens�es da Legi�o, e memorabilia da Mocidade. Cartazes de campanhas como a do Trigo, os pain�is dos Planos de Fomento, objectos oferecidos a Salazar e aos presidentes do regime, mesmo fotos das manifesta��es espont�neas, s�o o contraponto para se perceber a ecologia em que os portugueses viveram quarenta e oito anos. Est� na altura de congregar tudo isso numa institui��o pr�pria que preserva a mem�ria, permita a hist�ria e favore�a a investiga��o, sem apagar a recorda��o dos tempos negros da ditadura. N�o se trata de relativizar a hist�ria, mas de come�ar o caminho para tornar o s�culo XX compreens�vel para as novas gera��es que nunca o ver�o com a dimens�o �tica e sentimental dos que foram seus protagonistas.

(No P�blico de hoje,)

*
[A mensagem seguinte refere-se � nota PODE-SE METER O COMUNISMO NOS MUSEUS?, mas tem a ver com esta mat�ria pelo que a coloquei aqui.)
H� muitos e bons museus dedicados ao per�odo nacional-socialista na Alemanha.Ali�s encontram-se em quase todo o pa�s. Deixo-lhe alguns exemplos: o Centro de Documentacao nacional-socialista em Nuremberga, no "cen�rio" original dos Congresos do NSDAP, o Centro de Documentacao do Monumento ao Holocausto em Berlim, a Topografia do Terror em Berlim, o Deutsches Historisches Museum em Berlim, a Haus der Geschichte em Bona,o Museu Judaico em Berlim, o Museu Judaico em Frankfurt , os campos de concentracao de Dachau, Buchenwald, etc, etc, etc, etc. Isto sem referir exposicoes tempor�rias � injusto e factualmente incorrecto afirmar-se que nao existem reflexoes museol�gicas sobre os 12 anos de terror do Terceiro Reich.

(Helena Ferro de Gouveia)
 


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL H�NGARA:

3. PAISAGEM, NAGYB�NYA (VILMOS PERRLOTT-CSABA)

 


GATO POR LEBRE



� uma boa descri��o do an�ncio propagand�stico da refinaria de Sines pelo Governo. Um Governo que se compromete publicamente com o an�ncio de um projecto sem ter garantido as condi��es m�nimas e contratuais da sua viabilidade est� a vender-nos gato por lebre. Est� tamb�m a vender-nos gato por lebre quando ataca o empres�rio por propor condi��es inaceit�veis, que Governo e Primeiro-ministro deveriam ter exigido conhecer antes de tocar a trombeta da propaganda. O Primeiro-ministro agrava tudo isto com o seu tom insuport�vel de arrog�ncia, como se n�o fosse ele a ter que nos prestar contas do logro.

*
� de facto inusitado que o Primeiro Ministro de Portugal e o Ministro da Economia mais o Dr. Bas�lio Horta, tenham convocado Portugal para anunciar e assinar os contratos de constru��o de uma refinaria, a poucos dias da realiza��o das elei��es presidenciais.

Eu como advogado que sou, este caso faz-me lembrar os avisos que se fazem nos Tribunais a informar que �s vezes o barato sai caro, ou seja, aconselham sempre as pessoas a consultar um advogado antes de firmar qualquer neg�cio. E incentivam-nas a denunciar a procuradoria il�cita que por a� h�.

Como eu n�o acredito que os anunciantes deste investimento tenham recorrido a esse tipo de expediente s� posso concluir que o que assinaram n�o foi mais um memorando.

O pior � que ao mesmo tempo disseram que este investimento era um sinal claro da confian�a dos investidores na recupera��o da nossa economia. E n�s acreditamos.

Afinal a confian�a est� abalada irremediavelmente. Se nem o nosso Primeiro Ministro assina os contratos quem � que o vai fazer? E se como se afirma o problema � ambiental faltava uma assinatura no contrato. Onde � que estava o Ministro do Ambiente?

Estamos muito mal...

(Paulo Lopes da Silva)

*

O que mais assusta em todo este neg�cio da refinaria � perceber que na pressa n�o se asseguraram todas as vertentes do neg�cio, particularmente a parte mais t�cnica como as emiss�es de di�xido de carbono. Sendo o primeiro-ministro um engenheiro e tendo at� estado ligado ao ambiente, seria de esperar mais cuidado em algo t�o facilmente observ�vel. Agora pensemos que o mesmo empres�rio j� sugeriu a implanta��o do nuclear no nosso pa�s, diminuindo o peso do risco com o argumento de que j� o corremos por termos as centrais espanholas ao lado. Assusta pensar que a ter havido o neg�cio da refinaria se poderia, mais ano menos ano, ter passado para o nuclear. Esta decis�o do nuclear se conjugada com a ligeireza com que a parte t�cnica foi abordada no caso da refinaria, revelar-se-ia sem d�vida perigosa.

Tamb�m se deveria pensar se a ligeireza com que o assunto da refinaria foi abordado, n�o ter� sido aplicada � OTA ou ao TGV e daqui a uns anos n�o teremos facturas inesperadas ou algo do tipo �est�dios a mais para campeonato a menos��

(Emanuel Ferreira)

*

Antes assumir o erro (crasso, sem d�vida) do que persistir.

Infelizmente, n�o estou muito optimista quanto � capacidade deste governo aprender com os seus pr�prios erros. Tal vai contra a sua forma de fazer pol�tica mas tamb�m contra a sua pr�pria pol�tica.

N�o s� a forma de o governo fazer pol�tica � altamente baseada na propaganda de actos futuros e n�o na explora��o pol�tica de resultados obtidos, como a pr�pria pol�tica est� orientada para o grande projecto, no pressuposto de que tal puxar� pela confian�a do pa�s.

O que o governo teria de fazer era baixar os impostos e cortar a direito (como diria o seu parceiro de tert�lia Jorge Coelho) a despesa p�blica.
Isso sim seria um grande projecto digno de se ver. Mesmo correndo o risco de n�o cumprir o objectivo do d�fice, seria apenas coerente com o que sempre andou a dizer na oposi��o - que h� mais vida para al�m deste.

Refinarias, centrais nucleares, auto-estradas, aeroportos, comboios-rapidos, mais uma ponte sobre o Tejo... sinceramente, � como comprar um BMW para nos sentirmos motivados na bicha do IC19.

(M�rio Almeida)

*

Desculpem-me ir contra o consenso, nesta mat�ria.

Os processos de obten��o dos agreements ambientais s�o demorados, num projecto industrial. Por outro lado, uma coisa � o ante-projecto, em geral estabelecendo apenas os tra�os gerais, outra coisa � o projecto de detalhe necess�rios �s devidas aprova��es regulamentares. Ou seja, � absolutamente normal que num grande projecto de investimento industrial os empres�rios negoceiem os apoios pol�ticos antes de passarem � concretiza��o do projecto de detalhe, o qual tem um custo consider�vel de engenharia.

Nenhum Governo, portanto, e se o volume de investimento requerer o envolvimento de um Governo, deixa de negociar um projecto destes por falta do projecto de detalhe.

Que se saiba, por outro lado, uma vez obtidas as facilidades e luzes-verdes pol�ticas, nenhum investimento industrial em Portugal deixou depois de se fazer nos termos requeridos na lei, at� hoje.

O que se passou neste caso � um triste epis�dio de pura vigarice de um empres�rio aventureiro, que � recordem-se � � quem tamb�m anda por a� a candidatar-se a �contruir� uma central nuclear, ali�s com o apoio de um lobby com forma partid�ria no interior do CDS-PP. O qual se associou a investidores americanos que, se pretendiam construir uma refinaria em Portugal para reexportar o produto para os EUA, em vez de a fazerem nos pr�prios EUA ou em algum pa�s produtor de petr�leo, � por que alguma vantagem �especial� esperariam do nosso pa�s!... Suspeito que desta vez nos calhou a n�s sermos vistos como uma Rep�blica das bananas!

O Governo foi ing�nuo ao n�o suspeitar da m�-f� de investidores t�o pouco cred�veis? � f�cil diz�-lo, � posteriori.

Por�m, o que nos afecta a todos, portugueses, � terem existido uns vigaristas que apostaram no terceiromundismo portugu�s. E se isso aconteceu � certamente porque todos n�s contribu�mos para criar essa ideia do pa�s, e talvez em especial os �ltimos Governos que tivemos.

Apesar de tudo, este Governo exprimiu a indigna��o corespondente � humilha��o nacional que isto tudo �. Gostava de saber como teria sido no tempo de Portas e Santana Lopes, aqueles que negociaram com Stanley Ho a recupera��o do Parque Mayer e acabaram por lhe ceder pura e simplesmente um casino no Parque das Na��es, em troca de nada...

(Jos� Lu�s Pinto de S�)
 


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVIS�ES, IMAGENS, SONS, PAP�IS, PAREDES)
(11 de Maio de 2006)


__________________________

Livros como parede, como fundo. Recep��o nos arquivos da Open Society em Budapest.



*

A filatelia finalmente chegou � primeira p�gina.

*

Na TSF, o demagogo Francisco Lou��, falando em nome dos que trabalham, ataca a possibilidade de se ganhar leg�tima e legalmente dinheiro com ac��es. Seria interessante que o BE fizesse uma lista das formas que acha leg�timas de ganhar dinheiro na nossa democracia constitucional. Perceber-se-ia muita coisa que o BE mant�m numa obscuridade intencional, como o seu anti-capitalismo marxista. Quanto ao sistema socialista, que ele deseja e nunca claramente enuncia, et pour cause, a julgar pelo �nico que houve, o do "socialismo real", s� as pol�cias nas fronteiras impediam (e impedem) toda a gente de fugir de l� para as terras onde pode ter ac��es.

*
O jogo dos capitais m�veis tem regras e uma das regras permanentes �: hoje ganhas, amanh� perdes. O Lou��, que quer taxar as mais-valias das transa��es lucrativas, que vai fazer quando o �jogador� levar uma �bolada�? Poder� deduzir os preju�zos no seu IRS?

Parece da mais elementar justi�a que as regras devem ser as mesmas para as vit�rias e para as derrotas�.� obvio que isso n�o entra nas contas lou��nicas, pois ele e os que pensam demagogicamente como ele (� direita ou � esquerda�) s� sabem co�ar para um lado: o seu

(Lu�s Rodrigues)

*

O que mais me aflige no discurso de Lou�� sobre o tema � a desonestidade intelectual do mesmo. Lou�� dizia muito indignado e acusador que, se Patrick Monteiro de Barros vender as ac��es que det�m na PT, faz uma enorme mais valia que n�o � tributada gra�as � isen��o em vigor, enquanto �os trabalhadores� s�o obrigados a pagar IRS sobre os rendimentos do seu trabalho.

O que Lou�� n�o disse, mas sabe, � que se Monteiro de Barros tiver rendimentos do seu trabalho tamb�m � obrigado a pagar IRS sobre eles como toda a gente, e se os trabalhadores tiverem ac��es da PT e fizerem mais valias com a sua aliena��o nas condi��es previstas na lei para a isen��o, beneficiar�o dessa isen��o, tal como Monteiro de Barros.

Comparou o incompar�vel (tributa��o de rendimentos de capital com tributa��o de rendimentos do trabalho), escamoteando a realidade que � que a lei � igual para todos, com �nico objectivo de cativar com o seu discurso as alegadas v�timas da alegada injusti�a.

O que importa aqui n�o � defender os benefici�rios do regime de isen��o de mais valias, o sistema fiscal, o governo, seja quem for. Trata-se apenas de registar uma forma de actua��o pol�tica menos correcta.

De cada vez que ou�o Lou�� falar, sinto sobre mim a sombra da culpa, penso que horr�vel desonestidade terei cometido hoje �

(RM)

*

O que se ataca, (...) n�o � a possibilidade de se ganhar leg�tima e legalmente dinheiro com ac��es! O que se ataca, e com toda a raz�o (demagogias � parte), � o facto de essas mais valias n�o serem tributadas, ou de o serem de uma maneira proporcionalmente muito mais suave do que os rendimentos do trabalho. Qualquer trabalhador ou pequeno empres�rio �apanhado� a ganhar dinheiro sem pagar os respectivos impostos � (e bem) sancionado por isso. Mas aqui falamos, na maior parte dos casos detectados e sancionados, de quantias irris�rias que �arredondam� o rendimento mensal das pessoas, muitas vezes para fazer face a gastos essenciais�

Quando se fala em mais valias de milh�es, provenientes de investimentos bolsistas, � imoral e aviltante que essas n�o sejam tributadas, ou que o sejam de uma maneira muito mais �suave� do que os rendimentos do trabalho. Numa l�gica de redistribui��o da riqueza criada, para evitar os abismos cada vez maiores entre ricos e pobres, de que Portugal �, vergonhosamente, o campe�o na EU, os rendimentos deveriam todos ser tributados de uma maneira proporcional, para que quem mais ganha, mais paga (contribuindo para a riqueza gobal).

S� que, para muita gente, �pobre� � um conceito abstracto, de que se ouviu falar, e de que n�o se conhecem as verdadeiras e reais consequ�ncias.Como na redac��o do menino rico sobre o menino pobre, que dizia: �Em casa do menino pobre, s�o todos pobres: o menino � pobre, o pai e a m�e s�o pobres, os irm�os s�o pobres, o jardineiro � pobre, o motorista � pobre, o mordomo � pobre� etc.)�

(Carlos Brighton)

*

O que RM ignora -haver� nisso alguma desonestidade intelectual? - s�o duas coisas: em primeiro lugar que justifica��o ter� a n�o tributa��o de mais-valias associadas a ganhos no mercado bolsista? Sobretudo num pa�s que tributa como tributa os rendimentos do trabalho?; em segundo lugar a possibilidade de os trabalhadores adquirirem ac��es embora real � meramente te�rica, pelo que a invoca��o de uma pretensa igualdade - nesta quest�o espec�fica - entre trabalhadores e capitalistas � pura demagogia. O que faz sentido � que os trabalhadors e os investidores sejam tributados da mesma forma pelos seus rendimentos do trabalho e pelas mais-valias obtidas no mercado de capitais.

Mas, em Portugal, h� uma longa hist�ria sobre as isen��es fiscais das mais-valias obtidas no mercado de capitais. Para n�o entrar no campo das mais-valias simples associadas � mudan�a de uso do solo ou � densifica��o urbana e � forma como elas (n�o!!!) s�o tributadas, recordemos apenas o que se passou na antiga Petrogal, nos tempos de Pina Moura, com a venda de parte do capital � ENI. Uma longa hist�ria em que o Estado opta quase sempre pela omiss�o em preju�zo de todos n�s e em favor de alguns poucos.

(J. C. Guinote)

*

A discussao a volta da tributacao das mais-valias e habitualmente simplificada pelos (velhos) principios teoricos da redistribuicao de riqueza como se fizesse sentido continuar a ver o mundo de hoje a luz keynesiana de outros tempos. Foi o que aconteceu, nao ha muito tempo, a proposito das alteracoes do Pina Moura. Andou tudo para tras por uma razao muito simples: se a tributacao em Portugal for muito superior ao que se passa noutros paises para onde seja facil mudar o capital este move-se. E se nao tivermos riqueza nao poderemos redistribui-la.

(peco desculpa pela falta de acentos, mas onde estou nao e facil...)

(Carlos Campos)

*

Do ponto de vista te�rico, s� h� tr�s tipos de justifica��o para atenuar ou eliminar a tributa��o das mais-valias de ac��es. A primeira tem que ver com o facto de se tratarem de rendimentos ocasionais, �trazidos pelo vento�, para os quais porventura ser� exagerado aplicar taxas progressivas que foram pensadas para rendimentos peri�dicos, que se repetem, ordin�rios, ainda para mais quando o IRS na pr�tica impede a comunica��o das perdas entre as categorias; em geral, pode dizer-se, de facto, que as perdas n�o t�m relevo fiscal no IRS!. A segunda tem que ver com a preocupa��o de evitar um efeito de lock-in, que o propriet�rio de bens que se pretende que circulem os conserve mais tempo do que seria desej�vel para evitar o imposto. A terceira, a mais importante, prende-se com a preocupa��o em evitar a dupla tributa��o. Os ganhos feitos com as ac��es correspondem � antecipa��o ou realiza��o dos ganhos ou incrementos de valor experimentados pelas pr�prias empresas, os quais s�o normalmente tributados em IRC. � poss�vel dizer, por isso, em grande medida, que h� dupla tributa��o se simultaneamente tributarmos as empresas pelo respectivo incremento de valor e depois as pessoas singulares, quando realizam pela venda das ac��es o mesmo incremento de valor. � claro que isto n�o conduz automaticamente a uma isen��o das mais-valias de ac��es realizadas por particulares. Cada sistema escolhe a medida toler�vel de dupla tributa��o. O problema ser� sempre um problema de pol�tica fiscal, de atrac��o do investimento ou de facilita��o de obten��o de fundos em mercado de capitais. O resto � conversa demag�gica em que o discurso pol�tico � f�rtil quando se trata de impostos.

A proposta do BE n�o fica por aqui, contudo. Aquilo que mostra o seu �dio ao capitalismo e seus instrumentos � a proposta de n�o aceitar como custo fiscal os encargos financeiros com a aquisi��o de empresas! N�o lembra a ningu�m, � de um basismo chocante! � melhor a empresa que faz aquisi��es com capital pr�prio do que a que faz o mesmo com cr�dito? Por que raz�o os custos financeiros s�o menos dignos do que todos os outros, para apurarmos o rendimento real? O bloco desconhece que as SGPS n�o podem j� deduzir os custos financeiros com aquisi��es, desconhece que as suas menos-valias n�o s�o consideradas, enfim, parece que estamos na Alb�nia h� mais de trinta anos. Podia ser s� ideologicamente simb�lico, mas n�o �: � b�sico, irracional e retr�grado.

(Ant�nio Lobo Xavier)

*

"rendimentos ocasionais, trazidos pelo vento, para os quais porventura ser� exagerado aplicar taxas progressivas que foram pensadas para rendimentos peri�dicos, que se repetem".

� muito interessante esta refer�ncia do Sr Dr A Lobo Xavier, sobre rendimentos trazidos pelo vento. � parecida com a express�o que no s�c. XVII se usava na bolsa de Amesterd�o para referir a venda do que se n�o tem, "windhaendel". Do que hoje se chama "vender a descoberto", e que os anglo-sax�nicos traduzem por "sell short". E quem f�sse ent�o apanhado nesta transac��o tida como pouco s�ria, e dela sa�sse prejudicado, poderia sempre invocar o nome do grande Frederik Hendrik para n�o ter que pagar o que devia.

Tal como nos anos 90 do s�culo passado. Quando se queria fazer refer�ncia � sucess�o de an�ncios de lan�amento de "software" novo (mas ainda por concluir) da Microsoft, que no meio das gentes "tech" lhe chamavam "vaporware".

(F.)

*

Marx, quando (a sua mulher Jenny) recebeu uns dinheiros de uma heran�a, jogou na bolsa, em Londres, e at� comentou por carta a Engels que tinha tido um retorno jeitoso.. Talvez fosse de dizer isto a Francisco Lou��, mas com cautelas..

(jtp)

*

Far� sentido tributar sobre o j� tributado? O trabalhador ano ap�s ano declara os seus rendimentos fruto do trabalho, destes paga IRS. Ao longo do ano adquire bens sobre os quais paga novamente IVA e outros impostos. Do pouco que sobra (quando sobra) ou adquire bens (e novamente lhe tributam impostos porque adquiriu um carro ou uma casa) ou investe (a poupan�a que tantos dizem ser necess�rio fazer) e quando isso acontece v� de novo o fantasma da tributa��o. Ao rendimento de cada hora de trabalho quanto � retirado, no final, atrav�s de impostos directos e indirectos? A carga excessiva, associado ao claro esbanjamento dos mesmos impostos pelo estado, n�o acaba por sugerir a fraude? Ou at� mesmo o �nada fazer� pois assim rende mais?

(Emanuel Ferreira)

*

N�o se percebe muito bem a que � que se refere o l�der do BE ou alguns dos coment�rios "postados". Vejamos:
No caso das pessoas singulares as mais-valias mobili�rias (ac��es, p.ex) s�o englobadas no rendimento tal como o s�o os rendimentos do trabalho, rendimentos prediais ou rendimentos de propriedade intelectual (p.ex); apenas n�o s�o tributadas as mais-valias de ac��es detidas (pelo seu titular) por mais de 12 meses (a raz�o para isto � considerar-se, e bem, que nestes casos n�o h� uma inten��o especulativa mas sim um investimento duradouro em que o, eventual, ganho � constitu�do pela distribui��o de dividendos, tamb�m estes tributados).

Assim sendo, ou � ignor�ncia ou m� f� ou outra coisa. E outra coisa ser� a ideia de aplica��o de uma taxa a todas as transac��es financeiras (imagine-se o bem que faria, a aplica��o de uma taxa fixa independente de ganhos ou perdas, aos mercados financeiros).

O pai desta ideia � o economista James Tobin que, em Setembro de 2001, deu uma entrevista ao Der Spiegel com o sugestivo t�tulo: "The antiglobalisation movement has highjacked my name". A entrevista, bastante esclarecedora, � embara�ante para os Drs. Lou��s deste mundo. Ali�s, em mat�ria fiscal, tudo o que o Dr. Lou�� defende ou � tecnicamente errado ou � inexequ�vel ou � obsoleto ou � demag�gico. Gostava de falar com ele sobre algumas coisas...

(ALTC)
 


EARLY MORNING BLOGS 772

The Basic Con


Those who can�t find anything to live for,
always invent something to die for.

Then they want the rest of us to
die for it, too.

(Lew Welch)

*

Bom dia!

9.5.06
 


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL H�NGARA:

2. BARCOS NO SENA (SANDOR ZIFFER)

 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: NOT�CIAS NA FUTEBOL�NDIA



Se algum portugu�s conseguiu passar o dia de ontem e escapar de saber que o treinador do Benfica saiu, pode considerar-se um exclu�do social. Foi uma jornada de r�dios e televis�es a dizerem sempre o mesmo, a toda a hora, n�o fosse uma s� alma ficar na ignor�ncia de t�o importante informa��o para o pa�s.

(Jorge Oliveira)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DIPLOMACIA SIMB�LICA



Ser� que s� eu acharei estranho que o Pres. da Com. Eur. tenha escolhido uma escultura de F�tima como prenda ao Chefe de Estado do Vaticano, na sua primeira visita oficial como l�der da Europa?
Foi uma oferta pessoal? Se n�o, quem visava representar com tal oferta, nas v�speras do Dia da Europa? Porque � que, quanto ao relacionamento entre Estados e Organiza��es com a Igreja, ningu�m se interroga sobre as quest�es diplom�ticas simb�licas? O que aconteceria se fosse entregue por Dur�o Barroso a um l�der mu�ulmano uma c�pia manuscrita do Cor�o?

(Paulo S�rgio Macedo)

*

Paulo S�rgio Macedo utilizou as p�ginas do seu blogue para perguntar �Ser� que s� eu acharei estranho que o Pres. da Com. Eur. tenha escolhido uma escultura de F�tima como prenda ao Chefe de Estado do Vaticano, na sua primeira visita oficial como l�der da Europa? Foi uma oferta pessoal? Se n�o, quem visava representar com tal oferta, nas v�speras do Dia da Europa? Porque � que, quanto ao relacionamento entre Estados e Organiza��es com a Igreja, ningu�m se interroga sobre as quest�es diplom�ticas simb�licas? O que aconteceria se fosse entregue por Dur�o Barroso a um l�der mu�ulmano uma c�pia manuscrita do Cor�o?"

Posso avan�ar a minha resposta: N�o achei estranho. Achei de bom-gosto. Quando eu ofere�o algo a algu�m, espero que quem receba aprecie o que recebe. Presumo que uma escultura de F�tima tenha agradado ao Papa. Se foi uma oferta pessoal, n�o sei. Presumo que n�o. Mas a regra de tentar agradar quando se oferece tanto se aplica �s ofertas privadas como instituticionais e diplom�ticas. Se Dur�o Barroso tivesse oferecido uma c�pia manuscrita do Alcor�o a um l�der religioso mu�ulmano, eu acharia igualmente bem, pelas mesmas raz�es. Uma oferta "laica" ao papa, ou uma escultura de F�tima a algu�m de fora da Igreja � que seria estranho.

N�o vale a pena tentar ler gestos, s�mbolos e significados nas coisas mais simples e banais. E n�o se deve ceder ao politicamente correcto dum certo laicismo em detrimento do bom-senso e do bom-gosto.

(Pedro Costa Ferreiro)
 


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVIS�ES, IMAGENS, SONS, PAP�IS, PAREDES)
(9 de Maio de 2006)


__________________________

O senhor Attila, um nome muito comum na H�ngria, promete-nos um retorno � casa e aos valores familiares, em nome do Fidesz, a coliga��o conservadora que perdeu as elei��es h� quinze dias.

 


TR�S ANOS, TR�S S�CULOS


Primavera em P�cs.

Obrigado aos que lembraram.
 


EARLY MORNING BLOGS 771

Outwardly His Life Ran Smoothly


Comparative figures: 1784 Kant owned 55 books, Goethe 2300, Herder 7700.

Windows: Kant had one bedroom window, which he kept shut at all times, to
forestall insects. The windows of his study faced the garden, on the the other side of
which was the city jail. In summer loud choral singing of the inmates wafted in.
Kant asked that the singing be done sotto voce and with windows closed. Kant had
friends at city hall and got his wish.

Tolstoy: Tolstoy thought that if Kant had not smoked so much tobacco The
Critique of Pure Reason would have been written in language you could under-
stand (in fact he smoked one pipe at 5 AM).

Numbering: Kant never ate dinner alone, it exhausts the spirit. Dinner guests, in
the opinion of the day, should not number more than the Muses nor less than the
Graces. Kant set six places.

Sensualism: Kant's favourite dinner was codfish.

Rule Your Nature: Kant breathed only through his nose.


(Anne Carson)

*

Bom dia!

8.5.06
 


O CONGRESSO DO CDS/PP

revela que o pr�ncipio do "dois em um", ou o de �uma lady na mesa, uma louca na cama�, n�o funciona para os partidos pol�ticos. Ou � s� "um em um", como no PCP, ou s�o vinte em um, dez ladies na mesa e dez loucas na cama, como no PSD e no PS.
 


UMA MISSA NA IGREJA S�RVIA DE BUDAPESTE



Ao lado da Igreja est� uma exposi��o sobre Nikola Tesla (os jogadores de Command Conquer podem imaginar quem �), mas nenhum raio atingiu o incr�u que entrou pelo jardim do pequeno p�tio. A Igreja est� abaixo do n�vel da rua, o que quase a ia destruindo nas cheias de 1838. � pequena, num barroco moderado, pintada de um amarelo forte. Est� quase sempre fechada, guardada por um port�o de ferro. � volta, um relvado e velhas �rvores, nos muros, l�pides tumulares. E, em pleno centro de Budapeste, um sil�ncio apenas perturbado pelos p�ssaros.
A comunidade que a frequenta n�o � muito grande, mas tem a intensidade habitual nos momentos de identidade, como seja o ritual da missa. Sem ser espectacular, nem artisticamente relevante (a maioria das suas pinturas e �cones s�o tardios, em estilo italiano), a Igreja atrai pela sua intimidade, por se perceber que � uma igreja a s�rio. Talvez o cheiro forte a incenso e estearina seja o principal factor nessa ecologia que se sente imediatamente. A missa segue o complexo ritual ortodoxo, com um padre paramentado, cercado de v�rios outros padres e ac�litos, que se movimenta � volta das portas da iconostasis. Ao lado, um coro, em frente um p�o numa mesa. Nas igrejas orientais o p�o � fermentado, � p�o mesmo. O padre levanta dois casti�ais e cruza as velas. Volta-se para as imagens e depois para os fi�is, que j� n�o respeitam a tradicional separa��o entre homens e mulheres, tra�ada na geografia da Igreja por uma diferen�a de n�vel e uma barreira de madeira. O �Sinal da Cruz� � diferente do nosso.

Na assist�ncia, os homens mais velhos movimentam-se sem ru�do, todos vestidos com as suas "roupas de domingo". Dois tipos de mulheres assistem, sem meio termo, umas vestidas de negro, como as monjas ou as nossas vi�vas do Norte, outras grandes e louras e muito pintadas, vestindo vestidos com um tra�o antiquado. Vestidos-vestidos, em vez de mera roupa, vestidos com pompa e arquitectura, que trazem com grande naturalidade e um sentimento de estar bem, de serem o que s�o, mesmo ali na Igreja, onde nas suas faces se percebe a f�.

A uns metros dali, havia uma missa cat�lica, muito mais frequentada, mas que, talvez por conhecer melhor o seu ritual e o interior da Igreja ser-me mais familiar, me pareceu mais habitual, menos curioso. Como a curiosidade muito me move, fui atr�s da maior estranheza. Na Igreja s�rvia eu sabia que estava na Europa de l�, na Igreja cat�lica, uma das muitas de Pest, era como estar na Bas�lica da Estrela. Mas, em ambas as igrejas, o tempo estava parado. Deve ser isso que elas d�o aos que tem f�: um momento de eternidade, a participa��o num outro tempo mais sagrado que a velocidade profana do lado de fora.
 


DEZ QUADROS FAUVE NA GALERIA NACIONAL H�NGARA


Sandor Ziffer, O Port�o Vermelho

Na Galeria Nacional de Budapeste est� uma excelente exposi��o do fauvismo h�ngaro, entre Paris e Nagyb�nya (Magyar vadak P�rizst�l Nagyb�ny�ig 1904-1914) Nagyb�nya era uma col�nia de f�rias popular entre artistas que funcionou como uma esp�cie de Skagen h�ngara. A exposi��o mostra algumas das riquezas excepcionais da arte do Centro e Leste da Europa, cosmopolita e totalmente integrada nas grandes escolas art�sticas europeias, e que depois foi decapitada na sua verdadeira dimens�o pelo isolamento que o comunismo trouxe � H�ngria. Dos quadros expostos, alguns de colec��es particulares (como � o caso do "Port�o Vermelho" de Ziffer), escolhi dez para colocar no Abrupto.
 


NUNCA � TARDE PARA APRENDER: CAPOTE E CAMUS

Picture of Paris After the Liberation, 1944-1949


Antony Beevor, Paris After the Liberation, 1944-1949

Parece que Truman Capote se gabava de ter seduzido Camus por uma noite, em Paris no p�s-guerra. Tudo indica que seja falso, at� pela fama de Camus noutras andan�as, mas como n�o sabia de todo desta hist�ria, nunca � tarde para aprender.
 


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVIS�ES, IMAGENS, SONS, PAP�IS, PAREDES)
(8 de Maio de 2006)


__________________________

Para a bibliofilia: a descoberta das edi��es da Central European University.



Mikl�s Kun, Stalin. An Unknown Portrait

Jaromir Navratil, Antonin Bencik, Vaclav Kural, Marie Michalkova, e Jitka Vondrova, The Prague Spring, 1968 (Com um pref�cio de Vaclav Havel)

Ambrus Miskolczy, Hitler's Library

(Muito interessante: o que Hitler leu e sublinhou, os livros por que passou os olhos, os que tinha e n�o se sabe se leu. Por exemplo: Hitler, leitor de Ernst J�nger.)

*

Aconteceu alguma coisa enquanto eu estava de judeu errante?
O mundo continuou a funcionar, e em Portugal o desencanto come�a a criar ra�zes. Em breve espreitar� o caule, e depois assistiremos talvez a algo feio.

Os professores l� foram "castigados" mais uma vez com regras idiotas. T�m sido a classe "bode expiat�rio" deste governo. E se h� justi�a em exigir maior profissionalismo, compet�ncia e dedica��o, � profundamente injusto ver que a Reforma do Estado passa s� por eles e que lhes � exigido algo para o qual n�o lhes s�o dados meios. Assistimos boquiabertos � intriga de faca e espada das buscas da PJ e de Rui Rio em que o que � verdade num momento � mentira no outro, o que para al�m de nos deixar atordoados nos imp�e a sensa��o de que algu�m deliberadamente mente e est� de m�-f� (ai os ju�zes) e assistimos em directo � decad�ncia institucional de Freitas do Amaral que continua a pensar que o mundo come�a e acaba em si pr�prio. Mas o Porto foi campe�o, o Sporting conseguiu ficar em segundo lugar deixando o Benfica para tr�s, coisa que d� sempre, falta de melhor, para aquecer um pouco a alma. As lojas j� est�o cheias de fatos de banho, as maquilhagens de ver�o j� saem � rua, os anti-celul�ticos e as cervejas lutam por um lugar nos outdoors, e as barrigas de fora (que este ano, finalmente, est�o totalmente out, em termos de moda) n�o se far�o esperar. Ah... e parece que vai haver uma lotaria rock-in-Rio Lisboa. Por isso nada est� realmente perdido...

(J.)
 


O QUE � A HIST�RIA?







Paredes de casas marcadas por balas e tiros de canh�o.
 


EARLY MORNING BLOGS 770

Au D�mon secret

Le peuple, sans perplexit�, v�n�re. Il encense, invoque ou r�pudie. Il donne trois, ou six ou neuf prosternements. Il mesure son respect � la comp�tence, aux attributs, aux gr�ces qu'il escompte juste.

Car il sait pr�cis�ment les go�ts du g�nie de l'�tre ; les dix-huit noms du singe qui donne la pluie ; la cuisson de l'or comestible et du bonheur.

o

De quelles c�r�monies l'honorer ce d�mon que je loge en moi, qui m'entoure et me p�n�tre ? De quelles c�r�monies bienfaisantes ou mal�fiques ?

Vais-je agiter mes manches en respect ou br�ler des odeurs infectes pour qu'il fuie ?

De quels mots d'injures ou glorieux le traiter dans ma v�n�ration quotidienne : est-il le Conseiller, le Devin, le Pers�cuteur, le Mauvais ?

Ou bien P�re et grand Ami fid�le ?

o

J'ai tent� tout cela et il demeure, le m�me en sa diversit�,

Puisqu�il le faut, � Sans-figure, ne t'en va point de moi que tu habites :

Puisque je n'ai pu te chasser ni te ha�r, re�ois mes honneurs secrets.

(Victor Segalen)

*


Bom dia!
 


RETRATOS DO TRABALHO NA PALHA�A (OLIVEIRA DO BAIRRO), PORTUGAL


Preparando o forno para cozer o p�o.

(Paulo Pereira de Carvalho)

7.5.06
 


PODE-SE METER O COMUNISMO NOS MUSEUS?

Uma reflex�o sobre os museus e memoriais do comunismo ( Terror Haza, Parque das est�tuas, em Budapeste: a casa em Checkpoint Charlie em Berlim, etc.). E por que raz�o n�o h� museus do fascismo e do nazismo?

(Em breve.)

6.5.06
 


REGRAS PR�PRIAS

Ler a blogosfera como leitor e n�o como autor de blogues.

Escrever num blogue sem ser para ser lido apenas pelos autores dos blogues.

Toda a aten��o para fora, sempre para fora, para a furiosa veem�ncia do mundo.

Toda a aten��o para fora, sempre para fora, para os sil�ncios que (nos) falam.

Toda a aten��o para fora, sempre para fora.

N�o ser distra�do.

Estar atento.

Continuar.
 




Sed fugit interea, fugit irreparabile tempus,
singula dum capti circumvectamur amore.


Virgilio, Ge�rgicas

5.5.06
 


LIVRARIAS DE BUDAPESTE

Parece haver uma correla��o (pelo menos na Europa) entre o isolamento da l�ngua e a qualidade das livrarias com livros estrangeiros. Budapeste tem excelentes livrarias, alfarrabistas, antiqu�rios, e naturalmente muitos livros em ingl�s, alem�o, e franc�s. Numa livraria especializada em Filosofia (a Atlantisz) vi pela primeira vez um dicion�rio de tibetano, e outro de caldeu, uma colec��o de Judaica muito actualizada, e noutra (a Best Sellers) uma estante de ci�ncia pol�tica compar�vel �s melhores livrarias americanas.

Em breve imagens e os pequenos detalhes das livrarias de Budapeste, onde est� o Diabo.
 


NAS TERRAS DO CAF�

e do Caf� Correcto.

Aben�oados turcos que deixaram uns sacos para tr�s depois de cercarem Viena.
 


TERROR HAZA
A casa da rua Andr�ssy 60, foi a sede da pol�cia pol�tica h�ngara, depois de ter sido a sede de uma organiza��o nazi. Hoje � um museu, meio reposit�rio da mem�ria hist�rica, meio exposi��o de horrores, verdadeiros neste caso. Visitei-o com mixed feelings, porque me desagrada a espectaculariza��o do terror, que leva � trivializa��o da hist�ria, embora reconhe�a que a gera��o que o viveu tem direito a este memorial. A exposi��o � melhor do que se podia esperar, s�bria, muito copiada dos museus do holocausto, mas impressiva na reconstitui��o das celas e nas salas de interrogat�rios. O carro e o gabinete do chefe da pol�cia s�o tamb�m objectos que falam, que pela sua mera exist�ncia nos dizem muito sobre o que aconteceu. A repress�o aos revolucion�rios de 1956 � lembrada por um depoimento detalhado sobre as execu��es, feito pelo respons�vel pela limpeza do local onde se colocavam as forcas. Um filme de propaganda comunista sobre o julgamento de Imre Nagy devia ser mostrado a todos os que tem ilus�es sobre o que foi o "socialismo real".
 


SCRITTI VENETI

(Em breve.)
 


PARAFERNALIA HUNGARICA 2

As cidades h�ngaras s�o as cidades das placas, n�o h� rua, casa, muro, que n�o tenha uma. Os nomes dir�o alguma coisa aos h�ngaros, mas, vistas de fora (de fora do "nemzeti", do que � nacional, do que pertence � comunidade dos h�ngaros) revelam a vontade de consolidar uma mem�ria, uma hist�ria, um sentimento de na��o. Para al�m da ferida da ocupa��o turca, da anexa��o aos "alem�es" no Imp�rio, das injusti�as do Tratado de Trianon, da trai��o ocidental � Revolu��o H�ngara de 1956.

4.5.06
 


BIBLIOFILIA: CENTROS E LESTES




Claudio Magris, Danube

Istvan Rev, Retroactive Justice: Prehistory Of Post-Communism (Cultural Memory in the Present)
Sandor Marai, Memoir of Hungary 1944-1946
 


PARAFERNALIA HUNGARICA

No Budapest Times l�-se o lamento dos h�ngaros com a classifica��o que o Departamento de Estado deu � dificuldade da sua l�ngua: grau 2, como o russo ou o grego. Mais f�cil do que o grau 3, que inclui o �rabe, o canton�s e o japon�s. Os h�ngaros gostam de ter uma l�ngua dif�cil e n�o ficaram contentes com a mediania.
 


DEZ QUADROS FAUVE

na Galeria Nacional H�ngara.

(Em breve.)

 


DE MANH� CEDO

Do lado do Ocidente, sinos, do lado do Oriente, p�ssaros. O Turco ganha, falando assim, com mil vozes matinais.

3.5.06
 


NUNCA � TARDE PARA APRENDER: MAGYAR NYELV

Istv�n Bart, Hungary and the Hungarians. The Keywords. A Concise Dictionary of Facts and Beliefs, Customs, Usage and Myths, Budapeste, Corvina, 1999

Este � o livro, sem ser de hist�ria ou de literatura, em que aprendi mais sobre a Hungria. L�-se, como os dicion�rios, para a frente e para tr�s, sempre com proveito.

Por exemplo, na entrada �magyar nyelv�, a �l�ngua h�ngara� percebe-se que mais do que n�s, os h�ngaros podem dizer �a minha p�tria � a l�ngua h�ngara �. Com 15-17 milh�es de falantes, uma pequena l�ngua muito dif�cil de aprender, o h�ngaro �, mais do que o territ�rio, a �p�tria�. Da� a import�ncia simb�lica dos escritores no nacionalismo h�ngaro, e a sua presen�a obsessiva por todo o lado, nos nomes das ruas, das escolas, nas placas comemorativas que enchem todas as cidades e aldeias h�ngaras.

2.5.06
 


GUERRA DE CIVILIZA��ES: A IGREJA CRIST� DE P�CS

 


N�O � TODOS OS DIAS

Por baixo do s�tio onde durmo, est� uma sala onde tocou Bela Bartok. O mundo j� n�o � o que era.
 


LONGE

ficamos todos multiculturalistas. De manh�, modas e bordados na PESC TV, limpeza do zoo, idem, concurso de puzzles, idem. Na TV5 Monde, o or�amento canadiano, explicado naquele franc�s cantado e �nico. O espectador, portugu�s, t�o estranho como tudo o resto.

1.5.06
 


MUDAN�AS VISTAS DE BUDAPESTE E P�CS

Quem conheceu a Europa do Centro e do Leste nos anos terminais do sistema sovi�tico, apercebe-se de imediato do enorme salto em frente que v�rios pa�ses deram com o fim das ditaduras do partido comunista. Os processos de transi��o n�o s�o id�nticos mas h� casos onde se foi mais longe e o rastro f�sico do comunismo come�a a desvanecer-se. Se tudo correr bem, a pr�xima gera��o j� ver� o comunismo como arqueologia. Tudo indica que ser� o caso da Hungria.

Talvez isso se deva ao facto de os h�ngaros terem pago muito caro, mais caro que os outros pa�ses subjugados pela URSS. A revolta h�ngara de 1956 foi a mais importante de todas as tentativas de liberta��o, paga com muito mais sangue derramado que as revoltas alem�s, polacas e checas.

Mas a revolta h�ngara ficou isolada num tempo em que a crise do comunismo ainda n�o era evidente para muita da �esquerda�, mesmo a n�o-comunista e continuavam as ilus�es sobre o �socialismo real�. Basta comparar o impacto da invas�o h�ngara, e dos eventos sangrentos a que deu origem, e o da invas�o da Checoslov�quia, menos violenta nas suas consequ�ncias, mas com um muito maior impacto pol�tico, para se perceber a diferen�a. A reac��o popular, das ruas, nas principais capitais das democracias europeias n�o foi muito distinta, foi mesmo equivalente � dimens�o dos acontecimentos. A diferen�a esteve nos intelectuais e na �esquerda� que se sentiu mais livre de se indignar com a Checoslov�quia do que com a Hungria. N�o foi por raz�es muito gloriosas, mas porque lhe era mais aceit�vel um comunista que se considerava reformista como Dubcek, e uma �Primavera� que se apresentava como de �esquerda�, do que uma revolu��o claramente anticomunista e nacionalista, que envolvia a Igreja cat�lica.
 


BUDAPESTE

Em Budapeste, a esta��o do Rossio e o Hotel do Bu�aco ficariam bem. Na Europa, esta � a capital do pastiche.
 


ESTRANHEZAS

Poucas l�nguas t�m a estranheza do h�ngaro. Na �pera de Budapeste, as Bodas de F�garo. Em cima, num painel electr�nico, passam as tradu��es em h�ngaro. N�o consigo deixar de olhar para as mais bizarras palavras. Se fosse mandarim, sentiria menos a estranheza.

(Num pa�s sem acentos, embora haja alguns que n�o s�o habituais nas terras anglo-sax?nicas, como este que aparece como um ponto de interroga��o.)

� Jos� Pacheco Pereira
In�cio
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