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29.4.06
JUDEU ERRANTE
Mais uma corrida, mais uma viagem. RETRATOS DO TRABALHO EM RUIVÃES - VIEIRA DO MINHO , PORTUGAL Esta fotografia foi tirada hoje durante a tarde junto à Ponte da Misarela no lugar de Frades, freguesia de Ruivães, concelho de Vieira do Minho. Estes dois homens estavam a cortar o mato para o transportar para as cortes do gado. Quando lhes perguntava se podia tirar esta fotografia, dizia-me um deles que os Portugueses só se sabem queixar, mas que verdadeiramente não querem é trabalhar; eles ao contrário, estavam ali a trabalhar debaixo daquele sol (quase) abrasador. (Paulo Miranda) RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL
Trabalhos na barra do Douro. (Gil Coelho)
NUNCA É TARDE PARA APRENDER: GENEALOGIA DAS PALAVRAS
Salazar aos legionários em 1956 sobre a "guerra das civilizações": “Há vinte anos foi nítido para nós - mas não o foi para muitos - em face do caso espanhol, que o que essencialmente se desenrolava no Mundo eram conflitos de civilização; ou mais precisamente que a civilização ocidental estava sendo desmantelada ate aos alicerces e batida nos seus princípios fundamentais e nas suas criações por outros conceitos filosóficos, outras maneiras de encarar o homem e a vida, novas medidas de valor para as realizações do espírito.”
MINHO, MINHO, MINHO À NOITE
Pelas estradas do interior, dez quilómetros são cinquenta. Terra, sobre terra, sobre terra. Nomes antigos, nomes bárbaros, consoantes fortes. Bês e guês, erres. De dia, parece estar tudo em cima de tudo, vinhas e terrenos, casas e igrejas. De noite, até parece que há bosques, lugares de escuridão antiga, com casas isoladas, janelas vagamente amarelas ao longe. As igrejas, no cimo das colinas, iluminadas. No iPod, Joan Didion fala de mortes na família, funerais, do seu livro The Year of Magical Thinking. Numa curva, em Roriz, pergunto-me se alguma vez a voz de Didion se ouviu no Minho. Passou-me Camilo à frente, pelos olhos. Não é verdadeiramente nada de importante. Adiante. 28.4.06
RETRATOS DO TRABALHO NA MAURITÂNIA Esta fotografia foi tirada no decorrer da semana passada algures entre a pista de praia que liga as localidades de Nouakchott a Nouadibou. Esta ligação/pista é utilizada não só por pescadores mas também por todos os que se deslocam a este local com o objectivo de apreciarem o encanto da conjugação do deserto com o mar. (...) Ao longo da praia são inúmeras as comunidades de pescadores. (Frederico Moreira Rodrigues) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (28 de Abril de 2006) __________________________ Uma muito interessante vantagem nas "antecipações" jornalísticas (sobre as quais tenho as maiores das reservas) é o de obter uma divulgação quase que inteiramente controlada pela fonte da "antecipação". Consegue-se assim "passar" uma mensagem limpa de ruído, do ruído que inevitavelmente existe quando a "antecipação" se torna um facto (e do meu ponto de vista se torna notícia). Um discurso parlamentar pode ser assim divulgado sem o aborrecimento do contraditório, e com os sublinhados que pretende o seu autor, que "passa" preferencialmente a mensagem que lhe convém e não a integralidade do que vai fazer. Consegue-se ainda mais: a de fazer o jornalista incorporar no texto da notícia a argumentação da fonte como sendo do jornalista, logo oferecendo uma mensagem que parece mais legitimada e incontroversa a quem a recebe. Um caso típico ocorreu nos últimos dias, com a notícia em primeira-mão dada à SIC sobre as alterações nos cálculos da reforma. A SIC e a SICN passaram em vários noticiários não só a informação do essencial do que o Primeiro-ministro ia dizer no dia seguinte (o que é relevante em termos jornalísticos) como a argumentação governamental sobre a inevitabilidade de tal medida tendo como sujeito o jornalista que a escreveu ou o pivot que a leu. Ora, independentemente do juízo que se possa fazer sobre a virtude das medidas governamentais, elas são escolhas politicas definidas, escolhas entre escolhas, e não cabe ao jornalista valida-las como soluções inevitáveis dos problemas da segurança social.
* O New York Times não faz parte daqueles que acham que os blogues não são importantes. É assim que, num e-mail aos assinantes, introduzem uma categoria nova, a de "most blogged": "Most Popular: See what your fellow Times readers are buzzing about. Refer to the constantly updated lists: Most E-Mailed, Most Blogged, Most Searched and Most Popular Movies." EARLY MORNING PICTURES Movimento matinal de hoje no Tejo: veleiros, navios de guerra e paquetes. Hoje o Colombo vai estar cheio de marujos. Mas os marujos já não são o que eram, as sopeiras já desapareceram, e temos todos telemóveis. (J.)
EARLY MORNING BLOGS 768
Insomnia Now you hear what the house has to say. Pipes clanking, water running in the dark, the mortgaged walls shifting in discomfort, and voices mounting in an endless drone of small complaints like the sounds of a family that year by year you've learned how to ignore. But now you must listen to the things you own, all that you've worked for these past years, the murmur of property, of things in disrepair, the moving parts about to come undone, and twisting in the sheets remember all the faces you could not bring yourself to love. How many voices have escaped you until now, the venting furnace, the floorboards underfoot, the steady accusations of the clock numbering the minutes no one will mark. The terrible clarity this moment brings, the useless insight, the unbroken dark. ( Dana Gioia) * Bom dia! 27.4.06
QUEM PAGA A CRISE? No fim de um ano de aumento de impostos, de excepcional recolha fiscal e do arranque de várias medidas de contenção, o Governo conseguiu ter um défice superior ao previsto no último orçamento de Santana Lopes / Bagão Félix, descontadas as receitas extraordinárias. Nunca saberemos se o previsto se iria realizar, como nunca saberemos se os 6,8% calculados pelo Banco de Portugal não seriam contrariados por medidas do Governo. O que sabemos é que os resultados são maus. Os relatórios da última semana da OCDE e do BM apenas acentuaram a impressão de que nada vai bem, e as medidas do Governo só tocam na superfície dos problemas, na “epiderme” como diz Medina Carreira. Tudo isto num contexto excepcional quanto às condições políticas, com um governo de maioria absoluta e com uma oposição muito fragilizada, e com considerável apoio da opinião pública. Torna-se evidente que os dilemas que já existiam em 2005 estão hoje mais acentuados e a margem de manobra, com a passagem do tempo, é já bastante menor. Vamos pois a caminho de tempos muito difíceis, agravados pela conjuntura internacional, mas não explicáveis nem exclusiva, nem principalmente por ela. Agora que realmente tudo vai começar a apertar, e já sem a sombra nem a desculpa legitimadora do governo Santana Lopes, as opções erradas de Sócrates, do Governo e do PS começam a perceber-se com maior clareza. Deixo de lado, que havia uma maneira alternativa de actuar, uma política genuinamente liberal, que no entanto não corresponde às opções políticas e ideológicas do Governo socialista. Como nas histórias infantis, tudo começou no princípio, “naquele tempo”. No balanço da actuação de Sócrates esquece-se várias coisas: uma é que o discurso com que o PS ganhou as eleições não era um discurso de crise, bem pelo contrário, era o da sua negação. Não se chegava ao ponto de anunciar a “retoma”, mas o discurso socialista era o de que havia “vida para lá do défice”. É uma história da carochinha da propaganda acreditar que Sócrates só se apercebeu da situação real depois do relatório Constâncio, porque tal era impossível. É verdade que Sócrates corrigiu o discurso logo que ganhou as eleições e fez bem, mas uma coisa é corrigir um erro outra é compreender totalmente a necessidade de uma viragem de fundo. Depois de um ano a ser saudado com justiça pela sua coragem nas medidas difíceis, pouca gente se apercebeu que os problemas de fundo do nosso desequilíbrio financeiro se mantêm, em particular com o estado a gastar sempre mais e a “comer” não só o que tinha, mas também o que estava a entrar de novo. Apresentar como resultado um défice maior do que o governo anterior não tem volta que se lhe dê – é andar para trás. Porque é que é hoje mais difícil passar de 6% para 4,8% do que seria um ano antes? Primeiro, porque é (foi) um erro gravíssimo, ter cedido ao populismo no pior momento para o fazer. O Governo podia muito bem ter pedido todos os sacrifícios e ter anunciado todas as medidas difíceis com um único argumento: eram necessárias para o país, eram uma questão de “salvação nacional”. Ponto final. Mas o Governo cedeu à tentação de dizer que o que estava a fazer era uma luta contra os “privilégios “ de muitas classes profissionais e com isso deslegitimou-os na sua respeitabilidade social. Hoje sabemos o efeito dessa táctica comunicacional: deixou cada grupo profissional de per si, socialmente isolado, face a uma opinião pública hostil, mas azedou irremediavelmente o ambiente dentro de cada corporação e grupo entrincheirados contra o Governo. Fez as corporações e os grupos profissionais fracos por fora e fortes por dentro. Uma segunda vaga ainda mais dura de medidas de austeridade e contenção vai dar origem a conflitos sociais mais tenazes. Os comportamentos desesperados vão ser mais comuns, a resistência maior. Isto significa que muito do tempo psicológico para uma política de efectiva dificuldade, já se perdeu, no exacto momento em que é preciso ir muito mais longe e começar a perceber quem ganha e quem perde com a crise que atravessamos e o modo como o governo a defronta. Segundo, porque o Governo apenas esboçou as políticas necessárias, excluindo muitas medidas que lhe foram sugeridas e que melhor traduziam a gravidade da situação. Claro que o problema é também político-ideológico, em particular na intocabilidade do “estado social” universal, em que nunca ousou mexer, apesar de ser um caminho que garantia melhor justiça social. Sócrates diminuiu regalias sociais, mas manteve esquemas de universalidade, em particular na segurança social e no sistema de saúde, o que torna muitas medidas mais duras para os mais pobres e irrelevantes para os mais ricos. Na verdade, as medidas de Sócrates acabam por atingir essencialmente os sectores mais desfavorecidos da sociedade, mais dependentes da inflação, do aumento das taxas de juro, dos despedimentos, da erosão das reformas e menos a classe média. Dos ricos nem falo, porque esses podem sempre bem com as crises. O que o discurso de Cavaco Silva no 25 de Abril traz de novo para a análise desta questão é chamar a atenção para que, se nada mais se fizer, a crise será “paga” pelos mais pobres e agravará a exclusão. A ênfase que “surpreendeu” muita gente, só é surpresa porque se tem ignorado que essas dificuldades não são igualmente distribuídas e que o “pagamento da crise”, deixando-se estar as coisas como estão, irá para baixo e não para o meio. Insisto que, em cima, nada verdadeiramente conta no plano “social”. A classe média, até agora só tem sido tocada ao de leve. Os padrões de consumo não revelam significativas restrições nos hábitos típicos desse sector social (férias, viagens nas “pontes”, por exemplo) e, no essencial, o efeito da crise tem sido superficial, em detrimento das muito maiores dificuldades escondidas e que raras vezes chegam à comunicação social, no baixo funcionalismo, no mundo do trabalho industrial, nos jovens com trabalho precário, na pequena burguesia urbana dos serviços, muito endividada. O agravamento da crise aprofundará este fosso de degradação de qualidade de vida. O problema da justiça social nesta crise não está apenas, bem longe disso, na assistência aos casos extremos de miséria e exclusão, aos marginais e aos velhos desprotegidos, que já era exigida pela nossa pobreza há muito tempo. A questão está em se compreender que esta forma de atacar a crise atirará com os seus custos para os grupos sociais que menos defesa têm e, como o que aconteceu até agora é apenas um ligeiro assomar de dificuldades que aí vêm, convém prevenir não contra a austeridade, nem o contra o combate ao descalabro financeiro, mas contra um injusto “pagamento da crise”. E não é o PCP quem o diz. (No Público de hoje.) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (27 de Abril de 2006) __________________________ * Sobre as querelas da Academia a propósito dos dicionários, leia-se esta nota do Da Literatura. * O Canhoto merece ser lido de forma ambidextra. * Bem-vindo seja o novo blogue russo do Público, de autoria do nosso bom mujique José Milhazes. Há uma razão especial para estar atento à Rússia: tudo o que lá acontece, mesmo quando parece velho e semelhante, é novo. A "transição para o capitalismo" é um fenómeno sem precedente histórico, como foi em 1917 a Revolução Russa. RETRATOS DO TRABALHO EM PORTUGAL
( o trabalho industrial está mal representado) ( a fábrica fechou) (António Carvalho)
EARLY MORNING BLOGS 767
Chanson Innocente, I in Just- spring when the world is mud- luscious the little lame balloonman whistles far and wee and eddieandbill come running from marbles and piracies and it's spring when the world is puddle-wonderful the queer old balloonman whistles far and wee and bettyandisbel come dancing from hop-scotch and jump-rope and it's spring and the goat-footed balloonMan whistles far and wee (e.e.cummings) * Bom dia! 26.4.06
RETRATOS DO TRABALHO 140 retratos do trabalho já foram publicados no Abrupto, com a colaboração de cerca de cem leitores em Portugal e fora. Muitos outros retratos foram recebidos e serão publicados a seu tempo. Em breve, se fará uma análise dessas fotografias, do olhar sobre o trabalho que revelam, das profissões que faltam ( o trabalho industrial está mal representado) e das que são mais populares, ou mais visíveis. * Em relação à questão da pouca representatividade do "trabalho industrial" na sua série "Retratos do Trabalho em Portugal", eu aventaria uma razão bastante prosaica. A maior parte das fotografias que lhe chegaram são de fotógrafos amadores, que as captam em momentos de lazer (essencialmente fins de semana e férias), pelo que é compreensível que nesses momentos se captem fotografias de "exterior". RETRATOS DO TRABALHO NO CAIRO, EGIPTO
Nestes últimos meses em que tenho estado a viver/trabalhar no Egipto, tenho notado bastantes diferenças na abordagem ao trabalho e à vida em geral, nem todas tão evidentes como esta. (Nuno Alexandre Lopes Marques) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DESTAQUE DE NOTÍCIAS (...) hoje no Publico vêm duas noticias muito interessantes: 1) a Faculdade de Psicologia do Porto corre o risco de ficar fora do processo de Bolonha porque uma funcionária não pagou um excesso de peso no dia 27 de Março. O prazo limite era 31, e os documentos só seguiram no dia 3. O que é que se terá passado nessa semana (de 27/3 a 3/4) é um mistério; como é que é possível que o erro não tenha sido corrigido a tempo é outro mistério. Como se costuma dizer, a realidade ultrapassa a ficção. Aguardemos pelas cenas dos próximos capitulos. 2) vai haver uma exposição sobre a Custódia de Belém de Gil Vicente. Saúda-se a iniciativa. O que é incrível é que quando se vai ao Museu de Arte Antiga, a Custódia passa despercebida. Não há (pelo menos não houve durante anos e não havia até ao ano passado) um texto que evidencie a singularidade da obra, ou que explique quem é o autor. Apenas são prestadas as informações minimas usuais: data, nome e autor. Sem querer ser destrutivo de modo saloio, parece-me muito pouco. E parece-me revelador de duas coisas: - um modo elitista de ver a cultura (supõe-se que as pessoas já conhecem a obra) que resulta em Museus que são montras (e onde não se aprende nada / o conteúdo didáctico é pouco). - um modo muito "sub-desenvolvido" de nos valorizarmos e de preservarmos a nossa memória colectiva. Estamos sempre a pensar que somos piores que os Europeus, mas Shakespeare, Rabelais, Montaigne ou Cervantes não eram ourives. Outro povo evidenciaria provavelmente mais essa fantástica versatilidade de Gil Vicente. Tornar-nos realmente desenvolvidos vai passar por aí: cuidar da nossa história, dos nossos feitos. Essa versatilidade aliás ainda existe. Um dos artigos base de uma das ultimas edições da Publica (se não me engano) era dedicado a essas pessoas. (Eduardo Tomé) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UM DIÁLOGO MATERNO-INFANTIL E AS NOVAS TECNOLOGIAS "Mãe, jà foi a algum leilão? Já, de livros. Na internet? Não. Numa leiloeira. Acha que podiamos tentar vender o João no ebay? Acho. O que é que achas João? Acho que faziam para ai uns dois milhões..." (Mãe do João.) 25.4.06
RETRATOS DO TRABALHO NO DOURO, PORTUGAL
Podando oliveiras no Douro. (Abilio Tavares da Silva) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TERRORISMO EM DAHAB Esta vila é umas das pérolas do Mar Vermelho, ainda pouco explorada turisticamente. Em Assalah, a zona sul da vila já cresceram alguns 'resorts', no resto da vila uns quantos pequenos hotéis e um passeio marítimo com restaurantes, lojas e esplanadas junto à água, onde se pode fumar shisha, comer um peixe grelhado fresquíssimo, não deve haver melhor no Egipto. As praias são calmas e o fundo do mar uma maravilha da natureza, onde os turistas se deleitam a fazer mergulho. Em suma um local muito agradável, onde é possivel descontrair. E era isso mesmo isso que os turistas, em boa parte italianos, alemães e russos e muitas famílias egipcias estavam a fazer, aproveitando os feriados desta semana.Ontem ao final da tarde com a explosão de três bombas, despoletadas à distância ou por suicidas, ainda não se sabe, se foram os mesmos terroristas beduinos que nos últimos dois anos foram responsáveis por ataques semelhantes com ligações a redes terroristas internacionais ou alguma dessas redes internacionais também não se sabe. O que se sabe e se vê é o sangue derramado, o sofrimento, os destroços e os estilhaços. O terrorismo é isto mesmo, é transformar a alegria, a vida, o sossego, os negócios em angústia, em morte, em medo e destroços. (Nuno Alexandre Lopes Marques aka Temba, Cairo)
ONDE ESTÁ A DIFERENÇA Se não tivessemos a obsessão entre a "esquerda" e a "direita", percebíamos o fosso potencial que existe entre o discurso do Presidente e o do Governo : a separação de águas entre o discurso desenvolvimentista e tecnológico, muitas vezes deslumbrado, do Primeiro-ministro, e a observação do Portugal real, pobre, estragado, desigual, excluído que só poderá agravar-se em período de crise social e económica. Não são as reformas que os separa, mas o Portugal diferente para que olham na análise dos seus efeitos. PALAVRAS QUE SÃO MULETAS DO NOSSO JORNALISMO: ESQUERDA / DIREITA Ao "analisar" o discurso do Presidente da República repetem n vezes a muleta da "esquerda" e da "direita" e nem sequer se apercebem de que o fazem para enunciar uma perplexidade, - o Presidente da "direita" fez um discurso de "esquerda" -, que talvez justificasse outro tipo de análise. Só que esta é simples e permite simplificar. O problema é que os factos são mais teimosos do que as palavras. * A propósito do discurso do Presidente da República, e a sua observação, ou seja, sobre o estado da Nação, não resisto a transcrever o que José Daniel Rodrigues da Costa versejou, sobre o mesmo assunto em 1819, e sucessivas edições (1820, 1822 e 1829), há 177 anos portanto, com o título infra, e onde transparece algum retrato de um Portugal que se vai parecendo a si mesmo, como se o tempo tivesse parado no tempo. 24.4.06
EARLY MORNING BLOGS 766 Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso. É possível, porque tudo é possível, que ele seja aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo, onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém de nada haver que não seja simples e natural. Um mundo em que tudo seja permitido, conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer, o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós. E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto o que vos interesse para viver. Tudo é possível, ainda quando lutemos, como devemos lutar, por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, ou mais que qualquer delas uma fiel dedicação à honra de estar vivo. Um dia sabereis que mais que a humanidade não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu semelhante no que ele tinha de único, de insólito, de livre, de diferente, e foram sacrificados, torturados, espancados, e entregues hipocritamente â secular justiça, para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.» Por serem fiéis a um deus, a um pensamento, a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas à fome irrespondível que lhes roía as entranhas, foram estripados, esfolados, queimados, gaseados, e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido, ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória. Às vezes, por serem de uma raça, outras por serem de uma classe, expiaram todos os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência de haver cometido. Mas também aconteceu e acontece que não foram mortos. Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer, aniquilando mansamente, delicadamente, por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus. Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror, foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha há mais de um século e que por violenta e injusta ofendeu o coração de um pintor chamado Goya, que tinha um coração muito grande, cheio de fúria e de amor. Mas isto nada é, meus filhos. Apenas um episódio, um episódio breve, nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis) de ferro e de suor e sangue e algum sémen a caminho do mundo que vos sonho. Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de té-1a. É isto o que mais importa - essa alegria. Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto não é senão essa alegria que vem de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém está menos vivo ou sofre ou morre para que um só de vós resista um pouco mais à morte que é de todos e virá. Que tudo isto sabereis serenamente, sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição, e sobretudo sem desapego ou indiferença, ardentemente espero. Tanto sangue, tanta dor, tanta angústia, um dia - mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga - não hão-de ser em vão. Confesso que multas vezes, pensando no horror de tantos séculos de opressão e crueldade, hesito por momentos e uma amargura me submerge inconsolável. Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam, quem ressuscita esses milhões, quem restitui não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado? Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes aquele instante que não viveram, aquele objecto que não fruíram, aquele gesto de amor, que fariam «amanhã». E, por isso, o mesmo mundo que criemos nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa que não é nossa, que nos é cedida para a guardarmos respeitosamente em memória do sangue que nos corre nas veias, da nossa carne que foi outra, do amor que outros não amaram porque lho roubaram. Lisboa, 25 de Junho de 1959 (Jorge de Sena) RETRATOS DO TRABALHO NO PORTO, PORTUGAL
Calceteiros na Praça da Liberdade, no Porto. (Álvaro Mendonça) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (24 de Abril de 2006) __________________________ Por mim, os jornais em papel não perdem nas vendas. Leio-os em linha e dias depois em papel. A experiência de ler em papel é muito diferente de ler em linha e, às vezes, perde-se muito ao não se poder "ver". Mas há outro aspecto interessante, que é o perceber como os jornais suportam a prova do tempo, mesmo que seja a de alguns dias. É um exercício muito útil e pedagógico. Acabei agora de ler a Visão com vários dias de atraso. Duas coisas interessantes: a caricatura do "Puro veneno" com um Bush a rasgar e a comer um tapete persa. A legenda é que é interessante: "Não suporta nada que tenha a ver com o Irão!" diz uma voz off. No entender do caricaturista seria interessante saber o que é que hoje é "suportável" no Irão. A outra é uma explicação de Freitas do Amaral sobre a sua ida ao Canadá que foi ignorada pela imprensa, certamente porque o assunto já não está na agenda mediática. Independentemente de se concordar ou não com o MNE, uma coisa tem que se elogiar: Freitas do Amaral desce muitas vezes da sua posição ministerial para se explicar, o que é um mérito. * A. S. Byatt sobre Everyman, o novo Philip Roth: "Roth's characters inhabit a truly post-religious world, in which we do not have immortal souls, only sick, lively desire, and the dying of the animal. The title of this new, bleak tale is taken from a mediaeval morality play in which Everyman, the human soul, is called by Death to appear before God's judgement seat. He is deserted by his strength, discretion, beauty, knowledge and five wits, leaving only his Good Works to speak for him at the end." EARLY MORNING BLOGS 765 Icebergs Icebergs, sans garde-fou, sans ceinture, où de vieux cormorans abattus et les âmes des matelots morts récemment viennent s'accouder aux nuits enchanteresses de l`hyperboréal. Icebergs, Icebergs, cathédrales sans religion de l'hiver éternel, enrobés dans la calotte glaciaire de la planète Terre. Combien hauts, combien purs sont tes bords enfantés par le froid. Icebergs, Icebergs, dos du Nord-Atlantique, augustes Bouddhas gelés sur des mers incontemplées. Phares scintillants de la Mort sans issue, le cri éperdu du silence dure des siècles. Icebergs, Icebergs, Solitaires sans besoin, des pays bouchés, distants, et libres de vermine. Parents des îles, parents des sources, comme je vous vois, comme vous m'êtes familiers... (Henri Michaux) * Bom dia! 23.4.06
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SUSTO E PAVOR Na habitual linha editorial das nossas TVs de sinal aberto que estão mais ao nível das "trash TVs" de 3º mundo, arrepia até pensar no que virá por aí em Junho 2006 com o inicio do mundial de futebol na Alemanha. O horário nobre será tomado de assalto pela barbárie da futebolândia com reportagens no inicio, no meio e no fim dos telejornais cá do burgo com noticias tão relevantes como a lesão do avançado, o cartão amarelo ou a cor do underware da selecção portuguesa... É assim a nossa pequenês, a nossa cultura saloia, a nossa procissão mediática profano - religiosa em que pululam expressões com o "sobretudo de Mourinho", "o regresso de Mantorras" ou "as escolhas de Felipão" que fazem as primeiras páginas até de jornais ditos de referência... Portugal é o paradigma de pequena pátria ansiosa por heróis perenes que nada acrescentam de concreto ao verdadeiro desenvolvimento do país... Portugal é uma pátria exacerbada, uma espécie de "bonfire of vanities" à espera que heróis virtuais façam grandes milagres...e o pior ? O pior, é que até as designadas elites que nos governam e desgovernam alinham no esquema... (António Ruivo) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (23 de Abril de 2006) __________________________ Num pilar de acesso à Ponte 25 de Abril: "Dr. Salazar"? Se fosse só "Salazar" percebia-se, o "Dr." é que é todo um programa em duas letras. Salazar era Professor, "Prof.", mais do que apenas "Dr.", mas na altura bastavam as duas letras para enunciar a distinção. O autor da inscrição sente essa distinção tanto quanto a quer transmitir com a simplicidade de um nome que diz tudo. É uma pichagem ingénua e por isso eficaz. Mas não há diferença nenhuma entre este "Dr." e o "camarada" das pichagens sobre o "camarada Gonzalo". * (...) tanto quanto sei (e pouco mais sei que isso), "Dr. Salazar" é o nome de uma banda que, aliás, chegou a actuar na Festa do Avante, há uns anos atrás. Essa inscrição está em inúmeros outros sítios. Parece-me que estes factos alteram o príncipio (uma inscrição isolada, num local específico) de que parte para o seu raciocínio e interpretação. "Ouvido" no Overheard in New York Does Psycho Killer Start with P? EARLY MORNING BLOGS 764 La Génisse, la Chèvre, et la Brebis, en société avec le Lion La Génisse, la Chèvre, et leur soeur la Brebis, Avec un fier Lion, seigneur du voisinage, Firent société, dit-on, au temps jadis, Et mirent en commun le gain et le dommage. Dans les lacs de la Chèvre un Cerf se trouva pris. Vers ses associés aussitôt elle envoie. Eux venus, le Lion par ses ongles compta, Et dit : "Nous sommes quatre à partager la proie. " Puis en autant de parts le Cerf il dépeça ; Prit pour lui la première en qualité de Sire : "Elle doit être à moi, dit-il ; et la raison, C'est que je m'appelle Lion : A cela l'on n'a rien à dire. La seconde, par droit, me doit échoir encor : Ce droit, vous le savez, c'est le droit du plus fort Comme le plus vaillant, je prétends la troisième. Si quelqu'une de vous touche à la quatrième, Je l'étranglerai tout d'abord. " (La Fontaine) * Bom dia! 22.4.06
VER A NOITE
Agora mesmo, numa terra sem luz pública, imersa numa escuridão quase total. * Outra mudança, mais subtil, a da geografia interior da casa. Sem a luz que entra de fora, da lua (que não há), dos candeeiros, que estão apagados, os contornos da casa perdem-se por dentro. As janelas abrem-se para um escuro que fecha a casa em si mesma. É difícil atravessá-la sem abrir todas as luzes, falta um reflexo de uma clarabóia, um traço amarelo que vem da rua, um rastro de néon ou de magnésio, mesmo de longe, do mundo exterior. COISAS DA SÁBADO: OS TELEJORNAIS DOENTES COM TANTA DOENÇA Hoje não há telejornal sem doenças. Ou são congressos sobre doenças, com reportagens sobre os doentes, ou são campanhas contra esta ou aquela doença, mais reportagens sobre os doentes; ou são casos raros, abstrusos, excepcionais, sobre uma doença que ataca meia dúzia de pessoas, mais reportagens sobre os doentes da rara doença. Não é possível chegar ao fim do longo tempo de noticiário sem a dança intercalada entre o futebol e as doenças. Nos períodos de “operações” da GNR para controlar o trânsito das pontes, miniférias idas e vindas de feriados e férias pequenas, médias e grandes, como se sabe uma actividade constante entre os portugueses, temos o menu intercalado entre futebol, doenças, acidentes e filas de trânsito. Infeliz país o nosso, que só tem doenças. Feliz país o nosso, em que não há notícias. COISAS DA SÁBADO: O FINANCIAMENTO DO HAMAS O Hamas ganhou as eleições no território da Autoridade Palestiniana. Muito bem. Ganhando as eleições deve constituir governo. Muito bem. Um dos erros trágicos da diplomacia ocidental, que se pagou com uma guerra civil foi apoiar o golpe de estado contra a FIS na Argélia, impedindo-a de chegar ao governo. O Hamas não quer mudar duas das suas posições centrais – o não reconhecimento da existência de Israel e o apelo à violência bombista contra os israelitas. Muito bem, embora aqui seja muito mal. O Hamas coloca-se assim fora do “processo de paz” tal como ele existia, mesmo que fragilmente. Muito bem, está no direito de o fazer. O que não pode, nem ele, nem os seus “compreensivos” amigos na esquerda ocidental, é querer que Israel, os EUA e a União Europeia continuem a financiar o governo palestiniano do Hamas, financiamento que era um contrapartida para a aceitação do “processo de paz”. ARQUIVO: OUTRAS MÚSICAS
Velhos discos de 45 RPM, directa ou indirectamente relacionados com a vida política. RETRATOS DO TRABALHO EM SANTIAGO DE COMPOSTELA, ESPANHA
Abastecimento matinal (08H00 da manhã, 07H00 na república portuguesa). (José Pedro Oliveira S.) EARLY MORNING BLOGS 763 Today and Two Thousand Years from Now The job is over. We stand under the trees waiting to be told what to do, but the job is over. The darkness pours between the branches above, but the moon's not yet on its walk through the night sky trailed by stars. Suddenly a match flares, I see there are only us two, you and me, alone together in the great room of the night world, two laborers with nothing to do, so I lean to the little flame and light my Lucky and thank you, comrade, and again we are in the dark. Let me now predict the future. Two thousand years from now we two will be older, wiser, having escaped the fleeting incarnations of workingmen. We will have risen from the earth of southern Michigan through the tangled roots of Chinese elms or ancient rosebushes to take the tainted air into our leaves and send it back, purified, down the same trail we took to escape the dark. Two thousand years passed in a flash to shed no more light than a wooden match gave under the trees when you and I were lost kids, more scared than now, but warm, useless, with names and different faces. (Philip Levine) * Bom dia! 21.4.06
RETRATOS DO TRABALHO EM SORGAÇOSA, SERRA DO AÇOR - ARGANIL, PORTUGAL
Carregando um tronco de pinheiro para fazer cavacas destinadas à fogueira. (António Lopes Pedro)
INTENDÊNCIA
Actualizadas as notas NUNCA É TARDE PARA APRENDER: "A ILHA HERÓICA" (MALTA STORY) e A FAUNA DAS CAIXAS DOS COMENTÁRIOS. LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (21 de Abril de 2006) __________________________ Nós temos o nacionalismo típico dos pobrezinhos: o astronauta brasileiro foi quase sempre designado no Telejornal das 12 horas da RTP1 como "lusófono", e o ter-se falado português no espaço como o evento principal da viagem. Como se Portugal tivesse algum mérito, algum papel, na ida para o espaço do nosso estimado brasileiro. * Ao ler o seu post lembrei-me que no passado já tinha sentido o mesmo, nas últimas eleições americanas com a senhora Teresa Heinz Kerry e a possiblidade da primeira dama americana falar português. * Dilemas dos académicos na televisão: sound bites ou argumentos? * Sartre e Beauvoir, o casal insuportável, começa a ter boa imprensa. Não há nada que, deixando passar o tempo e as fúrias, não tenha boa imprensa. Ele dizia " Je suis écrivain, j'ai besoin d'amours contingentes !", ela era menorizada como La Grande Sartreuse. Agora um telefilme Amants du Flore retoma a história do casal e Assouline conclui: "Mais des deux, le génie, c'est elle. Rien dans l'oeuvre de Sartre n'arrivera à la capacité d'influence et de bouleversement des mentalités du Deuxième sexe. Sur la durée et dans la profondeur, c'est Beauvoir qui restera -et qui reste déjà, n'en déplaise à la secte des gardiens du temple sartrien, qui d'ordinaire assimile la moindre réserve à une insulte." * Algumas perguntas e afirmações certeiras de João Adelino Faria no Diário de Notícias: "Há quanto tempo não damos notícias? Há quanto tempo nós, jornalistas, corremos quase obsessivamente, todos os dias, para escutar mais uma reacção sobre uma declaração feita por um ministro, político, advogado, juiz ou procurador? (...) Porque andamos todos atrás uns dos outros? Um jornal avança com um tema, a rádio segue, a televisão completa, ou vice- -versa - a ordem pouco importa. É uma tarefa quase inglória descobrir algo diferente nos jornais, na rádio e na televisão. Estamos todos quase sempre à volta do mesmo.(...)
EARLY MORNING BLOGS 762
International Incidents 1. Wang Ping asks if we went to a seder last night She did, in Minneapolis No, I say, we’re not observant as though we constantly overlook details 2. The teachers in the lounge crowd around the Swedish visitor You must be very proud one of them beams to be Swedish She has no idea what that means She says, I don’t dislike being Swedish 3. Who’s ever met a Bulgarian? he would shout in the bar Then one night two homely blond sisters smiled and said We are Bulgarians! They smiled for two weeks then went away forever (Robert Hershon) * Bom dia! 20.4.06
RETRATOS DO TRABALHO EM CORUCHE, PORTUGAL
Lavrando, Coruche, Vale do Sorraia, Abril 2006. (António Ferreira de Sousa) A FAUNA DAS CAIXAS DOS COMENTÁRIOS A Rede está a mudar tudo, a criar coisas novas, a realizar outras muito antigas que as tecnologias até agora existentes ainda não permitiam e a dar eficácia a velhos, e muitas vezes maus, hábitos que existiam no mundo exterior e agora passam para o mundo interior da Internet. Alguns casos recentes voltaram de novo a mostrar a Internet sob uma luz pouco amável, bem preconceituosa aliás, porque nada do que lá se faz se deixou de fazer cá fora. O que há é um upgrade tecnológico no crime, que a Rede melhora e nalguns casos favorece pela sua acessibilidade e universalidade. São estes os múltiplos exemplos da chamada “fraude nigeriana”, ou os casos de Phishing que leva os incautos a fornecerem palavras-passe de acesso a contas bancárias; os casos de “cyberstalkers”, pessoas que perseguem outras cujo nome e morada aparece na Internet. Isto tudo depois da pedofilia, e de outras utilizações criminosas da Rede. O que é novo na Rede, quer na “normal” quer na criminosa, são as características psicológicas especificas do mundo em linha, em especial a exploração da fronteira, mais ténue do que parece, entre a realidade e a virtualidade. E isso traz elementos novos como se vê se analisarmos para além do crime em si. Um caso actual é o do assassinato de uma menina de 10 anos, por um autor do blogue chamado “Strange Things are Afoot at the Circle K.” , que tinha feito pouco antes um comentário sobre canibalismo, O que há de novo neste caso e no interesse mediático sobre ele, é que em vez de um diário em papel, ou escritos mais ou menos dementes ou geniais, como era o caso pré-Internet do Unabomber, agora, quase de imediato, todos se voltam para o blogue, para o perfil do blogue, para o rastro na Rede do putativo criminoso. A Rede fica indissociável da nova identidade das coisas, como se entre o mundo virtual e o real a teia fosse completa. E, se calhar, é. Mas não é este apenas o único aspecto interessante, há outro para que não se tem chamado a atenção: o mundo muito próprio dos que escrevem sobre textos alheios nas caixas de comentários dos blogues ou de órgãos de comunicação em linha. O Strange Things are Afoot at the Circle K. continua em linha e tem, à data em que escrevo, 644 comentários na última nota escrita pelo seu autor, todos eles posteriores ao conhecimento do crime. O blogue continua vivo mesmo depois da prisão do seu autor. Mas os 644 comentários empalidecem face aos portugueses 1321 comentários do Semiramis cuja anónima autora teria morrido de morte súbita, suscitando as mais contraditórias versões na própria caixa de comentários do blogue. Deixando de parte a polémica sobre as caixas de comentários abertas ou moderadas, ou sobre a sua própria utilidade e valor, deixando de lado também a história pessoal inverificável do que aconteceu à sua autora (ou autor?) anónimo, o interessante é registar que o que há nesse blogue é uma comunidade que aproveita o “lugar” para se encontrar. A caixa de comentários tornou-se numa espécie de chat, que parasita a notoriedade do blogue, como já acontecera no Espectro com os seus finais 494 comentários, onde as pessoas se encontram numa pequeníssima “aldeia global”, que tomam como sua. O comportamento destas pessoas-em-linha é compulsivo, eles “habitam” nas caixas de comentários que são a sua casa. Deslocam-se de caixa para caixa de comentário, deixando centenas de frases, nos sítios mais díspares, revelando nalguns casos uma disponibilidade quase total para comentar, contra-comentar, atacar, responder, mantendo séries enormes que obedecem à regra de muitos frequentadores desta área da Rede: horário laboral na maioria dos casos, quebra no fim-de-semana e nos feriados. São pessoas que estão a escrever do seu local de trabalho ou de estudo, de empresas ou de escolas, onde tem acesso à Internet. Há no entanto, alguns casos de comentadores caseiros e noctívagos, que só podem estar a escrever noite dentro, como era o caso nos primeiros anos da blogosfera portuguesa, antes de se democratizar. É um fenómeno aparentado com muitas outras experiências comunitárias na Rede, mas está longe de ser o mundo adolescente dos frequentadores do MySpace ou dos “salas” de conversa virtual. No caso português, os comentadores não parecem ser muitos, embora a profusão de pseudónimos e nick names, dê uma imagem de multiplicidade. São, na sua esmagadora maioria, anónimos, mas o sistema de nick names permite o reconhecimento mútuo de blogue para blogue. Estão a meio caminho entre um nome que não desejam revelar e uma identidade pela qual desejam ser identificados. Querem e não querem ser reconhecidos. É o caso da “Zazie”, do “Euroliberal”, do “Sniper”, do “Piscoiso”, “Maloud”, “Bajoulo” “Xatoo”, “Atento”, Dasanta”, “José”, “e-konoklasta”, “Cris”, “Sabine”, “José Sarney”, “anti-comuna”, etc,, etc, Trocam entre si sinais de reconhecimento, cumprimentam-se, desejam-se boas férias, e formam mini-comunidades que duram o tempo de uma caixa de comentários aberta e activa, o que normalmente dura pouco. Depois migram para outra, sempre numa tempestade de frases, expressando acordos e desacordos, simpatias e antipatias, quase sempre centrados na actividade de dizer mal de tudo e de todos. Imaginam-se como uma espécie de proletariado da Rede, garantes da total liberdade de expressão, igualitários absolutos, que consideram que as suas opiniões representam o “povo”, os “que não tem voz” os deserdados da opinião, oprimidos pelos conhecidos, pelos célebres, pelos “sempre os mesmos”. São eles que dizem as “verdades”. Mas não há só o reflexo do populismo e da sua visão invejosa e mesquinha da sociedade e do poder, há também uma procura de atenção, uma pulsão psicológica para existir que se revela na parasitação dos blogues alheios. Muitos destes comentadores têm blogues próprios completamente desconhecidos, que tentam publicitar, e encontram nas caixas de comentários dos blogues mais conhecidos uma plataforma que lhes dá uma audiência que não conseguem ter. Não são bem “Trolls”, sabotadores intencionais, mas tem muitas das suas formas perturbadoras de comportamento. A sua chegada significa quase sempre uma profusão de comentários insultuosos e ofensivos que afastam da discussão todos os que ingenuamente pensam que a podem ter numa caixa de comentários aberta e sem moderação. Quando há um embrião de discussão, rapidamente morto pela chegada dos comentadores compulsivos, ela é quase sempre rudimentar, a preto e branco, fortemente personalizada e moralista: de um lado, os bons, os honestos, os dignos, do outra a ralé moral, os ladrões, os preguiçosos que vivem do trabalho alheio, e dos impostos dos comentadores compulsivos presume-se. O que lá se passa é o Far West da Rede: insultos, ataques pessoais, insinuações, injúrias, boatos, citações falsas e truncadas, denúncias, tudo constitui um caldo cultural que, em si , não é novo, porque assenta na tradição nacional de maledicência, tinha e tem assento nas mesas de café, mas a que a Rede dá a impunidade do anonimato e uma dimensão e amplificação universal. O que é que gera esta gente, em que mundo perverso, ácido, infeliz, ressentido, vivem? O mesmo que alimenta a enorme inveja social em que assentam as nossas sociedades desiguais (por todo o lado existe este tipo de comentadores), agravada pela escassez particular da nossa. Essa escassez não é principalmente material, embora também seja o resultado de muitas expectativas frustradas de vida, mas é acima de tudo simbólica. Numa sociedade que produz uma pulsão para a mediatização de tudo, para a espectacularização da identidade, para os “quinze minutos de fama” e depois deixa no anonimato e na sombra os proletários da fama e da influência, os génios incompreendidos, os justiceiros anónimos, o “povo” das caixas de comentários, não é de admirar que se esteja em plena luta de classes. (No Público de hoje.) * Quanto ao assunto das caixas de comentários, há caixas e caixas. Como há sempre comentadores de todos os estilos e para todos os gostos, o resultado depende em grande parte da forma como é gerida (ou não) a aceitação de comentários. Veja por exemplo o bom caso d'A Baixa do Porto , em que a "caixa de comentários" _é_ a própria página principal do blog.
NUNCA É TARDE PARA APRENDER: "A ILHA HERÓICA" (MALTA STORY)
O filme foi feito em 1953 já o esquecimento e outras preocupações começavam a apagar a memória da epopeia maltesa durante a segunda guerra mundial. Basta olhar para um mapa para se perceber como Malta estava no pior sítio do mundo (para os seus defensores, para os malteses e para os italianos e alemães) e no melhor sítio do mundo (para os bombardeiros alemães, e para os ingleses que queriam cortar as rotas de abastecimento de Rommel). Isolada praticamente em território inimigo, Malta tinha que ser reabastecida com enormes dificuldades por submarinos e por comboios, que atravessavam uma das zonas mais perigosas de toda a guerra: aviões alemães, navios italianos e um emaranhado de campos de minas que protegiam a ilha, e cujas estreitas vias de acesso não permitiam qualquer erro. O filme retrata o momento crucial em que o abastecimento de mantimentos e gasolina para os aviões estava quase no fim, e foi preciso romper o bloqueio com muita dificuldade. O "herói" é um piloto de reconhecimento, representado por Alec Guinness, numa das mais aborrecidas e petrificadas actuações que jamais vi dele: o sorriso é o mesmo quer esteja no seu Spitfire, a namorar a maltesa, ou a beber na messe. Ele é arqueólogo (a quantidade de arqueólogos inglese que aparecem nesta guerra é abissal...), ela é irmã de um nacionalista maltês que se tornou espião italiano e é fuzilado. O romance, como as personagens, são moronic até ao limite. O que é interessante: a rara oportunidade de ouvir falar maltês, a Ave Maria em maltês; a cidade de Valleta, um posto fronteiriço único do Ocidente com toda a história turbulenta feita pedra, muralhas, subterrâneos, fortalezas, que aparece aqui em filmes verdadeiros dos bombardeamentos; e tudo o que são imagens reais da guerra. * A minha família é de origem maltesa. Os meus trisavós nasceram em La Valetta e como a família tinha negócios na Península Ibérica o meu bisavô e avô acabaram por se fixar por aqui, depois de terem vivido em Espanha (onde o meu pai nasceu) e do meu avô ter casado com uma francesa do sul, de Cassis. No século XVII, aliás, os meus antepassados Francesco e Nicola Cília foram os "senhores" do feudo (fief) de Budaq. Daqui a minha curiosidade e interesse sempre que aparecem referências a Malta, o que é raro apesar de ser um Estado-Membro da UE. Existem mais famílias de origem maltesa em Portugal (Zammit, por exemplo, ligados, salvo erro, ao Vinho do Porto) e é sempre fácil, pelo menos para nós, identificá-los pelos apelidos onde quer que estejam. Também Teresa Heinz-Kerry é uma portuguesa de origem maltesa, por parte da mãe. Não falo Maltês, mas sei, por exemplo, que é a única língua de origem semita da UE e a também a única que se escreve com alfabeto latino. Penso que a língua é de origem árabe, embora, hoje em dia, tenha adoptado muitas palavras inglesas (Malta foi colónia inglesa até aos anos 60) e italianas. De acrescentar que a George Cross incluída na bandeira de Malta foi-lhe atribuída pela coragem e bravura demonstradas pelo seu povo durante a II Guerra Mundial. LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (20 de Abril de 2006) __________________________ Uma nuvem em todo o seu esplendor no Astronomy Picture of the Day. * Uma cadeira de design italiano com livros para quem não gosta de livros, vista no Gizmodo. Nesta cadeira quem lê onde é que coloca os braços? Em cima dos livros estragando-os? E como estante é pequena. Como escultura? Talvez, mas que livros coloca o bibliófilo para se perderem como decoração? Os repetidos.* Que mundo se vê por um buraco de uma agulha? Processos e imagens da fotografia estenopeica, vulgo pinhole.. * Com um grafismo melhorado a apoiar um comentário sério e calmo, o Bloguitica continua a detectar o spin. Escapou-lhe um bom exemplo de "notícia" que todos os ministros desejam e alguns não conseguem ter: as três páginas do Diário de Notícias, de terça-feira, 18 de Abril, incluindo a capa e toda a parte nobre do jornal, sobre o "passaporte electrónico" a emitir a partir de Setembro.
EARLY MORNING BLOGS 761
How Much of That Is Left in Me? Yearning inside the rejoicing. The heart's famine within the spirit's joy. Waking up happy and practicing discontent. Seeing the poverty in the perfection, but still hungering for its strictness. Thinking of a Greek farmer in the orchard, the white almond blossoms falling and falling on him as he struggled with his wooden plow. I remember the stark and precious winters in Paris. Just after the war when everyone was poor and cold. I walked hungry through the vacant streets at night with the snow falling wordlessly in the dark like petals on the last of the nineteenth century. Substantiality seemed so near in the grand empty boulevards, while the famous bronze bells told of time. Stripping everything down until being was visible. The ancient buildings and the Seine, small stone bridges and regal fountains flourishing in the emptiness. What fine provender in the want. What freshness in me amid the loneliness. (Jack Gilbert) * Bom dia! 19.4.06
INTENDÊNCIA
Actualizadas as notas MISÉRIA HUMANA e TERRAS DE PORTUGAL ONDE NÃO HÁ ESTADO: RIBEIRA DOS MILAGRES (LEIRIA). RETRATOS DO TRABALHO EM ALFÂNDEGA DA FÉ, PORTUGAL
Apanhando giesta. (Lourdes Sendas) RETRATOS DO TRABALHO EM SAKHALIN, FEDERAÇÃO RUSSA Montagem de "pipeline" em Sakhalin, Rússia, onde trabalha pelo menos um português, de Águeda, chamado Renato da Costa (autor da fotografia), que é "Spread Superintendent" do projecto de "pipeline" mais caro até hoje. Quando esta imagem foi feita estavam 30 graus negativos, condições difíceis, mas nem por isso o trabalho pára. (Ângelo E. Ferreira) 18.4.06
RETRATOS DO TRABALHO NA FONTE DA TELHA, PORTUGAL
Recolha das redes. (João Caetano Dias) MISÉRIA HUMANA Poucas coisas revelam melhor a miséria humana, em todos os sentidos, do que a exploração da morte trágica de um actor de telenovela pela TVI. Está a transmitir o funeral em directo, como um grande acontecimento nacional, com comentários a preceito, explorada a morte até à obscenidade. Com a colaboração do "bom povo português". * No seu breve comentário acerca da morte de um actor de uma telenovela da TVI, considerou a exploração daquela como reveladora da miséria humana. O que a mim me parece é que «exploração» e «miséria» não são os dois conceitos mais apropriados para avaliar a decisão da TVI, se a avaliação e a análise desta decisão se basear nos pressupostos teóricos do liberalismo. São dois conceitos que remetem mais depressa para uma análise marxista, que vê neles uma expressão da alienação dos homens. TERRAS DE PORTUGAL ONDE NÃO HÁ ESTADO: RIBEIRA DOS MILAGRES (LEIRIA) Pela enésima vez, uma descarga de suinicultura, empestou a Ribeira dos Milagres. Está à vista de todos, foi lá a GNR cobrir a ocorrência, e as televisões filmaram a porcaria da Ribeira. Talvez se o cheiro se filmasse, e o odor muito peculiar, ácido, intenso, que se cola a tudo, entrasse pelas casas dentro, o Estado fizesse o favor de chegar à Ribeira dos Milagres. Mais uma vez todas as autoridades, que mais uma vez nada de consequente vão fazer, devem estar a cruzar os dedos, esperar que a notícia, de tão repetida, caia no esquecimento, para tudo continuar na mesma neste Portugal que não vem em nenhuma "estratégia de Lisboa", nem em nenhum Plano Tecnológico. * Porque nada mais resulta, e não me sinto tecnicamente habilitada para falar aprofundadamente de assuntos tecnológicos, eu sugeria que lhe mudassem o nome. À Ribeira dos Milagres. Pode ser que assim se consiga alguma coisa! Parece estar a funcionar com a incineração, que agora se chama co-incineração, não é? Além disso, neste país certos nomes atraem a desgraça, como aqui há tempos aconteceu com a povoação de Nossa Senhora de Fátima, para onde esteve prevista uma incineradora, durante o governo PSD/PP. Quanto à tal ribeira: não sou técnica, mas não me parece nada impossível (nem milagroso) resolver o problema desses resíduos, em primeiro lugar comendo menos carne de porco (até faz bem), e em segundo lugar fazendo a compostagem e digestão anaeróbia. E disse-o eu própria certa vez, já lá vão uns anitos, aos microfones da Antena 1. Pelos vistos, esse gesto meu não foi tão «milagroso» como se pela minha voz tivesse falado uma couve (embora me pareça hoje, a julgar pelos resultados, que fiz de facto tal figura...) RETRATOS DO TRABALHO EM ESTRASBURGO, FRANÇA
Polícia bloqueia uma rua, 15 de Abril de 2006. (Daniel Rodrigues) EARLY MORNING BLOGS 760 En l'honneur d'un Sage solitaire Moi l'Empereur je suis venu. Je salue le Sage qui, soixante-dix années, a retourné et labouré nos Mutations anciennes et levé des savoirs nouveaux.
J'attends du Vieux Père la leçon : et d'abord, s'il a trouvé la Panacée des Immortels ? Comment on prend place au milieu des génies ? o Le Sage dit : Faire monter au Ciel le Prince que voici serait un malheur pour l'Empire terrestre. o Moi l'Empereur interroge le Solitaire : a-t-il reçu dans sa caverne la visite des trente-six mille Esprits ou seulement de quelques-uns de ces Très-Hauts ? o Moi le Solitaire n'aime pas les visiteurs importuns. o Moi l'Empereur implore enfin le Sage le pouvoir d'être utile aux hommes : quelque chose pour le bien des hommes ! o Le Sage dit : Étant sage, je ne me suis jamais occupé des hommes. (Victor Segalen) * Bom dia! 17.4.06
Nunca vi falar inglês assim numa série de televisão americana. Novas palavras que nem sequer sabia que existiam: "faro", um jogo de cartas popular no século XIX; "heathen", os infiéis, usado para os Sioux e os chineses; e muitas mais. O calão, pelo contrário, permanece reconhecível, ontem como hoje, a julgar pelo seu uso homérico pelas personagens "de baixo", jogadores, prostitutas, rufias, prospectores de ouro, a rua de Deadwood e o comércio pioneiro que pratica a acumulação primitiva, ou seja, o roubo. Quando o roubo se torna em propriedade inicia-se a civilização. RETRATOS DO TRABALHO NA REGIÃO DE ANTALYA NA TURQUIA Montanhas no sul da Turquia, a poucos quilómetros do Mediterrâneo e de Antalya. Mostra mulheres, a fazer pães , enchidos com queijo, manteiga ou espinafres.
(João Mourão) COISAS DA SÁBADO : A RAPOSETA, PINTALEGRETA, SENHORA DE MUITA TRETA Há vários dias que o retrato verbal magnífico que Aquilino fez da sua raposa me vinha à mente quando observava as sucessivas habilidades com que o nosso Primeiro-ministro nos mantém distraídos e muito mais complacentes com a governação do que o que devíamos estar. Ali havia raposeta “senhora de muita treta” e nós levados pela “treta”, diminuíamos o sentido crítico e a vigilância face aos actos do governo. Mea culpa faço também eu. Comentando as medidas para equilibrar o orçamento, os sucessivos anúncios de investimentos estrangeiros, os planos tecnológicos e outros, o PRACE, o SIMPLEX e outros que todas as semanas nos anunciam, fui pelas intenções. A imediaticidade do comentário tem este defeito, quando se volta aos documentos, quando se conhecem os resultados, a concretização efectiva das medidas, as que ficaram pelo caminho, vê-se melhor a dimensão da propaganda. As intenções são as melhores do mundo, as medidas propagandeadas parecem reformas e, como suscitam as devidas reacções corporativas e são feitas num clima de depressão económica, parecem a doer e doem pelo menos a uma parte dos portugueses, tendemos a pensar que desta vez é a sério. A habilidade do governo em integrar as suas medidas no programa do Outro – menos estado, melhor estado, desburocratização, prioridade ao controlo do défice, reforma da administração pública - merece a devida concordância do Outro, ou pelo menos, a sua aceitação incomodada. O problema é depois. Mas depois já o efeito de propaganda se verificou. Vai-se apenas à epiderme, como dizia Medina Carreira, ou vai-se mais ao fundo, à carne? E a resposta começa a ser cada vez mais: epiderme, epiderme, epiderme. Os números do défice previsto para este ano, de 6%, são o primeiro sinal muito sério que não só se está na epiderme, como ainda se está a engrossar a epiderme. De novo o princípio da raposeta, a “treta”, foi posto a funcionar para o governo se vangloriar daquilo que é um sinal muito preocupante do falhanço da sua política. Isto porque o número de 6%, superior aliás ao défice previsto do governo Lopes sem receitas extraordinárias, só parece razoável comparado com o exercício a que se prestou o Banco de Portugal, ao calcular um défice final fictício para o orçamento anterior. A falta de prudência do Banco de Portugal fornecendo um número tendencial à propaganda governamental, partindo do principio que Bagão Felix nada faria para controlar as contas públicas caso derrapassem dessa forma flagrante, serviu às mil maravilhas para que 6% parecesse um bom resultado num ano em que houve receitas fiscais consideráveis, e um aumento dos impostos excepcional. Mas não é, é péssimo. A raposeta continua no seu jogging, deslumbrado pela governação por actos e sessões de relações públicas, mas o reino animal é demasiado complicado para a “treta” esconder certas garras, e certos dentes. * O seu último comentário sobre a diferença entre a propaganda do governo e os resultados da governação parece-me muito pouco consistente. Qual é a surpresa pelo facto de o défice de 2005 ser de 6%? Não era isso que estava previsto no orçamento rectificativo? Pode-se criticar o orçamento rectificativo, mas apontar o seu cumprimento como exemplo de incumprimento das expectativas criadas não faz qualquer sentido. Uma vez que o governo - baseando-se no relatório Constâncio - justificou o aumento da despesa como decorrente do orçamento do governo PSD/CDS, seria preciso indicar exemplos concretos de despesas que o governo aumentou desnecessariamente. O gabinete de estudos do PSD poderia facilmente produzir um documento com este tipo de informação detalhada. LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (17 de Abril de 2006) __________________________ A rede que nos enreda: a história verdadeira do autor do blogue Strange Things are Afoot at the Circle K., acusado de ter morto uma criança de 10 anos e de se preparar para a comer, depois de ter escrito no seu blogue sobre canibalismo. O blogue continua em linha e recolhe comentários, cerca de quinhentos, o que não é muito pelos critérios portugueses com os seus cinco ou seis comentadores compulsivos por tudo quanto é caixa aberta. Outros traços de Kevin Ray Underwood na Rede foram apagados, por exemplo a sua lista de preferidos na Amazon, os seus comentários no MySpace. Kevin está preso, mas o blogue está solto. * A ler: "Páscoa" de Eduardo Pitta no Da Literatura. * Tempos modernos: "Os criadores de "South park" foram impedidos de desenvolver um episódio mostrando imagens do profeta Maomé. Em vez disso, o episódio mais recente da série mostrou Jesus Cristo defecando no presidente George W. Bush e na bandeira americana.(no Jornal de Notícias). RETRATOS DO TRABALHO EM TAVIRA, PORTUGAL
Reparação das redes. (João Caetano Dias) RETRATOS DO TRABALHO EM LAGOS, PORTUGAL Um trabalho típico do Algarve - fazer os bolinhos de amêndoa e gila, conhecidos por morgadinhos. Tirei esta foto numa fábrica que existe à saída de Lagos na direcção de Sagres, do lado esquerdo, na estrada 125. Fazem os morgadinhos, os D. Rodrigos, umas tortas de amêndoas fabulosas, etc. Podemos vê-los à venda nas grandes superfícies de Lisboa, mas também os podemos comprar lá directamente, que são muito melhores. (Acilina Caneco)
EARLY MORNING BLOGS 759
A Noiseless Patient Spider A noiseless patient spider, I marked where on a promontory it stood isolated, Marked how to explore the vacant vast surrounding, It launched forth filament, filament, filament, out of itself, Ever unreeling them, ever tirelessly speeding them. And you O my soul where you stand, Surrounded, detached, in measureless oceans of space, Ceaselessly musing, venturing, throwing, seeking the spheres to connect them, Till the bridge you will need be formed, till the ductile anchor hold, Till the gossamer thread you fling catch somwhere, O my soul. (Walt Whitman) * Bom dia! 16.4.06
LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (16 de Abril de 2006) __________________________ Ruas em tempo real: o "compasso"' na rua de S.João de Brito no Porto e em Braga. (Fotos de Gil Coelho) * Falta selectiva de memória ou duplicidade? É tão interessante ver artigos retrospectivos sobre as faltas dos deputados como o de hoje no Diário de Notícias e não encontrar nenhuma referência a uma questão ultra-polémica do passado, as multas aos deputados faltosos aplicadas no Grupo parlamentar do PSD. Talvez porque, nessa altura, toda a comunicação social era veementemente hostil a essas multas, tratando os deputados faltosos (fora da invocação de razões de consciência) como heróis contra a disciplina "autoritária" da bancada... Era Cavaco o Primeiro-ministro. Ah! como os tempos mudam! PS: outra asneira repetida é dizer que a falta de quorum nunca se deu no passado. Aconteceu várias vezes, aconteceu até haver votações a favor da oposição por falta de deputados da maioria. Tanta ligeireza jornalística não se admite.
EARLY MORNING BLOGS 758
O amor de Arthur Rimbaud o mestre do silêncio Nas montanhas onde moram as estrelas bosques que existem há mil anos de cabelos negros como o luar e a brisa da tarde quando entra branda entre as pétalas das flores que se inclinam sobre o morto que dorme e misteriosamente repete: «Sur l'onde calme et noire où dorment les étoiles Un chant mystérieux tombe des astres d'or» semi-saído da terra com um olho infinito aberto morto há um ano ao nascer da lua morto há um dia ao nascer da rosa morto há um sonho, morto há um gesto frente ao sopro das árvores da noite tocou o seio infante numa primavera e misteriosamente repete: «Ô pâle Ophélia! belle como la neige! Ciel! Amour! Liberté! Quel rêve, ô pauvre Folle!» transparente sobre a terra mole de lava de estrela sobre cabelos idênticos aos dos mortos desolados morto há mil anos repete: «La blanche Ophélia flotte comme un grand lys» o morto misteriosamente diz: «Il y a une horloge qui ne sonne pas» (António Maria Lisboa) * Bom dia! 15.4.06
NUNCA É TARDE PARA APRENDER: AMERICANOS, MERCADO NEGRO, GASOLINA, PARADAS MILITARES
Antony Beevor, Paris After the Liberation, 1944-1949 Nos primeiros meses após a libertação de Paris, ainda a guerra continuava, os soldados americanos eram os heróis. Eram divertidos, sem preconceitos, e tinham tudo o que faltava à cidade: gasolina, rações de combate, meias de nylon. Foi uma festa, como se sabe. Depois a coisa começou a azedar. Muitos soldados e oficiais americanos meteram-se no florescente mercado negro e alguns associaram-se a grupos criminosos que tornaram Paris uma cidade muito perigosa à noite. Era só uma questão de tempo até os ciúmes cumpriram a sua função e espicaçarem os jovens franceses contra os GIs, na partilha dos favores femininos. Por fim, chegou a política, fundindo a hostilidade de De Gaulle aos americanos, com a propaganda comunista anti-americana do início da guerra fria. Depois das meias de nylon, veio a gasolina: os americanos ( e neste caso também os ingleses) ficavam furiosos com a mania das paradas militares que De Gaulle repetia umas atrás das outras. Para colocar a França à força entre os vencedores da guerra, De Gaulle fazia desfilar a divisão Leclerc por tudo e por nada. Nas bancadas, onde estavam por obrigação diplomática, os americanos viam passar todo o seu material de guerra, tanques, fardamentos, armas, transportes, cedido aos franceses, gastando a preciosa gasolina que faltava, sem a mínima bandeira, insígnia, referência à proveniência de tudo. LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (15 de Abril de 2006) __________________________ Paredes das Caldas da Rainha:
COISAS DA SÁBADO: MEMÓRIA E RESPEITO O Primeiro-ministro José Sócrates visita a França por estes dias, numa viagem que coincide com a data do 9 de Abril que certamente não lhe dirá nada, nem a ele, nem aos seus assessores. Mas seria inconcebível um governante de qualquer país aliado, nas duas guerras mundiais do século XX, visitar a França no dia simbólico mais importante para honrar os seus mortos em combate, e não se dirigir a um dos gigantescos cemitérios que polvilham os antigos campos de batalha franceses. A 9 de Abril de 1918, na batalha conhecida como de La Lys, o Corpo Expedicionário Português foi massacrado pelos alemães, tendo sofrido quase 8000 baixas. Muitos dos que morreram estão sepultados em cemitérios militares na França, esquecidos dos portugueses. O Eng. Sócrates é um bom exemplo dessas gerações mais novas, sem memória e portanto sem respeito. * Talvez a razão porque se fala e escreve tão pouco sobre a participação portuguesa na frente europeia da I Grande Guerra se relacione com o desconforto que uma análise imparcial dessa participação causaria em muitos de nós. Relatos insuspeitos falam de casos de grande dignidade e até de heroísmo, mas falam também de militares ingleses a obrigarem - à chapada - oficiais e soldados portugueses a não fugirem sem deixarem para trás os seus feridos.
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A Palidez do Dia A palidez do dia é levemente dourada. O sol de inverno faz luzir como orvalho as curvas Dos troncos de ramos Secos. O frio leve treme. Desterrado da pátria antiqüíssima da minha Crença, consolado só por pensar nos deuses, Aqueço-me trêmulo A outro sol do que este. O sol que havia sobre o Parténon e a Acrópole O que alumiava os passos lentos e graves De Aristóteles falando. Mas Epicuro melhor Me fala, com a sua cariciosa voz terrestre Tendo para os deuses uma atitude também de deus, Sereno e vendo a vida À distância a que está. (Ricardo Reis) * Bom dia! 14.4.06
COISAS DA SÁBADO : FUTEBOLÂNDIA Num debate organizado pelo Clube dos Jornalistas na 2 com os correspondentes estrangeiros em Portugal, para comparação das agendas dos órgãos de comunicação social nacionais e internacionais, todos eles se referiram à perplexidade que lhes causa o papel absurdo que o futebol tem em Portugal. Seria impensável, dizia um deles, que as eleições para a direcção de um clube desportivo, abrissem um telejornal, e um caso como o do “apito dourado” dificilmente teria a politização que cá tem e a correspondente cobertura comunicacional. É mesmo impensável que no Reino Unido, tão apaixonado pelo futebol, existissem diários desportivos como em Portugal (não há nenhum, está em criação um). Numa semana em que, mais uma vez, Portugal foi a Futebolândia, com horas obsessivas diante dos ecrãs todos, com uma média de quatro telejornais a abrirem com cada jogo individual, antes e depois do jogo, não contando as inúmeras vezes em que o mesmo jogo volta no interior do mesmo noticiário. A Futebolândia é um dos melhores retratos do nosso subdesenvolvimento. * Concordo com o que diz acerca da importância do futebol em Portugal, mas por vezes essas coisas impensáveis acontecem noutros países. Talvez tenha passado despercebida em Portugal toda a polémica na Alemanha após a derrota por 4-1 frente à Itália, com vários deputados a exigir a presença do seleccionador Klinsmann perante uma comissão parlamentar, e a audiência tocante com Angela Merkel, que compreende a situação do treinador porque é parecida com a sua. RETRATOS DO TRABALHO EM TAVIRA, PORTUGAL
Salinas de Tavira. (João Caetano Dias)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: BUSINESS FREE ENVIRONMENT
Há 2 anos e meio ,uma paisagem verde foi devastada na zona do pinhal no distrito de Castelo Branco. Da casa onde passo alguns fins de semanas, e alguns dias de férias durante o ano, apenas via o verde e ouvia o vento por entre os pinheiros .Hoje só vejo gigantescas ventoinhas eólicas e um conjunto de serras carecas. As populações que vivem na povoação junto ao “parque eólico”, não conseguem descansar de tanto é o zumbido das pás das ditas ventoinhas. Felizmente disso não tenho de suportar…apenas uma paisagens lunar, desértica e escaldante alguns dias no ano. Da madeira não há já nada, reflorestação é mentira ( se calhar está á espera daqueles pacotes businessfreeenvironment, tão sui-generis, do estilo do nosso primeiro ministro , the one and only best dress socialist-capitalist lover…e destinados não aos proprietários…esses malandros absentistas…mas a algum senhor da pasta de papel..pois ).Desta ecologia ameaçada não se vê queixa. Portugal está a ficar careca …e sem tratamento. (...) Para que conste, e por ser verdade, o concelho é o de Proença-a-Nova , a povoação é a aldeia de Vale d´Urso. (António Carrilho)
BONS DIAS, GOOD MORNING, BONJOUR
Acabei de dar os bons dias e recebo um e-mail que dizia "bonjour" por parte do Administrateur Exécutif du Comité d'Attribution des Marchés et Contrats Corporation Nationale Pétrolière CI, da Costa do Marfim, um nome que é já todo um tratado de sociologia política: Bonjour,O resto todos sabem o que é. EARLY MORNING PICTURE
Sexta feira santa. (Gil Coelho)
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Permanently One day the Nouns were clustered in the street. An Adjective walked by, with her dark beauty. The Nouns were struck, moved, changed. The next day a Verb drove up, and created the Sentence. Each Sentence says one thing—for example, "Although it was a dark rainy day when the Adjective walked by, I shall remember the pure and sweet expression on her face until the day I perish from the green, effective earth." Or, "Will you please close the window, Andrew?" Or, for example, "Thank you, the pink pot of flowers on the window sill has changed color recently to a light yellow, due to the heat from the boiler factory which exists nearby." In the springtime the Sentences and the Nouns lay silently on the grass. A lonely Conjunction here and there would call, "And! But!" But the Adjective did not emerge. As the Adjective is lost in the sentence, So I am lost in your eyes, ears, nose, and throat— You have enchanted me with a single kiss Which can never be undone Until the destruction of language. (Kenneth Koch) * Bom dia, Nomes! 13.4.06
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A PÁSCOA NO PAÍS REAL Vou passar a Páscoa numa aldeia da Beira-Baixa que tem uma centena de habitantes com uma média de idades superior a 70 anos e onde o único computador existente é o meu portátil - e só quando lá estou. Telefones, há dois ou três; Internet, só existe em dois lugares, a meia-dúzia de quilómetros de lá (na vila), e nem sempre está a funcionar - e muito menos aos fins-de-semana. (Havia um Net-post nos CTT, mas foi retirado). As outras possibilidades (eventuais, pois não sei sequer se existem) são a 25 km, em Castelo Branco. E é num país assim que uns citadinos lunáticos querem que se pague o selo do carro só através da Internet - e outras coisas igualmente sem pés nem cabeça. (C. Medina Ribeiro) * A possibilidade do «selo do carro» poder vir a ser pago exclusivamente pela Internet motivou um coro de protestos e um sobressalto que atravessou o país de lés a lés. Porque muita gente não tem condições para ter Internet em casa, porque é um acto de liberdade prescindir da ligação à Internet mesmo que se tenham condições, porque um grande número de portugueses não sabe navegar no ciberespaço… Esta é quiçá uma argumentação válida, mas pouco reflectida, pois considero a medida positiva, com exequibilidade e pode significar um avanço civilizacional. Passo a explicar. RETRATOS DO TRABALHO EM LAGOS , PORTUGAL
Escolhendo o peixe na lota de Lagos (Agosto 2005). (José Fernandes Santos) POLÍTICAS PARA FAZER OPOSIÇÃO Deslocou-se o PS para o "centro", onde tradicionalmente habitava o PSD, ocupando um espaço político que o asfixia? Como se pode fazer oposição contra um governo que parece realizar com mais determinação as reformas que sempre foram defendidas pelo PSD? Não é possível, ou é difícil, tomar uma posição distinta, que demarque o PSD do PS? Todos os dias é possível encontrar este tipo de afirmações, que me levam a uma reacção do género: tretas, bullshit. Quisesse o PSD e todos os dias se perceberiam claras e distintas as diferenças, onde há diferenças. O problema, também tão claro e distinto, está no "quisesse". Exemplos? Não faltam, embora exijam coragem e nalguns casos rupturas com o passado, mais com as atitudes tomadas do que com posições programáticas. E não faltam exemplos, porque o PS pode andar na dança das cadeiras entre os lados da sala, mas verdadeiramente não se senta em nenhuma, a não ser naquela em que já está sentado, uma cadeira onde os pés são os impostos, e as costas e braços o Estado. O primeiro-ministro quer fazer dessa cadeira um móvel de design, inteligente e com luzes a brilhar, mas é mais deslumbramento do que substância. Vamos aos exemplos. Deixo de lado todo o terreno habitualmente mais debatido da configuração do Estado e do seu papel na economia. Não porque não seja decisivo, mas sim porque me parece aí evidente que o que falta à oposição é assumir uma política liberal consistente, menos presa à vulgata do liberalismo teórico e mais concentrada num esforço continuado para diminuir sempre o Estado onde ele não é preciso, encontrar sempre soluções do lado da sociedade, privilegiar a iniciativa da liberdade individual e não a da engenharia social. Aí, as distinções possíveis, não as que existem hoje, mas as que deveriam existir, são tão flagrantes que não vale a pena estar a arrombar portas abertas: o país precisa de mais liberdade e de mais liberalismo. Deixemos também de lado as chamadas "questões fracturantes" que, ou são folclore radical que chegou ao mainstream pela máquina destiladora do "politicamente correcto", ou então são matéria de consciência e de vida privada, em que o Estado não devia meter-se. É um sinal da degradação da nossa vida pública e do esvaziamento político dos principais partidos portugueses que essas "fracturas" tenham tido a dimensão que tiveram, se tornassem, e regularmente se tornem, questões centrais da agenda política. O máximo resultado que dão é produzirem mais legislação de engenharia social, que manterá a sociedade exactamente como estava antes. Exemplos de zonas de oposição? Comecemos por uma, tão crucial quanto ignorada e reprimida: a política externa, a visão global de uma política externa no mundo tal como é hoje. Defrontando questões como o Iraque, a Bósnia, as relações transatlânticas, a construção europeia (que ainda é uma questão de política externa), as relações com os PALOP, onde não existe hoje um corpo de pensamento, mas apenas continuidades que passam por ser "política de Estado", ou meras posições oscilantes ao sabor da decisão de outros. Um país que tem tropas na Bósnia, que participa nominalmente no esforço de reconstrução do Iraque, que alterou a sua Constituição para aprovar um Tratado Constitucional, que tem um problema simbólico de identidade com Espanha, que tem uma larga comunidade emigrante pelos cinco continentes, que partilha uma das línguas mais faladas no mundo, pensa muito pouco no que se está a passar à sua volta. Comecemos com Espanha. Não é preciso ir mais longe - Espanha está a mudar muito devido à crescente força das suas autonomias, que os entendimentos com a ETA vão fortalecer. O desenho político do Estado espanhol está muito mais fragmentado, e se é fácil aos portugueses encontrar uma Espanha unitária na economia, já é cada vez mais difícil encontrá-la na política externa, em que Zapatero causou perplexidades e estragos a um caminho de "grande potência" que Aznar seguia. Que implicações tudo isto tem para nós? Não estudamos, não conhecemos, não sabemos e por isso o "Espanha, Espanha, Espanha" do primeiro-ministro é tão vazio como o pragmatismo sem princípios que passeou por Angola. Em todas estas matérias não há hoje doutrina, mas uma sucessão de posições ao sabor da opinião pública. Passemos para a questão do terrorismo apocalíptico dos nossos dias, associado a todos os problemas confrontacionais de carácter cultural e civilizacional com o fundamentalismo muçulmano, envolvendo a questão israelo-palestiniana, a situação no Iraque, e, no limite, o fosso entre parte da União Europeia e os EUA. Aqui sei mais o que pensa o PS de Sócrates (que não é o mesmo do PS de Gama), do que sei o que pensa o PSD, porque este deixou degradar o seu pensamento com medo da impopularidade de algumas posições que nunca defendeu como devia - como seja a participação de Portugal na cimeira dos Açores. Mas também sei que em todas estas matérias se exige uma ideia estratégica. E a haver um esforço de clarificação, perceber-se-á como é fundamental alicerçar uma oposição à política externa socialista, que encontra em Freitas do Amaral um dos seus expoentes mais radicais. Que melhor terreno para os partidos de oposição para fazer oposição, onde ela faz falta, numa matéria como a política externa, onde a tradição de consenso é hoje em grande parte feita de ambiguidades? Querem outro exemplo de diferença numa área crucial para o futuro e qualidade da nossa democracia e do espaço público? A defesa da privatização total dos órgãos de comunicação social do Estado. Aqui o PSD já teve posições muito distintas, tendo já defendido na liderança de Marcelo Rebelo de Sousa essa privatização total, depois, com Barroso, recuou. O historial prático não é brilhante: enquanto governo foi tão estatista como o PS, controlou a comunicação social pública como o PS, mas tem a seu favor nesta área a privatização de uma parte da comunicação social pública e a abertura do espaço audiovisual ao sector privado. Há muitas razões de fundo para olhar para o sector da comunicação social pública de modo inteiramente distinto daquele que é habitual hoje. Há razões políticas, culturais, económicas e tecnológicas, para se fazer essa mudança, que é, aliás, inevitável por causa da revolução na produção, gestão e divulgação da informação e do entretenimento. Muitos outros exemplos de diferenças em que se podem alicerçar políticas de oposição necessárias apareceriam se olhássemos para o nosso país tal como ele é: um tecido desigual de muito arcaísmo e pouca modernidade, com tendência para que a modernidade seja moldada pelo arcaísmo, um misto de práticas subdesenvolvidas, com muito escassas "boas práticas", com pequeno enraizamento social. O Governo PS mostra pouca sensibilidade com esta realidade, deslumbrado que está pelo brilho tecnológico de receitas sem qualquer correspondência com a nossa realidade social. Aqui há uma verdadeira cornucópia de linhas de actuação alternativas: desde a afirmação crucial do papel da mentalidade empresarial, que para se gerar da escola para o trabalho, implicaria mudar, e muito, as velhas universidades e pôr em causa os seus poderes corporativos; até à formulação de uma nova política agrícola, que também se tornou terreno apenas de práticas de resistência ou de adaptação aos subsídios europeus e que precisa mais do que nunca de uma visão de conjunto. O mesmo se pode dizer da necessidade de, de uma vez por todas, mudar o centro da política de "cultura" estatal, baseada na subsidiação, a favor de uma distinção entre políticas patrimoniais e políticas de animação e educação, que ganham em ser realizadas por outro tipo de ministérios, como o da Economia e da Educação. O país está a entrar num novo desenvolvimentismo ecológico, ou seja a utilizar argumentos que eram clássicos dos grupos ecológicos, como seja a crítica às energias não renováveis, para criar áreas de negócios "verdes" que trazem consigo novos riscos e pressões ambientais que ninguém quer tratar como tal. É o caso da desaparição progressiva da paisagem natural com a instalação maciça de parques eólicos. Esta nova economia "ecológica" fará tantos estragos como a antiga se não se travar a corrida para o lucro predador que já está em curso, e não será do PS que virá essa preocupação. Depois, a agenda da economia, no sentido lato de "economia política", não é a dos jornais económicos, como pensam os yuppies socialistas e sociais-democratas. Falta nessa agenda muita coisa que não pode ser ignorada na acção política: o mundo do trabalho, o mundo das micro-empresas, a agricultura, o novo tecido social gerado pelas mudanças económicas, desde o impacte do desemprego nas expectativas de vida, as novas formas de conflitualidade social, até aos problemas gerados pela emigração, a que fechamos muitas vezes os olhos. Não faltam, como vimos, muitas áreas em que se sabe o que o PS, os seus Governo e primeiro-ministro pensam, fazem ou não fazem e até onde vão. Ora, toda uma outra visão de Portugal existe e faz diferença. Esse Portugal precisa de oposição, precisa de alternativas. É verdade que muitos dos exemplos que dei são polémicos na oposição, porque escapam ao terreno comum em que PS e PSD têm gerido, muitas vezes em continuidade, o Estado. Mas se não se quer mesmo morrer asfixiado e dar razão aos teóricos da ocupação do "espaço político" tem que se fazer uma revisão profunda em todas as áreas fundamentais da política. Uma revisão do que se fez, das posições tradicionais tidas no passado, e dos problemas do presente. Se tal for feito, ver-se-á como há mais razões, históricas, programáticas e ideológicas, para defender estas alternativas do que para andar a mexer por turnos o mesmo caldeirão. ( No Público.) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TEMPESTADES COIMBRÃS Para descentrar um pouco o debate, uma citação de Fernando Pessoa sobre "o provincianismo português": «Se, por um daqueles artifícios cómodos, pelos quais simplificamos a realidade com o fito de a compreender, quisermos resumir num sindroma o mal superior português, diremos que esse mal consiste no provincianismo. O facto é triste, mas não nos é peculiar. De igual doença enfermam muitos outros países, que se consideram civilizantes com orgulho e erro. O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela - em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz. O sindroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes: o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia.» Recomendo o texto completo. (João Filipe Queiró) * Viva (de novo uma reacção ao Abrupto, de Pacheco Pereira, que pelo menos veio até Coimbra, provavelmente não para ouvir o ministro do ambiente, de cuja vinda eu própria só soube hoje, depois do debate na Assembleia da República...), Susto e pavor, diz ele, a propósito das mulheres que em Coimbra viu! E talvez com alguma razão, mas não andarão elas um pouco por todo o lado, incluindo em Lisboa? Muito compostinhas e bem comportadas, intervieram hoje à tarde no debate da Assembleia da República deputadas de todos os partidos, em termos ideológicos de forma praticamente indistinta, a respeito do projecto de lei de apoio às vítimas de violência transfronteiriça. Mas moita a respeito de outro assunto em debate! (Refiro-me a um de que já aqui tenho falado várias vezes). Bem poderão começar a tirar uma especialização em enfermagem, as mulheres de Portugal. É pelos vistos nesse papel que gostam mais de se ver, e é esse seguramente o papel (não remunerado) que mais tarde ou mais cedo lhes irá caber, pelo menos às de Coimbra. Ou então sentem-se bem no papel de secretárias e de empregadas domésticas. Para além de no de donas ou empregadas de boutiques... Tudo fruto de um destino (ou «desígnio» inter)nacional. Porque, nestas condições, quem deseja verdadeiramente ser mãe? Ou ler um livro, para adquirir a consciência (incómoda) da dimensão a que a exploração chegou? As estatísticas da natalidade confirmam-no. Um certo (en)fado, seguramente, transforma-as em fadas. Ainda havemos de as ver (às deputadas no parlamento) a limparem o suor da testa aos seus comparsas homens, entretidos nas suas engalfinhações retóricas e por vezes quase versejantes (salvo raras excepções: Carloto Marques foi hoje essa excepção, porque disse ao que vinha com autenticidade - a voz tremia-lhe um pouco - e sem encenações machistas). Já vejo uma aura de ouro redondinha a nascer à volta da cabeça de muitas mulheres portuguesas, deputadas ou não, como nas representações medievais dos santos. O pior é que, antes de o círculo dourado da auréola se fechar, os dois semi-círculos que o formam, surgindo lentamente a partir de baixo, fazem com que a dada altura aquilo se pareça com uma meia-lua, equiparável a dois cornos de vaca. É dessa imagem da mulher que se alimenta boa parte da economia que nos afecta. Não há destino que não possa por vezes dar em desatino... Quase nenhuma mulher em Portugal questiona as matérias duras da economia, salvo honrosas excepções (Heloísa Apolónia foi hoje uma dessas excepções, mas cingiu-se demasiado à temática do ambiente, que possui contornos por vezes demasiado angelicais). Berardo põe mulheres nuas arqueando o corpo no Centro Cultural de Belém, sem garantias de o Estado não sair financeiramente lesado, e a Cultura em Portugal (há uma mulher à frente desse ministério, por sinal...) fez o favor de aceitar a desfeita. Pacheco Pereira queixa-se das livrarias de Coimbra. Não será por acaso que isso acontece... É que em Coimbra é inaugurada em breve mais uma Fnac, na margem esquerda do Rio, num centro comercial megalómeno que abre dentro de dias (depois de há um ano ter sido inaugurado outro, deixando os restantes às moscas...). Quando se desce a Avenida Sá da Bandeira vê-se agora, por cima da silhueta daquilo que em tempos foi o agradabilíssimo mercado municipal de Coimbra, semi ao ar livre, a torre colorida de um espampanante e por sinal gigantesco centro comercial. Obviamente que não foi inocente a escolha do local, aliás no sítio onde antes se localizava uma fábrica têxtil entretanto falida. Aí trabalhavam sobretudo mulheres. Talvez algumas tenham agora uma lojeca de trapos ou de colares de madeira com «coraçõezinhos». Ora, no folheto de apresentação da Fnac, que bem poderia situar-se no Pólo 1 da Universidade, nem um livro vemos: apenas aparecem promoções de equipamento electrónico, desde computadores portáteis a câmaras de filmar, e o fado - sempre o fado - como chamariz, pois então. Ah, que saudades da minha biblioteca poeirenta e desarrumada, sem estilo nem design! Apetecia-me sentar-me lá num fim de tarde, com um livro bem velhinho e uma boa chávena de chocolate quente. Ouvindo o Requiem de Mozart. Não me excluo da culpa por as coisas serem assim e por o conceito de cultura ser hoje tão restritivo e espumoso, sobretudo para as mulheres portuguesas. Mas - independentemente das definições que circulam - não deixo também de me sentir vítima dessa mesma cultura opressiva e até violenta, porque ela no fundo nos humilha. De qualquer modo, se elas, as mulheres, não assumirem esse papel de fadas benfazejas, eles alguma vez o assumiriam? É aqui que está (eternamente?) o cerne do problema da nossa incultura. Bem hajam aqueles (poucos) homens que são capazes de dar um passo em frente na mudança que urge fazer contra esta quantidade imensa de sorrisos amarelos na política portuguesa. E que não o fazem apenas para depois se contemplarem ao espelho, extasiados com o «estatuto» alcançado. (Adelaide) * Surpreendente é para mim o sonho do leitor Paulo Agostinho. Sonha com uma Fnac, o antro do consumismo, dos jogos de computador, televisores de plasma e "gadgeteria" diversa, onde também há alguns livros e uns comes e bebes. Afinal ainda vai ser a "culture française" que vai inundar da "modernidade" as nossas tristes e baças cidades. Na passada, liberalize-se o preço do livro e rapidamente, nem livrarias "inimagináveis de provincianas, escuras, mal abastecidas" existirão. Os homens sonham com uma Fnac ao pé da porta, onde se deslocarão de automóvel, como em tempos as donas de casa sonharam com um hipermercado. Eu sonho com mercearias e livrarias de referência. Dispenso essa alegre "modernidade", sou um autêntico selvagem. (José Rui Fernandes) * A baixa e a alta de Coimbra, a estação de comboios Coimbra B, pararam no tempo. Coimbra parou no tempo. Mas é por isso mesmo que se torna tão enternecedora. Os gatos errantes nos becos, as calçadas íngremes, aqui e ali um grupo alegre de matriculados na Universidade (quais estudantes!), descontraídos e com olheiras, as velhas républicas, as lojas de moda completamente demodés, os restaurantes às moscas, a Queima à porta, a festa da Rainha Santa como há 40 anos, o ar leve da Primavera e aquela tranquilidade típica da irracionalidade e do provincionalismo puros (nos resultados do ano lectivo, dos lucros do comércio, na necessidade da cidade se modernizar…). Coimbra é uma canção, de sonho e tradição. A lua a faculdade. Ai, Saudade. Adoro a minha cidade! (Helena Oliveira) * Também leio o “Le Monde Diplomatique”, mas nunca o li nem junto ao Mondego nem ao lado do “Basófias”. Questão de gosto, é claro. Aqui vivo há 50 anos. Nunca deixei de comprar um livro que desejasse. A melhor colecção de Jornalismo, por exemplo, é editada aqui; são os livros que me interessam particularmente. É mais fácil encontrá-los em Coimbra do que noutro lado qualquer. Os de Direito, confesso, passam-me ao lado. Mas se também os há, e bons, tanto melhor. E se não há algo que me interessa e cá não há, como vou por vezes a Lisboa e ao Porto, as FNAC são pontos de passagem obrigatórios. Outras vezes, navego pelas “ciber-livrarias”. É fácil, acredite; e muito mais seguro desde que inventaram o Mbnet. Quanto a Coimbra-província pura, deixe-me dizer-lhe que fico feliz pela avaliação. Esse é o objectivo de quem cá está, acredite. Coimbra é uma aldeia; somos 120 mil e conhecemo-nos quase todos uns aos outros. Vive-se bem, acredite. PS – Quando concluíram a auto-estrada Lisboa-Porto muitos disseram que Coimbra iria morrer. Enganaram-se: melhorou (e muito!) a nossa qualidade de vida. Continuamos provincianos, cidadãos do mundo. (Mário Martins, Coimbra) * Não deixa de ser engraçado como continuamos a achar que tudo vemos sabemos a partir de uma mera observação. De facto, o que vemos vem dos nossos pressupostos, mais do que das observações. Os elefantezinhos e companhia em nada perdem para as folclóricas tias do Herman e as suas correspondentes reais - há-as em todo o país, ainda que sem a pronúncia da Linha. Quanto ao andar "vestido à padre", não vejo que mal tenha isso, da mesma maneira que não vejo que mal tenha andar de fato e gravata ou andar vestido à punk. São linhas conformistas - mesmo as supostamente mais anti-conformistas, por vezes indicadoras de falta de autonomia para decidir. Acho é estranho o adjectivo "poeirentos". Talvez onde estava, sem dúvida: é piso de terra - seco, presumo - é natural que as capas levantem algum pó. Mas é de facto algo que deixa um sorriso, não propriamente um incómodo, quando se passou pela cidade. A vida académica é bem mais rica do que noutras que conheci - e não me refiro ao folclore: há um contacto rico entre colegas de todas as áreas académicas, em actividades muito diversas, não apenas nos colegas do "grupo" ou "da faculdade". Há debate intelectual (e parvoíce comum, claro), há contacto com outras realidades - muito forte. As livrarias são um aspecto cada vez menos importante neste particular, especialmente nas áreas técnicas: há acesso a informação actualizada via Web, há acesso ao inventário de quase todos os livros do mundo via Web, em vez de cingido às existências de uma livraria; há acesso barato a esses mesmos livros, quando decidimos comprá-los. O papel (nos dois sentidos) da livraria física continua válido, mas muito menos importante. Sim, as lojas da baixa estão decadentes - por culpa própria, pois impedindo a concorrência "moderna" dos centros comerciais até recentemente, era mais fácil subsistir. Quanto às capas, usadas por muitos por apego e gosto pela tradição, são algo a louvar, pois é um uso mais autêntico do que tê-las meramente para efeitos administrativos de formatura ou cerimónia. E tanto jeito dá poder passar uns tempos só a ter de ter limpas e lavadas as camisas brancas e calças pretas, desde que não se suje a batina nem a capa... Que jeito dá ter uma capa para a noite fria, para por em cima da relva, para objecto ou fetiche de companhia... Enfim, compreendo a existência do seu ponto de vista, mas passa-me ao lado. (Leonel Morgado) * Serei breve, mais pelo piscar de olho à amiga que mandou o Blog (não sou grande leitor do género, mas em cidades pequenas as notícias correm depressa…), do que para expiar a gravidade da ofensa ou o orgulho ferido… longe de mim, quero mesmo supor que todos têm razão, simplesmente quando J. fala de P., fica-se a saber mais de J. do que de P.… Neste cômputo, o choupal serviria tão bem ao desfecho, como o novo estádio municipal... Mas vamos às livrarias. Tudo uma questão de perspectiva, diria eu, e as cidades prestam-se muitos bem a todos os enganos. Cresci sempre com a impressão de que Coimbra era uma cidade boa apenas para se nascer. A abertura de uma livraria a meias com amigos, foi a única razão suficiente para me fazer ficar uns anos mais. A ideia era nova e desempoeirada: uma espécie de extensão mais bem composta da estante lá de casa, num sítio aprazível, central e moribundo como convém, a uns metros do largo onde o Nozolino fez o retrato perfeito de uma cidade. A coisa tinha bom ar, embora fosse pintada a tinta barata. Uma única área disciplinar (a que conhecíamos melhor), bastante entrecruzada para não parecermos obsessivos e porque éramos jovens e atentos. Os livros nacionais ficavam de resto em desvantagem com os estrangeiros, apenas e só porque a produção local será sempre diminuta em relação a tudo o que se produz. A livraria durou o que durou, o tempo que a cidade quis e nem um pingo de nostalgia ou de rancor, tempo suficiente para ouvir o elogio de quem garantia ser uma das mais raras livrarias de arquitectura existentes no mundo. OK. Tanto faz. Finis laus Deo. (abro parênteses apenas para reparar uma meia-verdade: a livraria não fechou, continua aberta – fechada apenas, como as cidades, para quem não se der ao trabalho de dar por elas.) (vasco pinto, Coimbra) * A descrição que faz de Coimbra é a do turista acidental que encalha num sítio que dizem ser o "centro da cidade" e que visto o centro viu tudo. De facto o basófias e companhia são deprimentes. Mas há mais cidade! Ouvi dizer que o Sena propunha como as duas mais importantes medidas pós queda do regime a extinção da PIDE-DGS e da Universidade de Coimbra! Provavelmente nunca disse nada disso mas a idéia tinha boas raízes. O problema é que o mundo mudou e as cidades com o mundo. Com certeza o que procura não está onde procura e o que lhe é devolvido na procura não é Coimbra é Portugal! 1. Livrarias Não vejo grande diferença entre Coimbra e Lisboa ( não estou a falar de alfarrabistas). O panorama é de uma mediocridade confrangedora. Com a FNAC prevista para abrir a 26 deste mês menor a distância. 2. Universidade Tem centros de excelência reconhecidos por avaliadores internacionais. Tem maus cursos e bons cursos. É demasiado grande e diversificada para ser boa ou má. Está à nossa medida. Entretanto o Salazar já morreu. 3. Vida cultural Medíocre. Qualquer cidade francesa com o mesmo número de habitantes produz 10 vezes mais cultura que Coimbra. Assim como qualquer capital europeia que se preze produz 10 vezes mais cultura que Lisboa. Sobre a chamada área metropolitana do Porto não convém falar. Obviamente o 10 é um número como outro qualquer e o conceito de produção cultural é aquele que se quiser. 4. Iniciativas da sociedade civil: clubes; ongs; centros de convívio. Tudo muito mau. O costume em Portugal. Existe a televisão. 5. Capas e batinas. Teve sorte em vê-las. Vivo cá e só as lobrigo nas festas académicas. A pavarosa Queima, a ridícula Latada, etc. Trata-se de folclore cretino. Existe em muitas cidades do mundo dito civilizado. (Alberto Costa) * Não querendo abusar da sua paciência, e mesmo sabendo que não quererá transformar o assunto num diálogo entre os seus leitores, não queria deixar de informar, com referência ao comentário do senhor Paulo Agostinho, que pelo menos numa das três livrarias da Bertrand em Coimbra (uma delas, a maior do pais, segundo penso), encontrará concerteza o Evelyn Waugh, o Goethe e o Dickens, alguns deles em edições estrangeiras, não só da Penguin. Isto, supondo, razoavelmente, que os livros indicados no site da própria Bertrand também se vendem nas suas lojas de Coimbra. Mas posso estar enganado e numa próxima oportunidade irei confirmar. (António Maçarico, Coimbra) * Uma nota que seria injusto não fazer. Coimbra possui uma excelente livraria especializada em Banda Desenhada, que está a entrar no mundo virtual e da venda online . Chama-se Dr Kartoon e aí encontram-se muitas publicações estrangeiras (inevitavelmente, já que pouco se deve publicar em português no campo da BD). Paulo Agostinho LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (13 de Abril de 2006) __________________________ Excelente ideia do Kontratempos: sugestões para desburocratizar a partir de casos reais. Por exemplo, a obtenção do ISSN. * Mário Bettencourt Resendes, "Tempo de ressurreição" , no Diário de Notícias sobre uma prática que falta na nossa imprensa: os obitários de qualidade. RETRATOS DO TRABALHO NA NAZARÉ, PORTUGAL
Vendendo amendoins no Sítio, Nazaré, Abril 2006. (António Ferreira de Sousa)
EM BREVE
a animada discussão dos leitores do Abrupto sobre Coimbra, suscitada pela nota LENDO O LE MONDE DIPLOMATIQUE, JUNTO AO MONDEGO, NUM DIA CINZENTO, AO LADO DO BARCO "BASÓFIAS", continuará aqui em cima. COISAS DA SÁBADO : OS PRÓXIMOS TRÊS ANOS: TEMPESTADE OU BONANÇA? Olhando para os próximos três anos a primeira impressão de uma pessoa que viva dentro daquilo que se chama agenda mediática é a de uma acalmia anormal no plano político. O governo está confortável na sua maioria absoluta e o estilo autoritário do Primeiro-ministro dá o quanto de confiança necessário, fazendo a propaganda o resto; o Presidente está lá, sólido e previsível, garantindo um módico de equilíbrio para o sistema e impedindo abusos; a oposição está confinada ao seu deserto árido, com lideranças que todos consideram a prazo, mas que ninguém quer substituir por reserva e má fé. Tudo explodirá um pouco, ou talvez quase nada, daqui a dois – três anos na febre das novas eleições, não faltando quem ache que essas eleições manterão tudo como está.Este olhar é comum naquelas pessoas que são politizadas, acompanham a vida pública com atenção, lêem o Expresso no fim-de-semana, discutem política, são da classe média na maioria dos casos e de meia-idade. Este é o país a que pertence a maioria dos produtores e consumidores activos de informação em Portugal. E no entanto… No entanto, a aparente acalmia política só pode ser aparente, a não ser que o mundo de palavras, intenções e anúncios a que assistimos seja puramente fantasmático, o que também é só por si uma receita para a perturbação. Tomemos ou não o governo a sério, os resultados sociais só podem ser os mesmos: os próximos três anos só podem ser anos de grande conflitualidade, e é impossível que essa conflitualidade não passe para a política. Tomemos as reformas que o governo anuncia pelo seu valor facial. Elas significam desemprego, despedimentos e desqualificações na função pública, racionalização de serviços, encerramento de instituições regionalizadas, aumento do custo de vida, mais impostos, menos salários, mais precariedade, pobreza e mediania, onde já não há pobreza absoluta. As expectativas que já são baixas irão ser ainda mais baixas. Se as reformas são para ser reformas, são para equilibrar o orçamento, diminuir as despesas, aumentar as receitas, racionalizar o estado, só podem ter este caminho no túnel, para haver luz no fim de um túnel que não se sabe bem que tamanho tem. Se nada disto acontecer, a crise continuará a agravar-se e fora dos sectores privilegiados pelo estado, os mesmos efeitos se farão sentir. Por isso convém não tomar como adquirida a paz pública e o sossego político. A não ser se já estivermos todos mortos sem dar por isso, o que também não é impossível de acontecer. RETRATOS DO TRABALHO EM BANGKOK, TAILÂNDIA
Vendendo amendoins em Bangkok (2004). (José Fernandes Santos) EARLY MORNING BLOGS 755 QUASI UN MADRIGALE Il girasole piega a occidente e già precipita il giorno nel suo occhio in rovina e l'aria dell'estate s'addensa e già curva le foglie e il fumo dei cantieri. S'allontana con scorrere secco di nubi e stridere di fulmini quest'ultimo gioco del cielo. Ancora, e da anni, cara, ci ferma il mutarsi degli alberi stretti dentro la cerchia dei Navigli. Ma è sempre il nostro giorno e sempre quel sole che se ne va con il filo del suo raggio affettuoso. Non ho più ricordi, non voglio ricordare; la memoria risale dalla morte, la vita è senza fine. Ogni giorno è nostro. Uno si fermerà per sempre, e tu con me, quando ci sembri tardi. Qui sull'argine del canale, i piedi in altalena, come di fanciulli, guardiamo l'acqua, i primi rami dentro il suo colore verde che s'oscura. E l'uomo che in silenzio s'avvicina non nasconde un coltello fra le mani, ma un fiore di geranio. (Salvatore Quasimodo) * Bom dia! 12.4.06
EARLY MORNING BLOGS 754
Trees They stand in parks and graveyards and gardens. Some of them are taller than department stores, yet they do not draw attention to themselves. You will be fitting a heated towel rail one day and see, through the louvre window, a shoal of olive-green fish changing direction in the air that swims above the little gardens. Or you will wake at your aunt's cottage, your sleep broken by a coal train on the empty hill as the oaks roar in the wind off the channel. Your kindness to animals, your skill at the clarinet, these are accidental things. We lost this game a long way back. Look at you. You're reading poetry. Outside the spring air is thick with the seeds of their children. (Mark Haddon) * Bom dia! 11.4.06
RETRATOS DO TRABALHO EM ILHA GRANDE, BRASIL
Trabalho em Ilha Grande (Brasil), Março de 2006 (Ana Mouta)
INTENDÊNCIA
Actualizada a nota LENDO O LE MONDE DIPLOMATIQUE, JUNTO AO MONDEGO, NUM DIA CINZENTO, AO LADO DO BARCO "BASÓFIAS". BIBLIOFILIA: MAIS LIVROS, MENOS TEMPO Nancy Milford, Savage Beauty: The Life of Edna St. Vincent Millay Carol Mavor, Pleasures Taken: Performances of Sexuality and Loss in Victorian Photographs Patrick Leigh Fermor, On Foot to Constantinople: From the Hook of Holland to the Middle Danube
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OS PORTUGUESES SÃO DEUSES
Ouvido algures no Ribatejo: "-Entao eles já andam a pedir para declarar a criaçao? -Andem, andem... -E vais declarar? -Eu nao. Para quê? A minha criaçao tá toda fechada." Às vezes lembro-me do filme "Il Gattopardo" a propósito de nós, portugueses. Lembro-me sobretudo da cena em que o conde de Salina explica os sicilianos a um emissário de Roma. Recorda uma visita de soldados ingleses à ilha que, embora admirados com a sua beleza, ficaram pasmados com a miséria endémica. O conde ter-lhes-á respondido que os sicilianos nao se preocupavam com o seu estado - os sicilianos eram deuses, tao simplesmente. Às vezes creio também que nós, portugueses, somos deuses, alheios a esses ingleses, de que lemos no jornal e até elogiamos, mas que secretamente desprezamos. (Pedro Oliveira) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (11 de Abril de 2006) __________________________ Poucas coisas fazem tanto sentido como a de se ser americano e manifestar-se a favor da legalização dos emigrantes. Notícias nos blogues das grandes manifestações a favor dos emigrantes nos EUA. * Em vez das absurdas queixas contra o imperialismo anglo-saxónico, a boa maneira dos franceses responderem ao Google: um motor de busca que analisa o conjunto da obra do filósofo Lévinas, incluindo os textos ainda protegidos pelo direito de autor. Na página do Institut d'études lévinassiennes. * Um crítico, neste caso uma crítica, Michiko Kakutani, do New York Times, analisada por um crítico, Ben Yagoda no Slate. E Yagoda não é nada meigo: "The voice this reader would really like to hear in Michiko Kakutani's reviews is not a mock-Holly Golightly voice or the enervated (or prissy) voice of an enshrined critic, but Kakutani's own. Here's a modest suggestion on how to start: Just once, instead of describing what "the reader" expects, thinks, or does, she might try using the word "I." EARLY MORNING PICTURE
Guimarães pela manhã. (Gil Coelho)
EARLY MORNING BLOGS 753
Laméntase Manzanares de tener tan gran puente Habla el río ¡Quítenme aquesta puente que me mata, señores regidores de la villa; miren que me ha quebrado una costilla; que aunque me viene grande me maltrata! De bola en bola tanto se dilata, que no la alcanza a ver mi verde orilla; mejor es que la lleven a Sevilla, si cabe en el camino de la Plata. Pereciendo de sed en el estío, es falsa la causal y el argumento de que en las tempestades tengo brío. Pues yo con la mitad estoy contento, tráiganle sus mercedes otro río que le sirva de huésped de aposento. (Lope de Vega) * Bom dia! 10.4.06
TEMPOS COMUNICACIONAIS E PROPAGANDA - DEMONSTRAÇÕES Já se viu muita coisa, mas uma tomada de posse da direcção da Polícia Judiciária marcada para coincidir com os telejornais das 8, devidamente transmitida em directo pela RTP, ainda não tinha acontecido. TEMPOS COMUNICACIONAIS E PROPAGANDA O intervalo que passa entre o anúncio das medidas do governo e a sua execução efectiva e impacto real, favorece o efeito propagandístico. O que “passa” nas sessões de anúncio, cuidadosamente preparadas por especialistas de relações públicas e assessores de comunicação, onde toda a mensagem é controlada sem contraditório e sem ruído, são as intenções, e as “intenções” são muitas vezes consensuais e de aplaudir, pelo que o efeito é positivo. Este tempo comunicacional dos anúncios é prime time, tempo nobre. Quando se começa a perceber a diferença entre as “intenções” e a realidade, o tempo comunicacional é já bem mais pobre do o do seu anúncio e a mensagem muito menos eficaz até porque muitas vezes já nem sequer está no centro da agenda política. Se se quiser agora e reler, à luz do que já se sabe, e que já se pôde estudar o SIMPLEX ou o PRACE, e se começa a perceber quais os investimentos que vão ser concretizados, ou a realidade do Plano Tecnológico, ou analisar o primeiro resultado de 6% na política orçamental à luz do relatório Constâncio sobre o défice, quem achará que a agenda mediática actual comporta essas questões? Ninguém, porque as questões já são “velhas”. O governo está a usar e a abusar deste efeito, mas talvez deva dizer-se que ele só é eficaz pela combinação de dois processos: um, a oposição passar a ser credível, logo a fazer-se ouvir em tempo útil (o que não mudará de um dia para o outro) reforçando a vigilância parlamentar; e outro, a comunicação social deixar de simplesmente incorporar os termos das sessões de anúncio, fazendo uma cobertura “transparente”, que mantém intacta a intenção propagandística. Está mais do que na altura de começar a haver mais distanciação crítica, até para que se perceba o que o governo faz bem e o que não faz e é só propaganda. RETRATOS DO TRABALHO EM MUMBAI, ÍNDIA
Lavandaria manual a céu aberto em Mumbai. (José Santos) LENDO O LE MONDE DIPLOMATIQUE, JUNTO AO MONDEGO, NUM DIA CINZENTO, AO LADO DO BARCO "BASÓFIAS" Tudo isto me parece um pouco sinistro, mas encaixa muito bem. Os artigos sobre a defunta lei do CPE, a começar pelo editorial de Ramonet, dão o tom às aguas. À minha volta fala-se brasileiro, língua dos empregados de restaurante em Portugal, produto da globalização. À minha frente, umas jovens senhoras, de grandes anéis de casadas, uma das quais é dona de uma boutique, mostram umas às outras um produto novo: uns colares gigantescos de madeira, iguais a milhares de outros, mas com uns "elefantezinhos" e uns "coraçõezinhos" dependurados (elas falam em diminutivos). "São bons para a tua loja". Susto e pavor. Ramonet fala em aumentativos. Ele acha que a França, sua sociedade, sua economia, e sua cultura são gloriosas e que agora a "direita" e o "liberalismo" a rebaixam no seu valor. Toda esta conversa de "declínio" e "crise" da França é uma cedência ao "inimigo", diz Ramonet, ou seja ao imperialismo americano e o liberalismo económico anglo-saxónico. Pobre Villepin, que eu conheci Ministro dos Negócios Estrangeiros, sempre com o mesmo ar enfadado, com a arrogância da pequena nobreza rural perante um mundo que não fosse galo-franco-francês, agora passado para o "inimigo", que ele mais que tudo desprezava. Apanhado na sua própria medicina, com a esquerda alter-mundialista do Le Monde Deplomatique a agitar a tricolor. Coimbra por trás. Sempre achei que devia haver algo de muito errado numa cidade em que os estudantes gostam de andar vestidos à padre. Passam alguns, negros e poeirentos. Uma cidade cujas livrarias na baixa são inimagináveis de provincianas, escuras, mal abastecidas, quase sem livros estrangeiros. Apenas o Direito é rei e senhor, tudo o resto leva à pergunta: como pode uma cidade universitária ter livrarias assim? Tudo triste, baço, esquecido da "modernidade" como agora se diz. Mal por mal, prefiro ver as notícias necrológicas ainda coladas nas paredes como nas aldeias e vilas do Norte. É certo que me parecem ser feitas já em computador e impressas a laser ou jacto de tinta, e depois prosaicamente copiadas. Algures ainda devem ser feitas em tipo de chumbo, apertado nas caixas a cordel, e com os filetes para ocupar espaço. Província pura, o que em si não é mal nenhum, não fosse ser esta a terra da "Lusa Atenas". * O "Sempre achei" demonstra o preconceito, claro. Imagino o projecto matinal: "Deixa-me cá ver e ouvir algo que ilustre o que eu à partida já decidi escrever." LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (10 de Abril de 2006) __________________________ Certeiro e duríssimo, o artigo "Medíocre, mesmo mau!" de Graça Franco no Público (sem ligação) de hoje, contra a política orçamental do governo.Uma contribuição para a diminuição da "treta", que cada vez mais abunda no engolir indiscriminado da propaganda governamental: "Vamos falar verdade: o défice de 6 por cento conseguido pelo actual Governo em 2005 não é um bom resultado. É, na melhor das hipóteses, um resultado medíocre que, conjugado com o escandaloso agravamento do rácio da dívida pública em mais de cinco pontos percentuais num único ano (passando de um limiar abaixo de 60 por cento em 2004 para uma previsão de quase 69 por cento este ano), só pode ser entendido como um mau resultado. O efeito do galopar da dívida está já à vista: em 2006, de acordo com os números enviados a Bruxelas na semana passada, o Governo espera gastar, em juros, tanto quanto em investimento, perto de 4,4 mil milhões de euros. Em rigor, os números de 2005 só não são péssimos porque o nosso desejo de que "resulte" o trabalho desta equipa para bem do país é tão grande que risca o pessimismo da análise económica." * Mais uma razão para contestar as quotas, erradamente chamadas da "paridade", e mais uma razão para contestar a hegemonia masculina na política: os géneros lêem diferente. Os homens são escapistas, as mulheres apaixonadas, diz um inquérito do Guardian, sobre os livros preferidos por sexo: |