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31.3.06
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UM SERVIÇO PÚBLICO MUITO ESPECIAL
Se quiser juntar ao acervo de argumentos contra a existência de meios de comunicação do Estado mais um, e constatar ainda outra vez o vazio do conceito de "serviço público" nesta área, deite uma espreitadela à notável mini-série que a RTP exibe desde 4ª feira... à 1 da madrugada, "To the end of the earth", baseada nos livros de William Golding (concluiu hoje 6ª). Os jogos de poder e românticos, a exigente contenção geral da realização, os matizes e flutuações dos personagens, a construção da história e das relações, são, todas elas, absolutamente raras e superiores. Mas a grosseria da programação do tal "serviço público" expele a série para as madrugadas de um dia de semana. (José Cruz)
INTENDÊNCIA
Actualizadas as notas GRIPE, LIVROS, TELEVISÃO E O CANAL DA FOX e A CRISE DA IMPRENSA ESCRITA URBI ET ORBI.
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: NEM TUDO É SIMPLES NO SIMPLEX
Não sei se os portugueses em geral e os jornalistas em especial já repararam no seguinte: o SIMPLEX 2006 prevê um conjunto concreto de medidas e especifica as entidades responsáveis pela implementação dessas medidas; passadas horas da apresentação desse programa, é apresentado o PRACE onde se prevê que a maior parte desses mesmos organismos é extinta (leis orgânicas aprovadas até Junho de 2006). Mas algo não bate certo - por exemplo, as medidas do SIMPLEX 152/ 153/ 154/ 155/ 156/ 157/ 158/ 160/ 161/ 162/ 163/ 164/ 165/ 166/167/169/170/168/149/151/159 e 150 (isto é, 22 medidas só deste exemplo!) são medidas a serem concretizadas pela Direcção-Geral de Viação a partir de Junho de 2006, organismo esse que, pasme-se, de acordo com o PRACE (e respectivo relatório de suporte) será extinto em Junho de 2006. Pergunta: não estará o governo a condenar o Simplex ao insucesso? Como cumprir as metas do programa sabendo os organismos que vão ser simplesmente extintos? P.S. É apenas um exemplo - temo (como contribuinte) que aconteça o mesmo com as restantes medidas... (Rui Medeiros)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:INTERIORIDADES
No DN, Francisco Sarsfield Cabral escreve: "Para que servem, então, as auto-estradas, incluindo as que não têm portagem e supostamente deveriam estimular o desenvolvimento do interior? Servem sobretudo para as pessoas que vivem no litoral, numa faixa entre Viana do Castelo e Setúbal, irem passar fins-de-semana e férias "à terra" ou às residências secundárias que entretanto adquiriram. A vida no interior do País é cada vez mais sazonal." Isto absolutamente insultuoso. As auto-estradas e não só (as IP também) permitiram que nós que cá estejamos não estejamos num buraco. Há necessidade de algo que não existe? Vai-se numa manhã ao Porto, vai-se reunir com uma empresa, assistir a um congresso, ter uma reunião. Dantes? 4 horas para ir de Vila Real ao Porto (100 km)? Ia-se para passar o dia, talvez dormir, caso a reunião fosse tarde. Era preferível não trabalhar com o Porto, muitas vezes. A economia ficava retida numa ilha de terra no interior do país. É verdade que o interior ainda não se desenvolveu suficientemente. Mas muito mudou para quem cá vive. Há opções, há qualidade de vida efectiva. Em 1997, ano em que me mudei para Vila Real, não consegui fazer cá compras de Natal: só havia lojas caríssimas ou lojas paradas no tempo. Hoje? Nem me lembro de quando fui fazer compras ao Porto. Vou lá, sim, para trabalhar, sem qualquer problema, pois demoro apenas uma hora de carro e hora e meia de autocarro. E desde este ano, estou a menos de uma hora de Viseu, não duas horas ou mais por estradas horríveis. Será assim tão difícil ver o que isto implica no aumento do mercado potencial para as empresas locais? No aumento de oportunidades de emprego, por ampliação da área de acção das próprias famílias? A visão do interior dada por FSC é, no mínimo, ignorância crassa. No máximo, um conluio para o abandono total de parte do país. (Leonel Morgado) * Discordo do Senhor Leonel Morgado, quando diz que “A visão dado por FSC [Francisco Sarsfield Cabral] é, no mínimo, ignorância crassa”. RETRATOS DO TRABALHO EM ANGOLA
(Luis Pereira) RETRATOS DO TRABALHO EM BUENOS AIRES, ARGENTINA (...) trata-se de um vendedor ambulante de flores, a quem nas ruas do bairro de "Villa del Parque" pedi autorização para retratar. Disse-me: sim, mas... rápido "que puede venir la cana (polícia)". (Francisco F. Teixeira) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (31 de Março de 2006) __________________________ Ruas: manifestação dos partidários do grupo religioso Falun Dafa em Nova Iorque. * Inteiramente de acordo com João Miranda no Blasfémias: "A inspecção selectiva de restaurantes pelo simples facto de os respectivos proprietários serem chineses, feita por uma entidade pública com dever de imparcialidade, com a presença das câmaras da SIC que não se coibiram de filmar pessoas e nomes de restaurantes, só tem um nome: xenofobia. Discordo parcialmente de si. O facto de se tratar dos restaurantes chineses nada tem de xenófobo, antes consistindo na verificação de uma realidade que todos nós sabemos ser verdadeira (aliás, há muito tempo e até, muitas das vezes, mais por motivos culturais do que de falta "propositada" de higiene). * Título um pouco estranho (na versão em linha não tem aspas, será que tem em papel?): "Luís Represas em comunhão passional no Coliseu do Porto" no Público. Em "comunhão passional"?
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Trees in the Garden Ah in the thunder air how still the trees are! And the lime-tree, lovely and tall, every leaf silent hardly looses even a last breath of perfume. And the ghostly, creamy coloured little tree of leaves white, ivory white among the rambling greens how evanescent, variegated elder, she hesitates on the green grass as if, in another moment, she would disappear with all her grace of foam! And the larch that is only a column, it goes up too tall to see: and the balsam-pines that are blue with the grey-blue blueness of things from the sea, and the young copper beech, its leaves red-rosy at the ends how still they are together, they stand so still in the thunder air, all strangers to one another as the green grass glows upwards, strangers in the silent garden. (D.H. Lawrence) * Bom dia! 30.3.06
A CRISE DA IMPRENSA ESCRITA URBI ET ORBI Os últimos indicadores publicados em Portugal revelam uma crise da imprensa escrita, como de costume com excepções, mas mostrando uma tendência que não é distinta do que acontece a nível mundial. Mesmo nos países em que há elevados índices de leitura de jornais, existe uma usura crescente das suas tiragens, em particular da chamada imprensa de referência. A classificação de "imprensa de referência" é parcialmente ilusória, porque a tendência para a tabloidização não é inteiramente contraditória com a "referência", e também nos tablóides há trabalho jornalístico. O mesmo separar de águas pode também ser enganador com a imprensa gratuita. O que digo genericamente é para a imprensa escrita, jornais e revistas no seu conjunto que, globalmente, mostram sinais da mesma doença.Conhecidos mais números para ilustrar esta tendência em Portugal, imediatamente a discussão virou-se para as receitas, para o que se pode fazer para que se leiam mais jornais e revistas. Falou-se das dificuldades, de literacias, das mudanças que são necessárias nos órgãos de comunicação social, da necessidade de inovação editorial, etc., mas esta discussão parece-me ser ao lado, porque penso que este tipo de crise da imprensa escrita veio para ficar. O que acontece é que a imprensa escrita continua a oferecer um produto único e imprescindível, no conjunto das suas diferentes variações, mas cuja centralidade é hoje bastante menor em relação ao todo do sistema comunicacional. Há coisas que a imprensa escrita faz melhor do que ninguém - em particular a mediação editorial das notícias e a produção de opinião, quer no âmbito exclusivamente jornalístico, quer no do comentário de diferente teor -, mas já há muitas outras coisas que faz menos bem, e não vai voltar a fazê-lo. Também aqui se repete a história do cinema e da lanterna mágica - depois do cinema não se volta aos tempos da lanterna mágica. A reacção de muitos responsáveis pela imprensa, de jornalistas a proprietários, é repensar muitos aspectos da forma como a imprensa escrita se apresenta e o tipo de cobertura jornalística que faz. As inovações gráficas, a qualificação do tratamento noticioso, em detrimento da notícia pura e dura, e as tendências para vários tipos de jornalismo, em particular os tablóides, ou o especializado, são algumas dessas respostas. Olhando para o Diário de Notícias e o Público, muitas dessas tentativas de resposta estão à vista: suplemento económico do Diário de Notícias, revistas temáticas no Público, maior papel na primeira página de temas como futebol, aproximação dos temas "sérios" aos tablóides, utilização de cor, diminuição do tamanho dos artigos, ofertas de discos, livros e filmes, etc. Mas penso que o problema é mais profundo e, qualquer que seja a volta que se lhe dê, o papel da imprensa escrita, continuando a ser único e imprescindível no sistema comunicacional, é hoje menor e apresenta um maior grau de complementaridade com outras formas de media, que ocupam efectivamente uma parte do espaço que pertencia no passado em exclusivo aos jornais e revistas. Ao mesmo tempo, num processo que caminha num sentido idêntico, a palavra escrita perde terreno, da escola à publicidade, da vida social à oralidade, substituída cada vez mais por meios mais intensos e afectivos assentes na imagem e na imagem em movimento. Numa sociedade em que o logos perde terreno, o pathos desenvolve-se exponencialmente na cultura de massas. As televisões "educam" mais do que a escola, ou a família, e educam na imagem e na rapidez, em detrimento do argumento e da racionalidade. Não admira que na economia da vida a palavra escrita perca valor simbólico para as massas que acederam ao conforto, explicitude e comodidade das imagens. Eu sou um grande consumidor de comunicação social, mais excessivo do que muitos, mas o que representa a minha experiência, encontro-o cada vez mais em muitas pessoas da elite social que sempre consumiu preferencialmente a imprensa escrita. Hoje, continuando a ler praticamente todos os jornais principais e revistas, uma parte importante da informação que encontrava nos jornais migrou para outros meios como a televisão e a Internet. Posso queixar-me da superficialidade dos noticiários audiovisuais, mas quer a rádio, em certos casos, quer a televisão fornecem-me as breaking news de forma insuperável. Pode-se argumentar que os jornais o fazem com perspectiva, e com distanciação, mas este é um argumento já defensivo, porque a informação em tempo próximo do real, com todos os defeitos na sua editorialização, não deixa de ter vantagens. A dificuldade editorial dos "directos" não significa impossibilidade editorial, porque uma boa estação de rádio ou televisão com equipas de repórteres e jornalistas experimentados pode perfeitamente fazê-lo, sem pôr em causa a fluidez da notícia. Ora, no passado, os jornais também cumpriam esta função, por exemplo, produzindo edições especiais, imediatamente distribuídas na rua, o que hoje só muito raramente acontece. Como estamos melhor informados sobre eventos, em particular os que têm maior espectacularidade, e por isso "valor" televisivo, os jornais não podem competir nesse aspecto noticioso. A CNN, com transmissões como a que fez do golpe contra Gorbatchov, nos últimos dias da URSS, forneceu um paradigma da cobertura em directo, que é um aperfeiçoamento, ou, se se quiser, um prolongamento de uma função que pertencia aos jornais, migrou para a rádio e para a televisão e, ainda no seu início, para a Internet. Como existem hoje, os quotidianos são lentos para o fluxo noticioso, embora tenham tecnologias a prazo que lhes irão permitir ser mais velozes. De algum modo, as sinergias entre os jornais em papel e os sítios noticiosos que os jornais mantêm na Internet, e mesmo, nalguns casos, blogues de jornalistas que se encontram in situ, novas formas de distribuição mais rápida dos jornais, inclusive por meio de "papel" electrónico, podem acelerar, mas não podem competir em absoluto. Depois há todo um aspecto de cobertura entre o especializado e o generalista, de assuntos e temas particulares, em que também a competição entre os jornais e a Internet, sítios e blogues monotemáticos, se faz em prejuízo dos jornais. A crítica especializada, de culinária, de gadgets, de vinhos, de viagens, espectáculos, de livros, de filmes, ainda continua a ser um domínio em que a imprensa escrita, que tenha críticos com independência e qualidade, conhecimento das matérias e estilo próprio de escrita, tem vantagem. Mas, cada vez mais, essa vantagem é residual, à medida que se vai alargando um espaço crítico na Internet, que corresponda aos critérios de isenção e qualidade que até agora apenas se encontravam na imprensa escrita. Com a profissionalização, por exemplo dos blogues, estes poderão fornecer análises de qualidade e alargar o espaço crítico com maior pluralismo. Os sinais de tensão e fricção traduzidos em mecanismos de influência competitivos já são evidentes. Estes e outros exemplos apontam todos no mesmo sentido - a imprensa escrita ganha em inserir-se melhor no sistema de sinergias comunicacionais com a rádio, televisão e Internet (sítios noticiosos e blogues) e utilizar as potencialidades de cada meio para fazer aquilo que cada um faz melhor. Não pode resistir sozinha com uma inovação puramente interior, tem que se inovar tecnologicamente e isso significa não ser apenas escrita em papel. ( No Público de hoje, acrescentado de algumas das vantagens da versão electrónica sobre o papel, menos uma: lê-se melhor no papel. Para já.) * Não será uma crise inevitável, devido ao curso da evolução da tecnologia... ÍCONES DO ABRUPTO O primeiro para as fúrias (de Roy Lichtenstein); o segundo para as críticas (de Jim Dine); o terceiro para a coisa cívica (de Norman Rockwell) e o quarto para o LENDO /VENDO. Em breve haverá mais para os elogios e para a Bibliofilia. UMA DEGRADAÇÃO DA DEMOCRACIA Com a chamada Lei da Paridade que o PS apresenta hoje na Assembleia, e que deve ter a passagem garantida, embora não seja líquida a sua constitucionalidade, acaba uma certa forma de democracia como nós a conhecemos. Até agora era simples: um homem (uma mulher), um voto. Escolhia-se quem se propunha (em várias eleições, autárquicas e presidenciais) ou quem os partidos propunham (eleições legislativas e europeias). As listas podem ter e têm todos os defeitos e estão longe de serem feitas por qualquer critério de mérito. Não é isso que está em causa. As listas são o retrato do que há, e das mediações políticas que existem. Nada de brilhante, mas a democracia é um sistema potencialmente aberto. Pelo contrário, a sociedade não é um sistema aberto, tem desigualdades, inconsistências, vantagens e exclusões. Homens e mulheres não estão numa situação de igualdade na sociedade, é verdade. Mas estão numa situação de igualdade na política, igualdade virtual, mas igualdade. A partir de agora deixam de estar nessa situação, passam a ser desiguais, descriminados positivamente uns e negativamente outros. As eleições, a partir de agora, não são inteiramente de livre escolha, são como um puzzle: passa a haver caixinhas percentuais para cidadãos que são mais iguais, num sentido orwelliano, do que outros. Começou com as mulheres, mas não há razão para que, a prazo, outras quotas não se venham a impor, por cor da pele, religião, orientação sexual, região ou classe social de origem. Para quem tenha uma concepção liberal da política, na velha tradição da liberdade, há uma perda de qualidade da naturalidade democrática a favor do artificialismo, da engenharia utópica da sociedade. É um caminho péssimo e esta lei não é um exercício “fracturante” menor. Atinge o coração da ideia da democracia e da liberdade. UM ANJO CANTA / UM DEMÓNIO ESPERA
numa estação de metro de Nova Iorque / no Grand Central Terminal.
NUNCA É TARDE PARA APRENDER
Henry Hitchings, Defining the World (The Extraordinary Story of Dr. Johnson's Dictionary) Como é que se "escreve" um dicionário? Johnson "escreveu" de facto um dicionário, mais do que o organizou ou compilou, mas, por detrás desse trabalho literário, muito dependente da leitura e dos livros, havia problemas de organização metodológica muito interessantes. Tinha um plano inicial, mas teve que muitas vezes o mudar pela dimensão gigantesca da tarefa, o que torna as metodologias de trabalho, os "processos" com que tratou a informação, úteis de seguir. Começou, como muitos estudantes e investigadores, por um erro clássico: tratar a informação de forma analógica, em vez de digital. Preparou uns cadernos com espaços em branco para incluir as palavras, definições e citações em apoio, à medida que ele e os seus ajudantes iam progredindo. Em breve chegou a um caos. Folhas eram metidas dentro dos cadernos, ao lado dos cadernos para inclusão no sítio próprio, acrescentos e adendas, novas palavras que iam surgindo, citações mais apropriadas em substituição das anteriores, tornaram inviável o sistema dos cadernos. Johnson teve que reorganizar de novo os materiais num sistema de verbetes e fichas, que tinham uma capacidade de crescimento infinito, sem perder a organização interior. Quando comecei a trabalhar sobre história, cometi o mesmo erro. Anotava de forma corrida, nuns cadernos, apontamentos, citações, referências bibliográficas, notas de leitura. Quando tinha que escrever estava sempre a ter que ler tudo e nunca tinha a certeza que não perdia informação. Anos mais tarde, peguei nestes cadernos, em que, felizmente, em cada folha tinha escrito só num lado, recortei-os à tesoura e coloquei os fragmentos em fichas, a partir de uma ordem que ainda hoje mantenho nas bases de dados electrónicas: biografias, fichas bibliográficas, temáticas, por organização, iconográficas. Devia ter lido em tempo a história das atribulações do Dr. Johnson. RETRATOS DO TRABALHO EM ALCOCHETE, PORTUGAL
Mulheres na apanha de amêijoas, Hortas, Alcochete, Março 2006 (António Ferreira de Sousa) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (30 de Março de 2006) __________________________ A ler em papel, ou na rede pagando, no Público, o artigo de Augusto M. Seabra, "A judicialização da crítica". Levanta duas questões associadas: "O paradoxo da situação presente é o de o regime geral de mediatização das sociedades, e de mercantilização da informação, fazer com que espaços propriamente de mediação crítica, com o que isso supõe de reflexão consistente e prosseguida, tendam a dissipar-se na própria imprensa escrita que teve a sua origem histórica em órgãos de "crítica", substituídos por uma mera intermediação, com apresentação dos novos "produtos" colocados no mercado à disposição do leitor-"consumidor". * Outras agendas dos últimos dias: no Economist uma excelente reportagem sobre o Iraque ("Murder is certain"), mostrando a complexidade da situação, contrariando o estilo habitual de enunciar a simplicidade da invasão; penoso adeus a um dos regimentos mais célebres da história militar inglesa, os Black Watch, agora integrados no Royal Regiment of Scotland (Times); a HBO dedica uma série, Big Love, a uma família poligâmica (New York Times); um conjunto vasto de artigos, entre o apocalíptico e o "é grave, mas controlável", sobre a gripe das aves ("How serious is the Risk?" no New York Times); obituários, com a habitual qualidade, de Stanislaw Lem (no New York Times), entre outras coisas autor de Solaris; um artigo sobre "Gregory House" / Hugh Laurie, "polite - with a bite" no USA Today; as fontes do financiamento da Autoridade Palestiniana no Wall Street Journal; "Love and Money - Nine questions partners should ask each other before getting married", no Wall Street Journal. E é só uma muito pequena parte, do que a imprensa escrita tem para nos dar.
EARLY MORNING BLOGS 743
New York Notes 1. Caught on a side street in heavy traffic, I said to the cabbie, I should have walked. He replied, I should have been a doctor. 2. When can I get on the 11:33 I ask the guy in the information booth at the Atlantic Avenue Station. When they open the doors, he says. I am home among my people. (Harvey Shapiro) * Bom dia! 29.3.06
LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (29 de Março de 2006) __________________________ Cartazes nas ruas de Nova Iorque: GRIPE, LIVROS, TELEVISÃO E O CANAL DA FOX Não há nada como a aparição sazonal do vírus da gripe, felizmente de uma forma ainda tradicional e domável, longe da ameaça cada vez mais perto da Grande Gripe das Aves, para remeter a vida de cada um a um infantil conforto da doença, que deve vir dos dias em que não se ia à escola, se ficava na cama, quente e confortável, servido por todos, centro de muito especiais atracões. A gripe já não é o que era, e quase só o frasco azul-escuro e esverdeado do Vicks VapoRub faz essa ponte longínqua com a infância, com o seu cheiro agradável às coisas que não mudam, mas mudam. O frasco era de vidro e agora é de plástico. Mas as minhas gripes são sempre grandes momentos de leitura e televisão, o que une o agradável ao agradável, e me afasta do mundo obcecado das notícias dos jornais e da agenda política em grande parte artificial. Ao longe vê-se passar a posse presidencial, uma mesinha de chá disfarçada de mesa de trabalho, a agitação de um Congresso, os tumultos franceses e, verdadeiramente numa manifestação de egoísmo, o que nos interessa é a pilha de livros a dizerem-me “lê-me”, e o pequeno ecrã que não precisa sequer de dizer “vê-me”. Eu vejo, eu vejo. O que eu vi reconciliou-me com a televisão, o que é um lugar comum porque nunca estive zangado com um meio que particularmente estimo. Digo de outra maneira reconciliou-me com as séries televisivas, o que já é mais exacto, para um órfão dos Sopranos, que, depois da última série, deixou de encontrar alguma coisa que me prendesse tão regularmente ao ecrã maligno. Até agora e num canal a que nunca tinha dado muita atenção e que aceitei ter (é pago à parte), porque uma menina me telefonou a perguntar se queria um pacote qualquer com o nome de “familiar” e eu, torcendo o nariz ao nome do pacote que me parecia uma promessa de aborrecimento, aceitei porque a mera ideia de não ter os canais todos me fere a sensibilidade. E vieram os canais da Fox e com um deles, mais uma série de episódios magníficos. No canal da Fox passam várias séries que já conhecia e que nunca me suscitaram grande interesse como é o caso dos “Ficheiros Secretos”, que tinha tudo para ser uma série que me agradasse, gosto de ficção cientifica e de horror, mas aqueles agentes do FBI são tão rígidos e self-righteous que nem os monstros e os mistérios ocasionais os conseguem levantar de um torpor absoluto. Depois havia umas coisas ligeiras, visíveis mas não entusiasmantes, passadas num Casino em Las Vegas, onde o mundo higiénico da América se manifesta numas damas de peito farto e nuns cavalheiros atléticos da segurança, sem grande imaginação e nenhuma verdadeira personagem. A personagem é o Casino, mas só mesmo lá estando é que se sente a coisa. O mesmo, em mais pesado, acontecia numa ilha do Pacífico onde uns “perdidos” de um acidente de avião bizarro aterram em cima duma ilha misteriosa onde ninguém faz o que o bom senso exige e todos parecem ser híbridos entre as terríveis crianças do Senhor das Moscas e a Ilha Misteriosa de Júlio Verne. Depois há umas “Donas de Casa Desesperadas” que nunca percebi a fama que tinham porque é aborrecido e estereotipado, embora nos devolva um mundo que não temos na Europa que é o da “vizinhança”. Compreendo que na América deve ser um sucesso entre as ditas donas de casa, que devem sonhar com maldades miméticas, mas aquelas vidas liofilizadas são tão artificiais como o Casino de Las Vegas e a ilha dos “perdidos”. Depois há os Simpsons que são excelentes. Ponto. E duas magníficas surpresas, que animaram os meus dias: “House” e “Deadwood”. “Deadwood”, da produtora dos Sopranos HBO, é uma história do Oeste americano, da fronteira violenta e turbulenta. É uma série, como os Sopranos, que só passa na América no cabo, com a sua linguagem obscena, as cenas de bordel sem idealização, a brutalidade sempre à flor da pele de todas as personagens quer reais, quer ficcionais. É que existe uma Deadwood real no Dakota do Sul, e de facto por lá passaram várias das personagens da série televisiva, como Calamity Jane e Wild Bill Hickok, o dono do bordel, os donos de lojas, etc. No cemitério de Deadwood estão muitas das personagens reais da série, havendo outras ficcionais para dar consistência narrativa e dramática à história. No seu conjunto, todas as qualidades de encenação da televisão americana, a sua construção de personagens, o trabalho do guião, a precisão dos cenários, uma iluminação excelente para dar o efeito da escuridão das ruas e das casas apenas iluminadas por candeeiros, tudo se combina para uma excelente série televisiva. A série é tudo menos “familiar”, mas vale por si só o canal da Fox onde passa. Depois há um bónus suplementar, a série da Fox “House” centrada numa situação clássica de muita televisão americana, o hospital. Mais do que em “Deadwood”, que é um retrato de grupo, o retrato de uma cidade, “House” é dependente de uma personagem, o médico Gregory House representado pelo actor inglês Hugh Laurie. House é uma personagem ideal de televisão, excessiva, enchendo o ecrã com a sua mera aparição, um génio do diagnóstico diferencial (que cita o Jornal do Instituto de Medicina e Higiene Tropical em português para um caso raríssimo de transmissão sexual de “doença do sono”), absolutamente insuportável de feitio, agressivo, cínico e solitário. House sofre dores violentas devido a uma doença numa perna, que arrasta com a sua bengala pelo ecrã coxeando e tomando Vicodin às mãos cheias. O New York Times, referindo-se a esta série, escreveu: “Tão aditiva como Vicodin…” O hospital onde House trabalha é completamente artificial, demasiado perfeito para ser verdadeiro. Nada está sujo, todos os mais complexos meios de diagnóstico existem, não faltam quartos, nem pessoal, nem remédios, por sofisticados e raros que eles sejam. Se não houvesse Gregory House, a demonstração da imperfeição genial, a série seria anódina. Mas, diferentemente das séries de hospital e de médicos, “House” passa quase sempre por cima do aspecto melodramático da doença, para se centrar no exercício intelectual de descobrir a causa, e sobre esse ponto de vista o grau de complexidade dos diagnósticos, e a sua metodologia diferencial são uma parte fundamental da estrutura narrativa. À narração acrescenta-se a dança subjectiva da sua equipa de colaboradores, que trata abaixo de cão, e dos administradores do hospital, afectados pela violência verbal de House e as suas atitudes não convencionais. A única personagem que trata House de igual para igual é o seu colega oncologista Wilson, e os diálogos entre os dois são um dos bons retratos ficcionais da amizade de qualquer série televisiva. “House” e “Deadwood” reconciliaram-me com o mundo das séries televisivas, que a televisão portuguesa agora afasta cuidadosamente do horário nobre, onde não entra nada que não seja em português. Há mais mundo para além do infantilismo dos concursos, telenovelas e reality shows. Num canal perto de si. Pago, mas como não há almoços grátis, não me queixo. O almoço é bom, mesmo com gripe. (No Público.) * Acabei de ler o seu post em que falava da série House. 27.3.06
LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (27 de Março de 2006) __________________________ Agenda do New York Times do fim de semana, o que pesa muitos quilos mas não vem num saco: para além do óbvio e da política muito interna, há artigos sobre os programas de "retraining" destinados a assegurar novos empregos a quem tenha sido despedido (artigo quase de tres páginas completas e muito crítico dos programas); uma extensa peça sobre a Al Jazeera; notícias sobre a colocação no iTunes dos concertos de há uma semana, quinze dias, para serem descarregados para iPod, a preços por volta de $10; papel das fotografias na história; o centenário de Beckett; aspectos negativos do Google na promoção de "information iliteracy": o papel da cultura na condição dos jovens negros, etc., etc. Todos os artigos são originais, e traduzem uma agenda escolhida pelo jornal, e, embora haja muito "pack journalism" na parte da política interna e externa (Iraque, por exemplo), os jornais são muito distintos uns dos outros. 26.3.06
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O GENOCÍDIO DE DARFUR
Enquanto em Portugal se vai vivendo um daqueles tempos de acalmia mediática recorrente (aquele espaço de respiração até ao próximo assunto explorado até à exaustão e depois esquecido por todos), podia-se aproveitar o momento para o telejornais mostrarem ao grande público o genocídio que continua no Darfur, patrocinado pela nossa "apatia" ocidental. Daqui a alguns meses ou anos lá virão as reportagens e os documentários sangrentos e os jornalistas perguntando inocentemente: "como foi possível?!". Pois bem, aqui fica o testemunho em tempo real: a televisão passa reportagens sem qualquer interesse público relevante, as revistas ocupam espaço a falar de OPAs e dos indicadores económicos e os jornais falam da guerra do Iraque ou dos distúrbios em França. E já agora, o que anda a "Esquerda" a fazer? Na semana passada vimos (?) manifestações contra a guerra no Iraque e expressões de solidariedade com os estudantes mimados franceses. Será que a tragédia que acontece no Darfur não é uma questão fracturante suficiente para a esquerda? Como é que é este silêncio, esta ausência de opinião ou crítica? Como é que não se vê nenhum comício, nenhuma manifestação, nenhuma intervenção parlamentar com relevo? Como é que é possível chamar a isto "uma política de causas"? (a mesma crítica, claro, vale para a direita; mas essa não anda a fazer manifestações pela "paz", com a aquele tom de moralidade superior). E por último, o Darfur é só mais um exemplo de como actualmente não há notícias sem imagens. O genocídio apenas se lê e para a maioria das pessoas as simples palavras escritas já não despertam qualquer sentimento. Também isso é uma tragédia e será ainda mais no futuro. É um dever lembrar o que se está a passar no Darfur, pelo menos isso. Para que depois não se pergunte, vale a pena dizer hoje: "sim nós sabíamos o que se passava mas não nos interessámos por isso". (João Lopes)
BIBLIOFILIA: NOVOS LIVROS
O primeiro livro que vi e de que não sabia nada (a Amazon e a New York Review of Books tem essa desvantagem de não haver surpresas), foi o último David Horowitz, Professors. The 101 Most Dangerous Academics in America. É um livro que logo de imediato me suscitou "mixed feelings". Vou avançar um pouco mais na leitura, mas duvido que me desapareça a sensação, por um lado o livro é uma denuncia das absurdas patetices que se dizem e defendem nas universidades americanas, por parte de uma intelectualidade muito mais esquerdista do que qualquer paralelo europeu. Os exemplos de Horowitz são gritantes. Por outro lado, na organização do livro, há qualquer coisa das "listas" do Senador McCarthy, qualquer coisa de denúncia às autoridades que me desagrada. Voltarei ao livro.
EARLY MORNING BLOGS 742
La mia canzone al vento Sussura il vento come quella sera Vento d'Aprile di primavera Il volto le sfiorava in un sospiro Mentre il suo labbro ripeteva giuro Ma pur l'amore è un vento di follia Che fugge come sei fuggita tu Vento vento portami via con te Raggiungeremo insieme il firmamento Dove le stelle brilleranno a cento E senza alcun rimpianto Voglio scordarmi un tradimento Vento vento portami via con te Tu passi lieve come una chimera Vento d'aprile di primavera Tu che lontano puoi sfiorarla ancora Dille che l'amo e il cuor mio l'implora Dille che io fremo dalla gelosia Solo al pensiero che la baci tu Vento vento portami via con te Tu che conosci le mie pene Dille che ancora le voglio tanto bene Sotto le stelle chiare Forse ritornerà la voce Vento vento portami via con te Sotto le stelle chiare Forse ritornerà la voce Vento vento portami via con te Sussurra il vento come quella sera Perché non torni E primavera (C.A. Bixio) * Bem sei que pelas horas portuguesas não parece ser "early morning", mas é. Ouvido muito cedo na WBAI, 99.5, cantada por Pavarotti ainda com a voz muito fresca. 25.3.06
NUNCA E' TARDE PARA APRENDER
Henry Hitchings, Defining the World (The Extraordinary Story of Dr. Johnson's Dictionary) Johnson iniciou o seu dicionário empregando seis ajudantes, e enchendo a sua casa de mesas onde começou a colocar papéis e livros. Canibalizou vários dicionários existentes para fazer listas de palavras, mas o grosso do trabalho foi feito ao contrário: dos textos para as definições e citações. Johnson começou a anotar livros e mesmo a rasgar-lhes partes. Os seus amigos que lhe emprestaram várias edições raras arrependeram-se de o fazer tal o estado em que os livros eram devolvidos. Estragados e com notas manuscritas de Johnson. * Isto fez-me lembrar uma anedota. Havia um indivíduo que estava sempre a maçar os amigos com histórias sobre livros. Um dia, os amigos prepararam-lhe uma partida, para a qual arranjaram um actor como cúmplice. Da vez seguinte em que se reuniram todos, o bibliófilo contou mais algumas das suas histórias sobre livros e então o actor disse, falando com um ligeiro sotaque alemão: «Isso faz-me lembrar uma bíblia de uma tia minha da Alemanha. Tem um ar muito antigo e foi feita por um tipo chamado Gu..., Guten...» O bibliófilo deu um pulo e perguntou-lhe «Gutenberg? A sua tia tem uma bíblia de Gutenberg? Eu estou disposto a ir consigo visitar a sua tia, com a viagem paga por mim, para ver se a convenço a vender-ma!» O actor deu também um pulo da cadeira, mas voltou a sentar-se e comentou: «Não vale a pena! Aquilo está em muito mau estado. Um gajo chamado Martinho Lutero encheu-a de sarrabiscos.» LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (25 de Março de 2006) __________________________ Discute-se (USA Today) o iPod - é um "work enhancer" ou um obstáculo para o trabalho? No mesmo USA Today, um jornal mais popular do que os chamados de "referência", mas muito inovador graficamente, discutem-se coisas sérias e trivialidades, embora, observando com mais atenção, se veja que aquilo que nos parece trivial tem sentido para um país como os EUA. Exemplos de artigos "sérios": casamento de homossexuais e diferentes critérios de legalidade, aumento da participação política dos muçulmanos americanos depois do 11 de Setembro. Nos triviais, o que é que faz um "perfeito aeroporto": música ao vivo, "rocking chairs", galerias de arte, carregadores para "laptops", lojas de conveniência. Delírios dos ricos? Numa nação em que se voa com muita frequência e em que tomar aviões em aeroportos é habitual, aeroportos onde se passa cada vez mais tempo devido às medidas de segurança, o artigo tem sentido e apela a uma sociedade de consumo, a favor dos seus consumidores. Também quero aeroportos assim. (Obrigado a a. pelos acentos.) 24.3.06
NUNCA E' TARDE PARA APRENDER
Henry Hitchings, Defining the World (The Extraordinary Story of Dr. Johnson's Dictionary) Antes de receber a encomenda para o seu Dicionário, o Dr. Jonhson arranjou trabalho a catalogar uma biblioteca que um livreiro tinha comprado, com cerca de 50000 volumes. Parece que Johnson gastou mais tempo a ler os livros do que a catalogá-los, mas a necessidade de «dar ordem» ajudou-o a pensar nas «tecnologias de informação» que usou no seu dicionário. Um dos aspectos mais interessantes do seculo XVIII é que a obsessão pela ordem do mundo, das coisas, não tinha origem num ponto de vista conservador e tradicional, e, bem pelo contrário, gerava-se numa vontade de encontrar e perceber uma ordem nao metafísica do real. Nessa pulsão, livreiros, coleccionadores e bibliófilos, ao impulsionarem uma«ordem» para os livros (e com Johnson uma «ordem» para as palavras) construíam um microcosmos do mundo. A Biblioteca, como Borges a descreveu. (Numa terra sem acentos, com ajuda de Jose' Carlos Santos para os acentos...)
IMAGINACAO CRIADORA
Nos jornais e nas televisoes assiste-se a uma das mais absurdas pole'micas que ja' vi: devem os executivos das empresas reunir-se nos clubes de strip ou nao? Como de costume na Ame'rica, houve mulheres que se queixaram de que se sentiam "incomodadas" nos ditos clubes, o que me parece razoa'vel. Mas na pole'mica aparecem os mais fabulosos argumentos: que ir a um club de strip com os clientes e' a mesma coisa que ir a um jogo de basebol, que tambe'm ha' clubes de strip para mulheres, etc., etc. Como o "debate" esta' em pleno vapor, vai-se ver como evolui. (Numa terra sem acentos...)
TELEVISOES
Sem som e correndo dezenas e dezenas de canais nao e dificil distinguir os que sao em ingles dos espanhois: nos canais hispanicos, as apresentadoras, as entrevistadas, toda a gente do sexo feminino tem menos roupa. E nao e por causa do tempo, porque os canais sao regionalizados, mesmo sitio, temperaturas de 0 a 5 graus, mas menos roupa. Nao deve ser nostalgia do sol. (Numa terra sem acentos...) 23.3.06
POR OUTRO LADO
abro a televisao e aparece-me o inevitavel Geraldo Rivera. A explicar que a General Motors se estava a afundar talvez definitivamente. (Numa terra sem acentos...)
BIZARRO
dar uma pequena entrevista a uma radio portuguesa, que me pergunta sobre o "modelo social europeu", num Starbucks Cafe, rodeado de jovens coreanos a trabalhar. Certamente no primeiro emprego, certamente num emprego precario, certamente tudo. Mas a ganhar dinheiro, certamente pouco, mas algum. (Numa terra sem acentos...)
EM QUALQUER SITIO, EM QUALQUER LUGAR
o melhor guia e sempre o Fodors. Nunca me enganou. (Mesmo numa terra sem acentos...)
PELA PRIMEIRA VEZ
uma longa viagem com um iPod video. Vi varios episodios do Rocketboom, e alguns desenhos animados das Merrie Melodies (entre os quais o classico "The early bird catches the worm"), ouvi Verdi e Mozart. As viagens de aviao mudaram. (Numa terra sem acentos...) 21.3.06
JUDEU ERRANTE
Mais uma corrida, mais uma viagem. CORREIO Para que não se perca correio, pedia-vos que usassem apenas o endereço do Gmail que está no Abrupto.
EARLY MORNING BLOS 742
Possessions are Nine Points of Conversation Some people, and it doesn't matter whether they are paupers or millionaires, Think that anything they have is the best in the world just because it is theirs. If they happen to own a 1921 jalopy, They look at their neighbor's new de luxe convertible like the wearer of a 57th Street gown at a 14th Street copy. If their seventeen-year-old child is still in the third grade they sneer at the graduation of the seventeen-year-old children of their friends, Claiming that prodigies always come to bad ends, And if their roof leaks, It's because the shingles are antiques. Other people, and if doesn't matter if they are Scandinavians or Celts, Think that anything is better than theirs just because it belongs to somebody else. If you congratulate them when their blue-blooded Doberman pinscher wins the obedience championship, they look at you like a martyr, And say that the garbage man's little Rover is really infinitely smarter; And if they smoke fifteen-cent cigars they are sure somebody else gets better cigars for a dime. And if they take a trip to Paris they are sure their friends who went to Old Orchard had a better time. Yes, they look on their neighbor's ox and ass with covetousness and their own ox and ass with abhorrence, And if they are wives they want their husband to be like Florence's Freddie, and if they are husbands they want their wives to be like Freddie's Florence. I think that comparisons are truly odious, I do not approve of this constant proud or envious to-do; And furthermore, dear friends, I think that you and yours are delightful and I also think that me and mine are delightful too. (Ogden Nash) * Bom dia! 20.3.06
LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (20 de Março de 2006) __________________________ De Tiago Viana: "(...) decidi relatar-lhe um caso que ouvi pela segunda vez ontem no "Jornal da Tarde". Dizia o repórter que "devido ao problema do aquecimento global, corremos o risco de ficar sem Pólo Norte". É pena ninguém informar este senhor que o pólo norte é um ponto a partir do qual se definem as coordenadas de latitude e longitude e não pode, portanto, "desaparecer". Pode o gelo desaparecer, pode acontecer tudo e mais qualquer coisa mas o pólo norte esse perdurará." * No Village Voice, The Irresistible Banality of Same-Sex Marriage. * A arte da conversa e a sua evolução: Are We Having a Conversation Yet? An Art Form Evolves no New York Times. O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: GRIPE DAS AVES Nunca percebi porque é que o Governo não faz uso dos meios que tem ao seu dispor, nomeadamente em alturas devidas e como forma de prevenir certos males. Por exemplo, agora, perante a ameaça da gripe das aves - a qual, mais cedo ou mais tarde, chegará a Portugal - porque é que não se divulgam em "prime time" os sintomas da doença entre os animais, assim como, num segundo momento, entre as pessoas? Motivou-me esta pergunta o facto de ter lido num jornal que a entidade competente na matéria começou a receber telefonemas por tudo e por nada, demonstrando que as pessoas não sabem o que aí vem nem como se manifesta. Ora, parte fundamental dos mecanismos de prevenção (e organização da própria sociedade, numa fase posterior de instalação da provável pandemia) é o conhecimento que a população tem do fenómeno. Para além de células de crise e afins, o Governo devia, pois, transmitir informação à população, de forma simples e directa, que ajudasse a mesma a saber lidar com o problema. Essa é parte da sua missão num país civilizado. (Rui Esperança) RETRATOS DO TRABALHO EM TIMOR-LESTE Metido no pântano até aos sovacos, este homem todos os dias apanha “canco” (uma planta que vive na água estagnada com a qual se faz salada) aqui em Caicóli, Díli. Depois vai vendê-lo no mercado aos molhinhos a cinco centavos (5 cêntimos de dólar) cada um. Se aparecer um comprador malai (estrangeiro) o homem poderá tentar vender o mesmo molhinho por 25 centavos (uma moeda de ¼ de dólar), o que motivará protestos indignados do malai. Mais tarde, sentado no ar condicionado do bar do Hotel Timor, enquanto bebe um chá que custa 2 dólares, o mesmo malai comentará com os colegas como os timorenses são “uns trafulhas que querem é enganar os malais”. Entretanto, o timorense continua no pântano. (João Paulo T. Esperança)
EARLY MORNING BLOGS 741
Gato Que fazes por aqui, ó gato? Que ambiguidade vens explorar? Senhor de ti, avanças, cauto, meio agastado e sempre a disfarçar o que afinal não tens e eu te empresto, ó gato, pesadelo lento e lesto, fofo no pêlo, frio no olhar! De que obscura força és a morada? Qual o crime de que foste testemunha? Que deus te deu a repentina unha que rubrica esta mão, aquela cara? Gato, cúmplice de um medo ainda sem palavras, sem enredos, quem somos nós, teus donos ou teus servos? (Alexandre O'Neill) * Bom dia! 19.3.06
NUNCA É TARDE PARA APRENDER
Uma das operações mais célebres da guerrilha cretense sob comando britânico foi o rapto e envio para o Cairo do General Kreipe, o comandante das forças alemãs em Creta. Quando o General prisioneiro subia o Monte Ida e observou a enorme beleza do lugar, disse alto o verso da ode de Horácio: “Vides ut alta stet nive candidum/ Soracte” ("Vejam como resplandece no meio da funda neve / Soracte."), para ouvir logo a seguir "... nec iam sustineant onus silvae laborantes geluque fluminaque constiterint acuto. Dissolve frigus ligna super foco large reponens atque benignius deprome quadrimium Sabina, o Thaliarche, merum diota." O homem que completara o poema era Patrick Leigh Fermor, um dos comandantes operacionais britânicos do SOE que chefiava as operações militares na ilha, habitualmente vestido de pastor. Este mundo já acabou. * A propósito desta história, não sei se já leu o relato dela feito pelo companheiro inglês (os outros eram guerrilheiros cretenses) de Patrick Leigh-Fermor na operação, W. Stanley Moss. O livro chama-se Ill Met by Moonlight e lê-se como um romance (há também um filme, com Dirk Bogarde, mas nunca o vi). Num registo completamente diferente, vale a pena ler um livro do próprio Patrick Leigh-Fermor, chamado A Time of Gifts, que é o relato da sua viagem a pé, aos 17 anos (dezassete!), desde a Holanda a Constantinopla. (O extraordinário não é especialmente um miúdo de 17 anos pôr-se à estrada sozinho numa viagem daquelas; são as razões que, aos 17 anos, o levaram a fazê-lo, e a subtileza e a erudição do que escreveu depois). Se é verdade que este mundo já acabou, gente desta nem se fala. BIBLIOFILIA: MAIS LIVROS ENTRADOS Michael Cart, In the Stacks: Short Stories about Libraries and Librarians
Gore Vidal, Sexually Speaking: Collected Sex Writings Henry Hitchings, Defining the World (The Extraordinary Story of Dr. Johnson's Dictionary) PORTO HOJE "NA BOA"
Há minutos, no Porto. Tempos cinzentos, mas sempre ´na boa'. (Gil Passos Coelho) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (19 de Março de 2006) __________________________ Um filme histórico de 1972 sobre os primeiros passos dos "networking computers", à ARPAnet e à Internet. EARLY MORNING BLOGS 740 TO THE THAWING WIND Come with rain, O loud Southwester! Bring the singer, bring the nester; Give the buried flower a dream; Make the settled snowbank steam; Find the brown beneath the white; But whate'er you do tonight, Bathe my window, make it flow, Melt it as the ice will go; Melt the glass and leave the sticks Like a hermit's crucifix; Burst into my narrow stall; Swing the picture on the wall; Run the rattling pages o'er; Scatter poems on the floor; Turn the poet out of door. (Robert Frost) * Bom dia! 18.3.06
PORTO HOJE, À ESPERA DE CHUVA
Vem chuva. (O Porto-agora mesmo). (Gil Passos Coelho)
NUNCA É TARDE PARA APRENDER
Um dos aspectos mais memóráveis da resistência que os ingleses organizaram em Creta, depois de terem sido batidos pela invasão aerotransportada alemã, foi o apoio sem falhas da população da ilha, que sofreu por isso duríssimas represálias dos alemães. Uma meia dúzia de oficiais ingleses do SOE e dos serviços secretos, passeavam-se por Creta, disfarçados de improváveis cretenses, louros e rosados, sem que os populares, que sabiam bem quem eles eram, alguma vez os tenham denunciado. Um dos erros de etiqueta que cometiam era enganarem-se na prioridade das saudações com quem encontravam , quem andava é que devia saudar em primeiro lugar, o que levava a ouvirem em resposta coisas do género: "bom dia, que regresse bem à sua terra". O clandestino inglês devia engolir em seco quanto à qualidade do seu disfarce, e agradecer aos velhos deuses do Monte Ida pelo ódio dos cretenses aos alemães. COISAS DA SÁBADO: MILOSEVIC Milosevic morreu numa cela limpa e confortável, espartana é certo, como é suposto ser uma cela, mas aquecida e dotada do mínimo indispensável para se viver e trabalhar intelectualmente. Na cela, predominava o aço e o betão, os sinais da dureza da prisão, da sua solidez impessoal para que os que entram não possam sair.Esta realidade da cela holandesa dificilmente poderia ter maior contraste com o mundo de Milosevic. No seu apogeu do poder, ele conheceu o brilho já um pouco degradado do fausto de Tito, que gostava de dourados e luxos, e que transformou os lugares do poder, muitos herdados da nobreza da periferia do império austro-húngaro, em palácios para a nomenklatura comunista. Milosevic, na sua dedicada carreira de funcionário, conhecia também o outro lado da paisagem do comunismo, a péssima qualidade das habitações, a má manutenção de tudo, as paredes escalavradas, as cortinas escurecidas, o cheiro a carvão e gasolina, o desleixo quase institucionalizado de tudo que não fosse bem de consumo. Esta era a sua paisagem natural, não a solidez capitalista da cela de Haia. Milosevic fez o trajecto do Partido Comunista para o nacionalismo, como muitos outros antigos dirigentes comunistas, mas uma coisa é ser-se nacionalista na Ásia Central, outra nos Balcãs. Nos Balcãs todas as misturas explosivas da história europeia estão presentes, e a memória dos homens é mais longa. Os sérvios, mais do que qualquer outro dos “povos” dos Balcãs, sentem-se vítimas de uma conspiração internacional, que os aponta sempre como os principais culpados de tudo o que aconteceu desde o desmembramento da Jugoslávia. Tem mais razão do que se pensa; porque motivo o croata Tudjman ou o bósnio muçulmano Itzebegovic, tão ferozes no seu nacionalismo, nunca foram perseguidos? A maior limpeza “étnica” durante a guerra atingiu os próprios sérvios, expulsos da Krajina pelos croatas, mas só se ouve falar dos bósnios e dos albaneses do Kossovo. Duplicidades. Por tudo isto, o corpo de Milosevic pode ser agora atirado para uma terra alheia (*) – embora Moscovo não seja terra hostil – mas acabará, como dizia uma velha que colocava uma ortodoxa vela num memorial de Belgrado, por regressar à sua Sérvia como um herói nacional. (*) Posteriormente a esta nota ter sido escrita, o corpo foi autorizado a ser enterrado na Sérvia. COISAS COMPLICADAS
Mario Giacomelli
EARLY MORNING BLOGS 739
M. Degas Teaches Art & Science At Durfee Intermediate School--Detroit, 1942 He made a line on the blackboard, one bold stroke from right to left diagonally downward and stood back to ask, looking as always at no one in particular, "What have I done?" From the back of the room Freddie shouted, "You've broken a piece of chalk." M. Degas did not smile. "What have I done?" he repeated. The most intellectual students looked down to study their desks except for Gertrude Bimmler, who raised her hand before she spoke. "M. Degas, you have created the hypotenuse of an isosceles triangle." Degas mused. Everyone knew that Gertrude could not be incorrect. "It is possible," Louis Warshowsky added precisely, "that you have begun to represent the roof of a barn." I remember that it was exactly twenty minutes past eleven, and I thought at worst this would go on another forty minutes. It was early April, the snow had all but melted on the playgrounds, the elms and maples bordering the cracked walks shivered in the new winds, and I believed that before I knew it I'd be swaggering to the candy store for a Milky Way. M. Degas pursed his lips, and the room stilled until the long hand of the clock moved to twenty one as though in complicity with Gertrude, who added confidently, "You've begun to separate the dark from the dark." I looked back for help, but now the trees bucked and quaked, and I knew this could go on forever. (Philip Levine) * Bom dia! 17.3.06
VALE A PENA? (Actualizado) Vale a pena corrigir o jornalismo péssimo que se faz em Portugal? Verdadeiramente acho que não vale a pena. Então em vésperas de um Congresso do PSD em que os jornais, rádios e televisões, precisam de afirmações bombásticas, tudo serve. Soube agora pelo noticiário da SIC Notícias, que pedi a "demissão de Marques Mendes". Nem mais, nem menos. De facto, não adianta: nunca defendi tal coisa. O que disse na Quadratura do Círculo, e apenas aí, foi que, se as propostas de revisão estatutárias de Mendes não fossem aprovadas, ele ficaria numa posição tão frágil que mais valia demitir-se. Na maneira como as coisas estão há-de aparecer sempre algum jornalista a dizer que é a mesma coisa, quando não é. Não, não vale a pena. * senão não fazia mais nada... * Quando a “deixa” sem comentário de enquadramento apareceu posteriormente, percebi logo que seria o trampolim para o que efectivamente aconteceu : desvirtuar a verdade para ter a “cacha do dia”. Não começou hoje nem vai acabar amanhã. Ter ou não ter honestidade intelectual não faz parte das preocupações de muitos “ ansiosos primários” de diferentes sectores da nossa sociedade, incluindo o jornalismo. Não são a maioria, ou antes, não subsistem enquanto discurso dominante a longo prazo, mas no jornalismo são mais notórios porque em público exercem a que deveria ser a sua profissão. Analisando friamente, muitos “transmissores de notícias” do nosso país não têm como objectivo ser jornalistas, mas sim ser “paparazzis” do quotidiano, procurando notoriedade efémera a qualquer custo, (en)cobertos pela responsabilidade de editores que, numa visão prosaica, quando os “mandam” reportar, efectivamente os mandam ladrar e morder para que a notícia não seja o que a pessoa diz mas sim a marca da mordidela na canela. RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL Arrumação de uma sala do Museu Nacional de História Natural (MNHN) da Universidade de Lisboa (antiga Faculdade de Ciências). Depois do incêndio de 1978, os antigos espaços da Faculdade de Ciências têm vindo a ser recuperados e transformados em salas de exposição dedicadas às ciências naturais. Este tem sido um esforço continuado no tempo dadas as dificuldades em obter financiamentos. Esta fotografia retrata a difícil tarefa de transportar pesados armários metálicos num edifício antigo sem elevadores. (João Cascalho) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (17 de Março de 2006) __________________________ No New York Times, In the Age of the Overamplified, a Resurgence for the Humble Lecture. * * No sítio do Dicionário de Oxford há uma secção chamada Ask the experts onde os especialistas respondem a perguntas técnicas ou simplesmente curiosas. Por exemplo, qual a palavra inglesa mais longa? Pneumonoultramicroscopicsilicovolcanoconiosis, uma doença pulmonar. A este sítio aplica-se bem um dos motes do Dicionário, "passionate about language". AR PURO
Feodor Vasilyev
EARLY MORNING BLOGS 738
(Me up at does) Me up at does out of the floor quietly Stare a poisoned mouse still who alive is asking What have i done that You wouldn't have (e.e. cummings) * Bom dia! 16.3.06
David Kline and Dan Burstein, Blog! How the Newest Media Revolution is Changing Politics, Business and Culture Simon Schama,The Embarrassment of Riches: An Interpretation of Dutch Culture in the Golden Age Darren Harris-Fain, Understanding Contemporary American Science Fiction: The Age Of Maturity, 1970-2000 (Understanding Contemporary American Literature), University of South Carolina Press CONGRESSO DO PSD: DILEMAS E PERPLEXIDADES A poucos dias da sua realização, o congresso do PSD suscita uma escassa atenção. Os jornalistas nas redacções preparam as suas malas e bagagens porque sabem que qualquer congresso do PSD tem elementos de psicodrama excelentes na televisão e que servem para preencher a pasmaceira em que o país parece envolvido após a inquietação eleitoral. Mas a opinião pública, as pessoas que têm um interesse cívico sobre a vida político-partidária, olha com indiferença para o PSD e com comiseração para aquela pequena efervescência dos habituais que têm sempre, em vésperas do congresso, uma rara oportunidade para ser entrevistados. Este é um sinal muito preocupante do estado do partido. Pode sempre argumentar-se que tal é natural para um partido de oposição, que veio de uma importante derrota nas legislativas e que está frente a três anos de oposição desertificadora, com uma liderança contestada, que muitos consideram frágil, e pouco entusiasmante. Num país em que quem está na mó de baixo leva sempre em triplicado, a comunicação social ajuda à festa, tratando com severidade o PSD, enquanto fecha aos olhos a muitas aleivosias do PS e do Governo. Tudo isso pode ser verdade, mas convém também lembrar que o PSD há pouco mais de um ano ainda estava no governo e, já com a actual liderança, ganhou duas eleições (autárquicas e presidenciais) e que foi do seu seio que saíram o actual presidente da Comissão Europeia e o Presidente da República. A especial conjuntura em que se encontra o PSD mostra o preço altíssimo que se pode pagar quando se deixa levar a instituição-partido a degradar-se até ao limite. No PSD, o processo começou com Cavaco Silva, mas manteve-se ininterrupto desde então, com a honrosa excepção das tentativas Marcelo-Rio da "refiliação", aliás prontamente goradas. A tese que se tornou prevalecente, quase um truísmo, é a de que o partido não interessa para nada, as políticas fazem-se a partir de lideranças fortes ou a partir da distribuição de lugares com origem na governação e que o resto é quase uma perturbação que se pretende sempre bem longe, nos fundos da casa, na cave, de preferência. De vez em quando lá vinha do alto alguém pôr ordem, mas a cave era deixada em autogestão. O problema foi quando os andares superiores ficaram vazios e os habitantes da cave começaram a subir os andares todos e a torná-los desconfortáveis para os poucos que ainda os habitavam. Esta visão ignorou duas coisas que hoje, pela vantagem de podermos olhar para trás, percebemos. Uma, a que deixando os mecanismos do partido apenas a funcionar para o poder local, "autarciza-se" o partido, que fica dependente de mecanismos em que o caciquismo se acentua cada vez mais. Cavaco Silva, centrando no Governo a orientação política geral, cortou a relação com os órgãos superiores do partido que perderam papel na condução do processo político. É verdade que esta tendência se foi agravando à medida que as fugas de informação tornavam os órgãos colegiais menos seguros para decisões delicadas. Depois, é cada vez mais forte dentro do partido a mecânica da carreira e do emprego, moldando-se as estruturas às expectativas dos cargos disponíveis quer por eleição, quer por nomeação. O partido perdeu cada vez mais a sua relação com a sociedade civil, fechou-se aos melhores, promoveu pelo sindicato de voto e não pelo mérito. Já várias vezes insisti no facto de que, entregando o nosso sistema constitucional um número significativo de poderes aos partidos políticos e o monopólio da representação parlamentar, não se pode ser indiferente à qualidade da democracia interna desses partidos, aos seus mecanismos de promoção e carreira, aos efeitos perversos da corrupção, e a todas as manifestações oligárquicas do seu funcionamento. O menosprezo pelo partido paga-se ainda mais caro quando se está na oposição, quando não há as prebendas, as benesses e o poder da governação. Nessa altura percebe-se melhor a inadequação do instrumento à função. Se um desses instrumentos fundamentais de fazer política, o grupo parlamentar, já for ele próprio um retrato da degradação partidária, com o incremento de intriga que parece povoar os Passos Perdidos como uma maldição antiga, então não se tem quase nada. Penso que Marques Mendes tem aguda consciência desta situação, mas também poucos instrumentos para a mudar. Porém, poucos não significam nenhuns. No congresso, ele pode obter a chave para um rápido reforço da sua legitimidade interna concorrendo a directas a muito curto prazo (seria um erro adiá-las, devia até prever-se fazê-las o mais breve possível), e nessas eleições apresentar uma comissão política que possa não só aconselhar com qualidade, mas servir como interlocutor para fora e não para dentro. A oportunidade, caso passe a sua proposta, de eleger o líder e a comissão política num só acto, acabando com as tendências federativas que querem diluir o poder e a homogeneidade dos órgãos de direcção, obriga-o a escolher fora do seu círculo de amigos e fora de negociações eleitorais. A institucionalização de órgãos mais especializados, como é o caso do conselho estratégico, existente nas suas propostas, permite-lhe também dar uma outra legitimidade partidária a eventuais porta-vozes de políticas sectoriais, com credibilidade na sociedade. Tudo isto pode ser conseguido, mas exige de Marques Mendes um quase permanente tudo ou nada, uma actuação no fio da navalha, a única que dá poder em vez de o tirar. A não ser assim, não é difícil antever dois caminhos contraditórios para o congresso do PSD, nenhum muito entusiasmante. Um, um congresso sem dramas, relativamente pacífico (tem mesmo de ser relativamente...), com aprovação das propostas sem grandes sobressaltos, o que só será possível por omissão e reserva mental. O segundo, bastante mais provável, é um congresso tumultuoso, cheio de voltas e reviravoltas, de declarações cínicas e inuendos, mas centrado em querelas procedimentais. Como para mudanças estatutárias é necessária uma maioria qualificada, a probabilidade de saírem do congresso soluções híbridas gerando a ingovernabilidade do partido é considerável. Quanto ao lugar de Marques Mendes, ninguém quer o lugar dele... para já. Talvez aqui a honrosa excepção seja Menezes, que deve querer tudo e já, e pelo menos não tem hipocrisia nesse objectivo, nem reserva mental. Fora disso, todos querem que ele lá fique, mas enfraquecido o bastante para não se afirmar, mantendo a instituição em grande parte em autogestão pelas distritais e pelos autarcas, sem liderança política, nem mudanças nas primeiras linhas que criem a tensão do mérito. Tenho para mim que este congresso só vale alguma coisa se Marques Mendes actuar com intransigência, tentando mudar até ao limite do possível. Ele nada tem a perder. (No Público de hoje.)
NUNCA É TARDE PARA APRENDER
Há poucos limites para a crueldade da guerra, e poucos têm a ver com o direito. Na II Guerra Mundial ninguém aplicou a Convenção de Genebra como devia, embora a sua existência tivessse impedido a morte ou a tortura de muitos soldados, porque muitos oficiais do Eixo e dos Aliados a respeitavam e faziam respeitar. Apesar de tudo, apesar de tudo, no essencial as suas medidas foram aplicadas. Uma notória excepção foi o combate em Creta, a inédita invasão por tropas aerotransportadas, iniciada pelo maior ataque de paraquedistas da história, contra a ilha onde se tinham refugiado os sobreviventes da força expedicionária britânica que viera da Grécia. Os soldados e oficiais ingleses, neo-zelandeses, australianos, maoris, que constituiam o grosso das tropas em Creta, mataram paraquedistas que se rendiam, mataram feridos, executaram oficiais e soldados. No mar, os barcos ingleses afundaram pequenos barcos com tropas que tinham hasteado a bandeira branca e teriam (o único facto controverso, os outros não são) deitado cargas de profundidade para matar por concussão os soldados que estavam na água. Os pilotos alemães responderam á letra metralhando homens na água e um navio hospital, mas foi do lado dos aliados que se deram as maiores violações às leis da guerra. RETRATOS DO TRABALHO EM LISBOA, PORTUGAL
(R.) LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (16 de Março de 2006) __________________________ Grande Google! Mais um e extra-terrestre: o Google Mars. * Um homem valente, um colunista valente: Art Buchwald, uma das glórias americanas do género, está a morrer. Recusou a hemodiálise e espera a morte... escrevendo a sua coluna sobre a "ceifeira": "Ordinarily, people don't talk about death. Yet it's very much a part of our lives. I'm in a hospice and seem to have a lot of time to talk about it."... DESPERTAR
Porto de hoje às 8:00. (Gil MD Passos Coelho) EARLY MORNING BLOGS 737 185 "Faith" is a fine invention When Gentlemen can see— But Microscopes are prudent In an Emergency. (Emily Dickinson) * Bom dia! 15.3.06
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: Aquela mensagem de Helder Machado sobre o acordo com o MIT só traz estranheza a quem se limitou a seguir a assinatura do protocolo pelos media e acabou, como de costume, a receber a notícia que os jornalistas gostariam de transmitir em lugar do facto que de facto ocorreu. Para quem esteve no CCB não há ali nenhum facto estranho. O que alí foi assinado, e ficou bem claro no discurso do responsável do MIT, Philip Clay, foi um protocolo que preve que um grupo de pessoas do MIT façam um levantamento de possibilidades de cooperação em áreas previamente definidas (estas vieram correctamente descritas pelo menos no Público) com instituições ou pessoas durante os próximos 5 meses. Se se verificar haver interesse mútuo a cooperação desenvolver-se-á, caso contrário ficará tudo como dantes... Identica informação é disponibilizada na nota de imprensa do MCTES.HOUVE OU NÃO HOUVE ACORDO COM O MIT E QUE ACORDO? A montanha pariu um rato? Resta saber quem andou a construir a montanha durante umas quantas semanas, entre casos e quezílias, criando a ideiade que o protocolo seria algo de completamente diferente e no final não foi capaz de dizer que se tinha enganado, antes continuou a enganar toda a gente mantendo a ilusão de que o que foi assinado foi algo de muito diferente do que na realidade foi... E não falo no PM ou no Mariana Gago mas sim nos jornalistas presentes... A menos que o problema tenha sido o discurso do Prof Clay ter sido proferido em inglês... Aliás a deixar claro como isto do MIT foi artificialmente empolado pelos media basta ver como um protocolo semelhante com a Universidade de Carnegie Mellon assinado esta sexta feira aqui em Aveiro passou quase inteiramente despercebido. (João AP Coutinho) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "VOU-LHE DAR UMA PICTURE DA SITUAÇÃO" Defronto-me diariamente com a utilização ( crescente ) da língua inglesa nas coisas mais ridículas do dia a dia. Geralmente para substituir vocábulos Portugueses perfeitamente eficazes para o efeito que se pretende. Ora, eu entendo que a língua Portuguesa é um dos nossos maiores patrimónios, capaz de gerar riqueza e postos de trabalho e gostaria de dar algum contributo para contrariar esta tendência. Há dias em reunião, pedi a um cavalheiro que me apresentasse um problema e a resposta foi: “vou-lhe dar uma picture da situação”. (Manuel Pinheiro) * Embora concordando com o teor da mensagem "VOU-LHE DAR UMA PICTURE DA SITUAÇÃO", não posso deixar de assinalar que o seu autor, Manuel Pinheiro, parece sofrer do mal que critica. Por que motivo escreve ele o adjectivo "português" com maiúscula? (Exemplos: "vocábulos Portugueses"; "língua Portuguesa") Trata-se duma regra da língua inglesa, que não faz qualquer sentido em português. Infelizmente, é um erro bastante comum, muito frequente, por exemplo, com o adjectivo "europeu". O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: CAVACO SILVA E A CAMISARIA PITTA Ainda em relação ao post de ontem sobre a "Camisaria Pitta" e Aníbal Cavaco Silva, fui descobrir há minutos, ali na estante, um livro - edição do Jornal "Expresso" com coordenação do seu jornalista Alexandre Coutinho - intitulado "50 Lojas com Histórias", onde a "Camisaria Pitta" está, não por acaso, incluída (sabia que tinha o livro mas, sinceramente, não me lembrava se nele se incluía a loja). Passo a transcrever alguns excertos do texto assinado por por Conceição Antunes, também ela jornalista do "Expresso": "Abriu as portas em 1885 na Rua de S. Julião... mas decorridos quatro anos a elegante camisaria mudaria para a Rua Augusta. Celebrizado pelos seus dotes de camiseiro, o fundador, A. M. Pitta, atraiu desde cedo para o estabelecimento uma clientela seleccionada, formada pela nobreza e a alta sociedade da época, acabando por tornar-se fornecedor da Casa Real. Entre esta ilustre clientela, contava-se a família dos Duques de Bragança, o rei D. Carlos e o seu filho D. Luis" ( aka D. Luis Filipe, acrescento eu). Diz, mais adiante, o actual gerente: "é a camisaria mais antiga da Península Ibérica, com estas características de confeccionar camisas à "mão". Continua o texto: "a camisaria manteve-se na família do seu fundador até 1977, altura em que, no rescaldo do 25 de Abril, passava tempos particularmente difíceis"... "as camisas continuam a ser inteiramente confeccionadas à mão, desde as casas dos botões aos monogramas bordados. Só são utilizados materiais naturais, como botões de madrepérola e linhas cem por cento em algodão". E por aí fora... Em Londres, ostentaria pois, orgulhosamente, um, dois ou três royal warrants, mas em Portugal não conhecemos, nem sabemos cuidar do nosso património. Que diria o Senhor D. Carlos? (João Cília) RETRATOS DO TRABALHO NA ANGOLA COLONIAL
Oficinas de reparação da maquinaria pesada das minas de diamantes, tirada há uns 40 anos (?) (José Luís Pinto de Sá) EARLY MORNING BLOGS 736 Éloge et pouvoir de l'absence Je ne prétends point être là, ni survenir à l'improviste, ni paraître en habits et chair, ni gouverner par le poids visible de ma personne, Ni répondre aux censeurs, de ma voix ; aux rebelles, d'un oeil implacable ; aux ministres fautifs, d'un geste qui suspendrait les têtes à mes ongles. Je règne par l'étonnant pouvoir de l'absence. Mes deux cent soixante-dix palais tramés entre eux de galeries opaques s'emplissent seulement de mes traces alternées. Et des musiques jouent en l'honneur de mon ombre ; des officiers saluent mon siège vide ; mes femmes apprécient mieux l'honneur des nuits où je ne daigne pas. Égal aux Génies qu'on ne peut récuser puisqu'invisibles, — nulle arme ni poison ne saura venir où m'atteindre. (Victor Segalen) * Bom dia! 14.3.06
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A IMPORTÂNCIA DA CAMISARIA PITTA (Um reparo a propósito do post da bloguítica citado no Abrupto) Atenção! A camisaria Pitta foi, durante muitos anos e em conjunto com a "Camisa de Ouro", do Largo do Rato, o nec plus ultra das camisas "por medida", em Lisboa, quando as camisas compradas feitas não eram consideradas de "bom tom". Os clientes passavam de geração em geração, na mesma família, até há relativamente pouco tempo. "Quem era quem" era cliente e até se dizia que era condição necessária (mas não suficiente) para se chegar a ministro (quando ministro tinha outro peso, seja, na "ditadura"). Para o resto do vestuário não seria "tanto assim", mas aqui fica o reparo no que diz respeito às camisas. (João Cília) COISAS SIMPLES
André Kertész EARLY MORNING BLOGS 735 L'Homme et l'Idole de bois Certain Païen chez lui gardait un Dieu de bois, De ces Dieux qui sont sourds, bien qu'ayants des oreilles. Le païen cependant s'en promettait merveilles. Il lui coûtait autant que trois. Ce n'étaient que voeux et qu'offrandes, Sacrifices de boeufs couronnés de guirlandes. Jamais Idole, quel qu'il fût, N'avait eu cuisine si grasse, Sans que pour tout ce culte à son hôte il échût Succession, trésor, gain au jeu, nulle grâce. Bien plus, si pour un sou d'orage en quelque endroit S'amassait d'une ou d'autre sorte, L'homme en avait sa part, et sa bourse en souffrait. La pitance du Dieu n'en était pas moins forte. A la fin, se fâchant de n'en obtenir rien, Il vous prend un levier, met en pièces l'Idole, Le trouve rempli d'or : Quand je t'ai fait du bien, M'as-tu valu, dit-il, seulement une obole ? Va, sors de mon logis : cherche d'autres autels. Tu ressembles aux naturels Malheureux, grossiers et stupides : On n'en peut rien tirer qu'avecque le bâton. Plus je te remplissais, plus mes mains étaient vides : J'ai bien fait de changer de ton. (La Fontaine) * Bom dia! 13.3.06
NUNCA É TARDE PARA APRENDER
Durante a malograda intervenção britânica para apoiar a Grécia face à invasão italiana, os ingleses mandaram na sua força expedicionária um número significativo de oficiais que eram professores de Oxford e Cambridge, ou arqueólogos , especializados na Grécia clássica. Estes académicos deram notáveis e valentes militares, muitos deles nas forças especiais. Havia, no entanto, um pequeno problema: todos falavam ou conheciam o grego clássico e havia cenas divertidíssimas quando tentavam falar com os gregos de hoje. Embora a distância entre o grego clássico e o moderno seja maior, era o equivalente a aparecerem-nos uns paisanos estrangeiros a falar o português das cantigas de escárnio e mal-dizer. * Li em tempos, salvo erro num número muito antigo das "Selecções do Reader's Digest", que num desses diálogos um dos tais académicos, pretendendo inteirar-se da hora de partida de um barco que fazia a ligação com uma das ilhas, ter-se-á dirigido a uns marinheiros no porto, em termos que, traduzidos, dariam mais ou menos isto: BIBLIOTECAS A biblioteca da Esnoga, a sinagoga portuguesa de Amsterdam, chamada Ets Haim (A Árvore da Vida) foi obra desta muito especial comunidade de portugueses que Portugal expulsou. A fotografia retrata em 1916 dois dos seus bibliotecários a trabalhar, David Montezinos e Jacob da Silva Rosa. Este último, um estudioso da cultura judaico-portuguesa, morreu em 1943 num campo de concentração nazi. Os nazis roubaram também a biblioteca para fazer parte do espólio do Instituto Alfred Rosemberg, mas foi recuperada depois da guerra. * Na verdade, os nazis levaram a totalidade dos livros da biblioteca para eventualmente fazerem parte do espólio do Instituto Alfred Rosemberg. Os livros foram levados para uma estação de comboio na Alemanha, onde ficaram armazenados durante o resto do perído da guerra. Até à chegada das tropas norte-americanas quando se aperceberam do conteúdo do armazém e decidiram reenviá-los de volta a Amesterdão. Não sem que antes disso alguns militares alemães (por certo, os mais cultos que lá estavam) tivessem metido ao bolso algumas das obras literárias mais importantes, como meio de assegurarem a sua sobrevivência nos tempos mais próximos. Alguns desses livros apareceram em leilões da Christie's nos anos '50, outros foram vendidos a preços modestos em alfarrabistas de Madrid. Felizmente, não os levaram todos. E por isso podemos apreciar a produção literária e filosófica da Nação Portugueza, sobretudo de Miguel de Barrios. E meditar sobre os debates das suas Academias (de los Floridos, de los Sitibundos). LIVRARIAS
Um saco de plástico da Waterstone's.
NUNCA É TARDE PARA APRENDER
Nick Freeth, Made in America: From Levi's to Barbie to Google, MBI Se os meninos chegam de Paris numa cegonha, a sociedade de consumo chegou da América em duzentas cegonhas. Esta lista comentada de 200 produtos "made in America" mostra a fabulosa criatividade e génio de engenharia, de design industrial e talento comercial dos EUA. Muitos dos produtos nunca saíram da América, tornando-se ícones nacionais, como os autocarros Greyhound, automóveis, canas de pesca, barcos, bicicletas, rações de combate, armas, ferramentas e Mr. Potato Head. Mas a maioria está por todo o lado, nas nossas casas, nas nossas ruas, nas nossas cabeças (Hollywwood). É o caso da Alka-Seltzer, do iPod, das lâmpadas do senhor Edison, dos frigoríficos filhos do Frigidaire, dos aspiradores filhos do Hoover, do Monopólio, da Barbie, do Google, das notas Post-It, da Coca-Cola, dos carrinhos de supermercado, do ketchup,dos óculos Ray-Ban, das roupas Ralph Lauren e Clavin Klein, do Windows, da fita adesiva, etc., etc. Duas características são fundamentais nesta lista: muitos dos produtos começaram em pequenas empresas e subiram a pulso (as excepções, como as meias de nylon, vieram de grandes empresas químicas como a DuPont); e a maioria melhora as nossas condições de vida e de trabalho. LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (13 de Março de 2006) __________________________ No Harvard Magazine uma análise sobre a perda de importância das "humanidades": "The only thing most teachers and students of the humanities agree on, it often seems, is that these are troubled times for their field. For a whole variety of reasons—social, intellectual, and technological—the humanities have been losing their confident position at the core of the university’s mission. This represents an important turning-point, not just for education, but for our culture as a whole. Ever since the Renaissance, the humanities have defined what it means to be an educated person. The very word comes from the Latin name of the first modern, secular curriculum, the studia humanitatis, invented in fourteenth-century Italy as a rival to traditional university subjects like theology, medicine, and law." * Fukuyama e Bernard-Henri Lévy discutem Las Vegas no The American Interest. * No Bloguitica:"A «classe média», oriunda de Boliqueime, teve a ousadia de ascender a Belém. Ontem, hoje e amanhã, a afronta nunca será perdoada. Como é que Aníbal Cavaco Silva ousa continuar a vestir-se na Camisaria Pitta, na Rua Augusta? E Maria Cavaco Silva não sabe que, para ser «aceite», tem de arranjar um estilista que seja conhecido em Lisboa e no Porto?" * No Abrigo da Pastora: "Até que ponto não se lê apenas o que se quer ler? Que espaço se dá à surpresa na leitura? Que hipóteses à corrosão de estereótipos? Será uma questão de tempo ou dinheiro o que provoca a compartimentação das ideias a que hoje se assiste? A rejeição da empatia pelos pontos de vista que são os do outro? E será esta uma vantagem competitiva?"
EARLY MORNING BLOGS 734
"No tempo de Noé sucedeu o dilúvio que cobriu e alagou o Mundo, e de todos os animais quais livraram melhor? Dos leões escaparam dois, leão e leoa, e assim dos outros animais da terra; das águias escaparam duas, fêmea e macho, e assim das outras aves. E dos peixes? Todos escaparam, antes não só escaparam todos, mas ficaram muito mais largos que dantes, porque a terra e o mar tudo era mar. Pois se morreram naquele universal castigo todos os animais da terra e todas as aves, porque mão morreram também os peixes? Sabeis porquê? Diz Santo Ambrósio: porque os outros animais, como mais domésticos ou mais vizinhos, tinham mais comunicação com os homens, os peixes viviam longe e retirados deles. Facilmente pudera Deus fazer que as águas fossem venenosas e matassem todos os peixes, assim como afogaram todos os outros animais. Bem o experimentais na força daquelas ervas com que, infeccionados os poços e lagos, a mesma água vos mata; mas como o dilúvio era um castigo universal que Deus dava aos homens por seus pecados, e ao Mundo pelos pecados dos homens, foi altíssima providência da divina Justiça que nele houvesse esta diversidade ou distinção, para que o mesmo Mundo visse que da companhia dos homens lhe viera todo o mal; e que por isso os animais que viviam mais perto deles, foram também castigados e os que andavam longe ficaram livres." (Padre António Vieira) * Bom dia! 12.3.06
A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA
Hoje, agora, há instantes. Num damasqueiro, perto de mim. LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (12 de Março de 2006) __________________________ Muito do que se escreve nos jornais sobre Milosevic é feito a partir da lógica do vencedor e do medo que têm os europeus quanto ao recrudescimento do nacionalismo, que a queda do Muro de Berlim trouxe para dentro das suas fronteiras. Se se tratasse apenas de condenar as violações de direitos humanos, Putin devia estar no Tribunal Internacional de Haia, pelo que fez na Chechénia. A história será mais benevolente com Milosevic, pelo menos a da Sérvia. * Comentando as roupas da família Cavaco no Público, diz Paula Bobone: "A concepção da imagem não é XPTO, mas achei bem." Eu sempre pensei que as pessoas finas não diziam XPTO. * Eduardo Cintra Torres no Público: "Um ou mais canais disseram que os discursos na cerimónia de posse eram "chatos". A linguagem televisiva já não se coaduna com a transmissão integral de discursos. Como a TV controla a sua emissão, não há discursos transmitidos na íntegra, se esquecermos o episódio inenarrável de Gilberto Madail em directo às oito horas.
RETRATOS SOCIAIS
Já temos também uma Fátima Letícia, um pobre bebé maltratado, mas com um nome da realeza e do jet-set. Segundo as autoridades que decidiram a retirada da criança aos pais e avós, "não se reconhece nem aos pais biológicos nem aos avós maternos competências e idoneidade suficientes para desempenharem de forma responsável, ajustada e protectora os cuidados parentais para com esta menor." Está tudo no nome.
NUNCA É TARDE PARA APRENDER
Nick Sekunda, The Army of Alexander the Great, Osprey, 2004 Retrato de um exército antigo. Durante milénios era uma verdade universal que não se brincava com os exércitos. Agora, na Europa, com excepção do Reino Unido, parece que nos esquecemos. No campo de batalha estava-se diante da morte, mas, atrás do campo de batalha, da vitória ou da derrota, dependia tudo, destruições, violações, tortura, escravidão. Os antigos sabiam isto muito bem. Neste estudo sobre o exército de Alexandre, várias coisas surpreendem o leitor actual. Primeiro, o grau de organização do próprio exército, compreendendo vários tipos de infantaria, de cavalaria ligeira e pesada, de unidades de reconhecimento, e a sua maleabilidade organizacional. Alexandre várias vezes o reorganizou em função do seu comportamento em combate e do tipo de reforços que o iam incorporando. Como todos os grandes generais, como Napoleão, Alexandre promovia os seus oficiais por mérito
EARLY MORNING BLOGS 733
"Peixes! Quanto mais longe dos homens, tanto melhor; trato e familiaridade com eles, Deus vos livre! Se os animais da terra e do ar querem ser seus familiares, façam-no muito embora, que com suas pensões o fazem. Cante-lhes aos homens o rouxinol, mas na sua gaiola; diga-lhes ditos o papagaio, mas na sua cadeia; vá com eles à caça o açor, mas nas suas piozes; faça-lhes bufonarias o bugio, mas no seu cepo; contente-se o cão de lhes roer um osso, mas levado onde não quer pela trela; preze-se o boi de lhe chamarem formoso ou fidalgo, mas com o jugo sobre a cerviz, puxando pelo arado e pelo carro; glorie-se o cavalo de mastigar freios dourados, mas debaixo da vara e da espora; e se os tigres e os leões lhe comem a ração da carne que não caçaram no bosque, sejam presos e encerrados com grades de ferro. E entretanto vós, peixes, longe dos homens e fora dessas cortesanias, vivereis só convosco, sim, mas como peixe na água. De casa e das portas a dentro tendes o exemplo de toda esta verdade, o qual vos quero lembrar, porque há filósofos que dizem que não tendes memória." (Padre António Vieira) * Bom dia! 10.3.06
RETRATOS DO TRABALHO NO MINHO, PORTUGAL
Uma mulher do campo que transporta o milho à cabeça. (Isaac Carrêlo) COISAS DA SÁBADO OS QUE ANDAM POR AÍ Um dos que "andam por aí", Paulo Portas, "regressa" às lides políticas mais activas, porque em bom rigor nunca de lá saiu. Portas é mais frio e calculista do que Santana Lopes, e bastante mais inteligente na gestão da sua carreira, e por isso não cometeu o erro de, de cinco em cinco minutos, chamar a atenção sobre si próprio para dar uma prova de vida. Tem também outras vantagens comparativas, como a de ter um grupo ideológico à sua volta, pessoalmente fiel. O seu regresso não é evidentemente ao comentário político, mas sim à política pura e dura, tendo anunciado, como anunciou, um programa ideológico e político para o seu espaço na SIC. Uma coisa é ter uma agenda política, como Marcelo tem, outra é ter um programa pré-estabelecido de actuação que condiciona a liberdade analítica e o colocará sempre entre o dilema de ser um enfant terrible, e subir as audiências, ou de ter que assumir uma "pose de estado" e baixá-las. OS PROBLEMAS QUE PORTAS NÃO TEM CONSEGUIDO RESOLVER Portas tem sérios problemas que, de há muito tempo, o afligem e que nunca soube resolver. Um é pessoal, e tem a ver com o desgaste irreversível que causou a si próprio com a perda da virgindade entre as proclamações moralistas com que fez a sua carreira justicialista e a sua própria prática pessoal e política. Dificilmente poderá voltar à linguagem da arrogância moral que o "fez", sem continuamente chamar a atenção sobre si próprio e suscitar repúdio generalizado. Esse repúdio, que os seus simpatizantes gostam de dizer que se deve às suas posições clarificadoras de direita, tem muito mais a ver com o facto de ele ter exigido agressivamente aos outros comportamentos que ele próprio nunca praticou. O segundo problema é que Portas, que é apoiado por um grupo que se proclama do liberalismo radical, foi um ministro estatista e proteccionista, anti-liberal como poucos na governação e como ainda há dias o revelou de novo nos seus comentários nos estaleiros de Viana do Castelo. As forças de que Portas dispõe centram-se em primeiro lugar no grupo parlamentar do PP na Assembleia, que é muito hostil à liderança de Ribeiro e Castro, e depois no grupo que anima o blogue Acidental e a revista Atlântico, que com o afastamento de Helena Matos, se assume como uma espécie de prolongamento do Caderno 3 do Independente. Todos estes sectores se proclamam de uma espécie ideológica muito própria do liberalismo, e que aliás pouco tem a ver com a tradição liberal e muito mais com um radicalismo cultural de direita. A utilização do liberalismo como legitimação ideológica entra aqui em choque com o proteccionismo nacionalista, e com o estatismo interventor que presidiu à acção governativa de Portas. Este choque que sempre deu origem a um silêncio incomodado dos seus seguidores, que, críticos do intervencionismo do estado nas empresas, fechavam os olhos ao que Portas fez na área da defesa, naturalmente saudado por socialistas tão execrados como Jorge Sampaio. FAZER UM NOVO PARTIDO? O terceiro problema é estritamente político e Portas também nunca o pode resolver: é que ele não quer ser líder de um pequeno grupo, mas sim de um bloco (ou idealmente de um grande partido da direita) em Portugal e, sem enfraquecer e dividir o PSD, e na actualidade minar o prestígio do Presidente Cavaco, nunca o conseguirá. Portas tentou sempre esse objectivo, usando o Independente, como fundador de um PP agrafado ao CDS, no combate a Cavaco e Durão Barroso e na aproximação a Santana Lopes. Os resultados eleitorais de Fevereiro de 2005 remeteram-no outra vez à condição de líder de um pequeno grupo, com a agravante que a sua margem de manobra no PSD é muito escassa. O único caminho de saída para esta situação era Portas romper com a ficção de um CDS/PP, e caminhar para criar um partido próprio. O momento ideal seria este, porque podia levar consigo um grupo parlamentar próprio, e usar os três anos que sobram até às eleições para se impor. A fragilidade no grupo parlamentar do PSD poderiam também dividi-lo, o que levaria a uma pequena revolução parlamentar, a quase extinguir o CDS fiel a Ribeiro e Castro e a criar uma situação muito difícil ao PSD, mas clarificadora das ambiguidades que resultaram da forma faccional como foram constituídos os grupos parlamentares. É aliás destes grupos parlamentares que vêm os maiores riscos, a prazo, para as lideranças partidárias do CDS e do PSD. Duvido que os comentários políticos na televisão resolvam estes problemas. É até previsível que, passada a agitação inicial da novidade, os agravem. BIBLIOFILIA: NOVOS LIVROS
EARLY MORNING BLOGS 732
Parlez-Vous Français? Caesar, the amplifier voice, announces Crime and reparation. In the barber shop Recumbent men attend, while absently The barber doffs the naked face with cream. Caesar proposes, Caesar promises Pride, justice, and the sun Brilliant and strong on everyone, Speeding one hundred miles an hour across the land: Caesar declares the will. The barber firmly Planes the stubble with a steady hand, While all in barber chairs reclining, In wet white faces, fully understand Good and evil, who is Gentile, weakness and command. And now who enters quietly? Who is this one Shy, pale, and quite abstracted? Who is he? It is the writer merely, with a three-day beard, His tiredness not evident. He wears no tie. And now he hears his enemy and trembles, Resolving, speaks: "Ecoutez! La plupart des hommes Vivent des vies de desespoir silenciuex, Victimes des intentions innombrables. Et ca Cet homme sait bien. Les mots de cette voix sont Des songes et des mensonges. Il prend choix, Il prend la volonte, il porte la fin d'ete. La guerre. Ecoutez-moi! Il porte la mort." He stands there speaking and they laugh to hear Rage and excitement from the foreigner. (Delmore Schwartz ) * Bom dia! 9.3.06
DOIS ESTILOS MUITO DIFERENTES: A WATERSTONE'S VERSUS AMERICAN BOOK CENTER Indicações das secções por andar: uma, provisória, papel impresso em computador plastificado, outra em acrílico negro. RETRATOS DO TRABALHO NO MINHO, PORTUGAL
As escadas e os baldes aguardam o inicio de mais uma vindima. (Isaac Carrêlo) O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: HÁ QUALQUER COISA DE ESTRANHO NESTA HISTÓRIA... Collaboration With Portugal Considered Reuters Article ...Misleading... and Premature By Curt Fischer STAFF REPORTER MIT is considering entering into science and technology cooperation with the nation of Portugal, but has not made any final decisions regarding the issue, said Chancellor Phillip L. Clay PhD ’75. Clay’s stance contrasted with a Reuters report Saturday that said an accord had been signed. “The report is misleading,” Clay said. “There is not an accord,” and the Reuters announcement was premature, he said. Over the next four to five months, MIT faculty will study the possibility of the collaboration before reaching a final decision. Clay emphasized that currently, MIT and Portugal share only mutual interest in exploring possibilities for collaboration. The level of consideration MIT is giving to the pairing with Portugal is not unusual. “We get invitations [for collaborations] every week,” Clay said. MIT first assesses possible areas where collaboration could be mutually beneficial. If sufficient interest arises from the faculty, typically a small team of professors would then meet officials from the foreign entity to flesh out the scope and nature of the collaboration. Professor Daniel Roos ’61 of the Engineering Systems Division will lead MIT’s assessment of possible collaborations with Portugal, Clay said. (Enviado por Helder Machado.) UMA LIVRARIA AMERICANA: QUATRO ANDARES DE IDEIAS
Conhecimento controverso... Cozinhar, ao lado de uma estante de produtos alimentares. Islão e outras religiões, incluindo uma "africana". Manga. New Age, magia, oculto. Investimentos.
O QUE É QUE STALINE SABIA EM 1941? TUDO
Quando, em Junho de 1941, as forças armadas alemãs invadiram a URSS, Staline foi apanhado completamente de surpresa. A sua incapacidade para se preparar, a recusa terminante em aceitar qualquer opinião em sentido contrário aos seus pontos de vista (que os alemães atacariam a Grã-Bretanha e não a URSS), considerando "desinformação" todas as informações que recebia revelando as intenções de Hitler e a preparação intensiva para a invasão, teve vastíssimas consequências em termos de mortos e destruições, tornando a guerra particularmente cruel para o povo soviético. Este livro de David E. Murphy, What Stalin Knew. The Enigma of Barbarossa, editado pela Yale University Press, é o mais detalhado estudo da informação disponível sobre o que "Staline sabia", ou seja, tudo. Nem sequer "quase tudo", mas "tudo". Numa análise só possível com a abertura parcial dos arquivos soviéticos, Murphy, ele próprio um espião qualificado para compreender profissionalmente os documentos a que teve acesso, mostra-se não só o peso imenso do aparelho de segurança e informações soviético, como a qualidade das informações que chegavam a Moscovo. Tudo o que era possível saber sobre a intenção e a preparação da invasão, a "operação Barbarossa", chegava por todo o lado, dos espiões que relatavam às missões soviéticas legais e ilegais do NKVD de Londres, Berlim, Bucareste, Tóquio, dos relatórios das tropas de fronteira, da rede de espionagem ligada aos caminhos de ferro, da intercepção de comunicações, do padrão dos voos de reconhecimento da Luftwaffe. A data e hora precisas da invasão, a identidade das unidades alemãs, a verificação de que os alemães conheciam as debilidades das defesas fronteiriças soviéticas, a actividade de envio de grupos de sabotadores ucranianos e lituanos, tudo, tudo. Este é um dos casos em que uma pessoa individual conta. Staline, ele próprio, recusava-se a aceitar qualquer informação que o contrariava, e perseguia quem o fazia, desconfiava dos seus serviços ao ponto de não querer receber análises mas apenas os relatórios originais dos agentes, e envolveu-se numa correspondência pessoal com Hitler, em cuja palavra confiava. As suas idiossincrasias e o terror que inspirava são mais uma lição contra a falta de eficácia que o medo, como sistema de governo, tem nos seus limites mais absurdos. Mas, por evidente e inequívoca que seja a documentação disponível, ainda hoje na Rússia o sistema político e o sistema de poder defendem Staline, impedindo uma atribuição de responsabilidades a ele e aos seus homens de mão, pela enorme tragédia de 1941. Com um antigo membro do KGB no poder, que coloca muitos dos seus colegas em funções no aparelho de estado, a tendência dominante dos serviços de segurança e informação russos é acantonar-se numa linha de menor responsabilização, a bloquear a história e a fechar os arquivos. Isto torna este livro um excelente livro também para compreender a Rússia de Putin.
SERVIÇO PÚBLICO OBRIGATÓRIO
exigível, absoluto, necessário - que qualquer canal da televisão portuguesa transmita a edição especial do programa Le Droit de Savoir, passado na terça-feira no canal francês TF1, dedicado ao "caso Outreau", a história de pedofilia francesa que resultou em absolvições para todos os acusados e num escândalo sobre o funcionamento da justiça. Documental, rigoroso, testemunhal, dramático, questionando tudo e quase todos, e levantando com uma clareza ímpar problemas que também são nossos. Pelo menos, para já, foram-no para Paulo Pedroso. 6.3.06
PONG E sem caixa do correio habitual, completamente cheia. Por favor usem jppereira@gmail.com, visto que o imperialismo americano dá-me uma caixa de correio maior do que a pt. 5.3.06
EM BREVE
Rembrandt encontra Caravaggio. EM BREVE Waterstone's versus The American Book Center. MAS ANTES DISSO continuo de judeu errante. (Escritos numa terra sem acentos.) SOLIDEZ O nosso lugar no fundo das estatísticas europeias vê-se muito bem. Está na cara de tudo. Está na solidez de tudo. (Escritos numa terra sem acentos.) NEVE Uma neve em grãos, meio granizo , meio neve. Não é "fofa" (onde é que li que há neve assim?), mas granulada, não se desvia muito com o vento. Um sulista observa sempre a neve de forma provinciana. 4.3.06
(Escritos numa terra sem acentos.) DIFERENÇAS Mais mesquitas, mais mesquitas em construção. (Escritos numa terra sem acentos.) AO LONGO DE TUDO Quilómetros de grafiti, ao longo de tudo. Quantas mãos os escrevem, quem passeia por estes locais de difícil acesso, estaleiros, fabricas abandonadas, vedações a cair, locais de lama, aguas suspeitas, bidões amassados. traseiras de tudo, para vir aqui pintar este contínuo de cor, de palavras sem sentido, de desenhos sem curvas, só feitos de ângulos? (Escrito numa terra sem acentos.) A CAMINHO
Neve, corvos, frio, fios, linhas. Campos de neve, névoa, comboios. 2.3.06
O "HOMEM SECRETO" QUE TINHA UMA "GARGANTA FUNDA" Uma das grandes histórias do jornalismo do século XX é a da sucessão de notícias que dois jornalistas do Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, fizeram sobre o caso Watergate e que levou à demissão do Presidente Nixon. Essa cobertura jornalística de investigação, que chegou a ter tratamento hollywoodesco num filme de sucesso, assentava numa personagem-chave conhecida como "Garganta Funda". A "Garganta Funda", que passava informações a Bob Woodward, tornou-se a mais conhecida das fontes do jornalismo contemporâneo, por um lado pela relevância do caso e, por outro, por ter sido um segredo durante mais de trinta anos, que suscitou muita discussão e inspirou toda uma literatura especulativa, "revelando" nomes e propondo teorias que vieram a revelar-se quase todas falsas. Prefigurada na "Garganta Funda" está a relação ambígua e complexa do jornalismo com as suas fontes, que desde os anos setenta assumiu uma centralidade, mesmo uma "dignidade", que não tivera até então. A história encerrou-se como notícia em 2005 quando se soube, trinta e três anos depois, quem era a "Garganta Funda". O livro de Bob Woodward The Secret Man, de que está anunciada uma tradução para português, faz um balanço das relações atribuladas do jornalista com a fonte que lhe deu prestígio e glória, e é um interessante relato para compreender a muito especial relação que está no centro de muito jornalismo político. O "Garganta Funda" era Mark Felt, à data o número dois do FBI, e era difícil encontrar no contexto da época quem estivesse melhor colocado para saber o que se estava a passar na investigação sobre o grupo que fora apanhado a espiar o comité de campanha dos Democratas por conta da Casa Branca de Nixon. Tudo indica que os motivos de Felt para as suas inconfidências jornalísticas eram tudo menos nobres: descontentamento com a sua carreira no FBI, conflitos com o chefe que foi colocado no lugar que entendia ser seu por direito próprio e dificuldade de adaptação à evolução do FBI. Felt é uma personagem antipática, que começa por manter uma relação com Woodward típica de um espião clandestino seguindo as famosas "regras de Moscovo" dos livros de Le Carré, incluindo os célebres encontros nocturnos numa garagem deserta. Woodward, que não percebe nem vê necessidade em tais cuidados, comporta-se como um amador, notando com razão que se sentia como mais um agente de Felt. Este acabou enredado num processo típico do pós-Vietname e do pós-Watergate, que ia levando o alto quadro do FBI à prisão. Felt foi acusado e condenado por ter feito buscas ilegais a cidadãos americanos, no âmbito da investigação do grupo terrorista conhecido como os Weatherman, e só foi salvo in extremis pela evolução política conservadora na Presidência, sendo perdoado por Reagan. O livro revela vários pormenores interessantes para corrigir alguns mitos correntes. Primeiro, como já se tinha percebido nas análises ao conteúdo das notícias, "Garganta Funda" poucas informações primárias forneceu, apenas indicou pistas para a investigação. Woodward quebrou várias regras tradicionais do jornalismo indo mais longe do que aquilo que sabia de forma fundamentada ou que lhe tinha sido sugerido. É verdade que as indicações de Felt, algumas erradas, acabavam por ser elas próprias informações relevantes dada a credibilidade da sua origem, mas Woodward e Bernstein foram "criativos" com aquilo que sabiam e que não sabiam. Segundo, mais gente do que se pensava conhecia a identidade da fonte, a começar pelo próprio Nixon e os seus co-conspiradores no caso Watergate, que tinham a certeza de que era Felt que passava informações, e que inclusive tinham eles próprios uma "Garganta Funda" no Washington Post. As gravações secretas que vieram a ser conhecidas das conversas na Casa Branca são conclusivas quanto à identificação de Felt e à impotência que Nixon e os seus sentiam. Eles achavam que fazer qualquer coisa contra Felt poderia provocar uma avalanche de revelações ainda mais perigosa, embora as fugas pudessem ser um crime em si mesmas. Por outro lado, vários artigos, durante os mais de 30 anos de segredo, tinham indicado Felt como sendo o "Garganta Funda", alguns baseados em inconfidências do pequeno núcleo de pessoas que tinham tido acesso à informação genuína (um deles um filho de Bernstein). O próprio Felt jogava um jogo perigoso, sugerindo e negando o seu papel nas fugas. A identidade da "Garganta Funda" só não foi conhecida mais cedo porque a dupla negação de Woodward e Felt fazia hesitar os autores de teorias sobre a identidade do informador do jornal, que quando publicavam se ficavam por generalidades, mesmo quando estavam perto da verdade. A revelação da identidade da "Garganta Funda" também não é uma história desprovida de ambiguidades. Tudo indica que a uma dada altura Woodward queria encontrar um pretexto para que Felt o autorizasse a revelar quem era "Garganta Funda", mas as suas relações com ele tinham azedado pela cobertura hostil que o Washington Post fizera ao processo das buscas ilegais no caso dos terroristas dos Weatherman. Quando se encontraram de novo, Felt, nos seus oitenta e muitos anos, tinha demência senil e mostrava-se incapaz de dar o seu consentimento para acabar com o segredo. O relato das conversas entre ambos mostra que Felt não tinha verdadeira consciência do que se passava e Woodward hesitou sobre se o facto "de este ser outro homem" justificava a quebra do acordo de manter a sua identidade escondida até à morte. É notório que apesar de o jornalista querer revelar a sua fonte, acabou por ser ultrapassado pela Vanity Fair, que obteve uma confirmação da família e do advogado da família. Este livro é o resultado de uma corrida contra o tempo para Woodward "agarrar" de novo uma "história" de que tinha acabado por perder o controlo final. A revelação do nome da "Garganta Funda" acabou por ser feita sem o consentimento explícito de Felt, incapacitado de o dar com plena consciência, e com Woodward e Bernstein como personagens secundárias enquanto jornalistas da sua própria história. Mao Zedong dizia num texto que, numa guerra civil, pouco importava saber os motivos por que um homem estava numa barricada desde que disparasse para o lado certo. Podia ser por amores não correspondidos, por ser suicida, por ser louco ou por ser um revolucionário dedicado, pouco importava. A ideia com que vamos ficar da "Garganta Funda" é parecida com a deste pragmatismo brutal de Mao: ele disparou para o lado certo e ajudou a acabar com uma presidência que não hesitava em cometer as mais flagrantes ilegalidades para sobreviver, não sendo os seus motivos relevantes para avaliar o resultado. Mas nós sabemos que, na relação ambígua entre fontes e jornalistas, os motivos são mesmo importantes e mantêm-se intactos na utilização dada pelo jornalista - ou seja, falar aos jornalistas compensa para quem fala. E, sobre todo este processo, sabemos outra coisa que nos mostra a ironia da história: a presidência Nixon é hoje considerada uma das melhores da história americana recente... ( No Público de hoje) DEZ LEIS DO ABRUPTO SOBRE OS DEBATES NA BLOGOSFERA (Versão 2.0) NOTA INICIAL: As Leis aqui transcritas não são nem Mandamentos, nem Regras, nem Instruções Morais, nem Ordens de Serviço, são Constatações, descrevem o modo como os debates na blogosfera se desenrolam. São genéricas e universais. Como todas as Leis dão origem a Excepções, que são elas próprias outras Leis que regulam as Excepções. NOTA 1 : Ao se passar da Posição à Contradição o debate ganha uma dimensão ad hominem. A maioria dos debates na blogosfera são ad hominem, na tradição da polémica à portuguesa. NOTA 2: A Contradição é sempre apresentada como uma fraqueza moral. A Contradição é sempre do outro. NOTA3: Se houvesse só Posições na blogosfera esta tinha um tamanho diminuto. A exposição das Contradições é o grosso da actividade da blogosfera. Os Insultos são outra parte importante. Sem Contradições e sem Insultos quase não haveria comentários. NOTA 4: O número de comentários num blogue têm relação directa com a natureza da nota se esta for sobre uma Contradição (ad hominem) e inversa se for uma Posição. Num mesmo blogue, as notas que não atacam ninguém não têm comentários e as que atacam alguém estão cheias. NOTA 5: Os Ódios de Estimação têm grande representação na blogosfera. SEGUNDA LEI DO ABRUPTO : A blogosfera é um lugar de fronteira, onde impera a "lei da selva" e o darwinismo social, logo a intensidade da zanga e da irritação na blogosfera é muito superior à da atmosfera. NOTA 1: A blogosfera não é um local aprazível para os espíritos amáveis. NOTA 2: A ferocidade dos comentários está em relação directa com o seu anonimato mais o número de comentários produzidos por metro quadrado de ecrã / dia. NOTA 3: Os comentadores anónimos na blogosfera são na sua maioria Trolls, na sua minoria Curiosos-sérios. A maioria dentro da maioria são Trolls com nick name, profissionais das caixas de comentários. O equilíbrio na blogosfera é mantido pelo número de Trolls que entram e dos Curiosos-sérios que se vão embora, e aproxima-se do ácido das baterias. Todos os blogues podem ser classificados pela escala do pH. NOTA 4: O genuíno comentador anónimo da blogosfera desejaria não ser anónimo, mas muito conhecido. No entanto, tem medo de pôr o nome e, se o assinasse com ele, não teria coragem de escrever o que habitualmente escreve. O nick name é a solução para ter nome não o tendo. O comentador com nick name, deseja ao mesmo tempo ser anónimo e ter uma identidade como comentador, reconhecida inter-pares nas caixas de comentários. NOTA 5: O comentador anónimo com nick name escreve compulsivamente em todas as caixas de comentários abertas que encontra, escolhendo de preferência as dos blogues com mais leitores. A actividade do comentador anónimo nas caixas de blogues com mais leitores é idêntica à das rémoras. NOTA 6: Os comentadores anónimos seguem em absoluto a PRIMEIRA e a SEXTA LEI DO ABRUPTO . NOTA 7: Os Trolls nas suas várias incarnações são o proletariado da blogosfera e os principais garantes da QUINTA LEI DO ABRUPTO. NOTA 8: Os comentadores Curiosos-sérios têm uma vida curtíssima na blogosfera. São os "inocentes-utéis". Se continuarem inocentes acabam por fugir a sete pés. Os que não fogem perdem a inocência e ou abrem blogues ou tornam-se Trolls por impregnação do meio . NOTA 1: Na blogosfera não há surpresas. NOTA 2: A falta de previsibilidade é punida na blogosfera como Contradição (ver PRIMEIRA LEI DO ABRUPTO), ou como "deslealdade orgânica". QUARTA LEI DO ABRUPTO : A blogosfera tem horror ao vazio. NOTA 1: Na blogosfera está sempre a maior parte de cada um, o seu ego, que costuma ocupar um grande espaço. Ainda cabe o Super Ego e o Id. Logo, não há espaço para mais nada. NOTA 2: A blogosfera é compulsiva. A blogosfera é obsessiva. Pode-se ficar doente de uma longa exposição à blogosfera. NOTA 3: Os blogues colectivos morrem por implosão, os individuais por cansaço. NOTA 4: A nota anterior é enganadora. Os blogues nunca morrem, são fechados e abertos logo a seguir com outro nome. Um lugar de um blogue é sempre preenchido por outro do mesmo autor, quando é individual, ou do mesmo tipo quando é colectivo. NOTA 5: Quando um blogue deixou de ter sucesso na opinião do seu autor, é morto por ele e aberto outro logo a seguir. O objectivo da morte anunciada é dar oportunidade ao seu autor de ler as necrologias em vida e saber a falta que faz. As necrologias em vida funcionam como massagem do ego. NOTA 6: Separações, zangas, divórcios, saídas intempestivas, infidelidades, traições, violações da "lealdade orgânica", seguem nos blogues as mesmas regras das bandas de música rock. Faz-se fama em conjunto, quer-se logo fazer um disco a solo. QUINTA LEI DO ABRUPTO : A blogosfera é a Aldeia dentro da Aldeia Global, todos são vizinhos, todos sabem tudo de todos, todos zelam activamente o cumprimento da regra principal da Aldeia: o igualitarismo tem que ser absoluto. NOTA 1: Se eu faço também tu tens que fazer. Se tenho comentários também tu tens que ter. Se faço muitas ligações, também tu tens que fazer. Se eu tenho contadores também tu tens que os ter. NOTA 2: A patrulha da igualdade é uma das actividades mais generalizadas na blogosfera. NOTA 3: Na blogosfera há luta de classes. NOTA 4: Os contadores são um instrumento da luta de classes. Uns são colocados em cima, outros no meio, outros no fim. Há mil e um truques disponíveis para quem sabe, e todos são usados. NOTA 5: O mundo ideal seria estar no Blogger.com e ter o contador do Weblog.pt. SEXTA LEI DO ABRUPTO : Na blogosfera o lixo atrai o lixo. SÉTIMA LEI DO ABRUPTO : O tribalismo é a doença infantil da blogosfera. NOTA 1: Os blogues são grupais, precisam imenso de companhia. NOTA 2: A blogosfera tem evoluído do amiguismo para o grupismo e deste para o tribalismo. Permanecem, no entanto, leis de desenvolvimento desigual. NOTA 3: Os blogues atacam em grupo. NOTA 4: As afinidades são muito frágeis na blogosfera devido ao ambiente ácido que corrói os elos normalmente muito débeis entre blogues e dentro dos blogues colectivos entre os seus autores. (Veja-se a NOTA 6 à QUARTA LEI DO ABRUPTO) OITAVA LEI DO ABRUPTO : O que vale na blogosfera tem que valer na atmosfera. NOTA 1: Não basta ser capaz de respirar - no ciclo completo da respiração (inalação e exalação) - ácido, é preciso ser capaz de respirar ar. NOTA 2: Na atmosfera a parte que mais se parece com a composição química do ar da blogosfera é o jornalismo. A maioria da comunicação entre a blogosfera e a atmosfera faz-se por esse micro-clima. NOTA 3: No corredor que une a blogosfera à atmosfera há, em ambos os lados das portas, Guardiões. Os Guardiões combatem com textos, notas e artigos e o ocasional inquérito. NOTA 4: Uma vez por mês, pelo menos, um dos Guardiões do lado do jornalismo publica um artigo explicando por que razão a blogosfera não tem importância nenhuma para ninguém. NOTA 5: Os Guardiões do lado da blogosfera afirmam que esta é o centro do mundo civilizado, em relação directa com o número de vezes que o seu blogue é citado na atmosfera. NOTA 6: Há um pequeno grupo de Guardiões Insatisfeitos que acham que a atmosfera só dá importância aos blogues seus "inimigos" (veja-se NOTA 5 da PRIMEIRA LEI DO ABRUPTO), e por isso passam-se para o outro lado e também escrevem, pelo menos uma vez por mês, que a blogosfera é irrelevante. A SEXTA LEI DO ABRUPTO explica as sinergias. NONA LEI DO ABRUPTO : O carácter lúdico dos blogues diminui à medida que a importância da blogosfera aumenta na atmosfera. NOTA 1: O carácter lúdico dos blogues é cada vez mais afectado pela imposição de etiquetas e por uma crescente normatividade na blogosfera. NOTA 2: Os blogues colectivos são mais propensos à normatividade do que os individuais, pela necessidade de se auto-gerirem. NOTA 3: O carácter lúdico dos blogues diminui à medida que as agendas mediáticas se tornam dominantes. Na formulação dessas agendas há hoje um contínuo blogosfera-atmosfera. DÉCIMA LEI DO ABRUPTO SOBRE OS DEBATES NA BLOGOSFERA: A blogosfera não se consegue ver ao espelho. OUTRA FORMULAÇÃO: A blogosfera tem em comum com os vampiros não se conseguir ver ao espelho. LENDO / VENDO /OUVINDO (BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES) (2 de Março de 2006) ___________________________ Artigo do Guardian sobre as faces de Rembrandt, sobre Rembrandt como "topographer of the human clay". * Para a história dos sempre presentes fantasmas da cultura francesa, às contas com o seu passado "colaboracionista", esta nota "Corneille en chemise noire" de Assouline no La République des Livres: "Je ne suis pas de ceux qui jettent un voile prétendument pudique sur l'oeuvre littéraire (Drieu La Rochelle) ou historique (Jacques Benoist-Méchin) des collaborateurs de l'occupant, livres que je n'ai jamais cessé de lire et de relire -dans leur édition d'origine si possible afin d'éviter tout trucage pauvertien. La dégueullasserie de ses Décombres ne m'a jamais empêché d'apprécier le Rebatet des Deux étendards ou de l'Histoire de la musique ; l'ignominie de certains textes de Brasillach ne m'a pas écarté de Notre avant-guerre, non plus que de son Histoire du cinéma écrite avec Maurice Bardèche ; pour ne rien dire de l'oeuvre de Céline que je place au plus haut malgré Céline ; que ceux que cela intéresse se reportent au Fleuve Combelle, petit livre écrit autrefois pour tenter d'y voir clair en moi à ce sujet, ou à L'épuration des intellectuels. Mais quelle urgence absolue, quelle nécessité impérieuse, ont-elles commandé de rééditer en 2006 ce Corneille très daté, au moment même où l'on publie, de surcroît sous la même marque, une biographie complète s'appuyant sur les travaux les plus récents ?" SCRITTI VENETI
Canaletto, O Grande Canal visto do Palazzo Balbi
EARLY MORNING BLOGS 731
XXV Quantos em ti lagos e rios Quantos em ti os oceanos Água vermelha que aos ouvidos traz o aviso de nenhuns campos É bom sondarmos os abismos que nunca vão cicatrizando E ao som da água pressentirmos de onde provimos aonde vamos (David Mourão Ferreira) * Bom dia! 1.3.06
RETRATOS DO TRABALHO NO MÉXICO A foto que lhe envio foi efectuada no ultimo domingo ao fazer um passeio a umas Lagoas situadas a 25 Km a Sul de Tulum-México, o "Don Vicente" trabalha como guia, toda a vida trabalhou na Selva, guiando turistas aos lugares mais escondidos da selva mostrando Cenotes que sao cavernas de Água doce onde o Povo Maya efectuava rituais e sacrificios, desde há 5 anos para cá conseguiu que o governo lhe desse uma licença oficial para guiar o seu pequeno barco e fazer passeios turisticos pelas lagoas junto à Selva onde nos conta um pouco da história do Povo Maya. Durante todo o passeio fotografei-o várias vezes, claro que com o seu consentimento, mas em nenhumas das várias fotos ele olhou directamente para mim, talvez seja uma defesa de nós os "turistas". (Miguel Lopes)
© José Pacheco Pereira
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