ABRUPTO

29.4.05
 


AR PURO


C�zanne
 


EARLY MORNING BLOGS 479

En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que viv�a un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, roc�n flaco y galgo corredor. Una olla de algo m�s vaca que carnero, salpic�n las m�s noches, duelos y quebrantos los s�bados, lentejas los viernes, alg�n palomino de a�adidura los domingos, consum�an las tres partes de su hacienda. El resto della conclu�an sayo de velarte, calzas de velludo para las fiestas con sus pantuflos de lo mismo, los d�as de entre semana se honraba con su vellori de lo m�s fino. Ten�a en su casa una ama que pasaba de los cuarenta, y una sobrina que no llegaba a los veinte, y un mozo de campo y plaza, que as� ensillaba el roc�n como tomaba la podadera. Frisaba la edad de nuestro hidalgo con los cincuenta a�os, era de complexi�n recia, seco de carnes, enjuto de rostro; gran madrugador y amigo de la caza. Quieren decir que ten�a el sobrenombre de Quijada o Quesada (que en esto hay alguna diferencia en los autores que deste caso escriben), aunque por conjeturas veros�miles se deja entender que se llama Quijana; pero esto importa poco a nuestro cuento; basta que en la narraci�n d�l no se salga un punto de la verdad.

Es, pues, de saber, que este sobredicho hidalgo, los ratos que estaba ocioso (que eran los m�s del a�o) se daba a leer libros de caballer�as con tanta afici�n y gusto, que olvid� casi de todo punto el ejercicio de la caza, y aun la administraci�n de su hacienda; y lleg� a tanto su curiosidad y desatino en esto, que vendi� muchas hanegas de tierra de sembradura, para comprar libros de caballer�as en que leer; y as� llev� a su casa todos cuantos pudo haber dellos; y de todos ningunos le parec�an tan bien como los que compuso el famoso Feliciano de Silva: porque la claridad de su prosa, y aquellas intrincadas razones suyas, le parec�an de perlas; y m�s cuando llegaba a leer aquellos requiebros y cartas de desaf�o, donde en muchas partes hallaba escrito: la raz�n de la sinraz�n que a mi raz�n se hace, de tal manera mi raz�n enflaquece, que con raz�n me quejo de la vuestra fermosura, y tambi�n cuando le�a: los altos cielos que de vuestra divinidad divinamente con las estrellas se fortifican, y os hacen merecedora del merecimiento que merece la vuestra grandeza. Con estas y semejantes razones perd�a el pobre caballero el juicio, y desvel�base por entenderlas, y desentra�arles el sentido, que no se lo sacara, ni las entendiera el mismo Arist�teles, si resucitara para s�lo ello. No estaba muy bien con las heridas que don Belianis daba y recib�a, porque se imaginaba que por grandes maestros que le hubiesen curado, no dejar�a de tener el rostro y todo el cuerpo lleno de cicatrices y se�ales; pero con todo alababa en su autor aquel acabar su libro con la promesa de aquella inacabable aventura, y muchas veces le vino deseo de tomar la pluma, y darle fin al pie de la letra como all� se promete; y sin duda alguna lo hiciera, y aun saliera con ello, si otros mayores y continuos pensamientos no se lo estorbaran.

Tuvo muchas veces competencia con el cura de su lugar (que era hombre docto graduado en Sig�enza), sobre cu�l hab�a sido mejor caballero, Palmer�n de Inglaterra o Amad�s de Gaula; mas maese Nicol�s, barbero del mismo pueblo, dec�a que ninguno llegaba al caballero del Febo, y que si alguno se le pod�a comparar, era don Galaor, hermano de Amad�s de Gaula, porque ten�a muy acomodada condici�n para todo; que no era caballero melindroso, ni tan llor�n como su hermano, y que en lo de la valent�a no le iba en zaga.

En resoluci�n, �l se enfrasc� tanto en su lectura, que se le pasaban las noches leyendo de claro en claro, y los d�as de turbio en turbio, y as�, del poco dormir y del mucho leer, se le sec� el cerebro, de manera que vino a perder el juicio. Llen�sele la fantas�a de todo aquello que le�a en los libros, as� de encantamientos, como de pendencias, batallas, desaf�os, heridas, requiebros, amores, tormentas y disparates imposibles, y asent�sele de tal modo en la imaginaci�n que era verdad toda aquella m�quina de aquellas so�adas invenciones que le�a, que para �l no hab�a otra historia m�s cierta en el mundo.


(Miguel de Cervantes, Don Quijote, como o sublinhei, h� j� muito tempo.)

*

Bom dia!

28.4.05
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O DEBATE FRANC�S DA CONSTITUI��O EUROPEIA


Em qualquer debate existe ou deveria existir uma l�gica de prepara��o pr�via para o confronto argumentativo. Deste ponto de vista, o debate sobre o Tratado Constitucional que se pensa estar a existir em Fran�a n�o o �. No m�ximo, � um pseudo debate em que, por defini��o, quem tem o papel de argumentar em sentido negativo est� sempre mais � vontade. Os elementos desta situa��o podem ser a alimenta��o do medo no receptor, a introdu��o de elementos de confus�o independentemente da sua liga��o ou pertin�ncia com o assunto do debate, a excessiva simplifica��o da l�gica argumentativa com o objectivo expresso de vedar a quem ouve a totalidade ou quase totalidade dos elementos de pondera��o e, por vezes, a proclama��o de inverdades que, ao n�o serem desmentidas com clareza, se tornam argumentos voando no ar das s�rias conversas de rua ou mesmo das ser�ssimas tert�lias em casa. Para fins de consolida��o pode ser acrescentado um etc. a esta enumera��o.

� verdade que, em teoria, todos os elementos utilizados por uma argumenta��o tamb�m podem ser utilizados pela outra. Mas s� em teoria, porque a l�gica diz-nos que � muito mais simples destruir do que construir. Note-se que no caso espec�fico deste texto os termos destruir e construir s�o neutros. Nem s�o positivos nem negativos, s�o, no m�ximo, operacionais. Tudo parece depender do contexto e da mensagem que cada atitude argumentativa pretende fazer valer. E neste sentido, em Fran�a, a situa��o parece bem particular porque tal como penso ser o caso de outros pa�ses, existe um profundo e generalizado desconhecimento do tema em discuss�o.

O exemplo caricato de um argumento agitado ontem num debate televisivo por um dos defensores mais medi�ticos do N�o � Philippe de Villiers - foi o de dizer que com o Tratado Constitucional o direito comunit�rio derivado passa a ter a primazia jur�dica sobre o direito interno (como se se pudesse subentender que ainda n�o o tem ent�o !!). O problema disto � que, apesar das tentativas de desmentir esta alega��o, os oponentes no debate, defensores do Sim, n�o o conseguiram fazer de forma eficaz. De facto, os defensores do Sim encontram-se na posi��o de ter de ensinar o Tratado Constitucional aos franceses e ao mesmo tempo debater das suas virtudes ou defeitos. Por isso � que se torna f�cil admitir a dificuldade do debate sobre o Tratado Constitucional em Fran�a. Logicamente, esta conclus�o s� verifica elementos end�genos ao pr�prio debate. Se a isto acrescent�ssemos o contexto pol�tico em Fran�a a an�lise deveria ser muito mais complexa. Estar�o os defensores do Sim desculpados? Um grande N�O � a resposta. Mais do que carregar os defensores do N�o com alguma falta de honestidade intelectual, � necess�rio salientar a imprepara��o dos defensores do Sim. Os defensores do N�o citam, bem ou mal, com pertin�ncia ou n�o, uma quantidade not�vel de artigos de Constitui��o europeia. Os defensores do Sim nem a Constitui��o parecem trazer para os debates. Pelo menos n�o se d�o ao trabalho de rebater de forma clara as interpreta��es feitas pelos defensores do N�o. Escondem-se atr�s do biombo da arrog�ncia intelectual que consiste em dizer que a interpreta��o em causa � uma idiotice. Em consequ�ncia nem deve ser tida em conta. O problema � que para quem ouve, a mensagem que ficou foi a de um argumento sem resposta com situa��o agravante do tipo de atitude de quem n�o quis responder. Mas ainda mais importante ainda, os defensores �oficiais� do N�o deixam transparecer uma vis�o errada das preocupa��es, leg�timas ali�s, que levanta o Tratado Constitucional para os franceses. No mesmo debate em que participava Villiers, Max Gallo e Jean-Fran�ois Cop� estava o Presidente do Parlamento Europeu Josep Borrell. Borrell por mais do que uma vez deixou transparecer a estupefac��o com o tipo de desenvolvimentos do debate. Deve ser dito que este exemplo n�o � �nico. Basta acompanhar o processo medi�tico do referendo em Fran�a para que uma lista possa ser elaborada. Num pa�s como este, uma tal deriva, � uma tristeza politica e social mas � sobretudo uma tristeza intelectual.


Seja como for, sejamos a favor ou contra o Tratado Constitucional, a verdade � que para bem dos debates parece necess�ria alguma prepara��o. Sobretudo se se trata de um processo cuja realiza��o implica uma mediatiza��o. Desde Weber que sabemos ser relativamente simples de fazer frutificar o modernamente chamado populismo. O problema � que no final de todas as contas quem acaba por perder s�o os cr�ditos de confian�a das classes pol�ticas e tamb�m das elites em rela��o � sustenta��o popular que pretendem conservar. A longo prazo o povo acaba por contradizer Weber.

(S�rgio Ribeiro, Lyon)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: TEORIA DOS ORGASMOS A PARTIR DO GRANDE HOTEL

Do Abrupto, a proposito dos n�meros antigos da revista pinga-amor �Grande Hotel�, que o JPP comprou num alfarrabista:

(...) O Vasco Gra�a Moura encontrou uma ontem: "no canto inferior esquerdo do fragmento do Grande Hotel que reproduz, l�-se: "breves, amenas conversas, mas que deixam na alma de Lucr�cia uma tr�pida do�ura". Uma "tr�pida do�ura" ser� uma do�ura a aquecer com um ru�do de motor a gas�leo?".

Sim, se descontar o ru�do. Apesar das f�rmulas muitas vezes ing�nuas, autores como esse da �Grande Hotel� ainda usavam a l�ngua portuguesa com alguma sabedoria e correc��o. Em minha opini�o, o que o autor (ou, mais provavelmente, autora) tinha em mente � que a Lucr�cia estava de tal modo apaixonada que tinha orgasmos s� com a conversa. Bons tempos, esses da �Grande Hotel�.

Informam-me v�rias senhoras que a coisa feminina � mais complicada que a masculina: ao que parece, existem os �orgasmos grandes� isolados, por vezes capazes de dar cabo da mob�lia e dos ouvidos dos vizinhos, que s�o os tais que se v�em com mais frequ�ncia nos filmes de Hollywood que no dia a dia, e existem os �orgasmos pequenos�, que v�m em sucessao sem sismos de grau superior a 9, e as mais das vezes ficam por ai'.

De modo que a tr�pida do�ura que permeava a alma da Lucr�cia devia ser um pouco como aqueles riachos do Camilo que corriam a tremer: �As tr�pidas fontinhas, espelhando na limpidez dos seus meandros a inquieta alv�ola que as ro�ava com as asas...� (Mulher Fatal, cap.2).

� claro que, se em vez de ter sido a �Grande Hotel� a descrever pequenitas burguesices, tivesse sido a Santa Teresa de �vila a descrever ext�ses m�sticos, a compreens�o teria sido imediata. Grande vida, a dos poetas...

(Fr. In�cio)
 


IDENTIFICAR TEXTOS AN�NIMOS

Algu�m conhece qualquer programa que sirva para identificar, ou definir com uma certa probabilidade, a autoria de um texto an�nimo? N�o se assustem (ou assustem-se a s�rio) os autores an�nimos, que coisas deste tipo j� existem certamente nas pol�cias e nos servi�os de informa��o, mas n�o a p�blico. Um programa que permita realizar uma base de dados de textos assinados, e a partir da� encontrar semelhan�as vocabulares, lexicais, estil�sticas e outras com textos n�o assinados, de modo a indicar com probabilidade o seu autor. Tenho uma ideia como isso se pode fazer e parece-me bem simples para quem tenha um m�nimo de experi�ncia de programa��o, mas admito que algo j� possa existir poupando-me o trabalho.

Eu explico a necessidade: trabalhando nos meus estudos com textos quase exclusivamente an�nimos � artigos da imprensa clandestina, relat�rios, etc. � ser-me-ia �til poder precisar ou ter uma indica��o de probabilidade de autoria. Como muitos dos autores desses textos � Bento Gon�alves e Cunhal por exemplo � s�o autores de muitos textos publicados com o seu nome, seria interessante poder identificar textos an�nimos. Um exemplo: saber se foi Cunhal que escreveu no Avante! dos anos trinta um artigo sobre o aborto na URSS ou resolver a controv�rsia sobre o relat�rio atribu�do a Bento Gon�alves ( ou feito por �P�vel�?) apresentado em 1935 � Internacional.

*
O professor Eric Johnson, da Universidade Estatal do Dakota, � autor de um texto sobre identifica��o de autores an�nimos, "Comparing Texts and Identifying Authors" e tamb�m escreveu um software, chamado Ident, precisamente para esse fim, mas creio que n�o est� dispon�vel online.

(Jos� Carlos Santos)
 


COISAS COMPLICADAS


N. Poussin, O Tempo revelando a Verdade perante a Inveja e a Disc�rdia
 


INTEND�NCIA

Retomado (e continuado) o trabalho na bibliografia dos ESTUDOS SOBRE COMUNISMO.
 


EARLY MORNING BLOGS 478

Prevenci�n para la vida y para la muerte

Si no temo perder lo que poseo,
ni deseo tener lo que no gozo,
poco de la Fortuna en m� el destrozo
valdr�, cuando me elija actor o reo.

Ya su familia reform� el deseo;
no palidez al susto, o risa al gozo
le debe de mi edad el postrer trozo,
ni anhelar a la Parca su rodeo.

S�lo ya el no querer es lo que quiero;
prendas de la alma son las prendas m�as;
cobre el puesto la muerte, y el dinero.

A las promesas miro como a esp�as;
morir al paso de la edad espero:
pues me trujeron, ll�venme los d�as.


(Quevedo)

*

Bom dia!

27.4.05
 


BIBLIOFILIA: PORTUGAL NA ELITE DO TURISMO



Encontrei este magn�fico Le Portugal de Dor� Ogrizek, editado na colec��o "Le Monde en Couleurs - Les Livres de l'Elite Touristique", das Edi��es Od� de Paris em 1950, sob os ausp�cios e os financiamentos do Secretariado da Informa��o Nacional, o SNI de Ferro e Salazar. O livro est� ilustrado por alguns dos melhores ilustradores portugueses, incluindo Botelho e Paulo Ferreira, como se pode ver pelo desenho que reproduzo. Estava numa feira de rua numa cidade da Proven�a, entre sab�es de Marselha, queijos, panos e ess�ncia de lavanda.
 


INTEND�NCIA MAIOR

Sobre SERVI�O P�BLICO acrescentar o nome da realizadora do excelente filme sobre Eduardo Louren�o, Anabela Saint-Maurice, "que lutou dentro da RTP contra tudo e contra todos para que o document�rio se fizesse" (MJD). Ainda bem.

Sobre a BIBLIOFILIA: A LETRA DE UM ESPI�O, agradecer a identifica��o do almirante portugu�s a quem Remy tinha oferecido o seu livro, feita por dois homens com liga��o pr�xima � nossa marinha, Henrique Jorge e Lu�s Rodrigues. Cito Lu�s Rodrigues:
"O Almirante a quem o livro � dedicado s� pode ser um, o �nico Almirante Nuno Frederico de Brion, guarda-marinha em 1917, comandante do 1� submarino �Espadarte�, como 2� tenente de 1922 a 1923, 1� tenente da escola de submarinos em v�speras do 28 de Maio, acaba a carreira como contra-almirante em 1953.

Em 1974, embora na lista dos reformados, � o 3� oficial vivo mais antigo da Marinha, precedido apenas por Reboredo e Silva e por Sousa Uva.

Teve importante papel na reorganiza��o dos servi�os de Informa��o Naval na altura da II Guerra Mundial e � plaus�vel � angl�filo como a maior parte da nossa Marinha da �poca - que tenha tido conhecimento, apoiado ou �ignorado� o tr�nsito de Remy para Fran�a, atrav�s de Lisboa e Espanha, no seu caminho para a resist�ncia. Remy chegou a Lisboa de hidro-avi�o e essas chegadas e partidas eram controladas pela Marinha e pela PVDE em conjunto, mas a Marinha � que mandava."



(O 1� tenente Nuno de Brion, num dos �ltimos exerc�cios do 1� �Espadarte� poucos dias antes do 28 de Maio de 1926, � esquerda do Ministro das Col�nias (� paisana), Vieira da Rocha, com o contra-almirante Pereira da Silva e o comandante Almeida Henriques.)
A ambos , obrigado.


Anunciar que OS CINQUENTA MOMENTOS POL�TICOS MAIS IMPORTANTES DEPOIS DO 25 DE ABRIL n�o est�o esquecidos e que a �ltima vers�o ser� muito em breve publicada.
 


EARLY MORNING BLOGS 477

Of Hartford in a Purple Light


A long time you have been making the trip
From Havre to Hartford, Master Soleil,
Bringing the lights of Norway and all that.

A long time the ocean has come with you,
Shaking the water off, like a poodle,
That splatters incessant thousands of drops,

Each drop a petty tricolor. For this,
The aunts in Pasadena, remembering, Abhor the plaster of the western horses,

Souvenirs of museums. But, Master, there are
Lights masculine and lights feminine.
What is this purple, this parasol,

This stage-light of the Opera?
It is like a region full of intonings.
It is Hartford seen in a purple light.

A moment ago, light masculine,
Working, with big hands, on the town,
Arranged its heroic attitudes.

But now as in an amour of women
Purple sets purple round. Look, Master,
See the river, the railroad, the cathedral...

When male light fell on the naked back
Of the town, the river, the railroad were clear.
Now, every muscle slops away.

Hi! Whisk it, poodle, flick the spray
Of the ocean, ever-fresherning,
On the irised hunks, the stone bouquet.


(Wallace Stevens)

*

Bom dia!

26.4.05
 


AR PURO


Van Gogh
 


EARLY MORNING BLOGS (476) PROVEN�AIS

Les Amours de Psych� - �loge de l'Oranger

Sommes-nous, dit-il, en Provence ?
Quel amas d'arbres toujours verts
Triomphe ici de l'incl�mence
Des aquilons et des hivers ?

Jasmins dont un air doux s'exhale,
Fleurs que les vents n'ont pu ternir,
Aminte en blancheur vous �gale,
Et vous m'en faites souvenir.

Orangers, arbres que j'adore,
Que vos parfums me semblent doux !
Est-il dans l'empire de Flore
Rien d'agr�able comme vous ?

Vos fruits aux �corces solides
Sont un v�ritable tr�sor ;
Et le jardin des Hesp�rides
N'avait point d'autres pommes d'or.

Lorsque votre automne s'avance,
On voit encor votre printemps ;
L'espoir avec la jouissance
Logent chez vous en m�me temps.

Vos fleurs ont embaum� tout l'air que je respire :
Toujours un aimable z�phyre
Autour de vous se va jouant.
Vous �tes nains ; mais tel arbre g�ant,
Qui d�clare au soleil la guerre,
Ne vous vaut pas,
Bien qu'il couvre un arpent de terre
Avec ses bras.

(La Fontaine)

*

Bom dia!

25.4.05
 


NOTAS PROVEN�AIS: A JANELA DE C�ZANNE

 


NOTAS PROVEN�AIS: A FRAN�A E O NOVO PAPA

A Fran�a tem um problema com o novo papa. Medido pelo grande crit�rio franc�s, a francofilia, Ratzinger � muito mais �amigo� da Fran�a que Woytila. Pela sua forma��o e na sua vida, Ratzinger manteve liga��es pr�ximas com o pensamento cat�lico franc�s, enquanto que o papa polaco era mais pr�ximo dos alem�es. Por outro lado, medido pelo crit�rio dominante dos media, o �conservadorismo� do papa � pouco franc�s�
 


SERVI�O P�BLICO

O excelente document�rio que a RTP1 est� a passar sobre e com Eduardo Louren�o.
 


NOTAS PROVEN�AIS: MEDIAS, UMA REVISTA FRANCESA SOBRE OS MEDIA

N�o conhecia a revista, mas j� tem mais de um ano. Comprei-a um pouco a medo porque o que se escreve em Fran�a �, de um modo geral, pouco interessante sobre a comunica��o social. Um pa�s que tem Ramonet como o grande te�rico na �rea, reflecte pouco sobre os media. A revista confirma a suspeita, a come�ar por um grafismo ultrapassado e, embora seja injusto generalizar s� com um n�mero, a impress�o fica. Os �ndices dos outros n�meros n�o destoam. Excep��es no n�mero quatro: uma boa ideia, fazer entrevistas a pessoas com �m� imprensa�, neste caso fundamentalistas mu�ulmanos; e uma boa entrevista com Raphael Sorin sobre o estado actual da cr�tica liter�ria e a confus�o entre o m�tier da cr�tica e os programas sobre livros de Bernard Pivot.
 


EARLY MORNING BLOGS (475) PROVEN�AIS

C'�tait sur un chemin crayeux

C'�tait sur un chemin crayeux
Trois ch�tes de Provence
Qui s'en allaient d'un pas qui danse
Le soleil dans les yeux.

Une enseigne, au bord de la route,
- Azur et jaune d'oeuf, -
Annon�ait : Vin de Ch�teauneuf,
Tonnelles, Casse-cro�te.

Et, tandis que les suit trois fois
Leur ombre violette,
Noir pastou, sous la gloriette,
Toi, tu t'en fous : tu bois...

C'�tait trois ch�tes de Provence,
Des oliviers poudreux,
Et le mistral br�lant aux yeux
Dans un azur immense.


(Paul-Jean Toulet)

*

Bom dia!
 


NOTAS PROVEN�AIS: BIBLIOFILIA





Jean-J�r�me Crosnier Mangeat, Sainte-Victoire, voyage en pays de lumi�res, Aix-en-Provence, Nature d'Images, 2004. Para al�m das fotografias da montanha de C�zanne, um pref�cio de Jacqueline de Romilly, que acabou de publicar um novo livro sobre L'�lan d�mocratique dans l'Ath�nes ancienne.

Soprava forte o Mistral quando a vi, de novo, sempre diferente, com as mil cores em que est� sempre a mudar.

24.4.05
 


NOTAS PROVEN�AIS: SCHELLING, STEINER E RATZINGER

1. O livro tem um t�tulo convidativo Dix Raisons (Possibles) � la Tristesse de Pens�e e o texto bilingue ajudava � recusa que tenho de ler tradu��es quando posso ler o original. Nas p�ginas pares ingl�s, nas �mpares, franc�s. Depois comecei a l�-lo, do lado ingl�s e muitas vezes entrava sem me aperceber na p�gina seguinte em franc�s, tradu��o da anterior, sem dar por ela que estava a ler a mesma p�gina. Uma, duas, tr�s vezes. Atribui esse deslize ao cansa�o, �s circunst�ncias, ao sono, � ligeireza das leituras de viagem. Depois desconfiei que o mal vinha do texto. S� me apercebia quando se repetia o mesmo exemplo e a mesma cita��o. Era um livro de Steiner, o mestre, mas parecia mais uma redac��o do que um ensaio.

2. A cita��o que d� o mote ao livro � daquelas que nos atiram com for�a para o texto, com a for�a de uma frase que j� diz muito e ajuda a dizer mais. Para o amador destas �ideias� empurrava de imediato para o texto e para a leitura compulsiva. Era um frase de Schelling citada duplamente no original alem�o e traduzida em franc�s:

�Tal � a tristeza insepar�vel de toda a vida finita (�) uma tristeza (�) que nunca se torna efectiva e serve para dar a alegria eterna de a ultrapassar. De l� vem o v�u de afli��o que se estende sobre toda a natureza, a melancolia profunda e inalter�vel de toda a vida�

( A frase completa de Schelling, sem os cortes, � esta :

"Die� ist die allem endlichen Leben anklebende Traurigkeit, und wenn auch in Gott eine wenigstens beziehungsweise unabh�ngige Bedingung ist, so ist in ihm selber ein Quell der Traurigkeit ... Daher der Schleier der Schwermuth, der �ber die ganze Natur ausgebreitet ist, die tiefe unzerst�rliche Melancholie alles Lebens." *)

3. Steiner arranca bem, usando no meio do texto ingl�s daquela perfei��o �te�rica� do alem�o, que na filosofia � a �nica que rivaliza com o grego e o latim cl�ssico na capacidade conceptual e neste caso, quase afectiva (devia haver e h� certamente uma palavra alem� melhor para este �quase afectiva��). Steiner quer dar as raz�es �poss�veis� para esta �Traurigkeit�, para esta �tristitia� e depois perde-se num texto superficial, muito menos �pensado� do que centenas de p�ginas da filosofia ocidental e milhares de p�ginas de literatura.

4. O pensamento � �triste� porque � raro, � incompleto, � raras vezes consequente, n�o atinge a verdade, � pouco ��til�, n�o funda uma moral? E depois? O pensamento � tudo isso, mas basta uma linha para o sabermos. Mas � �triste� por isso? � �triste� porque n�o atinge a verdade? Se nos ficarmos pela psicologia comum chega, mas ent�o a f� dos que a t�m, a cren�a dos que acreditam? Essa n�o � �triste� pela sua natureza. Pode-se sempre dizer que n�o � pensamento, mas na defini��o que usa Steiner, ou melhor, na descri��o que usa Steiner, a do pensamento como fluxo cont�nuo e impar�vel de uma conversa connosco pr�prios (e uma das melhores partes deste texto � esta descri��o emp�rica da impossibilidade do sil�ncio interior), a f� dos que a t�m, � �pensar�.

5. Lendo Steiner no meio dos debates papais, sabendo que a quest�o de Schelling vem de D�Alembert, do �malheur de l�Existence�, Ratzinger meteu-se no meio. Na verdade, quando D�Alembert e Schelling falam da �Melancholie alles Lebens�, falam da crise da personalidade no mundo em que o saber se defronta com a sua solid�o terrena, num mundo em que Deus n�o est� presente a n�o ser, no limite, como uma d�vida, como uma possibilidade. Ratzinger deu o outro lado da mesma quest�o, quando escreveu sobre Sakharov (cito em franc�s do Le Monde) e criticou a �liberdade� nascida do iluminismo, a mesma que gera a �melancolia�:

"La libert� ne garde sa dignit� que si elle reste reli�e � son fondement et � sa mission �thiques. Elle a besoin d'un contenu communautaire que nous pourrions d�finir comme la garantie des droits de l'homme. Pour l'exprimer autrement, le concept de libert� requiert d'�tre compl�t� par deux autres concepts : le droit et le bien (...).
Sakharov ne cessa de vivre dramatiquement la d�faillance de l'Occident. Il a vu que la libert� y est entendue de fa�on �go�ste et superficielle. On ne peut pas vouloir la libert� pour soi seul. La libert� est indivisible et doit �tre vue comme une mission pour toute l'humanit�. On ne peut l'avoir sans sacrifices et renoncements (...).
Des institutions ne peuvent se maintenir et �tre efficaces sans des convictions �thiques communes. Or celles-ci ne peuvent pas provenir d'une raison purement empirique. -Dans la d�mocratie moderne, les d�cisions de la majorit� ne resteront elles-m�mes humaines et raisonnables que tant qu'elles pr�supposeront l'existence d'un sens humanitaire fondamental (...)."

6. Eu n�o digo que esta resposta de Ratzinger elimine o problema ou seja a resposta ao problema, mas sim que � parte do problema e Steiner ilude-a para simplificar o texto. Ora a descren�a e a cren�a est�o no cerne da �tristeza� como ali�s n�o era preciso ir mais longe do que a pr�pria frase de Schelling j� dizia: �a tristeza insepar�vel da vida finita�. Est� l� o �finito� e talvez a resposta mais simples seja que a �tristeza� do pensamento venha da finitude da vida para quem n�o cr�. Ou seja, da recusa do pensamento em extinguir-se, em morrer, em parar de pensar.

7. Mesmo nos pr�prios termos �descrentes� de Steiner (que s�o tamb�m os meus, ou seja, s�o tamb�m os mesmos em que eu os coloco nesse di�logo interior do pensar), a �tristeza� n�o � inevit�vel. A verdade � imposs�vel, mas n�o � imposs�vel procurar a verdade. Nada sabemos, o n�meno foge-nos no v�u do fen�meno mesmo quando pensamos que sabemos, e depois? O jogo do saber n�o pode ser �feliz�, n�o pode acomodar-nos, mesmo no erro, dando-nos uma felicidade psicol�gica na descoberta? Kuhn fez todo um livro a mostrar como o sistema ptolomaico resistiu como �ci�ncia� porque entre outras coisas explorava o logro psicol�gico de que, por via da ci�ncia, dominamos o mundo. Sabemos que o Sol n�o anda � volta da terra, mas tamb�m sabemos que a terra n�o anda � volta do Sol exactamente da forma que Galileu ou Newton pensavam. Hoje achamos que a terra anda � volta do Sol como Einstein pensava. Amanh� ser� diferente. Mas isto faz-nos �infelizes� porque nos mostra o car�cter inating�vel da verdade, a come�ar por aquela que pensamos ter instrumentos para compreender? Duvido.

8. Existe um car�cter vital no pensar, Steiner dixit. Mas desde quando o pensamento produz tristeza a n�o ser neste mundo dominado pela �viv�ncia� rom�ntica da incompletude psicol�gica? Nos termos de Steiner grande parte do pensamento antigo, greco-romano por exemplo, n�o � explic�vel porque n�o tem esta �tristeza�, no fundo t�o moderna e recente, no seu �mago. A partir de S. Agostinho, eu percebo estes termos, mas eles n�o s�o os de Plat�o e Arist�teles. Plat�o podia pensar que estavamos condenados ao erro, mas n�o � "tristeza".

Estas s�o algumas notas que explicam porque me parece muito d�bil este �ltimo texto de Steiner. N�o avan�a com quest�es ao problema que coloca, o que seria de menos se avan�asse com o problema. Nem uma coisa, nem outra.

* Tradu��o sugerida por Vasco Gra�a Moura do conjunto da frase:

"Esta � a tristeza ligada a toda a vida finita, e ainda que em Deus esteja uma condi��o independente pelo menos a tal respeito, tamb�m est� nele mesmo uma fonte da tristeza... Da� o v�u de melancolia que se estende sobre toda a Natureza, a funda melancolia indestrut�vel de toda a vida."
 


NOTAS PROVEN�AIS: O ATELIER DE C�ZANNE

H� muito tempo que n�o voltava a este lugar, um dos meus s�tios �ntimos. L� est� tudo quase na mesma: a mesma cadeira de lona a desfazer-se, a mesma caveira, as mesmas reprodu��es de Delacroix, as mesmas paletas, os mesmos objectos das mesmas naturezas mortas. A pintura da escada est� diferente, o jardim est� naturalmente diferente, mas tem o mesmo ar meio abandonado. Algumas coisas est�o piores: por detr�s das �rvores e das sebes percebem-se as urbaniza��es modernas, mesmo ao lado.

A l�ngua dominante continua a ser o ingl�s com sotaque americano. N�o admira, C�zanne foi e � muito estimado pelos americanos e a estes se deve a preserva��o do atelier. A hist�ria da salva��o do edif�cio e do seu escasso conte�do, � um exemplo fabuloso da inc�ria burocr�tica francesa e da dedica��o de meia d�zia de americanos que, contra tudo e contra todos, compraram a casa e depois queriam d�-la aos franceses... que n�o a queriam receber.

Mas se h� simples sala que nos ajude a repousar ou a perturbar no g�nio de C�zanne � esta sala cinzenta, iluminada por todos os lados, desenhada pelo pr�prio pintor, com a Montanha de St. Victoire a ver-se ao fundo e a catedral de Aix. As laranjas e as ma��s secam e apodrecem, mirram e desaparecem no meio do bolor. N�o sei com que crit�rios as mudam. Mas � o olhar de C�zanne que nos faz v�-las assim, como formas dentro de formas, para al�m da estrutura exterior, do brilho, da cor, o mesmo olhar que Bracque e Picasso levaram mais longe, mas a partir daqui. Desta sala.

20.4.05
 


NOTAS PROVEN�AIS

em breve.
E mais um novo Steiner.
E mais um velho C�zanne.
E mais o lugar que os antigos chamavam "doce", no sentido de am�vel.
 


O QUE SE GANHA O QUE SE PERDE EM VIAGEM

Uma coisa se perde: os acentos.
O resto ganha-se.

19.4.05
 


AR PURO


Van Gogh
 


EARLY MORNING BLOGS 474

A M�o Posta Sobre a Mesa


A M�O POSTA sobre a mesa,
A m�o abstrata, esquecida,
Imagem da minha vida...
A m�o que pus sobre a mesa
Para mim mesmo � surpresa.
Porque a m�o � o que temos
Ou define quem n�o somos.
Com ela aquilo que fazemos
[...]


(Fernando Pessoa)

*

Bom dia! At� breve!

18.4.05
 


MAIS GRANDE HOTEL, A REVISTA QUE SE TORCE E SAI AMOR POR TODOS OS POROS

O tempo tem sido escasso, mas entre

Ronald H. Chilcote, Emerging Nationalism in Portuguese Africa; A Bibliography of Documentary Ephemera trough 1965, Stanford, Hoover Institution, 1969

e



Bento de Jesus Cara�a, Cultura e Emancipa��o (1929 - 1933), Porto, Campo das Letras, 2002,

ou seja, no meio dos meus trabalhos bibliogr�ficos, a revista "m�gica" do amor tem-me divertido. As fotonovelas est�o cheias de verdadeiras maravilhas. O Vasco Gra�a Moura encontrou uma ontem: "no canto inferior esquerdo do fragmento do Grande Hotel que reproduz, l�-se: "breves, amenas conversas, mas que deixam na alma de Lucr�cia uma tr�pida do�ura". Uma "tr�pida do�ura" ser� uma do�ura a aquecer com um ru�do de motor a gas�leo?". N�o sei, s� sei que tudo � poss�vel no Grande Hotel. Veja-se o peso, imenso, esmagador, total, absoluto, deste humilde "por�m..." da dama � direita, cheia de amor claro.
 


INTEND�NCIA

Olha a grande novidade! Continua a bibliografia dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO, a caminho das trezentas p�ginas... e n�o d� mesmo para ler o Grande Hotel.

Colocados no VERITAS FILIA TEMPORIS os dois artigos do P�blico (n�o acess�veis na rede) sobre o PSD, com o t�tulo MANTER TODOS OS �PORTUGAIS� QUE CAIBAM NO PSD, cuja terceira e �ltima parte ser� publicada esta semana.
 


AR PURO


C�zanne
 


EARLY MORNING BLOGS 473

DIE SONETTE AN ORPHEUS - ERSTER TEIL - XXI


FR�HLING ist wiedergekommen. Die Erde
ist wie ein Kind, das Gedichte wei� ;
viele, o viele .... F�r die Beschwerde
langen Lernens bekommt sie den Preis.

Streng war ihr Lehrer. Wir mochten das Wei�e
an dem Barte des alten Manns.
Nun, wie das Gr�ne, das Blaue hei�e,
d�rfen wir fragen : sie kanns, sie kanns !

Erde, die frei hat, du gl�ckliche, spiele
nun mit den Kindern. Wir wollen dich fangen,
fr�hliche Erde. Dem Frohsten gelingts.

O, was der Lehrer sie lehrte, das Viele,
und was gedruckt steht in Wurzeln und langen
schwierigen St�mmen: sie singts, sie singts !


XXI

Eis outra vez a Primavera. A Terra
� um menino que sabe dizer versos;
tantos, oh tantos... Por aquele esfor�o
de longo estudo vai receber um pr�mio.

Severo foi o mestre. N�s gost�vamos
da brancura da barba daquele velho.
Agora podemos perguntar o nome
do verde, o azul: ela sabe, ela sabe!

Terra feliz, em f�rias, brinca agora
co'as crian�as. Queremos agarrar-te,
Terra alegre. A mais jovial consegue-o.

Oh, o muito em que o mestre as instruiu
e o impresso nas ra�zes e nos longos
troncos dif�ceis: ela o canta, canta!

(Rainer Maria Rilke, traduzido por Paulo Quintela)

*

Bom dia!

17.4.05
 


NATUREZA MORTA A CAMINHO DE VIAGEM

Da esquerda para a direita: a pilha dos Grande Hotel, alguns quase desfeitos. �Est� completo?�, perguntei. �Mais que completo. Alguns est�o t�o usados que t�m folhas a mais que estavam soltas nos outros��. Um moleskine, com um mapa dentro, dobrado. Uma cruz numa terra onde h� um pluvium, e se v� chover ao longe. Uma cruz noutra terra onde esteve um louco. Outra cruz numa terra onde come�ou um olhar novo sobre as formas. Outra cruz sobre uma das ruas mais bonitas do mundo. No centro das linhas, unindo essas cruzes, ao modo her�tico, o Abrupto ser� a� feito daqui a dias. Uma pilha de livros que faltam numa bibliografia que nunca mais acaba e que tapam a esta��o meteorol�gica. Um comando de televis�o. Um telem�vel. Uma pilha de zips. Um pequeno r�dio. Um espelho convexo. Uma caneta, um l�pis que foge para baixo para debaixo do teclado, uma moeda �nfima, um dado improv�vel, uma faca. Uma tesoura vermelha, duas m�os, um ecr�, um cart�o de visita perdido, um papel com meia d�zia de palavras. Um azulejo, um modem que brilha no escuro, bocados de lava de tr�s sabores, de tr�s vulc�es. Em bom rigor um n�o � lava, � pedra-pomes. Um disco pouco subtil, uma m�quina fotogr�fica preparada, um radi�metro parado. Mais livros, desalojados pela bibliografia: Alice Munro, Ballard. Um rato. A beira da mesa. Vazio.
 


COISAS SIMPLES


C�zanne, Paul Alexis lendo a Emile Zola
 


EARLY MORNING BLOGS 472

Paseni�o, paseni�o,
vou pola tarde calada,
de Bastabales cami�o.

Cami�o do meu contento;
i en tanto o sol non se esconde,
nunha pedri�a me sento.

E sentada estou mirando
como a l�a vai sa�ndo,
como o sol se vai deitando.

Cal se deita, cal se esconde,
mentras tanto corre a l�a
sin saberse para donde.

Para donde vai tan soia,
sin que aos tristes que a miramos
nin nos fale, nin nos oia.

Que si o�ra e nos falara,
moitas cousas lle dixera,
moitas cousas lle contara.

(Rosalia de Castro)

*

Bom dia!

16.4.05
 


INTEND�NCIA

Para n�o variar, a bibliografia...

Em breve, a vers�o 4.0 de OS CINQUENTA MOMENTOS POL�TICOS MAIS IMPORTANTES DEPOIS DO 25 DE ABRIL, a pen�ltima.
 


BIBLIOFILIA: A LETRA DE UM ESPI�O



Mas n�o foi s� o Grande Hotel que encontrei nos alfarrabistas bracarenses, foi tamb�m este livro do c�lebre organizador da espionagem da Fran�a Livre, Gilbert Renault, dito �Coronel Remy�, com uma dedicat�ria do pr�prio (n�o tenho a certeza, mas quase) a um Almirante portugu�s em 1955.
 


MAIS GRANDE HOTEL , �A M�GICA REVISTA DO AMOR�



Bravo! O amor � compat�vel com a arte com letra A, e com os surrealistas� em Roma. Mas h� mais: �Cora��o que n�o sabe esquecer�, �Tra�da!�, �Eu tive este sonho�, �Truque de namorada�, �N�o me odeie, meu amor!�, �L�grimas�, v�rias e um mentiroso �Sempre te esperarei�. Um fabuloso casamento em Fiesso, �abandonando ela o alvo enxoval e ele fatiota nova, cal�aram botas e enfrentaram a larga estrada para ir � Igreja�, treze quil�metros para sermos mais precisos, com neve alta. Casaram de cachecol. E h� o �� proibido amar-te� e...
 


EARLY MORNING BLOGS 471

Between the Beating Clocks


Cheap, made to travel they throw their tiny drumbeats out in stereo from the bed table
to the work station. They fill the room
with a music of ticking, only just out
of synch. It could be maddening,
Poe's buried heart, or that spinning toy,
a shuttlecock, ratcheting over nylon cord
slap, slap, slap. Or the body's racket
in the blood, the slow tock of sex undone.
It soothes, they do, soothe, the ping-pong
rhythm of their second-clapping hands:
red line, a vein between this and that.


(Crystal Bacon)

*

Bom dia, "ticking"!

15.4.05
 


BIBLIOFILIA: TORCE-SE E SAI AMOR POR TODOS OS POROS



nesta fabulosa revista Grande Hotel, que encontrei num alfarrabista em Braga, terra muito prop�cia a estas descobertas. Alguns blogues deviam vir aqui buscar inspira��o. Hist�rias: �Id�lio a Bordo�, �Brincadeira�, e �Feira de livros�. Mas h� mais: �Visita ao castelo�, �Passeio buc�lico�, �A bela moleira�, �A bela enfermeira�, �Na Igreja�, �Refei��o na montanha�. H� tamb�m uma fotonovela �Bela demais para ser feliz� e muito mais, um verdadeiro cat�logo do mau gosto triunfante. Mais cedo ou mais tarde estar� nos �cones da Taschen.

N�o, n�o � engano. Na �Feira do livro�, o livro � esquerda � de Kant.
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: VOLTOU O MORSE, PONTO, TRA�O DE NOVO

 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O PERD�O DOS INFORMADORES

(...)Na realidade os democratas, com frequ�ncia, valorizam excessivamente o perd�o, mesmo quando este pode fragilizar a pr�pria democracia. A liberdade implica responsabilidade e os adultos s�o respons�veis/responsabiliz�veis pelos seus actos . A pouca sensatez est� em, no caso vertente, e como assinalou muito bem, deixar que sejam p�blicos os nomes (... e n�o s�) das v�timas e se protejam os algozes.

Sou pouco crente na capacidade de altera��o estrutural de um/a tipo/a que assumiu o desprez�vel papel de informador/a mas n�o quero fechar a porta ao arrependimento e � sua integra��o na democracia.No entanto, perante eles, como em dia de chuveiros,fecho o guarda-chuva mas n�o o deito fora...

(Maria Cruz)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: HOW FAR CAN YOU GO? DE DAVID LODGE

Comecei a ler o livro uns dias antes da deteriora��o do estado de sa�de do Papa Jo�o Paulo II (n�o sabia, portanto, o qu�o pertinente a sua leitura se viria a revelar), terminei poucos dias ap�s a sua morte. Tinha-o comprado numa das minhas "peregrina��es" � Hodges & Figgis de Dublin sem absolutamente nenhuma refer�ncia para al�m do texto na contra-capa: "Polly, Dennis, Angela, Adrian and the rest were bound to lose their spiritual innocence as well as their virginities on the way from the 1950s to the '70s. On the one hand there was the traditional Catholic Church, on the other the siren call of the permissive society - the appearance of the Pill, the disappearance of Hell and the advent of COC (Catholics for an Open Church). It was inevitable that things would change fairly radically. But still...". E, claro, a certeza de umas horas bem entretidas que os livros de David Lodge sempre propiciam. Tal como o texto citado sugere, o livro narra a hist�ria de um grupo de cat�licos na Inglaterra dos anos 50 a 70, e das suas d�vidas e ang�stias na tentativa de conciliar a sua conduta numa sociedade cada vez mais permissiva com a sua religi�o.

Chama-se "How Far Can You Go" e o �ltimo par�grafo reza assim:

"While I was writing this last chapter, Pope Paul VI died and Pope Jonh Paul I was elected. Before I could type it up, Pope John Paul I had died and been succeeded by John Paul II, the first non-Italian pope for four hundred and fifty years: a Pole, a poet, a philosopher, a linguist, an athlete, a man of the people, a man of destiny, dramatically chosen, instantly popular - but theologically conservative. A changing Church acclaims a Pope who evidently thinks that change has gone far enough. What will happen now? All bets are void, the future is uncertain, but it will be interesting to watch."

O livro teve a sua primeira edi��o em 1980.

(Mariana Magalh�es)

14.4.05
 


A OUVIR

o poema de Frank O'Hara To the Film Industry in Crisis, lido por ele pr�prio, um dos grandes hinos po�ticos ao cinema, ao cinema americano, onde a "velha Europa" s� espreita com Eric von Stroheim , na pele do "seducer of mountain-climbers' gasping spouses". Vale a pena ler enquanto se ouve:

To the Film Industry in Crisis


Not you, lean quarterlies and swarthy periodicals
with your studious incursions toward the pomposity of ants,
nor you, experimental theater in which Emotive Fruition
is wedding Poetic Insight perpetually, nor you,
promenading Grand Opera, obvious as an ear (though you
are close to my heart), but you, Motion Picture Industry,
it's you I love!

In times of crisis, we must all decide again and again whom we love.
And give credit where it's due: not to my starched nurse, who taught me
how to be bad and not bad rather than good (and has lately availed
herself of this information), not to the Catholic Church
which is at best an oversolemn introduction to cosmic entertainment,
not to the American Legion, which hates everybody, but to you,
glorious Silver Screen, tragic Technicolor, amorous Cinemascope,
stretching Vistavision and startling Stereophonic Sound, with all
your heavenly dimensions and reverberations and iconoclasms! To
Richard Barthelmess as the "tol'able" boy barefoot and in pants,
Jeanette MacDonald of the flaming hair and lips and long, long neck,
Sue Carroll as she sits for eternity on the damaged fender of a car
and smiles, Ginger Rogers with her pageboy bob like a sausage
on her shuffling shoulders, peach-melba-voiced Fred Astaire of the feet,
Eric von Stroheim, the seducer of mountain-climbers' gasping spouses,
the Tarzans, each and every one of you (I cannot bring myself to prefer
Johnny Weissmuller to Lex Barker, I cannot!), Mae West in a furry sled,
her bordello radiance and bland remarks, Rudolph Valentino of the moon,
its crushing passions, and moonlike, too, the gentle Norma Shearer,
Miriam Hopkins dropping her champagne glass off Joel McCrea's yacht
and crying into the dappled sea, Clark Gable rescuing Gene Tierney
from Russia and Allan Jones rescuing Kitty Carlisle from Harpo Marx,
Cornel Wilde coughing blood on the piano keys while Merle Oberon berates,
Marilyn Monroe in her little spike heels reeling through Niagara Falls,
Joseph Cotten puzzling and Orson Welles puzzled and Dolores Del Rio
eating orchids for lunch and breaking mirrors, Gloria Swanson reclining,
and Jean Harlow reclining and wiggling, and Alice Faye reclining
and wiggling and singing, Myrna Loy being calm and wise, William Powell
in his stunning urbanity, Elizabeth Taylor blossoming, yes, to you

and to all you others, the great, the near-great, the featured, the extras
who pass quickly and return in your dreams saying your one or two lines,
my love!
Long may you illumine space with your marvellous appearances, delays
and enunciations, and may the money of the world glitteringly cover you
as you rest after a long day under the kleig lights with your faces
in packs for our edification, the way the clouds come often at night
but the heavens operate on the star system. It is a divine precedent
you perpetuate! Roll on, reels of celluloid, as the great earth rolls on!


(M�rito do Borzoi Reader).
 


INTEND�NCIA

Continua a saga da bibliografia...

Colocados no VERITAS FILIA TEMPORIS todos os textos da s�rie da Lagartixa e do Jacar�, publicados na S�bado at� h� uma semana.

Actualizada com novos textos a nota LER de 11 de Abril, com o Google vs. Fran�a.
 


COISAS SIMPLES


C. Somov
 


EARLY MORNING BLOGS 470

All Things can tempt Me



All things can tempt me from this craft of verse:
One time it was a woman's face, or worse -
The seeming needs of my fool-driven land;
Now nothing but comes readier to the hand
Than this accustomed toil. When I was young,
I had not given a penny for a song
Did not the poet sing it with such airs
That one believed he had a sword upstairs;
Yet would be now, could I but have my wish,
Colder and dumber and deafer than a fish.


(Yeats)

*

Bom dia!

13.4.05
 


INTEND�NCIA

Actualizado A LER de 11 de Abril sobre o Google e a Fran�a.

Continua a ser completada a Bibliografia Sistem�tica dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.
 


OS CINQUENTA MOMENTOS POL�TICOS MAIS IMPORTANTES DEPOIS DO 25 DE ABRIL (Vers�o 3.0)


[Esta lista � uma terceira vers�o. Ser� de novo completada e eventualmente alterada com as colabora��es dos leitores do Abrupto. Os coment�rios recebidos at� agora est�o anexos �s vers�es anteriores. A vermelho algumas dessas sugest�es que ainda n�o entraram na lista definitiva. A vers�o final ser� datada com mais precis�o e indicar� os principais respons�veis pelo "momento".]

1. O primeiro 1� de Maio, o respirar inicial da liberdade. Respons�vel: MFA (1 de Maio de 1974).
Gostaria de saber porque n�o incluiu a liberta��o dos presos pol�ticos. A data ocorreu entre 25/04 e 01/05, uma vez que tenho a certeza de que alguns participaram j� nas manifesta��es do primeiro 1� de Maio �p�blico�.

(L�cia Maria)
2. Cria��o dos partidos democr�ticos depois do 25 de Abril: a estrutura��o do PS na legalidade, a cria��o do PSD e do CDS.

3. Decis�o do PCP de se opor � manifesta��o da "maioria silenciosa� de 28 de Setembro dando in�cio ao chamado �Processo revolucion�rio em curso� (PREC) (no m�s de Setembro de 1974).

4. Discurso de Salgado Zenha no Pavilh�o dos Desportos contra a �unicidade sindical� (16 Janeiro 1975).

5. Legaliza��o do div�rcio nos casamentos religiosos com a altera��o da Concordata. Respons�vel: Salgado Zenha (15 de Fevereiro de 1975).

6. Golpe e contra-golpe do 11 de Mar�o. Respons�veis: Sp�nola e a ala militar ligada ao PCP no Conselho da Revolu��o (11 de Mar�o de 1975).

7. Nacionaliza��es a seguir ao 11 de Mar�o. Respons�vel: Conselho da Revolu��o.

8. Elei��es para a Assembleia Constituinte que deram vit�ria aos partidos que se opunham ao PREC (25 de Abril de 1975).

9. Inc�ndios e destrui��es das sedes do PCP no Centro e Norte do pa�s (a partir de fins de Maio de 1975).

10. Com�cio da Fonte Luminosa, ponto alto da resist�ncia ao PREC dos socialistas (19 de Julho de 1975).
Creio que ficaria bem nesta resenha uma refer�ncia ao "documento dos nove" que circulou pelas unidades militares, em Julho/Agosto de 75 e que permitiu recentrar o papel da FA no processo de democratiza��o e que fechou o caminho � "democracia popular". Sem esta atitude a cubaniza��o seria talvez impar�vel.

(Eug�nio Ferreira)

x. "Olhe que n�o, olhe que n�o", o debate Soares/Cunhal (6 de Novembro de 1975).

11. O 25 de Novembro, fim da express�o militar do PREC (25 de Novembro de 1975).

A interven��o do capit�o Duran Clemente na RTP no dia 25 Novembro de 1975. Um dos momento mais tr�gico-c�micos da vida pol�tica portuguesa.

(Alexandre Feio)
12. Declara��es de Melo Antunes impedindo a ilegaliza��o do PCP depois do 25 de Novembro (26 de Novembro).

x. Autonomias regionais.

13. Fim do imp�rio colonial e "retorno" dos portugueses de �frica (anos de 1975-7).

14. Aprova��o da Constitui��o em 1976 que garantia os direitos fundamentais de uma democracia, mas mantinha na sua parte econ�mica e em muitos outros aspectos a linguagem e o adquirido do PREC.

15. Ac��o de Sottomayor Cardia no Minist�rio da Educa��o, o primeiro ministro a tentar sair do �estilo� e dos poderes do PREC.

Ao ler a sua lista sobre os 50 momentos pol�ticos mais importantes depois do
25 de Abril deparei com este que me fez escrever-lhe. Eu estava na Universidade, na Faculdade de Letras de Lisboa, quando Sottomayor Cardia foi Ministro da Educa��o. Hoje sei que ele tinha obviamente raz�o em querer destruir o que n�s - os esquerdistas que paralis�vamos com grande facilidade as universidades - cham�vamos a "gest�o democr�tica", e n�s n�o.

Mas ele foi tamb�m o autor de uma remodela��o curricular dos cursos de Letras, e em particular do de Hist�ria (que conclu�), que nunca deixei de pensar que foi uma regress�o sem sentido, sobretudo nessa altura. (e j� n�o falo do regresso de um certo n�mero de saneados que, por muito injusto e inaceit�vel que fosse o seu saneamento dois anos antes, traziam um cheiro a bolor intelectualmente insuport�vel).
Hoje dizem-se e escrevem-se coisas assustadoras sobre a Universidade desses anos e a avalia��o cont�nua e todas as tropelias que sabemos...

Mas eu gostaria de lembrar que foi desses anos universit�rios - e falo apenas do curso de Hist�ria da FLL - em que os professores se chamavam Jos� Matoso, Cl�udio Torres, Jorge Cust�dio, Borges Coelho (e, em 75/76, ainda Barradas de Carvalho) e uma lista enorme de outros nomes, que sa�ram pessoas que hoje t�m interven��o p�blica not�ria como Ant�nio Costa Pinto, Nuno Severiano Teixeira, Bernardo Vasconcelos e Sousa (ex-director da Torre do Tombo), Francisco Bethencourt, Jo�o Pinharanda, (o falecido) Manuel Herm�nio Monteiro, os jornalistas Henrique Monteiro e Pedro Caldeira Rodrigues e uma lista de nomes que poderia continuar mas que correria o risco de ser fastidiosa. E estou apenas a lembrar alguns nomes desse curso de Hist�ria sem ir para a Filosofia (Ant�nio Pinto Ribeiro, Manuel S. Fonseca,...) ou a Literatura e as L�nguas e ter que lhe encher v�rias p�ginas (de alunos e tamb�m de professores). Ter� sido esse um momento importante? Que saudades desses anos...

(Pedro Borges)

16. A Lei Barreto, o in�cio da contra-reforma agr�ria.

17. Vit�ria da AD demonstrando a possibilidade de altern�ncia democr�tica � hegemonia do PS.

18. Morte acidental (ou assassinato) de S� Carneiro.

19. Fim do Conselho da Revolu��o na revis�o constitucional de 1982

20. �Bloco central� em que PS e PSD dividiram o estado, os cargos p�blicos, as �reas de influ�ncia, os gestores p�blicos, criando um establishment de poder que ainda hoje � prevalecente.

21. Desmantelamento das FP 25 de Abril e pris�o dos seus respons�veis.

22. �Apertar do cinto� obrigado pelo FMI, numa situa��o de quase ruptura das finan�as p�blicas. Respons�veis: Ern�ni Lopes e M�rio Soares.

23. A cria��o do PRD, o partido de iniciativa presidencial que dividiu o eleitorado socialista. Respons�vel: Ramalho Eanes (25 de Fevereiro de 1985).

24. Primeira volta das elei��es presidenciais de 1985 em que M�rio Soares acaba com o �pintasilguismo� e com as �ltimas tentativas de um �socialismo� ao modelo peruano. e a sua elei��o como primeiro Presidente civil da democracia.

25. Congresso do PSD da Figueira da Foz em que vence Cavaco (Maio de 1985).

26. Entrada de Portugal na UE (1 de Janeiro de 1986).

27. Dissolu��o da Assembleia da Rep�blica depois da aprova��o da mo��o de censura do PRD (1987).

28. Maioria absoluta de Cavaco Silva, uma verdadeira subvers�o de um sistema eleitoral constru�do para obrigar a governos de coliga��o.

29. O influxo de vultuosos fundos comunit�rios, parcialmente desperdi�ados no Fundo Social Europeu, mas permitindo importantes obras infraestruturais que mudaram a face do pa�s.

30. Privatiza��o do espa�o televisivo e da comunica��o social escrita do estado. Respons�vel: Cavaco Silva.

31. Introdu��o do IVA, a mais efectiva moderniza��o do sistema fiscal desde o 25 de Abril.

32. Revis�o econ�mica da Constitui��o permitindo finalmente a exist�ncia de uma plena economia de mercado e as privatiza��es.

33. A primeira Presid�ncia portuguesa da UE. Respons�vel: Cavaco Silva.

34. O Massacre de Santa Cruz, em Timor-Leste e todo o processo subsequente de luta pela autodetermina��o de Timor-Leste (12 de Novembro de 1991).

35. A orienta��o do Independente para criar um populismo de direita contra o PSD. Respons�vel: Paulo Portas.

36. Cria��o do PP contra o CDS, dando express�o partid�ria ao populismo de direita e � ac��o unipessoal de Paulo Portas. Respons�veis: Paulo Portas e Manuel Monteiro.

37. Bloqueio da Ponte 25 de Abril (1994).

Em 1994. As c�lebres manifesta��es de atitudes obscenas contra Manuela Ferreira Leite, ent�o ministra da educa��o do governo de Cavaco Silva e a �gera��o rasca� alcunhada por Vicente Jorge Silva no editorial do seu jornal, O P�blico. A gera��o que baixou as cal�as e mostrou as n�degas ao Governo ao mesmo tempo que gritava �n�o pagamos�.

(Francisco Pacheco Craveiro)
38. O �tabu�, a decis�o de Cavaco Silva de n�o se candidatar �s pr�ximas elei��es legislativas, fim do �cavaquismo� (1995).

39. A decis�o de fazer a Expo mudando a face oriental de Lisboa (1998).

40. Vit�ria do �n�o� no "Referendo sobre a institui��o em Concreto das Regi�es Administrativas (8-Nov-1998)",

41. Cria��o do Rendimento M�nimo Garantido.

42.. Referendo sobre o Aborto (Junho de 1998).

43. Ades�o ao euro (1 de janeiro de 1999).

44. Devolu��o de Macau � plena soberania chinesa (20 de Dezembro de 1999).

45. Demiss�o de Ant�nio Guterres.

46. Processo Casa Pia: depois do processo Emaudio, � o primeiro grande processo-crime que envolve importantes dirigentes pol�ticos.

47. Sa�da de Dur�o Barroso para a Presid�ncia da UE.

48. Campanha eleitoral do PS entre Jo�o Soares, Manuel Alegre e Jos� S�crates.

49. Dissolu��o da Assembleia da Rep�blica e fim do governo Santana Lopes - Paulo Portas. Respons�vel: Jorge Sampaio.

50. Maioria absoluta do PS. Respons�vel: Jos� S�crates (20 de Fevereiro de 2005).

*
� um acontecimento cujo impacto ainda n�o podemos medir, mas que desde j� talvez mere�a ser colocado algo acima do n�mero 42 da sua lista. A vit�ria com maioria absoluta do PS mostrou que, apesar dos condicionamentos do sistema eleitoral, � poss�vel que saiam directamente de elei��es maiorias unipartid�rias de esquerda (tal como j� havia sido poss�vel � direita...).
Um acontecimento que ainda n�o se encontra na lista e que talvez se justifique ser acrescentado: a ocupa��o do cargo de primeira-ministra por uma mulher;

(Filipe)


*

E os Inadi�veis e a ruptura de S� Carneiro? E talvez o discurso de Almada do Vasco Gon�alves? Lembra-se de um cartaz que apareceu nas grades do jardim do Miguel Bombarda? �Volta, Vasco, est�s perdoado! Mas se n�o quiseres voltar, ao menos vem aos tratamentos!�

E outro: �O Ex�rcito � o espelho da Na��o�. E algu�m andou a escrever, por baixo de muitos: �Estamos muito mal servidos de espelhos��

Portugal ainda n�o tinha perdido o gosto de rir dos seus pol�ticos e das suas situa��es. E que falta que isso faz. A uns e a outros�

(Luis Manuel Rodrigues)
*

No sentido de dar um pequeno contributo para esta lista lembrei-me do caso
Felgueiras que levou � fuga de uma "figura politica" para o Brasil.

H� tamb�m o famoso acordo do queijo limiano que aprovou as contas de 2001.

(Carlos Lopes)
*

Gostaria de dar o meu contributo com alguns momentos que considero merecerem fazer parte da lista (como pontos ou sub pontos):

Pacto MFA-Partidos, que permitiu a realiza��o das elei��es e ter� marcado at� hoje o espectro pol�tico portugu�s (uma vez que ainda hoje o CDS tem dificuldades em encontrar um espa�o claro)

Cerco ao congresso do CDS, �s suas sedes e a com�cios do PPD

Cerco � Assembleia Constituinte e o "badamerda" do 1� ministro

Elei��o do deputado da UDP, facto que deu origem ao BE (na minha opini�o o que uniu os partidos do BE foi a possibilidade de regressar ao parlamento sem o estigma de coliga��es contra natura)

Manifesta��es pr� Timor, no p�s referendo.

(Pedro Casta�o)

*
O acordo de Bicesse. Pela relev�ncia nacional e internacional com a alta influ�ncia de Jos� Manuel Dur�o Barroso.

(Tiago Craveiro)
 


BREVE

vers�o 3.0 de OS CINQUENTA MOMENTOS POL�TICOS MAIS IMPORTANTES DEPOIS DO 25 DE ABRIL.

12.4.05
 


A OUVIR

Wallace Stevens a "dizer" "The Idea of Order at Key West" .
 


COISAS COMPLICADAS


Ingres
 


EARLY MORNING BLOGS 469

GOMES LEAL


Sagra, sinistro, a alguns o astro ba�o.
Seus tr�s an�is irrevers�veis s�o
A desgra�a, a tristeza, a solid�o.
Oito luas fatais fitam no espa�o.

Este, poeta, Apolo em seu rega�o
A Saturno entregou. A pl�mbea m�o
Lhe ergueu ao alto o aflito cora��o,
E, erguido, o apertou, sangrando lasso.

In�teis oito luas de loucura
Quando a cintura tr�plice denota
Solid�o e desgra�a e amargura!

Mas da noite sem fim um rastro brota,
Vest�gios de maligna formosura:
� a lua al�m de Deus, �lgida e ignota.


(Fernando Pessoa)

*

Bom dia!

11.4.05
 


NATUREZA MORTA DE NOITE

Da esquerda para a direita: um moleskine quase no fim, uma tesoura vermelha, um l�pis de muito longe, castanho, uma pilha de cart�es de visita, as Etimologias de S. Isidoro de Sevilha, edi��o bilingue, latim e castelhano, um DVD do PCGamer, com o Freedom Force vs the Third Reich, uma m�quina fotogr�fica cheia de fotografias, uma pilha de zips, um r�dio de ondas curtas da Sony, meia d�zia de moedas, euros e dimes, um penny para os teus pensamentos�, um n�mero de telefone escrito � pressa, duas caixas vazias de Clubmaster verde para guardar as moedas, um agrafador, duas m�os fazendo o meio no meio, um ecr�, dois olhos, fazendo o meio no meio, um espelho c�ncavo, um azulejo de Delft, um postal com um livro, uma porta (ou ser� um monte de caixas?), selos e um telesc�pio, uma esta��o meteorol�gica, , vinte graus aqui, dezasseis l� ao fundo, onze l� fora, algum vento, escuro, peda�os de lava, v�ria, um ramo pequeno de cedro das encostas, um dado viciado, um rato branco, depois o que est� atr�s, fantasmas, livros.
 


INTEND�NCIA

Nova actualiza��o de OS CINQUENTA MOMENTOS POL�TICOS MAIS IMPORTANTES DEPOIS DO 25 DE ABRIL (Vers�o 2.0).
 


COISAS SIMPLES


Kuzma Petrov-Vodkin
 


A LER

No NYT France Detects a Cultural Threat in Google e Jean-No�l Jeanneney, "L'intelligence, l'innovation ne sont pas seulement outre-Atlantique !" no Le Monde. "Estrat�gia de Lisboa" no seu pleno sentido chauvinista.

*
N�o vejo qualquer fundamento para classificar de chauvinista a ideia de as bibliotecas europeias iniciarem um processo de digitaliza��o das suas colec��es, usando os seus proprios recursos e fazendo a sua propria selec��o. N�s, os leitores, s� teremos a ganhar com uma maior oferta e diversidade. Por outro lado, sera que, por exemplo, a ESA, o ESO, o CERN, o EMBL s�o tambem manifesta��es de chauvinismo?!?

(MP)
*
Os Franceses devem estar zangados porque o Google mostra 296.000 refer�ncias a "chauvinism" e apenas 50.400 a "chauvinisme". Mesmo como teoria da conspira��o � idiota pensar que os "rankings" do Google servem para promover a cultura "anglo-sax�nica" em detrimento da cultura "europeia". Ser� que o senhor Jeanneney acredita mesmo que h� alguem sentado numa cave em Mountain View, California, cuja terefa � decidir o que � ou n�o "anglo-sax�nico"? Ou tem simplesmente medo de perder o controlo da sua preciosa biblioteca para b�rbaros cujo unico crit�rio cultural � a utilidade? � triste ver como o medo da competi��o, medo do mundo, fecha as portas a quem esteja interessado na cultura francesa e pior, a quem por acaso poderia encontrar a cultura francesa no Google, e ficar interessado.

(Luis Teixeira)
*

Tamb�m n�o concordo com o termo chauvinista. Digamos que os termos "mesquinho" ou "rid�culo" ser�o mais adequados.

Sobre o coment�rio ao seu post, acho que a ESA, o ESO e principalmente o CERN n�o se fizeram por uma quest�o de sensibilidade europeia (Jean-No�l Jeanneney n�o nos d� a mais p�lida luz sobre a que possa corresponder tal conceito, pelo que terei de ser eu a interpret�-lo, na minha triste condi��o de googledependente, que v� o mundo pelo prisma americano), porque n�o se pode argumentar seriamente que a descoberta do bos�o de Higgs dependa de outra sensibilidade que n�o a dos detectores destinados ao efeito. Ou que o desvio para o vermelho das gal�xias distantes seja interpret�vel � luz da gradua��o dos �culos dos astr�nomos europeus. Ou que a sensibilidade do Ariane permite colocar em �rbita sat�lites que de outra forma n�o seria poss�vel l� colocar.

� com esta Fran�a que a Uni�o Europeia se vai afirmar no mundo?

(M�rio Almeida)

*
Quanto ao tema da iniciativa francesa, acho absolutamente delirante que um governante considere a hip�tese de atacar um mercado onde actuam empresas privadas, utilizando para isso capitais p�blicos. Assim, ficamos a saber que um servi�o que nos chega de uma forma gratuita ter� brevemente um concorrente, que para os franceses ter� o custo de uma parte dos seus impostos ser utilizada para o capricho de um governante.
A segunda ideia delirante, e esta verdadeiramente doentia, resulta da conclus�o do respons�vel da Bibliotece Nacional de Fran�a, que o crit�rio de classifica��o atrav�s do page rank � pouco cred�vel e por isso a solu��o "� francesa" passa pela cria��o de um "grupo de s�bios", que classificar� quais os documentos mais importantes e por isso quais os documentos que devemos ler prioritariamente.
Este conceito de "grande orientador" passa de uma forma pac�fica porque � proposto pelo governo franc�s. O que diria a nossa classe intelectual se esta proposta tivesse a assinatura de Berlusconi?

(Miguel)
*

O que ser� mais penoso para os franceses � confrontarem-se com a pujan�a da cultura (universit�ria, cient�fica, tecnol�gica, art�stica, liter�ria, comunit�ria, etc.) anglo-sax�nica, por contraposi��o � balofice retr�gada, favoritista, subsidiada, orgulhosa e instalada que h� tanto tempo marca as "superiores culturas latinas". O fen�meno GOOGLE nada mais significa do que o mensageiro que se pretende ver morto. Antes isso que colocar em causa o mito civilizacional da superioridade cultural latina em geral e francesa em particular. Doeria demais. Implicava mexer em demasiados orgulhos, em demasiadas estruturas organizacionais, em demasiados privil�gios.

(Lu�s Pereira Coutinho)
 


INTEND�NCIA

Actualizada a nota OS CINQUENTA MOMENTOS POL�TICOS MAIS IMPORTANTES DEPOIS DO 25 DE ABRIL (Vers�o 2.0) com colabora��es dos leitores.

Actualizados os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO com o in�cio de uma s�rie sobre os quadros de Avelino Cunhal em colec��es particulares, e continua a ser completada a Bibliografia Sistem�tica.
 


EARLY MORNING BLOGS 468

Upon a House shaken by the Land Agitation



How should the world be luckier if this house,
Where passion and precision have been one
Time out of mind, became too ruinous
To breed the lidless eye that loves the sun?
And the sweet laughing eagle thoughts that grow
Where wings have memory of wings, and all
That comes of the best knit to the best? Although
Mean roof-trees were the sturdier for its fall,
How should their luck run high enough to reach
The gifts that govern men, and after these
To gradual Time's last gift, a written speech
Wrought of high laughter, loveliness and ease?


(Yeats)

*

Acerca de uma Casa Amea�ada pela Agita��o da Terra

Como seria mais feliz o mundo se esta casa,
Onde paix�o e rigor se fundiram em
Tempos imemoriais, em ru�nas transformada
Deixasse de criar o olho sem p�lpebras que ama o sol?
E os doces e alegres pensamentos de �guias que crescem
Onde asas cont�m mem�ria de asas, tudo
O que vem do melhor se une ao melhor? Embora
Os pobres pilares mais fortes na queda se tornassem,
Que grande sorte teria de ser a sua para alcan�ar
Os dons que governam os homens, e mais ainda
O �ltimo dom do Tempo sucessivo, discurso escrito
Forjado em alto riso, encanto e paz?

(tradu��o de Jos� Agostinho Baptista)

*

Bom dia!

10.4.05
 


OS CINQUENTA MOMENTOS POL�TICOS MAIS IMPORTANTES DEPOIS DO 25 DE ABRIL (Vers�o 2.0)


[Esta lista � uma segunda vers�o. Ser� de novo completada e eventualmente alterada com as colabora��es dos leitores do Abrupto, incluindo as sugest�es de �momentos� adicionais para perfazer o n�mero de cinquenta. Os coment�rios recebidos at� agora est�o anexos � vers�o anterior. A vermelho algumas dessas sugest�es que ainda n�o entraram na lista definitiva. A vers�o final ser� datada com mais precis�o e indicar� os principais respons�veis pelo "momento".]
Quando Salgueiro Maia, na parada de Santar�m, deu ordem de marcha.Este � momento Inicial de tudo o que agora vivemos.

(C.Indico)
1. O primeiro 1� de Maio, o respirar inicial da liberdade. Respons�vel: MFA (1 de Maio de 1974).

2. Cria��o dos partidos democr�ticos depois do 25 de Abril: a estrutura��o do PS na legalidade, a cria��o do PSD e do CDS.

3. Decis�o do PCP de se opor � manifesta��o da "maioria silenciosa� de 28 de Setembro dando in�cio ao chamado �Processo revolucion�rio em curso� (PREC) (no m�s de Setembro de 1974).

x. Discurso de Salgado Zenha no Pavilh�o dos Desportos contra a �unicidade sindical� (16 Janeiro 1975).

4. Legaliza��o do div�rcio nos casamentos religiosos com a altera��o da Concordata. Respons�vel: Salgado Zenha (15 de Fevereiro de 1975).

5. Golpe e contra-golpe do 11 de Mar�o. Respons�veis: Sp�nola e a ala militar ligada ao PCP no Conselho da Revolu��o (11 de Mar�o de 1975).

6. Nacionaliza��es a seguir ao 11 de Mar�o. Respons�vel: Conselho da Revolu��o.

7. Elei��es para a Assembleia Constituinte que deram vit�ria aos partidos que se opunham ao PREC (25 de Abril de 1975).

x. Inc�ndios e destrui��es das sedes do PCP no Centro e Norte do pa�s (a partir de fins de Maio de 1975).

8. Com�cio da Fonte Luminosa, ponto alto da resist�ncia ao PREC dos socialistas (19 de Julho de 1975).

� natural que a vis�o que cada um tem da import�ncia relativa de acontecimentos que decorreram h� mais de 30 anos seja muito influenciada pelo seu pr�prio ponto de vista de ent�o. E n�o me refiro tanto �s quest�es ideol�gicas, como ao ponto de vista em si, no sentido do simples posicionamento: dentro da floresta, fora dela, no alto da colina, de frente ou de costas para um determinado acontecimento, etc.

E tamb�m me parece que existe uma mem�ria altamente selectiva, sobretudo em termos da mitifica��o do que era o PS dessa �poca, em compara��o com o PS de hoje. De todos os partidos, o que at� hoje maiores mudan�as registou, e de muito longe, foi sem d�vida o PS, e fala-se disso como de pormenor insignificante se tratasse...

Na lista dos 50 acontecimentos, continuo a notar uma excessiva minimiza��o do per�odo que vai de 1 de Maio a 28 de Setembro de 1974, incluindo a important�ssima demiss�o, na sequ�ncia imediata do 28 de Setembro, do Presidente da Rep�blica, gen. Sp�nola, por falta de apoio, n�o s� militar, mas tamb�m por parte dos partidos ditos democr�ticos, que lhe tivesse permitido limitar o MFA ao seu anunciado e leg�timo papel anterior ao PREC.

� evidente que quanto mais recuados s�o os acontecimentos considerados, tanto mais rica se torna a �rvore de possibilidades que decorre de alguns desfechos alternativos. Da� a import�ncia do primeiro embate entre a legalidade revolucion�ria p�s-25 de Abril tal como estabelecida pelo programa do MFA / Junta, e um segundo tipo de actua��o � margem dessa mesma legitimidade por parte do PCP, do PS e do sector anti-spinolista do MFA, que diariamente iam fazendo recuar o projecto de livre organiza��o pol�tica que depreciativamente crismavam de �democracia burguesa�.

Nesse per�odo, surgiram (e legalizaram-se exactamente nos mesmos termos e requisitos legais que PCP, PS, PPD, CDS e muitos outros 'a extrema-esquerda do espectro) diversos partidos � direita do CDS que criaram jornais pr�prios de interven��o pol�tica activa. Os dois principais eram o Partido do Progresso, que defendia um federalismo �'a Sp�nola� e combatia o abandono do Ultramar sem consulta �s popula��es (no fundo, a �nica forma poss�vel de tentar manter algum tipo de estrutura imperial, mas tamb�m uma pretens�o perfeitamente leg�tima), e o Partido Liberal que procurava basicamente alertar para o perigo comunista e defendia uma economia aberta de mercado, muito pr�xima do que quase todos os partidos defendem hoje em dia. Esses partidos teriam concorrido �s elei��es constituintes se n�o tivessem sido eliminados pela viol�ncia no 28 de Setembro, juntamente com os seus jornais.

Mais importante ainda: depois desse per�odo de 5 meses em que todas as for�as tacteavam o terreno, um MFA inicialmente incerto da sua for�a frente aos pol�ticos civis e �s chefias militares tradicionais que ainda estavam em posi��o, adquiriu consci�ncia do que podia fazer, surgindo em pleno a partir da� a nomenklatura politico-militar dos �capit�es de Abril� que se consideravam acima dos processos de decis�o eleitoral pr�prios da �democracia burguesa� e procuravam criar uma tutela permanente para o regime, segundo modelos de tipo cubano, peruano, etc.
(uma das suas ambi�oes era uma representa��o fixa das For�as Armadas no parlamento atrav�s do MFA, segundo o modelo indon�sio).

Considere a seguinte pequena fic��o, uma projec��o imagin�ria dum 28 de Setembro diferente:

1) Os dirigentes do PS, em vez de secundarem o PCP na organiza��o das barricadas, mant�m uma atitude de respeito pela legalidade e conseguem, com algum esfor�o e chegando ao ponto de dirigir alocu��es pela r�dio apelando ao respeito pela lei, segurar as suas bases.

2) A manifesta��o realiza-se, acompanhada de embates entre manifestantes e contra-manifestantes do PC e extrema-esquerda em diversos acessos a Lisboa. Verificam-se mortos e bastantes feridos, mas, sem o apoio entusi�stico e un�nime do eixo PCP-PS, as for�as do MFA que saem para as barricadas s�o escassas e n�o conseguem impedir a grande manifesta��o em Bel�m, onde Sp�nola e Costa Gomes s�o aclamados. Vasco Louren�o perde-se no caminho e volta para casa sem ningu�m dar por ele. Otelo refugia-se na embaixada de Cuba. Melo Antunes nega qualquer participa��o, mas � colocado nos A�ores. No fim da jornada, o que ressalta � que a �nica �intentona� foi a do PC, mas o resultado foi exactamente o oposto do desejado. No dia seguinte, o PPD e o CDS acusam energicamente o PC de prepot�ncia anti-democr�tica, enquanto no seio do PS as correntes mais moderadas procuram explicar aos militantes mais radicais que � necess�rio acompanhar �o processo� sem aventureirismos at� � realiza��o de elei��es.

3) O resultado � o fortalecimento da posi��o de Sp�nola, que h� muito procurava desesperadamente apoios para tentar fazer respeitar o que chamava a �pureza do programa do MFA�, e sobretudo um enfraquecimento do MFA, com progressiva dificuldade em intervir no terreno e conduzir saneamentos militares. Outro resultado � uma nova urg�ncia por parte dos partidos de esquerda em levar a cabo elei��es o mais depressa poss�vel para se obter uma legitima��o pelas urnas capaz de fazer recuar o que consideram o �perigo de golpe fascista�.

4) O resultado das primeiras elei��es constituintes de Janeiro de 1975 � uma assembleia sem maioria absoluta, em que PS e PPD sao os principais partidos, seguidos pelo PC e CDS, e pela coliga��o do PP e do PL que impede a distor��o que at� ao 28 de Setembro amea�ava deslocar todo o espectro pol�tico, criando um v�cuo absoluto � direita do CDS. Mais tarde, o gen. Costa Gomes, bom conhecedor de Angola, e conhecido pelos seus invulgares poderes de concilia��o de proposi��es contradit�rias, � nomeado comiss�rio para a descoloniza��o, e Portugal, visando garantir o acesso dos seus territ�rios � independ�ncia de forma t�o pac�fica quanto poss�vel, apresenta um calend�rio solicitando, se necess�rio, o envio de uma for�a internacional aceit�vel a todas as partes, com o objectivo de impedir a tomada de poder dos diversos movimentos de liberta��o sem elei��es pr�vias nem preserva��o dos mecanismos administrativos capazes de assegurar alguma continuidade ao processo.

Improv�vel, este cen�rio particular? Com certeza. Ou talvez. Mas n�o � esse o ponto. � sempre f�cil garantir que nada poderia ter sido diferente do que foi, mas � mais dif�cil exibir esse or�culo de ci�ncia maravilhosa �avant la lettre�. Para se avaliar o grau de compreens�o daquilo em que se metiam a cada passo, por parte das nossas clarividentes sumidades partid�rias, nada como reler os seus textos e discursos da �poca...

O que quero dizer com tudo isto � que o seu 3� tempo, como est�, fica in�cuo e n�o traduz o que foi o intenso combate pol�tico da �poca. E, j� agora, falta outro tempo importante anterior ao 3�, correspondente ao an�ncio expresso, por parte do gen. Sp�nola, que reconhecia o direito � independ�ncia das col�nias. � importante porque representa uma abdica��o das suas pr�prias ideias insustent�veis (a �Federa��o Portuguesa� maioritariamente africana), e demonstra um realismo que poderia ter dado frutos se n�o fosse a sua quase total falta de apoio por parte dos descolonizadores �� press�o� do PS e PCP.

Quanto ao ponto 3�, onde est�:

3. Decis�o do PCP de se opor � manifesta��o da "maioria silenciosa� de
28 de Setembro dando in�cio ao chamado �Processo revolucion�rio em curso� (PREC) (no m�s de Setembro de 1974).

...deveria estar, ao menos e em nome da simples objectividade, qualquer coisa como:

3. Oposi��o do PCP, PS e MFA � manifesta��o da "maioria silenciosa� de
28 de Setembro, dando in�cio ao chamado �Processo revolucion�rio em curso� (PREC), com a elimina��o dos partidos legais de direita;

...seguida de outro ponto:

-- Resigna��o do Presidente da Rep�blica Sp�nola.

(A.)

x. "Olhe que n�o, olhe que n�o", o debate Soares/Cunhal (6 de Novembro de 1975).

9. O 25 de Novembro, fim da express�o militar do PREC (25 de Novembro de 1975).

10. Declara��es de Melo Antunes impedindo a ilegaliza��o do PCP depois do 25 de Novembro (26 de Novembro).

11. Fim do imp�rio colonial e "retorno" dos portugueses de �frica (anos de 1975-7).

12. Aprova��o da Constitui��o em 1976 que garantia os direitos fundamentais de uma democracia, mas mantinha na sua parte econ�mica e em muitos outros aspectos a linguagem e o adquirido do PREC.
Pois �... parece que esqueceu de inserir, nos marcos da Democracia Portuguesa, a Autonomia Regional da Madeira e dos A�ores...

(Roberto Albuquerque)

13. Ac��o de Sottomayor Cardia no Minist�rio da Educa��o, o primeiro ministro a tentar sair do �estilo� e dos poderes do PREC.
Julgo que deveria acrescentar a forma��o do segundo governo constitucional, em 1978, por ser o primeiro governo de coliga��o.

(Jos� Carlos Santos)

14. A Lei Barreto, o in�cio da contra-reforma agr�ria.

15. Vit�ria da AD demonstrando a possibilidade de altern�ncia democr�tica � hegemonia do PS.

16. Morte acidental (ou assassinato) de S� Carneiro.

17. Fim do Conselho da Revolu��o na revis�o constitucional de 1982

x. a primeira requisi��o civil aquando de uma greve.

18. �Bloco central� em que PS e PSD dividiram o estado, os cargos p�blicos, as �reas de influ�ncia, os gestores p�blicos, criando um establishment de poder que ainda hoje � prevalecente.

x. Desmantelamento das FP 25 de Abril e pris�o dos seus respons�veis.

19. �Apertar do cinto� obrigado pelo FMI, numa situa��o de quase ruptura das finan�as p�blicas.
Neste ponto , t�m que se incluir a ac��o ( decisiva , anti-populista mas fundamental) de Ernani Lopes, que foi muito importante para depois termos condi��es para a entrada na UE.

(Joana Gama de Sousa)
20. A cria��o do PRD, o partido de iniciativa presidencial que dividiu o eleitorado socialista. Respons�vel: Ramalho Eanes (25 de Fevereiro de 1985).

21. Primeira volta das elei��es presidenciais de 1985 em que M�rio Soares acaba com o �pintasilguismo� e com as �ltimas tentativas de um �socialismo� ao modelo peruano. e a sua elei��o como primeiro Presidente civil da democracia.

J� menciona o evento, reportando-se ao fim do �pintasilguismo�na 1� volta, mas entendo que a 2� volta da primeira elei��o de Soares para a presid�ncia, em in�cios de 1986 (?), foi um momento (2 semanas) absolutamente decisivo. Eu diria que um dos dez mais desde o 25 de Abril de 74.

Ele consagrou Soares como a refer�ncia definitiva da esquerda e de esquerda, fermentando decisivamente as condi��es para o bipartidismo dos anos 90, bem vis�vel com Guterres em 95 e 99 e na elei��o de Sampaio Vs. Cavaco em 95/96. Por outro lado, mesmo o que designa por pintasilguismo, depois de derrotado � absorvido sem m�cula na 2� volta. O PCP n�o mais p�de utilizar o anti-Soarismo, ou algo de adversarial que lhe equivalesse, como antes, definhando continuadamente a partir da�. Foi afinal, creio, o momento onde se configura a matriz gen�tica das vit�rias de Guterres, Sampaio e S�crates. Respons�vel? M�rio Soares.

(V�tor Reis Machado)

22. Congresso do PSD da Figueira da Foz em que vence Cavaco (Maio de 1985).
(...) a vit�ria de Cavaco Silva no congresso da Figueira da Foz n�o me parece adequada a esta lista. � claro que, sem esta vit�ria, Cavaco Silva n�o teria chegado a primeiro-ministro, mas � aquilo que ele fez enquanto primeiro-ministro que merece destaque.

(Jos� Carlos Santos)
23. Entrada de Portugal na UE (1 de Janeiro de 1986).

Rejei��o por Cavaco Silva do pedido de M�rio Soares, rec�m-empossado como Presidente da Rep�blica, para p�r o seu lugar � disposi��o (Mar�o de 1986). Fim da possibilidade pr�tica de haver, em Portugal, governos tutelados pelo Presidente da Rep�blica. Fim do debate sobre a melhor forma de governo, quanto aos poderes do Presidente da Rep�blica e do Governo. M�rio Soares percebeu a for�a de novidade desse facto, n�o obstante a sua ac��o posterior ter sido desfavor�vel ao �ltimo governo de Cavaco Silva. Um dos erros graves do primeiro-ministro indigitado Pedro Santana Lopes, em 2004, foi o de se ter apressado a indicar ao Presidente da Rep�blica, antes de todos os outros, os nomes dos novos ministros das Finan�as e dos Neg�cios Estrangeiros, ao pensar que aquele, com esse �aparente� acto de subservi�ncia, sustentaria o seu governo. A primeira maioria absoluta do PSD vem no seguimento daquela afirma��o - de elevado alcance pol�tico -, pelo que � menos o in�cio de algo novo do que a continua��o. J� com Ramalho Eanes, Cavaco Silva tinha privilegiado a exig�ncia de boas rela��es institucionais entre o primeiro-ministro e o Presidente da Rep�blica, em detrimento do confronto entre diferentes legitimidades eleitorais. � um facto que o PSD ganhou as elei��es legislativas de 1987 e de 1991 com slogans muito diferentes dos da Alian�a Democr�tica, nomeadamente em 1980. O PSD n�o pediu ao eleitorado �uma maioria, um Governo e um Presidente�, mas sim �uma maioria para governar�. Cavaco Silva teve, ent�o, condi��es para ser um l�der forte, tal como Portugal precisava. � por isso que, quanto ao exerc�cio da fun��o de primeiro-ministro (que, desde ent�o, sobreleva o Governo), todas as compara��es se fazem com Cavaco Silva.

(Jo�o Caetano)

24. Dissolu��o da Assembleia da Rep�blica depois da aprova��o da mo��o de censura do PRD (1987).

25. Maioria absoluta de Cavaco Silva, uma verdadeira subvers�o de um sistema eleitoral constru�do para obrigar a governos de coliga��o.

26. O influxo de vultuosos fundos comunit�rios, parcialmente desperdi�ados no Fundo Social Europeu, mas permitindo importantes obras infraestruturais que mudaram a face do pa�s.

27. Privatiza��o do espa�o televisivo e da comunica��o social escrita do estado. Respons�vel: Cavaco Silva.

28. Introdu��o do IVA, a mais efectiva moderniza��o do sistema fiscal desde o 25 de Abril.

29. Revis�o econ�mica da Constitui��o permitindo finalmente a exist�ncia de uma plena economia de mercado e as privatiza��es.

Sugiro que a seguir ao 29� momento seja referido o" aparecimento de novas institui��es banc�rias privadas,que tornaram a banca portuguesa das poucas �reas econ�micas que suportam compara��es internacionais".

(A.L.B.Barrinhas)

30. A primeira Presid�ncia portuguesa da UE. Respons�vel: Cavaco Silva.

x. O Massacre de Santa Cruz, em Timor-Leste e todo o processo subsequente de luta pela autodetermina��o de Timor-Leste (12 de Novembro de 1991).

31. A orienta��o do Independente para criar um populismo de direita contra o PSD. Respons�vel: Paulo Portas.

32. Cria��o do PP contra o CDS, dando express�o partid�ria ao populismo de direita e � ac��o unipessoal de Paulo Portas. Respons�veis: Paulo Portas e Manuel Monteiro.

x. Bloqueio da Ponte 25 de Abril (1994). (Sugest�o de M�rio Almeida)

33. O �tabu�, a decis�o de Cavaco Silva de n�o se candidatar �s pr�ximas elei��es legislativas, fim do �cavaquismo� (1995).

34. A decis�o de fazer a Expo mudando a face oriental de Lisboa (1998).

(...)estive � pouco a ler o post de ontem sobre o assunto em ep�grafe, e j� que sou um "espectador" minimamente atento da hist�ria e pol�tica portuguesas, parece-me de colocar o momento em que Ant�nio Guterres, ao momento na presid�ncia da Uni�o Europeia, bateu o p� ao Governo austr�aco de "extrema direita" com um vigor que me pareceu na altura bem maior do que o noticiado em Portugal.

(RMF)
Sugiro que se inclua como momento da maior import�ncia o "Referendo sobre a institui��o em Concreto das Regi�es Administrativas (8-Nov-1998)", que inicia o fim de A. Guterres revelando a sua falta de firmeza(evidente, por exemplo, na geografia do modelo referendado - deviam ter sido, devem ser, as regi�es plano).
Nesse referendo desperdi�ou-se uma grande oportunidade para reformar a administra��o p�blica e manteve-se, at� hoje, o seu modelo burocr�tico, centralista e ineficaz de que tanto nos queixamos, at� os que "acampanharam"
pelo n�o.
Determinou-se ent�o tamb�m o acentuar do modelo rural-despovoado/urbano-concentrado, que permitiu os inc�ndios de 2003, o descalabro energ�tico do sistema de transportes, os graves problemas sociais suburbanos... Em minha opini�o o momento foi importante e Ant�nio Guterres devia ter-se demitido na noite de 8 de Novembro de 1998.

(A. Carvalho)

35. Cria��o do Rendimento M�nimo Garantido.

x. Referendo sobre o Aborto (Junho de 1998).

36. Ades�o ao euro (1 de janeiro de 1999).


x. Devolu��o de Macau � plena soberania chinesa (20 de Dezembro de 1999)

Creio que vale a pena igualmente lembrar a entrega da soberania de Macau � China. E a imagem do Governador a receber a bandeira e a abra�a-la num momento algo emocional.

(Ricardo Carvalho)

37. Demiss�o de Ant�nio Guterres.

38. Processo Casa Pia: depois do processo Emaudio, � o primeiro grande processo-crime que envolve importantes dirigentes pol�ticos.

39. Sa�da de Dur�o Barroso para a Presid�ncia da UE.

A avaliar pela lista admito sugerir algo que, quer pelo nome, quer pela refer�ncia e efeito, merece aqui figurar. Porque um cabe�a de lista morrer tr�s dias antes da elei��o � historicamente marcante. A morte de Sousa Franco (em campanha), ap�s uma inenarr�vel luta de fac��es do PS, na lota de Matosinhos.

(Tiago Craveiro)

40. Campanha eleitoral do PS entre Manuel Alegre e Jos� S�crates.

Penso que o Sr. ao n�o ter considerado um acontecimento, ainda que negativo e abrindo precedentes de dimens�es ainda incomensur�veis, a ida de Marcelo Rebelo de Sousa ao Pal�cio de Bel�m por ter sido despedido de uma televis�o, incorre num erro por omiss�o, que � grave.

(Ant�nio Guimar�es)

41. Dissolu��o da Assembleia da Rep�blica e fim do governo Santana Lopes - Paulo Portas. Respons�vel: Jorge Sampaio.

42. Maioria absoluta do PS. Respons�vel: Jos� S�crates (20 de Fevereiro de 2005).

*

Aproveito para enviar quatro sugest�es que a intui��o recomenda que se ponderem:

a) 1993-1995-1998: a primeira auto-estrada que atravessou o interior de Portugal no sentido longitudinal (Lisboa-�vora-Caia);

b) O Euro-2004: discorde-se ou n�o (sobretudo em termos de repercuss�o financeira), creio que foi um facto nacional e tamb�m internacional de envergadura;

c) Pol�tica cultural-1: Penso que a Lisboa Capital da Cultura-1994 foi muito importante, n�o apenas por si s�, mas pelo impacto que se traduziu numa nova concep��o de programa��o, n�o apenas na capital mas em todo o pa�s urbano;

d) Pol�tica cultural-2: A XVII exposi��o (1984?) teve bastante import�ncia no pa�s por ter reposto algum orgulho memorial, pela primeira vez, no p�s-Prec.

Lu�s Carmelo (Miniscente)
*

Parece-me que faltam duas coisas importantes na sua lista:

- a democratiza��o do ensino superior (que talvez tenha come�ado antes do 25 de Abril, n�o sei bem as datas - estou a pensar na funda��o da Cat�lica, mas que � muito n�tida actualmente para quem ensina);
- e a institui��o do princ�pio do estudante-pagador (mesmo no ensino sup. p�blico).

N�o me parece que a recente campanha do PS seja relevante; parece-me que foi muito mais significativo o massacre que M�rio Soares inflingiu em tempos a Freitas do Amaral num long�nquo debate televisivo...

De resto n�o tenho muito a acrescentar. Talvez a Lisboa 94 e o Porto 2001, dois bons pretextos culturais para se construir ou restaurar uma s�rie grande de infra-estruturas.

(Lu�sa Soares de Oliveira)
 


COISAS SIMPLES


David Wilkie
 


EARLY MORNING BLOGS 467

O recorte de um c�o, na areia, ao luar.
Seu passo imprime
O cuidado mi�do e honesto de passar.

Mas que tristeza oprime
Tanto c�o que vi uivar a tanta eira?
Que longo e liso, o fio da noite!
- E amar, esperar desta maneira!

Numa cidade deserta
(Talvez outra, ou Ninive)
Encontrei um anel, uma oferta,
Da v�rtebra de um c�o,
Para uma mulher que j� n�o vive.

Mas tudo isso foi v�o,
E at� nem sei se esse osso tive.


(Vitorino Nem�sio)

*

Bom dia!

9.4.05
 


INTEND�NCIA

Actualizadas as notas OS CINQUENTA MOMENTOS POL�TICOS MAIS IMPORTANTES DEPOIS DO 25 DE ABRIL , NO MURO DAS LAMENTA��ES e A LER de 6 de Abril.
 


EARLY MORNING BLOGS 466: "UM OLHAR DE A�O QUE ESSA NOITE EXPLORA"

P�ra-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz do esquecimento.

P�ra surpreso, escrutador, atento,
Como p�ra um cavalo alucinado
Ante um abismo s�bito rasgado.
P�ra e fica, e demora-se um momento.

P�ra e fica, na doida correria.
P�ra � beira do abismo, se demora.
E mergulha na noite escura e fria.

Um olhar de a�o, que essa noite explora.
Mas a espora da dor seu flanco estria,
E ele galga e prossegue sob a espora...


(Angelo de Lima)

*

Bom dia!

8.4.05
 


OS CINQUENTA MOMENTOS POL�TICOS MAIS IMPORTANTES DEPOIS DO 25 DE ABRIL (Vers�o 1.1)


[Esta lista � uma primeira vers�o. Ser� completada e eventualmente alterada com as colabora��es dos leitores do Abrupto, incluindo as sugest�es de �momentos� adicionais para perfazer o n�mero de cinquenta. A vermelho as sugest�es que me parecem ser de aceitar de imediato e que passar�o a preto na vers�o 2.0, do mesmo modo que os coment�rios respeitantes a cada entrada ser�o colocados a seguir a essa entrada.]


1. O primeiro 1� de Maio, o respirar inicial da liberdade;

2. Cria��o dos partidos democr�ticos depois do 25 de Abril: a estrutura��o do PS na legalidade, a cria��o do PSD e do CDS;

3. Decis�o do PCP de se opor � manifesta��o da "maioria silenciosa� de 28 de Setembro dando in�cio ao chamado �Processo revolucion�rio em curso� (PREC);

4. Golpe e contra-golpe do 11 de Mar�o;

5. Nacionaliza��es a seguir ao 11 de Mar�o;

6. Resist�ncia ao PREC dos socialistas, apoiados pelo PSD e pelo CDS;

7. Elei��es para a Assembleia Constituinte que deram vit�ria aos partidos que se opunham ao PREC;

8. O 25 de Novembro, fim da express�o militar do PREC;

9. Declara��es de Melo Antunes impedindo a ilegaliza��o do PCP depois do 25 de Novembro;

x. Fim do imp�rio colonial e "retorno" dos portugueses de �frica.

10. Aprova��o da Constitui��o em 1976 que garantia os direitos fundamentais de uma democracia, mas mantinha na sua parte econ�mica e em muitos outros aspectos a linguagem e o adquirido do PREC;

11. Ac��o de Sottomayor Cardia no Minist�rio da Educa��o, o primeiro ministro a tentar sair do �estilo� e dos poderes do PREC;

12. A Lei Barreto, o in�cio da contra-reforma agr�ria;

13. Fim do Conselho da Revolu��o;

14. Vit�ria da AD demonstrando a possibilidade de altern�ncia democr�tica � hegemonia do PS;

15. Morte acidental (ou assassinato) de S� Carneiro;

16. �Bloco central� em que PS e PSD dividiram o estado, os cargos p�blicos, as �reas de influ�ncia, os gestores p�blicos, criando um establishment de poder que ainda hoje � prevalecente;

17. �Apertar do cinto� obrigado pelo FMI, numa situa��o de quase ruptura das finan�as p�blicas;

18. A cria��o do PRD, o partido de iniciativa presidencial que dividiu o eleitorado socialista;

19. Primeira volta das elei��es presidenciais de 1985 em que M�rio Soares acaba com o �pintasilguismo� e com as �ltimas tentativas de um �socialismo� ao modelo peruano;

20. Congresso do PSD da Figueira da Foz em que vence Cavaco:

21. Dissolu��o da Assembleia da Rep�blica depois da aprova��o da mo��o de censura do PRD;

22. Maioria absoluta de Cavaco Silva, uma verdadeira subvers�o de um sistema eleitoral constru�do para obrigar a governos de coliga��o;

23. Entrada de Portugal na UE;

24. O influxo de vultuosos fundos comunit�rios, parcialmente desperdi�ados no Fundo Social Europeu, mas permitindo importantes obras infraestruturais que mudaram a face do pa�s;

25. Privatiza��o do espa�o televisivo e da comunica��o social escrita do estado;

26. Introdu��o do IVA, a mais efectiva moderniza��o do sistema fiscal desde o 25 de Abril;

27. Revis�o econ�mica da Constitui��o permitindo finalmente a exist�ncia de uma plena economia de mercado e as privatiza��es;

28. A primeira Presid�ncia portuguesa da UE;

29. A decis�o de fazer a Expo mudando a face oriental de Lisboa;

30. A orienta��o do Independente por Paulo Portas para criar um populismo de direita contra o PSD;

31. Cria��o do PP contra o CDS, dando express�o partid�ria ao populismo de direita e � ac��o unipessoal de Paulo Portas;

32. Ades�o ao euro e ao �pelot�o da frente� da UE;

33. O �tabu�, a decis�o de Cavaco Silva de n�o se candidatar �s pr�ximas elei��es legislativas, fim do �cavaquismo�;

34. Cria��o do Rendimento M�nimo Garantido;

35. Demiss�o de Ant�nio Guterres;

36. Processo Casa Pia: depois do processo Emaudio, � o primeiro grande processo-crime que envolve importantes dirigentes pol�ticos;

37. Sa�da de Dur�o Barroso para a Presid�ncia da UE;

38. Campanha eleitoral do PS entre Manuel Alegre e Jos� S�crates;

39. Dissolu��o da Assembleia da Rep�blica e fim do governo Santana Lopes - Paulo Portas;

40. Maioria absoluta do PS.

*

Subjectiva como necessariamente tem de ser, a lista � discut�vel. Como normalmente acontece com estas listas, noto nela alguma acelera��o rumo ao presente.

Por mim, acrescentaria como fundamental na estabiliza��o da nossa vida c�vica p�s 25 de Abril, a primeira requisi��o civil aquando de uma greve, feita (salvo erro) pelo Governo liderado por Carlos Alberto da Mota Pinto.

(Ant�nio Cardoso da Concei��o)

*

Julgo que h� tr�s momentos a juntar.
- A 1� elei��o de Eanes que marcou a normaliza��o democr�tica "m�nima" e a normaliza��o militar. (Restou o Conselho da Revolu��o)
- A vota��o do Or�amento do Governo Presidencial de Mota Pinto, que veio a originar a cis�o das op��es inadi�veis por tr�s raz�es:
Marcou o fim dos governos de inciativa Presidencial ( o de Lurdes Pintassilgo j� era apenas para realizar elei��es)
Marcou o in�cio, para o bem, e para o mal, o car�cter presidencialista na vida dos partidos.
Da cis�o das op��es inadi�veis e do insucesso da ASDI (que fazem parte da minha hist�ria) , definitivamente se apercebeu que as cis�es n�o t�m futuro. As cis�es deram lugar �s travessias no deserto. E tudo j� deu v�rias voltas.
- A coliga��o PSD-PP de 2002- marca o assumir que quando um partido n�o obtem a maioria absoluta � porque a indica��o do eleitorado � a de uma coliga��o. Terminaram os tempos em que "ganhava" o maior partido minorit�rio.

(Ant�nio Alvim)

*

Falta o debate Soares/Cunhal
"Olhe que n�o, olhe que n�o"
Um momento �mpar no separar das �guas
O comunismo veio ao de cima

(Nuno Magalh�es)

*

H� duas altera��es que venho sugerir aos pontos que mencionou:

1) Sou da opini�o que ao falar na �Resist�ncia ao PREC dos socialistas, apoiados pelo PSD e pelo CDS� deveria lembrar o com�cio da Fonte Luminosa.

2) Quando menciona a funda��o d'O Independente, deveria tamb�m falar de Miguel Esteves Cardoso.

(Jos� Carlos Santos)

*

Eu faria as seguintes correc��es, tendo em vista alguns pormenores do importante per�odo inicial, hoje muito esquecido:

3. Oposi��o armada do PCP, PS e MFA anti-spinolista � manifesta��o autorizada da "maioria silenciosa� de 28 de Setembro, dando in�cio ao chamado �Processo revolucion�rio em curso� (PREC);

6. Levantamentos populares anti-comunistas no Norte e Centro do pais, seguidos de resist�ncia do PS, nao ao PREC, mas 'a sua pr�pria destrui��o pelo PCP, que come�a no auge do caso Republica e acaba por congregar em torno de si todas as for�as anti-PCP.

Porqu�?

3. Porque a oposi��o (armada) � manifesta��o de 28 de Setembro, que visava fornecer ao gen. Spinola um apoio popular vis�vel que pudesse, n�o permitir o �golpe spinolista� (como ent�o alegaram os verdadeiros
golpistas) mas, pelo contrario, evitar que o golpe em curso contra o programa do MFA / Junta prosseguisse, n�o foi, de modo algum, unicamente do PCP. Foi, pelo menos em parte igual, do PS e, at� certo ponto, tamb�m do PPD. A situa��o � adequadamente resumida na manifesta��o triunfal conjunta de PS, PCP e PPD no Rossio, que se seguiu � jornada das �barricadas�. Alias, os pr�prios adeptos do PPD expulsaram com sucesso manifestantes com bandeiras do CDS que procuravam, tamb�m eles, um pequeno lugar ao sol do PREC, no descalabro do programa inicial do MFA / Junta, e na proibi��o dos partidos embrion�rios � direita do CDS, bem como de diversos jornais com as correspondentes orienta��es.

6. Porque a resist�ncia ao PREC n�o foi inicialmente, e contrariamente �s lendas piedosas, do PS, em cujas fileiras militavam muitos dos seus mais destacados adeptos, claramente desejosos de impor um regime de socialismo anti-burgu�s e anti-parlamentar (�com liberdade para todos sem excep��o, desde a extrema-esquerda at� ao centro�, como dizia Sottomayor Cardia, sem se aperceber do rid�culo). A resist�ncia ao PREC foi um fen�meno genuinamente popular que, no inicio, durante o �ver�o quente� de 1975, teve um enquadramento que poderia ser classificado de �reaccion�rio� (sem nenhuma conota��o negativa), na medida em que a onda de ataques �s sedes do PCP (na ordem dos 300, muitos dos quais incendi�rios, sobretudo no norte do pais), nao proveio de modo algum do PS, mas sim de meios ligados sobretudo � pequena propriedade rural, pequena burguesia e "last but not the least" � pr�pria Igreja. Alias, os assaltos e fogos-postos estenderam-se em diversos locais 'as sedes do PS.

Pequeno aparte a prop�sito do 28 de Setembro, verdadeira charneira de todo o processo subsequente: o tipo catastr�fico de descoloniza��o que viria a ter lugar foi uma consequ�ncia directa da derrota de Spinola frente ao eixo MFA-PCP-PS. A responsabilidade do que sucedeu no Ultramar portugu�s deve ser compartilhada pelo regime colonialista de Salazar, que nunca quis perceber que o futuro das col�nias tinha necessariamente que passar pelo futuro dos colonizados e nao s� dos colonizadores, e pelo PREC do continente que assegurou a transi��o directa do colonialismo para a guerra civil (ou a ditadura) sem dar qualquer hip�tese, nem de desenvolvimento politico controlado 'as popula��es locais, nem de eventuais solu��es menos tr�gicas para os colonos por la' estabelecidos. Como e' evidente, os planos de �federalismo progressista� de Spinola n�o tinham qualquer hip�tese, a menos que se concebesse Portugal como uma futura col�nia africana na Europa, mas e' admiss�vel que com mais tempo e sem os cont�nuos psico-dramas dos golpes e contra-golpes, dentro e fora dos quart�is, se conseguisse uma descoloniza��o menos catastr�fica.

Nestas coisas de �cat�strofes politicas�, as que sucederam de facto s�o sempre apresentadas pelos seu respons�veis como muito menos importantes do que as que teriam sucedido em seu lugar se as ac��es tivessem sido diferentes. Geralmente cinco segundos de reflex�o chegam para se perceber a l�gica da �cat�strofe menor�, sobretudo quando a responsabilidade e' maior...

(A.)

*

Parece-me que a elei��o de M�rio Soares para a Presid�ncia da Rep�blica foi importante tamb�m por ser o primeiro civil a desempenhar o cargo ap�s o 25 de Abril.

Noutro campo, talvez inclu�sse na lista as primeiras medalhas de ouro ol�mpicas de Carlos Lopes e Rosa Mota, por terem conjugado a recompensa do esfor�o individual com a projec��o do pa�s. (Estes exemplos n�o arrastam o futebol. Os �xitos desportivos podem dizer pouco sobre um pa�s, mas indicam um m�nimo de organiza��o. Os desportos em que esses �xitos acontecem tamb�m dizem alguma coisa... Cf. com quenianos...)

(S.)

*

Parece-me importante, as independ�ncias das col�nias, enquanto consuma��o real do fim do Imp�rio com todas as consequ�ncias econ�micas, sociais e humanas .

(Ant�nio Miguel Guimar�es)

*

O referendo sobre a interrup��o volunt�ria da gravidez em Junho de 1998:
- foi o primeiro referendo nacional;
- com absten��o superior a 50%;
- a dificuldade de fugir a uma leitura dos resultados: norte (e ilhas) vs sul.

Pelo acima exposto considero esse referendo um dos cinquenta momentos pol�ticos mais importantes depois do 25 de Abril.

(Pedro Tarquinio)

*

Penso que a realiza��o do referendo sobre o Aborto em 1998 foi um momento relevante n�o s� pela desmistifica��o da possibilidade da co-exist�ncia da democracia directa com a democracia representativa mas tamb�m pelo resultado, uma demonstra��o (inc�moda para muitos) da n�o coincid�ncia entre o pa�s dos partidos e o pa�s das consci�ncias individuais.

(Carlos Campos)

*

Acho este exerc�cio muito interessante de fazer, na tentativa de identificar o que realmente marcou politicamente estes quase 31 anos de regime democr�tico (quer dizer, quase 30 anos, porque o per�odo entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro tem muito pouco de democr�tico...).

Concordo com a maioria dos factos identificados, ainda que os meus 31 anos apenas me permitam conhecer muitos deles � dist�ncia e atrav�s dos relatos que me foram chegando. No entanto, sobre o per�odo do qual tenho mem�rias mais concretas, destacaria igualmente:

a) O Massacre de Santa Cruz, em Timor-Leste e todo o processo subsequente de luta pela autodetermina��o de Timor-Leste, apoiado de uma forma praticamente un�nime pelo povo portugu�s.

b) Mais recentemente, a elei��o de Rui Rio para a C�mara Municipal do Porto, dando um sinal ao Pa�s de que ainda � poss�vel a compet�ncia triunfar sobre o populismo e o caciquismo.

c) As figura de Marcelo Rebelo de Sousa enquanto a "consci�ncia pol�tica" do Pa�s, primeiro com os seus "Exames" na TSF, posteriormente com as cr�nicas dominicais na TVI.

d) Pela negativa, o recente Governo Santana Lopes, que em 6 meses conseguiu praticamente destruir a credibilidade do Pa�s e, acima de tudo, do PSD.

(Nuno Peralta)

*

Eu acrescentaria � lista o I Congresso Socialista do PS na legalidade, que decorreu de 13 a 15 de Dezembro de 74 na Aula Magna. Parece-me um momento muito importante no processo da implanta��o da democracia porque constituiu, a meu ver, uma ruptura com uma certa mentalidade "unit�ria", personalizada por Manuel Serra. A vit�ria de M�rio Soares (que esteve em risco de perder o congresso) foi a vit�ria da modera��o e a demonstra��o da possibilidade de um caminho "de esquerda" aut�nomo face ao PCP. Embora este per�odo tenha muitos momentos significativos e importantes, tudo seria diferente se Serra tivesse ganho.

(Tiago Saleiro Maranh�o)

*

Penso que deveria figurar a promulga��o da Lei da Liberdade Religiosa: Lei 16/2001, de 22 de Junho.

(Ab�lio Cardoso)

*

Parece-me que, bem mais importante que o jornal Independente que, permita-me que lhe diga, sugere-me uma pequena vingan�a e eventualmente dar-lhe uma import�ncia que acho n�o teve em termos de p�s 25 de Abril, parece-me dizia, que a interven��o do Jornal Novo ou da Tarde (n�o me recordo bem) dirigido por Artur Portela (filho), enquanto lugar de reflex�o n�o alinhado, de, por exemplo, a Carta dos Nove (outro momento decisivo), merece um destaque, porque uma voz diferente, nos momentos vividos ap�s o 25 de Abril.

(Rui Silva)

*

(...) um momento pol�tico relevante passa por referir a interven��o do Prof Freitas do Amaral ao louvar a actua��o do ent�o General Costa Gomes no 25 de Novembro, evitando a guerra civil.

(carlos gama)

*

Penso que dois momentos importantes s�o a sa�da de Alvaro Cunhal do PCP e a cria��o do BE.

(Jorge Alexandre Jorge)
 


AR PURO


C. Angrand

7.4.05
 


EARLY MORNING BLOGS 465

Let Evening Come


Let the light of late afternoon
shine through chinks in the barn, moving
up the bales as the sun moves down.

Let the cricket take up chafing
as a woman takes up her needles
and her yarn. Let evening come.

Let dew collect on the hoe abandoned
in long grass. Let the stars appear
and the moon disclose her silver horn.

Let the fox go back to its sandy den.
Let the wind die down. Let the shed
go black inside. Let evening come.

To the bottle in the ditch, to the scoop
in the oats, to air in the lung
let evening come.

Let it come, as it will, and don't
be afraid. God does not leave us
comfortless, so let evening come.


(Jane Kenyon)


*

Bom dia!
 


NO MURO DAS LAMENTA��ES

Quem lida com a Igreja Cat�lica Apost�lica Romana e se esquece que est� a lidar com uma institui��o antiga, uma das rar�ssimas institui��es que merece o nome de antiga, engana-se ou n�o percebe as linhas com que se cose ou � cosido. (A surpresa da derrota no referendo do aborto � um bom exemplo, se bem que de um evento apesar de tudo menor). No meio de todo este ru�do que se agita � nossa volta a prop�sito da morte do papa, � e que daqui a uma semana ser� substitu�do por outro nos telejornais, exactamente com os mesmos mecanismos �, encontrei na Rua da Judiaria este texto que o Papa escreveu num papelinho para colocar no Muro das Lamenta��es em 26 de Mar�o de 2000:

Deus dos nossos pais, que escolheste Abra�o e os seus descendentes para trazer o Teu nome �s na��es: estamos profundamente tristes com o comportamento daqueles que, ao longo do curso da hist�ria, causaram sofrimento a estes teus filhos e, pedindo o teu perd�o, manifestamos o desejo de nos comprometermos a uma irmandade genu�na com o povo do conv�nio.

N�o tem nem uma palavra a mais, nem a menos e diz exactamente o que quer dizer. Tudo � medido com uma dimens�o que dificilmente encontramos � nossa volta. � ao mesmo tempo um texto religioso, � o acto de o colocar nas reentr�ncias do Muro tem significado religioso �, uma mensagem religiosa e pol�tica e um programa de inten��es. O Papa dirige-se ao �Deus dos nossos pais�, ou seja a Jeov�; �que escolheste Abra�o e os seus descendentes para trazer o Teu nome �s na��es�, ou seja os judeus, o povo eleito com uma miss�o divina; afirma a sua �tristeza� pelas persegui��es aos judeus colocando-se do lado dos perseguidores, da� o pedido de �perd�o� (a Jeov�, a Deus); e manifestando o desejo ecum�nico de uma �irmandade genu�na� com o �povo do conv�nio�, de novo com os judeus assim descritos na sua qualidade b�blica. Os judeus s�o nomeados sempre pelas suas designa��es e fun��es b�blicas, acentuando o fundo teol�gico e hist�rico comum. Na terra, Jerusal�m, em que Cristo foi morto, n�o h� men��o a Cristo, como se o Papa estivesse, de um modo ainda mais ancestral. virado apenas para as paredes do Templo de Salom�o.

*
A prop�sito da sua nota sobre o modo como o Papa, pedindo perd�o ao povo judeu pelas persegui��es da Hist�ria, em termos que mais parecem exprimir o desejo do restauro da unidade primordial da mesma f�, uma esp�cie de "regresso � casa comum", n�o resisto a deixar-lhe um belo texto de Santo Agostinho, no seu Coment�rio ao Evangelho de S. Jo�o (XVI, 3), que traduzo:

"A P�tria do Senhor � o Povo judeu.
Contempla a multid�o dos judeus agora,
observa essa na��o, dispersa pelo mundo, arrancada �s suas ra�zes, olha para esses ramos, esmagados, cortados, lan�ados de um canto para o outro, ressequidos.
Na sua ferida, a oliveira selvagem teve o seu enxerto.
V� a massa do povo judeu, o que te diz ele?
Esse que v�s honrais, Esse que v�s adorais, era nosso irm�o!"


Agostinho escreveu este texto no momento hist�rico em que os judeus j� levavam tr�s s�culos de di�spora for�ada (ap�s a queda de Jerusal�m, em 70 d. C.), e em que se come�ava a adensar, no Estado romano legalmente cristianizado, a persegui��o � religi�o irm�, suficientemente pr�xima nas suas caracter�sticas para se constituir rival para o cristianismo, e que, por isso, urgia diabolizar. Ao mesmo tempo, uma e outra religi�o empreendem um caminho teol�gico de reinterpreta��o dos textos que, avivando as diferen�as, as colocou de costas voltadas pelos s�culos afora.

Mas Agostinho escreveu este texto para ser ouvido, em homilia (coment�rio ao Evangelho), pelos fi�is crist�os que tinham Agostinho por pastor. O crist�o �, pois, interpelado a corrigir a sua atitude em rela��o a "esse irm�o mais velho" que era o juda�smo, como se v� pela pessoa e modo verbal usados. N�o teria sido, decerto, a atitude mais comum por parte dos pastores da Igreja, como tamb�m n�o foi comum a atitude de Jo�o Paulo II. Mas a verdade do Esp�rito nem sempre fala pelo n�mero dos que lhe invocam a autoridade.

Por vezes, na Hist�ria da Igreja, temos umas centelhas cuja luz, brilhando, indicam o caminho a seguir, feito de toler�ncia, de reconhecimento pelo valor do outro, cuja diferen�a � uma riqueza, e n�o uma realidade a esmagar.
(Paula Barata Dias)

6.4.05
 


A LER

Na Capital de 6 de Abril, que s� vi hoje, a lista actual dos 116 cardeais com notas biogr�ficas. Embora n�o tenha encontrado no jornal a indica��o da origem, deve ter sido um trabalho comprado l� fora. Seja como for, � das melhores contribui��es para ficarmos informados sobre a realidade da Igreja, contrastando com jornais e televis�es que nos d�o escassa informa��o e muita palha.

S� hoje o seu coment�rio sobre o trabalho que public�mos sobre os 116 cardeais. Apesar de parecer "comprado" no estrangeiro foi feito aqui mesmo nesta pequena redac��o atrav�s de um imenso trabalho de pesquisa. Deu trabalho, mas pensamos que valeu a pena.

(Fernanda Mira)

Como todos o coleccionadores gosto de listas e a rede � um magn�fico reposit�rio de listas. Camille Paglia come�ou a publicar as dela no seu endere�o "oficial" , e come�ou com as dez esculturas preferidas. A "novidade", a descoberta da Camille, numa lista previs�vel, � a est�tua de Chapin, o "puritano" fundador de Springfield. A est�tua � muito interessante, mas, enfim, sempre ocupa o lugar do Mois�s ou da Piet�, o que convenhamos... Dez � pouco.

(E, de passagem, o grafismo do endere�o da Paglia parece o dos cartazes do PSD na �ltima campanha. Fica-se com a sensa��o de dej� vu.)
 


EARLY MORNING BLOGS 464

SONETO FIEL


Voc�bulos de s�lica, aspereza,
Chuva nas dunas, tojos, animais
Ca�ados entre n�voas matinais,
A beleza que t�m se � beleza.

O trabalho da plaina portuguesa,
As ondas de madeira artesanais
Deixando o seu fulgor nos areais,
A solid�o coalhada sobre a mesa.

As s�labas de cedro, de papel,
A espuma vegetal, o selo de �gua,
Caindo-me nas m�os desde o in�cio.

O abat-jour, o seu luar fiel,
Insinuando sem amor nem m�goa
A noite que cercou o meu of�cio.


(Carlos Oliveira)

*

Bom dia!
 


FOGO QUE ARDEU VENDO-SE


5.4.05
 


INTEND�NCIA

Continua a ser completada a bibliografia sistem�tica nos ESTUDOS SOBRE COMUNISMO.
 


A LER


A nota O Estado Ladr�o no Jaquinzinhos, um retrato exacto de por que � que temos dificuldade a ir a qualquer outro lado que n�o seja a cepa torta.

A Mem�ria Inventada em geral e o Esplanar sobre a comida hist�rico-liter�ria.


As not�cias sobre os Pr�mio Pulitzer deste ano. O pr�mio de poesia foi para Ted Kooser, um improv�vel (para os paradigmas de muitos intelectuais europeus) poeta segurador, que foi toda a vida vice-presidente da Lincoln Benefit Life Insurance, de Lincoln, Nebraska, uma terra de milho e m�sseis. Um dia contarei as minhas mem�rias de Lincoln, mas fica para j� um poema:


After Years

Today, from a distance, I saw you
walking away, and without a sound
the glittering face of a glacier
slid into the sea. An ancient oak
fell in the Cumberlands, holding only
a handful of leaves, and an old woman
scattering corn to her chickens looked up
for an instant. At the other side
of the galaxy, a star thirty-five times
the size of our own sun exploded
and vanished, leaving a small green spot
on the astronomer's retina
as he stood on the great open dome
of my heart with no one to tell.


(Ted Kooser)

Um poema de Kooser, A Happy Birthday, foi reproduzido no Abrupto em 28 de Dezembro de 2004.
 


COISAS SIMPLES


Vuillard, Fleurs sur une chemin�e aux Clayes
 


EARLY MORNING BLOGS 463

SEM DATA


Esta voz com que gritei �s vezes
N�o me consola de s� ter gritado �s vezes.

Est� dentro de mim como um remorso, ou�o-a
Chiar sempre que lembro a paz de seguran�a estulta
Sob mais uma pedra tumular sem data verdadeira.

Quando acabava uma soma de sil�ncios,
Gritava o resultado, n�o gritava um grito.

Esta voz, enquanto um ar de torre � beira-mar
Circula entre folhas paradas,
Conduz a agonia f�sica de recordar a ingenuidade.

Apetece-me explicar, agora, as asas dos anjos.


(Jorge de Sena)

*

Bom dia!
 


GEOGRAFIA DO MUNDO SUBTERR�NEO



Geografia do mundo subterr�neo, em F�don de Plat�o (111-112)

"(...) No seu conjunto, tal � a natureza da terra e de tudo quanto a rodeia. Mas tamb�m nela, nas suas concavidades, h� muitas regi�es dispostas circularmente; umas mais profundas e abertas do que esta em que habitamos; outras que, sendo mais profundas, t�m uma abertura menor que a nossa regi�o; e h� outras que s�o de menor fundura que esta, mas mais amplas. Todas estas regi�es subterr�neas comunicam entre si, em muitos pontos no interior da terra, por meio de canais, de di�metros mais estreitos ou mais largos, por onde flui em abund�ncia a �gua de umas regi�es para as outras, como em bacias, formando rios perenes e subterr�neos de incont�vel grandeza, tanto de �guas quentes como frias, em cont�nuo fluxo; passando por a� em abund�ncia o fogo, h� tamb�m enormes rios de fogo e de lama, ora mais l�mpida, ora mais lamacenta, como essas torrentes de barro que na Sic�lia fluem precedendo a torrente de lava e depois a pr�pria lava. Todas essas regi�es da terra, s�o inundadas por estes rios, consoante a direc��o tomada pelas suas correntes, que se movem para cima e para baixo, por efeito de uma oscila��o que se produz no interior da terra, cuja causa natural obedece ao seguinte: H� entre os abismos da terra um que � o maior e que a atravessa de lado a lado. A isto alude Homero quando diz: Muito distante, onde se abre sob a Terra, o abismo mais profundo. (...)"

(cortesia de Ana da Palma)

4.4.05
 


INTEND�NCIA

Continua a actualiza��o dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO, onde arquivei a cr�tica que publiquei a semana passada ao Dicion�rio no Feminino e continuo a completar a bibliografia.

Actualizada a nota O ENXOFRE � BOM PARA AS R�S?
 


DE "MARIA GRA�A SAPINHO" A CATARINA EUF�MIA: ALGUMAS FONTES

A discuss�o que se trava nos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO sobre Catarina Euf�mia revela as grandes dificuldades em tratar com dist�ncia os eventos da nossa hist�ria do s�culo passado, em particular nos anos da ditadura. Nost�lgicos do regime e / ou da hist�ria �oficial� do PCP , can�nica para a oposi��o mesmo quando n�o era comunista, tornam toda a discuss�o uma pol�mica. Esta parece-me �til e reveladora, mas nela , em princ�pio, n�o participarei directamente.

No Abrupto e nos Estudos reproduzo apenas algumas das primeiras vers�es publicadas dos eventos na imprensa clandestina, que revelam a rapidez da difus�o da not�cia da morte, mas tamb�m as confus�es com a identidade da "camponesa" (o termo era usado na �poca para designar aquilo que era, na verdade, uma trabalhadora rural). Tendo em conta o modo como funcionava a estrutura clandestina do PCP, isto parece indicar que o partido podia seguir de perto os conflitos rurais, quase em tempo real, mas aponta para que Catarina Euf�mia n�o fosse militante ou simpatizante organizada do partido. Dois elementos suplementares sobre a clandestinidade: a cadeia de comunica��o dependia dos encontros regulares dos funcion�rios controleiros, que devia ser pelo menos mensal; e as datas reais dos jornais (n�o dos panfletos) deve ser acrescentada pelo menos de um m�s.

O assassinato deu-se a 19 de Maio de 1954 e a primeira not�cia conhecida vem num panfleto da Organiza��o Regional do Alentejo do PCP, datado de dois dias depois:



Como se v� Catarina vem identificada como "Maria da Gra�a", nome pelo qual � citada no Avante! N� 187, de Abril-Maio 1954. No Campon�s n� 44,de Maio-Junho de 1954, o org�o do partido para os campos do Sul, a not�cia n�o refere sequer o nome:




No Campon�s n� 45, de Agosto-Setembro de 1954, corrigia-se o nome de Maria Gra�a Sapinho pelo de Catarina Euf�mia



Tendo em conta a relev�ncia do acontecimento, tal como o percebemos hoje, o seu tratamento nos n�meros seguintes do Campon�s � residual e s� em 1955 come�a a ganhar dimens�o acompanhando iniciativas de agita��o local, como a �designa��o� do largo principal de Baleiz�o como �Catarina Euf�mia�, e outras no primeiro anivers�rio da morte.

Ver tamb�m (se tal fosse poss�vel sem pagar haveria liga��o...) o artigo de Paula Godinho, "Ainda o mito de Catarina Euf�mia", no P�blico de 4 de Abril de 2005.
 


P�BLICO EM LINHA PAGO

Sou a favor que os servi�os que custam a outrem produzir sejam pagos por aqueles que os consomem. Nada tenho por isso contra o pagamento da consulta do P�blico em linha: o P�blico custa dinheiro a fazer, devo pagar por ele. No entanto, o jornal deve pensar noutro valor, valor econ�mico ponder�vel e real, que � o da sua autoridade pela influ�ncia (n�o coincidem necessariamente, mas relacionam-se). Essa � fortemente afectada pela diminui��o de acesso, mas acima de tudo pela impossibilidade da cita��o e da liga��o. O P�blico ir� desaparecer das liga��es quotidianas da blogosfera e de outro tipo de p�ginas da rede e ficar� apenas dependente do mecanismo de cita��o da comunica��o social tradicional. Ou seja, perde a rede, local de influ�ncia, perde valor em sectores cada vez mais significativos da opini�o e que t�m um efeito multiplicador �nico para um jornal que se pretende �de refer�ncia�.
 


A LER

O Mar Salgado, nestes dias de mar, por causa de notas como O HER�I ou REISEN.

Sobre o pl�gio nos trabalhos universit�rios, um caso portugu�s.

O artigo de Nat Hentoff sobre a morte de Terri Schiavo (sugest�o de Jos� Carlos Santos). Mais interessante ainda por ser de quem � e por ter sido publicado no Village Voice.
 


CONE



visto do ar, a geometria da terra perfeita.
 


EARLY MORNING BLOGS 462

Flying


One said to me tonight or was it day
or was it the passage between the two,
"It's hard to remember, crossing time zones,

the structure of the hours you left behind.
Are they sleeping or are they eating sweets,
and are they wanting me to phone them now?"

"In the face of technological fact,
even the most seasoned traveler feels
the baffled sense that nowhere else exists."

"It's the moving resistance of the air
as you hurtle too fast against the hours
that stuns the cells and tissues of the brain."

"The dry cabin air, the cramped rows of seats,
the steward passing pillows, pouring drinks,
and the sudden ridges of turbulence. . ."

"Oh yes, the crossing is always a trial,
despite precautions: drink water, don't smoke,
and take measured doses of midday sun,

whether an ordinary business flight
or a prayer at a pleasure altar. . .
for moments or hours the earth out of sight,

the white cumuli dreaming there below,
warm fronts and cold fronts streaming through the sky,
the mesmerizing rose-and-purple glow."

"So did you leave your home � contrecoeur?
Did you leave a life? Did you leave a love?
Are you out here looking for another?

Some want so much to cross, to go away,
somewhere anywhere & begin again,
others can't endure the separation. . ."

One night, the skyline as I left New York
was a garden of neon flowerbursts--
the celebration of a history.


(Sarah Arvio)

*

Bom dia!

3.4.05
 


EXTREMO DO EXTREMO



do extremo. Quando se l� chega, sabe-se que se est� no fim. E o fim � habitado.
 


MAIS GEOGRAFIA



Dominado pela geografia. Por coisas simples e pelo ar puro.
 


GEOGRAFIA

Terra. Milhas e milhas e milhas de mar. Um fragmento de terra, dois ou tr�s. Milhas e milhas e milhas de mar. Um fragmento de terra ainda mais pequeno, quase nada. Depois, milhas e milhas e milhas de mar. � assim.

1.4.05
 


O ENXOFRE � BOM PARA AS R�S?

No Inferno h� muito enxofre, mas que me lembre n�o h� r�s. H� umas nos quadros de Bosch, mas ele meteu l� tudo e por isso n�o conta. No interior da cratera, das paredes e do ch�o, sai fumo, fumo de enxofre a julgar pelo cheiro e pela cor amarela e avermelhada da terra � volta. Mas, mesmo l� no meio, a chuva h� muito tempo fez uma lagoa, cheia de ervas e vida. A julgar pelo festival de som e pelo intenso movimento � superf�cie, as r�s n�o se d�o mal no Inferno.

*



















"Envio-lhe uma fotografia que tirei no Jap�o, mais concretamente num dos vulc�es do Parque Nacional de Shikotsu-Toya, na ilha de Hokkaido. Pude por l� respirar muito enxofre."


(Pedro Matos Soares)


*

Fernando Pessoa sobre as r�s, lembrado por RM:

Todas as cousas que h� neste mundo
T�m uma hist�ria,
Excepto estas r�s que coaxam no fundo
Da minha mem�ria.
Qualquer lugar neste mundo tem
Um onde estar,
Salvo este charco de onde me vem
Esse coaxar.

Ergue-se em mim uma lua falsa
Sobre juncais,
E o charco emerge, que o luar real�a
Menos e mais.

Onde, em que vida, de que maneira
Fui o que lembro
Por este coaxar das r�s na esteira
Do que deslembro?

Nada. Um sil�ncio entre juncos dorme.
Coaxam ao fim
De uma alma antiga que tenho enorme
As r�s sem mim
 


O VULC�O QUE JULGAVA QUE ERA UMA BALEIA



Na esta��o de vigia �s baleias - uma barraca de madeira e dois bancos para os homens - viu-se o mar a agitar-se. Baleia de certeza. Os homens deitaram o foguete de aviso e correram para o pequeno porto em baixo, uma fractura entre dois rochedos de basalto que permitia deitar os barcos ao mar. Os barcos sairam atr�s da espuma. Quando l� chegaram viram o "mar a ferver" e n�o havia baleia nenhuma. Fugiram. Era o in�cio de um vulc�o. Foi assim.

� Jos� Pacheco Pereira
In�cio
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