ABRUPTO

28.2.05
 


AR PURO


Constable
 


A INDÚSTRIA DO COMENTÁRIO

1. Há hoje uma indústria de falar / escrever sob a forma de comentário que faz parte das novas tecnologias e é, meus caros amigos e inimigos, uma “indústria de ponta”. É como essa outra tecnologia dos nossos dias a produção do humor, outra “indústria de ponta”, florescente em tempos deprimidos como os nossos. Como acontece numa sociedade industrial moderna, há fluxos entre os diferentes sectores de produção: da política tradicional para o comentário, da publicidade tradicional para o humor como publicidade, das artes do espectáculo para a política, da televisão para a indústria “cor-de-rosa” (outra indústria “de ponta”), da escrita bloguística para a escrita dos jornais. Em todos estes casos há também um vice-versa.

2. Eu faço parte da indústria de falar. Não só, mas também. Pertenço portanto a uma economia assente num mercado aberto onde os bens são escassos. Logo, na minha indústria, a competitividade é feroz e ainda bem. É o que ainda a faz de “ponta”, com todas as felizes ambiguidades do termo. A indústria agrega académicos, empresários, políticos no activo (os que esperam ir a votos no quadro de legítimas ambições) e interessados pela política, jornalistas, escritores, advogados, professores num estatuto de igualdade. Alguns académicos pensam que quando opinam têm regras diferentes dos empresários, mas enganam-se. Na indústria do comentário tudo se mede pela qualidade da opinião, que é obviamente reforçada pelas competências a montante e a jusante, mas não é por elas legitimada. O mesmo tipo de ilusões existe nos políticos e nos jornalistas, mas opinião mede-se contra opinião.

3. Sendo uma indústria altamente competitiva, ainda tem vindo a tornar-se mais “selva” com o alargamento do espaço público com os blogues, que democratiza o acesso ao mercado e acentua ainda mais a competitividade. No mercado ela assenta na qualidade do falar que se mede por dois parâmetros: a audiência e a influência, que podem não ser coincidentes. Há produtos com audiência que não têm influência e vice-versa. É interessante analisar a mesma divergência na blogosfera, onde ela pode ser comparada pela diferença entre os índices de leitura e as citações.

4. Os ludditas querem manter uma closed shop para o comentário (quotas, “contraditório”, elocução apenas partidária, vozes oficiosas, lógica institucional) e reflectem no fundo a sua perda de mercado de audiência e de influência. Há ludditas no jornalismo, nas universidades, nos partidos políticos, nos empresários. Têm a nostalgia de um mundo ordenado, de que eles são ou os produtores da ordem ou os polícias da desordem. Divulgam a ideia que a indústria do comentário produz perversões, subversões e perturbações, em suma, inutilidades perigosas que nenhuma falta fazem. É falso: a indústria do comentário produz controvérsia, racionalidade, e às vezes, imaginação e um olhar fresco. Não é tudo, nem pretende ser tudo, nem se substitui a outras indústrias e actividades cívicas, mas é uma parte indissociável do espaço público da democracia, que sem “opinião” respiraria com dificuldade.

(Continua)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: CONTA, PESO E MEDIDA

Conta, Peso e Medida: a ordem matemática e a descrição física do mundo é uma exposição de obras antigas (dos séculos XV e XVI) sobre temas de ciências físico-matemáticas e disciplinas afins que inaugura a 2 de Dezembro de 2004, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, e estará patente ao público até final de Fevereiro de 2005. Com a realização desta exposição a Biblioteca Nacional associa-se às comemorações de 2005, Ano Internacional da Física. “

Fui ver esta exposição à Biblioteca Nacional. Sábado, fim da manhã. A porta principal da BN está toda fechada com um papel branco a indicar a entrada por uma das portinholas laterais. Decifrada primeira parte do labirinto, entramos. À frente vários obstáculos (mesas, vasos e depois umas barreiras “tipo metropolitano”), ao fundo à esquerda um balcão onde, muito a custo e depois de inúmeras perguntas para percebermos como é que funciona, se é ali, se paga ou não, como é que se entra (todas respondidas com enigmáticos monossílabos), nos é aberta a passagem. Avançamos felizes, chamam-me para me dizerem que tenho que entrar num compartimento ao lado e deixar a minha mala num cacifo onde tenho que introduzir uma moeda de 1 Euro - no fim devolvemos - para fechar o cacifo e guardar a chave.

Concluída a operação, partimos à procura da exposição. Novo chamamento: - Tem que ir pelo elevador que é aqui. O espaço é claustrofóbico e pouco convidativo. As crianças têm que se esticar para ver os livros não conseguem ver e … a livraria, aos Sábados está fechada, por isso não pudemos comprar o catálogo da exposição. Aproveitamos para ver a secção de periódicos mas “os meninos não podem entrar”.
- Nem mesmo se não fizermos barulho e não mexermos em nada? Nope! (A outra sala de periódicos, a de acesso livre… está fechada aos Sábados.)

Dizer mal é fácil, bem sei. E é melhor haver esta exposição do que não haver nenhuma. É melhor haver Biblioteca Nacional do que não haver. E a exposição é obviamente interessante, embora eu não conheça ninguém que lá tenha ido. (Ou, se calhar foram mas ainda andam perdidos pelos corredores vazios e bafientos à procura dela.)

Havia um grupo a visitar a exposição guiado por um responsável, penso que da BN. No fim discutiu-se a nossa falta de interesse pelas “artes” de contar, pesar e medir, pelas ciências em geral. Que exposições como esta, para além do gosto pelos livros, podem ajudar a ultrapassar. Isto depois de ultrapassarmos teimosamente todos os obstáculos que a própria Biblioteca Nacional coloca ao nosso interesse pela exposição. É estranho … tanto trabalho para a organizar e depois parece que não querem que lá vamos.
Como sou teimosa, hoje vou lá comprar o catálogo da exposição. (Ah, e a exposição foi prolongada até 5 de Março.)

(R.M.)


*
Congratulando-nos com o relevo dado à exposição Conta Peso e Medida, que tem estado patente na Biblioteca Nacional, e ao respectivo catálogo, permitimo-nos fazer alguns esclarecimentos. Assim:

1 – O guia das várias visitas organizadas que se realizaram foi o Prof. Henrique Leitão, da Faculdade de Ciências de Lisboa, que foi o coordenador científico da exposição e do catálogo.

2 – As crianças não podem entrar na sala de leitura de periódicos, ou em qualquer outra das salas de leitura da Biblioteca, pela simples razão de que tal não é compatível com o interesse dos investigadores que lá se encontram a trabalhar.

3 – O espaço para exposições, não sendo «claustrofóbico», está pensado especificamente para mostras de livros e documentos, muitas vezes raros, o que implica obediência a normas universais em matéria de preservação.

4 – À semelhança do que acontece em bibliotecas congéneres de todo o mundo e em instituições que têm à sua guarda bens patrimoniais, o acesso à Biblioteca Nacional é expressamente condicionado.

5 – A entrada na Biblioteca faz-se por um dos módulos da porta principal, a fim de se resguardar o átrio de entrada, sobretudo durante o Inverno, e não por uma qualquer «portinhola» lateral, que, de resto, não existe, como qualquer visitante poderá confirmar.

Ressalvados estes aspectos, que fazem, afinal, a diferença entre uma biblioteca nacional e uma biblioteca pública ou uma ludoteca, todas as críticas são bem vindas e todos os visitantes, por maioria de razão, bem acolhidos.
(Biblioteca Nacional - Área de Relações Públicas)

*
Embora trabalhe no âmbito dos museus percebo perfeitamente o ponto de vista do senhor R.M. e surpreende-me deveras a resposta da Área de Relações Públicas da Biblioteca Nacional. Seguramente não estão a desempenhar correctamente a Vossa tarefa porque senão:
Teriam a entrada devidamente sinalizada;
Teriam um balcão/bilheteira específico;
Teriam uma sala de exposições temporárias junto à entrada permitindo que o público da exposição não necessitasse de subir os vários pisos da biblioteca (ou circular por outras áreas dela) para chegar à exposição (julgo que a sala da Área de Relações Públicas poderia ser uma excelente escolha, não teve já essa fungão?);
Teriam um local de venda de catálogos integrado na zona da exposição.
Como nada disso existe, fica a sensação de que a Biblioteca Nacional andou a gastar dinheiro dos contribuintes para organizar uma exposição que só serve para distrair os investigadores residentes, nos períodos em que esperam pelos livros mas, nesse caso, não seria mais simples prescindirem de publicitar a iniciativa? De qualquer modo, por favor, não tratem de forma sobranceira quem ainda não tinha tido oportunidade de ir à Vossa instituição, afinal não é ela de nós todos?
(P.B.)

*
Neste Sábado 26/Fev. à tarde, ao sair da exposição referida considerei enviar-lhe umas notas sobre a experiência. A motivação para a escrita seria unicamente o conteúdo em si da exposição e não as contingências do acesso a ela. O impulso para a nota a enviar provinha nessa tarde da emoção vivida na exposição, sobre a qual, com pena, não tinha visto qualquer referência até essa data. Vi que a exposição foi referida, embora o foco de atenção se tenha desviado para um aspecto, importante, mas que no meu caso foi suplantado pelo prazer da visita.

Para quem cresceu a ler divulgação científica (obrigado a Guilherme Valente da Gradiva), a exposição emociona. Mas não só. Ela lança-nos mais informações pela simples observação dos livros. A informação surge nas formas; nas datas de edição; nos detalhes e no esforço das ilustrações técnicas; nas línguas das escritas (Grego, Latim, Castelhano, Italiano - antes de Sábado julgava, erradamente, que Galileu teria sido muito revolucionário na escolha da língua; vi que uns 50 anos antes do "Saggiatore" e dos "Diálogos" já vários faziam a divulgação científica na língua das massas), nas formas das edições (impressionaram-me os pequenos volumes para estudantes universitários quinhentistas). Em suma, a beleza e a utilidade unidas, geradas pelo interesse de alguns e pela necessidade prática de muitos (destaca a construção civil, militar, e a navegação).

O próprio destaque dado na organização do espaço faz crer que o mais apelativo sejam os vários exemplares com as primeiras edições dos livros (leia-se capítulos, hoje) do "Elementos" de Euclides (abertos em figuras do teorema de Pitágoras, nessa altura já a caminho dos 2 milénios) ou o "Almagesto" de Ptolomeu, ou, uma 2ª edição do "De Revolutionibus" de Copérnico, aberto na figura heliocêntrica. Porém, para mim, o que mais funciona é o conjunto e as surpresas. Quando me dirigi para lá pensava que a exposição abarcaria o séc. XVII, ou seja esperava ver alguns "Galileus" ou um "Principia". A exposição foca contudo o séc. XV e, majoritária e necessariamente, os quinhentistas. O que para mim ficou foi a sensação de como os autores dos livros sentiam a necessidade pulsão de os fazer publicar. Na medida da época é certo, mas sente-se a urgência e o desejo da divulgação, na sucessão de datas de publicação, como se a rajada estivesse contida há muito. Havia quase tudo por fazer. Como sempre. Foi bom ver as primeiras edições impressas dum funesto Boécio (muito lembrado por si), de Arquimedes (também assassinado, mas com morte menos brutal - apenas uma espada romana) mas também de Vitelio ou Tartaglia, nomes menos famosos que têm o seu lugar na memória de quem gosta da chamada cultura científica.

O que a leitora relatou é poder-se-ia imaginar fácil de ocorrer, bastando para tal que o segurança do momento fosse do tal tipo monossilábico, uma vez que não vi nada escrito. Tem de se perguntar tudo. Na entrada fica a sensação de se estar a tentar fazer "algo de esquisito". Também eu fui nesse Sábado, mas de tarde. Fui na última hora da exposição, antes de encerrar. Também eu me atrapalhei na porta principal de vidro e no percurso que ela impõe. Logo após a porta de vidro, o que surpreendeu foi a falta de indicações. "Seria aqui mesmo?", dúvida instantânea. Tinha pouco tempo para a hora de fecho, sabia, portanto indiquei sem delongas a um senhor solitário duma empresa de segurança se ainda poderia visitar a tal exposição. Foi simpático, indicando o pouco tempo que faltava. Vi uma série de controlos de acesso do tipo de entrada de supermercados (a imagem de metropolitano também serve, embora não do de Lisboa) mas afinal seria mais simples: o senhor carregou num botão e um acesso lateral abriu-se. "-Entre nesse elevador e prima o 2.", ainda ouvi. Rapidamente estava na exposição. O estranho era o vazio de pessoas. Uma exposição sem ninguém. A 20 minutos do suposto fim, mais duas pessoas surgiram. Vi a exposição até lá surgir em cima o mesmo segurança, novamente simpático, indicando-me que tinha de fechar, já eram 17h. Mas deu-me a boa novidade: "-Olhe que a Direcção decidiu prolongar mais uma semana a exposição". Retirei a última brochura da exposição, folheei o livro de comentários de outros visitantes (li quem notasse o mesmo vazio de gente noutros dias) e desci, agora pelas escadas, tendo desta vez uma menina da segurança a carregar no botão que abriu a portinhola de alumínio. "Perdi-me" novamente na porta-labirinto da saída. Fiz muito bem em ter ido e no fim precisava de mais tempo para ver tudo melhor. Fiquei feliz com o prolongamento da exposição e irei lá voltar durante esta semana. Espero poder comprar um catálogo.

Muito obrigado à organização por terem elaborado esta exposição, mas as notas do leitor P.B. têm sentido. O acesso é invulgar para uma exposição aberta a todo o público. Soube da exposição numa notícia de jornal fui ver mais no site na página da BN. Não esperava ter me sentir um pouco à entrada como um estranho que quer entrar em casa alheia. O que os visitantes sentem não é o excesso de vigilância (eu achei que ela é de menos). É certo que em tanto lado da Europa e EUA até pelo detector de metais passamos, contentes. Mas há gente, rebuliço, setas, sorrisos.
Tal como a leitora R.M., também eu não conheço mais ninguém que lá tenha ido. Como é que a Gradiva subsiste por cá, é que algo que desde criança me pergunto.
(Francisco Monteiro)

*
Não pude nem poderei ver a exposição, mas o que me chamou a atenção no post de RM e na resposta da Bilblioteca Nacional foi a extraordinária presença e força do Abrupto. Presumo, pela maneira como estão redigidos, que os comentários de RM apenas tenham sido enviados para o Abrupto, e não, por exemplo, como um mail para a BN, com cópia para o Abruto. Acho fantástico que quase imediatamente surja uma resposta - boa ou má, neste caso é irrelevante - das Relações Públicas da BN. Isto confirma, se confirmações fossem precisas, que o Abrupto tem realmente uma presença enorme na comunicação. Essa presença implica, por um lado, que os comentários chegam aos "destinatários" e, por outro, que os "destinatários" se vêm obrigados a reagir. Claro que a função do Abrupto não é ser o "muro das lamentações" da sociedade portuguesa, mas tenho razões para desconfiar que se RM se tivesse limitado a enviar um mail ou uma carta à BN com as críticas que suscitou no Abrupto, ficaria talvez sem resposta. Na Suécia esta função é preenchida pelos jornais diários "sérios" têm uma a duas páginas de correio de leitores, onde se publicam cartas, ou excertos, sobre os mais variados assuntos. Umas vezes geram-se debates sobre determinadas questões, outras vezes apresentam-se críticas e, mais raramente, louvores. O certo é que quando se criticam empresas, instituições, serviços públicos, por exemplo, os visados são praticamente "obrigados" a reagir, e muitas vezes a alterar o seu comportamento. É uma arma fabulosa!
(Madalena Ferreira Åhman)

*
Em 12-01-2005 fui á Torre do Tombo ver a Bíblia dos Jerónimos e depois descai e fui ver as exposições que estavam presentes na B.N. Não senti as dificuldades que referiu e fico surpreendido como encarou as medidas de segurança,imperiosas num tipo de instituição que alberga um património valioso e insubstituível,que é de todos nós,e que são assumidas em todas as congéneres,espalhadas pelo Mundo. O único pequeno senão foi os 30 m.que tive de esperar para ver a ex. sobre Portugal e o Oriente,por na altura o Prof.H.J.Saraiva estar a gravar o programa,que dias depois passou na "2". Efectivamente,ás vezes dizer mal é fácil!

PS. Durante os 90 m.de presença na B.N.,fui o único visitante das exposições,mas já estou habituado,pois há quatro ou cinco anos,quando visitei o Museu da Electricidade,percorri-o absolutamente sozinho,ao longo de 3h.

(A.L.B.Barrinhas)
 


A LER

Tarde e Mal de Fátima Bonifácio no Público, para quem ainda anda em jogos de desculpabilização e não quer admitir, perceber, compreender, aquilo que de uma vez por todas, de forma claríssima, os portugueses "disseram" numas das eleições mais transparentes na sua interpretação desde o 25 de Abril.

"Chickening Out- Fear and loathing in the academy: Ward Churchill faces the dilemma of the holy whore" por Curtis White no Village Voice.

"Ce mot de "Shoah", par Claude Lanzmann" no Le Monde.
 


EARLY MORNING BLOGS 440

Señales del fin del mundo - Primera señal: pierde el gusto.


En cuanto manjares de grande sabor
se mantiene el mundo de necesidad;
el uno es justicia, el otro verdad,
el otro es la fe, el otro el temor.

Y pues perdió el gusto de este su dulzor,
y a tales manjares cobró tal fastío,
ya os juro, señores, neste hábito mío,
que nunca jamás sane su dolor.

¡Oh mundo, señal es de tu perdimiento
perdieres el gusto de tantas dulzuras!
¡Oh evangelios, santas scrituras,
cómo os hacen molinos de viento!

Acudí al mundo, que está en pasamiento,
no puede vivir, ya no gusta nada.

(Gil Vicente)

*

Bom dia!
 


BIBLIOFILIA: URBS TEMPLUM

Os livros escolares antigos podem ser enganadores porque estão muitas vezes associados a realidades pedagógicas que eles ocultam mais do que revelam. Têm também uma carga de nostalgia identicamente enganadora: os tempos antigos nunca podem ter sido melhores do que os de hoje. Em geral, em regra.

Mas depois suscitam um mal-estar evidente. Os estudantes aprendiam mesmo aquilo? Ou parte daquilo? Ou dez por cento daquilo? Porque se aprendiam sabiam infinitamente mais do que sabem hoje. (Exagero? Talvez não. O problema existe mesmo). Veja-se esta Res Romanae, o livro de latim “para a terceira classe” do antigo “secundário”, datado de 1923. Livro único, “oficialmente aprovado” e escrito por Xavier Rodrigues, professor do Pedro Nunes. Não é apenas um livro de latim, contendo uma gramática, exercícios e textos, mas um “livro-método”, com um longo prefácio metodológico. No seu conjunto, é de facto uma introdução à “res romanae”, à história, religião, organização social, instituições, cultura e literatura dos romanos. Muito para além do que hoje aprendemos sobre Portugal, quanto mais sobre a Roma antiga.

(No livro um desenho do Senado, com a frase: "Urbs templum, inquit Cineas, Senatus concilium regum mihi esse videbatur")
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: WAKING LIFE

Devido aos tempos que correm aconselho vivamente a visualização do filme "Waking Life" de Richard Linklater, do qual apresento um dos diálogos (ou monólogos) do filme:

(Main character walking down the street with a man who is holding a can of gasoline).

Self-destructive man feels completely alienated, utterly alone. He's an outsider to the human community. He thinks to himself, "I must be insane." What he fails to realize is that society has, just as he does, a vested interest in considerable losses, in catastrophes. These wars, famines, floods and quakes meet well defined needs. Man wants chaos. In fact, he's got to have it. Depressions, strife, riots, murder, all this dread. We're irresistibly drawn to that almost orgiastic state created out of death and destruction. It's in all of us. We revel in it. Sure, the media tries to put a sad face on these things, painting them up as great human tragedies, but we all know the function of the media has never been to eliminate the evils of the world. No! Their job is to persuade us to accept those evils and get used to living with them. The powers that be want us to be passive observers. You got a match? And they haven't given us any other options outside the occasional purely symbolic participatory act of voting. You want the puppet on the right or the puppet on the left? I feel the time has come to project my own inadequacies and dissatisfactions into the socio-political and scientific schemes. Let my own lack of a voice be heard.

(He pours gasoline all over himself and lights himself on fire.)


("WAKING LIFE," Written and Directed by Richard Linklater)

(Paulo Raimundo)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MAIS A APRENDER DO QUE A ENSINAR

A noticia de que António Guterres vai a Bagdad dar uma aula de democracia trás à memória a sua frase vácua de que "é preciso dar uma oportunidade à paz". Por essa altura o seu contributo na guerra contra o terrorismo (um contributo apoiado na descrença quanto a uma democratização do médio oriente). Por sua vez, a esta altura, os Iraquianos já aprenderam que antes de mais nada a democracia se constroi com coragem e persistência. Bem vistas as coisas Guterres tem mais a aprender do que a ensinar.

(João Santos Lima)

27.2.05
 


AR PURO


Constable
 


EARLY MORNING BLOGS 439

About Face


Because life's too short to blush,
I keep my blood tucked in.
I won't be mortified
by what I drive or the flaccid
vivacity of my last dinner party.
I take my cue from statues posing only
in their shoulder pads of snow: all January
you can see them working on their granite tans.

That I woke at an ungainly hour,
stripped of the merchandise that clothed me,
distilled to pure suchness,
means not enough to anyone for me
to confess. I do not suffer
from the excess of taste
that spells embarrassment:
mothers who find their kids unseemly
in their condom earrings,
girls cringing to think
they could be frumpish as their mothers.
Though the late nonerotic Elvis
in his studded gut of jumpsuit
made everybody squeamish, I admit.
Rule one: the King must not elicit pity.

Was the audience afraid of being tainted
--this might rub off on me--
or were they--surrendering--
what a femme word--feeling
solicitous--glimpsing their fragility
in his reversible purples
and unwholesome goldish chains?

At least embarrassment is not an imitation.
It's intimacy for beginners,
the orgasm no one cares to fake.
I almost admire it. I almost wrote despise.


(Alice Fulton)

*

Bom dia!

26.2.05
 


BIBLIOFILIA: QUANDO HAVIA AGRICULTURA...







... faziam-se livros destes: António Luís de Seabra, A Oliveira. Projectos para a sua Cultura Racional. O livro é um pequeno tratado sobre olivicultura publicado em 1935. Duvido que houvesse muitos agricultores com esta capacidade de fazer uma cultura "racional", mas o esforço vinha em conjunto com a publicidade. O livro era uma iniciativa publicitária da CUF e da Imperial Chemical Industries (ICI), uma multinacional dos adubos, ambas grandes investidoras neste tipo de folhetos. Mas a capa denota a irrealidade, com aquelas camponesas vestidas como num rancho folclórico, quase a dançar no trabalho, sem qualquer sinal de esforço físico, como se os seus aventais chegassem para receber as azeitonas. Este mundo irreal é acentuado na contracapa onde um par parece namorar à volta de um cesto de azeitonas. Como se era feliz na agricultura!
 


OUVINDO


Brendel, Schubert, Impromptus.
 


BIBLIOFILIA: O D'ANNUNZIO DAS DACTILOGRAFAS E DAS MANICURAS


Livros encontrados nuns restos que nunca foram arrumados, vindos de uma casa hoje quase em ruínas. Livros mais que comuns, vulgares, daqueles que se podem comprar por um euro nos alfarrabistas, também aí em fundos dos fundos, que ninguém quer. Mas, para mim, livros e tempo são a mesma coisa, tempo que demora a lê-los e tempo que eles transportam. E quando se abre a porta a esse tempo, ela nunca se fecha.

Veja-se o romance de Guido da Verona, A Que Não se Deve Amar, tradução de António Ferro de Colei che non si deve amare, escrito em 1911. A capa veneziana interessou-me , mas pensei em mais um dos romances cor-de-rosa que eram populares nos anos entre as duas guerras. A edição portuguesa da Empresa Literária Fluminense é de 1928. Foi a capa que me chamou a atenção, com o seu tom fitzgeraldiano, a dama desequilibrada junto de um cavalheiro mais alto, e, nesse desequilíbrio, colando-se a ele numa forma que, à época, seria certamente “desavergonhada”. O vestido e as transparências acentuam todo um movimento erótico. Era literatura para homens ou para mulheres? Não li o livro, não sei, embora suspeite que como a cara do cavalheiro está da mesma cor da senhora, deve ser “a que não se deve amar” que faz perder a cabeça ao cavalheiro, logo é literatura para senhoras. Digo eu, com certezas a mais. Um resumo do romance diz que é uma história de ascensão social – excelente matéria cor-de-rosa – ele jogador e ela “mantenuta per lei”.

Quem seria este Guido da Verona para além de ser de Verona, e ter ar de pseudónimo? Nem uma coisa nem outra. Era de Modena, mais propriamente de Saliceto Panaro, onde nasceu em 1881 e não era pseudónimo. O mais interessante é que era futurista, dandy, jogador (autor de um tratado de jogar á roleta Il trattato delle possibilità impossibili con l'arte di vincere al gioco), e imensamente popular. Classificado como autor de "romanzatura da coltre e da conforto intimo", ou, noutra notável classificação, de «D'Annunzio delle dattilografe e delle manicure», o seu livro mais popular tem também um título que diz tudo Mimì Bluette, fiore del mio giardino. Valeu-lhe de pouco a fama e a popularidade, porque Guido da Verona teve uma vida agitada e, no fim, trágica, passando de amigo dos fascistas a perseguido por eles. Morreu (assassinado? suicida?) esquecido em 1939.

Estão a ver como funciona o tempo? Já estou no meu momento Pitigrilli, outro célebre esquecido. Sic transit...
 


COISAS SIMPLES


Bonnard
 


EARLY MORNING BLOGS 438

Aos amigos


Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.

- Temos um talento doloroso e obscuro.
construi­mos um lugar de silêncio.
De paixão.


(Herberto Helder)

*

Bom dia!

25.2.05
 


SCRITTI VENETI

Quando as criadas se chamavam Colombina e Corallina, e os criados Tiritofolo, se escrevia para o Carnaval de 1751 - ah! o mundo a fermentar para a grande revolução ...– e se começava assim, staccato, ligeiro e rápido, com Rosaura “vestita pomposamente, a sedere ad un tavolino collo specchio in mano”,

COL. Eccomi, signora.
ROS. Guarda, Colombina, questa scuffia mi sta male, non è egli vero?
COL. Mi par che stia bene.
ROS. Oibò, non mi posso vedere.
COL. E pure è quella che vi piaceva tanto. Ieri diceste che non avete mai avuto una scuffia meglio fatta.
ROS. Ieri mi pareva che andasse bene, e oggi no.
COL. Compatitemi, signora padrona, siete un poco volubile.
ROS. Impertinente, così parli di me?
COL. Via, compatitemi, l'ho detto senza intenzione di offendervi.
ROS. Va via di qua.
COL. Non credeva che l'aveste per male. So che mi volete bene, e che da me soffrite qualche barzelletta.
ROS. Non voglio barzellette. Corallina, dove sei? (chiama)
COL. Come, signora, chiamerete la sottocameriera? Farete a me questo torto?
ROS. Mi voglio far servire da chi voglio io, e tu va via di qui.
COL. Vi aveva da dire una cosa per parte del signor Lelio.
ROS. Non voglio sentir parlare di Lelio.
COL. Mi diceste pure ieri, che lo salutassi per parte vostra.
ROS. So che è stato in casa della signora Eleonora, non lo voglio più per nulla.
COL. La signora Eleonora è pur vostra amica.
ROS. Sì, sì, è mia amica! Se verrà da me, ci avrà poco gusto.
COL. Ma, cara signora padrona, io vi voglio bene e vi parlo per vostro bene. Ieri avete fatto tante finezze alla signora Eleonora, avete dette tante belle parole al signor Lelio, e oggi non lo volete sentir nominare. Che concetto volete che si faccia di voi?
ROS. Va via di qua.
COL. Sì, sì, vado. (Vi vuol pazienza, e bisogna compatire il temperamento). (da sé, e parte)


só pode ser Goldoni, La Donna Volubile, e só se pode estar em Veneza.
 


NATUREZA MORTA DE PRÍNCIPIO DE TARDE

Da direita para a esquerda: um número das Faces de Eva, quatro comandos (de televisão, DVD, cabo por satélite, e um que devia resumir os outros todos, comprado numa loja chinesa e que, por incompetência, se recusa a cumprir a função), uma agenda de 1959, das Caves Aliança, cheia de papéis dentro. Dentro: uma carta antiga da Juventude Musical Portuguesa, um desenho que ficará para outras naturezas. um folheto de W. Ribeiro da Silva, New York, Andorra e Rio de Janeiro, Comédia Satírica e Quase Realista em três actos. Andorra? Pormenores das personagens, incluindo uma "quite a dish" e um "moralista" com dois cursos superiores:



Uma mão, uma pilha de zips, uma lupa, um lápis do Sofitel, uma reprodução de Warhol, Dance Diagram-Tango, um pedaço de lava, um ecrã, dois olhos, um radiómetro quase parado, uma SonicTape para medir as distâncias, uma estação meteorológica – dezanove graus aqui, dezasseis lá trás, doze lá fora - , um telhado, um gato preto no telhado ao sol, azul do céu sem nuvens, tempo, uma ampulheta invisível, um dado, um pedaço de lava, um azulejo, água, duas canetas, uma mão, um rato, um telefone desligado, um ruído longe, nenhum ruído perto, ar, um Schubert por Brendel. Impromptus. Impromptus.
 


BIBLIOFILIA: MICRO-ACTOS MACRO-DIGNIDADE

José Pereira Tavares, Exame de Consciência, Aveiro, Labor, 1999

Este livro, que ninguém quis, quando saiu, distribuir pelas livrarias, e permanece esquecido, é um exemplo notável de como ignoramos e , ao ignorar desprezamos, o melhor que temos. Trata-se das humildes memórias de um professor do Liceu, quando Liceu se escrevia com letra grande e era o local de elite do ensino secundário, onde uma elite de professores ensinava uma elite de alunos, escolhidos obviamente pela sua condição social, que permite um retrato de um tempo que nunca mais voltará. Em muitos aspectos ainda bem. O que convinha era não deitar o menino com a água do banho, ou seja a qualidade do ensino com a sua democratização. Para perceber o que se passou, o estudo do “mundo” dos professores do Liceu, quando esta era uma profissão altamente prestigiada devia ser obrigatório para os professores de hoje. Este livro mostra o mundo cultural, pedagógico e cívico de um típico professor do Liceu, José Pereira Tavares, reitor do Liceu de Aveiro, que vai dos anos vinte até à década de sessenta nas suas recordações. Depois percebe-se a diferença. Pura arqueologia.

Mas há mais. José Pereira Tavares era um republicano conservador, o último homem a que se podia chamar um subversivo, detendo aliás um lugar de reitor que implicava um módico de confiança política do regime salazarista. Mas os homens são como são, e este tinha a dignidade simples e intacta. Nestas memórias conta um episódio de 1951, um ano de grande radicalismo da ditadura, no princípio da guerra-fria. Eis como este pequeno acto, quase anónimo, – tudo isto se passa convém lembrar para os dias de hoje, sem ninguém saber - , nos mostra a respiração da dignidade.
" Ora em 13 de Janeiro de 1951, recebi eu, como entidade oficial, um "Manifesto" da Comissão Executiva da União Nacional, acompanhado da seguinte circular da Comissão Distrital de Aveiro:

"Junto se remetem a V. Exa alguns exemplares do "Manifesto" elaborado pela Comissão Executiva da U. Nacional, agradecendo o favor de lhe dar a maior difusão possível entre o pessoal que se encontra sobre (sic) as ordens de V. Ex. Esta Comissão Distrital muito grata ficaria se se dignasse enviar-lhe uma lista "com indicação do nome, ano de nascimento, profissão e morada" dos indivíduos que desejarem inscrever-se na U.N., para em seguida enviar a V. Exa os respectivos boletins de inscrição. Etc, etc. - Gaspar Ferreira, Francisco José Matias, Arménio Martins".

Na "Lista de inscrição" lia-se o seguinte: "Os cidadãos abaixo assinados declaram por sua honra, sem que a isso hajam sido coagidos, que apoiam leal e desinteressadamente a situação criada pelo 28 de Maio de 1926, concordando com as ideias e intuitos com que se organizou esse movimento e com a orientação indicada pelo Governo no manifesto à Nação publicado no primeiro aniversàrio do mesmo. Mais declaram que, quaisquer que tenham sido os seus ideais políticos, os põem de parte, olhando apenas ao progresso e engrandecimento da Pátria, que exige, neste momento critico da nossa História, a união e o esforço desinteressado e leal de todos os seus filhos, para o que oferecem o seu apoio e colaboração".

Os professores do Liceu ficaram alarmados, supondo que era obrigatória a sua filiação. Acalmei-os e prometi indagar dos propósitos dos indivíduos que subscreviam a circular. No dia 18 de Janeiro, escrevi ao Cor. Gaspar Ferreira, nos seguintes termos:

"Exmo Sr. Cor. Gaspar Ferreira, meu mt. prezado Amigo:

Recebi a circular da Comissão Distrital da U. Nacional de Aveiro, convidando-me a enviar a lista dos meus subordinados que desejem nela inscrever-se.

Respondendo par mim, venho pedir a V. Exa se digne informar-me sobre se, não me inscrevendo, seriam postos em dúvida o meu nacionalismo e o meu patriotismo.

Sabe V. Ex. mt. bem os motivos por que me recusei a ingressar na U.N., quando ela, sendo V. Exa Governador Civil, foi criada; e também não ignora que esses motivos ainda subsistem. A minha posição de cidadão português sem partido não obstou a que, sem eu o desejar, me convidasse pessoalmente, em Outubro de 1940,0 Sr. Ministro da Educação Nacional (Dr. Mário de Figueiredo) para de novo assumir o cargo de reitor do Liceu, que é lugar em que só são investidos indivíduos da confiança do Governo. Venho desempenhando essas funções há dez anos completos, sinal de que se reconhece que à frente do Liceu está um português incapaz de trair a sua Pátria, ou de insuflar no espírito da Mocidade, cuja educação cívica superiormente dirige, sentimentos que não sejam de puro nacionalismo.

No Manifesto, apela-se para o meu patriotismo. Ora a mim repugna-me ter de o afirmar com a inscrição num partido em que Monárquicos e Integralistas, em vez de se limitarem a colaboração com o Governo, aproveitam a ensejo para fazerem propaganda das suas ideias politicas, a sombra de instituições cuja existência não está em causa.

Desejaria, portanto, continuar a ser português tal qual o tenho sido sempre, isto é, sem subordinação a qualquer partido. Nem por isso deixarei de aplaudir abertamente, como sempre tenho feito, tudo quanto de bom ou de óptimo os Governos de Salazar façam e nem por isso deixarei de continuar a orgulhar-me da minha qualidade de português e de patriota.

Se porém, a minha escusa em inscrever-me na U.N. pudesse ser interpretada par alguém com a confissão tácita de que não sou nacionalista, inscrever-me-ia; mas a U.N. nada lucraria com isso, visto que a minha inscrição equivaleria somente a uma declaração anticomunista, como as que, por mais de uma vez, por força de leis do meu País, tive de fazer, como funcionário público, perante o Governo".

Como o portador da carta não tivesse encontrado o Cor. Gaspar Ferreira, no dia seguinte lha li, para que me esclarecesse.

A resposta foi a de que a filiação dos funcionários na U. Nacional não era obrigatória e pediu-nos considerasse a circular como não recebida.

Ficaram satisfeitíssimos os meus colaboradores. Na lista das inscrições só veio a figurar uma assinatura."
 


COISAS COMPLICADAS


Corot
 


EARLY MORNING BLOGS 237

The Half-People


A man can wander out by himself,
far away from the others and, if he has
enough room, grow into a giant.
Dwarfs live in crowded places
making tools so small human hands fumble
when they try to use them.
Then there are the half-people,
those with whole heads and whole genitals,
but with only one leg and one arm.
They hop around, longing for the twins
of themselves. They hop around like stripes
peeled from the hides of majestic animals.


(Denise Duhamel)

*

Bom dia!

24.2.05
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: ENCELADUS, ESPELHO MEU



- Porque brilha tanto Enceladus?

- Porque parece ter neve, brilha como a neve.

- Pode-se "ir à neve" em Enceladus?

- Pode, mas com muito cuidado e daqui a alguns anos. Ainda não está nos folhetos das agências, mas lá chegará o tempo.

- E há festas, e pode-se escorregar?

- Há e pode-se escorregar, mas devem-se evitar os vulcões de água.

- O que é um "vulcão de água"?

- A água nasce do chão como a lava num vulcão.

- E é mau?

- Não. É bom. os vulcões são bons, só são às vezes muito perigosos.

- Acho que vou marcar a viagem...

- ...para daqui a muito tempo. Mas reserve, reserve. Só tem que deixar o sinal.

- Eu deixo o sinal.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DOIS POETAS



Acabei de ler, no ABRUPTO, um soneto de Frei Agostinho da Cruz. Dado que os irmãos poetas - Frei Agostinho da Cruz e Diogo Bernardes - nasceram em Ponte da Barca, envio uma fotografia do monumento existente no denominado Jardim dos Poetas e onde se podem ler duas quadras, datas e locais de nascimento e morte.

(A.Oliveira)
 


A LER

no Jornalismo e Comunicação A venda da Lusomundo Media: mais do que um negócio,
 


JORNALISMO CUIDADO

No Jornal de Notícias desta Segunda-Feira, na última página eram apresentadas quatro ou cinco citações de blogues, entre os quais o Abrupto, o Barnabé, a Causa Nossa e outros que não me recordo. Tinha o nome do blog, em formato URL, e por baixo a citação.

A citação do Abrupto era a seguinte :

O PS está à altura deste resultado?
Eu acho que o resultado é em si mesmo gerador de responsabilidade.Que absurdo seria face a tão grande capital de esperança falhar...o golo.O inimigo era a abstenção e foi vencido.A campanha suja veio a seguir e podia ter liquidado humana e politicamente Sócrates.Foi derrotada. A responsabilidade é acrescida, mas foi forjada neste quadro difícil. Por isso
confio e acredito.

Como V. sabe melhor do que eu, estas palavras são do José Magalhães. Acontece que o jornal não identificou o autor, levando por isso a pensar que o autor das mesmas era o autor do blog.

Na minha opinião, isto não foi inocente. O "jornalista" que seleccionou os textos, de certeza que leu o nome de José Magalhães no fim do texto e até o motivo porque estava ele ali a escrever, mas optou por não o identificar. As razões deste "lapso" para mim são claras: As pessoas que não lêem os blogues, e que são a esmagadora maioria, muitas delas pelo menos já ouviram falar do Abrupto como sendo o "blog do Pacheco Pereira". Assim o objectivo escondido era atribuir-lhe a si o "confio e acredito" que o "PS está à altura do resultado".
Obviamente que a seguir não vão confirmar se é verdade ou não. Primeiro porque é suposto ser uma citação, segundo, como é conhecida a sua discordância face a Santana Lopes, são levadas a pensar que até pode ser verdade o que estão a ler e que de facto até acredita no Sócrates.

Como não vi qualquer referência no Abrupto a isto, só posso presumir que, ou não tomou conhecimento ou não deu importância. Se é o segundo caso, pelo menos fica registada a minha indignação perante este "jornalismo".

(Mário Almeida)

Não vi. Obrigado por me ter informado.
 


COISAS SIMPLES


Zurbarán
 


EARLY MORNING BLOGS 436

For Once, Then, Something


Others taunt me with having knelt at well-curbs
Always wrong to the light, so never seeing
Deeper down in the well than where the water
Gives me back in a shining surface picture
My myself in the summer heaven, godlike
Looking out of a wreath of fern and cloud puffs.
Once, when trying with chin against a well-curb,
I discerned, as I thought, beyond the picture,
Through the picture, a something white, uncertain,
Something more of the depths—and then I lost it.
Water came to rebuke the too clear water.
One drop fell from a fern, and lo, a ripple
Shook whatever it was lay there at bottom,
Blurred it, blotted it out. What was that whiteness?
Truth? A pebble of quartz? For once, then, something.


(Robert Frost)

*

Bom dia!

22.2.05
 


COISAS SIMPLES


A. Zorn
 


EARLY MORNING BLOGS 435

Da Oração


Doce quietação de quem vos ama,
Em serviços, Senhor, que tanto quanto
Amado sois, tão longe o fim de tanto,
Subindo mais, e mais, mais se derrama:

Ardendo por arder em viva chama
De amor do vosso amor, a voz levanto;
Sinto, suspiro, choro, colho, e planto
Ao som doutra suave que me chama.

Onde se vai, Senhor, quem vos ofende?
Donde levais, Deus meu, a quem vos segue?
Onde fugir se pode uma de duas?

Morto por quem o mata que pretende,
Ou que extremos de amor há que nos negue
Quem culpas nossas chama ofensas suas?


(Frei Agostinho da Cruz)

*

Bom dia, com chuva!
 


JORNALISMO DE BULLDOZER

Mais uma vez o Público não diz a verdade. Nunca afirmei numa entrevista na Antena 1 que apoiava qualquer candidato à liderança do PSD, embora tenha elogiado a iniciativa de Marques Mendes que considero "corajosa". Mas fiz a distinção clara entre os dois actos - apoiar o candidato e apoiar a iniciativa - o que pelos vistos os jornalistas do Público não entendem porque não lhes facilita a notícia. Parece que não vale a pena fazer distinções, porque o jornalismo de bulldozer apaga tudo para nos dar o maravilhoso mundo a preto e branco. Como qualquer pessoa avisada espero para ver quais vão ser os candidatos que se vão apresentar para depois escolher, sem com isso deixar de valorizar o mérito de eles aparecerem. Felizmente o Abrupto ainda me permite ser dono da minha palavra a várias cores e não a preto e branco.

21.2.05
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE OS VOTOS EM BRANCO

Os votos em branco, que Ricardo Carvalho (21:23 VOTOS EM BRANCO) incorrecta e abusivamente associa a um virtual "Partido de Saramago", merecem, efectivamente, uma leitura política. Que lamentavelmente ninguém parece interessado em fazer neste rescaldo de clubite partidária. Muitos terão encontrado no voto branco a única saída para o protesto contra o partido que deixou chegar à sua presidência e aceder ao (des)governo de Portugal um homem como Santana Lopes, que, na verdade, já todos "sabíamos quem era".

(Helena Rodrigues)

*

O voto em branco é um direito, e não foge ao cumprimento da obrigação cívica de votar. É a 6ª "força política", e a 1ª sem assento parlamentar. Muito diferente da abstenção e do voto nulo, o voto em branco é a autêntica expressão de quem está totalmente desiludido com as opções que lhe são apresentadas.

De entre os vários argumentos que tenho ouvido contra o voto em branco, há apenas um que subscrevo: os boletins de voto em branco podem ser usados fraudulentamente, sendo convertidos fácilmente em votos em um qualquer partido.

Sugestão: acrescentar uma opção de voto em branco nos buletins de voto.

(Luis Vaz de Carvalho)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: FALAR

Por tudo aquilo que foi dito durante esta campanha (e outras) e por tudo aquilo que ainda vai ser dito -

"Talking and eloquence are not the same: to speak and to speak well are two things. A fool may talk, but a wise man speaks." - Ben Jonson

(Abel Gomes)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "MODELO NÓRDICO" (2ª série)

Na Dinamarca o Partido que o leitor Nuno Furtado chamou de centro-direita é-o apenas na conjuntura dinamarquesa, que é muito mais "à esquerda" que em Portugal. Este partido propôs-se a não aumentar os impostos (IRS médio por habitante :42% excluindo a Segurança Social, 25% de IVA em todos os produtos, 180% de Imposto Automóvel).
Este erro de olhar direita vs esquerda, independentemente de onde está o "centro" está a ser cometido também pelos meios de comunicação, quando comparam os resultados eleitorais com os de 1974, dando a impressão que o país é agora mais "de esquerda". Ao menos o Dr. Paulo Portas não cometeu este erro: explicitou que em nenhum país civilizado um partido democrata-cristão era menos votado que um partido trotskista. Enganou-se, ou tentou-nos enganar: O equivalente dinamarquès do CDS-PP é o Partido Democrata-Cristão (que ainda assim nao defende a penalização do aborto) que desta feita perdeu todos os deputados que ainda tinha. O equivalente dinamarquês do Bloco de Esquerda (Ehendslisten) tem agora 4% dos votos.

(Rodrigo Gouveia Oliveira, Copenhaga)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O MEU ACTO CÍVICO

Paro uns segundos à porta da sala 2 e olho lá para dentro. O suficiente para os membros da mesa de voto olharem para mim com ar expectante. Vai entrar ou fica a ver? Continuo pelo corredor, a minha secção é a nº 13, na sala 4, mas foi na sala 2 que fiz a primária, da 1ª à 4ª classe. À porta da sala 4 - 13ª secção de voto, volto a parar, verifico o cartão, sim é aqui, mas paro a olhar devagar para o poster que representa o boletim de voto que vou preencher daqui a uns momentos. Percorro a lista, com a pequena esperança de uma surpresa, no boletim ou em mim... que não acontece.
Entro, cumprimento a mesa, entrego BI e cartão eleitor, pego no boletim, dirijo-me para a câmara de voto. Olho para baixo, uma natureza morta!
Uma mão, um boletim, uma caneta bic cristal, presa por um cordel...
Dobro o boletim em quatro, insiro-o na urna, pego nos cartões e vou-me embora. Esqueço-me de olhar para dentro da sala 2.

(Ricardo Resende)
 


UMA PARTE MUITO SIGNIFICATIVA

das quase duzentas mensagens que hoje recebi vem de militantes do PSD que perguntam o que podem fazer face ao descalabro do seu partido e muitas de pessoas que pretendem inscrever-se no PSD para ajudarem ao mesmo objectivo. Nada lhes posso dizer de imediato, a não ser que sim, que se inscrevam, e que sim, que se mobilizem. Aos que me pedem para subscrever a sua proposta, fa-lo-ei certamente.

Mas, o Abrupto não é mais do que uma página pessoal, em que a discussão política tem tido um papel maior do que o seu autor desejaria. Tenho, no entanto, em conta que a conjuntura é especial e acentua a necessidade de uma discussão política numa área em que ela tem estado afastada pelo praticismo eleitoralista e pelo populismo grosseiro, que conduziram o PSD ao desastre de ontem. Isso explica os números excepcionais de "pageviews" que o Abrupto tem vindo a ter, aproximando-se hoje das 20000.

Penso que , em breve, todos poderão ter o papel que desejam com o aparecimento de candidaturas ao Congresso extraordinário e dentro das estruturas do partido e no debate dentro e fora, dar a sua contribuição. Uns votando, os que já cá estão, outros ajudando na campanha eleitoral interna, os que agora se inscrevem. A democratização do PSD passa também por aqui.

(Nestas circunstâncias compreenda-se a minha completa impossibilidade de responder individualmente a todas essas cartas. Tenho neste momento, desde a fundação do Abrupto, 7461 mensagens por responder…)
 


O TEMPO MUDOU

já choveu, um vento agreste bate na janela, as árvores não param, um ruído novo acrescenta-se aos habituais. Está na hora de partir ou de chegar?
 


COISAS COMPLICADAS


Grosz
 


PROPOSTAS: DIRECTAS JÁ

Seria saudável que o maior número de militantes fosse chamado a decidir, porque só assim se pode minimizar (e apenas minimizar) o peso das estruturas que se vão enquistar na escassez dos recursos e nos compromissos recentes que os garantiram. É cómodo pensar que haverá uma sequência sem ruptura de unanimismos: os que apoiaram Marcelo, depois apoiaram Barroso, e depois Santana e agora apoiarão quem vier. Não penso que vá ser assim tão simples, porque a maleabilidade interna é cada vez menor e a fraqueza alimenta a rigidez.

Neste contexto, e caminhando-se para a oposição, as autarquias são mais seguras, daí o peso e influência dos autarcas, sendo as estruturas locais são cada vez mais dependentes do poder autárquico e modeladas por ele. Resultado do desprezo pelo partido em si que, desde Cavaco, é norma nos dirigentes nacionais, com a fugaz tentativa da “refiliação” de Marcelo / Rio como excepção, a depauperação da qualidade política do aparelho partidário foi-se degradando. Desde meados dos anos noventa, o partido perdeu o contacto com as forças vivas do seu eleitorado natural e nacional, os self made man de hoje, nas universidades, nas empresas, na vida pública, a favor de uma “autarcização” de todas as suas estruturas.

Por tudo isto, um qualquer sistema de directas era hoje vantajoso para a democracia da escolha e para garantir que partido e sociedade civil não vão cada um para o seu canto, como aconteceu nos últimos seis meses. Eu fui o primeiro dirigente do PSD a ser eleito por eleições directas, – já ninguém se lembra mas a Distrital de Lisboa foi a primeira a fazer directas após alterações estatutárias com uma participação excepcional dos militantes, acabando com o sistema de eleição por delegados em assembleia –, e tinha então algumas reservas quanto ao alargamento do método a nível da direcção nacional do partido. A razão estava na mediatização das escolhas que inevitavelmente decorria das directas, que me parecia favorecer apenas os candidatos com mais televisão. Essa objecção permanece, mas, depois da última experiência do PS entre Sócrates e Alegre, parece-me a única maneira de fazer entrar algum debate de ideias e propostas no ambiente muito claustrofóbico das estruturas partidárias e mobilizar muitos militantes afastados da vida do partido.

Se se pretende renovar o PSD, depois de 20 de Fevereiro, dever-se-ia lutar não apenas por um congresso extraordinário mas por um processo que implicasse uma demissão colectiva de todas as estruturas distritais e eleições simultâneas para essas estruturas pelo método das directas em conjunção com a escolha de delegados para o Congresso. Não é impossível de fazer com os actuais estatutos, e daria um abanão a todo o partido, fazendo participar o maior número de militantes numa escolha que irá ser decisiva para a sobrevivência do PSD como grande partido nacional.

(de um artigo do Público)
 


FALAS

Num dos tradicionais modelos socialistas europeus - a Dinamarca - foi recentemente reconduzido um governo de centro direita, com reiterado apoio popular. A Dinarmaca é actualmente a economia mais saudável do mundo, a sociedade mais justa do mundo - uma lição. E nós ainda andamos a brincar às "revoluções" e às esquerdas ditas modernas. Que triste complexo de esquerda que nunca mais morre.

(Nuno Furtado)

*

Lágrima no canto do olho
É o que sinto quando vou votar.
Sinto uma enorme alegria ao ver dezenas e dezenas de pessoas voltar à escola, para participar na vida de todos, para decidir do seu destino comum.

Espero que o voto electrónico venha um dia ajudar a reduzir a abstenção, permitindo que se vote em qualquer local onde se instale um écran táctil, recolhendo o voto dos acamados, facilitando a vida cívica a quem tem deficiências.
Mas espero também que não se chegue a votar maioritariamente por telemóvel ou pela internet, afastando os cidadãos destes momentos (raros) de reunião, de reunião física, em que todos se movem por todos e se olham nesse processo.

Depois, no regresso do voto, começa normalmente a sobressair em mim o sentimento incómodo do sentido da decisão. Mas isso são outras histórias, com outras lágrimas.

(Artur Furtado)

*

O facto da esquerda ter ganho não foi um objectivo mas sim uma consequência.
A consequência dos portugueses quererem uma mudança. Não pensem os partidos de esquerda que os portugueses voltaram a acreditar em ideologias, que os portugueses voltaram a perceber os valores que separam as cores na assembleia.

As únicas cores que os portugueses conhecem são as cores dos cartões dos árbitros e foi esse o papel que ontem, nas eleições, desempenharam. Não hesitarão por isso em dar um vermelho directo e expulsar o PS se neste mandato que se vai iniciar não se atingirem o que agora a moda política chama de objectivos.

A esquerda que não se iluda. Que não se perca em brindes à simpatia de quem é tão humano que até perde a voz, ou de quem é tão moderno que até promete empregos em economias de mercado com a credibilidade de quem promete chuva no deserto.

(João Diogo)

*

A matemática é uma ferramenta que nos indica valores concretos para diversas coisas. Transforma em números aquilo que constatamos com a observação formal dos diversos sentidos.



Em tempos de eleições ela nos ajuda a medir, com frieza, elementos sensoriais tão abstractos quanto a esperança, a aprovação, a desaprovação, a mudança, a legitimidade, a responsabilidade e, sobretudo, a vitória e a derrota.



Dos números retirados dos resultados eleitorais nas legislativas que ontem se realizaram, poderemos concluir muitas coisas e formular muitas questões. Mas uma questão, em particular, me faz pensar: se, para o PP (Paulo Portas), uma diminuição de 14,29% no número de deputados eleitos, em relação às últimas legislativas, é o suficiente para sair do cargo de líder do seu partido, porque para Santana Lopes uma diminuição de 28,43%, portanto um número duas vezes superior do que o atingido pelo líder do PP (Partido Popular), não significa necessariamente a mesma tomada de atitude?

*

Mas ainda existem outras questões que se podem formular: Por que para um, a falha de 100% dos objectivos leva a uma determinada atitude, enquanto para outro não? Será que para o outro a derrota, com uma diminuição significativa da força política de seu partido, não significa 100% de falha dos seus objectivos que, pelo que me lembro, era só o da vitória? Se não, quais seriam estes objectivos que se prolongam para além eleições?

Mais caricato do que o defunto discutir com os “amigos” sobre seu destino político carregando a alça do próprio caixão, seria um “zumbi” político buscando vingança contra aqueles que não quiseram posar para a fotografia.

Uma última questão, embora especulativa: quereria agora o Pedro criar instabilidade dentro do PSD o suficiente para inviabilizar a candidatura de Cavaco Silva às presidenciais? Pelo menos seria uma atitude coerente com a meninice guerreira. A democracia deste país precisa de um PSD forte.

(Edgard Costa)

*

O PSD mereceu esta derrota. O PS não fez nada por merecer a vitória.

O moral da história destes resultados é simples: Nestes 2 anos e meio, a coligação apresentou um projecto global sério e ambicioso. Mas houve três áreas centrais em que falhou por incompetência: economia, educação e justiça. Muitos do quadros do PSD recusaram-se a colaborar com o governo, porque iam ser tempos difíceis. No momento mais complicado, atiraram Santana Lopes para o meio da arena e desapareceram de cena. É certo que Santana Lopes também ajudou à festa. O resultado é justo por duas razões: o PSD mereceu a derrota; o PS, que nos colocou nesta crise, merece agora ter a responsabilidade absoluta de nos tirar dela.

(José)

*

Uma nota à margem das eleições. Ontem quando fui votar no Liceu Filipa de Lencastre fiquei impressionando com a quntidade de velhos (com todo o respeito...). A minha mulher votou mais tarde e comentou o mesmo. Jantei em casa de uns amigos que fizeram o mesmo comentário (um votou no palácio Galveias outro no Liceu Camões). É dramático assistir ao envelhecimento de Lisboa, numa zona dita "nobre", mas mais estranho é cicular por estas zonas e verificar a quantidade de edifícios devolutos, entaipados, a cair ou que à noite têm apenas uma luz solitário perdida numa qualquer janela suja. Talvez ainda seja estranho falar hoje de autarquicas, mas não encontro paralelo em nenhuma cidade importante europeia, muito menos numa capital, e também não vejo ideias no horizonte...

(João Gundersen)

*

Citação de Pierre Desproges, humorista francês:
L'enfant croit au Père Noël.
L'adulte n'y croit pas, il vote.

(João A. de Carvalho)

*

Abram as janelas e olhem para as ruas. Não há uma caravana, não há uma buzina e nem sequer uma bandeira.

Não há sequer contentamento, quanto mais alegria.

É a vitória de um mal menor. É esse Governo que temos, o de um mal menor.

Se calhar é o que merecemos.

(M. Gouveia)

*

Não pela maioria do PS - já se esperava
Não pela subida da esquerda - era inevitável
Não pela derrota do PSD - contribuí para ela
Não por ninguém nos ligar a nós, que exercemos o dever cívico em "branco" e que duplicamos - já é habitual
Mas porque nem com o custo de ter entregue o "ouro ao bandido" ao votar como votei, o líder do partido com que eu me identifico continua "cego" e não é capaz de assumir que não têm condições nem qualidades para ocupar o cargo que ocupa!

(Alexandre Feio)

*

Parece incrivel que estas palavras de Alfredo de Magalhães abaixo transcritas sejam de uma actualidade preocupante, parece que nada mudou nestes ultimos 85 anos.

Chegou a altura de deixar o recato dos nossos sofás e passar à acção, o futuro constroí-se com o contributo de muitos e nunca de um só. Por minha parte e pela primeira vez, decidi-me a filiar-me no PSD.
E necessário refundar o Partido.
É necessário correr com aqueles que rebaixaram o Partido "aos ultimos degraus da abjecção".
É necessário deixar de brincar aos partidos e aos paises.
Posso estar a ser lírico, mas não vejo outra alternativa.

Alfredo de Magalhães (Numa carta ao general Simas Machado sobre a morte de Basilio Teles em 1923.

"Esta gente portuguesa, toda ela, de alto a baixo, vai descendo vertiginosamente os últimos degraus da abjecção. Nada me surpreende. É a miséria integral. Algumas das individualidades que ainda ofuscam os olhos da nossa parvolândia com o esplendor da sua celebridade, tenho-as na conta de malandros da pior estôpa. Com suas falas e maneiras graves, e o competente pigarro da respeitabilidade convencional, elas são o modelo vivo da hipocrisia e da velhacaria triunfante, já se vê - bem comidos e bem bebidos - Modelos que este bom povo, corrompido até ao tutano da alma, vai seguindo e imitando fielmente, com tal ou qual nota de escândalo.[...] Tudo lama!
Esperança? Só a tenho no Dilúvio Universal.[...] Em Política só triunfam os homens de acção, Não basta ter caco. Em Portugal é mesmo preferivel ter cascos ....
"

(Luís Bonifácio)
 


SÁ CARNEIRO

Só houve um comentário que ontem não pude fazer, que ontem pensei e hoje escrevo: Santana Lopes, mais do que ninguém, usa o nome de Sá Carneiro para se apresentar como seu herdeiro. A atitude que tomou ontem de não se demitir e insistir em aumentar o fogo e as cinzas em que deixou o partido, é o exacto oposto daquela que Sá Carneiro tomaria. É nestas alturas que se vê a dimensão dos homens.
 


SOBRAS

com sentido. No meio do esforço para manter o blogue "aberto" no meio da mesa dos comentadores da SIC, escaparam-me muitas cartas e comentários que agora vou ler, escolher e publicar. Depois passar-se-á à frente.
 


DE REGRESSO

num mundo que não é muito diferente. Mudou para já a conjuntura, e essa mudou muito. Falta aproveitar a mudança da conjuntura para criar condições para intervir na estrutura.

20.2.05
 


TENHAM MEDO, TENHAM MUITO MEDO

pelo PSD nas autárquicas e nas presidenciais.
 


A ÚNICA COISA

que não mudou nesta noite: Santana Lopes.
 


GUERRA CIVIL

é o que Santana Lopes deseja e para a qual se vai preparar com o gosto pela politiquice interna que o caracteriza.
 


COMEÇARAM

os truques. Nenhuma responsabilidade real.
 


GOVERNO SOMBRA

É certo que é tempo de reconstruir a oposição. Mas uma oposição centrada num governo sombra competente e que acompanhe e fiscalize as políticas do PS. É tempo de acabar com investidas avulso e inconsequentes de guerreiros (sejam eles meninos ou não).

(Fernando )
 


AMANHÃ

Portugal virou demasiado à esquerda. A minha maior tristeza nao é a maioria do
PS, sao os milhares de jovens que votaram BE e PCP. Venho de uma area muito de
esquerda em Portugal, a ciencia. Para que daqui a quatro anos seja diferente é
também aqui que o PSD deve entrar. Tenho 24 anos e amanha inscrevo-me no PSD.

(A.Antunes)
 


FUTURO

Este resultado pode ter o condão de evitar uma guerra civil ou um cisma no PSD. É mau de mais para que a actual liderança se procure manter contra "ventos e marés".

A falta de entusiasmo nas ruas (pelo menos na cidade em que resido) prova, mais uma vez, que foi mais uma derrota do PSD do que uma vitória do PS. Este, tem todas as condições para se reorganizar, rever aspectos da sua organização que funcionam menos bem, que permitiram a subida a cargos de responsabilidade de gente medíocre, eleger uma liderança à altura da história e tradição deste partido e voltar a ser a voz reformista de que este país tanto necessita.

Para já, as eleições presidenciais deverão ser encaradas com a máxima seriedade. Porque o país precisará de um presidente competente e com sentido de estado. E porque o poder alcançado pelo PS poderá encurralar o PSD para uma situação de irrelevância se perder as eleições presidenciais e autárquicas que se avizinham.

(Ricardo Prata)
 


AGORA

é tempo de reconstruir a oposição.
 


A SUCESSÃO IMPOSSÍVEL

Leio esta notícia: O economista António Borges rejeitou este domingo a
possibilidade de avançar com uma candidatura à liderança do PSD, afirmando
que Manuela Ferreira Leite é a "candidata ideal" para disputar a Pedro
Santana Lopes a presidência do partido.

Entrevistado pela rádio TSF, o ex-vice-governador do Banco de Portugal
afastou a possibilidade de vir a candidatar-se à liderança do PSD, afirmando
não ter "nem curriculum, nem experiência" para conduzir o partido.

"O PSD já sofreu muito por ter [na sua liderança] pessoas mal preparadas e
sem experiência", disse António Borges, que falava após terem sido
divulgadas as projecções das televisões que dão maioria absoluta ao PS nas
legislativas antecipadas."

Muito curioso: significa impotência para remover Santana. O partido que
perdeu 30 deputados tinha perdido já as condições de saúde política
necessárias para governar e ser o que era.Foi objecto de um take-over
santanista.E agora PSL está grudado ao casulo que construíu - o seu bunker,
onde se toca o guerreiro-menino para as horas em que o líder está infeliz

José Magalhães
 


DERROTA DO PP

Não tenho nenhum problema em reconhecer que o CDS falhou alguns dos seus
objectivos. Ainda é cedo, contudo, para saber exactamente quais.
ALX
 


NO FIM

resultados devem ser comparados com resultados e não com sondagens.
 


VITÓRIA?

Vitória? Que vitória?

O BE rejubila, mas percebe-se mal por que razão. Cresceu, mas tornou-se
irrelevante para o PS, não vai condicionar nada, vai continuar a pregar com
aquele ódio a tudo o que funciona, disfarçado de nova moral.
ALX
 


PENA

Não sei porquê, mas de quem sinto mais pena neste momento é dos melhores
ministros que este governo conseguiu ter. Não merecem ficarem associados
a esta derrota estrondosa.

(José Carlos Santos)
 


VOTOS EM BRANCO

Não esquecer os votos em branco, o “Partido de Saramago”.

Com a abstenção a descer tornam-se até mais importantes.
Pelo que vejo nos resultados até agora apurados quase que dobram! Um resultado histórico aqui também.

É ao fim ao cabo o 6º partido, o maior dos pequenos partidos.

(Ricardo Carvalho)
 


OBJECTIVOS DO PP

Gostaria de relembrar aqui, aquilo que foram os objectivos do PP, e que
foram sorrateiramente alterando ao longo do tempo de campanha:

1) Ficar à frente dos votos PCP+BE juntos. Resultado: DERROTA TOTAL.

2) Ficar como terceiro partido. Resultado: DERROTA TOTAL.

3) Ficar acima dos 10%. Resultado. DERROTA TOTAL.

Na realidade o que sobra? Muito provávelmente ficar com os mesmo votos do
BE. Nos 6-7 %.
Não deveriam antes tirar ilações sobre a liderança e o futuro de Paulo
Portas à frente do PP?
Não é este facto uma evidente derrota do PP ? Ou a derrota é só do PSD !?

(V. Ramos)
 


RESPONSABILIDADE

O PS está à altura deste resultado?
Eu acho que o resultado é em si mesmo gerador de responsabilidade.Que
absurdo seria face a tão grande capital de esperança falhar...o golo.O
inimigo era a abstenção e foi vencido.A campanha suja veio a seguir e podia
ter liquidado humana e politicamente Sócrates.Foi derrotada. A
responsabilidade é acrescida, mas foi forjada neste quadro difícil. Por isso
confio e acredito.

José Magalhães
 


CONTRADIÇÕES

O PS ganha estas eleições no momento em que precisa de aplicar soluções
drasticamente contrárias à sua índole. Vamos ver o que isto dá mais depressa
do que parece.

ALX
 


ADJECTIVOS

Das eleições: Um problema de adjectivos.

A Ana Drago diz que o BE tem uma vitória esmagadora.
Só falta descobrir o esmagado.

(Ana Melo Baptista)
 


O ABRUPTO OU A VOZ DO "TREINADOR DE BANCADA"

e se experimentassem discutir os problemas de política em vez de continuar a olhar para a rama?
 


TANBÉM O JOSÉ MAGALHÃES NO ABRUPTO

A vitória do PS foi contra muita coisa: inércia, depressão, lixo, campanhas
negras, défice de informação, medo de existir (Gil dixit!).Se não foi algo
foi...de mão beijada!-
Pacheco Pereira apenas acha que o PSD foi fraco de mais e que a luta foi
uma vergonha.
E foi. Mas podia ter surtido efeito se o PS tivesse reagido mal....E podia
ter posto as pessoas enojadas a ponto de não ir às urnas.E assim ocorreu,
mas ...junto de gente do PSD e da direita que recusa jogo sujo (isso tb
existe, deo gratias!).

José Magalhães
 


ANTÓNIO LOBO XAVIER: PENSAR NAS PRESIDENCIAIS

a dimensão da derrota da direita é de tal ordem que já não estou realmente aqui, estou a pensar nas presidenciais.
(ALX)
 


ANTÓNIO LOBO XAVIER

que está ao meu lado e não tem blogue vai escrever no Abrupto
 


A DESCIDA

do PP não é para mim surpresa. A campanha do PP e o seu "sucesso" é um exemplo típico de "pack journalism" (exprimi reservas no Abrupto em tempo devido), esquecendo que uma coisa são as elites outra o eleitorado. O eleitorado do "Paulinho das feiras" não é o do "Ministro" absoluto. Para além do mais o que é que significa colocar um cartaz dizendo "classe média"?
 


A CONFIRMAREM-SE

estas sondagens, verifica-se que as eleições foram um plebiscito sobre o Primeiro-ministro. Não há volta a dar a esta realidade. Sócrates recebeu uma vitória de mão beijada, que não era difícil de antever a não ser pela cegueira de muitos dos apoiantes de Santana Lopes que, no seu culto da personalidade, nunca admitiram os erros evidentes e a crise para que conduziram o PSD.
 


E AGORA

José?
 


VEM AÍ

a hecatombe.
 


NESTA SITUAÇÃO

é que se percebe o anacronismo da legislação sobre o "silêncio" eleitoral, completamente alheia à realidade da comunicação dos dias de hoje.
 


TALVEZ

possa colocar em linha algumas opiniões dos leitores do Abrupto, com as regras do costume e sem compromisso.
 


OS DADOS FORAM LANÇADOS

e cairam como os dominós.
 


PODE SER

pode ser, pode ser, que dumas eleições inesperadas, perplexas, incómodas, resultem muito mais mudanças do que as que eram esperadas. Deus escreve direito(?) com linhas tortas, ou, para incréus, a toupeira da história aparece onde não se espera.
 


NOVAS

haverá.
 


O MAIS BIZARRO DOS LUGARES

para fazer o Abrupto: a mesa dos comentadores da SIC. Vamos ver se consigo, por entre a chuva, escrever alguma coisa nesta noite de pequenas revoluções partidárias. Vai ser muito animado.
 


COISAS COMPLICADAS


"Tomás duvidando", ícone do século XV da escola de Novgorod.
 


INTENDÊNCIA 2

Não sei como ficou o resultado final da conversa que, ontem, eu e Eduardo Lourenço tivemos, para o número da Capital de hoje. Mas o Abrupto tem muita honra de o ter tido, aqui, sentado, entre os objectos da natureza morta de fim de manhã, a ver um ecrã onde, então, a “indolência” de Bonnard ocupava todo o espaço.
 


NATUREZA MORTA DE FIM DE MANHÃ

Da esquerda para a direita. Uma pequena pilha de revistas e jornais para fazer uma bibliografia, um catálogo de uma exposição de 2003 de quadros de Avelino Cunhal, um disco com os quartetos para flauta de Mozart, uma mão, um cartão de eleitor, uma lupa, um molho de chaves, uma lâmpada de 60 w, um livro de Adorno com ensaios sobre música, a biografia de Graham Greene, volumes II e III, o II paperback, o III hardback, uma tesoura, um bloco do Porto Palácio Hotel, um postal de Anders Zorn, uma pilha de zips, uma caneta, um lápis do Sofitel, um telemóvel ligado, uma estação meteorológica – dezassete graus aqui, um pouco frio, dezasseis lá trás, nove lá fora, - um papel do Clube do Mato, uma jarra com água, dois olhos, um ecrã, Der erste Blick aus dem Fenster am Morgen, um pedaço de lava recente, um radiómetro andando muito devagar, uma maçã, um papel com anotações de sondagens, um agrafador, um telefone desligado, um esquecimento, um azulejo da Paula Rego, uma mão, um rato, meia dúzia de palavras, ar, uma sombra vaga, mais nada.
 


INTENDÊNCIA

O poema de Brecht "Vergnügungen/ Prazeres", publicado ontem no Abrupto, com tradução original de Madalena Ferreira Åhman em O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COISAS SIMPLES ... OU PRAZERES.
 


COISAS COMPLICADAS


Repin
 


EARLY MORNING BLOGS 434

There once was a woman named Bright
Who travelled much faster than light:
She set out one day
In a relative way,
And returned on the previous night.


(Limerick anónimo)

*

O nosso risco de hoje. Bom dia!

19.2.05
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COISAS SIMPLES ... OU PRAZERES

Vergnügungen Prazeres

Der erste Blick aus dem Fenster am Morgen O primeiro olhar pela janela de manhã
Das wiedergefundene alte Buch O velho livro reencontrado
Begeisterte Gesichter Caras entusiasmadas
Schnee, der Wechsel der Jahreszeiten Neve, a mudança das estações
Die Zeitung O jornal
Der Hund O cão
Die Dialektik A dialéctica
Duschen, Schwimmen Tomar duche, nadar
Alte Musik Música antiga
Bequeme Schuhe Sapatos confortáveis
Begreifen Compreender
Neue Musik Música nova
Schreiben, pflanzen Escrever, plantar
reisen, singen Viajar, cantar
Freundlich sein Ser amável


(Bertold Brecht, lembrança de Maria Emília Malta, e tradução para o Abrupto de Madalena Ferreira Åhman)
 


COISAS SIMPLES


Bonnard, Indolence
 


EARLY MORNING BLOGS 433

Sagesse


Le ciel est, par-dessus le toit,
Si bleu, si calme!
Un arbre, par-dessus le toit,
Berce sa palme.

La cloche dans le ciel qu’on voit
Doucement tinte.
Un oiseau sur l’arbre qu’on voit
Chante sa plainte.

Mon Dieu, mon Dieu, la vie est là,
Simple et tranquille.
Cette paisible rumeur-ia
Vient de la ville.

—Qu’as-tu fait, ô toi que voilà
Pleurant sans cesse,
Dis, qu’as-tu fait, toi que voilà,
De ta jeunesse?


(Paul Verlaine)

*

Bom dia!

18.2.05
 


COMEÇOU

o silêncio.
 


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA SOBRE O ARREPENDIMENTO DE DEUS

Muito honrastes, Senhor, ao homem na criação do mundo, formando-o com vossas próprias mãos, informando-o e animando-o com vosso próprio alento, e imprimindo nele o caráter de vossa imagem e semelhança. Mas parece que logo, desde aquele mesmo dia, vos não contentastes dele, porque de todas as outras coisas que criastes, diz a Escritura que vos pareceram bem: Vidit Deus quod esset bonum — e só do homem o não diz. Na admiração desta misteriosa reticência andou desde então suspenso e vacilando o juízo humano, não podendo penetrar qual fosse a causa por que, agradando-vos com tão pública demonstração todas as vossas obras, só do homem, que era a mais perfeita de todas, não mostrásseis agrado. Finalmente, passados mais de mil e setecentos anos, a mesma Escritura, que tinha calado aquele mistério, nos declarou que vós estáveis arrependido de ter criado o homem: Poenituit eum quod hominem fecisset in terra — e que vós mesmo dissestes que vos pesava: Poenitet me fecisse eos — e então ficou patente e manifesto a todos o segredo que tantos tempos tínheis ocultado. E vós, Senhor, dizeis que vos pesa e que estais arrependido de ter criado o homem, pois essa é a causa por que logo, desde o princípio de sua criação vos não agradastes dele nem quisestes que se dissesse que vos parecera bem, julgando, como era razão, por coisa muito alheia de vossa Sabedoria e Providência, que em nenhum tempo vos agradasse nem parecesse bem aquilo de que depois vos havíeis de arrepender e ter pesar de ter feito: Poenitet me fecisse.
 


INTENDÊNCIA

Actualizadas as bibliografias de 2003 e 2004 nos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.
 


BIBLIOFILIA








Não sei se a tradução do russo é boa, embora pense que é a primeira feita directamente do original, a capa é péssima, mas o livro é uma obra-prima do Tolstoi tardio, num registo poético pouco comum. É também um livro fundamental para se perceber a guerra da Chechénia.
 


NOTAS CHEKOVIANAS

Uma boa pergunta: "devem actores negros representar Chekov?" e uma boa resposta.
 


OUVINDO BRAHMS


O Quinteto para Piano e Cordas Op. 34 com Pollini ao piano.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "MODELO NÓRDICO"

Outra coisa que me assustou, aqui a 3500km de distância, foi a declaração de Sócrates numa conferência do DE há uns dias, defendendo o chamado "modelo nórdico" de Estado-social. Eu ainda admito que o português comum, menos avisado, ainda acredite que se vive nos países nórdicos como há 30 anos, mas quem (ao que tudo indica) vai ser o próximo primeiro ministro de Portugal tem obrigação de estar melhor informado e de já ter percebido que os países nórdicos (sobretudo o maior deles, a Suécia) andam há dez ou vinte anos a tentar livrar-se do famoso modelo que, como se diz em bom português, foi "chão que já deu uvas" (e nem sei se deu muitas...). Comprovou-se que era insustentável, e se tornava cada vez mais insustentável. Ser agora defendido para Portugal é prova de que se mantém o desfasamento do país relativamente à Europa, ou da mais completa hipocrisia por parte do futuro primeiro ministro. Qualquer das hipóteses é preocupante.

(Madalena Ferreira Åhman)

*
Subscrevo as preocupações da leitora Madalena Ferreira Ahman relativamente ao denominado "modelo nórdico" de José Sócrates. Apesar de nunca ter vivido na Suécia, conheço bem a Holanda (país que chegou a ter um "estado social" comparável) onde vivi cerca de trinta anos. No entanto, e da mesma forma do que na Suécia, a sua sustentabilidade começou a ser posta em causa na década de oitenta. O problema é que Portugal (os portugueses) nunca chegaram a conhecer um sistema social (welfare state) comparável a qualquer dos países nórdicos, pesem algumas das medidas introduzidas no pós 25 de Abril. Ou seja, o que os países nórdicos fizeram e já começaram a "desmantelar", ainda hoje é infinitamente superior ao tímido sistema social português. Donde, os portugueses, não podem sequer acabar com algo que mal começou...resta acrescentar que, para além do modelo económico, os paises nórdicos tem ainda uma coisa chamada "ética protestante", que não explicando tudo, ajuda bastante...basta ler o Max Weber e a "ética protestante do capitalismo" para percebermos a razão de avanço de uns e o atraso de outros...
(Rui Mota)

*
A razão de evocação do referido modelo por J. Sócrates terá origem num livro denominado "O Futuro da Europa Social"( 1ª ed. Set 2000, Celta Editora ), da autoria de Maurizio Ferrara, Anton Hemerijck e Marin Rhodes, livro que nasce de uma solicitação do Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, sendo ao tempo ministro Eduardo ferro Rodrigues, enquadrado na presidência da União Europeia, no âmbito do Trabalho e Assuntos Sociais.
Naquele são referidos os quatro modelos de estado-providência considerados pelos autores, a saber: nórdico, anglo-saxónico, continental e de sul.
É particularmente constatado que o elevado nível de apoio às políticas sociais - na tradição e cultura "folkhemmet": o Estado-providência é a "casa do povo" - têm sido objecto de reformas, direccionadas para a resolução de problemas concretos , sem controvérsias de fundo em torno de perspectivas e cenários alternativos.
Acrescenta que as reformas dos anos 90 conduziram a uma retracção do modelo escandinavo e a uma reorganização do sistema de incentivos. mas logo refere que a arquitectura que lhe está subjacente permaneceu em larga medida intacta, mostrando que um Estado-providência avançado e universalista não é uma desvantagem quando surge uma crise económica repentina e inesperada. O problema essencial que apresentam será de "flexibilidade", ou seja, poucas condições para uma expansão de serviços privados no extremo inferior do mercado de trabalho.
As despesas sociais em 1995, para Suécia, Dinamarca e Finlândia eram ,respectivamente: 33%; 32,1%; 32%. A tributação, em % do PIB era de: 53%; 52%; 47%. No mesmo período , os indicadores médios para a UE a 15 eram, respectivamente, 26% e 43%.
Os níveis de apoio social do Estado-providência escandinavo continuam elevados, mesmo sofrendo alguns cortes desde as primeiras reformas em 1991-92, mas as razões que na generalidade são aceites como boas para justificar a capacidade interventiva do estado na diminuição da exclusão social e reintegração do cidadão na vida activa e em sociedade são as seguintes: elevado nível de igualitarismo económico na população; baixíssimos níveis de clientelismo e corrupção; predominância de programas "welfare" de aplicação geral, não descriminatórios.
A principal fonte de receita dos países escandinavos são os impostos. Estamos a falar de economias de elevada capacidade industrial e, mais importante, de produção e exportação de produtos com componente tecnológica avançadíssima. Em suma, indústria de ponta.
Estaremos acaso em condições, em Portugal, de preconizar a aplicação de um modelo semelhante, quando nem a vizinha Espanha tem condições para o fazer? (para não falar na França ou Alemanha).
(João Fernandes)
 


COISAS SIMPLES


Matisse
 


EARLY MORNING BLOGS 432

Cão


Cão passageiro, cão estrito
Cão rasteiro cor de luva amarela,
Apara lápis, fraldiqueiro,
Cão liquefeito, cão estafado
Cão de gravata pendente,
Cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
Cão ululante, cão coruscante,
Cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão ali, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal de poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moido de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção,
cão pré fabricado,
cão espelho, cão cinzeiro, cão botija,
cão de olhos que afligem,
cão problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!


(Alexandre O'Neill)

*

Bom dia!
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O CORREIO DO ÓDIO

1.Por acaso até reparei nessa sua bacorada.É mais um dos casos em que a sua mente 'abrupta'se tem empenhado,com vista a favorecer a Rosinha dos olhos verdes,tentando vilipendiar o CDS,com reflexo no seu ódio de estimação:Dr.PEDRO SANTANA LOPES!
2.Já aqui o tenho intimado a definir-se:não se assuma como militante mas como 'infiltrado'no PSD que tantas mordomias lhe deu,a ponto de o ter ido buscar a uma triste figura de professor de filosofia de Boticas para deputado não só na AR como na Europa,com todas as mordomias que lhe acarretaram!
3.No que respeita ao outro 'submarino',o tal Cavaco ou Silva como queiram,está tudo dito:ele só olha para o seu umbigo!Espero que os verdadeiros militantes e simpatizantes do PSD saibam dar-lhe a resposta adequada!
Por último:tenha vergonha!Demita-se!Não se atreva mais a dizer que é do PSD!Traidores como você já temos que baste!Traidores armados em pensadores e intelectuais!Veja se consegue fazer algo mais importante do que comer à custa do partido e de quem trabalha!Porque você é um parasita!

(Alberico Lopes)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: POEIRA DE 18 DE FEVEREIRO

Eram 4 da tarde do dia 18 de Fevereiro de 1930. No observatório de Lowell em Flagstaff, no Arizona, um jovem astrónomo chamado Clyde William Tombaugh, descobriu numa placa fotográfica um objecto de magnitude 14,9 que parecia ter-se movido ligeiramente em relação ao fundo estelar. Desconfiado que pudesse ser o novo planeta que tanto procurava, pesquisou em placas anteriores a ver se encontrava o objecto em questão. Sabendo o que procurava não teve problemas em descobri-lo e em traçar o seu trajecto por entre as estrelas. Acabava de descobrir Plutão.

(José Matos)
 


PEDIDO DE DESCULPAS

ao meu amigo Lobo Xavier e ao político Paulo Portas pelo erro cometido na Quadratura do Círculo ao suscitar a questão do documento do Ministério da Defesa como sendo uma violação da confidencialidade quando se tratava de um despacho publicado no Diário da República.

(O mesmo pedido de desculpas foi publicado no blogue do programa e será feito de viva voz no próximo programa.)

17.2.05
 


ÚLTIMAS NOTAS ELEITORAIS

1.
Numa rara unanimidade no que diz respeito aos principais partidos todas as sondagens finais (divulgadas hoje ou a divulgar amanhã) são muito consistentes.

2.
Mas que péssima entrevista a feita ao líder do PSD no Diga Lá Excelência, acabada de passar na Dois! Santana Lopes responde com nonchalance e desprezo, imerso num mundo muito próprio que já dificilmente comunica com os outros mortais. Mas a entrevista foi muito má devido aos jornalistas que não a prepararam como deviam e nada mais fizeram que repetir meia dúzia de perguntas sem imaginação e interesse. Muito abaixo da qualidade normal do programa.

3.
A única verdadeira informação que resultou da entrevista foi desleixada pelos jornalistas, que insistiram uma vez e passaram adiante, como se não lhes tivesse sido dito nada de importante. A recusa de Santana Lopes em reafirmar Cavaco Silva como o candidato do PSD, remetendo uma posição sobre essa matéria (que parece já estar pensada e preparada) para depois de 20 de Fevereiro é uma novidade e um sinal dos enormes problemas que o PSD vai defrontar depois dessa data.

4.
As acções de rua são tão enganadoras como as enchentes de comícios quando se trata do PS e do PSD, já aqui o escrevi. Ambos os partidos têm toda a capacidade de encher comícios em locais fechados e pequenas áreas ao ar livre. Neste último caso, o que interessa é chamar a atenção para a diminuição dessas áreas nesta campanha: o PS no Porto abandonou a Praça e a Avenida dos Aliados, o PSD não se atreveu a encerrar a campanha no local habitual em Lisboa, a marcha na Avenida de Roma.

(Continua)
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: AO ROMPER DA BELA AURORA



Ao romper da bela aurora
Sai o pastor da choupana
Vem cantando em altas vozes
Muito padece quem ama.

Muito padece quem ama
Mais padece quem namora
Sai o pastor da choupana
Ao romper da bela aurora.

Gosto de quem canta bem
É uma prenda bonita
Não empobrece ninguém
Assim como não enrica.

Hei-de cantar, hei-de rir
E hei de ser muito alegre
Hei-de mandar a tristeza
P'ró diabo que a leve

16.2.05
 


VOLTO

em breve.

15.2.05
 


A LER

e a sentir a alegria muito especial que atravessa o Blogue de Esquerda.
 


COISAS SIMPLES


G. Morandi
 


EARLY MORNING BLOGS 431

La Cour du Lion

Sa Majesté Lionne un jour voulut connaître
De quelles nations le Ciel l’avait fait maître.
Il manda donc par députés
Ses vassaux de toute nature,
Envoyant de tous les côtés
Une circulaire écriture,
Avec son sceau. L’écrit portait
Qu’un mois durant le roi tiendrait
Cour plénière dont l’ouverture
Devait être un fort grand festin,
Suivi des tours de Fagotin.
Par ce trait de magnificence
Le prince à ses sujets étalait sa puissance.
En son Louvre il les invita.
Quel Louvre! un vrai charnier, dont l’odeur se porta
D’abord au nez des gens. L’ours boucha sa narine:
Il se fût bien passé de faire cette mine.
Sa grimace déplut. Le monarque irrité
L’envoya chez Pluton faire le dégoûté.
Le singe approuva fort cette sévérité,
Et, flatteur excessif, il loua la colère
Et la griffe du prince, et l’antre, et cette odeur:
Il n’était ambre, il n’était fleur,
Qui ne fût ail au prix. Sa sotte flatterie
Eut un mauvais succès, et fut encor punie.
Ce monseigneur du Lion là
Fut parent de Caligula.
Le renard étant proche: ‘Or çà, lui dit le sire,
Que sens-tu? dis-le-moi. Parle sans déguiser.’
L’autre aussitôt de s’excuser,
Alléguant un grand rhume: il ne pouvait que dire
Sans odorat; bref il s’en tire.
Ceci vous sert d’enseignement.
Ne soyez à la cour, si vous voulez y plaire,
Ni fade adulateur, ni parleur trop sincère,
Et tâchez quelquefois de répondre en Normand.

(Jean de La Fontaine)

*

Bom dia "en Normand"!

14.2.05
 


CAMPANHA ELEITORAL NO PORTUGAL PROFUNDO

e nem por isso o mais profundo, até, a bem dizer, bem pouco profundo. Numa aldeia ribatejana, a uma hora de Lisboa. Por ordem de aparição: três cartazes de plástico da CDU, reciclados de uma campanha anterior, colocados por um militante comunista local nos postes de iluminação, um cartaz de dimensões médias do PP com fotografia do candidato pelo distrito de Santarém à entrada da aldeia, acompanhado pela distribuição nas caixas do correio de panfletos do PP, actividade que parece ter sido profissionalizada – uma equipa passou e deixou esta propaganda. Depois, uns panfletos do BE, com a candidata pelo distrito, deixados num café local. Nas caixas do correio, panfletos da CDU e do PP, sendo que um deles, o da CDU, é um comunicado sobre questões autárquicas locais e associa o voto nas legislativas com críticas à acção da Junta de Freguesia local. Nada mais. Nada do PS, nada do PSD, nada de nenhum outro partido.

(Tradicionalmente o voto nas eleições anteriores favoreceu o PS em geral. Houve excepções nas autárquicas, onde a CDU já ganhou e nas europeias, em que o PSD também já ganhou, em ambos os casos não nas últimas eleições. )
 


INTENDÊNCIA

Actualizadas várias notas dos últimos dias: A MORTE DA IRMÃ LÚCIA, OUVINDO HEINRICH IGNAZ FRANZ BIBER e ISTO NÃO É JORNALISMO SÉRIO (2).
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: DOIS MODOS DE HONRAR E DE LEMBRAR



Sei que nesta ocasião estarão muito ocupados com notícias mais relevantes, no entanto quando há por aí quem tanto se gabe do que fez, envio esta vergonha. Vejam como se honram os mortos. Localidade Pemba - Moçambique
Cenário I - Cemitério Militar da Commonwalth I Guerra Mundial
Cenário II - Talhão militar português
Quando enviam cartas para os ex-combatentes deveriam ir acompanhadas destas fotografias para que se possa ver como são respeitados os que morreram ao serviço da Pátria. Que é feito dos adidos militares, dos embaixadores; ninguém sabe? Dá que pensar.

(Fitas Custódio, citando como fonte Maschamba)
 


PENOSO

ver Sócrates a meter os pés pelas mãos para explicar o “choque tecnológico”, que afinal não é “choque” nenhum, mantendo-se a um nível de generalidades superficiais e preocupantes.
 


A MELHOR

maneira de fazer perder um noticiário o seu conteúdo informativo é ter um notícia que dá audiências. Então o tempo, o bem mais precioso em televisão, é esticado até ao limite da exaustão. Foi assim com a ponte que caiu, com os incêndios no Verão, com a morte de Sousa Franco, com o maremoto asiático e é assim com a morte da Irmã Lúcia. Se observarmos o mecanismo da cobertura televisiva ele é muito semelhante: longos directos sobre nada, entrevistas aos “populares”, separadores com imagens, músicas e efeitos especiais, discursos apologéticos ou indignados, conforme o caso, excitação sem distanciação. Não é jornalismo são imagens sem espessura para entreter os sentidos.
 


VEM VENTO


e varre tudo isto com força. Bom Jean-François Millet ajuda-nos com mil golpes de vento destes.
 


OUVINDO HAYDN E BRAHMS


Os quartetos de cordas de Haydn e o Duplo Concerto de Brahms com Perlman e Rostropovich.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A PALAVRA QUE FALTA

Não seria bonito o Estado na figura de Jorge Sampaio (...) ter uma palavra para com os homens e mulheres da GNR que estiveram no Iraque representando Portugal?

(Isabel Moreira)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: QUERER ESTAR PERTO LONGE

Somos um casal de Portugueses a residir em Glasgow (Escócia, Reino Unido). Apesar de estamos a viver longe do nosso Portugal nunca nos demarcamos das nossas origens, muito pelo contrário. Como devem compreender a comunicação social desempenha um actividade importantíssima neste aspecto, mas infelizmente, aqui na Escócia, é muito difícil manter esse contacto uma vez que não temos acesso aos canais portugueses, nomeadamente RTPi ou SIC internacional, muito menos a jornais, revistas etc. Um meio barato, rápido que poderia colmatar essa laguna seria a Internet. Já existem centenas de canais que transmitem em directo on-line, mas se formos ver em relação aos canais portugueses a história é bem diferente e chega a ser mesmo caricata. Comecemos pela RTPi: A RTPi disponibiliza em directo o seu conteúdo online apenas através de um site estrangeiro. www.jumptv.com onde temos que desembolsar uma quantia por mês equivalente aquilo que muita gente paga para ter TV cabo, com vários canais, mas aqui para além de ter que pagar uma pequena fortuna para ter acesso apenas a um canal, que incondicionalmente devia ser serviço público, a qualidade de imagem e som é super reduzida, mesmo tendo uma boa ligação pela net. Quanto aos Canais da SIC, estes estão disponibilizados no site xl.sapo.pt, sem custos para o consumidor inclusive o Sic notícias, que seria o canal que nós teríamos mais interesse. Mas infelizmente, e de uma maneira que não conseguimos entender, estes canais só estão disponíveis para clientes que têm ligação à internet fornecida por uma das empresas da PT. Como devem compreender é um pouco difícil aqui em Glasgow a PT disponibilizar qualquer serviço de ligação à internet.

Já enviámos cartas à PT, RTP e SIC mas passados vários meses ainda não tivemos qualquer resposta.

(Nuno e Cátia)

*
Ao casal de portugueses em Glasgow gostaria de dizer que também eu fiquei sem resposta da SIC e da RTP quando, já lá vão uns anos, lhes pedi informações sobre a possbilidade de receber as emissões por cabo, na Suécia. Entretanto mudei de casa, tenho uma antena parabólica, e tenho acesso gratuito à RTP Internacional. Para consolo dos nossos compatriotas em Glasgow, posso informá-los de que não perdem muito. A programação da RTP Internacional consegue ser ainda mais pobre que a da RTP nacional, e nem sempre corresponde, aliás, ao que acaba por ir "para o ar". Os noticiários são normalmente os da RTP 1, ou seja, essencialmente, faits-divers e futebol durante mais de uma hora. Além disso há novelas, mais futebol, uns programas "para emigrante" que dão logo imensa vontade de emigrar para mais longe ainda, onde a RTP não chegue, e pouco mais.

Acompanho a actualidade nacional através das versões on-line de jornais e revistas e através da blogosfera, que tem uma dimensão enorme em Portugal (os blogues de comentário político são praticamente inexistentes na Suécia - na minha opinião porque, felizmente, não são precisos). Chega-me perfeitamente.
(Madalena Ferreira Åhman, Suécia)
 


COISAS SIMPLES


Vuillard
 


A LER

As críticas de Eduardo Cintra Torres à cobertura desequilibrada e má da campanha eleitoral.

Na Slate "A Little Anthology of Love Poems. What to read your sweetheart on Valentine's Day" por Robert Pinsky.
 


A MORTE DA IRMÃ LÚCIA

foi tratada pela Igreja com reserva e comedimento, atitudes que correspondem certamente à vontade da própria Lúcia. Esta posição está em contraste com os políticos como Santana Lopes e Portas, mais o primeiro que o segundo, que a estão a transformar indirectamente num acto de campanha – é um completo contra-senso suspender a campanha por “luto” de dois dias, como será a proclamação, cada vez mais banalizada, de luto nacional. A separação institucional entre o Estado e a Igreja implica alguma moderação, e não é líquido que à Igreja agradem muito estas manifestações de dramatização alheia de oportunidade.

Nota: vim agora a saber que o PS também vai a reboque. Está tudo a voar baixinho, sem o mínimo de solidez de pensamento e ... vergonha.

*
Espanta-me um pouco a teoria de que por separação entre Igreja e Estado se entenda que tudo o que vem da Igreja seja para combater e contrariar porque senão não temos uma verdadeira separação. Dou um exemplo: parece que o estado defender a família é simplesmente condenável porque a Igreja defende a família. Como tal o estado tem que se preocupar com os direitos dos homossexuais, com a liberalização das drogas, com os divórcios, com o aborto mas nunca com a família. Recordo aqui uns amigos investigadores universitários que tiveram o apoio a um trabalho recusado por um instituto estatal por ser "tendencioso". Isto porque pretendia analisar em que ponto a família é importante para o equilibrio psicológico dos individuos... O mesmo instituto financia estudos sobre a homossexualidade...
Digo-lhe mais. A irmã Lúcia é provavelmente a figura mais importante portuguesa do Séc XX. Ficará sempre para a história do nosso pais. É preciso olhar para a história e perceber o que fica para o futuro. Se estivessemos a falar de Eusébio, Amália, Mário Soares então o país deveria parar tudo, o luto nacional seria completamente justificado e até se exigiria as maiores homenagens. Quanto à irmã Lúcia essa faz parte da Igreja e por isso há que esquecê-la e apagar a sua imagem em nome da célebre separação. Não será por atitudes dessas que as pessoas se sentem tão "separadas" do Estado?
(Pedro Alvito)

*
Como seu leitor e apreciador lamento os infelizes comentarios á morte duma pessoa que é mais conhecida no mundo que Portugal O Snr. Quando morrer ninguem o conhece a naõ ser meia duzia de escribas seguidistas .A sua morte não figurará na historia .

O seu pedestal caiu e dum ilustre pensador mergulhou nas hostes que apedrejam quem tem fe e acredita no sobrenatural .

Para o Snr é dia de luto nacional a morte duma fadista ou por um qualquer corrupto mundano que morra algures e seja um idolo para o Snr.

Veja as televisões de todo o mundo ..Noticiam com respeito e não brejeirices em ambiente gastronomico de porco preto.

Infelizmente igual a tantos que não respeitam credos nem convicções .Igual a si proprio ,na sua crença e nos comentarios .

Menos um a ler o seu jornal de parede... Triste figura no declinio irreversivel em que se lançou Passe bem e continue a falar para o seu ego.
(João Moreno)
 


EARLY MORNING BLOGS 430

Don Juan aux Enfers


Quand don Juan descendit vers l’onde souterraine
Et lorsqu’il eut donné son obole à Charon,
Un sombre mendiant, l’œil fier comme Antisthène,
D’un bras vengeur et fort saisit chaque aviron.

Montrant leurs seins pendants et leurs robes ouvertes,
Des femmes se tordaient sous le noir firmament,
Et comme un grand troupeau de victimes offertes
Derrière lui traînaient un long mugissement.

Sganarelle en riant lui réclamait ses gages,
Tandis que don Luis avec un doigt tremblant
Montrait à tous les morts errant sur les rivages
Le fils audacieux qui railla son front blanc.

Frissonnant sous son deuil, la chaste et maigre Elvire,
Près de l’époux perfide et qui fut son amant,
Semblait lui réclamer un suprême sourire
Où brillât la douceur de son premier serment.

Tout droit dans son armure, un grand homme de pierre
Se tenait à la barre et coupait le flot noir;
Mais le calme héros, courbé sur sa rapière,
Regardait le sillage et ne daignait rien voir.


(Charles Baudelaire)

*

Bom dia!

13.2.05
 


AR PURO


Whistler
 


NATUREZA MORTA MATINAL

Da esquerda para a direita: uma pilha de jornais e revistas para fazer uma bibliografia, em cima os Itinerários Histórico-Naturais de José Correia da Serra, uma página marcada no “Journal d’une course en Avril 1774 , avec Mr. Demestre”:

"Nous sommes partis de Rome dans une chaise portèe par deux mulets de bien differente genealogie, un etoit fils d'un ane, et d'une jumente, l'autre fils d'un cheval et d'une anesse, il etoit fort difficile de trouver des mulets qui eussent les caracteres de leur naissance plus reconnoisables pour les Naturalistes.
La saison etoit fort peu avancèe, et il n'y avoit que peu de plantes en fleur, hormis l' Asphodelus ramosus, dont toutes les campagnes des provinces meridionales du Pape sont infectèes,........"


Um comando de televisão, um relógio de dupla hora, uma caneta, um lápis do Sofitel, uma tesoura, uma lupa, uma pilha de zips, uma mão, uma estação meteorológica – dezanove graus e meio aqui, dezasseis ao fundo, dez lá fora,- dois olhos, uma janela rasgada, dois gatos ao sol no telhado, um loureiro, colinas, um fragmento de nuvem, azul, um radiómetro girando devagar, um ecrã, um disco de Biber, um pedaço de lava recente, um dado que não é dado mas que foi dado, uma jarra com água, uma maçã vermelha, um telefone sem som, um papel com um número, outra mão, um rato, memórias, moléculas, vaguíssima poeira, finas oscilações do ar: música, um ponto final.
 


OUVINDO HEINRICH IGNAZ FRANZ BIBER


Biber, Rosary Sonatas, por Andrew Manze (violino), Richard Egarr (orgão), da Harmonia Mundi. A Harmonia do Mundo, tudo no seu sítio.

*

Reparei que a interpretação (recente) das sonatas do rosário pelo Andrew Manze faz parte das suas escutas recentes. A leitura de Manze é, na minha opinião (desculpe-me a frontalidade), banal. "Obrigatórias" (embora muito diferentes entre elas) são as seguintes interpretações:

A primeira (do Patrick Bismuth) é um prodígio de contraste e visceralidade; a segunda (da Alice Pierlot) é mais "femenina", doce. Qualquer uma delas é profunda. Humana.
Já agora, convido-o a explorar mais a música antiga. Não apenas o barroco, mas também a música da renascença, a Ars Nova, a Ars Subtilior. A originalidade e frescura que nela encontramos não cessa de me surpreender. Comparado com este período, o classicismo e romantismo parece pobre e previsível (na minha opinião)

(João Jarego)
 


CAMPANHA DA MEMÓRIA

Há um fantasma que assola esta campanha: a memória. Felizmente os média ainda não conseguiram elimina-la de todo. O PS vive assolado pela memória do que fez há dois anos – daí a eficácia de alguma propaganda negativa do PSD – e Santana Lopes pelo facto dos portugueses o “conhecerem bem”.
 


EARLY MORNING BLOGS 429

É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia


É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora

(Mário Cesariny)

*

É preciso dizer bom dia em vez de dizer bom dia!

12.2.05
 


ISTO NÃO É JORNALISMO SÉRIO (2)

As "notícias" da capa do Expresso são outro exemplo do péssimo jornalismo político que se faz em Portugal, já descontando o serviço que esta desinformação presta a uns e prejudica a outros. Ou seja, o Expresso está em campanha, na campanha, mentindo como os jornalistas acusam os políticos de fazer.

Título: Armadilha a Cavaco, ou seja, uma realidade factual pressuposta, um acontecimento. Na "notícia" apenas isto: "A NOTÍCIA do «Público» segundo a qual Cavaco Silva apostava na vitória do PS com maioria absoluta como rampa de lançamento de uma candidatura a Belém terá tido origem na «entourage» de Santana Lopes. É esta a convicção de várias pessoas próximas de Cavaco, como o EXPRESSO apurou." Uma "convicção de várias pessoas próximos de Cavaco", é isto que justifica uma "notícia" destas. Adivinhação pura porque "convicções" não são factos.

Título: Cadilhe desmente Santana. A fonte é José Lello que nega na própria "notícia" ser a fonte. Ou isto é um jogo de espelhos mútuo e negociado e nesse caso seria para desconfiar dado que existe uma parte interessada, ou é mentira pura: "Amigo de longa data de Miguel Cadilhe, o socialista José Lello foi incumbido pelo PS de avaliar o seu sentimento acerca das declarações públicas de Santana. Na informação que transmitiu ao PS, Lello deu conta de que o ex-ministro de Cavaco Silva se mantinha alheado da campanha, estranhara a anúncio do seu nome e que não estava disponível para integrar um eventual Governo liderado por Santana Lopes. Contactado pelo EXPRESSO, Lello respondeu nunca «abordar em público conversas de âmbito privado». Reconhecendo que troca impressões, com alguma frequência, com Cadilhe, Lello disse ser incapaz de «meter o ruído de fundo da política na conversa com um amigo pessoal».

*

Em 1973,frequentava eu o curso de Administração e Gestão de Empresas em Lisboa,e nessa altura quotizava-me com outros colegas para comprarmos diariamente dois jornais:"A República" e o "Diário de Lisboa".Eram os únicos,no tempo da ditadura,que mantinham uma informação digna e independente.Pouco tempo depois sai o "Expresso",e lá tivémos que fazer mais um esforço semanal.Infelizmente "A República" acabou por ser devorada nos excessos da revolução,e o "Diário de Lisboa" acabou por falir por motivos ainda hoje pouco claros.Assistimos hoje, mais de três décadas após o 25 de Abril, à maior campanha de intoxicação a favor de um partido,de que há memória.E quem aparece como o campeão da mentira e da falta de ética?Precisamente o semanário"Expresso".

(Henrique Cabral Garcia)
 


A LER

Soy um perro callejero, um grande nome e um blogue diferente, outros mundos, outros conteúdos.
 


AR PURO


Nikolay Gay, No Mar de Livorno
 


EARLY MORNING BLOGS 428

Em prisões baixas fui um tempo atado



Em prisões baixas fui um tempo atado,
vergonhoso castigo de meus erros;
inda agora arrojando levo os ferros
que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado.

Sacrifiquei a vida a meu cuidado,
que Amor não quer cordeiros, nem bezerros;
vi mágoas, vi misérias, vi desterros:
parece-me qu'estava assi ordenado.

Contentei-me com pouco, conhecendo
que era o contentamento vergonhoso,
só por ver que cousa era viver ledo.

Mas minha estrela, que eu já'gora entendo,
a Morte cega, e o Caso duvidoso,
me fizeram de gostos haver medo.



(Luís de Camões)

*

Bom dia!

11.2.05
 


PARA LAVAR A ALMA

com a pura beleza. A galáxia do Sombrero.
 


SE O RIDÍCULO MATASSE

cairiam meia dúzia de raios certeiros nas instituições europeias. Então não é que se lembraram de mandar para o espaço, no bolso dos astronautas europeus que vão à boleia de um foguetão russo no próximo Abril, um exemplar da Constituição europeia… Esqueceram-se foi de uma regra fundamental: tudo o que sobe torna a cair.

*
De facto, astronautas com a Constituição Europeia no bolso tem o seu quê de ridículo. Mas permita-me um reparo : não é sempre verdade que "tudo o que sobe torna a cair".

Se um objecto voador for lançado para "cima" (esta noção é relativa, como se sabe) com uma velocidade superior à chamada velocidade de escape já não torna a cair. Afasta-se indefinidamente.

Estamos a falar, naturalmente, de um objecto voador que se afasta da superfície de um corpo celeste, no caso presente da superfície do nosso planeta. Como a força de atracção gravitacional diminui com a distância, é aceitável supor que para uma velocidade de "subida" suficientemente elevada, o objecto voador consiga passar o ponto em que a força de atracção que tende a trazê-lo de volta já não seja suficiente para o fazer "cair". E assim acontece, de facto.

A velocidade de escape varia com a massa do planeta. Quanto maior a massa do planeta, maior será a respectiva velocidade de escape. No caso da Terra, "bastam" cerca de 11 quilómetros por segundo nos momentos iniciais da partida para que o objecto já não regresse. Ou seja, se queremos que a Constituição Europeia não nos incomode mais, basta lançá-la para o espaço com uma velocidade superior a 11 km/s. Mas sem astronautas a bordo ....
(Jorge Oliveira)
 


EARLY MORNING BLOGS 427

I plunge deep within this frozen lake
whose mirrored fastnesses fill up my heart,
where tears drift from frivolity to art
all white and slobbering, and by mistake
are the sky. I'm no whale to cruise apart
in fields impassive of my stench, my sake,
my sign to crushing seas that fall like fake
pillars to crash! to sow as wake my heart
and don't be niggardly. The snow drifts low
and yet neglects to cover me, and I
dance just ahead to keep my heart in sight.
How like a queen, to seek with jealous eye
the face that flees you, hidden city, white
swan. There's no art to free me, blinded so.

(Frank O'Hara)

*

Bom dia!
 


DOIS MUNDOS

Num dos raros momentos de verdade da campanha eleitoral, um duplo retrato de tudo, de Portugal, dos políticos, da televisão, da imagem, da palavra: Portas, outra vez de “Paulinho das feiras”, visitando o “povo” do alto do seu hábito de pequeno lorde, e Jerónimo de Sousa, comovido com os velhos resistentes de Alpiarça. No PCP, o nome e a coisa coincidem; no PP, uma representação gera um mundo esquizofrénico.

Num caso, populismo forçado, com a hipocrisia estrutural de um mundo pequeno-burguês yuppie, urbano e cínico, a “descer” ao “povo” sob a forma dos feirantes para gerar imagens “sociais” de televisão; no outro, um Portugal em extinção, pesado de memória e abandono, encurralado por tudo e todos, menos pela sua identidade antiga.

A cena de Alpiarça tem qualquer coisa de tragédia clássica, um percurso de sofrimento profundo demais para se bastar apenas nas palavras de revolta. No fundo, ter que dormir uma noite numa oliveira para fugir à PIDE, parece hoje coisa de pouca monta para quem lê sobre todas as desgraças do século num livro. Mas, naquela sala, não se leu, viveu-se, o que faz toda a diferença. E, naquela sala, há uma forma especial de dignidade, que vem de todas as esperanças perdidas, da pobreza, do mundo duro do trabalho, da perplexidade face ao futuro. Aquela gente vem de um mundo que morreu, mas a sua voz faz parte do coro da polis, que já ninguém ouve. Nem nós.

10.2.05
 


NATUREZA MORTA NOCTURNA

Da esquerda para a direita: uma pilha de jornais e revistas para actualizar uma bibliografia, em cima Digressions on Some Poems by Frank O'Hara, uma carta da Associação de Professors de Filosofia, um comando do cabo por satélite (é assim na província) , um número antigo de A Comuna, uma mão, três canetas, um lápis, um relógio do exército suíço com duas horas, Lisboa e Bruxelas, um saco com moedas de marco esquecidas, uma nota de cem euros para ver como é, uma lupa, um penny para comprar pensamentos, uma pilha de zips, uma estação meteorológica – vinte e cinco graus, cá dentro, quente de mais mas vai arrefecer, dezanove lá atrás, nove lá fora – um dado redondo viciadíssimo, uma tesoura, dois olhos, um teclado, um ecrã, uma janela escura, uma luz ao longe, um radiómetro, um fragmento de lava, uma garrafa de água, sobre um azulejo antigo, outra mão, um telefone desligado, um CD com Pollini a tocar Debussy, um rato, um fio que não leva a parte nenhuma, pequenos ruídos da madeira, ar.
 


BIBLIOFILIA: FRANK O'HARA



Collected Poems of Frank O'Hara, Allen Donald (Editor), John Ashberry (Introduction), University of California Press, 1995

Joe Lesueur, Digressions on Some Poems by Frank O'Hara , Farrar Straus Giroux, 2004

Majorie Perloff, Frank O'Hara: Poet among Painters, University of Chicago Press, 1997

Um habitual visitante dos "early morning", que tem esta Autobiographia Literaria

When I was a child
I played by myself in a
corner of the schoolyard
all alone.

I hated dolls and I
hated games, animals were
not friendly and birds
flew away.

If anyone was looking
for me I hid behind a
tree and cried out "I am
an orphan."

And here I am, the
center of all beauty!
writing these poems!
Imagine!
 


GRANDES NOMES: PARTIDO REVOLUCIONÁRIO INSTITUCIONAL

Sugestão mexicana de José Carlos Santos. Partido fundado por Plutarco Elías Calles, em 1929, com o objectivo de absorver os milhares de revolucionários que tinham participado na guerra civil mexicana e dar-lhes um instrumento político "institucional". Um problema que têm todos os partidos ou grupos armados, como os republicanos portugueses com os seus "revolucionários civis", a FRETILIN com as FALINTIL, a FRELIMO e o PAIGC com os seus antigos combatentes, que esperam da chegada ao poder uma série de privilégios. O PRI é ainda hoje o mais importante partido mexicano.

*
O Partido fundado por Plutarco Elías Calles designava-se Partido Nacional Revolucionário, mas é, efectivamente o antecessor do PRI.Cerca de dez anos mais tarde (1938) Lázaro Cárdenas mudou o nome para Partdo de la Revolución Mexicana. Só em 1946 adoptará o nome de Partido Revolucionário Institucional. O partido é o mesmo, mas a mudança de nomes reflecte, porém, mudanças na sua orientação política.
(Edmundo Moreira Tavares)
 


GRANDES NOMES: EXTRAORDINARY POPULAR DELUSIONS AND THE MADNESS OF CROWDS

Livro do poeta, jornalista e escritor escocês Charles Mackay, publicado em 1841 (com uma segunda edição em 1852).

(José Carlos Santos)
 


HÁ VIDA DEPOIS DE 20 DE FEVEREIRO (3) MEMÓRIA CURTA - "TUDO NA VIDA SE RENOVA"

Para os que agora criticam quem critica Santana Lopes convém não ter memória curta. Em Abril de 2000, bem dentro deste ciclo político pós-Cavaco, Santana Lopes dava uma entrevista ao Expresso em que afirmava, preto no branco, a necessidade de criar outro partido e fazia um ultimatum ao PSD: ou mudava o PSD ou ele próprio mudava de partido. Nunca nenhum dos seus opositores actuais afirmou que iria criar outro partido contra o PSD. Toda a entrevista, lembrada pelo Pula, Pula Pulga, é típica do estilo egocentrista, errático e confuso de Santana Lopes, que sempre se pôde perceber, mas a que muitos foram cegos. Esta entrevista não é a única em que o tema da criação de um novo partido é nomeado. Fica aqui como documento a lembrar em 20 de Fevereiro a propósito das "facadas" nas costas.


opção inadiável de Santana


(...)
PEDRO Santana Lopes considera chegado o momento da «clarificação definitiva» no PSD e lança um ultimato: ou o partido muda ou muda ele de partido. Numa extensa entrevista ao EXPRESSO, que será publicada na Revista da próxima semana, o presidente da Câmara da Figueira da Foz volta a agitar as pantanosas águas do maior partido da oposição, não escondendo a impaciência com a situação que resultou do Congresso de Viseu e exigindo que se acabe «com a hipocrisia: todos falam baixo na mudança da liderança do PPD/PSD e, depois, ninguém, ou poucos, fala alto».
Garantindo que não está a defender a demissão de Durão Barroso, admite, no entanto, que não acredita no seu partido com o actual líder: «Conheço-o há muitos anos e não esperava que as coisas corressem tão mal como correram», confessa, remetendo Barroso para o pretérito e assestando as suas baterias em Marcelo Rebelo de Sousa - a quem atribui intenções de voltar a candidatar-se à liderança do PSD e, por isso, não lhe poupa críticas.

Contra a frente «anti-santanista»
Confessando-se estupefacto perante os rumores que referem a constituição de uma «frente-anti-santanista» destinada a evitar que ele chegue à presidência do partido - «Isto atinge as raias do ridículo!», comenta - Santana Lopes tranquiliza os seus adversários: «Quero dizer-lhes que não se preocupem, porque não vou fazer nada por isso». O seu plano, assegura, não tem nada de conspirativo: «A direcção do partido e o partido é que têm de promover, se quiserem, as medidas necessárias para mudar de vida. Se o fizerem, muito bem. Se entenderem que querem continuar com uma liderança do tipo da de Durão Barroso, eu discordo, mas respeito».

O primeiro passo, propõe, é um referendo interno sobre as eleições directas que o congresso de Viseu não aprovou: «Agora é o tempo certo para, com calma e serenidade, fazer o referendo sobre as directas», é o convite que endereça aos dirigentes do partido, garantindo-lhes: «Não faço campanha nem a favor nem contra, só quero saber se o partido quer ou não essas eleições directas, quer ou não mudar de vida, quer ou não deixar de funcionar em circuito fechado». O seu próprio destino, afiança, ficará de uma vez clarificado a partir daí: «Se o partido se começar a encaminhar no sentido das teses que defendo, terão de ser outros a escolher o novo caminho». Se assim não suceder, não hesitará: «Partirei à procura de uma alternativa por caminhos diferentes».

Um novo partido «é inevitável»
O autarca da Figueira considera inadiável a reorganização do centro-direita e está convencido de que esse processo conduzirá inevitavelmente a um novo partido. Se será ele ou não a liderar essa nova formação política, é uma questão cuja resposta deixa nas mãos dos seus companheiros sociais-democratas. O eterno candidato à liderança do PSD explica em detalhe as razões que o levam a rejeitar liminarmente tal estatuto e afirma-se «saturado»: «O PPD/PSD tem de mudar de vida», exige, num tom definitivo que manteve ao longo das mais de três horas de conversa e que só abrandou por uma ou duas vezes ao admitir que a sua indisponibilidade para voltar a candidatar-se à liderança cederia a um sério apelo dos militantes do seu partido em que, todavia, diz não acreditar.

Impaciente, o presidente da Câmara da Figueira da Foz esclarece que «chegou o momento de fazer a reorganização do centro-direita em Portugal». No seu entender, é necessário «construir uma alternativa», dado que «o centro-direita está bloqueado, objectiva e subjectivamente. Objectivamente, porque não há nenhum ponto de convergência entre os vários partidos desse espaço. Subjectivamente, porque, com as lideranças do PPD/PSD e do CDS-PP, essa convergência não é possível». Tal reorganização, admite, acabará por dar um só efeito: «Estou convencido de que é inevitável um novo partido. Resta saber quem o vai fazer».

Recusando que as suas palavras sejam interpretadas como «uma heterodoxia lesa-pátria ou lesa-partido», desdramatiza: «Tudo na vida se renova - as células do organismo humano estão em renovação permanente. E, no centro-direita, chegou a hora de mudar».

Pronto para uma alternativa
Reconhecendo que a política faz parte da sua vida, e que não saberia viver sem ela, recusa ficar de braços cruzados: «Sei que irei contribuir para a construção da alternativa ao PS. A questão está em saber se, de facto, será no meu partido ou não». Uma pergunta que quer ver respondida quanto antes: «Acho que é bom para o partido e para mim esclarecer isto». Por ele, não tem dúvidas: «Quero construir essa alternativa de centro-direita. Acredito que tenho condições para o fazer».

Uma alternativa que não significa necessariamente uma aliança com o CDS/PP para as legislativas - até porque, no seu entendimento, «se o PPD/PSD for pelo caminho que idealizo, pode ambicionar ganhar sozinho» -, mas que começa por vários acordos nas autárquicas que possibilitem uma mudança da realidade política. É aqui, sublinha, que «há uma necessidade de desbloquear caminhos que estão tapados», porque o que acontece hoje «é que o PPD/PSD e o CDS/PP são oposição um ao outro».

«Este relacionamento entre Durão e Portas é absolutamente inconcebível», condena, acrescentando que «um líder dum partido, por muitos problemas pessoais que tenha com outro, não pode dizer que nunca se sentará à mesa com ele, porque isso é bloquear soluções de futuro que podem ser necessárias». Uma relação diametralmente oposta à sua, que é fácil de perceber pelo que diz de Portas: «Não precisamos de conversar para nos entendermos ou desentendermos. Conhecemo-nos há muitos anos».


CRISTINA FIGUEIREDO e MÁRIO RAMIRES
 


O PÚBLICO

procedeu bem ao terceiro dia. Mas o mal está feito e conseguido um efeito sem retorno.
 


INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas BIBLIOFILIA: HOMEM DE UMA SÓ ÁRVORE e APRENDENDO COM S. TOMÁS DE AQUINO ACERCA DA CONSULTA AOS ASTROS.

Actualizados os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.
 


COISAS SIMPLES


Repin, Tolstoy a trabalhar
 


EARLY MORNING BLOGS 426

Envoy


Go, little book, and wish to all
Flowers in the garden, meat in the hall,
A bin of wine, a spice of wit,
A house with lawns enclosing it,
A living river by the door,
A nightingale in the sycamore!


(Robert Louis Stevenson, A Child’s Garden of Verses and Underwoods)

*

Bom dia!

9.2.05
 


ISTO NÃO É JORNALISMO SÉRIO

Lamento muito porque o Público é o meu jornal, mas esta peça de hoje auto-justificativa da de ontem (hoje assinada apenas por Eunice Lourenço e Helena Pereira) não é jornalismo sério e viola todas as regras deontológicas do Livro de Estilo do jornal. Vejam como é fabricada uma "notícia" que hoje se reduz a uma "interpretação" dos jornalistas a partir de uma opinião antiga conhecida transformada numa notícia actual de apoio eleitoral ao PS (que Cavaco prefere maiorias absolutas tenho-o citado várias vezes recentemente na Quadratura do Círculo, no seu contexto e intenção e nunca como uma tomada de posição pessoal a favor do PS, o que é completamente desonesto). Fica aqui integralmente este exemplo de jornalismo inventado que chega ao ponto de citar uma fonte sobre "o que é que Cavaco pensa":

Ex-primeiro Ministro Incomodado com Notícia do PÚBLICO / Cavaco vai manter silêncio até 20 de Fevereiro

Aníbal Cavaco Silva vai manter silêncio até dia 20, data das eleições, mas ontem mostrou-se incomodado com a notícia do PÚBLICO que tinha por título "Cavaco aposta em maioria absoluta de Sócrates".

O ex-primeiro-ministro não gostou que fosse recordado, nesta altura, que defende que o melhor para o país são executivos de maioria absoluta e que prevê que o PS possa vir a conseguir governar nessas condições. Não gostou também da leitura de que esse cenário será o mais favorável à sua candidatura presidencial, além do facto de o termo "aposta", que era usado no sentido de previsão, estar a ser interpretado como um apoio ao líder socialista.

O ex-líder do PSD considerou que a notícia podia servir para Santana se vitimizar e preocupou-se em que as rádios e a agência noticiosa passassem o "desmentido" antes do que estava anunciado como sendo a "comunicação do primeiro-ministro", marcada para as 15 horas. Como reconheceu ao PÚBLICO um colaborador do ex-primeiro-ministro aquilo é o que Cavaco pensa, mas não pode dizer porque o PSD não entenderia a sua posição. "Ele não é o Freitas", diz o mesmo colaborador, salientando que Cavaco tem as suas convicções, ou seja, que não muda de partido.

Quanto à actual campanha, Cavaco tem mantido o silêncio e "quer continuar a mantê-lo", afirma o mesmo colaborador do antigo primeiro-ministro e eventual candidato às presidenciais de Janeiro de 2006.

8.2.05
 


UMA NOTA SUPLEMENTAR PARA OS CÍNICOS

O problema da insídia é que parte da sua eficácia vem do cinismo e cinismo é algo de muito abundante nos meios da comunicação social e na blogosfera. No caso da notícia do Público, que uma leitura atenta revela ser uma construção abusiva e de fraquíssima fundamentação, o mecanismo do cinismo funciona assim: não disse, mas podia ter dito.

Pois é. Eu se fosse cínico, cínico contra cínico, responderia: se disse, não deveria ter dito, porque é uma asneira. Se pensarem bem, e ninguém melhor do que Cavaco Silva o percebe como quem respira, o melhor cenário para uma presidência forte é não haver qualquer maioria absoluta mono-partidária que sustente um governo. Está escrito nos anais da realpolitik que os cínicos costumam perceber.
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UM DESLUMBRAMENTO FAZ BEM NESTES TEMPOS DE CINZA


Mimas e Saturno com as verdadeiras cores.

 


TEMPO DE ANTENA DE SANTANA LOPES PASSADO COMO NOTÍCIA

em todos os telejornais, gravado na residência oficial, e na qualidade do Primeiro-ministro. Estamos em plena América Latina.
 


COMO ISTO ESTÁ

Contra Sócrates, boatos; contra Cavaco, a insídia. Como acontece com os boatos, também a insídia fica. Não há retorno.
 


BIBLIOFILIA: "À MEMÓRIA DO MEU FILHO"



Outro livro que me foi oferecido tem um significado muito especial. O livro, completamente esquecido, de A. Ferreira Soares, Casa Abatida, reeditado pela Guimarães nos anos cinquenta (?), tem uma dedicatória "à memória do meu filho o médico A. Carlos Ferreira Soares". Não é comum um pai dedicar um livro a um seu filho adulto, nem que este o seja à "memória", ou seja a um morto. Mas António Carlos Ferreira Soares não morreu de morte natural, mas sim assassinado pela PIDE em Julho de 1942.

Com o mesmo amigo que me ofereceu o livro, visitei há muitos anos, antes do 25 de Abril, a sua casa em Nogueira da Regedoura, onde foi morto com uma rajada de metralhadora, uma casa baixa,pouco visível, modesta, onde se mantinha um armário com os seus livros, e onde falei com familiares que o tinham conhecido bem. Um livro especial.
 


AS DECLARAÇÕES DE ALBERTO JOÃO JARDIM CONTRA O “SR. SILVA”

revelam o risco real de divisão do PSD que Santana Lopes trouxe para o partido. Isto de há muito me parece um perigo evidente mas que se tem menosprezado. Marques Mendes, Marcelo, Rui Rio, Aguiar Branco, Manuela Ferreira Leite, António Borges, Miguel Cadilhe, Morais Sarmento, e muitos outros, devem-no perceber com clareza e tirar daí as conclusões. A actual direcção do PSD ligada a Santana Lopes incendiará tudo e todos para sobreviver. Cuidado com os idos de Março!
 


A CAMINHO DE UM ESTADO PALESTINIANO

e a caminho da paz, precária que seja. Um bom caminho. Não queria deixar de o registar, no meio das turbulências menores que há por cá. Pode ser, pode ser, com todas as reservas o digo, que este possa ser o primeiro fruto positivo da política americana no Médio Oriente, cujo eixo central foi a derrota de Saddam. Porque o "road map" é o outro lado da invasão e ocupação do Iraque.
 


MAS QUE FALTA DE SENTIDO DE ESTADO…

Santana Lopes comenta questões eleitorais (nem sequer grandes questões, mas questiúnculas de campanha, manipulações orientadas a propósito de Cavaco Silva, ataques a Freitas do Amaral e José Sócrates, etc.) como Primeiro-ministro em S. Bento, numa conferência usando os meios do Estado e o lugar do Estado, num dia em que disse não ir fazer campanha por causa do Carnaval. Estará assim presente, em matéria estritamente eleitoral e partidária, em todos os noticiários, falando como Primeiro-ministro. Já não falo da ilegalidade de tudo isto, mas da falta de dignidade e de sentido de estado…Já não há Comissão Nacional de Eleições, nem Presidente da República, nem leis, nem tribunais? Pode-se fazer o que se quer? Se calhar pode.
 


BIBLIOFILIA: HOMEM DE UMA SÓ ÁRVORE


Uns amigos do Abrupto ofereceram-lhe livros, o Presente de Ouro. Um, familiar do Gen. João de Almeida, militar colonial, governador do Sul da Angola, aí activo nas campanhas de "pacificação" e definição da fronteira, autor de alguma da melhor bibliografia sobre Angola, o "império" e sobre a história das edificações militares portuguesas, ofereceu-me dezenas de obras do general, algumas verdadeiras preciosidades. Um aspecto interessante é a marca pessoal, espécie de ex-libris, com que o general marcava as suas obras na frente e verso: uma árvore solitária junto de um rio. Era o que ele nos queria dizer sobre ele e a sua atribulada vida. Era um homem de uma só árvore, o rio é que mudava.

*
(...)bibliofilia sobre os livros do meu avô.
Na altura não se prorporcionou,mas à laia de esclarecimento,esta marca funcionava mesmo como ex-libris,associado à frase "Ao serviço do Império".Para ele o seu ex-libris,representava através da arvore,um carvalho lusitano,a pátria,Portugal,solidamente enraizada;através da água,assim como o rio que corre para o mar,tambèm a nossa expansão ultramarina que correria para todo o mundo,num sentido universalista;a águia,teria um outro significado,que eu já não sei qual seria.
Assim a sua interpretação do ex-libris não será a da intenção original do autor,mas aos nossos olhos de hoje,acho que a sua leitura ,mesmo sendo um pouco "romântica",também é possível,situando-nos na época e na ideologia do autor,que para alèm de militar e colonialista foi um monárquico convicto ao longo de toda a sua vida,vindo mesmo a sofrer directa,pessoal e familiarmente,por tal,sublinhando aquilo que menciona "a sua atribulada vida",(por duas vezes exilado,demitido por julgamento militar do Exército,com o que isso significou de perda de rendimentos,que o levou para fazer pela vida a andar por Marrocos,Brasil,Inglaterra e França),sendo assim um homen de uma só árvore,uma só convicção...por muito reácionária que tenha sido,e que tenha sido no sentido contrário da evolução do seu/nosso tempo.
(Alexandre Almeida)
 


OUVINDO OLIVIER MESSIAEN


Quatuor Pour la Fin du Temps tocado pelo Ensemble Walter Boeykens.

Ao meu lado direito, na igreja da aldeia, tocam os sinos para mais um funeral. Um a um, este Inverno belo e frio mata os velhos. Anteontem um, ontem outro, hoje outro. Algumas figuras que passavam pelas ruas, com a regularidade do vazio dos últimos dias, desaparecem para o lado das sombras. A V. da M. do lado de lá está cada vez mais habitada. Passarão eles, o sr. C., a sra. M., pela mesma rua, onde eu ainda não estou para lhes dar os "bons dias"? Terão eles agora os "bons dias" que nunca tiveram na vida?
 


INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas APRENDENDO COM S. TOMÁS DE AQUINO ACERCA DA CONSULTA AOS ASTROS e A LER sobre o blogue colectivo dos jornalistas da SIC.
 


AR PURO / SCRITTI VENETI


Turner
 


EARLY MORNING BLOGS 425

John Horace Burleson


I won the prize essay at school
Here in the village,
And published a novel before I was twenty-five.
I went to the city for themes and to enrich my art;
There married the banker’s daughter,
And later became president of the bank—
Always looking forward to some leisure
To write an epic novel of the war.
Meanwhile friend of the great, and lover of letters,
And host to Matthew Arnold and to Emerson.
An after dinner speaker, writing essays
For local clubs. At last brought here—
My boyhood home, you know—
Not even a little tablet in Chicago
To keep my name alive.
How great it is to write the single line:
“Roll on, thou deep and dark blue Ocean, roll!”


(Edgar Lee Masters)

*

Bom dia, de Spoon River!

7.2.05
 


APRENDENDO COM S. TOMÁS DE AQUINO ACERCA DA CONSULTA AOS ASTROS

Antes de tudo, é necessário que saibas que a virtude dos corpos celestes se estende à moção dos corpos inferiores. Com efeito, disse Santo Agostinho no livro quinto d´A Cidade de Deus: “Definitivamente, nem sempre é absurdo dizer que determinados astros podem ocasionar mudanças nos corpos”. E assim, se alguém recorre aos julgamentos dos astros para conhecer de antemão certos efeitos corporais, como a tempestade ou a serenidade do tempo, o vigor ou a fraqueza de um corpo, a fecundidade ou infecundidade das colheitas, e coisas similares, que dependam de causas corporais e naturais, não parece haver pecado. Pois, todos os homens recorrem a alguma observação dos corpos celestes em vista de conhecer efeitos deste tipo: os agricultores semeiam e colhem em períodos exatos após a observação do movimento do sol; os marinheiros evitam navegar quando a lua está cheia ou nas noites sem lua; os médicos examinam as doenças em dias específicos, determinados pelo curso do sol e da lua. Donde não há inconveniente na consulta aos astros com relação a efeitos corporais, fundada na observação de estrelas menos evidentes.

Mas é preciso absolutamente compreender que a vontade do homem não está sujeita à necessidade dos astros; de outro modo, pereceria o livre arbítrio, e sem este, não se poderiam atribuir as boas ações ao mérito do homem, nem as más à sua culpa. E, por esta razão, todo cristão deve ter por certo que o que depende da vontade do homem — todas as obras humanas são desta espécie — não está submetido à vontade dos astros. Por isso lemos nas Escrituras (Jr. 10, 2): Não vos espanteis com os sinais dos céus; porque com eles os gentios se atemorizam.


*
O meu nome é Ricardo Fidalgo, tenho 31 anos e exerço a profissão de Astrólogo, cumulativamente com a de Advogado.

Gostaria de lhe deixar uma frase que, de uma maneira geral, é aceite pela comunidade astrológica quando se debate a questão das previsões astrais: o que se prevê não é o resultado. É o desafio a enfrentar. Pelo que o livre arbitrio não é, em nenhum momento, posto em causa. Agora, o que pode, e muitas vezes assim sucede, acontecer é que face a determinado tipo de desafio o ser humano reaja de uma determinada maneira padronizada, sem que tal queira significar que em todos os casos tenhamos a mesma reacção.

Li alguns posts seus relacionados com Astrologia, e gostava de lhe dizer que a comunidade astrológica a nivel mundial cresce, não só em numero, mas tambem em profissionalismo e em capacidade de testar criticamente qualquer método (e existem muitos) astrológico de modo exaustivo. Claro que isso não resolve a questão de “acreditar” ou não na Astrologia enquanto método eficiente. Para isso, só há uma solução, para quem nisso tiver interesse: pegar em livros. Lê-los. Testar ao máximo o que se leu. E assim continuar durante um bom par de anos. Caso contrário vamos continuar com o tipo de atitude que vejo, por exemplo, numa televisão como a TVI, que num dia leva um Astrólogo ao Jornal da noite, e no seguinte transmite uma reportagem a desacreditar a Astrologia.

E já agora, nunca é demais realçar, que Astrologia é uma coisa, Bruxaria, Tarot, Reiki, Quiromância, e por aí fora, coisas totalmente distintas. Sem menosprezar qualquer das outras áreas em causa, meter tudo no mesmo saco só serve para confundir ainda mais quem não faz a minima ideia do que é Astrologia, e de como funciona.
(Ricardo Fidalgo)

*
Perante textos como aquele que o seu leitor Ricardo Fidalgo lhe enviou, referente à Astrologia, fico sempre com a mesma dúvida: terá ele porventura lido livros sobre Bruxaria, Tarot, Reiki, Quiromância e por aí fora, testado ao máximo o que leu e assim continuado durante um bom par de anos para concluir que são «coisas totalmente distintas» da Astrologia? Caso contrário, como é que ele sabe?
(José Carlos Santos)

*
Li o suficiente para ter a certeza de que o(s) método(s) astrológico(s) é(são) totalmente distinto(s). Não é necessário ler muitos livros para tirar essa conclusão. E reafirmo o que já disse: não pretendo, de forma nenhuma, menorizar qualquer das outras áreas mencionadas, sobre elas não me pronunciando dado faltar-me o conhecimento aprofundado, teórico e prático, que tal exigiria. Não faz mal nenhum termos opiniões abstractas sobre o que quer que seja. Mas ás vezes convinha descer á terra, meter mãos á obra, e Conhecer aquilo de que se quer falar. Conhecer, mesmo! E a informação está disponivel, não há nada de oculto.
(Ricardo Fidalgo)

*
No seu comentário ao texto de S. Tomás de Aquino, o Sr. Ricardo Fidalgo (...) começa bem quando nos adverte que o número crescente de ignorantes que aderem à comunidade astrológica não serve de critério para a credibilizar, mas acaba mal, ao insinuar que o estudo da astrologia e o teste das suas previsões nos convenceriam da sua real natureza de ciência. Erro puro.

Comecemos pelas previsões:

Um dos ensinamentos elementares da estatística é o de que é extraordinariamente provável a ocorrência conjunta de dois factos improváveis. E se a associação entre os dois factos é estabelecida a posteriori, então deixa de ser uma probabilidade, para passar a ser uma certeza.

Ilustremos o que pretendo dizer. Logo a seguir ao 11 de Setembro, circularam pela net mails que salientavam as impressionantes coincidências registadas. Tão impressionantes, que não poderiam ser meras coincidências. Lembro-me que se dizia nesses mails, entre outros disparates, que o atentado tinha ocorrido no dia 11, precisamente o número formado pelo desenho das Torres e o número de letras contido na expressão “New York City”. O que não poderia deixar de envolver uma espécie de enorme sinal dos céus.

Obviamente que se o atentado tivesse ocorrido no dia 2, se diria que as Torres formavam o número 2 romano e se fosse no dia 7, quem passava a ter 7 letras era a simples expressão “New York”.

Quando se quer associar, pode-se associar qualquer coisa.

Aquando do atentado de que foi vítima Ronald Reagan, li na altura um artigo qualquer que salientava a trágica fatalidade de todos os presidentes dos EUA eleitos em ano zero (Reagan tinha sido eleito em 1960) estarem condenados a não completar o mandato. No artigo dizia-se “todos” e citava-se Kennedy (eleito em 1960). Não sei se aquela afirmação era verdadeira. Com o próprio Reagan e com Bush deixou de o ser*. Mas mesmo que o fosse isso não tinha nada de extraordinário. Em duzentos anos de História, terá havido uma dezena de presidentes dos EUA eleitos em ano zero. Esses presidentes, de certeza absoluta, têm milhares de coisas em comum. Que uma delas seja terem morrido antes de concluído o mandato é apenas mais uma. Tanto mais quanto é certo ser a morte segura e que todos eles dispuseram de 4 anos para cumprir o destino.

Todo este discurso, para concluir que não são meia dúzia de pseudo-previsões correctas (no meio de milhares de outras falhadas e habilmente esquecidas) que fazem da astrologia uma ciência. Sobretudo quando nessas previsões cabe tudo. Dizer-se que o Papa vai morrer em 2005 não é lá grande previsão (embora também o não fosse desde há uma boa meia dúzia de anos). Mas a maioria dos astrólogos limita-se a anunciar que vai morrer uma importante personalidade da Igreja Católica, o que não passa de uma banalidade.

Mesmo que um astrólogo tivesse acertado na previsão do dia, hora e dimensão do tsunami que varreu o oriente no fim do ano passado (um facto com a dimensão trágica daquele não podia deixar de estar inscrito nos astros com toda a clareza e visibilidade, para quem o soubesse ler), isso não bastaria para fazer da astrologia uma ciência.

Em primeiro lugar, era necessário que todos os astrólogos o tivessem previsto ou que, pelo menos, tivessem sabido reconhecer a sua inevitabilidade quando algum deles o anunciasse. É assim que se passa na verdadeira ciência. Um eclipse que é previsto por um astrónomo pode ser previsto e confirmado por todos. Ora, cada astrólogo faz as suas previsões e raramente (nunca, quando se desce ao nível do concreto) elas são coincidentes.

Em segundo lugar, não basta uma previsão certa. Todas as previsões têm que ser certas. Se uma só observação astronómica puser em causa as previsões decorrentes da teoria da relatividade de Einstein, esta será imediatamente posta em causa, como o foi a teoria da gravidade de Newton.

Contudo, a astrologia farta-se de falhar, sem que nenhum astrólogo a ponha em causa as suas bases.

É certo – como se apressarão a observar-me alguns – que a meteorologia também falha as suas previsões e eu não ponho em causa a sua natureza de ciência. Simplesmente, a meteorologia é (ao contrário da astrologia) a primeira a reconhecer a sua incapacidade para fazer previsões fiáveis. Por outro lado, os seus métodos são públicos e transmissíveis. Sabe-se quais as bases em que se fundam as previsões e a natureza incompleta dessas bases, que torna aquelas falíveis. Mas dois especialistas em meteorologia, partindo das mesmas observações, chegam às mesmas previsões. Não assim na astrologia, onde, com base nos mesmo dados, cada um chega às mais variadas conclusões.

Finalmente, a acabar, uma nota sobre o ónus da prova: é comum ouvir-se por aí, a propósito da astrologia, que não devemos desprezar uma ciência que não conhecemos e que ninguém provou que ela era falsa.

O ónus da prova cabe à astrologia, não à ciência. É a astrologia que tem que provar que é verdadeira, não a ciência, que ela é falsa. Eu posso sustentar a tese que cada um de nós é permanentemente seguido por um gnomo verde que só o próprio pode ver, mas que desaparece assim que tentamos voltar-nos, para o observar. Ninguém jamais demonstrará a falsidade desta tese.

* Os astrólogos dirão que, crente na astrologia, Reagan tomou as providências adequadas para quebrar o enguiço, não conseguindo evitar o atentado contra si mesmo, mas conseguindo evitar nele a própria morte e quebrando por essa via definitivamente o dito enguiço.
(António Cardoso da Conceição)
 


A LER

o blogue colectivo do Diário de Campanha da SIC.

Há várias razões pelas quais é interessante seguir o blogue dos jornalistas da SIC que cobrem a campanha, uma iniciativa pioneira em Portugal. Uma, é que no blogue há informação suplementar interessante (por exemplo, no comício do PSD, o facto de Santana Lopes não ouvir os que o precedem e o momento cénico da sua entrada, o retrato físico dos apoiantes transmontanos do PP, a descrição da debandada pós-comício para as camionetas e a banda que o sr. Presidente da Câmara arranjou para o PS); a outra é perceber o papel das opiniões dos jornalistas por detrás no seu relato dos eventos.

Os jornalistas, ao falarem na primeira pessoa, expõem-se assim mais humanamente, mas até que ponto isso condiciona a nossa interpretação que não testemunhamos os eventos e esperamos deles que nos informem? Por exemplo, já se percebeu que Ricardo Costa tem em alta consideração a campanha do PP (no que não é único). Mas será ele capaz de “ver” se ela é eficaz, será ele capaz de registar e relatar tudo aquilo que contraria a sua opinião, como se aferirão os relatos que nos faz com os resultados eleitorais, se estes forem contraditórios? Por exemplo, nenhum partido mais que o PP tem utilizado o governo para fazer campanha eleitoral, o que parece que ninguém vê com o mesmo "escândalo" fácil das tentativas bisonhas do PSD. Dualidade de critérios.

O meu receio não é tanto a opinião pessoal, que prezo e leio com atenção, é o bias que ela pode dar ao relato, assim como o papel de “cegueira” que tem uma teoria, ou uma ideia forte à partida, face ao que acontece depois. Recordo-me que, numa última campanha eleitoral, os comentadores do Público deram sempre mais notas negativas à campanha dos vencedores, e mais positivas à dos derrotados e, embora uma boa campanha não possa ser medida apenas pela sua eficácia, esse elemento tem que ser tido em conta.

Eu preferiria que os jornalistas não tivessem teses à partida, mas que todos os dias flutuassem a sua apreciação em função do que acontece. Eu sei que não é fácil, mas é isso que distingue um jornalista de um comentador, embora cada vez mais os jornalistas se comportem como comentadores. As campanhas eleitorais anteriores estão cheias disso – e não me refiro apenas às simpatias políticas, mas também às simpatias pessoais, às amizades, à empatia e ao conhecimento desigual dos assuntos e das terras, etc. - e, como não se faz nenhuma aferição a posteriori entre o relato (o reporting) e os eventos, e não há tradição de fact checking, depois esquece-se tudo.

*
Não acho interessante o Diario de campanha da Sic. Tudo "velho". Basta ver a própria reportagem. Durante o comicio de Castelo Branco do PSD Anabela Neves, dá-se ao luxo de comentar o que se está ouvindo fazendo gracejos! Não é líquido dizer que Santana Lopes não ouve o que os seus antecedores dizeram. EStava certamente vendo e ouvindo a SIC. Tanto assim que durante o discurso se referiu ao que Ricardo Costa tinha acabado de dizer sobre os autocarros e sobre a interpretação que Ricardo Costa tinha dado. Ver a SIC, ler a VISÃO, ou ler o EXPRESSO é completamente igual. Não é necessário ir ler o blogue dos jornalistas da SIC. A unanimidade é tão grande que me pergunto: será que pensam? Ou como Sócrates decoram o discurso?
(Isabel Moreira)

*
Algumas notas que me parecem pertinentes a propósito do seu texto sobre o blogue dos jornalistas da SIC:

1 - "O meu receio não é tanto a opinião pessoal, que prezo e leio com atenção, é o bias que ela pode dar ao relato, assim como o papel de “cegueira” que tem uma teoria, ou uma ideia forte à partida, face ao que acontece depois".
Creio perceber aqui alguma incongruência entre o que diz agora e o que disse já vezes sem fim - é aliás um dos seus rituais favoritos - sobre a transparência do jornalismo português. Será que uma acção destas (a criação do blog) não apresenta aos leitores/ouvintes/telespectadores uma imagem mais complexa e (eventualmente) mais próxima do real sobre a actividade? E será que isso não contribui, de forma significativa, para humanizar o exercício da profissão, com todas as limitações, pre-concepções e também vantagens e perspicácia-nascida-da-experiência que isso encerra? E será que não é por algo em torno destas linhas que o Sr. se tem batido de forma tão persistente nos últimos tempos?

2 - "Eu preferiria que os jornalistas não tivessem teses à partida, mas que todos os dias flutuassem a sua apreciação em função do que acontece".
O que JPP prefere não é disputável. Eu também preferiria políticos, médicos, juízes, militares, polícias, arquitectos, historiadores e até mesmo enólogos e cozinheiros que não as tivessem. Mas isso não se passa cá, no mundo real. É portanto, um argumento pouco honesto.

"Eu sei que não é fácil, mas é isso que distingue um jornalista de um comentador" - nem isto é verdade nem a anexação de uma falácia a outra dignificam o texto final. JPP tem - desculpe-me a franqueza - muitas ideias feitas sobre o jornalismo e não se terá ainda concedido o espaço necessário para o encarar (pelo menos) com o distanciamento que para ele deseja. Precisará de ler mais, de ouvir com mais atenção e de conceber a possibilidade do engano (seja por exagero fruto de desconhecimento, como acontece no mais das vezes, seja mesmo por deliberada malícia). O jornalista é - até efectivação das ideias mais vanguardistas de Dan Gillmor - um profissional que apresenta aos seus leitores/ouvintes/telespectadores uma visão dos factos que testemunhou. Sobre mim, leitor/ouvinte/telespectador, tem a vantagem de algumas competências acrescidas, de um código deontológico rigoroso e da experiência em situações semelhantes. É por isso que confio no seu trabalho. Além disso, o jornalista tem a noção clara de que tudo o que faz é e pode ser permanentemente escrutinado. Este é, como muitos outros, um terreno de confiança simultaneamente em causa e partilhada.

3 - Há simpatias pessoais. Haverá, certamente. Que sejam denunciadas por quem não se revê nelas e que sejam apontadas as infracções. Se o processo for honesto, acredito que sai beneficiado o jornalismo e a tal relação de confiança com quem justifica a sua existência. Não se tente, porém, simplificar o que não é. Não se caia no erro de pensar que o jornalismo deve ser apenas recurso tecnológico facilitador do fluxo de informação. Que ele seja muitas vozes, de sinal contrário, sempre e cada vez mais. É sinal de pluralidade e de interesse acrescido no que é comum.

4 - Não conheço pessoalmente nenhum dos jornalistas da SIC envolvidos na cobertura desta campanha eleitoral.
(luis antónio santos)
 


NATUREZA MORTA CREPUSCULAR

Da esquerda para a direita: a mesma pilha de jornais e revistas, em cima a Revista de História das Ideias, sobre a pilha um disco de Haydn já ouvido, um jogo de computador antigo Command and Conquer Generals, um bilhete do metro do Porto que diz Andante, a mão esquerda, uma lupa, uma caneta, uma tesoura, um lápis, zips, uma reprodução de um quadro de Corot para colocar no Abrupto, um texto de um autor antigo que começa assim “Deixei de ter confiança, daí o silêncio”, outro texto com um fragmento de uma carta de Heloísa a Abelardo

Se efectivamente tenho de confessar a fraqueza do meu coração, em mim não encontro arrependimento que possa apaziguar Deus e sempre O acuso de grande crueldade para contigo. Rebelde à Sua vontade, não faço mais que ofendê-l'O com o murmúrio da minha indignação, em vez de tentar serená-l'O pela minha penitência. Pode falar-se de penitência, seja qual for o tratamento infligido ao corpo, quando a alma ainda mantém a vontade de pecar e arde nos mesmos e antigos desejos? É fácil, sem dúvida, confessar as suas faltas e acusar-se ou submeter até ao seu corpo a macerações externas; mas bem difícil é arrancar a sua alma aos desejos das mais doces volúpias.

, um “leitor” com um livro aberto de pedra, água, um telefone sem som, um dado viciado, uma pequena estação meteorológica com relógio –dezasseis e doze, dezoito graus dentro da sala, perto de mim, quinze graus lá ao fundo, lá fora oito – azul e branco do céu em frente, um cúmulo-nimbo ameaçador que se vai dissipando, verde das árvores mais escuro, o vermelho dos telhados mais tijolo, um ecrã com texto, os mesmos dois olhos, um rato, uma ligação Bluetooth desligada, a mão direita, algumas moléculas de laranja no ar.
   


OUVINDO HAYDN POR BRENDEL

 


NATUREZA MORTA MATINAL

Da esquerda para a direita: uma pilha de jornais e revistas com artigos marcados para fazer uma bibliografia, em cima um comando para uma televisão apagada, a mão esquerda, uma lupa, uma caneta, uma tesoura, um lápis, cinco ou seis zips, postais, um papel com uma password escrita à pressa, uma carta, um “leitor” com um livro aberto de pedra, água, um telefone silencioso, sem som, um dado viciado, uma pequena estação meteorológica com relógio – dez e cinquenta e cinco, dezanove graus dentro da sala, perto de mim, quinze graus lá ao fundo, lá fora seis ou sete – azul do céu em frente, verde das árvores, vermelho dos telhados, um ecrã com texto, dois olhos, um rato, uma ligação Bluetooth desligada, a mão direita.
 


GRANDES NOMES: "GEMIDOS DA ALMA PENITENTE PARA OS PRINCIPIANTES"

uma das (outro grande nome) "Orações Jaculatórias, Ou Setas Espirituais para Atirar ao Céu e Ferir o Coração de Deus" do Padre Manuel Bernardes. Aqui está uma dessas "setas":

"Não entreis, Senhor, em juízo com vosso servo; porque nenhum vivente se justificará diante de vós. De mil cargos que me fizerdes, não poderei responder a um só. Todo me entrego nos braços de vossa misericórdia.

Que maldade há no mundo tão execrável, que eu não esteja pronto para a cometer? Senhor, amarrai com as cadeias de vosso santo temor as fúrias de minha liberdade; porque sou capaz de tornar a crucificar-vos.

Isto me pasma, Senhor: como não respeitei vossa presença! Como não temi vossa indignação! Como me não compadeci de vossas dores! Como pisei vosso Sangue! Como não correspondi a tanto amor! Não pode haver maior cegueira.

Pecaste, alma minha: diz-me, agora, que fruto tiraste do teu pecado? Amaste as criaturas mais que ao Criador: que te ficou rendendo esta desordem? Perda da amizade de Deus, e do direito à sua glória, remorso de consciência, costume de tornar a pecar, escravidão ao demônio, reato da culpa, dívida da pena eterna. Oh, quem dera rios de lágrimas a meus olhos, para lamentar tão grave desgraça!

Vinde, vinde, Senhor, ao meu coração; formai um azorrague das cordas de vosso amor e temor, e lançai daqui todos os maus afetos que profanam a vossa casa.

Rogo-vos, meu Jesus, por aquele primeiro leite que bebeste nos peitos virginais de vossa Mãe Santíssima; e por aquelas sagradas primícias de vosso Sangue, que derramastes na Circuncisão, que não permitais que jamais caia de vossa graça nem esteja um ponto fora dela.

Pequei mais que o número das areias do mar. Porém, Senhor, as vossas misericórdias não têm número. Em vós ponho toda a minha esperança: não padecerei confusão eterna.

Eu a pecar; vós, Senhor, a perdoar-me. Eu a fazer-vos injúrias; vós a fazer-me benefícios. O certo é, Senhor, que cada um obra como quem é. Bendita seja vossa paciência, que tanto me esperou.

Muito agravado estais de mim, e vos sobra razão. Oh, quem para aplacar-vos tivera as lágrimas de uma Madalena, as penitências de uma Egipcíaca, os gemidos de um Agostinho, a compunção de um S. Pedro!

Ah, pecador atrevido e infame! Tu foste o que açoutaste a Jesus, tu o que o coroaste de espinhos; o que lhe lançaste salivas no rosto, o que o pregaste na Cruz. Como te não confundes?
"

Como te não confundes?
 


COISAS SIMPLES


Kuzma Petrov-Vodkin
 


EARLY MORNING BLOGS 424

Chinoiserie


Ce n’est pas vous, non, madame, que j’aime,
Ni vous non plus, Juliette, ni vous,
Ophélia, ni Béatrix, ni même
Laure la blonde, avec ses grands yeux doux.

Celle que j’aime, à présent, est en Chine;
Elle demeure avec ses vieux parents,
Dans une tour de porcelaine fine,
Au fleuve Jaune, où sont les cormorans.

Elle a des yeux retroussés vers les tempes,
Un pied petit agrave; tenir dans la main,
Le teint plus clair que le cuivre des lampes,
Les ongles longs et rougis de carmin.

Par son treillis elle passe sa tête,
Que l’hirondelle, en volant, vient toucher;
Et, chaque soir, aussi bien qu’un poète,
Chante le saule et la fleur du pêcher.


(Théophile Gautier)

*

Bom dia!
 


NUMA CAMPANHA ELEITORAL

não são os comícios que revelam alguma coisa, que não seja o dinheiro que se está disposto a gastar, e a capacidade e o profissionalismo da organização. Só, e só duas coisas são reveladoras: o comportamento da rua urbana, a mais de cinco metros do candidato, e as janelas e varandas das casas nas grandes cidades. Quem já fez campanhas sabe que é aí que se encontra a outra face das sondagens.
 


O MAR, A CHUVA AO LONGE,HOJE


(R.)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES / SCRITTI VENETI

"Romance de viagens, de retornos, de atmosferas exóticas: o Médio Oriente, a Palestina e o Egipto, Jerusalém e Milão. Livro de factos e aventuras singulares seguindo sempre a isotopia ou, se se quiser, as andanças de uma Maria oriental vinda a Veneza a partir de Alexandria onde ainda a aguarda, em frustrada espera, o amor congénito de um Ahmed que, na noite anterior, com ela dormira, enquanto o fantasma do mítico Alexandre representava, em sonho, histórias de conquistas orientais. Tudo isto se passa quase na véspera da chegada de Maria a Veneza, onde agora ela se encontra à beira do Canale della Giudecca para obedecer ao chamamento ambíguo, mortal e erótico de uma Flora que a espera no predestinado Hotel des Bains do Lido e que, por ela, procurará a morte nas águas da laguna.
Mitos de Veneza e mitos de mortes em Veneza revisitada em nome de um inconsciente e ambíguo Tadzio e de um envelhecido Gustav Von Aschenbach, perseguidos nas ruas douradas, crepusculares e já atingidas pela cólera, por um escritor que ama Veneza, até mesmo por este literário e refinado odor de morte. E é assim que o último desencontro de Antonioni e Maria, ele num quarto de hotel, em Milão, e ela numa cama distante, em Tel Aviv, parece simular a união ideal dos dois, embora agora a bordo de um sonho de olhos abertos, como se estivessem de novo juntos "sem sabê-lo, numa navegação ao sabor de uma miragem comum". É talvez a metáfora da consciência aqui atingida por Luís Carmelo, nesta sua recordação-homenagem feita de palavras à cidade da sua saudade. Talvez por Veneza ser, como a vida, apenas e sempre um sonho."

(Luciana Stegagno Picchio sobre No Princípio Era Veneza (1990), enviado pelo autor)

6.2.05
 


CAMPANHA ELEITORAL ANTIGA


Hogarth (enviado por Artur Magalhães)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O VOTO DIFÍCIL (2ª série)

Aproveito, ainda que algo desactualizado, para chamar a sua atenção para outra situação relativa ao voto emigrante.

Resido em Moçambique e aqui não temos direito a votar nas eleições para o Parlamento Europeu. Confesso o meu desconhecimento das causas. Será isso devido a legislação específica e proibitiva? Ou a mero esquecimento? Noto que os emigrantes portugueses em países da UE podem votar nos países residentes. E que cidadãos nacionais de outros Estados-membros (ex. Espanha) o podem fazer fora da UE.

Também quanto aos referendos será possível votar? Por exemplo, será política e legalmente legítimo impedir um emigrado de votar no referendo sobre a Constituição Europeia?

(José Pimentel Teixeira)

*

No meu blogue tenho publicado uma série de artigos sobre o voto dos emigrantes e o tratamento reservado aos idadãos nas embaixadas como aquele que publicou no seu blogue da autoria da Cláudia Monteiro. Emigrante em Helsínquia, não tenho, felizmente, muitas razões de queixa da minha embaixada - e eu não tenho por hábito queixar-me daquilo com que vou a contar, um serviço burocrático e lento, ao sabor dos humores dos funcionários. Outros não tiveram tanta sorte e contaram as suas experiências no na mailing list da comunidade, como a minha amiga que esteve à espera, dentro da embaixada durante duas horas para ser atendida. Daí telefonou duas vezes para lhes recordar que ela estava lá dentro à espera. E diz, "no fim apareceu-me um senhor que me disse que não fazia a menor ideia que eu ali estava à espera."

Sobre as eleições, gostaria de ter sido informado sobre a necessidade de recenseamento eleitoral - um acto necessário e que, ao contrário do que eu pensava não é feito redundante pelo registo no consulado. Nas várias visitas que fiz nunca para tal foi alertado, nenhuma das comunicações da embaixada enviadas para minha casa continha tal informação e o website não existe.
Mais, nos 9 dias utéis de que disponha entre a convocação de eleições e o fim do prazo para inscrição para estas eleições (60 dias antes da eleição) era-me impossivel obter toda a documentação necessária para me poder recensear, nomeadamente um novo Bilhete de Identidade deonde constasse a minha morada no estrangeiro. O processo leva meses, quando não anos para concluir.

António Dias


*

Gostaria de poder votar. Infelizmente não posso.
Vivo no estrangeiro e não estou recenseado no posto consular mais próximo.
Bem, até aqui é aceitável, correcto?
O facto é que não estou recenseado porque não me consigo recensear pura e simplesmente...
A embaixada só permite que me registe se me apresentar, presencialmente, com o meu bilhete de identidade, que obviamente tenho (BI, passaporte, carta de condução, etc...), junto com um atestado oficial de residência, passado pelas entidades do país em que me encontro.
O problema é que eles só passarão esse atestado caso eu me registe na segurança social de cá, o que não posso, pois estou a fazer doutoramento e não consigo por ser um cidadão estrangeiro estudante, como tal, "passageiro".
Em virtude disso não me fornecem um atestado de residência.

E, apesar de eu ir fisicamente apresentar-me para me recensear no consulado, tal como fiz há uns anos atrás na junta de freguesia onde residia em Portugal, por alguma razão, os serviços consulares portugueses querem uma prova em como resido na cidade do país onde digo residir, coisa que nunca me foi exigida em Portugal.
Não sei, terão medo, que eu me registe aqui e, de alguma forma, o meu registo em Portugal se mantenha activo, não seja anulado e eu aproveite para votar aqui, apanhar um avião para Portugal, sair do aeroporto e ir a correr muito até à cidade onde residia em Portugal e chegar lá a tempo de votar uma segunda vez?
Será isso? Francamente não sei...
Só sei que gostaria de exercer o meu DIREITO DE VOTO COMO PORTUGUÊS QUE SOU!
E que esse direito me é negado por estar fora de Portugal.
É essa a realidade.

Um amigo meu, espanhol, chegou cá há 3 semanas, registou-se e recenseou-se e já pode votar. Também é estudante. De Erasmus, não de doutoramento, mais passageiro ainda do que eu. Não lhe foi pedido nada mais que a identificação e, obviamente, o direito de votar foi-lhe dado (e, claro, anulado na localidade dele em Espanha).
E, adicionalmente, está devidamente registado na Embaixada Espanhola.
Eu, estou aqui há quase ano e meio e ainda nem sequer me consegui registar na embaixada portuguesa. Se for assaltado e ficar sem documentos, não faço ideia sequer de como provar que sou eu, pois nem registado na embaixada estou... não consigo!
Isto até se poderia olhar com outros olhos, se acontecesse num país remoto tipo Bangladesh ou Mongólia. Mas não.

Eu vivo em Bruxelas, "capital" da União Europeia, há ano e meio, basicamente em situação ilegal (não registado no país de acolhimento, não registado na embaixada portuguesa... quem sou eu senão um ilegal?!).

E sou um estrangeiro para a Bélgica e, pior, um estrangeiro para Portugal (pelo menos no que toca a direitos constitucionais). Esse meu amigo espanhol, porque é que ele é tratado como um Espanhol pleno pelo país dele? Porque eu não tenho o mesmo direito que ele? Porque é que nem sequer sou um Europeu como ele é, já que nem em eleições europeias posso votar? Não devia estar na "Europa"? Não deveria ser facilitado o registo e recenseamento dos Europeus na Europa?

Querem mobilidade por parte dos Europeus mas impôem todos os entraves burocráticos imagináveis à mesma... Querem que os Portugueses não se abstenham de votar, o voto é um dever democrático, dizem os políticos, mas impedem-me de votar. Porque é que o meu amigo Espanhol tem direito a voto e eu não? Porque é que ele só precisa de mostar a cara e o BI, como faria em Espanha, e eu não?

(Ivo Martins)
 


INTENDÊNCIA

Continua a actualização dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO. Estão a ser completadas as bibliografias de 2003 (tinham escapado alguns artigos) e de 2004, assim como as listas biográficas. Algum material fotográfico inédito (ou pouco conhecido) sobre o 18 de Janeiro de 1934 será inserido a seguir.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VERIFICAÇÕES, FACTOS E DEBATE

Hugo Filipe aceitou a sugestão de verificar os factos e números citados no debate. Aqui vão duas das verificações:
Estou a ler a transcrição e comecei pelos números das receitas que Santana Lopes citou. Devo dizer-lhe que são verdadeiros. Ver (pág.4, 5...)

Santana: IRC sobe 21% ; IRS sobe 5% ; IVA sobe 6% ; Impostos TOTAL : 33 mil milhões de euros

Facto: IRC sobe 20,7% ; IRS sobe 5% ; IVA sobe 6,3% ; Impostos TOTAL : 33 mil 115 milhões de euros.
*
Santana Lopes afirma que as despesas correntes cresciam ao ritmo de 10% ao ano. Após consultar as contas gerais do estado desde 1995 até 2001, só por uma vez isso aconteceu 1999-2000 onde as despesas cresceram 10,2%, nos outros anos foram semelhantes ou mais baixas do que actualmente.
 


AR PURO


H. Thoma
 


EARLY MORNING BLOGS 423

Nous n’irons plus au bois

Nous n’irons plus au bois, les lauriers sont coupés.
Les Amours des bassins, les Naïades en groupe
Voient reluire au soleil en cristaux découpés
Les flots silencieux qui coulaient de leur coupe.
Les lauriers sont coupés, et le cerf aux abois
Tressaille au son du cor; nous n’irons plus au bois,
Où des enfants charmants riait la folle troupe
Sous les regards des lys aux pleurs du ciel trempés.
Voici l’herbe qu’on fauche et les lauriers qu’on coupe.
Nous n’irons plus au bois, les lauriers sont coupés.


(Théodore de Banville)

*

Bom dia!

5.2.05
 


OUVINDO GIRL CRAZY

 


UMA SUGESTÃO

que infelizmente não posso seguir por falta de tempo, mas pode haver quem esteja interessado: como o debate Sócrates - Santana tem o texto disponível podia-se colocar o texto numa coluna e fazer o fact checking na outra para ver se números, afirmações, etc. estão exactos. É talvez o mais útil que sobra fazer depois do debate: saber quem foi rigoroso e honesto no que disse.

Ver META-DEBATE 42.
 


INTENDÊNCIA

Em actualização os ESTUDOS SOBRE COMUNISMO.

Actualizadas as notas O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O VOTO DIFÍCIL, BIBLIOFILIA / SCRITTI VENETI e EARLY MORNING BLOGS 422.
 


A LER

O melhor do Expresso por estes dias: as biografias que José Cutileiro faz de gente que é gente. A de hoje é de Jacques Villeret, actor.
 


HÁ VIDA DEPOIS DE 20 DE FEVEREIRO (2): ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA

"Se tiver acima disto [dos resultados das europeias], com tudo o que se passou, dizerem que é uma derrota, acho que é interessante."

A colocação como meta eleitoral do PSD de um resultado acima do que é presumido ter sido o das europeias é um absurdo que não pode ser tomado a sério. Aliás foi apresentado contraditoriamente com o objectivo de ganhar as eleições de 2005, na mesma entrevista. Esta maneira de falar que dá para tudo, é habitual. Só daquela voz é que podia vir ao mesmo tempo a intenção de ter mais de 40% e mais de 29% dos votos ao mesmo tempo.Plano pessoal A e plano pessoal B. O que conta verdadeiramente é o B.

A desonestidade intelectual e política é que todos os dirigentes do PSD em Junho de 2004, incluindo Santana Lopes e Durão Barroso, recusaram liminarmente uma interpretação nacional dos resultados das europeias. Não é verdade que Santana Lopes tenha recebido o partido com os resultados das europeias, recebeu-o e terá que prestar contas pelo resultado das legislativas de 2002, um partido no poder a governar, que ele alegremente destruiu em quatro meses. Barroso tem responsabilidades no que aconteceu, mas com ele nunca aconteceria o mesmo.

Acresce que o objectivo que foi prometido e reiteradamente prometido ao partido por Santana Lopes, afirmado no Conselho Nacional, na Comissão Política, em público e em privado, foi sempre uma vitória e uma vitória era (e é) o PSD ganhar as eleições. E também não é ficar o PS sem maioria absoluta, porque isso também é desculpa de mau pagador. Com Santana Lopes e a sua jactância eleitoral, ou ganha ou perde. O resto são já estratégias de sobrevivência de quem se prepara para não assumir qualquer responsabilidade do que se passou e quer enterrar o PSD ainda mais fundo.
 


EARLY MORNING BLOGS 422

Nesta viagem e ida,
o que nela navegar
bem se deve contentar
co'a vida.
Nós tomemos bom castigo
co mal que vemos alheo,
e tenhamos gram receio
o mar de tanto perigo.
Nom façamos tal partida!
Antes cavar e roçar,
de conselho contentar
co'a vida.

Por passar tanta tormenta,
tempo, e vida tam forte,
e tam perto ser da morte,
antes nom quero pimenta.
Cá farei minha guarida
em escrever e notar,
e me quero contentar
co'a vida

Brás da Costa, Cancioneiro Geral

*

Bons dias!


*

Poema do "contraditório" desta aurea mediocritas, enviado por S., que me cuida como "não querendo pimenta":
¿Quién muere?

Muere lentamente
quien se transforma en esclavo del hábito, repitiendo todos los días los mismos trayectos, quien no cambia de marca.
No arriesga vestir un color nuevo y no le habla a quien no conoce.
Muere lentamente
quien hace de la televisión su gurú.
Muere lentamente
quien evita una pasión,
quien prefiere el negro sobre blanco
y los puntos sobre las "íes" a un remolino de emociones, justamente las que rescatan el brillo de los ojos, sonrisas de los bostezos, corazones a los tropiezos y sentimientos.
Muere lentamente
quien no voltea la mesa cuando está infeliz en el trabajo, quien no arriesga lo cierto por lo incierto para ir detrás de un sueño, quien no se permite por lo menos una vez en la vida, huir de los consejos sensatos.
Muere lentamente
quien no viaja,
quien no lee,
quien no oye música,
quien no encuentra gracia en si mismo.
Muere lentamente
quien destruye su amor propio,
quien no se deja ayudar.
Muere lentamente,
quien pasa los días quejándose de su mala suerte o de la lluvia incesante.
Muere lentamente,
quien abandona un proyecto antes de iniciarlo, no preguntando de un asunto que desconoce o no respondiendo cuando le indagan sobre algo que sabe.

Evitemos la muerte en suaves cuotas,
recordando siempre que estar vivo exige un esfuerzo mucho mayor que el simple hecho de respirar.
Solamente la ardiente paciencia hará que conquistemos una espléndida felicidad.
(Pablo Neruda)
 


VER A NOITE



A névoa reduz as estrelas ao essencial: Sirius, a vermelha Betelgeuse, a azul Rigel no sopé de Orion, as Ursas Maiores todas, as Três-marias de Orion. Depois a variedade de luzeiros dispersos.
 


A LER

De David Justino O que tem que ser dito na Quarta República
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: RETORNO AO CÊNTIMO E CENTAVO

Não é totalmente correcta a afirmação do seu leitor Antonio, referindo não existirem denominações populares para o Euro. Aqui pela minha aldeia, sobretudo entre as camadas mais idosas é vulgar a denominação "oiros" em vez de "euros". Curiosamente, também alguns emigrantes falam em "oiros", o que me leva a pensar sobre a forma como se farão entender no país onde trabalham.
Provavelmente não será uma denominação com futuro, mas outras surgirão.
E os "contos" continuam na boca do povo, tal como antes. A única diferença é que 1 conto são 5 euros, em vez de 1000 escudos.

(Carlos Franquinho)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: RETORNO AO ASSESSOR E AO COVEIRO

Penso que existe alguma distorção e algumas incorrecções nas descrições e comentários publicados. Deixo ficar o meu contributo na forma de alguns factos e opiniões.

1º- "Não se trata de um concurso para assessor, mas sim para técnico de 1ª classe" (Jean)

Há aqui um engano. O concurso (interno) é mesmo para assessor (são abertos vários concursos na mesma data).

--- ver DR de 2004-12-06 série II pp. 18250 e segs.
(http://www.dre.pt/pdfgratis2s/2004/12/2S285A0000S00.pdf)

2º - "cujo vencimento anda à roda de 2500 EUR (500 contos)." (José Pó Vinho)

No final da carreira poderá chegar lá perto. O vencimento bruto de assessor, pela tabela de 2005, situa-se entre os €1.934,68, para o início de carreira, e os €2.315,27 para o final de carreira. O vencimento líquido (na maior parte dos casos) ficará abaixo de 300 e 350 contos, respectivamente.

--- ver Portaria 42-A/2005 do DR de 2005-01-17 suplemento I-B
(http://www.dre.pt/pdfgratis/2005/01/011B01.PDF)

3º - "será interessante ver quem é o assessor escolhido" (JPP)

O provimento de assessores só é possível de entre os técnicos superiores principais com pelo menos três anos de serviço com classificação de Bom ou cinco anos de serviço com classificação de Muito Bom. Os detentores de mestrado ou doutoramento (na área
funcional) usufruem de uma redução de 12 meses nos requisitos temporais anteriores. Assim sendo (notar que o concurso é interno), só poderá ser alguém que já esteja na A.P.

--- ver Lei 44/99 no DR 1999-06-11 I-A (que altera do Decreto-Lei
404-A/98 de 18 de Dezembro)

4º - "só precisa de uma cunha e de uma breve conversa...!!" (José Pó Vinho)

Quanto à cunha, fica para o ponto seguinte. Já quanto à conversa: é pública (provas públicas). E assim sendo, quem estiver interessado poderá (e deverá) assistir. O que na prática se verifica é que poderá ser necessário algum trabalho para saber onde e quando ocorrerá essa conversa. Mas quem estiver realmente interessado chegará lá, concerteza. Não se poderá admitir outra coisa.

5º - " Como se pode ver, o critério de selecção está definido e pode ser visto pelos candidatos ao lugar."

Por aqui é que que "a porca torce o rabo". Estão os critérios claramente definidos a priori (antes da candidatura)? Geralmente não.
Alguma engenharia nos critérios (ponderações), protegida por uma cortina de subjectividade de uma discussão / apreciação curricular, pode ser (é) utilizada para afinar o lugar a um candidato.

(Pedro Moreira)


4.2.05
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES


Rio Mira / Vila Nova de Milfontes/Atlântico/Pôr do Sol (António Lopes)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O VOTO DIFÍCIL

Eu até gostava de votar, mas não me deixam
Os portugueses residentes no estrangeiro precisam de estar registados com o consulado para votarem. Até aqui tudo bem. O problema é que o registo precisa de ser feito presencialmente, um acto burocrático que está em extinção no resto da Europa. Até aqui tudo mais ou menos. A distância entre mim e o consulado português no Reino Unido são 1000 quilómetros de distância, 10 horas de carro ou pelo menos 30 contos de avião (num dia favorável). Agora isto já começa a soar a uma política de tratamento desigual dos cidadãos. E eu até nem me importava de pagar pelos meus direitos, porque me lembro de ouvir muitas histórias lá em casa sobre como se vivia no tempo em que não havia eleições democráticas.

Mas acontece que o consulado britânico em Londres só atende pessoas que “tiverem marcado entrevistas por fax”. Isto seria de rir se não fosse tão deprimente. O consulado envia depois um fax de volta a comunicar ao cidadão o dia em que concederá a real honra de perder tempo com um português. O consulado português em Londres fica no bairro mais caro da cidade, mesmo em frente ao Harrods, mas não tem fundos para contratar funcionários. O rei vai, portanto, nu. A frustração popular já causou desacatos e intervenção policial à porta do edifício. Eu gostava muito de votar, mas o Estado não está para aí virado. Mais experiências de eleitores expatriados, aqui.

(Claudia Monteiro)

*

Outro caso: Uma familiar proxima ganhou uma bolsa de estudo em Pequim, paga pelo Governo da R.P.C., portanto sem custas para Portugal que se limitou a custear a viagem.
Para votar, a dificuldade na Embaixada de Portugal e tanta que ao contrario dos estudantes de todas as nacionalidades, apenas os portugueses quase nao votam.
Compreende-se!, e muito trabalho: quase 20 cidadaos nacionais, e obra !

o meu pc perdeu os acentos... sera por dizer verdades que caiem os acentos? nas mentiras, creio que eram os dentinhos...

(António Belchior)
 


HÁ VIDA DEPOIS DE 20 DE FEVEREIRO (1) : A HONRA PERDIDA DO PSD

Depois de 20 de Fevereiro o único património do PSD, para além da sua história, programa, tradições e militantes, será o facto de ser nítido para os portugueses que muitos evitaram, e alguns denunciaram, qualquer compromisso com as reiteradas incompetências, prepotências, confusões, culto de personalidade, que acabaram por culminar na primeira campanha negativa de um grande partido nacional com pretensões governativas. São conhecidas algumas dessas vozes com relevo no PSD, mas muitas vozes anónimas de militantes de base partilham desse sentimento.

Uma coisa é o PSD, outra esta experiência desastrosa que de social-democrática não tem nada. Tem passado despercebido que Santana Lopes violou a letra e o espírito do programa do PSD, em dois aspectos fundamentais: o culto de personalidade pessoal quase obsessivo (os hinos e os filmes da campanha nada tem a ver com a mensagem social-democrática porque desprovidos de significado num projecto colectivo) e na actual campanha negativa que ultrapassa a natural crítica política a uma governação, para atingir pessoalmente políticos do PS (o que viola o carácter personalista do programa, e a sua afirmação do valor meta-político da dignidade humana).

Foram os militantes que se indignaram, que mantiveram a honra quase perdida de um grande partido português, mostrando que uma coisa é o partido a que pertencem e ajudaram a fazer, outra o curso infeliz da direcção Santana Lopes. É verdade que a sua voz parecia perdida no unanimismo do Congresso, e é verdade que por muitas razões, boas e más, muitos outros consentiram e apoiaram. Mas mesmo esses já começaram a compreender que houve um erro e um erro grave e que o partido se afastou do património político de Sá Carneiro. É verdade que o partido está doente e lhe faltou a força para perceber que Portugal está primeiro e não a manutenção desesperada de meia dúzia de lugares de deputados e de secretários de estado para os dirigentes regionais e nacionais. Depois de 20 de Fevereiro, pouco nos sobrará e haverá quem tente levar o partido a uma divisão que foi sempre desejada por alguns, como o PP.

A ruptura na opinião pública entre o partido, ou pelo menos, parte do partido, e o seu actual Presidente, é a escassa riqueza que vai sobrar depois de 20 de Fevereiro: os portugueses distinguem entre o PSD e Santana Lopes. O PSD pode por isso levantar-se de novo.

(Continua)
 


META-DEBATE - CONCLUSÃO

No debate de ontem entre Santana e Sócrates ficou bem patente o vazio que se instalou na política portuguesa. Se era isto que Santana queria, ainda bem que só houve um, sendo de agradecer o gesto de Sócrates, talvez ainda lembrado do desinteresse do Telejornal de Domingo, há não muito tempo atrás.
Depois de um primeiro quarto de hora deprimente, em que os dois candidatos fizeram um concurso sobre quem era o mais atacado na sua vida particular, mostrando-nos a verdadeira via sacra que tem sido o seu percurso, levando aos limites do inaceitável a estratégia da vitimização que é própria de ambos, restou uma discussão pobre, sem ideias, nem convicções.
E a verdade é essa mesma. Como o que os moveu sempre foi a auto promoção e os seus próprios interesses, apoiados na sua imagem, tanto Santana, como Sócrates, só se sentem verdadeiramente motivados e dominadores quando falam do dossier que mais os ocupou na sua vida e percurso político: eles mesmos.
Chegou a ser confrangedor a falta de verdadeiras distinções entre eles. São demasiado iguais, sendo que as fraquezas de um, são as fraquezas de outro, pelo que nunca pôde haver grande contundência nas afirmações.
Valha a verdade que o próprio formato do debate não ajudou, sempre muito rígido, com as perguntas excessivamente formatadas e um ambiente demasiado asséptico. Os entrevistadores pareciam que não estavam lá, demasiado distantes da discussão e pouco interventivos. Pareceu mais uma prova oral entre dois maus alunos, que apenas estudaram para passar e em que o professor deu uma ajudinha, nunca levando as questões muito longe, evitando assuntos que pudessem não ter sido estudados ou que não estivessem nas cábulas.
O debate de ontem mostrou porque é que a RTP decidiu acabar com o programa entre ambos aos Domingos e porque é que Marcelo os batia aos pontos, no mesmo horário, na TVI.

(Pedro Costa Azevedo )

Que grande confusão. E as propostas que aparecem têm um incrível impacto no aumento da despesa. Tão irrealistas, tal como a sua aplicabilidade. Multiplicar-se-ão os estágios sem o reconhecido valor pelas empresas só pelo facto de serem de graça? E o que acontece depois desses estágios? Voltam para o desemprego?

(Luis Couto)

Se não me engano começou com o Dr. Bagão Félix, e pelo menos mais duas pessoas comentaram o seguinte no seu blog:
"...um funcionário público reformado, com tempo completo, custa tanto ao Estado como um no activo..."
"...saem 2 entra 1, que só significa que o Estado deixa de ter encargos com
2 funcionários para passar a ter com 3..."
Gostava só de apontar para um pequeno defeito de raciocínio que leva várias pessoas a pensar que descobriram a pólvora e mais uma proposta demagógica de um candidato:
É que, as pessoas também morrem!
Até pode ser que, com o aumento da longevidade, dos dois que se reformam morrem menos de dois reformados (talvez 1,9 ?), mas dai até pensar que mesmo que se bloqueasse a entrada por completo íamos ter despesa para sempre...

(Pedro Nogueira)
 


SCRITTI VENETI: VASCO GRAÇA MOURA

canção de veneza à chuva

minha musa em veneza, ó vaporetta,
cortando a luz de nácar na aqua alta
ondulante dos sonhos, não te falta
um voo de gaivotas que arremeta,
entalado entre a ponte e as fachadas
do rialto, a pousar
nas gôndolas paradas,
nem um ventinho frio a arrepiar
o bando anil dos pombos indolentes,
nem a gente compacta a atravessar
as pranchas, devagar,
como nas procissões de penitentes.

tudo a oscilar aqui. o rosa foi
vermelho, o verde já se esboroou,
no ocre havia amarelo, desbotou
o azul que era mais forte. tudo rói
a humidade dos tempos e trespassa
memórias, inscrições,
o vão de cada praça,
as loggie dos palácios, as prisões,
as torres, os tijolos, as empenas,
as arcadas, os ódios, as paixões,
toadas e canções,
todalas almas grandes e pequenas.

só fica o arco-íris que se vidra
entre quinquilharias e murano,
a abastardar o coração urbano
que a multidão invade como a hidra.
afunda mais veneza a piolheira
a percorrer as ruas
que o tempo que se esgueira
ao sabor das correntes e das luas,
sedimentando em mito o esplendor
da cidade a nascer por entre as puas,
ao rés da espuma, em nuas
geometrias tépidas de cor.

mas as pedras que ao sol prendem a luz,
feitas agora máscaras cinzentas
por onde escorre a pel’ das águas lentas,
diluem-se na tarde que as reduz
ao frágil tremular do fim do dia.
são um espelho gasto
que em sombras embacia
um tempo que devora o próprio rasto.
talvez a noite ao vir depois reúna
ao seu hálito negro esse nefasto
silêncio que é o pasto
dos renques de luzeiros na laguna.

tu, quando as nuvens carregadas vês
na tempestade, e o raio e as casas juntas
que giorgione lá pôs, porque perguntas
quem era essa mulher cuja nudez
segura um filho ao colo e lhe dá leite
aquém da trovoada
e da cidade? eu sei-te
dizer apenas: não se sabe nada
do como, onde e porquê dessas figuras
de uma estranha presença indecifrada.
a chave não é dada
e apenas se pressentem desventuras.

canção, que a vaporetta a mim me leve
em seu contentamento.
veneza, à chuva, ao vento,
para já a afundar-se não se atreve.
o sol há-de voltar. por isso escreve.
 


BIBLIOFILIA / SCRITTI VENETI

Venises de Paul Morand, um dos mais belos livros sobre Veneza. A ler em tempos de temperatura rigida.

Dois fragmentos:

Je repris le chemin de Venise. Venise n'est que le fil d'un discours interrompu par de longs silences, où, de temps a autre, divers pays l'emportent, comme ils m'ont emporté : vingt-cinq années en Suisse, dix années a Tanger ou en Espagne, huit années en Angleterre; sans parler de Paris.
Barrès écrivait : "Cette image de mon être et cette image de l'être de Venise concordent en de nombreux points." Pour exprimer cela, mes titres sont moins grands, mais le temps que j'ai donné a Venise me permet de reprendre la phrase a mon compte. C'est surtout a travers mon passé que Venise, ainsi que Paris, fluctue sans couler.


*

1969

Venise d'automne, épouillée des touristes (sauf des hippies, bouddhas incurieux, indelogeables), avec ses monuments houssés de coton, grillagés de pluie; c'est la moins frivole. Venise de printemps, quand son pavement commence a suer et que le Campanile se reflète dans le lac de la place Saint-Marc. Venise d'hiver, celle de la temperatura rigida, du congelamento, lorsque les vigiles du feu surveillent les feux de cheminée, du haut des clochers, et que les loups descendent des Dolomites. Quant à la Venise d'été, c'est la pire...


*
Há trinta e quatro anos foi uma das minhas bóias nas matas de Cabinda. A edição era a da nrf e comprei-o em Luanda antes de seguir para a 'guerra'; mas nunca pensei que P. Morand o entusiasmasse tendo sido quem foi. E os taxis de Roger Nimier será que virão a seguir ?
(J. Mineiro)
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: SATURNO QUENTINHO



- Mãe por que é que Saturno está tão quentinho?

- Mas Saturno é muito frio.

- Mas porque razão tem o pólo sul tão quentinho?

- E por que é que tu falas com tantos diminutivos?

- Gente pequena fala pequenino. E Saturno tem aquele polo sul a brilhar de quente...É o Yang e o Yin? O Yang no Yin ou ao contrário?

- O quê? Já te disse para não leres esses livros. Não são para meninos. Vai à Internet. Está lá tudo.

- Diz-me tu.

- Não digo para não ficares preguiçoso.

- Assim digo mais diminutivos...

- ... e eu não ouço diminutivos.
 


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: BANG! EM MARTE OU T. S. ELIOT AO CONTRÁRIO



This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a whimper but a bang.
 


META-DEBATE 52

Ainda estão a chegar mais contribuições dos leitores comentando o debate. Uma recolha das que levantam aspectos novos serão colocadas ainda hoje. Depois passa-se à frente.
 


EARLY MORNING BLOGS 421

Halcón que se atreve
con garza guerrera,
peligros espera.

Halcón que se vuela
con garza a porfía
cazarla quería
y no la recela.
Mas quien no se vela
de garza guerrera,
peligros espera.

La caza de amor
es de altanería:
trabajos de día,
de noche dolor.
Halcón cazador
con garza tan fiera,
peligros espera.


(Gil Vicente)

*

Bom dia!

3.2.05
 


AR PURO


Gainsborough
 


META-DEBATE 51

Por agora chega.

Agora só vale a pena voltar ao debate para acrescentar alguma coisa.
 


META-DEBATE 50

Quem sente que perde (não estou a dizer que perde) investe nos telefonemas para estas falsas sondagens cujo único objectivo é a cadeia televisiva que os patrocina ganhar dinheiro. O estado de necessidade aguça o engenho.
 


META-DEBATE 49

O Abrupto vai a caminho de mais de 18000 "pageviews", com um pico durante o debate, chegando a ter quase trezentas pessoas ao mesmo tempo em linha e quase 4000 numa hora. Muitos leitores fora de Portugal acompanharam o debate pelo Abrupto. Fico contente por este resultado, porque a experiência era inédita na blogosfera portuguesa (com a tentativa anterior da chegada da Huygens a Titã). Resultou por mérito dos leitores do Abrupto e da sua colaboração.

Agradeço a todos as felicitações enviadas.
 


META-DEBATE 48

Será que alguém se dá conta de que a avaliação dos estados de espírito feita a partir de indícios posturais e faciais é tão falível e que é o terreno mais fértil para a expressão de afiliações (já convencidos), para a bazófia (excesso de confiança) e o enviesamento do falso consenso (pensar que a maioria pensa como pensa o próprio que enuncia a avaliação), ambas distorções da capacidade de avaliação? Exemplos? Vide o debate que decorre no pós-debate na Sic Notícias: os pontos extremos são Luís Delgado e António José Teixeira, os restantes correspondem a posições degragées que se colocam no meio curso e que, assim, parecem mais imparciais.

(Miguel Oliveira)
 


META-DEBATE 47 - BALANÇOS (2º SÉRIE)

O debate foi fraco, muito fraco. Que coisa mais artificial (formato incluído). Novidade zero, chama nenhuma.Refiro-me ao espectáculo, claro. Porque quanto à avaliação dos candidatos, estamos conversados.
Se bastasse saber argumentar para governar bem, o Eng.º Guterres nunca teria abandonado o barco. Ainda assim, diga-se que Sócrates, foi apenas igual a si próprio. Santana, nem isso...

(Américo de Sousa)

*

Depois de ver o debate, e na sequência de alguma coisa que escrevi em outro espaço (blog Alhos Vedros ao Poder) acerca da polémica em torno do papel da Igreja e outros grupos de pressão na sociedade, vi Sócrates e Santana a uma outra luz, que já entrevira mas não de forma tão nítida.
Sócrates é claramente o testa-de-ferro de uma importante federação de interesses e grupos de pressão que se viram ameaçados por um Santana que é notoriamente um atirador furtivo, sem tropas de qualidade suficientes para o secundar e sem a almofada de nenhum dos mais fortes daqueles grupos a proteger-lhe a rectaguarda.
Batido como Primeiro-Ministro, batido no próprio debate, Santana vai acabar mais só do que nunca quando o PSD não encontrar nada nele, nem o potencial líder carismático capaz de ultrapassar o desalinhamento em relação aos interesses, mobilizando o eleitorado.
Santana já sabe que vai perder e que, desta vez, nada o vai salvar. Do outro lado, não está um sobranceiro e mal-preparado João Soares como nas eleições para a Câmara de Lisboa.
Sócrates não é um outro Santana, como o acusaram. É um político cerebral e mecânico, que soube tocar em pontos sensíveis ao centro e esquerda (como sublinhou Luís Osório ao intervalo na Dois) ao longo do debate, com o objectivo de não alienar nenhuma franja do seu eleitorado potencial.
Paulo Portas também já sabe que Santana vai perder e tenta, a todo o custo, ganhar com isso deslocando indecisos do centro para a direita, sublinhando com clareza a diferença do seu comportamento em relação aos últimos líderes do PSD - um Durão que foi à sua vida e um Santana que não sabe da dele. Toda a sua campanha, incluindo um piscar de olho aos socialistas em questões "estruturantes", destina-se a sublinhar uma postura merecedora de algum poder.
Por tudo isto e por momentos, tive pena de Santana.
Pensou que pudesse escapar sem o beneplácito dos "poderosos".
Se é verdade que ele se mostrou claramente incompetente como Primeiro-Ministro, incapaz de mobilizar no seu partido uma massa crítica capaz, também não deixa de ser verdade que todos os ajudaram a mostrar o pior de si mesmo: a impreparação, acrença no golpe de asa à última da hora. O último prego no seu caixão foi a tentação de se mostrar moderno ao abrir a porta ao debate de questões como a eutanásia e a clonagem. A desorientação que demonstra é natural em quem vê o chão fugir-lhe debaixo dos pés e não vê qualquer hipótese de futuro.
Por estranho que pareça, ou talvez não, poderá ter sido efectivamente a sua não dependência em relação a alguns "poderes" que o condenou.
Mas, não sei se percebeu que esses poderes não foram propriamente os da Banca, dos Senhorios ou outros que vislumbramos a olho nu.
Se calhar, bem no fundo, ele acabou por não ser condenado pelas razões justas, nem por aquelas que à primeira vista parecem.
Será que ele já o percebeu ?

(Paulo G.)

*

Dois candidatos na defensiva só poderiam proporcionar um debate, no mínimo, desinteressante. Mesmo quando, aparentemente, atacavam, foi nítido que o objectivo era a defesa daquilo que já sabiam que o oponente iria dizer na primeira oportunidade. Tudo muito previsível. Ambos sabiam que o outro sabia que eles sabiam a questão que se seguia. Não foi umdebate: foi revisão de matéria dada!

(Jorge Santos)

*

Ao analisar apenas do ponto vista eleitoral quem apresentou propostas que mais seduzem, no geral acho que houve um empate, porque ninguém aprofundou os temas sensíveis, embora tenham dado pistas.José Sócrates arrancou melhor. Tinha tudo a seu favor. A forma como está a ser feita a campanha do PSD, os boatos que em nada dignificam a vida política e uma confortável vantagem nas sondagens. Mas cedo começou a perder terreno. Teve constantemente a vincar a ideia do crescimento económico, do emprego, das finanças públicas e do plano tecnológico, mas como são áreas em que a responsabilidade socialista do fracasso é deveras superior à da coligação foi perdendo confiança ao longo do debate e transmitiu muita irritação quando foram sucessivamente refutadas e apontados caminhos de futuro. Santana Lopes desmontou o plano tecnológico ao dizer o que já está a ser feito actualmente e não como uma miragem de futuro, assim como, o conhecimento que demonstrou ter das diversas pastas, como a imagem calma e segura que transmitiu, surpreendeu-me pela positiva, porque não tinha sido assim até aqui. Até as chamadas questões da modernidade, embora o seu nome seja discutível, que normalmente são caras à esquerda, foram abordadas com muito maior naturalidade e frontalidade por Santana Lopes.

Pela irritação e incómodo que sentiu, pela falta de credibilidade que tem para apontar soluções nos temas que colocou no centro da sua agenda, por não ter conseguido discutir o passado, por se comprometer muito pouco, José Sócrates perdeu o debate mais por demérito próprio do que por mérito de Santana Lopes.

(Roberto Reis)

*

O que os comentários mostram é que ninguém vai mudar o seu voto depois de ouvir o debate de hoje entre um socialista convicto JS e um socialista envergonhado PSL. E já agora o que dizer da promessa de colocar 1.000 jovens licenciados nas PME ? Se os patrões os quisessem não os teriam já ido buscar ? O PS sabe mais de empresas que os próprios donos ? Nem o BE se lembraria de tamanha aldrabice.PSL não soube aproveitar os erros do adversário " escutas telefónicas às mulheres que abortam !!!" e o "saem 2 entra 1" que só significa que o Estado deixa de ter encargos com 2 funcionários para passar a ter com 3. Estamos todos anestesiados, até o Dr Pacheco Pereira que só realça os erros de PSL.

(Jorge Bento)
 


META-DEBATE 46 - BALANÇOS

PSL esteve melhor na primeira parte. JS mais calmo na segunda, mas sem dominar. No "final statement", JS pareceu melhor que PSL. Durante o debate os dois tiveram tendencia a resvalar para o populismo, mas estou em crer que o formato favoreceu JS, mantendo o PSL com "redea curta". Teria sido melhor se os candidatos tivessem mais tempo para expor as suas ideias e debater entre eles. Nao me parece que tenha havido um vencedor.

Andre Faria

*

Muito pouco. Educação nada, formação nada, saúde nada.
As perguntas formuladas não ajudaram, foram todas evidentes, permitindo aos intervenientes "debitar" as lições relativamente bem estudadas.
Não sei se há perdedor. Na minha opinião, vencedor não há.

(Maria Manuel)

*

A única elevação do debate foi o décor do estúdio e a solenidade dos jornalistas da SIC. Está tudo criado para o debate mas faltam as regras da disputatio e sobretudo os antagonistas (ainda assim, menos mal PSL do JS). Será que salvando a prosódia tão má, tão má de Sócrates ganhávamos um adversário?! Parecia tão simples "dominar" PSL, e no entanto..... Mas que penoso o tom popularucho de PSL "falando pro povo"!!

(Paula Lopes)

*

PSL não se safou da falta de credibilidade e foi mais retórico, parece mesmo viver noutro país quando afirmou que o pais está muito bem, que está melhor, diz que tem um sonho mas para o país é um pesadelo, insiste que ninguém põe em causa as decisões deste governo JS não aproveitou as fragilidades da coligação PSD/CDS, foi em geral mais positivo e construtivo

(antonio)

*

O argumento de que são os mesmos do PS a voltarem ao Governo é muito forte.
Penso que as pessoas se lembram dos últimos anos do Governo Guterreres.
O argumento dos últimos meses de Governo também é muito forte. Ninguém gostaria de voltar a ver coisas que se passaram no XVI Governo Constitucional.
Empate? Penso que não. Vantagem, ainda que ligeira (e com efeitos
discutíveis) de PSL.

(Rui Esperança)

*

Em relação ao debate acho que quem ganha é Paulo Portas, por incrível que pareça.

Fica-se com a sensação que se ele lá estivesse tinha dizimado dois candidatos a Primeiro-Ministro que com condições similares ao modelo de debates das eleições americanas nada conseguiram explicar com um mínimo de profundidade e clareza.

Demonstra que o deficit de produtividade abrange igual e claramente os actuais lideres políticos, até um simples debate serve para observar a diferença de capacidade e preparação dos políticos portugueses, em comparação com a performance de pseudo inculto-mentecaptos como George Bush.

Um abraço da Irlanda,

(Ricardo Carvalho)

*

Sobre o formato do debate:

- muitas questões importantes ficaram por abordar (a política Europeia, o real significado dos choques "tecnológico" e de gestão), enquanto uma importância despropositada foi atribuída a aspectos relativamente secundários (a campanha e os boatos e as "questões fracturantes")

- há uma tendência por parte dos candidatos para "debitar a lição", dando pouca visbilidade à capacidade argumentativa e ao efectivo domínio dos "dossiers" por parte dos candidatos

- embora as questões formuladas pelos jornalistas fossem relativamente concretas, contribuiram para isolar artificialmente a questão do contexto mais geral (crise orçamental e pacto de estabilidade, emprego e sustentabilidade do modelo económico, etc.)

- este formato tem a virtude de delimitar as derivas retóricas garantindo uma cobertura mais homogénea dos vários temas, mas às vezes fica-se com a sensação de que as questões são apenas afloradas (os jornalistas nem sempre aprofundaram suficientemente as questões durante o contraditório)

- seria útil dispôr entre o painel de jornalistas de alguém que estivesse mais atento às imprecisões, erros e omissões (deliberadas ou acidentais) dos candidatos.

Há virtudes que merecem ser desenvolvidas e melhorias que podem / devem ser introduzidas. Todavia, considero que as vantagens superam os inconvenientes.

Uma nota final para dizer que felizmente existe a TSF, de outra forma teria sido impossível seguir (oralmente o debate). Pergunto-me se a RTP vai colocar a versão vídeo no site. Lamentávelmente os vídeos da SIC só estão disponíveis aos assinantes do SAPO (localizados forçosamente em Portugal). Mais uma demonstração da real ausência de regulação independente em Portugal (reféns dos dos interresses instalados e em particular da PT)

(Carlos Oliveira, Londres)
 


META-DEBATE 45

A maior desilusão foram os entrevistadores. De PSL e JS não se esperaria mais do que isto, mas de comentadores/entrevistadores como JGF, MFP e, principalmente, RC seria de esperar mto mais. Penso que foram vítimas do formato que constituiu um colete de forças, mais para eles do que para a dupla JS/PSL, onde se sentiam manifestamente pouco à vontade.

(JC)
 


META-DEBATE 44

Estão a chegar ao Abrupto dezenas de mensagens, e centenas de leitores estão em linha, de vários países da Europa, das Américas e de Macau. Vou reler o correio, ver o que é relevante e colocar alguns balanços enviados.
 


META-DEBATE 43

Boa resposta de JS ao tentar afastar do debate as chamadas "questões fracturantes" e denunciar a estratégia de PSL. Alás a contra-réplica de PSL é mal estruturada. Todavia, de modo geral PSL apresenta um discurso mais fluente. JS tem um discurso demasiado plástico ("debita a lição") denunciando algumas dificuldades não só na organização do discurso (falta de espontaniedade, excesso de repetições) como na articulação vocal.

(Carlos Oliveira)
 


META-DEBATE 42

A verdade está à vista: um debate envergonhado, talvez propositadamente escurecido e baço no que respeita a cenário, para combinar com os dois "líderes", frases feitas e decoradas com afinco para perguntas previsíveis e repetitivas, soluções solúveis e vagas para problemas sólidos e reais, o reflexo de uma campanha amorfa de conteúdo e "rica" de teatralidade. A dura realidade de dois partidos, cujas faces visíveis convergem na falta de carisma, ideias e capacidades.

(José Barata)
 


META-DEBATE 42

Precisamos muito de uma coisa como o FactCheck.org.
Não só era útil ter uma organização independente que verificasse e, sendo caso disso, desmentisse os factos alegados pelos candidatos, como talvez fosse uma maneira de fazer a universidade prestar um serviço ao público e deixar de contemplar o umbigo.

(PVS)
 


META-DEBATE 41

A declaração final de PSL foi um desastre. A de JS melhor preparada, menos dispersa e reactiva.

*
Pelo contrário, a intervenção final de JS foi completamente de plástico!
A de PSL foi mais bem preparada e propositadamente dispersa, para aparentar expontaneidade...
(Jorge Nuno Silva)
 


META-DEBATE 40

O Primeiro Ministro José Sócrates parece muito mais à vontade do que o Líder da oposição Pedro Santana Lopes...

(Alvaro Martins)
 


META-DEBATE 39

Penso que fica a ideia de que, com outros protagonistas, o PSD poderia ganhar estas eleições por KO. Ou então com os mesmos protagonistas mas com mais (muitos mais) debates televisivos.
Mas este modelo de debate, verdadeiramente, não dá para atestar nada. Nem sequer para fazer juízos posteriores sobre as promessas feitas. Fica pouco na memória das pessoas por causa do pouco tempo e do ritmo de "parada-resposta".

(Rui Esperança)

 


META-DEBATE 38

J. Socrates apesar de hirto a dominar os dossiers. Em relação à Segurança Social não teve tempo de explicar que o plafond não é uma certeza. è uma hipótese de trabalho já muito contestada. Estes debates pecam por ser curtos e não deixarem explicar as questões ao fundo para as pessoas perceberenm quão complexas são os temas dos quais dependem a sua qualiudade de vida.

Acabo com um comentário aos comentaristas. São demasiado supérfulos e dizem fait-divers.

É pena, compete-lhes também a eles estudar mais.

(Maria das dores ribeiro)
 


META-DEBATE 37

Com a oportunidade do debate ser televisionado em dois canais simultaneamente, como é que ninguém se lembrou de em pelo menos um, se fazer uma tradução para deficientes auditivos?

(João Nabais Antunes)

*

O debate está a ser traduzido em linguagem gestual na 2:

(SARA Caixinhas)
 


META-DEBATE 36

Até agora só concluo que são ambos bons oradores.

Quanto ao conteúdo só me apercebo que ambos fogem a questionar as promessas do outro, tendem a "aumentar" a parada. Indo por outro caminho... óbvio, mas é pena que nenhum encare a verdadeira situação do país.

(Luis Vaz de Carvalho)
 


META-DEBATE 35

O Engº Sócrates "esquece-se" de esclarecer um "pormenor": um funcionário público reformado, com tempo completo, custa tanto ao Estado como um no activo.

(Maria Manuel)
 


META-DEBATE 34

Os simpatizantes do PPD/PSD comentam que PSL é bom e os do PS acham que JS é o melhor: Como no Sporting e no Benfica.
Viva as cabeças em formato de bola.

(Manuel Ferreira)
 


META-DEBATE 33

Parece um jogo de ténis entre amadores, a ver se o adversário falha a bola primeiro, para marcar pontos. Lento, lento, lento...
PSL saíu-se mal na fiscalidade. A economia não permite boas perspectivas de receita. O jogo dos números dos impostos cobrados não convence.
Falta de réplica de JS.
Esperava melhor. Dos dois.

(João Paulo Martins)
 


META-DEBATE 32

PSL esforca-se por citar numeros e passar uma imagem de competencia; parece calmo. Se nao conhecessemos os ultimos quatro meses, talvez nos deixassemos enganar... Socrates parece tenso e pouco a vontade, por vezes soando agressivo. Nem parece que leva mais de dez pontos de avanco nas sondagens.

Andre Faria (debate seguido via radio online)
 


META-DEBATE 31

JS saltou logo da cadeira e afastou-se de Santana.

(José Alegre)
 


META-DEBATE 30

PSL sobre as matérias "morais" revela como elas foram coladas à última hora para justificar a questão do "casamento dos homossexuais". Ignora o muito que já está decidido e o trabalho já realizado na Assembleia.

 


META-DEBATE 29

O que está a acontecer com o seu blog é fantástico, os portugueses mostram um grande pessimismo em relação ao futuro, mas este baseia-se em inovação e boas ideias, e nesta área não temos de ter complexos, é na realidade impressionante o que está a acontecer "online" mundialmente com cerca de 180 utilizadores espalhados pelos Estados Unidos, Canadá, Brasil, Moçambique (!), Macau, e pela Europa quase toda, é único !

Creio que temos de ter grande confiança relativamente ao futuro.

O debate tem sido elevado e não fica atrás dos debates Presidenciais nos Estados Unidos, os 2 candidatos a PM mostram um bom conhecimento dos assuntos o que revela tb uma evolução significativa em relação ao passado.

(Rui Martins)
 


META-DEBATE 28

A “entourage” do PSD tinha razão numa coisa: Eram precisos mais debates.

(José Mesquita)
 


META-DEBATE 27

JS tem um discurso mais claro, directo, frontal, combativo. Negativo: a tensão da voz e no discurso

PSL mais defensivo, com um discurso menos linear. Alguns apartes para destabilizar o adversário e mais à vontade com as câmaras.

(José Mesquita)
 


META-DEBATE 25

Pormenor FULCRAL relativamente à questão do princípio genérico "por cada dois funcionários públicos que se reformam, só entra um": as necessárias reestruturações implicitas para tornar este princípio sustentável, poderão ser feitas em tempo útil?

####

JS escuda-se em mais estudos para não ter que anunciar medidas impopulares relativamente à questão da (in)sustentabilidade da Segurança Social.
PSL assume claramente medidas impopulares relativamente à mesma questão...

(Helder Alves)
 


META-DEBATE 26

Tenho a certeza que há partes do debate, na parte económica, em que nenhum dos dois ouviu o outro.
 


META-DEBATE 23

Não sei se lhe passou despercebido, mas PSL cometeu um erro ao falar sobre as receitas fiscais e despesa pública.

As receitas fiscais de 2004 -- 33000 milhões de Euros -- não são ca. 1/3 da despesa pública, como disse PSL, mas metade. Segundo estimativa do relatório do orçamento de Estado para 2005, a despesa pública total é de ca. 67000 milhões de euros (47,2% do PIB).

Como confiar num Primeiro-Ministro que não conhece com precisão o valor da despesa quando a estabilização das finaças públicas devia ser a prioridade do Governo? E como confiar num candidato a Primeiro Ministro que não o corrige de imediato?

(FS)
 


META-DEBATE 23

O debate do stress. O modelo achado para o debate não leva a lado nenhum..
Não sei se ainda haverá muita gente a ver-ouvir

E agora finalmente não houve réplica ...

(JCPereira)
 


META-DEBATE 22

PSL defende o principio de “não tocar nos direitos adquiridos”. Fica-lhe bem, mas talvez já não vá a tempo de (re)ganhar os votos dos trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos.

(Pedro Martins)
 


META-DEBATE 21

PSL não se saiu mal da questão do aumento das pensões. JS parece, por vezes, não ter argumentos para contrapor o seu adversário.
No que diz respeito à função pública, o que se esperava: nenhum dos dois, apesar das várias teses apresentadas, parece ter uma solução ou proposta viável para um ds maiores poblemas do país.

(Helder Beja)
 


META-DEBATE 20

Debate: PSL a surpreender pela positiva: mostra estar melhor preparado e, sobretudo, adaptar-se muito melhor a este tipo de debates. É mais "real".
JS: plastificado. Parece pouco à vontade. Menos experiência.
A ver vamos se ainda muda.

(Rui Esperança)

Se PSL se agita mais um bocadinho lá se vão os auxiliares de memória que lhe prepararam...

(João Paulo Martins)


 


META-DEBATE 19

A discussão sobre a segurança social foi boa, e menos adversarial do que parece.
 


META-DEBATE 18

Quem os viu e quem os vê. Na RTP1 a sintonia era mais usual. O quanto divergem agora...

(Fernando Gonçalves)
 


META-DEBATE 17

As perguntas do editor de economia da SIC são muito bem formuladas. PSL responde-lhes bem, mostrando ter-se preparado.

*
As perguntas do editor de economia da SIC são muito bem formuladas. PSL responde-lhes bem, mostrando ter-se preparado.
este comentário é bem a prova de que não é nada disso que se espera habitualmente de PSL
(antonio)
 


META-DEBATE 16

Estas "propostas" referentes à pobreza dos "idosos" é uma clara mudança relativamente à politica do rendimento minimo, e destinada a ocupar um "nicho" que o drº Paulo Portas ocupou à una anos atrás.

(Pedro Jorge)
 


META-DEBATE 28

Crise, Qual crise?
Ambos esperam que a economia cresça para financiar o aumento do Estado.
Perguntados se cortavam serviços ou não aumentavam a função pública, ignoraram a primeira e juraram aumentar a função pública. Mas prometem aumentar pensões aos pobres, pagar estágios profissionais, etc, etc...
Estes ainda não se aperceberam do tsunami.

(António Alvim)


 


META-DEBATE 14

JS vai com o discurso demasiado decorado e mostra por vezes dificuldades em adaptar a agulha aos argumentos de PSL. demonstra ser demasiado plástico

PSL não se conseguiu desenrascar do problema do "colo".

e viva a rádio online, pois sem ela não ouvia o debate.

Abraços desde Bona,

(Gonçalo)
 


META-DEBATE 15

Nunca tinha reparado nisto até hoje, mas creio que a voz de Santana Lopes passa mal quando interessa mesmo ouvir o que ele está a dizer. Fala de uma forma monocórdica, sem picos de entoação (muito parecido com o do António José Seguro - será das escolas das juventudes partidárias?), como se tivesse a boca cheia de berlindes. Parece contentar-se com o tom de voz e esquecer a melodia. Sócrates está um bocadinho melhor nesse aspecto e introduziu um elemento de indignação, que se nota mesmo quando o ruído da sala abafa o que diz.

(António Ferreira)

No discurso socrático saiem bolhas de ar que lhe roubam as sílabas.

(Paula Lopes)
 


META-DEBATE 12

JS diz que todos ouviram o que PSL disse em Braga.

O problema é que ninguém (Portugueses) ouviu as alegadas declarações relativa aos "colos". O que de resto acho estranhíssimo dada a cobertura mediática da campanha.
O que tivemos foi um artigo/novela e a partir daí... Todos os meios de comunicação social replicam essas palavras.
Parece-me que PSL se defendeu muito bem dos ataques de JS. (muito melhor do que estava à espera)

(Helder Alves)
 


META-DEBATE 13

Começou o debate das finanças e impostos sem grandes novidades. Demagogia de ambos. Ambos fazem propostas que implicam mais despesa.

 


META-DEBATE 11

Ao insistir no "profundo respeito pelas opções pessoais" de cada líder partidário, e ao pedir logo a seguir um pedido de esclarecimento a Sócrates da sua posição sobre o casamento homossexual, PSL alimenta indirecta mas eficazmente o boato, desta vez na presença do visado.

(Paulo Azevedo)
 


META-DEBATE 10

Quem está à frente das sondagens ... não tem que fazer papel de vítima...

(Tiago Azevedo Fernandes)
 


META-DEBATE 9

PSL puxou o assunto do boato para dizer que é uma vítima dos boatos.
E quanto tempo até (...) apresentar as condolências à família do Adriano Cerqueira ?

Socrates abandonou a palavra "indigno"

percebeu o erro

e nega o boato : "mentiroso"

(Mário Almeida)
 


META-DEBATE 8

Mal filmado: não se vê o que os debatentes mostram. JS mostra o cartaz da JSD contra ele e não se vê.

PSL diz que no cartaz se escreve "sabem quem é o eng. Sócrates?" : esqueceu o enfático "mesmo".

Sempre que JS acentua a "propaganda negra" revela a fragilidade de PSL.
 


META-DEBATE 7

PSL tem razão em queixar-se de que a sua vida privada é usada contra ele, mas também é verdade que ninguém a expôs mais publicamente na imprensa cor-de-rosa.
 


META-DEBATE 12

Como neste novo modelo os candidatos só têm 2,5 minutos para responder, os jornalistas repetem vezes sem conta a mesma pergunta!

Já lá vão 20 minutos sobre o mesmo tema!

(Pedro Martins)





 


META-DEBATE 6

Temas de JS : "juízo sobre os últimos três anos" e propostas. Palavra-chave: "mudança".

Temas de PSL: informação "agressiva", défice de debates, “economia, finanças, moral”, boatos: "eu tenho vinte anos de boatos em cima".
 


META-DEBATE 5

Saber quem vem com quem seria mais interessante do que saber a cor das gravatas. A escolha dos conselheiros é reveladora.

Do PS está o porta-voz.
 


META-DEBATE 4

Santana Lopes (PSL) sugere que o modelo do debate está feito para que "ninguém perca ou ganhe", o que talvez possa ser verdade. Vamos ver.
 


META-DEBATE 3

Quando a discussão se centrar em “hoje o que eu faço, vocês fizeram ontem”, ou qualquer outra variante de “equilíbrio” deste tipo, dando a entender que todos fazem o mesmo, ou ninguém (o outro) não tem autoridade para falar, está-se na politiquice. Ambos os partidos já fizeram tudo o que diziam que não faziam e vice-versa e não é por aí que se avança muito na discussão.
 


META-DEBATE 2

As perguntas de João Miranda no Blasfémias.
 


META-DEBATE 6

Coreografia: PSL cumprimentou primeiro os jornalistas, depois José Sócrates (JS).

 


META-DEBATE 1

O modelo do debate parece-me demasiado rígido para um frente a frente, mas pode ser que resulte. Às luzinhas preferia um modelo como o do relógio do xadrez, de modo que cada um pudesse gastar o seu tempo na matéria que considerasse mais relevante, o que é também um indicador eleitoral.
 


META-DEBATE: O ABRUPTO EM DIRECTO DURANTE O DEBATE SANTANA - SÓCRATES

A partir das 20.30, ou até um pouco antes, o Abrupto iniciará uma série de comentários ao debate em tempo (quase) real. Não se trata de saber quem "ganha", porque não é esta a escola da casa, mas de comentar o que vai sendo dito, a pertinência das perguntas, sugerindo perguntas (uma sugestão retórica, mas que pode suscitar a percepção do que falta), colocando em linha mensagens entretanto recebidas dos leitores.

Não sei se resulta, porque ver com atenção não é compatível com escrever ao mesmo tempo, mas é uma experiência de comentário rápido que vou fazer.

O endereço de e-mail vai estar em aberto para acrescentar comentários, sabendo os leitores que se seguem as regras editoriais habituais no Abrupto.
 


NOVIDADES

no Abrupto a partir da tarde e uma iniciativa inédita na blogosfera. Até breve.

2.2.05
 


APRENDENDO, PARA UM PAÍS EM ESTADO DE NECESSIDADE, AS BOAS MANEIRAS COM O SR. JOÃO FELIX (VIA RAMALHO ORTIGÃO) - 2

Tratando do modo de proceder à mesa do jantar faz o Sr. João Félix Pereira duas observações muitíssimo sábias.

A primeira é que não tomemos pitada de rapé pelo meio das coisas que estivermos comendo.

Compreende-se todo o alcance desta advertência, reparando-se, por um só momento que seja, nos equívocos a que podia dar origem a concorrência do rapé com os acepipes, resultando por exemplo lançar-se a pitada sobre a salada e meter-se no nariz beterrabas!

A segunda advertência é que nunca metamos bocado nenhum na boca enquanto não tivermos engolido o bocado antecedente. Ninguém imagina sem o ter experimentado quanto importa ser cauteloso na matéria deste capítulo! Metendo na boca os bocados sem tomarmos a deliberação de os irmos sucessivamente engolindo, chegamos por espaço de tempos a uma indefinida aglomeração de bocados dentro da nossa boca. As pessoas que insistem, por tenaz grosseria, em não engolirem os bocados que vão metendo consecutivamente na boca caem, ao cabo de alguns dias dessa terrível incúria, na dura necessidade de depositarem os bocados antigos que tenham entre a maxila superior e a maxila inferior, a fim de receberem bocados novos. Quando isto haja de se fazer convém que se tenha em vista o que o Sr. João Félix discretamente consigna com respeito aos escarros, isto é: que tais esvaziamentos se façam o menos que ser possa sobre os penteados das pessoas que nos cerquem, e muito mais particularmente quando estas tenham tido a precaução de nos advertir de que tais depósitos feitos sobre as suas cabeças lhes inspirem ideias asquerosas. Neste caso, toda a insistência da nossa parte correria o perigo de ser taxada de menos cortês.

Depois do que fica exposto nada mais nos resta para aprender do modo como nos devemos apresentar na sociedade, a não ser o que o mesmo Sr. João Félix nos determina com relação ao nosso corpo, e isto importa muito que se saiba de cor. Vem a ser:

"Conservemos direito o nosso corpo, qualquer que seja a sua postura, em pé, sentado, de joelhos: não inclinemos a cabeça, já para um, já para outro lado: se nos for preciso fazê-lo, façamo-lo com toda a gravidade."

Seria muito para desejar que no grémio das sociedades cultas se conhecesse que tal doutrina começava a frutificar, ouvindo-se de quando em quando as seguintes vozes:

"Meus senhores e minhas senhoras, permitam-me vossas senhorias ou vossas excelências (segundo o tratamento que lhes convier pelas disposições a tal respeito do capítulo VII do grande livro do Sr. João Félix Pereira sobre a civilidade) que eu lhes exponha um caso. Achando-me desde que entrei nesta sala com a cabeça voltada a N.Nº. - ponto A - e acabando de ser chamado a N - ponto B - pela ilustríssima e excelentíssima senhora D. Joaquina, espero que a sociedade não tome por desfeita o excesso aparentemente inexplicável em que vou romper inclinando levemente a cabeça do ponto A para o ponto B."

E só depois de havida a competente vénia dos circunstantes, o suplicante se permita inclinar-se levemente a D. Joaquina.

É o que pedem a morigeração e a decência.
 


APRENDENDO, PARA UM PAÍS EM ESTADO DE NECESSIDADE, AS BOAS MANEIRAS COM O SR. JOÃO FELIX (VIA RAMALHO ORTIGÃO) - 1

A arte de regular as maneiras por meio de uma combinação feita entre a nossa organização e a nossa vontade é uma das mais importantes coisas que se devem conhecer. Há homens que, sem plausivelmente sabermos porquê, alcançam tudo quanto querem nas pretensões do Estado, nas transacções comerciais, nas atenções das salas. Emerson, o célebre escritor americano, observando que os indivíduos que mais frequentemente obtêm esses triunfos não são os mais inteligentes, nem os mais belos, nem os mais honrados, averigua com muita lógica que o sucesso das nossas aspirações na sociedade depende principalmente do nosso porte. Por tal razão, Emerson define as maneiras - talento de dominar.

No modo como nós nos vestimos, como falamos, como olhamos, como nos movemos, há efectivamente uma espécie de indefinido magnetismo a cuja influência não pode furtar-se quem se lhe sujeita.

Napoleão I aprendia em lições particulares com Talma o melhor modo de traçar o manto e de se sentar no trono.

Madame de Girardin, escrevendo na Presse as cartas do Vicomte de Launay, deu aos seus compatriotas as mais delicadas regras do maintien. Balzac deixou entre os seus trabalhos inéditos um importantíssimo capítulo intitulado A teoria do modo de andar.

Carlos Dickens, por ocasião de uma viagem aos Estados Unidos, achou útil explicar aos Americanos, entre outros preceitos de civilidade, que não era de bom gosto, quando se estão vendo estátuas, bater nos mármores com as bengalas.

Em Portugal todas essas coisas se aprendem nas escolas de instrução primária, e da disciplina formada do conjunto desses preceitos são os alunos devidamente examinados nos liceus nacionais.

O mestre das maneiras portuguesas não é Talma, nem Madame de Girardin, nem Balzac, nem Emerson, nem Carlos Dickens. É simplesmente o Sr. João Félix Pereira, médico, engenheiro civil e agrónomo.


(continua)
 


AR PURO


Gainsborough

(Seguindo uma sugestão de Pedro Burmester.)
 


EARLY MORNING BLOGS 420

The Meditation of the Old Fisherman


You waves, though you dance by my feet like children at play,
Though you glow and you glance, though you purr and you dart;
In the Junes that were warmer than these are, the waves were more gay,
When I was a boy with never a crack in my heart.

The herring are not in the tides as they were of old;
My sorrow! for many a creak gave the creel in the cart
That carried the take to Sligo town to be sold,
When I was a boy with never a crack in my heart.

And ah, you proud maiden, you are not so fair when his oar
Is heard on the water, as they were, the proud and apart,
Who paced in the eve by the nets on the pebbly shore,
When I was a boy with never a crack in my heart.


(Yeats)

*

Bom dia, with never a crack in my heart!
 


NOTÍCIAS DO ABRUPTO

Hoje o Abrupto teve mais de 11000 "pageviews" (segundo o contador mais sóbrio), com todos os outros indicadores mostrando uma afluência excepcional, acontecendo, variadíssimas vezes ao dia, que mais de sete dezenas de leitores o consultavam simultaneamente em variados países, com relevo para Portugal e para os locais da diáspora portuguesa. Não custa compreender que isto é um duplo reflexo das notícias nos média clássicos a partir dos textos do blogue, e sinal da campanha eleitoral, mas revela também que o debate que aqui se trava não tem voz equivalente fora da blogosfera.

Muitas mensagens foram e continuam a ser recebidas com cabimento na correspondência de leitores associada à "crise de representatividade". Como escreve uma militante do PSD, identificada e com número de filiada, numa mensagem enviada ao Abrupto:

"A única coisa de reconfortante que verdadeiramente me aconteceu nestes últimos dias foi constatar que o universo de militantes e simpatizantes do PSD que partilham o meu desepero sobre a actual representação vai muito além do meu círculo de amigos."

Logo que possa prepararei uma segunda série.

1.2.05
 


DRAMATIZAÇÃO

Era o que o PS mais precisava para se aproximar da maioria absoluta e não tinha até agora conseguido. A campanha do PSD do "colo" e do "sabemos quem é / não sabemos quem é" deu-a de mão beijada ao PS.
 


UMA MEDIDA CORAJOSA

é a decisão do Ministro das Finanças de mandar executar as dívidas ao fisco dos clubes de futebol em plena campanha eleitoral, se for mesmo para aplicar. Já não digo que seja uma medida do governo, porque tudo indica que cada ministro está em roda livre.
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: CÊNTIMO OU CENTAVO
Enviei, em tempos, email ao Banco de Portugal protestando contra a adopção do termo
cêntimo quando bem se poderia dizer, em Português, um Euro e cinquenta centavos (1,5 €). Note-se que o termo admite submúltiplos, mil avos, e que eu saiba não há "milêntimos".

Junto envio (textualmente) a resposta do Banco de Portugal:

Ex.mo Senhor: Tem razão na observação que faz. De um ponto de vista da correcta utilização da língua portuguesa não estaria incorrecto e até (eventualmente) estaria até mais correcto. Acontece que, quiçá, por uma questão de maior proximidade linguística com as designações adoptadas nooutros países, optou-se em Portugal pela designação "cêntimos".

O Regulamento (CE) nº974/98 do Conselho, de 3 de Maio de 1998, relativo à introdução do Euro afirma na sua alínea (2): "...que a designação dada à moeda europeia será «euro»; que o euro, enquanto moeda dos Estados-membros participantes, será dividido em 100 subunidades designadas «cent»; que a definição da designação «cent» não impede a utilização de variantes deste termo que sejam de uso comum nos Estados-membro...".

Em resposta a este Regulamento, foi respondido: "...in conformity with Council Regulation 974/98, national legislation has already adopted the parallel use of the words cêntimo/cêntimos as the Portuguese terms corresponding to cent/cents(the latter being spelled out as abbreviated
forms of the first ones). (...) We would therefore encourage the Commission services to follow this route."

Com os nossos melhores cumprimentos,

Banco de Portugal - Gabinete de Informação sobre o Euro
(António de Melo)


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(...) também em tempos pugnei (creio que junto do Ministério das Finanças ou Secretaria de Estado do Tesouro) pela adopção da nossa expressão "centavo" em vez de "cêntimo"

na altura havia o argumento da conveniência de distinção entre a fracção do escudo e a fracção do euro, relevante para o êxito do processo de transição e para evitar maiores confusões na fase crítica de adaptação à nova moeda

tanto mais que o cêntimo foi a verdadeira unidade que substituiu o escudo, pela proximidade de valor, e não o euro, de moeda com o valor muito superior de 200 escudos, rectius 200$482

essa preocupação é agora relativa e na linguagem corrente refiro-me com frequência a centavos, com boa receptividade por parte dos interlocutores - por cá, pois no estrangeiro são mesmo cêntimos!

E vou acreditando que, a generalizar-se o uso corrente de "centavo", poderíamos recuperar esta nossa expressão por direito consuetudinário, enfim, pela tradição e força da linguagem popular

aliás, de há muito me intriga o facto de ainda não haver uma denominação popular para o euro, como para a antiga moeda havia "coroas", "paus", etc., sinal talvez de que o euro ainda está na fase da implantação oficial e não conquistou ainda o goto do povo
(antonio)


*
Não entendo a oportunidade do problema. Consulta-se o dicionário e encontra-se :

Centavo - s. m., centésima parte de um escudo (moeda); centésimo.

Cêntimo - do Fr. Centime, s. m., centésima parte da unidade monetária de diversos países.

Se podemos distinguir de uma forma tão simples as centésimas partes da anterior e actual moeda, por que não adoptar o termo cêntimo para o caso do euro?
(Jorge Oliveira)

*
Um destes dias a minha mulher (que é brasileira) passou um cheque de tantos euros e tantos centavos. Resultado, não quiseram aceitar o cheque. Eu lá expliquei aos senhores que a subdivisão do euro era o "cent" e que este poderia ser declinado conforme cada idioma e país achassem melhor (em Espanha, salvo, fala-se de centavos de euro). E que em Portugal sempre houve centavos e nunca cêntimos. O senhor do balcão resmungou mas aceitou o cheque. E eu agora descubro, com muita tristeza, que quem estava errado era eu, e que "cêntimo" é mesmo a designação oficial da subdivisão do euro em Portugal.

Ao contrário de outro leitor, não me preocupa o ainda não ter aparecido o equivalente à "c'roa" ou ao "pau" com o euro. É só uma questão de tempo (e, lembro-me agora, até já há quem fale em "euricos", o que é divertido). Mas chateia-me que, de forma ignorante, Portugal tenha adoptado o termo "cêntimo" (que é um galicismo) quando nada nos obrigava a isso, perdendo o que era talvez a nossa última oportunidade de recuperar o belo termo "centavo".
(Rui T.)
 


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O ASSESSOR E O COVEIRO
Sabem qual é a diferença entre a carreira de Assessor no Instituto Português da Juventude (IPJ) e a carreira de Coveiro na Câmara Municipal de Lisboa...? Ora atentai lá nesta coisa vinda no Diário da República nº 285 de 6 de Dezembro de 2004:

No aviso nº 11 466/2004 (2ª Série), declara-se aberto concurso no I.P.J. para um cargo de "ASSESSOR", cujo vencimento anda à roda de 2500 EUR (500 contos).

Na alínea 7:..." Método de selecção a utilizar é o concurso de prova pública que consiste na ...apreciação e discussão do currículo profissional do candidato."

Em contrapartida...

No Aviso simples da pág. 26922, a Câmara Municipal de Lisboa lança concurso externo de ingresso para COVEIRO, cujo vencimento anda à roda de 350EUR (70
contos) mensais. "... Método de selecção:

Prova de conhecimentos globais de natureza teórica e escrita com a duração de 90 minutos. A prova consiste no seguinte:
1. - Direitos e Deveres da Função Pública e Deontologia Profissional; 2. - Regime de Férias, Faltas e Licenças; 3. - Estatuto Disciplinar dos Funcionários Públicos.
Depois vem a prova de conhecimentos técnicos:
- Inumações, cremações, exumações, trasladações, ossários, jazigos, columbários ou cendrários.

Por fim, o homem tem que perceber de transporte e remoção de restos mortais. Os cemitérios fornecem documentação para estudo.

Para rematar:
Se o candidato tiver:
- A escolaridade obrigatória somará + 16 valores;
- O 11º ano de escolaridade somará + 18 valores;
- O 12º ano de escolaridade somará + 20 valores.

No final haverá um exame médico para aferimento das capacidades físicas e psíquicas do candidato. ISTO TUDO PARA UM VENCIMENTO DE 70 CONTOS MENSAIS!
Enquanto o outro, com 500, só precisa de uma cunha e de uma breve conversa...!!

(José Pó Vinho)

Se isto é verdade, muita coisa se explica na função pública, e será interessante ver quem é o assessor escolhido.

Nota: vários amigos de outros blogues disseram-me que o texto circulava na rede e já tinha sido previamente publicado noutros sítios. Não importa, se for verdadeiro, e tudo indica que é, vale a pena divulga-lo.

*
A propósito do comentário que acabei de ver no Abrupto (O Assessor e o Coveiro) só quero dizer que não me surpreendeu.
Isso é de facto assim há já muitos anos na administração pública. Comparem-se as exigências das provas para a categoria de Assistente Administrativo e as de Técnico Superior de 2ª Classe. O que mostra, em minha opinião, que nem todas as responsabilidades do estado da A.P. cabe em exclusividade aos governos. Cabe, sim, aos "dirigentes" que têm o poder e que nunca foram responsabilizados pelas asneiras. Seria curioso fazer-se um levantamento, que não precisaria de ser muito exaustivo, sobre os avisos de concursos no Diário da República da 2ª série para nos apercebermos das manigâncias que se fazem para conseguir meter A, B ou C na Administração Pública.
E o que dizer, por exemplo,daquele concurso para um lugar de Técnico de um Centro Regional da Segurança Social situado no norte que exigia como requisito que os candidatos tivessem 36 ou mais anos de idade?
O que se faz para meter alguém com forte cunha!!
(Anibal Barca)

*
Achei estranha a comparação e a coincidência das datas, pelo que decidi procurar no site do Diário da República (DR) se o que circulava era, de facto, verdade.

Depois de encontrados estes dois endereços:
http://dre.pt/pdfgratis3s/2004/12/2004D283S000.pdf
http://dre.pt/pdfgratis2s/2004/12/2S285A0000S00.pdf , posso dizer o
seguinte:

O senhor José Pó Vinho esqueceu-se de transcrever algumas partes do citado aviso do DR, que me parecem importantes:

"Concurso interno de acesso geral para a categoria de técnico de 1ª classe - área funcional de engenharia civil."
<- Não se trata de um concurso para assessor, mas sim para técnico de 1ª classe ->

"2 - Área funcional - competem ao técnio de 1.ª classe funções técnico-consultivas de natureza científica e técnica, exigindo alto grau de qualificação, responsabilidade, autonomia e alto domínio da sua área de especialização e uma visão global de administração, tendo em vista a preparação de tomada de decisão na área da engenharia civil."
<- A pessoa a contratar terá que ser qualificada e com formação superior ->

"7 - Método de selecção - os métodos de selecção a utilizar são os de avaliação curricular e entrevista profissional de selecção.
7.1 - Os critérios de apreciação e ponderação da avaliação curricular e da entrevista profissional de selecção, bem como o sistema de classificação final, incluindo respectiva fórmula classificativa, constarão das actas de reuniões do júri do concurso, sendo as mesmas facultadas aos candidatos sempre que solicitadas."
<- Como se pode ver, o critério de selecção está definido e pode ser visto pelos candidatos ao lugar. ->

O concurso para coveiro, publicado no DR de 03 de Dezembro de 2004, é, obviamente, uma situação diferente.
Não tem sequer cabimento a comparação.
Parece-me que o artigo (publicado em diversos blogues e até no Público) tem deturpações em relação à realidade.
(Jean)

*
Os casos dos “concursos” hoje referidos no Abrupto (que assim, e por motivos alheios à gerência, fica mais Absurdo do que Abrupto) parecem-me um bom pretexto para recordarmos que a Justiça, ou a falta dela, não passa só pelos Tribunais ao contrário do que os muito propalados “casos mediáticos” levam a pensar. Quem é excluído num concurso, quem passa horas à espera numa Repartição para lhe passarem em triplicado uma guia para pagar uma taxa, quem encontrou um papel colado na porta a notificá-lo para se dirigir com urgência à Repartição de Finanças para tratar de assunto do seu interesse quando nada deve, ou quem quer instalar um negócio e se vê afogado em burocracias irracionais e desnecessárias, sabe bem do que falo.
(RM)
 


INTENDÊNCIA

Actualizada a nota CRISE DE REPRESENTAÇÃO (3). Cada vez recebo mais correspondência no sentido daquela que tem vindo aqui a ser publicada. Concordo e discordo com algumas afirmações dos leitores do Abrupto, mas não é isso que para mim é relevante. As cartas que selecciono são aquelas em que o voto e a vida se misturam, ou que enunciam razões que são vivas no debate público dos dias de hoje. A sua publicação não significa mais do que dar expressão pública (e informação pública) sobre preocupações partilhadas por muita gente e contribuirem para o debate eleitoral. Cada um forme depois a sua opinião.

Colocado no VERITAS FILIA TEMPORIS um texto, Antes e Depois, de Junho de 1994, sobre o golpe de estado na Argélia destinado a impedir que os fundamentalistas, que tinham ganho as eleições, assumissem o poder. Penso que o texto , feito em polémica com João Carlos Espada, tem a ver com os mesmos argumentos que hoje se usam para atacar as eleições iraquianas e a possibilidade de darem origem a uma maioria religiosa xiita. O argumento hoje tem muita má fé, porque é um sucedâneo do argumento contra as eleições "patrocinadas pelo ocupante", e, levado aos seus limites, é hostil ao princípio democrático. No entanto, é semelhante ao que levou muitos países ocidentais, com relevo para a França, a aplaudirem o golpe argelino.

Continuo por isso a achar que "aprende-se mais sobre a democracia com Weber e Nietszche do que com Popper".
 


O 31 DE JANEIRO NO PORTO, DO PORTO

A ler o texto de joaomacdonald sobre o 31 de Janeiro no Barnabé.

A rua foi sempre para muitos portuenses “31 de Janeiro” quando se chamava “S. António”. Acrescento à parte histórica do texto que, durante os anos da ditadura, a oposição tentava fazer manifestações na rua com a mesma cegueira militar dos revoltosos republicanos de 1891. A rua era a menos apropriada para estas exibições de coragem: íngreme, pouco larga e propícia a ser varrida pela metralha de cima (como em 1891) e pela pancada da polícia de baixo. Os raros comícios da oposição permitidos no Porto eram no Coliseu ou no Olímpia, e a manifestação, que invariavelmente se formava à saída, tentava chegar à Avenida dos Aliados, para o que só tinha ruas com desnível. Resultado era ser “dispersada”, como se dizia, logo a seguir a meia dúzia de “desacatos”, como também se dizia na língua de pau salazarista. Como também lá andei aos "desacatos", não me esqueço.

A favor da rua diga-se que tinha (tem) uma livraria em cima, outra no meio (que eram duas coladas) e outra no fim, e, nos anos sessenta e setenta, duas das melhores lojas de discos da cidade.

*
Se não estou em erro, o local de onde os revoltosos foram metralhados em 1891 era mais amplo na altura do que é actualmente. Actualmente, aquela plataforma de onde se avista toda a rua 31 de Janeiro (bem como a dos clérigos) termina aproximadamente no prolongamento do eixo central da rua.

Quanto à cegueira dos revoltosos de 1891, creio que se pode explicar, pelo menos em parte, pelo boato que se espalhou entre eles de que tinham o apoio do oficial (cujo nome me escapa neste momento) que comandava então os militares que foram destacados para os enfrentar.

Quanto às casas de discos, creio que se está a referir à Discoteca Santo António e à Valentim de Carvalho. Efectivamente, eram muito boas, mas o que é espantoso para uma rua daquele tamanho é que nos anos oitenta e noventa havia lá ainda mais duas casas de discos, na parte de baixo.
(José Carlos Santos)
 


COISAS SIMPLES


Vuillard
 


EARLY MORNING BLOGS 419

A concha


A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.


(Vitorino Nemésio)

*


Bom dia!
 


APRENDAMOS COM EÇA DE QUEIROZ SOBRE O DIABO

Conhecem o Diabo?

Não serei eu quem lhes conte a vida dele. E, todavia, sei de cor a sua legenda trágica, luminosa, celeste, grotesca e suave!

O Diabo é a figura mais dramática da História da Alma. A sua vida é a grande aventura do Mal. Foi ele que inventou os enfeites que enlanguescem a alma, e as armas que ensanguentam o corpo. E todavia, em certos momentos da história, o Diabo é o representante imenso do direito humano. Quer a liberdade, a fecundidade, a força, a lei. É então uma espécie de Pã sinistro, onde rugem as fundas rebeliões da Natureza. Combate o sacerdócio e a virgindade; aconselha a Cristo que viva, e aos místicos que entrem na humanidade.

É incompreensível: tortura os santos e defende a Igreja. No século 16 é o maior zelador da colheita dos dízimos.

É envenenador e estrangulador. É impostor, tirano, vaidoso e traidor. Todavia, conspira contra os imperadores da Alemanha; consulta Aristóteles e Santo Agostinho, e suplicia Judas que vendeu Cristo e Bruto que apunhalou César.

O Diabo ao mesmo tempo tem uma tristeza imensa e doce. Tem talvez nostalgia do Céu!

© José Pacheco Pereira
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