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30.9.04
SCRITTI VENETI 2
Em frente ao Palacio dos Doges roda-se um filme sobre Casanova. Um pouco a frente de onde ela costumava estar, - entre as colunas de S. Marcos e S. Teodoro -, ergueu-se uma forca de brincar. Uma centena de figurantes vestidos a epoca acenam. Uma carruagem dourada esta parada em frente a um palanque com dignatarios - talvez do Conselho dos Dez. Aparato de gruas e microfones e maquinas de filmar. Os turistas a volta, as centenas. Acho que nem que o filme fosse genial o ia conseguir ver, depois de o ter visto assim. (Sem acentos)
SCRITTI VENETI 1
Na noite, tarde, debaixo de uma Lua total, coberta apenas por um véu ligeiro de humidade, com tudo silencioso, num pequeno barco. O canal desdobra-se num cenário quase impossivel de beleza morta, palazzo atras de palazzo. Esta terra verdadeiramente não existe. Não pode existir. 29.9.04
EARLY MORNING BLOGS 324
Aubade (Philip Larkin) Labuto ao dia e à noite me embebedo. Acordo às quatro e fito o mudo vão. Clareia a fímbria das cortinas cedo. Sempre ali está, vejo por ora, e à mão, a morte inquieta, um dia já mais perto, a impedir de pensar salvo por certo em como, e quando e onde hei-de morrer. Bem árida a questão: pavor absorto de morrer e 'star morto, lampeja ainda e prende a estarrecer. A mente esvai-se a olhar. Não em remorso (bem por fazer, amor por dar, mal gasto o tempo) ou em perfídia, porque o esforço de uma só vida é longo a largar lastro dos erros do começo, e talvez falhe; mas no vácuo total que sempre calhe à segura extinção indo em jornada e para todo o sempre. Não 'star cá, não ser algures e já; nada é mais certo e mais terrível nada. É um modo de ter medo que não passa com truques. Bem tentou a religião, vasto brocado musical com traça, para nunca haver morte uma ficção, e o sofisma que diz, Não pode um ente que é racional temer o que não sente, sem ver que é isso o que tememos - sem ver, provar, ouvir, tactear, cheirar, nada a pensar, a amar, ligar, o amorfo do qual não ninguém. E assim fica no fio da visão um leve desfocar, o que arrefece mais cada impulso até à indecisão. Muita coisa não chega: esta acontece e quando vem, é só medo em tamanha furna, quando sem gente nos apanha, e sem beber. Coragem não vale nada: só não assusta os outros. Pôr-se à prova não nos livra da cova. A morte é igual, gemida ou enfrentada. Já devagar o quarto a luz destapa. Qual roupeiro se pode pressentir, sempre a saber, saber que não se escapa, e a recusá-la. Um lado terá de ir. Eis telefones prestes nos fechados escritórios e acorda sem cuidados o intrincado mundo que se apraza. Céu branco como gesso; sol, nem vê-lo. Trabalho, há que fazê-lo. Carteiros, quais doutores, de casa em casa. (Tradução de Vasco Graça Moura, cortesia do próprio tradutor) * Bom dia! 28.9.04
EARLY MORNING BLOGS 323
What Almost Every Woman Knows Sooner or Later Husbands are things that wives have to get used to putting up with. And with whom they breakfast with and sup with. They interfere with the discipline of nurseries, And forget anniversaries, And when they have been particularly remiss They think they can cure everything with a great big kiss, And when you tell them about something awful they have done they just look unbearably patient and smile a superior smile, And think, Oh she'll get over it after a while. And they always drink cocktails faster than they can assimilate them, And if you look in their direction they act as if they were martyrs and you were trying to sacrifice, or immolate them, And when it's a question of walking five miles to play golf they are very energetic but if it's doing anything useful around the house they are very lethargic, And then they tell you that women are unreasonable and don't know anything about logic, And they never want to get up or go to bed at the same time as you do, And when you perform some simple common or garden rite like putting cold cream on your face or applying a touch of lipstick they seem to think that you are up to some kind of black magic like a priestess of Voodoo. And they are brave and calm and cool and collected about the ailments of the person they have promised to honor and cherish, But the minute they get a sniffle or a stomachache of their own, why you'd think they were about to perish, And when you are alone with them they ignore all the minor courtesies and as for airs and graces, they uttlerly lack them, But when there are a lot of people around they hand you so many chairs and ashtrays and sandwiches and butter you with such bowings and scrapings that you want to smack them. Husbands are indeed an irritating form of life, And yet through some quirk of Providence most of them are really very deeply ensconced in the affection of their wife. (Ogden Nash) * Bom dia! 27.9.04
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OS "POPULARES" (2ª série)
"No fundo, a inteligência humanista - as belas-artes e as letras - não sofreram durante o fascismo; a inteligência humanista pôde singularizar-se, aceitar cinicamente o jogo. Onde o fascismo esteve vigilante foi nas relações entre a intellighentsia e o povo; manteve o povo no obscurantismo. O problema que se põe agora é o de sair do privilégio - servil - de que gozávamos, e não o "ir para o povo" mas "ser do povo", viver numa cultura que tenha as suas raízes no povo e não no cinismo dos libertos romanos." (Cesare Pavese, enviado por MCP)
EXPLIQUEM-ME
Como é que é possível haver muitas centenas de pessoas a assistir às corridas ilegais, em estradas que toda a gente sabe quais são, sem a polícia o impedir, prender os condutores, tirar-lhes a carta e os carros? Expliquem-me. * "Em primeiro lugar quero manifestar alguma preplexidade pelo facto de ultimamente ter publicado alguns comentários dos seus leitores manifestamente superficiais e de baixa qualidade e que, pior, não resistem a simples leitura atenta, contrariamente ao rigor que nos habituou durante tanto tempo. (...) Mas vamos aos factos. Em primeiro lugar o facto não é novo. O JPP deve lembrar-se de na nossa adolescencia já haver os Cooper S, Datsun 1600 SSS, BMW e quejandos, de abas abolachadas, jantes de aluminio de 12 polegadas, "bolantinhos de pau", "baquets" de competição para conduzir no banco de trás, aillerons que não faziam nada, etc que tanto faziam as delicias dos meninos da linha, da Foz ou de Almada para competir até á Costa da Caparica. Na altura não se chamava "tunning" mas era e servia para o mesmo. Em segundo lugar não é verdade que estes meninos andem sempre no mesmo sítio. Variam, exactamente para fintar a policia. No caso vertente o sitio é conhecido mas é uma estrada particular (o que quer que isto queira dizer) o que obviamente não serve de desculpa. A policia não tem meios, nem materiais nem humanos, para vigiar todos este sitios ao mesmo tempo (nenhuma policia tem). Tomemos por exemplo a ponte Vasco da Gama que é um dos lugares preferidos. Normalmente os meninos reunem-se nas imediações (lugar e hora sempre diferentes e combinados por telemovel), arranjam previamente a corrida e dirigem-se para a partida de forma ordeira. Até aí nada a dizer e muito menos a fazer. Chegados ao lugar da partida esta é dada rapidamente e os 16 quilometros da ponte são precorridos em cerca de 4 minutos (a 250 km/hora). Quando o alerta é dado já estão muito para lá de Alcochete. Acrescente-se ainda que à minima desconfiança de uma espera, mandam um "batedor" para ver se o caminho está livre. Quer isto dizer que só por sorte a policia os agarra em flagrante, sendo que, neste caso, a única alternativa é uma preseguição em via pública com os riscos inerentes. (...) Parece-me isso sim que estas situações constituem aquilo a que Martim Amis qualifica, quer termos dos factos quer em termos das palavras que usamos para os descrever, de "obscenização do quotidiano". E a propósito que tal falarmos um pouco dos "tunnings" encapotados dos próprios constructores de automoveis, que à revelia das legislações da esmagadora maioria dos países (limites de velocidade) anunciam carros cada vez mais potentes e velozes? Aqui já não é preciso "tunning". Qualquer Mercedes, BMW, AUDI etc vem de fábrica com as caracteristicas necessárias. Legalmente." (Fernando Frazão) * "Tirarem-lhes a carta? O autor do acidente deste fim de semana, que vitimou n pessoas, não tinha carta!!! Como se lhe pode tirar uma coisa que ele não tem?" (Rui Aguiar) * "Por onde tem andado, com quem tem falado? Porque só com ordem explicita, senão têm medo! A saber: a) de levarem pancada; b)encontrarem um "grande" das F.A.; c)provocarem um acidente ou terem de agir com firmeza contra um desordeiro, e então, é o berreiro de jonalistas, defensores do D.H.,etc; d) baterem com o carro da policia e têm de pagar o arranjo; e) se prendem alguém têm de ir atribunal e não ganham o dia....? f)etc,etc,..........." (C. Indico) * "Acho que a razão é a mesma de haver tanta droga a circular tão livremente nas prisões. Passou a ser considerado normal e inevitável. Entrou na rotina: as pessoas amolecem e resignam-se em vez de resolverem o problema." (Tiago Azevedo Fernandes) * "Eu explico: Nalguns casos, eles são polícias. Noutros, também gostava de saber a razão de tamanha impunidade." (JCB)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: BASIL BUNTING
"(...) Bunting é, a meu ver, um dos melhores poetas ingleses do séc. XX, mas também um dos mais injustamente esquecidos, talvez por ter vivido demasiado na sombra de Ezra Pound e por lhe ter sido colado, de forma acrítica, o rótulo de "epígono". O mesmo se pode dizer em relação a outros poetas esquecidos, como David Jones, Hugh MacDiarmid ou Roy Fisher. Enfim, é todo um mundo de poesia inovadora a descobrir - mas, de preferência, bem longe dos meios académicos conservadores e cinzentos! Muito provavelmente já conhece, mas envio-lhe uns versos de um dos poemas de Bunting que mais gosto (a seguir a "Briggflatts"), "Chomei at Toyama". É uma "tradução"/adaptação comovente do célebre texto "Hôjôki" ("The Ten Foot Square Hut", na v. inglesa) do poeta japonês Kamo-no-Chomei (1154-1216): I know myself and mankind. . . . . . . . . I dont want to be bothered. (You will make me editor of the Imperial Anthology? I dont want to be bothered.) You build for your wife, children, cousins and cousins' cousins. You want a house to entertain in. A man like me can have neither servants nor friends in the present state of society. If I did not build for myself for whom should I build? Friends fancy a rich man's riches, friends suck up to a man in high office. If you keep straight you will have no friends but catgut and blossom in season. Basil Bunting, "Chomey at Toyama", Collected Poems (Oxford: Oxford University Press,1978) 70." (Daniela Kato)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE OS "POPULARES"
"Para o adepto das luzes, o termo e o conceito «povo» conservam sempre qualquer traço de arcaico, inspirador de apreensões, e ele sabe que basta apostrofar a multidão do «povo» para induzi-la à maldade reaccionária. Quantas coisas não aconteceram diante dos nossos olhos, em nome do povo, e que em nome de Deus, da Humanidade ou do Direito nunca se deveriam ter consumado! Mas, é um facto que, na realidade, o povo permanece sempre povo, pelo menos em determinada camada da sua índole, que é precisamente a arcaica, e que habitantes e vizinhos do Beco dos Fundidores, pessoas que no dia das eleições votavam no Partido Social-Democrático, eram ao mesmo tempo capazes de vislumbrar algo demoníaco na pobreza de uma velhinha, que não tinha recursos suficientes para pagar uma habitação acima do solo, de modo que quando ela se aproximava, pegavam nos filhos, a fim de os proteger contra o mau-olhado da bruxa. Se na actualidade se voltasse a entregar à fogueira uma mulher deste tipo, o que, com leves modificações da justificativa, hoje não é absolutamente inimaginável, eles iriam plantar-se atrás das barreiras erguidas pela municipalidade e olhariam, embasbacados, mas provavelmente não se revoltariam. Falo do povo, porém aqueles impulsos populares, de natureza arcaica, existem em todos nós, e para dizê-lo bem claramente, assim como penso, não considero a religião o meio mais adequado para reprimi-lo com segurança. Isso consegue-se, a meu ver, unicamente por meio da literatura, da ciência humanística, do ideal do homem livre e belo." Thomas Mann, Doutor Fausto, enviado por Paulo Almeida
EARLY MORNING BLOGS 322
Further Instructions Come, my songs, let us express our baser passions. Let us express our envy for the man with a steady job and no worry about the future. You are very idle, my songs, I fear you will come to a bad end. You stand about the streets, You loiter at the corners and bus-stops, You do next to nothing at all. You do not even express our inner nobilitys, You will come to a very bad end. And I? I have gone half-cracked. I have talked to you so much that I almost see you about me, 1Insolent little beasts! Shameless! Devoid of clothing! But you, newest song of the lot, You are not old enough to have done much mischief. I will get you a green coat out of China With dragons worked upon it. I will get you the scarlet silk trousers From the statue of the infant Christ at Santa Maria Novella; Lest they say we are lacking in taste, Or that there is no caste in this family. (Ezra Pound) * Bom dia! 26.9.04
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (6ª série)
"A propósito dos textos de José Luís Pinto de Sá, Filipe Pereira e Alvelos e Acácio Costa, gostaria de lembrar alguns aspectos técnicos que foram ignorados por estes especialistas. 1º Na realidade não existe um concurso de professores mas vários perfeitamente independentes que decorrem simultaneamente. Suponho que o número de concursos anda perto dos quarenta. Isto é, há um concurso para os educadores de infância, outro para os professores do 1º ciclo, outro para os professores de ciências do 2º ciclo, outro para profs de geografia do 3º ciclo, e por aí fora. Estes concursos processam-se de um modo independente ainda que um candidato possa sê-lo em mais do que um destes concursos. A complexidade em alguns destes concursos é muito baixa dado o número reduzido de candidatos e das suas preferências (nem é preciso fazer a colocação à mão, basta fazer o trabalho a olho). Não se compreende porque é que o ministério insiste em não dividir o problema e avançar com as colocações, por exemplo, dos professores do 1º ciclo, que em nada interfere com professores de outro grau. 2º É consensual que o problema da elaboração de uma lista ordenada é, em termos computacionais, canja. O que aconteceu no entanto, nesta 1ª fase do concurso foi um grande flop. Ora aqui não pode haver a desculpa do P e do NP ou seja lá o que for. Portanto, ao começar houve incompetência de quem fez e burrice e ignorância por parte de quem tinha de decidir o que fazer daí para a frente. 3º Parece-me que o problema só entra na categoria da grande complexidade quando o número e qualidade das vagas não pode estar rigorosamente definido antes do processo de colocações propriamente dito começar. Isto só acontece quando se está a colocar candidatos que, se forem colocados numa das preferências indicadas abrem uma vaga na escola onde estavam e no caso de não terem lugar em nenhuma das preferências indicadas mantêm-se no lugar anteriormente ocupado. Estando estes candidatos todos colocados pode-se passar a usar o tristemente célebre “algoritmo da ministra”: “Pega-se no primeiro da lista coloca-se no horário pretendido, risca-se essa vaga e passa-se ao 2º. Em termos computacionais isto entra no domínio da “canja” uma vez que é um processo completamente linear. Assim o número de candidatos e vagas que entram no processo na fase complexa não gera uma situação significativamente diferente daquela que aconteceu nos anos anteriores e por isso não implica uma solução computacional mais complexa do que aquela que foi usada com resultados positivos anteriormente." (Cândido Pereira, Professor de Ciências) * "O grande número de atestados médicos apresentados pelos professores nos novos concursos deste ano indicia ilegalidades e adultera a lista de graduação profissional, pois todos os docentes que os apresentaram têm prioridade sobre os outros na colocação, bem como prejudica aqueles que de direito reúnem as condições para tal. O número de pedidos de destacamentos por condições específicas (doença incapacitante) apresentados fala por si: em Vila Real, Chaves e Portalegre cerca de 80% dos candidatos, em Bragança mais de 50%, em todo o país 8985 docentes (Público 14 de Setembro), quase um quinto de total de 50 000 que concorrem nos quadros de zona pedagógica estão incapacitados. Está posta em causa a justiça na colocação dos docentes, há indícios fortes de fraude e poder-se-á concluir que deixou de ser necessário o mérito, pois bastará este expediente manhoso. A eventual utilização fraudulenta da figura do destacamento deveu-se a diversos factores que contribuíram para a trapalhada geral que presidiu à implementação do novo articulado legal de colocação de professores. 1. Os processos foram apresentados nos agrupamentos que aceitaram todas as situações, mesmo aquelas que a legislação não contempla. Se tivesse havido aqui uma primeira triagem, muitos casos seriam imediatamente indeferidos. 2. O destacamento para obter condições específicas contempla os docentes que sejam portadores de doença incapacitante nos termos do Despacho Conjunto n.º A-179/89-XI, de 12 de Setembro, publicado no Diário da República, II série, n.º 219, de 22 de Setembro de 1989. A nova legislação abriu o leque de critérios para pedir o destacamento por condições específicas, o Decreto-Lei 35/2003 (que legisla sobre os concursos) permite, nomeadamente, pedir o destacamento também no sentido do apoio a ascendentes, enquanto anteriormente estava limitado aos descendentes. 3. O conjunto de doenças invalidantes é ele propício a duplos sentidos, a saber: - Sarcoidose; - Doença de Hansen; - Tumores malignos; - Hemopatias graves; - Doenças graves e invalidantes do sistema nervoso central e periférico e dos órgãos dos sentidos; - Cardiopatias reumatismais crónicas graves; - Hipertensão arterial maligna; - Cardiopatias isquémicas graves; - Coração pulmonar crónico; - Cardiomiopatias graves; - Acidentes vasculares cebrais com acentuadas limitações; - Vasculopatias periféricas graves; - Doença pulmonar crónica obstrutiva grave; - Hepatopatias graves; - Nefropatias crónicas graves - Doenças difusas do tecido conectivo; - Espondilite anquilosante; - Artroses graves invalidantes. Muitas das enfermidades referenciadas, como ouvimos noticiado, reportam a doenças de coluna, hipertensão, otites, asma, distúrbios do sistema nervoso e outros tais que contabilizados e aberto o leque a familiares perspectivariam ser incluídos a quase totalidade da população docente portuguesa." (...) (José Alegre Mesquita) * "Não me parece que se possa formar alguma opinião sobre o valor do contrato do Ministério da Educação com a Compta sem conhecer mais dados. O "output" esperado (ou melhor, desesperado...) é conhecido, mas qual foi o "input"? Que tipo de validação era suposto existir (ou não) antes da entrega dos dados à Compta? E que dados ao certo foram esses? Como é que foram passadas à Compta as regras para colocação de professores? Deram-lhe apenas a legislação ou já um algoritmo? Que prazo lhes foi imposto? Vale a pena esperar um pouco por explicações oficiais para opinar melhor." (Tiago Azevedo Fernandes)
DEONTOLOGIA
Na RTP, a propósito do crime algarvio, entrevista-se uma criança de oito ou nove anos sobre o que ela acha que aconteceu. Nem vale a pena dizer que não há manual de deontologia que explicitamente não condene esta prática em termos taxativos. Não vale mesmo a pena, porque a selvajaria do nosso atraso cultural une num mesmo laço os “populares” que vão em excursão, os jornalistas que os atiçam com os directos televisivos, e a miséria de tudo aquilo que aconteceu.
JORNALISMO DE RECADOS
Esta “notícia” do Público (Justino Incomoda PSD, mas Pode Beneficiar Governo) é um perfeito exemplo de como não se deve fazer jornalismo, e também um perfeito exemplo de como ele se faz. Tudo está condensado no título e no primeiro parágrafo: “As entrevistas do ex-ministro da Educação, David Justino, não caíram bem no PSD, mas dentro do Governo há quem pense que podem beneficiar a actual equipa da Educação, já que, pelo menos nos próximos dias, as atenções estarão centradas na "guerra" entre Justino e o seu ex-secretário de Estado, Abílio Morgado.“ Comecemos pelo “PSD”, mais um caso de utilização abusiva de uma entidade colectiva, habitual em outros títulos em que a “GNR”, “os magistrados”, os “funcionários do SEF” aparecem como sujeito de acções ou opiniões, a maioria das vezes atribuíveis a um ou outro “magistrado”, ou às estruturas sindicais, ou apenas à fonte que falou com o jornalista. O que se contém nesta notícia é apenas uma opinião política dada anonimamente , transformada em fonte contra todas as regras – porque razão uma opinião política pura tem que ser protegida pelo anonimato das fontes? – e que depois é transfigurada como sendo a “opinião” de uma instituição. Se tomarmos à letra o que lá se diz, três pessoas poderiam, no limite, envolver o PSD: o Presidente do partido, o secretário-geral, ou um porta-voz autorizado por um dos dois, e, nestes casos, a autoria da opinião deveria ser pública. Tudo o resto é treta e cumplicidade entre o jornalista e a fonte para passar um “recado” O título dá ao “recado” a chancela do jornalista e do jornal, ou seja um grau de veracidade mistificadora que esconde o “recado”, ou seja, engana os leitores. Depois há a opinião em si mesma, que vale pelo que representa de degradação da política. Vale por ser típica do grau zero da politiquice, mesquinha, mostrando um desprezo total pelos portugueses. Se há “no Governo” quem pense que tudo isto pode “beneficiar” a governação de Portugal, ou seja que este grau zero de politiquice, próprio de uma escola de intriga e habilidades, infelizmente muito comum nos partidos e nos jornais, revela mais que cabeças mal formadas e sem carácter, estamos muito mal. Como de costume o único verdadeiro interesse informativo desta “notícia” era saber quem “acha” isto no Governo, para se pedirem responsabilidades e saída pela porta baixíssima.
INTENDÊNCIA
Actualizadas as notas O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (5ª série) e OS "POPULARES"
EARLY MORNING BLOGS 321
What the Chairman Told Tom Poetry? It's a hobby. I run model trains. Mr. Shaw there breeds pigeons. It's not work. You dont sweat. Nobody pays for it. You could advertise soap. Art, that's opera; or repertory-- The Desert Song. Nancy was in the chorus. But to ask for twelve pounds a week-- married, aren't you?-- you've got a nerve. How could I look a bus conductor in the face if I paid you twelve pounds? Who says it's poetry, anyhow? My ten year old can do it and rhyme. I get three thousand and expenses, a car, vouchers, but I'm an accountant. They do what I tell them, my company. What do you do? Nasty little words, nasty long words, it's unhealthy. I want to wash when I meet a poet. They're Reds, addicts, all delinquents. What you write is rot. Mr. Hines says so, and he's a schoolteacher, he ought to know. Go and find work. (Basil Bunting) * Bom dia! 25.9.04
OS “POPULARES”
Mas que espectáculo deprimente este o dos “populares” à volta do cenário do crime algarvio, gritando vinganças, avançando teses e hipóteses, contando boatos, fazendo vir ao de cima o mesmo ambiente de violência e miséria que rodeia o próprio crime, que abominam em palavras, mas em que participam como mirones, e voyeurs! A polícia também actua sem qualquer cuidado e discrição. As televisões, babadas pelo crime que aumenta as audiências, servem de chamariz para, de todo o lado do Algarve, uns homenzinhos, que não tem nada que fazer, possam dizer ufanos que vão lá todos os dias “ver”. À volta, aquelas mulheres com os filhos ao colo, que acham que este é o melhor espectáculo que lhes podem dar. Muitos a falar ao telemóvel, rindo-se. Todos valentíssimos, contrastando com o mutismo e a fuga das câmaras quando se trata de um assalto com os criminosos à solta. Enfim, sub-mundo lá dentro e sub-mundo cá fora. * "O que significa, e qual é a origem deste atributo "populares"? Podiam dizer "pessoas", "cidadãos" ou "indivíduos" ( também não gosto), ou "homens e mulheres". A mim soa-me como uma forma mais gentil de "a maralha". Ainda estou para ler uma notícia a anunciar que "os populares" participaram em qualquer coisa remotamente civilizada." (Pedro Jorge) * "A propósito de "os´populares´" não pude deixar de me questionar sobre o seu comentário. Não percebi se o que era deprimente era o espectáculo em si ou o facto de as televisões o terem proporcionado ao país. Em meia dúzia de linhas o senhor "cascou" nos populares, na policia, nos vizinhos e nos jornalistas. Penso que não sobrou ninguém. É lamentável que estes episódios tenham este tratamento por parte dos media mas não é novidade. Essa falta de critério nas noticias é uma coisa comum. Agrada a todos e pelos vistos até a si. Pouco serve o seu comentário aos populares, aos policias e aos jornalistas. Os primeiros são aqueles a quem o país vai negando uma existência com alguma dignidade. Aos poucos o acesso aos mais elementares direitos vai estando apenas reservado ao "utilizador-pagador". Esse espectáculo deprimente a que assistiu apenas aconteceu porque os que podem fazer algo por este pais se sentam em frente ao televisor e pensam que vivem em Bruxelas. A realidade do nosso país é a de uma sociedade que tem a preocupação de se distanciar do povinho, das feiras e dos centros comerciais. Comenta os anónimos e distância-se. Mas na realidade nada faz por essa gente - a maioria." (Carlos Brás) * Vale também a pena ler a excelente reportagem de Ricardo Dias Felner intitulada "O Drama Familiar por Trás da Morte da Pequena Joana" no Público de hoje.
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (5ª série)
"O comentário dos meus colegas do Minho Filipe Pereira e Acácio Costa é totalmente correcto e resume tudo o que já foi dito neste blog sobre o caracter técnico do assunto. Já quanto ao caracter político do problema, acrescentaria: O ex-ministro Justino explicou agora a candura da sua decisão. Visava, de facto, eliminar os mini-concursos e a 2ª fase das colocações que, como já foi aqui explicado, davam ao problema uma natureza sequencial que lhe eliminava a dificuldade computacional (de cariz matemático, claro). Toda a classe política ratificou a referida decisão política. De boas intenções está o Inferno político cheio… Confiou o ex-ministro no seu secretário de Estado e na funcionária Orvalho para a execução TÉCNICA do problema. Infelizmente, ninguém sabia que a referida e bem-intencionada decisão era tecnicamente infazível!... Mas estamos em Portugal, não é de admirar…! Onde é que se ensina cá o teorema de Godel? Talvez a COMPTA o soubesse, mas é provável que não. A maioria dos informáticos mais velhos formou-se pela “prática”, e nunca aprendeu teoria da computação, esse ramo da matemática que trata de coisas como a indecibilidade, infazibilidade, etc. E a COMPTA tem todos os sintomas de uma empresa desse tipo, dada a sua idade e estado de crise. Mais: o próprio orçamento irrisório que foi contratado – 200 mil euros não é nada para um problema informático desta complexidade – denota a provável incapacidade da COMPTA em avaliar aquilo a que se comprometera. Mas é típico: o vendedor vende o serviço, acicatado pela pressão desesperada da Administração em aumentar as vendas para salvar a empresa, julgando que os programadores depois executarão a encomenda, sem os ouvir primeiro, ou ouvindo o seu chefe, formado na “prática” e sem formação teórica… (...)" (José Luís Pinto de Sá) * "Como é do conhecimento público, o processo de colocação de professores “correu mal”. Aqui levanta-se uma hipótese de explicação sobre o sucedido. A descrição a seguir efectuada é propositadamente genérica, mas, de acordo com a informação dada pelos orgãos de comunicação social, não nos parece que desvirtue os aspectos fundamentais do problema da colocação de professores. Analisar o problema aqui descrito, facilitará o esclarecimento do problema com que se depara o Ministério da Educação. Consideremos que existe um conjunto de professores que se pretende afectar a um conjunto de colocações, de acordo com as suas preferências. A ordenação dos professores, de acordo com os critérios estabelecidos no concurso, é trivial. Independentemente do número de professores, em alguns segundos num computador vulgar resolve-se o problema. No entanto, para resolver o problema, não basta ordenar os professores e atribui-los às colocações existentes de forma sequencial. Isto porque alguns desses professores encontram-se já colocados e pretendem alterar a sua colocação, o que implica a libertação de novas colocações que são postas a concurso. O problema complica-se. Um problema deste tipo é essencialmente um problema matemático e não de sistemas informáticos. O difícil é o desenvolvimento de um algoritmo eficiente para o problema e não a sua implementação ou a capacidade de processamento do computador. Pior, por estranho que pareça a muitas pessoas, pode provar-se que não existe nenhum algoritmo eficiente para resolver um determinado problema - na linguagem da Teoria da Complexidade Computacional (porque é disso que se trata) a menos que P=NP, o que é actualmente aceite como improvável. Claro que se o problema tiver dimensões muito reduzidas poderá ser resolvido, mas um pequeno aumento nas suas dimensões implica um gigantesco aumento na dificuldade da sua resolução. Chegados aqui, a hipótese levantada é a seguinte: nenhum dos intervenientes do processo de colocação de professores teve a noção do problema que tinha em mãos: quem originou o problema, quem encomendou a sua resolução e quem disse que o resolvia. Resta a sugestão: por que não abrir o problema a todos os que por ele se interessem (nomeadamente investigadores), mantendo o anonimato dos intervenientes? Bastaria disponibilizar os dados e aproveitar o conhecimento das pessoas. Seria uma forma de abrir a Ciência à Sociedade e a Sociedade à Ciência. Mais, poderia contribuir para se ouvir com menos frequência a pergunta: “para que serve a matemática?” Pois... para os anos lectivos poderem começar." (Filipe Pereira e Alvelos / Docente e Investigador- Departamento de Produção e Sistemas / Universidade do Minho Acácio Costa / Engenheiro Informático - Departamento de Produção e Sistemas / Universidade do Minho)
EARLY MORNING BLOGS 320
De la brevedad engañosa de la vida Menos solicitó veloz saeta destinada señal, que mordió aguda; agonal carro por la arena muda no coronó con más silencio meta, que presurosa corre, que secreta a su fin nuestra edad. A quien lo duda, fiera que sea de razón desnuda, cada sol repetido es un cometa. ¿Confiésalo Cartago, y tú lo ignoras? Peligro corres, Licio, si porfías en seguir sombras y abrazar engaños. Mal te perdonarán a ti las horas; las horas que limando están los días, los días que royendo están los años. (Luis de Gongora) * Bom dia! 24.9.04
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (4ª série)
"Quem tem experiência em projectos de desenvolvimento de software estranhará toda esta situação sobre a colocação de professores, assim como os comentários que são feitos sobre deste. É que a expressão “falha técnica” é muito redutora para tentar descrever o que se pode ter passado. Já assisti a projectos bem sucedidos e a projectos que foram insucessos; também tenho conhecimento de projectos mal sucedidos em diferentes áreas. Um aspecto comum a estes projectos classificados como fracassos é que a origem do problema raramente é uma falha técnica. Os motivos da maior parte dos insucessos dos projectos informáticos devem-se a questões relacionadas com a gestão do mesmo. Como os próprios informáticos dizem, o problema raramente é hardware ou software; as raízes do problema estão no “Peopleware”. (Marco Oliveira) * "Creio que o assunto já morreu no “Abrupto” mas, depois de ter sido elucidado de que com o actual sistema se pretenderia aproveitar as vagas disponibilizadas pelos transferidos AINDA NO MESMO CONCURSO, o que seguramente não sucedia no anterior sistema, ocorre-me o seguinte problema bem ilustrativo da infazibilidade computacional da questão: Suponhamos os professores X e Y, detentores dos lugares x e y. X concorre à vaga y, e Y à vaga x. Ou seja, pretendem trocar de lugar. Obviamente, um algoritmo simples como os que se usavam até há anos, não transferirá nenhum deles, porque não encontrará nenhuma vaga disponível para o 1º a considerar, nem portanto para o 2º. Um algoritmo que faça coisas do género: “supor que Y liberta o lugar pretendido por X e efectuar a sua colocação provisória, prosseguindo e quando chegar a Y logo ver se ele realmente muda de sítio, se sim tudo ok, se não voltar ao início”, é obviamente fácil mas requererá um tempo cósmico, quando se tratam de 50 mil professores. Obviamente, é um problema de tipo NP, ou em termos simples, infazível. Contra a infazibilidade computacional existe uma terapêutica: inteligência artificial (IA). Em geral produz resultados bons mas tem, porém, um problema: os resultados são bons mas não perfeitos, e portanto são sempre impugnáveis pelo rigor da lógica jurídica. Neste caso, não se vai resolver o problema com IA mas sim com inteligência natural (à mão). Mas como esta sofre das mesmas limitações da IA, preparemo-nos para o chorrilho de impugnações com que o Ministério vai ser invadido quando sairem as listas… Claro que a solução está em descentralizar (responsavelmente) as colocações pelas escolas. Como nas empresas. Como na Holanda. Como…" (Pinto de Sá) * "No meio desta confusão de "NP´s", "Programações lineares" e afins subsiste-me uma pergunta: -se se podia fazer "manualmente" a colocação, porque é que não se tomou essa decisão em devida altura, até para servir de termo de comparação com o computador? Talvez seja ingenuidade minha, mas eu suponho que quem ocupa um cargo de ministro deve ter uma capacidade de resolver problemas e pensar alternativas, ou ter alguem perto que faça isso esta ministra poderia ter tomado essa atitude quando tomou posse, e neste momento o problema estaria resolvido. Bem sei que esta trapalhada não teve origem na actual titular do cargo, mas esta falta de agilidade em resolver a questão parece-me uma razão suficiente para após a resolução do problema a ministra apresentar a demissão." (João Gundersen) * "Acabo de ler mais no Abrupto sobre os problemas informáticos ligados à listagem de colocação de professores do que o que esperava vir a aprender. Não tenho qualquer pretensão de acrescentar mais informações (ainda estou a digerir as que li) mas, já que foi levantada a questão de o problema ser ou não NP, não quero perder esta oportunidade de mencionar um dos mais famosos problemas em aberto da Matemática, que é o problema P versus NP. No site do Clay Mathematics Institute pode ler-se uma descrição do problema. E aquele instituto dá um prémio de um milhão de dólares à primeira pessoa que o resolver." (José Carlos Santos)
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LOS FORMALES Y EL FRÍO Quién iba a prever que el amor ese informal se dedicara a ellos tan formales mientras almorzaban por primera vez ella muy lenta y él no tanto y hablaban con sospechosa objetividad de grandes temas en dos volúmenes su sonrisa la de ella era como un augurio o una fábula su mirada la de él tomaba nota de cómo eran sus ojos los de ella pero sus palabras las de él no se enteraban de esa dulce encuesta como siempre o como casi siempre la política condujo a la cultura así que por la noche concurrieron al teatro sin tocarse una uña o un ojal ni siquiera una hebilla o una manga y como a la salida hacía bastante frío y ella no tenía medias sólo sandalias por las que asomaban unos dedos muy blancos e indefensos fue preciso meterse en un boliche y ya que el mozo demoraba tanto ellos optaron por la confidencia extra seca y sin hielo por favor cuando llegaron a su casa la de ella ya el frío estaba en sus labios los de él de modo que ella fábula y augurio le dio refugio y café instantáneos una hora apenas de biografía y nostalgias hasta que al fin sobrevino un silencio como se sabe en estos casos es bravo decir algo que realmente no sobre él probó sólo falta que me quede a dormir y ella probó por qué no te quedas y él no me lo digas dos veces y ella bueno por qué no te quedas de manera que él se quedó en principio a besar sin usura sus pies fríos los de ella después ella besó sus labios los de él que a esa altura ya no estaban tan fríos y sucesivamente así mientras los grandes temas dormían el sueño que ellos no durmieron. (Mario Benedetti) * Bom dia!
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (3ª série)
"Relativamente ao comentário do leitor Manuel João Bóia e em jeito de resposta recomendo vivamente a leitura atenta dos posts do Paulo Querido , bem como dos diversos artigos para que apontam os links que ele lá tem. Talvez o leitor chegue à conclusão que ofertas de colaboração e análises diversas não faltaram. Talvez tenha havido, isso sim, autismo dos nossos governantes." (Dionísio Leitão) * "Sobre a questão dos problemas NP, P, e afins, queira verificar o seguinte link Eu não tenho muita experiência em lidar com aplicações de software que tenham uma dimensão que não possam ser globalmente compreendidas por uma só pessoa. Sei no entanto o suficiente para dizer que num quadro destes, a solução miraculosa do programador sobredotado é algo que, salvo melhor opinião, enferma de alguma ingenuidade. Ainda neste contexto, são muitos os exemplos, mesmo em países com outras posturas de controlo dos seus processos de desenvolvimento, de projectos de software que ou ultrapassam o prazo inicialmente previsto, ultrapassam o orçamento, uma combinação das duas, ou não chegam sequer a ver a luz do dia. Portanto, não é novidade este tipo de acontecimentos. Normalmente, a principal razão atribuída como causa para esse descarrilamento é a subestimação dos problemas e dificuldades associados ao projecto. Mas sinceramente, e isto é pura especulação porque não disponho de dados concretos, o problema estará mais ligado à própria especificação da aplicação. Pergunta: com a actual legislação (leia-se regras de ordenação) a frase "o professor A está colocado à frente do professor B" é verdadeira, ou falsa? Ou não se consegue responder de todo? Se não se conseguir responder a estas perguntas para todos os professores (e esta é uma fase muito anterior sequer a começar-se a modelar a aplicação) de forma consistente e completa, então não há solução informática para o problema. Ser consistente significa que, com o conjunto de regras definido, de forma alguma a frase atrás referida pode ser simultaneamente verdadeira e falsa, e completa significa que deve ser sempre possível atribuir um dos valores lógicos (verdadeiro ou falso). Como referi no inicio, este comentário não passa de especulação, mas este é um problema comum quando se pretende automatizar um conjunto de processos, regras e procedimentos, isto é, constatar-se que essa doutrina não é completa ou é inconsistente. Noutro âmbito, mas ainda sobre o mesmo tema, é de certeza uma bricadeira dizer-se que nunca antes houve problemas nos concursos de professores. Este será concerteza o problema mais grave, mas daí a dizer-se que os concursos nos anos anteriores foram modelos de perfeição vai uma grande distância? Acima de tudo, está a procurar-se uma solução técnica para um problema político de organização social. Ainda ninguém me conseguiu explicar porque é que um Conselho Directivo que seja responsável por 3000 alunos, uma série de professores e funcionários, não tenha a competência e autonomia para ser ele a contratar o seu corpo docente. Obviamente que isso implicaria uma responsabilização relativamente aos resultados (dos alunos) e, relativamente a esses, é sempre muito mais fácil responsabilizar os malandros dos políticos em geral e o governo em particular. Mas acredito que ainda virá o tempo..." (José Coelho) * "Tem razão Miguel Gonçalves Sousa. O problema da colocação dos professores é, de acordo com as regras definidas na lei dos concursos, um problema NP. E podia ter ido mais fundo na explicação da complexidade do problema. Tomo a liberdade de seguir o seu raciocínio: se o último professor da lista, a ser colocado, libertar uma vaga que interesse ao primeiro da lista, o baralho vai ser novamente distribuído. Esta redistribuição deve-se, portanto, a uma causa bem identificada, a colocação do último professor da lista numa determinada escola. Mas que garantia há, no fim da segunda distribuição, de que esse último professor vai ficar colocado? Nenhuma. E se não ficar? Então já não liberta a vaga para o primeiro da lista. A questão pode expor-se de outra forma. Suponhamos que um computador potentíssimo disponibilizava todas as combinações possíveis de colocação dos professores. Googles de hipóteses diferentes. Algures nesse palheiro há-de esconder-se a agulha, isto é, a melhor de todas as soluções. Mas é possível, é provável, que até essa solução borgesiana esteja ferida de ilegalidade. Mesmo na agulha pode haver uma vaga ocupada por um professor que estava atrás de outro, ambos concorrentes a essa vaga. É por isso que JPP tem razão quando repetidamente defende a importância das ciências exactas. Um legislador avisado daria conta da subtileza que distingue a “solução ideal” da “melhor solução” e, no corpo da lei, estabeleceria os contornos matemáticos dessa diferença. Um técnico competente dominaria heurísticas, como os algoritmos genéticos, que integradas no software fizessem aparecer, num computador normal, a solução óptima. O problema maior é que estão criadas as condições para alterar o carácter nacional dos concursos. Por ignorância, porque dá trabalho tentar perceber o que realmente aconteceu, porque toda a gente decidiu que isto não funciona, mais cedo ou mais tarde, vão cumprir-se os desígnios de José Manuel Fernandes: os concursos terão carácter municipal. Ao abrigo da fixação dos docentes – está por provar que seja coisa boa –, ao abrigo da ligação ao meio – está por provar que seja coisa boa –, ao abrigo do desejo de descentralizar – está por provar que seja coisa sempre boa –, as escolas vão cair nos braços das autarquias – está por provar que não seja coisa ruim. E como o escrutínio dos processos municipais é quase nulo, nunca mais a colocação dos professores fará cair ministros ou fará abrir telejornais. Pode ser que alguém se lembre de que a regionalização do país garante as virtudes do centralismo e rejeita os defeitos do municipalismo. Eu votei sim no referendo da regionalização. Mas cada dia que passa mais me vai parecendo que fui o único." (Francisco Queirós) 23.9.04
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS (Nova actualização)
"Tive oportunidade de verificar com agrado que a discussão técnica em torno da colocação dos Professores está a acontecer. Este é um papel que caberia primariamente ao Ministério da Educação e aos seus técnicos efectuar com transparência, secundados pelos responsáveis políticos no que à política diz respeito, mas enfim... Uma pequena nota relativamente às anotações pertinentes surgidas entretanto no Abrupto, não esquecendo que não sou nem pretendo vir a ser um perito em optimização e conheço só superficialmente o processo de colocação (ver legislação aqui): - (Pinto de Sá) Como diz, e bem, na parte final da sua nota, a solução que preconiza seria a mais fácil de implementar e provavelmente a mais correcta; só que não me parece ser essa a que o Ministério definiu na legislação e implementou pelos motivos referidos por Miguel Sousa!!! A colocação é um problema de optimização e como tal deve ser conceptualizado e tratado; - se entre pessoas, com um "background" que lhe permite perceber as dificuldades de um processo a este nível, se gerou uma saudável discussão de argumentos, imagine-se a dificuldade da parte da população em compreender o que se está a passar! E não é por este facto que os intervenientes (pais, alunos e professores) perdem o direito a serem informados cabalmente pelo Ministério dos problemas técnicos existentes. E muito menos serem presenteados com soluções simplórias “com os dedos”... Alguém se divertiu hoje a calcular (peço desculpa mas não me lembro da fonte), em termos muito básicos o tempo que demoraria a colocar um dos supostos cerca de 50.000 professores pela equipa “com os dedos” do Ministério no tempo anunciado para a conclusão, 24 sobre 24 horas... o resultado apresentado sugere que teriam que colocar 1 professor a cada 15 segundos... Concluindo, não é “com os dedos” que vão perceber e resolver o problema... PS É pena que os sindicatos envolvidos, que têm nos seus quadros óptimos especialistas, não contribuam para o esclarecimento técnico do problema e não alertem para os perigos da estratégia manual. Estarão à espera de beneficiar com a confusão emergente?" (Manuel João Boia) * "Não sendo um informático já trabalhei várias vezes com programadores e pessoas da área. Usando uma expressão mais popular e deixando de lado as programações lineares e afins eu diria que este é um problema do tipo "entra porco e sai salsicha". Ou seja, é um problema que não admite duas soluções; no entanto, podem ser necessários um número enorme de iteracções para que este seja resolvido. Para que este problema seja correctamente resolvido - ou seja para haver uma salsicha de qualidade - é necessário que o "porco" seja bom e o processo de fabrico também. Aparentemente nada disto acontece. Traduzindo a analogia culinária o que se pode dizer é que: a) os dados de entrada não eram de qualidade o que leva a erros (há professores "nascidos" em 2004, etc). b) o processo por ter várias fases dependentes entre si (o que o torna complexo) devia ter um acompanhamento e um controle de qualidade permanente, o que também não aconteceu. A solução de passar o trabalho para manual parece-me grave porque significa sem margem para duvidas que ou vai ser mal feito ou, ainda mais grave - ESTE PROBLEMA JÁ PODIA ESTAR RESOLVIDO. Vamos então à informática: correndo o risco de ser contra-corrente, os 600 mil euros parece-me pouco, muito pouco para escrever e implementar de raiz um sistema informático novo. è um trablaho que demora cerca de um ano e 50000 euros por mês para pagar a uma equipa que o desenvolva DE FORMA COMPETENTE e admitindo que a empresa quer ter lucro parece-me sinceramente barato. Temos então a prova provada que o barato sai caro. Muito caro neste caso.Subscrevo o que a respeito deste tema diz o leitor Pinto de Sá e atrevo-me a pensar que acima de um problema de qualidade de programação esteve um problema de especificação, o tal problema homem-homem. Por fim, o mais importante. É crucial para a higiene social deste país que os culpados não passem impunes. A COMPTA tem de ser levada a tribunal até às últimas consequências. Os técnicos do ministério tem de ser responsabilizados, despedidos se for caso disso. Os professores que meteram atestados falsos para arranjarem destacamento tem de ser severamente punidos (lembram-se dos alunos de Guimarães?). Neste pântano em que acabou este processo ninguém sai ileso. Prejudicados alem dos professores que de uma forma séria querem exercer o seu trabalho, temos tambem alunos e pais. Como JPP bem nota, os sindicatos que nada fizeram para melhorar o processo, alem de de verificar as falhas que eram óbvias, saem reforçados. Talvez seja altura de se envolverem e comprometerem mais do que fazer "refresh" das páginas da Internet." (Pedro Costa Lima) * "Li no seu blogue uma mensagem assinada por Pinto de Sá onde se escreve: "O problema computacional da colocação de professores, pelo contrário, é extremamente simples, ou "linear". Cada professor é ordenado numa lista em função da sua qualificação em diversos itens que por sua vez têm prioridades relativas bem definidas." Não tem razão o seu leitor e quem tem efectivamente razão era o especialista que falou na SIC que afirmou que este é um problema NP. Talvez não tenha sido muito bem entendido qual é o problema deste método. Quando se coloca um professor na primeira vaga disponível da sua preferência, este liberta uma vaga numa outra escola. Essa vaga, anteriormente inexistente, poderia ter sido uma preferência de um qualquer professor que estivesse acima no ranking e que teria sido colocado nesse lugar se a vaga estivesse disponível. É por isso necessário percorrer toda a lista acima para ver se algum professor já "colocado" desejava essa vaga. Se por acaso tal acontece, a situação repete-se. Liberta-se uma nova vaga e por aí fora. Suponha que o último professor colocado liberta uma vaga no lugar desejado pelo primeiro. O primeiro sai de onde estava e passa a ocupar esta vaga. O baralho vai ser novamente distribuído. Se a isto juntar uma enorme quantidade de outros factores que afectam as colocações, como preferências, prioridades, professores com habilitações para mais do que uma disciplina... tem um verdadeiro problema NP. A colocação à mão vai criar milhares de protestos. É impossível optimizar a colocação de 30.000 professores sem auxílio informático. Os sindicatos vão ter muito com que se entreter nos próximos meses." (Miguel Gonçalves de Sousa) * "Sendo electrotécnico e interessando-me pelas questões da indecibilidade e complexidade computacionais, por um lado, e tendo por outro lado preenchido muitas vezes os boletins de candidatura da minha mulher, professora do secundário, escandalizou-me um comentário feito na TV por um "especialista em informática da SIC", que disse que o problema era informaticamente do tipo NP, e que vai no mesmo sentido de um comentador do seu site que fala em "problema de programação linear". É que há que fazer os seguintes esclarecimentos, que procurarei serem claros e simplificados: Um problema NP ou de optimização (requerendo programação linear), é um problema para o qual há muitas soluções possíveis, em princípio. Um exemplo clássico é o do "caixeiro viajante": escolher o percurso que soma a menor distância total a percorrer na visita a n cidades. À partida há que começar por qualquer uma das n cidades, depois escolher, para cada uma delas, as n-1 seguintes, e depois para cada uma dessas as n-2 seguintes, e assim sucessivamente. No final, comparar todas as distãncias e escolher a menor. Eventulamente há heurísticas que permitem acerlerar o problema, mas ele é "complexo". Complexo para o computador, mas não para o programador!!!! O problema computacional da colocação de professores, pelo contrário, é extremamente simples, ou "linear". Cada professor é ordenado numa lista em função da sua qualificação em diversos itens que por sua vez têm prioridades relativas bem definidas. Uma vez a lista definida, o 1º professor, que se candidatou a uma lista de escolas ordenada pela sua preferência, vê, pela ordem que ele indicou, se há vaga nessa escola. Se sim, a vaga é-lhe atribuída, deixa de estar disponível para os seguintes, e o algoritmo passa ao professor seguinte da lista. O problema é linear, portanto. Mas para o computador, não para o programador!!! E isto porque há imensos itens de ordenação, acrescendo que há casos em que o professor concorre a uma "zona", deixando portanto ao "computador" a prioritização das escolas da zona a escolher. Por conseguinte, onde houve problemas foi na definição dos itens!!! Isto é, no diálogo homem-homem. E depois, quem trabalha nestas coisas sabe que se a empresa não tomar certas precauções (mas é para isso que serve a "certificação"), basta que o programador não tenha documentado o seu programa e se tenha despedido para que o seu trabalho seja impossível de corrigir!" (Pinto de Sá) * "Uma das belezas do mundo é que tudo tem um lado bom. O lamentável exemplo da colocação de professores, sendo muito grave, tem contudo um enorme valor como demonstração do que está mal e de como falta competência na gestão técnica de assuntos que não deveriam justificar nenhuma dificuldade especial. De entre os muitos factos que agora se tornaram absolutamente indesmentíveis, destaco os seguintes. 1) O sistema de gestão das vagas de professores no Ministério da Educação é patético (e isto não tem nada a ver com Informática). 2) Não tem sido dada responsabilidade de gestão técnica a quem tem perfil adequado para isso. 3) As muitas iniciativas de difusão das Tecnologias de Informação promovidas pelo Governo deveriam ter tido segunda prioridade por comparação com a revisão completa dos sistemas informáticos estatais que é suposto ajudarem o país a funcionar. 4) Os procedimentos normais de controlo e auditoria ao trabalho que é feito (seja por funcionários públicos ou por entidades externas) não são aplicados pelo Estado. 5) Se o sistema de Justiça estivesse a funcionar saudavelmente, seria viável recorrer a ele para corrigir "à força" em tempo útil muita coisa errada. Não partilho da opinião de que tudo são "máfias" e má vontade. Há também disso, mas mais graves são os problemas de incompetência de Gestão e de falta de maturidade de pessoas a quem têm sido atribuídas responsabilidades de chefia. (Uma delas chegou ao topo da hierarquia, não nos esqueçamos!) É altura de as substituir em larga escala. É altura de tornar a Justiça a prioridade das prioridades. Fomos todos nós que permitimos que a situação chegasse onde chegou, cabe-nos a nós todos corrigir os erros." (Tiago Azevedo Fernandes)
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: TÃO LONGE QUE JÁ FOMOS
e tão perto ainda. Trajectos marcianos da Spirit e da Opportunity, duas senhoras caminhantes cheias de vida. Uma subiu aos céus e outra desceu aos infernos, onde parece haver mais vida. Bad girls go to hell... Começa-se a perceber as diferenças: Good girls loosen a few buttons when it's hot./Bad girls make it hot by loosening a few buttons." Vá, divirtam-se.
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: COM OS DEDOS OU COM AS MÃOS
"(...) secundo as observações do leitor Tiago Fernandes, temendo mesmo que seja pouco o que ele diz. Isto porque tenho visto a meu lado muitos acidentes de outsourcing informático na função pública que apenas não se tornam conhecidos porque não há um prazo de tornar público um serviço. Digo-lhe portanto que o que se passou agora com a colocação dos professores é o que é bastante frequente, incrivelmente frequente. Vale por isso a pena insistir na questão. Uma das questões que causa os problemas é a fraca competência de ambos os lados- os informáticos e os funcionários. Numa sessão de trabalho, em que o informático faz uma pergunta trivial do género, "é A e B ou A ou B", a resposta mais provável do funcionário é "depende". A partir daí e como o "depende" precisa de esclarecimento, tudo pode começar a complicar-se." (Maria João Pereira) * "Para uma aplicação informática necessitar de 17 horas a processar uma lista de professores, e mesmo assim com erros de processamento, como é possivel (partindo do pressuposto que o modelo é o mesmo) o mesmo trabalho demorar 1 semana executado à mão ? poderemos nós garantir a fiabilidade dessa lista ? " (Luis Miguel Silva) * "Será que alguém pode explicar porque é que se contratou a tal compta para criar meis informáticos, ao que tudo indica sofisticados (uma vez que ninguém os consegue pôr a funcionar) para fazer um trabalho que manualmente pode ser feito numa semana." (Rosa) * "Sem ser um especialista na matéria, suspeito que todas estas questões em torno da listagem de colocação de professores resultam de um típico problema de "Programação Linear", estudado e ensinado nas nossas Universidades há muitas décadas. Não tenho conhecimento directo da legislação que estabeleces as regras (restrições e variáveis) para esta colocação, mas suspeito que no afã de todos -Ministério e Sindicatos- juntarem a sua vontade às "regras", criaram um problema matematicamente insolúvel, i.e. sem uma solução única. Ninguém parece ter tido a preocupação de testar a validade matemática da legislação... Parece-me que, quando muito, poder-se-á utilizar métodos de "Programação Linear" para obter uma "solução óptima local", que responde parcialmente ao problema sem o tempo de cálculo (seja “à mão” ou por métodos computacionais) tender para infinito... Assim, qualquer solução manual, como o Tiago Azevedo Fernandes descreve, será sempre “parcial” e trará o descrédito ao processo por não ser compreendida e explicada." (Manuel João Boia)
EARLY MORNING BLOGS 318
I Saw a Peacock, with a fiery tail, I saw a Blazing Comet, drop down hail, I saw a Cloud, with Ivy circled round, I saw a sturdy Oak, creep on the ground, I saw a Pismire, swallow up a Whale, I saw a raging Sea, brim full of Ale, I saw a Venice Glass, Sixteen foot deep, I saw a well, full of mens tears that weep, I saw their eyes, all in a flame of fire, I saw a House, as big as the Moon and higher, I saw the Sun, even in the midst of night, I saw the man, that saw this wondrous sight. (Anónimo, anterior a 1655, e pode ser lido de duas maneiras, como dois poemas, um antes e outro depois das vírgulas) * Bom dia! 22.9.04
EARLY MORNING BLOGS 317
Everybody Tells Me Everything I find it very difficult to enthuse Over the current news. Just when you think that at least the outlook is so black that it can grow no blacker, it worsens, And that is why I do not like the news, because there has never been an era when so many things were going so right for so many of the wrong persons. (Ogden Nash) * Bom dia! 21.9.04
LÁ VAMOS CANTANDO E RINDO
Do digital para o analógico, da base de dados para a caixa das fichas, do processador de texto para o lápis e o papel, do processamento de dados para as contas de cabeça, do software para o hardware mais caro que há, as pessoas. * "Se o processamento vai ser feito "à mão" para 50.000 professores, então verifica-se uma de três situações: a) qualquer programador competente consegue em um ou dois dias fazer um programa que execute automaticamente aquilo que agora vai ser feito manualmente ou b) esse "processamento manual" implica "interpretações" caso a caso de uma lei que estará eventualmente mal feita (e que portanto não permitirá extrair um conjunto inequívoco de regras de colocação susceptível de ser traduzido fielmente em software) ou c) as regras a utilizar serão uma "versão simplificada" das que estão previstas na lei, que portanto não seria integralmente cumprida. É _muito_ importante perceber o que se passa, afinal." (Tiago Azevedo Fernandes)
UM NOME QUE NÃO DEVIA AQUI ESTAR
o do Primeiro-ministro de Portugal. (Publicidade paga no Diário de Notícias de 20 de Setembro de 2004)
UM EFEITO DA CRISE DAS COLOCAÇÕES
vai ser o reforço dos Sindicatos dos Professores, contrariando as tendências para a crise genérica do sindicalismo em Portugal. Os efeitos serão observáveis a curto e médio prazo, e tornarão ainda mais difícil “governar” a educação, onde os sindicatos são poderosas máquina da resistência à mudança e controlam cada vez mais o ministério. Vão sair desta crise a mandar muito mais.
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UM MAPA MARCIANO
Um importante mapa marciano, e uma descoberta europeia: as zonas onde há água e onde há metano sobrepõem-se em Marte. Duas hipóteses: processos geotermais produzem o metano; ou há actividade bacteriana nas águas subterrâneas de Marte. Para se ler mais, aqui.
UM GOVERNO OU UM AJUNTAMENTO
Ouve-se e não se acredita. Álvaro Barreto diz que é “precipitado” dizer que a refinaria de Leça vai ser encerrada. Quem se precipitou? O primeiro-ministro. Diz também que todos os estudos anteriores concluíram que a refinaria não deve ser encerrada. Quem se precipitou não sabia, ou não se informou antes de falar? Não parece um governo, parece um ajuntamento.
O SONHO DOS GOVERNOS
é ter jornais assim. Primeira página do Diário de Notícias de hoje, num cantinho em baixo, notícia sobre a colocação dos professores e o bloqueamento do início do ano lectivo, intitulada "guerra de nervos na lista de professores". "Guerra de nervos"?
EARLY MORNING BLOGS 316
Ozymandias. I MET a Traveler from an antique land, Who said, "Two vast and trunkless legs of stone Stand in the desart. Near them, on the sand, Half sunk, a shattered visage lies, whose frown, And wrinkled lip, and sneer of cold command, Tell that its sculptor well those passions read, Which yet survive, stamped on these lifeless things, The hand that mocked them and the heart that fed: And on the pedestal these words appear: "My name is OZYMANDIAS, King of Kings." Look on my works ye Mighty, and despair! No thing beside remains. Round the decay Of that Colossal Wreck, boundless and bare, The lone and level sands stretch far away. (Shelley) * Bom dia! 20.9.04
NORMAIS
Pessoas com qualidades acima do comum, politicamente activas, que dizem o que pensam sem grandes cálculos, independentemente de se concordar com o que pensam e o que dizem, são raras nos dias de hoje. Por isso é um prazer ver Silva Lopes, ontem, e Manuel Alegre hoje, no programa do Público / Renascença na 2. Pessoa normais, que não são construídas pelo marketing, nem pelo seu próprio espelho - que alívio! Ar puro.
DIFERENÇAS: COMUNICAÇÃO OU COMPETÊNCIA?
Marcelo Rebelo de Sousa acha que esta semana foi “desastrosa” em termos de “coordenação política e comunicação”; eu acho que foi desastrosa em termos de governação. O problema nunca está, ou está minimamente, na “comunicação” ou na sua falta. Está sempre mais em saber se se está a governar mal ou bem, com competência ou sem ela, em função do interesse público ou do jogo político e eleitoral. É para mim claro (eu sei que não é para muitos) que há um problema estrutural de competência no governo, competência política e técnica, e que isso as habilidades não resolvem. Podem minimizar, podem enganar, mas não resolvem o fundo. É até provável que, à custa de muito dinheiro para as empresas de relações públicas, de marketing e de publicidade, a “comunicação” melhore. Algum “bom governo” pode ser comprado, embora custe muito caro e dure o tempo da encomenda. Agora, o que é chumbo não se muda em ouro lá porque está dentro do cadinho de alquimista que é o poder. Pode brilhar, à custa de muito spin, mas ouro não é.
EARLY MORNING BLOGS 315
1951 Alone at night in the wet city the country's wit is not memorable. The wind has blown all the trees down but these anxieties remain erect, being the heart's deliberate chambers of hurt and fear whether from a green apartment seeming diamonds or from an airliner seeming fields. It's not simple or tidy though in rows of rows and numbered; the literal drifts colorfully and the hair is combed with bridges, all compromises leap to stardom and lights. If alone I am able to love it, the serious voices, the panic of jobs, it is sweet to me. Far from burgeoning verdure, the hard way in this street. (Frank O'Hara) * Bom dia!
LEVAR 2
Escrito aqui em princípios de Agosto: "Existe em certos sectores da direita e da esquerda intelectual portuguesa a ilusão que um governo Santana Lopes será um governo que prosseguirá políticas liberais, ou, como pejorativamente agora se diz, “neo-liberais”. Enganam-se completamente. Se há coisa que em Portugal sofrerá com o populismo é o discurso genuinamente liberal. O populismo é nacionalista, defensor da closed shop, “social” e clientelar. O populismo será alicerçado em duas coisas muito próximas na vida política portuguesa: um discurso social, que pode mesmo chegar a ser socializante, e na gestão de clientelas. É uma fórmula muito eficaz em Portugal, potenciada agora pela forma como actuam os media." Como se está a ver. 19.9.04
DIARQUIA: PRIMEIRO-MINISTRO A E PRIMEIRO-MINISTRO B
Num governo que fala imenso, mergulhado numa logomaquia completa, que só revela incompetência e falta de estudo das medidas que anuncia, houve hoje uma novidade: temos dois primeiros-ministros, o A e o B. Na entrevista de Paulo Portas à RTP, na sequência da de Santana Lopes ontem à SIC, cobrindo as mesmas matérias e âmbito governativo, tivemos um exemplo (até pela linguagem do “nós”: “nós” governamos em conjunto, “nós” decidimos) de diarquia governativa. Aprende-se todos os dias.
PROSAICA:ABÓBORAS ALIENÍGENAS
Eu só conheço duas abóboras célebres na história, mas verifico agora, com espanto e choque, que não sei nada de abóboras. (By the way, a abóbora célebre número um é a que se transforma em coche à meia-noite e que leva a Cinderella ao baile; a número dois é aquela a que devemos muito da carreira de Richard Nixon, a abóbora onde Whittaker Chambers, membro do aparelho secreto ligado ao PC dos EUA, escondia os documentos que Alger Hiss trazia do Departamento de Estado para dar à espionagem soviética. Existe, porque a América é o que é, um "Whittaker Chambers Pumpkin Patch National Historical Landmark", que tem o recorde do menor número de visitas.) Acontece que, num canteiro destinado a plantas mais nobres e mediterrânicos citrinos, apareceu-me uma abóbora. Deve ter nascido do nada, como a matéria. De repente, um caule rastejante com umas folhas enormes, começou a atravessar as flores, primeiro sem se ver, escondida na massa do verde, deu a volta a um limoeiro, passou junto do pé de uma laranjeira, e saiu do canteiro. Já tinha uns metros de comprido, um tamanho pouco comum para coisas rastejantes daquela dimensão. Saída para fora do canteiro, assumiu-se. Eu olhei para aquilo e pensei num velho filme de ficção cíentifica, o Dia das Trífides. Estou feito, se logo houver um cometa qualquer, não olho para ele, e rego a trífide com água do mar. Vem no livro do Wyndham. Só que, encontrando-se ao sol, a coisa começou a crescer exponencialmente, deitando umas flores amarelas que logo desapareciam para mostrarem uma intumescência suspeita. Pensei para comigo que vida animal, ali à volta, já tinha sido. A trífide devia comer tudo o que passasse. Crescer, continuava a crescer, folhas cada vez maiores, mas a gravidade pregava-lhe algumas partidas. Quando as intumescências começavam a pesar, o caule não as suportava e partiam. O chão era pedra e não a terra do canteiro, e a rigidez do solo impedia uma acomodação que a terra mole dava. A trífide começava a sofrer pela sua ambição. Mas, sendo a selecção natural o que é, sempre há um caule mais poderoso e que resiste, até que a intumescência verde pousa no chão suportando-se. Aconteceu. Então deu-se um processo que todos os dias mais me convence do carácter alienígena da coisa: aquilo cresce a uma velocidade não-biológica. Não-biológica terrestre. Lá no fundo do espaço não sei. Se me sentar em frente e olhar com atenção, aquilo vai-se enchendo, centímetro a centímetro, e eu vejo os centímetros a somarem-se. Oblonga, verde, pintada de ocasional amarelo, obsessiva, fascinante, imponente, estranha, a abóbora. Se continuar assim, fujo. * "As abóboras são mesmo assim... (Imperdoável ;-) não haver uma terceira abóbora no seu imaginário... a gigantona de Aquilino Ribeiro). Leitura obrigatória : Mestre Grilo Cantava e a Giganta Dormia (Arca de Noé, III Classe), de Aquilino Ribeiro." (Manuela D.L. Ramos) * Excerto de Mestre Grilo Cantava e a Giganta Dormia (Arca de Noé, III Classe), de Aquilino Ribeiro, enviado por Manuela D.L. Ramos: «---Compadres, aquela abóbora é o meu pesadelo. Se avança mais um madinha para o meu lado ou fico sem casa ou morro lá dentro emparedado. Não sei o que há de ser de mim. “De vizinho danoso morreu Barroso”. Os insectos quedaram recolhidos um momento a cismar no problema. E a cigarra, que é esperta e espevitada, disse: ---Tem razão, mestre grilo. Mas aqui que ninguém nos ouve, confesse lá: além do dano que a abóbora lhe faz, você tem por ela uma especial antipatia... hem, cá de dentro? O grilo soltou duas risadinhas como que a acentuar a finura da comadre cigarra e respondeu: --É verdade. Embirro solenemente com a pega massa. Como podem cacular vim fazer aqui a casa induzido pela beleza da flor. Tanto reluzia que disse comigo: ali , naquelas touceiras de erva tenra e serradela. Com tão esplêndido pálio de seda contra o sol, ficas que nem um mandarim da China. Sou poeta, é o meu fraco. Afinal, foi uma desilusão cruel; da flor doirada e aberta como o cálice dos senhores bispos saiu este monstro! --Não admira-- disse uma abelha que se metera na conversa --Mestre grilo e a abóbora menina são diferentes como noite e dia. Enquanto ele é vivo, espiritual, pequenino, se desfaz em cantorias, ela queda matéria bruta: comer, comer, dormir, e mais não lhe peçam.» * “Também tenho uma história de abóboras na minha vida. Elas em Africa subiam pelas árvores, o fruto acomodava-se num ramo e lá crescia. Então tinhamos laranjeiras, limoeiros, etc. a dar abóboras. Eram uma boa companhia para mim, as abóboras, porque eu passei a infância em cima das árvores lá no quintal. Era eu, as abóboras e uma macaquinha de nome Chita. A mangueira era a minha árvore favorita, a maior. Só desci das árvores quando os rapazes me começaram a atrair a atenção. Mais valia ter lá ficado!" (M.)
PROSAICA: TIDE “SABÃO TRADICIONAL”
Parménides tinha razão: nada muda. Nietzsche tinha razão: a história é uma história de eterno retorno. O Tide anuncia um Tide com cheiro a “sabão tradicional”. Marx também tinha razão: a primeira vez como tragédia, a segunda como comédia.
INTENDÊNCIA
No VERITAS FILIA TEMPORIS está a Lagartixa e o Jacaré 4 (da semana passada) sobre a colocação dos professores, a Festa do Avante!, o massacre de Beslan e o "pior artigo da semana", que é de Tabucchi.
A LER
Dois blogues, de um mesmo autor, na categoria de “blogues de gostos”. Falam de sítios e de músicas, com nomes certos Cuore Matto e Soy un Perro Callejero, sobre Itália e Espanha. Como transportam um pouco da diversidade do mundo, aprende-se. Exemplos? Um, espanhol: esta letra de Candelario Frias cantada por Paquita la del Barrio e a própria personagem da cantora Trés veces te engañé Dices que me quieres, y que me perdonas Pero lo que tu hagas, no me importa ya Hoy me siento viva, me siento importante Y de lo que pase, yo me encargaré Tres veces te engañé Tres veces te engañé Tres veces te engañé La primera por coraje La segunda por capricho La tercera por placer Tres veces te engañé Tres veces te engañé Tres veces te engañé Y despues de esas tres veces Y despues de esas tres veces No quiero volverte a ver Outro, italiano: uma lista de melhores canções italianas dos anos sessenta. Nem eu imaginava que me lembrava de tantas, reflexo de um mundo que, antes de 1968, em Portugal, era, nas rádios, italiano e francês. O domínio anglo-saxónico é só posterior. Antes havia Quando Quando Quando (Tony Renis, 1962) , In Ginocchio Da Te (Gianni Morandi, 1964), e Modugno, Rita Pavone, Celentano, Marino Marini, Pepino di Capri e tutti quanti. A propósito: SCRITTI VENETI para breve e notas vulcânicas.
EARLY MORNING BLOGS 314
in spite of everything which breathes and moves,since Doom (with white longest hands neatening each crease) will smooth entirely our minds -before leaving my room i turn,and(stooping through the morning)kiss this pillow,dear where our heads lived and were. (e. e. cummings) * Bom dia! 17.9.04
EARLY MORNING BLOGS 313
UN LECTOR Que otros se jacten de las páginas que han escrito; a mí me enorgullecen las que he leído. No habré sido un filólogo, no habré inquirido las declinaciones, los modos, la laboriosa mutación de las letras, la de que se endurece en te, la equivalencia de la ge y de la ka, pero a lo largo de mis años he profesado la pasión del lenguaje. Mis noches están llenas de Virgilio; haber sabido y haber olvidado el latín es una posesión, porque el olvido es una de las formas de la memoria, su vago sótano, la otra cara secreta de la moneda. Cuando en mis ojos se borraron las vanas apariencias queridas, los rostros y la página, me di al estudio del lenguaje de hierro que usaron mis mayores para cantar espadas y soledades, y ahora, a través de siete siglos, desde la Última Thule, tu voz me llega, Snorri Sturluson. El joven, ante el libro, se impone una disciplina precisa y lo hace en pos de un conocimiento preciso; a mis años, toda empresa es una aventura que linda con la noche. No acabaré de descifrar las antiguas lenguas del Norte, no hundiré las manos ansiosas en el oro de Sigurd; la tarea que emprendo es ilimitada y ha de acompañarme hasta el fin, no menos misteriosa que el universo y que yo, el aprendiz. (Jorge Luis Borges) * Bom dia! 16.9.04
OBSESSÃO
"Temos o objectivo [controlar o defice], mas não temos a obsessão", está Bagão Félix a dizer na RTP. Já se percebeu. É que sem a "obsessão" não se consegue o objectivo. Todo o discurso (até agora) é de uma hesitação surpreendente, num homem que costuma ser muito afirmativo. Parece estar a ser forçado a falar de matérias em que não tem a certeza de obter apoio político.
COMO, NÃO SE PODENDO FAZER UMA SIMPLES PERGUNTA QUE TODA A GENTE ENTENDE, SE FAZ UMA COMPLICADA QUE NINGUÉM ENTENDE - 2
"Embora me agrade geralmente o que escreve Vital Moreira, concordo consigo quando diz que um referendo que pedisse às pessoas para se pronunciarem sobre a pergunta que ele (de certeza, penosamente) imaginou seria uma farsa. Também concordo em que a principal razão para apoiar o referendo neste caso concreto é a necessidade de recuperar alguma democraticidade para um processo que andou depressa demais e deixou para trás os principais interessados: os cidadãos, a população europeia. Mas aqui em Bruxelas, é difícil convencer alguém (falo principalmente da administração comunitária e das entidades que gravitam em torno dela) de que esta falta de legitimidade constitui problema. Já ouvi perguntas como «porque vamos confiar a gente que nada percebe destas coisas (leia-se: as populações) o poder de decidir sobre matérias tão complexas (leia-se: a Constituição)?» Balelas. Se são assim tão complexas, isso é mais uma razão para que não sejam deixadas à indecisão e falta de visão política tradicionais nas administrações internacionais. E para mais, verdade é que não deviam ser assim tão complexas essas questões que comprometem o futuro de todos nós; porque o que se pretende é congregar esforços, é definir um destino partilhado e isso faz-se através de ideias simples descritas em palavras simples. Aliás, mais do que difíceis em si mesmas, penso que muitas são complicadas de forma artificial para satisfazer gregos e troianos e garantir que uma parte do poder fique nas mãos da tecnocracia e burocracia europeia. Temo que a incapacidade de compreender que é indispensável apelar aos cidadãos para legitimar o projecto europeu traga como consequência, a prazo, a morte ou a irrelevância desse projecto." (José Pedro Pessoa e Costa)
INTENDÊNCIA
Actualizada a nota COMO, NÃO SE PODENDO FAZER UMA SIMPLES PERGUNTA QUE TODA A GENTE ENTENDE, SE FAZ UMA COMPLICADA QUE NINGUÉM ENTENDE
DA SOBRECARGA
Podemos marcar o que já foi marcado? Tatuagem, ferro em brasa, marca de vacina, rasgão de faca, saída de meninos, permuta de orgãos, não. Nos selos, sim. A pertença é uma, vem a sobrecarga e passa a ser outra. Era belga, depois alemã, depois belga, depois alemã. Agora é belga. Era monarquia, depois república, depois Estado Novo, depois democracia. Era fascista, depois mais fascista ainda.
ARACNOFOBIA VULCÂNICA
Este é o meu conhecido Fuego, um distinto vulcão guatemalteco que também está a cumprir as suas funções vitais, só que é um pouco longe para ser visitado nestes dias. É mais perigoso, jovem e violento do que muitos outros. A "aranha" do mapa retrata a vermelho as zonas de risco.
APRENDENDO COM EÇA DE QUEIROZ: "SEM A FUMARAÇA QUE TAPA DEUS"
“Ali jantámos deliciosissimamente, sob os auspícios do Melchior — que ainda depois, próvido e tutelar,- nos forneceu o tabaco. E, como ante nós se alongava uma noite de monte, voltámos para as janelas desvidraçadas, na sala imensa, a contemplar o sumptuoso céu de Verão. Filosofámos então com pachorra e facúndia. Na Cidade (como notou Jacinto) nunca se olham, nem lembram os astros — por causa dos candeeiros de gás ou dos globos de electricidade que os ofuscam. Por isso (como eu notei) nunca se entra nessa comunhão com o Universo que é a única glória e única consolação da Vida. Mas na serra, sem prédios disformes de seis andares, sem a fumaraça que tapa Deus, sem os cuidados que, como pedaços de chumbo, puxam a alma para o pó rasteiro — um Jacinto, um Zé Fernandes, livres, bem jantados, fumando nos poiais de uma janela, olham para os astros e os astros olham para eles. Uns, certamente, com olhos de sublime imobilidade ou de sublime indiferença. Mas outros curiosamente, ansiosamente, com uma luz que acena, uma luz que chama, como se tentassem, de tão longe, revelar os seus segredos, ou de tão longe compreender os nossos... — Oh Jacinto, que estrela esta, aqui, tão viva, sobre o beiral do telhado? — Não sei... E aquela, Zé Fernandes, além, por cima do pinheiral? — Não sei. Não sabíamos. Eu, por causa da espessa crosta de ignorância com que saí do ventre de Coimbra, minha Mãe Espiritual. Ele, porque na sua Biblioteca possuía trezentos e oito tratados sobre Astronomia, e o Saber, assim acumulado, forma um monte que nunca se transpõe nem se desbasta.”
COMO, NÃO SE PODENDO FAZER UMA SIMPLES PERGUNTA QUE TODA A GENTE ENTENDE, SE FAZ UMA COMPLICADA QUE NINGUÉM ENTENDE
Uma das razões porque falta democraticidade ao processo europeu está claramente expressa nesta nota de Vital Moreira no Causa Nossa, respondendo a uma questão de um leitor, sobre que pergunta deve ser feita no referendo sobre a Constituição Europeia: “No caso da Constituição europeia, o referendo não pode, portanto, versar sobre a aprovação/rejeição do Tratado em si mesmo (tal como não poderia incidir globalmente sobre um projecto de lei). Está excluída portanto uma pergunta deste tipo: «Concorda com a aprovação e ratificação do Tratado constitucional da UE por parte do nosso País?». Tem de ser uma pergunta (ou mais) sobre as principais inovações de fundo contidas no tratado, sobretudo as mais controversas, a começar pela própria ideia de uma Constituição Europeia. Sem prejuízo de melhor elaboração, poderia ser, por exemplo, algo como isto:O direito constitucional devia estar ao serviço das pessoas e da transparência da causa pública e do pleno exercício da soberania popular. Eu também defendo um regime parlamentar e entendo que nem tudo se pode referendar. Defendo o referendo sobre a Constituição Europeia, em grande parte porque será uma maneira de mitigar, (mitigar apenas), o prolongado défice de democraticidade que o processo europeu tem tido nos últimos anos, em Portugal e em toda a Europa. Tenho poucas ilusões sobre como vai ser feito, dado o falso “consenso” que vai do PS ao PP sobre a matéria. Mas um referendo que tivesse esta pergunta, ou uma sua variante, seria uma farsa. * Veja-se um primeiro comentário de Vital Moreira na Causa Nossa, que transcrevo: "Comentando este post, J. Pacheco Pereira afirma que «um referendo que tivesse esta pergunta, ou uma sua variante, seria uma farsa». Mas não explica porquê, nem por que é que um referendo sobre a Constituição em geral, abrangendo por atacado todo o seu longo e prolixo texto (centenas de artigos), já não seria uma farsa." * A minha objecção: em ambos os casos o que se referenda é "todo o seu longo e prolixo texto (centenas de artigos)", ou com uma pergunta de forma simples e que permite a polarização (podemos discutir porque é que é necessária), ou com uma pergunta complicada que deixará as pessoas entregues aos conselhos partidários. As poucas pessoas. * "Mas um referendo que tivesse esta pergunta, ou uma sua variante, seria uma farsa." É o velho hábito português de criar as regras e arranjar logo uma maneira "de lhes dar a volta". (Tiago Azevedo Fernandes)
EARLY MORNING BLOGS 312
Yozgad IV: How like an ocean is existence here How like an ocean is existence here, Whose waves are days and moving follow on; Each seventh wave looms larger than the rest, As Sabbaths mark the passing of the weeks: Each wave's uplift is as the rise of day, And lifted high we look around and find Nor ship, nor shore, nor bound, but only sky; Then to the trough of night the day descends, As the wave sweeps from under plunging down, And passes onward leaving us still here. So the waves pass, while we remain like hulks Whose means of self-propulsion are all gone That once rejoiced to chase them passing by. Thus derelict we lie, time passes on, And we shall see nor home, nor friend, nor love, 'Til, as the tides of ocean cast their dead Spewed forth among the jetsam of the shore, We too return, -- the flotsam of the war. So now heave-to my argosy and bear Thee up into the eye of this chill wind, And like a skilled experienced mariner I'll now ride out the storm of this vile war. (Stanley de Vere Alexander Julius) * Bom dia! 15.9.04
UM VULCÃO DIGNO DO NOME
(foto aqui) O Etna está de novo a trabalhar. Aqui perto. Está na altura de voar outra vez.
A LER
A nota Diz-me o que fazes, dir-te-ei quem és no Acidental. Acrescento: o péssimo trabalho jornalístico feito pelas televisões que filmaram o espectáculo do protesto (de um grupo que ocupou casas num bairro social do Porto destinado à demolição) sem se darem ao trabalho de investigarem o mínimo sobre o que se estava a passar, dando cobertura a uma tentativa de fraude do sistema de atribuição de casas sociais, através de ocupações selectivas por grupos marginais. Se fossem seguidos os critérios a que a operação de propaganda do Bloco de Esquerda deu cobertura, Lisboa e arredores ainda estariam cheios de barracas, como antes do Plano de Erradicação das barracas. Uma das obras do cavaquismo, diga-se de passagem.
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A SORRIDENTE TIRANIA
«Veritas», de facto, esse post sobre o «dia sem carros». Veio-me um arrepio pela espinha de lembrar tão vividamente os tempos da sorridente tirania de Guterres e João Soares. Lembra-se seguramente melhor do que eu de como o único contraditório que passava na comunicação social era o debate sobre o Benfica e Vale de Azevedo. Tudo o resto era ignorado ou silenciado (na comunicação social dominada pela esquerda sempre há a distinção entre os que são parciais espontaneamente e os que o são com dolo). Estaremos muito melhor? Não me parece. Bagão Félix é tão querido e ouvido porque o que lhe aproveitam do discurso vem muito do baú da esquerda, tem muito do ingrediente da «justiça social». Eu, que não sou pobre nem riquíssimo,só lendo blogs descomprimo deste novo sufoco da «solidariedade» e desta ideia de Estado benfeitor e omnipresente. Recebo só 60% do que ganho para que o resto alimente funcionários indolentes, mal-criados, e que me tratam como um aborrecimento intolerável quando tenho que pagar, por exemplo, algumas centenas de contos de imposto imobiliário. E quando sou obrigado a financiar em geral um Estado que quer fazer por mim o que eu faria melhor e mais barato, que se mete em tudo, desde secretarias na Golegã, a educação sem nível, a ONG`s representativas de nada, a saúde risível, a experiências culturais sem esforço nem talento nem público. Em cada sucessivo discurso governativo é sempre isto: espero um vislumbre de preocupação sobre como deixar a população activa trabalhar, investir e poupar em paz e por sua iniciativa e risco privados; em vez disso repete-se a preocupação paternalista e bacoca de ir buscar ainda mais dinheiro, de ficalizar e tolher ainda mais, para tornar «a sociedade» que eles imaginam ainda mais justa, e «os portugueses» ainda mais felizes. Carvalhas dirá «os trabalhadores», Bagão dirá «as famílias», mas no fundo é o mesmo país que vêem: um conjunto de gente sem grande ambição ou futuro, que é preciso proteger com o dinheiro dos «capitalistas» (diria Carvalhas), dos «privilegiados» (diria Bagão), mas que cada vez mais se parecem com a classe média. Depois debatem-se muito com o défice " (José Cruz)
APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: AS LÍNGUAS FALAM, O FOGO ALUMIA
Por que vos parece que apareceu o Espírito Santo hoje sobre os apóstolos, não só em línguas, mas em línguas de fogo? Porque as línguas falam, o fogo alumia. Para converter almas, não bastam só palavras: são necessárias palavras e luz. Se quando o pregador fala por fora, o Espírito Santo alumia por dentro, se quando as nossas vozes vão aos ouvidos, os raios da sua luz entram ao coração, logo se converte o mundo. Assim sucedeu em Jerusalém neste mesmo dia. Sai S. Pedro do cenáculo de Jerusalém, assistido deste fogo divino, toma um passo do profeta Joel, declara-o ao povo, e, sendo o povo a que pregava aquele mesmo povo obstinado e cego, que poucos dias antes tinha crucificado a Cristo, foram três mil os que naquela pregação o confessaram por verdadeiro Filho de Deus e se converteram à fé. Oh! admirável eficácia da luz do Espírito Santo! Oh! notável confusão vossa e minha! Um pescador, com uma só pregação e com um só passo da Escritura, no dia de hoje converte três mil infiéis, e eu, no mesmo dia, com cinco e com seis pregações, com tantas Escrituras, com tantos argumentos, com tantas razões, com tantas evidências, não posso persuadir um cristão. Mas a causa é porque eu falo e o Espírito Santo, por falta de disposição nossa, não alumia. Divino Espírito, não seja a minha indignidade a que impida a estas almas, por amor das quais descestes do céu à terra, o fruto de vossa santíssima vinda: Veni Sancte Spiritus, et emitte caelitus lucis tuae radium: Vinde, Senhor, e mandai-nos do céu um raio eficaz de vossa luz — não pelos nossos merecimentos, que conhecemos quão indignos são, mas pela infinita bondade vossa, e pela intercessão de vossa esposa santíssima.
INTENDÊNCIA
Sobre o Dia Europeu sem Carros escrevi em Setembro de 2000, era ministro José Socrates, este SEM CARROS E SEM CABEÇA que está na VERITAS FILIA TEMPORIS. Esta humilde intendência é a minha nota 2001 desde que comecei o Abrupto. Daqui a três notas estou em 2004.
EARLY MORNING BLOGS 311
Coronemus nos Rosis antequam marcescant LET us drink and be merry, dance, joke, and rejoice, With claret and sherry, theorbo and voice! The changeable world to our joy is unjust, All treasure's uncertain, Then down with your dust! In frolics dispose your pounds, shillings, and pence, For we shall be nothing a hundred years hence. We'll sport and be free with Moll, Betty, and Dolly, Have oysters and lobsters to cure melancholy: Fish-dinners will make a lass spring like a flea, Dame Venus, love's lady, Was born of the sea; With her and with Bacchus we'll tickle the sense, For we shall be past it a hundred years hence. Your most beautiful bride who with garlands is crown'd And kills with each glance as she treads on the ground, Whose lightness and brightness doth shine in such splendour That none but the stars Are thought fit to attend her, Though now she be pleasant and sweet to the sense, Will be damnable mouldy a hundred years hence. Then why should we turmoil in cares and in fears, Turn all our tranquill'ty to sighs and to tears? Let's eat, drink, and play till the worms do corrupt us, 'Tis certain, Post mortem Nulla voluptas. For health, wealth and beauty, wit, learning and sense, Must all come to nothing a hundred years hence. (Thomas Jordan) * Bom dia! 14.9.04
INTENDÊNCIA
Publicados na VERITAS FILIA TEMPORIS dois textos: um Em Defesa do Serviço Militar Obrigatório, que já tem uns anos, mas de que não tenho agora a data exacta: outro, a Re-Nacionalização da Comunicação Social , que me parece útil lembrar a propósito da recente nomeação de Luis Delgado, escrito em Dezembro de 2000. Rembrandt
A QUADRATURA DO CÍRCULO 2
Anunciei o primeiro programa da nova série para esta semana. Afinal, devido ao impedimento de um dos participantes, o programa começa só na próxima semana e tem um novo horário, à quarta-feira às 23 horas.
A CARTA
Passa-se qualquer coisa com Bagão Félix, que está demasiado convencido de si próprio. Fica-lhe mal a ele, que é sem dúvida um dos membros mais capazes deste governo, como já o era do anterior, tanta soberba. Ele é o primeiro a saber que, do ponto de vista substantivo, a conversa televisiva que teve ontem só tem duas mensagens políticas: uma, prevenir-nos de que não vai controlar o défice; outra, que este governo vai romper com a política do anterior. O resto é inexistente, descontando já o paternalismo um pouco insuportável de nos virem dizer, do alto do governo, como é que se governa uma família. É pouco, ou então é propaganda. Esta tendência de Bagão Félix começou com a história da carta, a que se deu pouca atenção. Bagão Félix apareceu na televisão a fazer um número. Nos dias em que o governo se estava a formar e não se sabia quem ficava do governo anterior, apareceu a deitar uma carta no correio para a sua família, dizendo-lhe qual era o seu destino. Repetiu várias vezes que sabia muito bem o que ia fazer. A única interpretação possível era a de que iria abandonar o governo, porque era a única circunstância que dependia exclusivamente da sua vontade. Pareceu-me um exercício de auto-afirmação, como quem diz, eu sou dono de mim próprio e decido o meu destino. Naqueles dias, em que andava tudo muito caladinho, a ver o que acontecia, pareceu-me saudável. Quando, dias depois, apareceu como Ministro das Finanças, o episódio da carta já tinha uma luz muito diferente. Para além do pormenor de, ou ele, ou o primeiro-ministro, nos estarem a enganar com as datas dos dias do convite, havia ali, já não inteireza, mas soberba e vaidade.
APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: UNS APRENDEM OUTROS NÃO
"Ille vos docebit omnia quaecumque dixero vobis: O Espírito Santo — diz Cristo — vos ensinará tudo o que eu vos tenho dito. — Notai a diferença dos termos, e vereis quanto vai de dizer a ensinar. Não diz Cristo: o Espírito Santo vos dirá o que eu vos tenho dito; nem diz: o Espírito Santo vos ensinará o que eu vos tenho ensinado; mas diz: O Espírito Santo vos ensinará o que eu vos tenho dito, porque o pregador, ainda que seja Cristo, diz: o que ensina é o Espírito Santo. Cristo diz: Quaecumque dixero vobis; o Espírito Santo ensina: Ille vos docebit omnia. O mestre na cadeira diz para todos, mas não ensina a todos. Diz para todos, porque todos ouvem; mas não ensina a todos, porque uns aprendem, outros não. E qual é a razão desta diversidade, se o mestre é o mesmo e a doutrina a mesma? Porque, para aprender, não basta só ouvir por fora: é necessário entender por dentro. Se a luz de dentro é muita, aprende-se muito; se pouca, pouco; se nenhuma, nada. O mesmo nos acontece a nós. Dizemos, mas não ensinamos, porque dizemos por fora; só o Espírito Santo ensina, porque alumia por dentro: Ministeria forinsecus adjutoria sunt, cathedram in caelo habet, quia corda docet, diz Santo Agostinho. Por isso até o mesmo Cristo, pregando tanto, converteu tão pouco. Se o Espírito Santo não alumia por dentro, todo o dizer, por mais divino que seja, é dizer: Quaecumque dixero vobis; mas se as vozes exteriores são assistidas dos raios interiores da sua luz, logo qualquer que seja o dizer, e de quem quer que seja, é ensinar, porque só o Espírito Santo é o que ensina: Ille vos docebit. "
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MAIS "PASMO DE TRIANA"- "FANTASMA POR ENTREGAS"
"Continuando, inspirada pelo “Pasmo de Triana”, breve nota agora retirada de História, cultura y memória del arte de torear de José Maria Moreiro: “(...) el consejo de Juan Belmonte a aquel aprendiz: - Si quieres torear bien, olvida-te de que tienes cuerpo. Y es que el torero, el buen torero, ha de transformar-se en un fantasma por entregas, como corresponde a su sueño inmortal de soberbia rebeldia a la materia de que está conformado. El dia que se dé por vencido, habrá que repetir-lo, la tarde que comience a cosechar lástima, nada está pintado ya donde se pone, porque há comenzado a ser la contrafigura de sí mismo: la antitesis del valor que representa” (RM)
A QUADRATURA DO CÍRCULO
recomeça esta semana (respondo assim às perguntas dos leitores). Bravado, bragadoccio, confusão, vale tudo menos tirar olhos, pontinhos a ganhar e a perder, aí está de novo, num ano particularmente interessante. Pela primeira vez toda a gente em simultâneo no programa está um pouco de mal com os seus partidos (com a maioria nos seus partidos), e o país pior que um problema intratável da geometria grega. O bom do Carlos Andrade tem que ter paciência.
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: SATURNO E CINCO DEFEITOS
na fotografia, cinco pintinhas de branco acinzentado no escuro do espaço: Dione, Enceladus, Tetis, Mimas e Rea . Uma parte pequena da família.
EARLY MORNING BLOGS 310
The Lawyers Know Too Much The lawyers, Bob, know too much. They are chums of the books of old John Marshall. They know it all, what a dead hand wrote, A stiff dead hand and its knuckles crumbling, The bones of the fingers a thin white ash. The lawyers know a dead man's thought too well. In the heels of the higgling lawyers, Bob, Too many slippery ifs and buts and howevers, Too much hereinbefore provided whereas, Too many doors to go in and out of. When the lawyers are through What is there left, Bob? Can a mouse nibble at it And find enough to fasten a tooth in? Why is there always a secret singing When a lawyer cashes in? Why does a hearse horse snicker Hauling a lawyer away? The work of a bricklayer goes to the blue. The knack of a mason outlasts a moon. The hands of a plasterer hold a room together. The land of a farmer wishes him back again. Singers of songs and dreamers of plays Build a house no wind blows over. The lawyers--tell me why a hearse horse snickers hauling a lawyer's bones. (Carl Sandburg) * Bom dia! 12.9.04
APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: TU ÉS PEDRA
"Levado S. Pedro à divindade pela revelação do Padre, vejamo-lo segunda vez elevado ou confirmado nela pela eleição do Filho: Et ego dico tibi, quia tu es Petrus, et super hanc petram ædificabo ecclesiam meam. O imperador Nerva, como refere Plínio, elegeu por seu sucessor a Trajano, e Trajano em agradecimento colocou a Nerva entre os deuses, e pagou-lhe a sucessão com a divindade. Muito melhor Pedro que Trajano, e muito melhor Cristo que Nerva. Pedro disse a Cristo: Tu es Chistus Filius Dei vivi: e Cristo disse a Pedro: Tu es Petrus, et super hanc petram ædificabo ecclesiam meam. Pedro na sua confissão deu a divindade a Cristo, e Cristo na sua sucessão não só deu a Pedro a sucessão, senão também a divindade. Assim foi e assim havia de ser; porque nem a Pedro seria digno sucessão de Cristo, nem seria digna de Cristo a providência de sua Igreja, se Pedro fora somente homem, e não fora juntamente Deus."
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: ISTO DOS TOUROS, O MAL FOI COMEÇAR
“Rafael “El Gallo”, tras almorzar con José Ortega Y Gasset y Cossio, pregunta al último: - Oye, José Maria, este señor tan amable que comío com nos otros, quien és? - Hombre, Rafael – le respondió-, tú simpre tan despistado; es Ortega Y Gasset. -Eso lo sé, que és lo que hace? -Es el filósofo más grande de España. Y Rafael “El Gallo” vuelve a mirar Cossío, diciendole: -Qué barbaridad! Hay gente pa tóo!” (Luis Nieto Manón, Anecdotario Taurino, enviado por RM )
COMO OS BLOGUES ESTÃO A TRANSFORMAR A COMUNICAÇÃO SOCIAL,
logo a política, logo o mundo. Veja-se a controvérsia da autenticidade dos documentos sobre a carreira militar de Bush neste artigo do Slate, e sigam-se as ligações.
EARLY MORNING BLOGS 309
Home I didn't know I was grateful for such late-autumn bent-up cornfields yellow in the after-harvest sun before the cold plow turns it all over into never. I didn't know I would enter this music that translates the world back into dirt fields that have always called to me as if I were a thing come from the dirt, like a tuber, or like a needful boy. End Lonely days, I believe. End the exiled and unraveling strangeness. (Bruce Weigl) * Bom dia!
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: UMA ESTREIA, TOUROS! (AGORA ACREDITE QUE NÃO HÁ NADA QUE NÃO ENCONTRE NO ABRUPTO)
“O “Pasmo de Triana” condensou recentemente, em poucas palavras, uma das gandes máximas do toureio. (...) "El riesgo iminente que ve el publico tiene que ir associado, aunque pareça paradojo, con una grande sensacion de dominio y de arte, de lado del torero." (Juan Belmonte) É preciso, pois, dominar. O domínio é a base indispensável do toureio. E dominar é saber dispor dos instintos do toiro, mediante a prática inteligente dos meios técnicos da lide, segundo a definição concisa de José Maria de Cóssio. Quanto mais domínio há, mais segurança existe. É do conjunto destas circunstâncias que resulta a beleza do espectáculo. E se, a essas duas, acrescentarmos a arte, a graça o ritmo, teremos então a Festa em toda a sua plenitude.” (Crónicas Taurinas por Saraiva Lima, publicadas no Diário Popular durante a temporada de 1944 e enviadas por RM).
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES. PERCEBER A AMÉRICA E NÃO OS SEUS INIMIGOS
"Neste terceiro aniversário do 11 de Setembro assisto aos debates que têm passado na CNN sobre o Outsourcing na India e as transformações que tem provocado. Sobressai destas discussões o choque entre uma jovem geração empowered por uma nova economia, livre nas suas escolhas, e um pensamento que rejeita e resiste desesperadamente às mudanças que considera ameaçarem o seu mundo. Deste pensamento a ideia que fica é a da convicção de que a sociedade americana é essencialmente imoral, degradante e empestada pela ignorância e a incultura, que a sua influência é deliberada transformando jovens em consumidores sem consciência nem vontade própria. Diga-se o que se disser este pensamento com todas as suas clivagens é antigo, está amplamente espalhado e é muito anterior a G.W.Bush. É um pensamento capcioso, profundamente injusto e espantosamente ingrato. Este 11 de Setembro, para variar, façamos um esforço para perceber a América e não o seus inimigos. " (João Santos Lima) 11.9.04
POLITICAMENTE CORRECTO
O Adufe reproduzia há uns dias esta placa colocada nas muralhas da cidade castelhana de Ávila. Toda ela é um tratado do “politicamente correcto” e uma falsidade histórica. Não é verdade que a muralha tenha sido uma “construção colectiva”, no sentido de que o “colectivo” para que a placa aponta – muçulmanos, judeus, cristãos – nunca existiu enquanto tal. Será que a muralha não foi construída contra ninguém, mesmo que os que estão “dentro” e os que estavam “fora” tivessem mudado desde o século XI? Para que é que se fazem muralhas? Para comemorar a amizade entre os povos e religiões? Para comemorar a sociedade sem classes (os “homens livres” e os “servos” que nela trabalharam)? Esta maneira de pensar, - a mesma que levou a UNESCO a não querer publicar a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto numa sua colecção de textos universais – é pateta e perigosa.
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: MAO ZEDONG E AS CRIANÇAS
"Esta cena passou-se hoje num restaurante chinês (…) - Oh mãe, deve ser giro ir à China e ver os chineses todos com farda! - Com farda? - Sim com aquelas batas (- Os gestos eram explícitos e qualquer pessoa pensaria nos casacos “à Mao”.) - Mas os chineses não usam farda, eles, vestem-se como querem e as chinesas adoram a moda ocidental. - Mas as fardas? - É verdade que dantes eles tinham um vestuário mais normalizado e o que se vendia nas lojas era muito igual e parecia farda, disse eu, achando que e ideia da farda e da China já estava demasiado firme para que pudesse ficar sem uma explicação. - E quando é que isso foi e porquê? (Não estava à espera de uma pequena incursão na história da China contemporânea. Falei brevemente de Mao e da ditadura.) - Vou estudar isso em História? - Não me parece, (disse e pensei como era pena nunca se abordar os temas de História Contemporânea na escola. Depois pensei também como é difícil num universo não Anglo-Saxónico abordar friamente, sem paixão nem demagogia os temas da História Contemporânea.) - Mas eu gostava, e queria saber quem era esse Mao o quê? - Mao Tse Tung. O que quiseres saber, perguntas-me e tanto quanto possa eu digo-te ou vemos em casa nas enciclopédias. (E então eu falei da China feudal de Imperadores, dos ideais da luta de classes importados da Europa, das revoluções, de Mao e de uma (falsa) ideia de igualdade que perseguiam obrigando a uma uniformidade a todos os níveis…) ~ - Por isso é que tinham as fardas? É o que dá ir almoçar aos restaurantes chineses!" (J.)
EARLY MORNING BLOGS 308
DEL PASADO EFÍMERO Este hombre del casino provinciano que vio a Carancha recibir un día, tiene mustia la tez, el pelo cano, ojos velados por melancolía; bajo el bigote gris, labios de hastío, y una triste expresión, que no es tristeza, sino algo más y menos: el vacío del mundo en la oquedad de su cabeza. Aún luce de corinto terciopelo chaqueta y pantalón abotinado, y un cordobés color de caramelo, pulido y torneado. Tres veces heredó; tres ha perdido al monte su caudal; dos ha enviudado. Sólo se anima ante el azar prohibido, sobre el verde tapete reclinado, o al evocar la tarde de un torero, la suerte de un tahúr, o si alguien cuenta la hazaña de un gallardo bandolero, o la proeza de un matón, sangrienta. Bosteza de política banales dicterios al gobierno reaccionario, y augura que vendrán los liberales, cual torna la cigüeña al campanario. Un poco labrador, del cielo aguarda y al cielo teme; alguna vez suspira, pensando en su olivar, y al cielo mira con ojo inquieto, si la lluvia tarda. Lo demás, taciturno, hipocondriaco, prisionero en la Arcadia del presente, le aburre; sólo el humo del tabaco simula algunas sombras en su frente. Este hombre no es de ayer ni es de mañana, sino de nunca; de la cepa hispana no es el fruto maduro ni podrido, es una fruta vana de aquella España que pasó y no ha sido, esa que hoy tiene la cabeza cana. (Antonio Machado) * Bom dia! 10.9.04
BIBLIOFILIA: A NAU DE PORTUGAL
Filipe Vieira de Castro, A Nau de Portugal. Os Navios da Conquista do Império do Oriente 1498-1650, Lisboa, Prefácio, 2003 Aqui está um livro muito interessante e que ensina ao curioso que, como eu, (tendo aprendido a “gesta dos descobrimentos” na escola salazarista), fiquei ignorante de quase tudo sobre o que foram esses anos de exploração, conquista e negócio. Neste pequeno livro fica-se a saber que se sabe muito pouco sobre os barcos que faziam a carreira da Índia, e como o desastre do saque moderno dos mares pelos caçadores de tesouros, está a dar cabo do pouco que sobrou. Há uma lista de exemplos portugueses, por toda a rota para Índia e nas nossas costas, saqueados sem qualquer critério que não seja vender o que se retira do fundo do mar. Depois há muitas outras surpresas como esta: “Por vezes não se consegue ler estas listas de provimentos sem sentir crescer água na boca. As provisões da viagem do capitäo-mor António de Saldanha em 1631 dão uma boa ideia da abundância, qualidade e sofisticação da cozinha portuguesa setecentista. Além de pão, biscoito, farinha, cuscus e bolos de várias naturezas, António de Saldanha levava uma quantidade apreciável de carne: presuntos conservados em azeite dentro de barris, chouriços, mãos de porco e línguas de vaca, também guardados em barris entre camadas de sal, lombos de vaca, pernas sem osso e veados que eram colocados em barris com vinagre, sal, mostarda e orégãos; perdizes e coelhos, assados no forno e passadas depois por azeite a ferver e conservados no azeite, com vinagre e especiarias. A estas carnes juntava-se ainda a carne viva: galinhas (António de Saldanha levou 600 galinhas para bordo), perus, carneiros e vitelas. Esta dieta era completada por peixe: pescada, arenque e salmão, a primeira salgada e os segundos fumados ou salgados; litões (cações) secos ao sol e chocos, linguados, lampreias, mexilhões e ostras conservados em escabeche. Embora difíceis de conservar, os legumes também faziam parte da dispensa: couves e nabos conservados ou em sal ou de escabeche e temperados com cardamomo, pimenta e mostarda, alfaces e outra hortaliça em vinagre. A lista dos legumes era completada com as imprescindíveis cebolas e alhos. Seguiam-se as frutas: uvas, ameixas e figos secos, amêndoas e laranjas, limões, peros e melancias frescos; e uma quantidade apreciável de doces: ginjas, açúcar rosado, ameixas, marmelada, pêssegos e peras cobertos de açúcar, pêssegos, melões e ameixas em açúcar ordinário, rosado e mascavado, confeitos e mel, além de varias panelas de ovos-moles, num total de 600 arráteis (275,4 kg!). Agua, vinho, azeite e vinagre, mais várias dúzias de ovos dentro de frascos com sal ou com azeite, azeitonas, conservas de vinagre (alcaparras), queijos e manteiga de vaca completavam a lista.” * "Sobre este tema e dado o seu manifesto interesse, sugiro: Jean Merrien, A Vida Quotidiana Dos Marinheiros No Tempo Do Rei Sol, Lisboa, Livros Do Brasil. Aí aprendi, entre outras coisas o significado de "pacotilha". Como rodapé, posso dizer que, na década de 90, como Oficial a bordo de um navio "da pesca do bacalhau", a dieta era muito mais monótona." (João Silva)
INTENDÊNCIA
Publicados no VERITAS FILIA TEMPORIS : A LAGARTIXA E O JACARÉ 2 (Setembro 2004) A LAGARTIXA E O JACARÉ 3 (Setembro 2004)
O “REIZINHO” DO PRIMEIRO DE JANEIRO
A minha referência ao “Reizinho” trouxe uma série de memórias nostálgicas nos nortenhos (e nos sulistas que pediam aos pais o “Janeiro” por causa do “Reizinho”…). Aqui fica um refrigério para essas nostalgias. * "Escreveu, a propósito d'O Primeiro de Janeiro, que cresceu com o «Reizinho» na última página. Espero que A Dona Gira, A Cara Metade e o Príncipe Valente não lhe tenham desaparecido da memória, bem como os contos de Natal da Walt Disney que eram publicados todos os anos na quadra adequada." (José Carlos Santos)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: JANE AUSTEN
"Tinha encomendado o livro (sugestão do Economist cuja crítica li) e fui ontem buscá-lo. (…) É feito para fanáticos de Jane Austen, nos quais eu me incluo, e chama-se The Jane Austen Book Club. Tem, na capa, um cesto de morangos inclinado com alguns morangos espalhados, e no topo uma frase de algum crítico que diz ”If I could eat this novel, I would”. (…) Sobre Jane Austen fica uma nota talvez mais junguiana que freudiana, que percebi após ter lido estes dois excertos do livro que a seguir reproduzo, (uma citação e um pedaço de texto). (A vantagem das mulheres, algumas pelo menos, é que reparam e falam sobre estas “coisas” e dizem o que não se deveria dizer e confessam o inconfessável, e claro, divertem-se com tudo isto!) “Jane Austen is weirdly capable of keeping everybody busy. The moralists, the Eros-and-Agape people, the Marxists, the Freudians, the Jungians, the semioticians, the deconstructors - all find adventure playground in six samey novels about middle-class provincials. And for every generation of critics, and readers, her fiction effortlessly renews itself.” (Martin Amis, “ Jane’s World”, The New Yorker) “Wasn’t it Kippling who said, ‘Nothing like Jane Austen when you’re in a tight spot ?’ Or something like that?” (JCD)
A LER
o DETECTOR DE SPIN do Bloguitica. Com gosto me desobriga de manter as notas que tinham o título COMO IDENTIFICAR A MÃO DA CENTRAL DE INFORMAÇÕES NAS NOTÍCIAS.
EARLY MORNING BLOGS 307
PARÁBOLAS VII Dice la razón: Busquemos la verdad. Y el corazón: Vanidad. La verdad ya la tenemos. La razón: ¡Ay, quién alcanza la verdad! El corazón: Vanidad. La verdad es la esperanza. Dice la razón: Tú mientes. Y contesta el corazón: Quien miente eres tú, razón. que dices lo que no sientes. La razón: Jamás podremos entendernos, corazón. El corazón: Lo veremos. (Antonio Machado) * Bom dia! 9.9.04
INTENDÊNCIA
Actualizados: OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: O SOL FALHOU O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VARIAÇÕES SOBRE A LAGARTIXA E O JACARÉ
EARLY MORNING BLOGS 306
EL SONETO DE RIGOR "Las rosas están insoportables en el florero" (Jaime Sabines) Tal vez haya un rigor para encontrarte el corazón de rosa rigurosa ya que hablando en rigor no es poca cosa que tu rigor de rosa no te harte. Rosa que estás aquí o en cualquier parte con tu rigor de pétalos, qué sosa es tu fórmula intacta, tan hermosa que ya es de rigor desprestigiarte. Así que abandonándote en tus ramos o dejándote al borde del camino aplicarte el rigor es lo mejor. Y el rigor no permite que te hagamos liras ni odas cual floreros, sino apenas el soneto de rigor. (Mario Benedetti) * Bom dia! 8.9.04
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: O SOL FALHOU
por causa de um miserável paraquedas. Tudo que é complexo resultou, um simples paraquedas explosivo estragou a cápsula. Vamos ver se alguma coisa se aproveita. * "o Sol é demasiado pesado para um pára-quedas o mais simples parece que é o mais complicado nestas questões do espaço e não só o Space Shuttle explodiu por causa de umas míseras borrachas e houve um foguetão europeu que teve o mesmo caminho por causa de umas quantas linhas de código informático que não foram adaptadas ao novo engenho" (José Fialho)
BIBLIOFILIA: UMA GAVETA
Entre as coisas que continuo a encontrar, numa gaveta perdida duma casa familiar, em que quase de certeza ninguém mexe desde, mais ou menos, 1950, está este prospecto de um Ford para a “cidade” e para o “campo”, como se pode ver pela idílica fotografia junta. Como um carro era então muito caro, o folheto descreve em pormenor a mecânica do carro, os materiais, tudo. Há também uma série de recortes com surpresas. Uma série sobre o teatro na Palestina, em Telavive, publicada no Primeiro de Janeiro em 1947, e o romance Tempestade de Ferreira de Castro em folhetim no mesmo jornal. Os recortes tem as indicações de onde foram tirados, mas mesmo que tal não acontecesse, o azul, amarelo e vermelho identificaria sem dúvida o Suplemento Cultural do “Janeiro”, de excepcional qualidade e colaboração. Os dois recortes apontam socialmente o anónimo recortador, porque o Primeiro de Janeiro era o jornal de referência da burguesia nortenha, do Porto em particular. Foi, durante muitos anos, o jornal que se comprava na minha família e eu cresci com o "Reizinho" na última página e depois, na perversa adolescência, com o Suplemento Cultural…O Jornal de Notícias tinha má fama, dizia-se que se se espremesse, saia sangue.
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: A CHEGADA DO SOL
Faltam duas horas e seis minutos. Pode ser acompanhada a chegada aqui.
EARLY MORNING BLOGS 305
To Autumn Season of mists and mellow fruitfulness, Close bosom-friend of the maturing sun; Conspiring with him how to load and bless With fruit the vines that round the thatch-eves run; To bend with apples the moss'd cottage-trees, And fill all fruit with ripeness to the core; To swell the gourd, and plump the hazel shells With a sweet kernel; to set budding more, And still more, later flowers for the bees, Until they think warm days will never cease, For summer has o'er-brimm'd their clammy cells. Who hath not seen thee oft amid thy store? Sometimes whoever seeks abroad may find Thee sitting careless on a granary floor, Thy hair soft-lifted by the winnowing wind; Or on a half-reap'd furrow sound asleep, Drowsed with the fume of poppies, while thy hook Spares the next swath and all its twined flowers: And sometimes like a gleaner thou dost keep Steady thy laden head across a brook; Or by a cider-press, with patient look, Thou watchest the last oozings, hours by hours. Where are the songs of Spring? Ay, where are they? Think not of them, thou hast thy music too,-- While barred clouds bloom the soft-dying day, And touch the stubble-plains with rosy hue; Then in a wailful choir the small gnats mourn Among the river sallows, borne aloft Or sinking as the light wind lives or dies; And full-grown lambs loud bleat from hilly bourn; Hedge-crickets sing; and now with treble soft The redbreast whistles from a garden-croft, And gathering swallows twitter in the skies. (John Keats) * Bom dia! 7.9.04
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: VEM AÍ O SOL
Façam figas, torçam os dedos, peçam a santos e deuses especializados no espaço, Stª Bárbara por exemplo, para que corra bem, amanhã, a chegada de um bocado do Sol que nos alumia.
SINAIS
- Fui e sou crítico de muitos aspectos do debate político-ideológico no seio do PS, particularmente quando ele se faz à volta das vacuidades abstractas que são hoje o “pensamento da esquerda”. Porém, já me interessam as questões de condução política concreta de um partido tão importante como o PS. Daí que o debate de ontem dos candidatos a secretários-gerais do PS, de que vi excertos na televisão, é positivo, porque clarifica junto de todos os portugueses diferenças de condução política que são significativas. - O governo até hoje praticamente não governou, o que é, entre outras coisas, uma resultante da massa crítica de ministros e secretários de estado que não sabem nada das suas pastas. Porém, se se verificar que a nova Lei do Arrendamento muda – e essa mudança é a reaparição do mercado de arrendamento nas cidades, o único critério pelo qual se pode medir o alcance da lei para não ser cosmética – isso é mérito do governo que tomou uma medida necessária e corajosa. Se.
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VARIAÇÕES SOBRE A LAGARTIXA E O JACARÉ
" No que se refere ao provérbio «Quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré» (com o qual eu embirro por sugerir predestinação), aproveito para fazer notar que o Rifoneiro Português, de Pedro Chaves, não lhe faz referência mas menciona diversas variantes, entre as quais: - Quem nasceu para burro, nunca chega a cavalo. - Quem nasceu para dez réis, não chega a vintém. - Quem nasceu para porco, nunca chega a porqueiro." (José Carlos Santos) * "Deveras interessante o seu comentário sobre o provérbio “Quem nasceu para lagartixa……etc”. Com o qual, a seguir, estabelece analogia com algumas variantes do Rifoneiro Português de Pedro Chaves. Em que, inevitavelmente, é associada a lagartixa ao “burro”, a “dez reis” e ao “porco”. E em que o jacaré é, também inevitavelmente, associado ao cavalo, ao vintém e ao porqueiro. Acontece que a lagartixa é muito mais inteligente, digna, simpática, benfazeja, pacífica (e, portanto, globalmente, mais civilizada) que o jacaré. Mas, pelos vistos, o Sr. Dr. J.P.P. parece preferir, dadas as suas analogias, o jacaré. Pronto. Está no seu direito. Ainda bem que avisa." (Nuno Calvet)
EARLY MORNING BLOGS 304
Canto XLV With usura hath no man a house of good stone each block cut smooth and well fitting that design might cover their face, with usura hath no man a painted paradise on his church wall harpes et luthes or where virgin receiveth message and halo projects from incision, with usura seeth no man Gonzaga his heirs and his concubines no picture is made to endure nor to live with but it is made to sell and sell quickly with usura, sin against nature, is thy bread ever more of stale rags is thy bread dry as paper, with no mountain wheat, no strong flour with usura the line grows thick with usura is no clear demarcation and no man can find site for his dwelling Stone cutter is kept from his stone weaver is kept from his loom WITH USURA wool comes not to market sheep bringeth no grain with usura Usura is a murrain, usura blunteth the needle in the the maid's hand and stoppeth the spinner's cunning. Pietro Lombardo came not by usura Duccio came not by usura nor Pier della Francesca; Zuan Bellin' not by usura nor was "La Callunia" painted. Came not by usura Angelico; came not Ambrogio Praedis, Came no church of cut stone signed: Adamo me fecit. Not by usura St. Trophime Not by usura St. Hilaire, Usura rusteth the chisel It rusteth the craft and the craftsman It gnaweth the thread in the loom None learneth to weave gold in her pattern; Azure hath a canker by usura; cramoisi is unbroidered Emerald findeth no Memling Usura slayeth the child in the womb It stayeth the young man's courting It hath brought palsey to bed, lyeth between the young bride and her bridegroom CONTRA NATURAM They have brought whores for Eleusis Corpses are set to banquet at behest of usura. (Ezra Pound) * Bom dia! 6.9.04
APRENDENDO COM D. FREI BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES: "EU VIGIO O GADO, ELE ME VIGIA A MIM: MAIS VALE SOFRER A CHUVA..."
"Era fim de Janeiro, tempo ventoso e frigidíssimo. Deixou o abrigo e chaminés dos seus paços, foi-se experimentar os maus caminhos e piores gasalhados das aldeias... Mas queixavam-se os seus que não podiam aturar a continuação do trabalho, dos caminhos, das invernadas; ele só, com trabalhar mais que todos; sofria desassombradamente todas as incomodidades; e nos caminhos, por fragosos e ásperos que fossem, era o primeiro que os acometia, pondo-se na dianteira. Passavam um dia de um lugar para outro. Salteou-os uma chuva fria e importuna, que os não largou na maior parte da jornada; e corria um vento agudo e desabrigado, que os congelava. Tinha-se adiantado o Arcebispo, segundo seu costume, que era caminhar quase sempre só pera se ocupar com mais liberdade em suas contemplações; e ia fazendo matéria de tudo quanto via no campo e na serra, para louvar a Deus. Ofereceu-se-lhe à vista, não longe do caminho, posto sobre um penedo alto e descoberto ao vento e à chuva, um menino pobre e bem mal reparado de roupa, que vigiava umas ovelhinhas que ao longe andavam pastando. Notou o Arcebispo a estância, o tempo, a idade, o vestido, a paciência do pobrezinho: e viu juntamente que ao pé do penedo se abria uma lapa, que podia ser bastante abrigo para o tempo. Movido de piedade, parou, chamou-o, e disse-lhe que se descesse abaixo pera a lapa e fugisse da chuva, pois não tinha roupa bastante pera a esperar. – Isso não! – respondeu o pastorinho, – que, em deixando de estar alerta e com o olho aberto, vem logo o lobo e leva-me a ovelha, ou vem a raposa e mama-me o cordeiro! – E que vai nisso? – disse o Arcebispo. – A mi me vai muito – tornou ele, – que tenho pai em casa, que pelejará comigo, e tão bom dia se não forem mais que brados. Eu vigio o gado, ele me vigia a mim: mais vale sofrer a chuva... Não quis o Arcebispo dar mais passo. Esperou que chegassem os da sua companhia, contou-lhes o que se passara com o menino e acrecentou: – Este esfarrapadinho inocente ensina a Frei Bartolomeu a ser Arcebispo! Este me avisa que não deixe de acudir e visitar minhas ovelhas, por mais tempestades que fulmine o céu; que, se este, com tão pouco remédio pera as passar, todavia não foge delas, respeitando o mandado do pai mais que o descanso, que razão poderei eu dar, se, por medo de adoecer ou padecer um pouco de frio, desemparar as ovelhas cujo cuidado e vigia Cristo fiou de mim, quando me fez pastor delas?" (Frei Luis de Sousa)
POEIRA DE 6 DE SETEMBRO
Hoje, há sessenta e cinco anos, a guerra começava para Virginia Woolf, a primeira vez que ouvia as sirenes a anunciar um ataque aéreo. Virginia estava em baixo: não lhe apetecia ler nem escrever, e os jornais “não valia a pena lê-los porque a BBC dava as notícias com um dia de antecedência”. Tinha que ir a Londres a 7 e estava com medo. “I a coward? Physically I expect I am.” “Shall I walk? Yes. It's the gnats and flies that settle on non-combat. This war has begun in cold blood. One merely feels that the killing machine has to be set in action.”
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SUN CITY
"Quando vi Sun City senti emoção, afinal gostava mais daquilo do que pensava. É como Joanesburgo, um lugar que muita gente considera horrível mas de que eu gosto. Lugares de dinheiro, competitivos, acelerados, energéticos, sem tempo ou consideração para com o próximo... a lei da selva. É bom quando se aprende a viver com a lei da selva, é o maior desafio." (MCP)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: OUTONO
"A mais suave, pacata e mole das estações, o Outono, suplanta a anterior e instala-se com sobressaltos medrosos, temporais enormes, manhãs escuras, turbilhões e massacres de folhas que fazem compreender quanta violência custa a maturidade." Cesare Pavese, in O Ofício de Viver (cortesia de RM)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: VENDER FUTEBOL
"Hoje, ao revisitar a velha amiga Mafalda, encontrei esta vinheta que liguei directamente às suas palavras [na Sabado]. Não é só a televisão a vender futebol como se fossem essas as grandes questões do mundo. Se bem me recordo, os grandes diários de referência, Público e DN, por alturas do Euro-2004 dedicavam a capa e a primeira dezena de páginas aos jogos e à espuma envolvente a eles. Os Ingleses e Irlandeses são grandes apreciadores de futebol, como é sabido, mas não têm jornais desportivos. Falando sobre essa questão com um Irlandês, ele olhou-me com espanto e perguntou: "jornais só de desporto? E há pessoas que compram jornais assim?" Respondi afirmativamente, mas preferi omitir que são precisamente esses os jornais que mais se vendem por cá. Será só responsabilidade dos meios de comunicação ou nós temos que assumir a nossa quota de responsabilidade? Não seremos, enfim, um pouco como o pai da Mafalda? Será que não procuramos na televisão, mesmo nos programas de informação, uma evasão aos problemas reais do mundo? É muito mais fácil comovermo-nos com tragédias de estrada ou de pobreza do que tentar compreender os verdadeiros contornos do perigo do terrorismo, por exemplo. E é muito mais fácil discutir futebol (um assunto universal e que todos julgam perceber) do que economia, política ou direito. E, da mesma forma, é mais fácil para os jornalistas o tratamento de temas emocionais. Os temas reais, como a política, as finanças, a defesa nacional e a segurança mundial (tal como a cultura, quase sempre ausente dos espaços informativos), exigem uma longa e árdua preparação, muitas vezes uma especialização, que a maioria dos jornalistas não quer ou não tem condições para adquirir. E estes temas não são realidades a preto e branco. Os temas emocionais são sempre vistos assim: há vítimas e culpados; há bons e maus; há ricos e pobres (no futebol os bons e os maus são definidos pelo espectador, consoante a cor do seu clube). Ou seja, são fáceis de tratar e transmitir pois não têm a complexidade e as tonalidades de cinza da vida real." (Paulo Agostinho)
O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: O "VASTAMA"
"John Kerry: ontem estava ele na televisão quando apareceu o meu filho que disse “quem é mãe? Parece um vastama (é assim que ele diz fantasma, e como adoro quando ele, e a irmã também era assim, diz destas asneiras eu não corrijo contrariando a sabedoria dos especialistas; penso sempre que têm toda a vida para dizer fantasma e “vastama” durará muito pouco!). Mas ele tem razão: sempre achei que havia qualquer coisa de errado com Kerry e já não era só alguns disparates que disse e diz, é mesmo algo de errado com ele enquanto pessoa e acho que ele tem mesmo algo de fantasmagórico." (J.)
EARLY MORNING BLOGS 303
Canción del pirata Con diez cañones por banda, viento en popa, a toda vela, no corta el mar, sino vuela un velero bergantín. Bajel pirata que llaman, por su bravura, el Temido, en todo mar conocido del uno al otro confín. La luna en el mar rïela, en la lona gime el viento, y alza en blando movimiento olas de plata y azul; y ve el capitán pirata, cantando alegre en la popa, Asia a un lado, al otro Europa, y allá a su frente Stambul: «Navega, velero mío, sin temor, que ni enemigo navío ni tormenta, ni bonanza tu rumbo a torcer alcanza, ni a sujetar tu valor. Veinte presas hemos hecho a despecho del inglés, y han rendido sus pendones cien naciones a mis pies. Que es mi barco mi tesoro, que es mi dios la libertad, mi ley, la fuerza y el viento, mi única patria, la mar. Allá muevan feroz guerra ciegos reyes por un palmo más de tierra; que yo aquí tengo por mío cuanto abarca el mar bravío, a quien nadie impuso leyes. Y no hay playa, sea cualquiera, ni bandera de esplendor, que no sienta mi derecho y dé pecho a mi valor. Que es mi barco mi tesoro, que es mi dios la libertad, mi ley, la fuerza y el viento, mi única patria, la mar. A la voz de «¡barco viene!» es de ver cómo vira y se previene a todo trapo a escapar; que yo soy el rey del mar, y mi furia es de temer. En las presas yo divido lo cogido por igual; sólo quiero por riqueza la belleza sin rival. Que es mi barco mi tesoro, que es mi dios la libertad, mi ley, la fuerza y el viento, mi única patria, la mar. ¡Sentenciado estoy a muerte! Yo me río; no me abandone la suerte, y al mismo que me condena, colgaré de alguna entena, quizá en su propio navío. Y si caigo, ¿qué es la vida? Por perdida ya la di, cuando el yugo del esclavo, como un bravo, sacudí. Que es mi barco mi tesoro, que es mi dios la libertad, mi ley, la fuerza y el viento, mi única patria, la mar. Son mi música mejor aquilones, el estrépito y temblor de los cables sacudidos, del negro mar los bramidos y el rugir de mis cañones. Y del trueno al son violento, y del viento al rebramar, yo me duermo sosegado, arrullado por el mar. Que es mi barco mi tesoro, que es mi dios la libertad, mi ley, la fuerza y el viento, mi única patria, la mar.» (José de Espronceda) * Bom dia! 5.9.04
JOGANDO HOJE XADREZ
Alguém se lembrou do "Ajedrez" En su grave rincón, los jugadores Rigen las lentas piezas. El tablero Los demora hasta el alba en su severo Ambito en que se odiam dos colores Adentro irradiam mágicos rigores Las formas: torre homérica, ligeiro Caballo, armada reina, rey postrero, Oblicuo alfil y peones agressores. Cuando los jugadores se hayan ido, Cuando el tiempo los haya consumido, Certamente no habrá cessado el rito. En el Oriente se encendio esta guerra Cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra. Como el outro, este juego es infinito. (Jorge Luis Borges)
POEIRA DE 5 DE SETEMBRO / BIBLIOFILIA
Hoje, há quarenta e sete anos, era publicado On the Road de Jack Kerouac, que se chamava aliás Jean-Louis Lebris de Kerouac e crescera a falar um dialecto do francês canadiano, o joual. O livro fora escrito de um modo muito especial: um longo rolo de folhas de papel coladas umas às outras – como as folhas de um blogue que estivesse exposto num ecrã gigantesco e no qual nunca houvesse esquecimento. Estava mal escrito do ponto de vista dos escritores perfeccionistas, por corrigir, por rever, embora Kerouac estivesse a trabalhar no texto desde 1950. Olhando para cima, Kerouac escreveu: "My witness is the empty sky." Olhando para o lado: “Houses are full of things that gather dust."
A LER
A nota IMPROVISAÇÃO ORGANIZADA no Portugal dos Pequeninos. O António Reis , sobre o cineasta, um exemplo de blogue que acrescenta.
PRIMEIRO NOS SELOS, DEPOIS NUM PAÍS DE FILME DE AVENTURAS
O Bophuthatswana era o bantustão dos casinos, onde os sul africanos brancos podiam ir pagar o imposto do pecado. Ia-se de carro, passando-se pelas terras da platina, parando-se nas lojas sempre abertas e sempre de portugueses, entrando e saindo ficcionalmente da República da África do Sul, porque o “independente” Bophuthatswana era uma manta de retalhos geográfica das más terras da região. Tinha golpes de estado e um ditador local Mangope, cuja fotografia estava dependurada nas entradas dos hotéis de Sun City. Foi o bantustão que mais resistiu ao fim da sua nominal independência. Os crocodilos dos selos não entravam nas salas de jogo, pelo menos na sua encarnação de réptil decente.
APRENDENDO COM O PADRE MANUEL BERNARDES: TRÊS PÁTRIAS
"Qualquer homem tem três pátrias: uma da origem, outra da natureza e outra do direito. A pátria da origem é aquela em que os nossos maiores foram e viveram; a da natureza é a terra ou lugar onde cada um nasce; a do direito é onde cada um é naturalizado pelas leis ou príncipes, e onde serve, e merece, e costuma habitar: neste sentido disse Túlio de Catão que tivera a Túsculo por pátria da natureza, mas a Roma por pátria do direito. Quanto à pátria da origem, todos os homens somos do Céu, porque ali está, vive e reina o nosso pai celestial, que vai criando as almas e unindo-as a nossos corpos. Quanto à segunda pátria, falando geralmente, todos homens somos da Terra; por isso dela falamos tão frequentemente. Neste sentido todos os filhos de Adão somos compatriotas, sem diferença do rei ao rústico. Neste sentido, também, os que desejavam negar as imperfeições do amor a tal ou a tal terra em particular, ou por arrogância e fasto filosófico ou por mortificação religiosa e santa, disseram que todo o mundo era pátria sua. Do primeiro temos exemplo em Sócrates, que, perguntado donde era, respondeu: – Do mundo: porque de todo o mundo sou cidadão e habitador. E em Séneca, que disse: – Não encerramos a grandeza do ânimo nos muros de uma cidade, antes o deixamos livre para o comércio de todo o mundo, porque esta é a pátria que professamos, para darmos campo mais largo à virtude. Do segundo temos exemplo em S. Basílio, que, ameaçado com desterro pelo prefeito do imperador Valente, respondeu que não conhecia desterro quem não estava adicto a certos lugares. Semelhante resposta foi a do v. p. frei António das Chagas, que, avisado por certa pessoa não falasse tão acremente nos sermões da morte, porque se arriscava a ser desterrado, disse mui seguramente: – Desterrar-me? Para onde? Quem não tem aqui pátria não pode ter daqui desterro. Mas, além desta pátria do lugar comum, há outra do particular, que é a terra onde cada um nasceu. Quanto esta é mais pequena, tanto une mais os seus filhos, de sorte que parece o mesmo ser compatriotas que parentes, especialmente quando se acham fora dela. E parece-se este amor com a virtude da erva tápsia, da qual escreve Teofrasto que, metida na panela com a carne a cozer, de tal modo conglutina os pedaços dela que, para os tirar, é necessário quebrá-la. Quanto, porém, a pátria é terra mais populosa, rica e ilustre, tanto costuma ser matéria de vaidade aos que põem a sua glória fora de si. Assim se esvaneciam os Arianos da sua Constantinopla, lançando em rosto a S. Gregório Nazianzeno a sua terrinha, que nem muros a cingiam. Porém o santo doutor lhes respondeu que, se isso era culpa nele, também o seria no golfinho não haver nascido na terra, e no boi não haver nascido mo mar. E, pelo contrário, se neles era glória, também o seria para os jumentos da cidade assoberbarem os do campo. Quanto à terceira pátria, é esta o lugar onde estamos naturalizados, por mercê da república, ou rescrito dos príncipes, ou habitação continua, de modo que Sto. António se chama de Pádua, não sendo senão de Lisboa, e S. Nicolau de Tolentino, sendo de Saint-Angel. Tomando, porém, isto espiritualmente, onde cada um habita com o espírito e desejo, daí é natural. Por isso, Cristo disse a seus adversários que eles eram cá de baixo: Vos deorsum estis... vos de mundo hoc estis. E, pelo contrário, a seus discípulos, que eles não eram deste mundo: De mundo non estis."
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Landscape With The Fall Of Icarus According to Brueghel when Icarus fell it was spring a farmer was ploughing his field the whole pageantry of the year was awake tingling near the edge of the sea concerned with itself sweating in the sun that melted the wings' wax unsignificantly off the coast there was a splash quite unnoticed this was Icarus drowning (William Carlos Williams) * Bom dia! 4.9.04
PRIMEIRO NOS SELOS, DEPOIS NA VIDA
Os primeiros selos checoslovacos de 1919, com o “castelo”, o Hradcany, uma série para amadores da filatelia com a sua multiplicidade de variedades, papel, cor, denteado, datas de emissão, em suma, história. Depois, a ele subi várias vezes, primeiro lendo o Castelo de Kafka, que , três anos antes destes selos aparecerem, vivia lá perto no 22 Zlata ulicka. Depois, subi lá, nos anos do fim do comunismo, trazido nos tanques soviéticos, pisando o mesmo chão que Hitler tinha pisado e que os comunistas tinham tornado no verdadeiro castelo de Kafka. Tudo estava impregnado do característico cheiro a carvão que, naqueles anos, só existia nos países comunistas. Ficou como um dos meus cheiros do estrangeiro, como a Coca Cola ainda hoje me sabe a estrangeiro. E mais tarde lá fui, durante a “revolução de veludo”, com a alegria e a tensão das ruas por baixo. Primeiro nos selos, depois na vida.
APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA:"LEMBRAI-VOS HOMENS, DO FEL, QUE VOS ESQUECE"
"Não assim Cristo. Porque quando disse Sitio, sabia mui bem que, acabados já todos os outros tormentos, faltava só por cumprir a profecia do fel: Sciens quia omnia consummata sunt, ut consummaretur scriptura, dixit: Sitio. E assim aquelas tibiezas que considerávamos, parecia que não eram amor, e eram as maiores finezas; parecia que eram um desejo natural, e eram o mais amoroso e requintado afecto. Se Cristo dissera: – Tenho sede, – cuidando que lhe haviam de dar água, era pedir alívio; mas dizer: – Tenho sede, – sabendo que lhe haviam de dar fel, era pedir novo tormento. E não pode chegar a mais um amor ambicioso de padecer, que pedir os tormentos por alívios, e para remediar uma pena, dizer que lhe acudam com outra. Dizer Cristo que tinha sede, não foi solicitar remédio à necessidade própria; foi fazer lembrança à crueldade alheia. Como se dissera: Lembrai-vos, homens. do fel, que vos esquece: Sitio. Tão diferente era a sede de Cristo do que parecia: parecia desejo de alívios, e era hidropisia de tormentos. De sorte que a ciência com que obrava Cristo e a ignorância com que obrava Pedro, trocaram estes dois afectos de maneira que o que em Pedro parecia fineza, por ser fundado em ignorância, não era amor: e o que em Cristo não parecia amor, por ser fundado em ciência, era fineza. E como a ciência ou a ignorância é a que dá ou tira o ser, e a que diminui ou acrescenta a perfeição do amor, por isso o Evangelista S. João se funda todo em mostrar o que Cristo sabia, para provar o que amava: Sciens quiu venit hora ejus, in finem dilexit eos."
BIBLIOFILIA
Dois livros acompanharão alguns textos próximos no Abrupto: Fatih Cimok, Biblical Anatolia From Genesis to the Councils, 2002 , e Nick Rennison (Ed,), Bloomsbury Reading Guide, Londres , Bloomsbury, 2001. Um sobre sítios de ver, outro sobre sítios de ler. Ambos um retrato de uma coisa que escrevi no princípio do Abrupto, numa fase de morte de blogues por depressão umbiguista: o que interessa está lá fora. E está. Só um exemplo do Bloomsbury, voltando à conversa ouvida ontem sobre a “história da merda da baleia”, ou seja, do Moby Dick. Quer o leitor ler mais alguma coisa sobre peixes, mar e obsessões, pois o Bloomsbury aconselha o Nigger of the Narcissus de Conrad e os Travailleurs da la Mer de Victor Hugo. Ecléctico. Querem os amadores dos comboios, que leram o soneto do Vasco Graça Moura e viram o quadro de Delvaux, mais comboios? Pois o Bloomsbury recomenda o óbvio Crime no Expresso do Oriente da Agatha Christie, o Stamboul Train de Greene (e por ele podemos chegar à Anatólia), e um menos óbvio Bom Soldado Sejk de Hasek. Ou seja, uma coisa leva à outra e depois à outra e depois à outra. Acaba? Acaba é connosco, ou acabamos primeiro. Por isso, pode haver tudo, miséria, sofrimento, doença, alegria, poder ou morte, mas aborrecimento certamente não há. Nunca percebi as pessoas que se dão ao luxo de estar aborrecidas.
APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: "TENHO SEDE"
"Em todas as cousas que Cristo obrou neste Mundo, manifestou sempre o muito que amava os homens; contudo, uma palavra disse na cruz, em que parece se não mostrou muito amante: Sitio: «Tenho sede.» Padecer Cristo aquela rigorosa sede, amor foi grande; mas dizer que a padecia e significar que lhe dessem remédio, parece que não foi amor. Afecto natural, sim; afecto amoroso, não. Quem diz a vozes o que padece, ou busca o alívio na comunicação ou espera o remédio no socorro; e é certo que não ama muito a sua dor, quem a deseja diminuída ou aliviada. Quem pede remédio ao que padece, não quer padecer; não querer padecer, não é amar: logo, não foi acto de amor em Cristo dizer: Sitio: «Tenho sede.» Contraponhamos agora esta acção de Cristo na cruz e a de S. Pedro no Tabor. A de S. Pedro, parece que tem muito de fineza; a de Cristo, parece que não tem nada de amor. Será isto assim?" (Continua)
EARLY MORNING BLOGS 301
The Naming Of Cats The Naming of Cats is a difficult matter, It isn't just one of your holiday games; You may think at first I'm as mad as a hatter When I tell you, a cat must have THREE DIFFERENT NAMES. First of all, there's the name that the family use daily, Such as Peter, Augustus, Alonzo or James, Such as Victor or Jonathan, George or Bill Bailey-- All of them sensible everyday names. There are fancier names if you think they sound sweeter, Some for the gentlemen, some for the dames: Such as Plato, Admetus, Electra, Demeter-- But all of them sensible everyday names. But I tell you, a cat needs a name that's particular, A name that's peculiar, and more dignified, Else how can he keep up his tail perpendicular, Or spread out his whiskers, or cherish his pride? Of names of this kind, I can give you a quorum, Such as Munkustrap, Quaxo, or Coricopat, Such as Bombalurina, or else Jellylorum- Names that never belong to more than one cat. But above and beyond there's still one name left over, And that is the name that you never will guess; The name that no human research can discover-- But THE CAT HIMSELF KNOWS, and will never confess. When you notice a cat in profound meditation, The reason, I tell you, is always the same: His mind is engaged in a rapt contemplation Of the thought, of the thought, of the thought of his name: His ineffable effable Effanineffable Deep and inscrutable singular Name. (T.S. Eliot) * Bom dia! 3.9.04
O OUTRO LADO DOS SANTOS: PARA CONTRAPOR AO BOM PADRE VIEIRA QUE FALA LÁ EM BAIXO NA PARTE JÁ ESQUECIDA DO BLOGUE
San António bendito, dáde-me un home, anque me mate, anque me esfole. Meu Santo António, daime un homiño anque o tamaño tenã dun gran de millo. Daimo, meu santo, anque os pés teña coxos, mancos os brazos. Unha muller sin home… !santo bendito! é corpiño sin alma, festa sin trigo. Pau viradoiro, que onda queira que vaia troncho que troncho. Mais en tendo un homiño !Virxe do Carme! non hai mundo que chegue para un folgarse. Que zambo ou trenco, sempre é bo ter un home para un remédio. Eu sei dun que cobisa causa mirarlo, lanzaliño de corpo, roxo e encarnado. Carniñas de manteiga, e palabras tan doces cal mentireiras. Por el peno de dia, de noite peno, pensando nos seus ollos color do ceo. Mais el xa doito, de amoriños entende, de casar pouco. Face meu San António que onda min veña, para casar conmigo, nena solteira, Que levo en dote unha culler de ferro catro de boxe, In irmancito novo que xa ten dentes, una vaquiña vella que non dá leite... ¡Ai! Meu santiño, facé que tal suceda, cal volo pido. San António bendito, dáde-me un home, anque me mate, anque me esfole. Que zambo ou trenco, sempre é bo ter un home para un remédio. (Rosalia de Castro)
POEIRA DE 3 DE SETEMBRO
Hoje, há 59 anos, Noel Coward começava a convencer-se de que poderia haver paz, pelo menos uma “officialy declared peace”, com o mundo “num caos físico e espiritual”. Escreveu no seu diário: “History in the making can be most exhausting”. Tinha razão.
PRIMEIRO NOS SELOS, DEPOIS NO TRIBUNAL DE HAIA
Primeiro, nos selos do Estado croata, criado pelos alemães e apoiado pelo Vaticano, durante a II Guerra, e depois aqui: "Milosevic acusou o Vaticano, também vítima do «declínio moral» das grandes potências, de querer «destruir a Sérvia para assegurar a sua expansão em direcção ao Leste». Palavras igualmente duras reservou para a Alemanha, país que, nas suas palavras, «durante anos, fez tudo para destruir a Jugoslávia».
CONVERSA OUVIDA
“- Ele punha lá aquilo no blogue. Aquilo. A história da merda da baleia...” - O Moby Dick, não é?”
APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: "SÓ CRISTO AMOU, PORQUE AMOU SABENDO"
"Primeiramente só Cristo amou, porque amou sabendo: Sciens. Para inteligência desta amorosa verdade, havemos de supor outra não menos certa, e é que, no Mundo e entre os homens, isto que vulgarmente se chama amor, não é amor, é ignorância. Pintaram os Antigos ao amor menino; e a razão, dizia eu o ano passado, que era porque nenhum amor dura tanto que chegue a ser velho. Mas esta interpretação tem contra si o exemplo de Jacob com Raquel, o de Jónatas com David, e outros grandes, ainda que poucos. Pois se há também amor que dure muitos anos, porque no-lo pintam os sábios sempre menino? Desta vez cuido que hei-de acertar a causa. Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos, como o de Jacob, nunca chega à idade de uso da razão. Usar de razão e amar, são duas cousas que não se juntam. A alma de um menino que vem a ser? Uma vontade com afectos e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração. que não houvesse fraqueza no juízo. Por isso os mesmos pintores do amor lhe vendaram os olhos. E como o primeiro efeito ou a última disposição do amor, é cegar o entendimento, daqui vem que isto que vulgarmente se chama amor. tem mais partes de ignorância; e quantas partes tem de ignorância, tantas lhe faltam de amor. Quem ama porque conhece, é amante; quem ama porque ignora é néscio. Assim como a ignorância na ofensa diminui o delito, assim no amor diminui o merecimento. Quem, ignorando, ofendeu, em rigor não é delinquente; quem, ignorando, amou, em rigor não é amante."
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: FRIO, FRIO, ESTÁ A COMEÇAR A FICAR QUENTE, QUENTE
É como estes anéis nas suas falsas cores. Quentes, vermelho, mais frios, azul e verde. Se jogássemos entre eles, procurando o objecto escondido, o Graal de Saturno, teríamos que ir assim, medindo a temperatura, de frio em frio, até encontrarmos o lugar quente, afinal apenas o menos frio. O anel vermelho está a 110 K, muito, muito abaixo da temperatura em que a água gela.
SINAIS: DE "ABORTO-EXCITADOS" A "ABORTO-CALMOS"
Sinais que o PP, Paulo Portas e o seu grupo em particular, estão a “evoluir” em matéria de aborto como aconteceu com a questão europeia: para se manterem no governo vão moldando a sua “política de princípios”. Estão a passar de “aborto-excitados” para “aborto-calmos”.
SINAIS DE CAOS
Sinais de condução política caótica por parte do governo em toda a questão do “barco do aborto”. (Ou interpretação alternativa: sinais de que o Primeiro-ministro faz governação por cabotagem, sempre à vista da costa que, neste caso, é a comunicação social. Os resultados são os mesmos: caos e confusão de mensagens.)
VULCÃO CUMPRE O TEU DEVER
E o meu preferido, o Piton de la Fournaise, lá o cumpre galhardamente como se vê nesta foto de ontem. Como de costume, não estou lá para ver, porque este tem o mau hábito de entrar em erupção quando eu viro as costas.
EARLY MORNING BLOGS 300
Dove Sta Amore Dove sta amore Where lies love Dove sta amore Here lies love The ring dove love In lyrical delight Hear love's hillsong Love's true willsong Love's low plainsong Too sweet painsong In passages of night Dove sta amore Here lies love The ring dove love Dove sta amore Here lies love (Lawrence Ferlinghetti) * Trezentas vezes. Bom dia! 2.9.04
BIBLIOFILIA PURA
Pedro Homem de Mello, e ninguém me conhecia. 60 Poemas escolhidos e apresentados por Manuel Alegre e Paulo Sucena, Porto, Poiesis, 2004 Este homem escrevia assim: CIDADE GRANDE Onde é que há sombras como as destas casas? Onde é que há noites como as destas luas? Onde é que as águias abrem mais as asas Do que este vento, apunhalando as ruas?
BIBLIOFILIA: LIVROS E CAPITALISMO
Os Penguin Books revolucionaram a edição inglesa e depois a mundial (uma história dos Penguin Books está aqui). A ideia original era fazer livros ao preço de um maço de cigarros. Nos anos mais difíceis da guerra, os livros tinham reclames nas capas e contracapas como este de Maurice Collins de 1943. Os Norvic Shoes, o chocolate Mars e o Jif Shaving Stick , que são os reclames neste livro, não envergonhavam ninguém e ajudavam o livro a permanecer barato. * "A propósito do seu post dedicado à Penguin e à maneira como revolucinou a edição, vale a pena acompanhar a sua mais recente acção de promoção dos seus livros. Parece que a originalidade da Penguin não se esgotou no século passado. Aqui." (Rui Amaral)
CORREIO
Sofreu de novo um atraso maior. Com pedido de desculpas, vou tentando responder mesmo com atraso.
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: "LOOK MOM NO PEBBLE!"
não é uma frase desta série do Abrupto, mas o título da nota da NASA sobre a pedrinha que estava a encravar a broca da Opportunity.
A PROPÓSITO DO QUADRO DE DELVAUX
soneto pardacento estou em bruxelas de segunda a quinta: há livrarias. não se come mal. dos aviões, talvez eu me ressinta: voos por ano faço cento e tal. na europeia babel, rios de tinta correm em cada língua oficial. um dia, quando os quinze forem trinta, deixa de haver europa ocidental. das vénus que delvaux pintou, nenhuma entre os espelhos e a melancolia das gares e das luas, quando a cinza do dia a dia as almas desarruma em flamenga e francófona rezinza. burguês. à chuva. adeus. sem maresia. (Vasco Graça Moura) 1.9.04
EARLY MORNING BLOGS 299
HORSES AND MEN IN RAIN LET us sit by a hissing steam radiator a winter's day, gray wind pattering frozen raindrops on the window, And let us talk about milk wagon drivers and grocery delivery boys. Let us keep our feet in wool slippers and mix hot punches--and talk about mail carriers and messenger boys slipping along the icy sidewalks. Let us write of olden, golden days and hunters of the Holy Grail and men called "knights" riding horses in the rain, in the cold frozen rain for ladies they loved. A roustabout hunched on a coal wagon goes by, icicles drip on his hat rim, sheets of ice wrapping the hunks of coal, the caravanserai a gray blur in slant of rain. Let us nudge the steam radiator with our wool slippers and write poems of Launcelot, the hero, and Roland, the hero, and all the olden golden men who rode horses in the rain. (Carl Sandburg) * Bom dia!
© José Pacheco Pereira
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