ABRUPTO |
correio para
jppereira@gmail.com
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31.10.03
17:48
(JPP)
"Fifteen men on a dead man�s chest Yo ho ho and a bottle of rum Drink and the devil be done for the rest Yo ho ho and a bottle of rum." (Robert Lewis Stevenson)
16:47
(JPP)
Hoje j� ningu�m pode subir ao vulc�o. Toda a �rea foi interdita. Resta-me este s�tio. Mas como � que se pode �seguir� um vulc�o pela Internet? 30.10.03
11:23
(JPP)
(Perdido nos arquivos est� a memoria de outro vulc�o, La Solfatara) Pouco a pouco, deixa-se a pequena Fran�a creoula dos tr�picos, com o calor dos tr�picos e o mar absoluto das ilhas, e vai-se subindo, primeiro aos mil, e depois aos dois mil metros. A mil metros, entra-se numa fantasm�tica Sui�a, pastagens alpinas, �rvores alpinas e vacas alpinas. Come�a a ficar frio, mas frio a s�rio, e uma bruma permanente corta quase toda a visibilidade. A paisagem esplendorosa das ilhas vulc�nicas come�a a impor-se e j� n�o s�o os Alpes a refer�ncia que se lembra diante destes desfiladeiros de basalto, cobertos de verde e verde e verde. De repente, numa curva, um vale como nunca vira nenhum, entalado entre encostas quase a pique. Resultado do abatimento de uma c�mara de magma e depois moldado pelas chuvas violentas dos ciclones, La Rivi�re des Remparts � hoje desabitado, tal o susto, nos anos sessenta, por que passou uma pequena comunidade quando uma parte de uma destas encostas lhe ia caindo em cima. Uma barragem natural foi o que resultou desse desabamento. Tamb�m aqui, os mais estreitos vales alpinos, de origem glaciar, parecem largas avenidas. O relevo, mesmo quando, subindo, parece a pique, nos Alpes ou nos fiordes noruegueses, tem pouco a ver com as paredes a quase noventa graus da Rivi�re des Remparts, rasgadas apenas, no meio do verde, pelo sulco das quedas de �gua. Subindo mais, o verde come�a a desaparecer, entramos no imp�rio dos l�quens e da urze, do cinzento e do amarelo brilhante das flores. A natureza das pedras n�o engana ningu�m - aproximamo-nos de um vulc�o e a terra que pisamos � cada vez mais nova. PLAN�CIES, PLANALTOS, AREIAS, CINZAS, LAVAS, CONES E CRATERAS (em breve) ![]() (Plaine des Sables, olhando para ocidente) ![]() (Formica Leo, um cone "stromboliano", hoje) ERUP��ES A �ltima erup��o do Piton de la Fournaise foi em Agosto e terminou em 30 de Setembro. A pr�xima pode ser hoje ou amanh�. Ontem, todas as pessoas que se encontravam nesta �rea, de onde estou a pensar no que agora escrevo, foram retiradas, algumas de helic�ptero, devido ao acumular r�pido de sinais percursores de nova erup��o. A terra treme e observam-se altera��es no volume da cratera Dolomieu. ![]() (Enclos Fouqu� e Formica Leo, hoje) Hoje, olho a grande superf�cie de lava negra que enche o Enclos Fouqu� , � minha frente est�o as crateras Bory e Dolomieu, a "crat�re br�lant". A lei de Murphy vai funcionar de novo e, depois de tanto esfor�o para ver a �fornalha� activa, vou falhar por um dia ou dois. Trago comigo uma pequena pedra, porosa e leve, avermelhada pela oxida��o, atirada pelo vulc�o, h� dias ou h� mil anos, volto as costas e des�o. ![]() (Crateras Bory e Dolomieu, hoje) 29.10.03
19:49
(JPP)
Agradecimento a Jos� Bento, pelas indica��es que me enviou e por me ter ensinado "Ot�, coment il�?" e que a resposta deve ser "il lel�".
19:40
(JPP)
Como era normal, acabaram os imp�rios coloniais, o portugu�s com a convuls�o que se sabe. Os territ�rios do imp�rio foram, desde a d�cada de sessenta, inclu�dos pelas Na��es Unidas na Comiss�o de Descoloniza��o, e os casos especiais, como Macau, foram, a prazo, resolvido com a retoma de soberania pela China. Mas h� imp�rios coloniais e imp�rios coloniais. Hoje vi um mapa, numa sala operacional da Marinha Francesa, as �reas debaixo da sua jurisdi��o no Oceano �ndico, e nelas cabiam tr�s Mediterr�neos. Ilha a ilha, arquip�lago a arquip�lago, rocha habitada ou desabitada, de Mayotte � Mauricia e Reuni�o, de Nouvelle Amsterdam a Kerguelen, uma imensa quantidade de mar austral � francesa , incluindo o centro do canal de Mo�ambique e uma enorme fatia de mar at� � Ant�rtida. Essas ilhas, na sua zona econ�mica exclusiva, t�m alguns dos melhores locais de pesca desta regi�o. Como � que nenhum pais lim�trofe, como Madag�scar, por exemplo, reinvindicou a soberania sobre essas ilhas? De facto, h� hist�rias coloniais e hist�rias coloniais. Muitas destas ilhas t�m ou tiveram nomes portugueses. (Sem todos os acentos)
16:32
(JPP)
Dito por um amigo malt�s, no outro lado do mundo: "Sabes, no meu pa�s somos quase noventa por cento de cat�licos, mas em malt�s Deus diz-se Al�". N�o sabia. 28.10.03
21:35
(JPP)
a uma luz diferente, escrevo. Vi o Kilimanjaro, sem neve. Amanh� (talvez sem acentos) encontrarei neve no mais improv�vel lugar e voltarei aqui. 27.10.03
10:52
(JPP)
Acho que, pela primeira vez, um "early morning" se sucede a outro. Vicissitudes do tempo. Se tudo correr bem e os sat�lites cumprirem os seus deveres, o Abrupto desta semana estar� muito longe, no meio de nada, perto, muito perto, de um vulc�o a s�rio, La Fournaise. O autor leu, h� muitos anos, as palavras de Kant sobre o "belo" e o "terr�vel", e sempre gostou de vulc�es, pelo que haver� chamas, lavas, fumos t�xicos, cinzas e outros ejecta. Uma paz de esp�rito, nada que se compare ao estado da p�tria. Bom dia. 26.10.03
10:02
(JPP)
![]() Touch Me In The Morning (Gravada por Diana Ross, cortesia da Isabel S.) RON MILLER / MICHAEL MASSER "Touch me in the morning then just walk away We don't have tomorrow but we had yesterday Hey wasn't it me who said that nothin' good's gonna last forever And wasn't it me who said let's just be glad for the time together Must've been hard to tell me That you've given all you had to give I can understand your feelin' that way Ev'rybody's got their life to live Well I can say goodbye in the cold morning light But I can't watch love die in the warmth of the night If I've got to be strong don't you know I need to have tonight When you're gone till you go I need to lie here and Think about the last time you'll touch me in the morning Then just close the door leave me as you found me Empty like before Hey wasn't it yesterday we used to laugh at the wind behind us Didn't we run away and hope that time wouldn't try to find us Didn't we take each other to a place where no one's ever been Yeah I realy need you near me tonight 'Cause you'll never take me there again Let me watch you go with the sun in my eyes We've seen how love can grow now we'll see how it dies If I've got to be strong don't you know I need to have tonight When you're gone till you go I need to hold you until the tie Your hands reach out and Touch me in the morning then just walk away We don't have tomorrow but we had yesterday We're blue and gold and we could feel one another living We walked with a dream to hold and we could take what the world was giving There's no tomorrow here there's only love and the time to chase it Yesterday's gone my love there's only now and it's time to face it."
09:46
(JPP)
Excelente coment�rio sobre atitudes portuguesas, entre a indiferen�a quotidiana pelo que � importante e o encher o peito de ar contra a �campanha� estrangeira denegridora, no Complot. Com a dist�ncia que o tempo trar�, um dia se far� uma an�lise dos temas, da agenda da blogosfera. Por exemplo: a resolu��o da ONU sobre o Iraque, que, seja qual for o ponto de vista, tem que ser considerada um importante documento pol�tico, n�o mereceu praticamente nenhum coment�rio, salvas as habituais excep��es. Mais importante do que coment�rios dispersos, � saber se uma mat�ria foi ou n�o incorporada nas discuss�es, e, neste caso, n�o foi. Tamb�m n�o teve grande relevo na imprensa, e talvez pelas mesmas raz�es: a resolu��o d� � ocupa��o militar do Iraque pelos EUA e seus aliados (porque � este o nome da coisa) a cobertura das Na��es Unidas, da �legalidade internacional�. Pelo contr�rio, estou certo que ir� haver enormes press�es para que se discuta a escolha do novo director do Di�rio de Not�cias. Admira-me que ainda n�o tenha aparecido a habitual invectiva a �exigir� que eu comente o caso, sob pena de ser reduzido a um pequeno funcion�rio partid�rio, sem �tica nem vergonha. Mas eu j� comentei o �caso� h� muitos anos: enquanto o Estado for dono de �rg�os de comunica��o social, de que tem a posse directa, como a �televis�o p�blica� ou a RDP, ou que foram de novo �nacionalizados� via PT, por iniciativa do par Guterres - Pina Moura, sem protesto de ningu�m, todos os governos fazem nomea��es pol�ticas para as suas direc��es. Insisto, todos. E v�o continuar a fazer enquanto esta situa��o se mantiver. Por isso, e para que n�o haja indigna��es selectivas, s� participo em campanhas contra a manipula��o, pelos governos, da comunica��o social, quando estas forem at� � ra�z do problema e pugnarem pelo fim da comunica��o social do Estado. Enquanto for assim, at� prefiro que as nomea��es sejam transparentes e que se saiba quem manda. O maior atentado contra a liberdade da imprensa cometido nos �ltimos dez anos foi a compra da Lusomundo pela PT, e passou sem qualquer protesto dos que agora batem com a m�o no peito. O governo era socialista e a medida estatizante, pelo que ningu�m quis saber das suas implica��es. 25.10.03
14:33
(JPP)
�Bristol, 29 de Julho de 1886 Meu Querido Oliveira Martins O portador desta carta ser�, creio eu, o sobrinho de minha mulher, D. Lu�s de Castro, que vai fazer exames - exames que ele te explicar�, porque eu nada compreendo das divertidas complica��es da pedagogia nacional. Sei apenas que, quando um rapaz quer ser engenheiro - o Estado imediatamente lhe ensina Ret�rica e Direito Can�nico: e quando o temperamento de outro mo�o o inclina para a Teologia - logo o Estado o torna proficient�ssimo em Desenho Linear e Bot�nica. Quando eu estava no Porto, assisti com efeito ao pavoroso espect�culo dos estudos de Lu�s de Castro: ele quer ser, creio eu, engenheiro naval: e para isso andava introduzindo dentro do cr�nio, por meio de um martelo e de um comp�ndio, um tratado de direito civil, as "�clogas" de Virg�lio e a lista de todos os reis de Fran�a e de Inglaterra, com os seus nomes, os seus n�meros, as suas alcunhas, as suas fam�lias, os seus bastardos e as suas funda��es pias. E foi ent�o que eu compreendi a filosofia e a secreta moral do empenho. O empenho, t�o caluniado pelos austeros, � por fim a salva��o do Pa�s O empenho � o correctivo do bom senso p�blico aplicado ao disparate oficial. Sempre que um regulamento, sa�do de um antro burocr�tico, imp�e ao p�blico uma pr�tica tola - o p�blico coliga-se por meio do empenho, para lhe anular os efeitos funestos. O Estado, imbecil, exige que meu filho ou sobrinho, que quer ser engenheiro, saiba de cor a L�gica do Jo�o D�ria e a Ret�rica do Cardoso?... Pois bem, eu o lograrei, na sua imbecilidade! E vou direito ao examinador e, por meio do empenho, consigo que o rapaz venha a ser engenheiro, sem nada saber dos imposs�veis f�sicos e metaf�sicos e da Teoria do Silogismo. Tal � o grande, nobre papel do empenho na sociedade portuguesa: ele � a conjura��o do bom senso positivo contra o idealismo obsoleto e tolo das institui��es. Este aranzel tende a acalmar a tua consci�ncia de fil�sofo e de patriota - quando eu agora te pedir, com inst�ncia que te empenhes para que D. Lu�s de Castro seja aprovado em todas essas mat�rias que o Estado lhe fez decorar, que ele decorou com paci�ncia e submiss�o, mas que, no momento preciso, lhe podem esquecer - como todas as coisas que a gente sabe s� de cor, e s� em obedi�ncia ao Estado! Como esta carta � s� de empenho, n�o te falo em outros assuntos - a n�o ser em dois igualmente interessant�ssimos para Portugal e para mim: quando h� probabilidades de que tu, ENFIM, nos comeces a governar? E quando aparecem os sonetos de Santo Antero? Abra�a o Santo, e tu, recebe abra�o igualmente afectuoso, do teu do C. Queir�s� (Retirada de Cartas de Autores Portugueses, Edi��o dos CTT, 1987; cortesia de Am�rico Oliveira )
12:43
(JPP)
um bando de pardais proteger-se da chuva debaixo de um pequeno arbusto. Vantagem de quem anda � chuva. L� est�o eles, pousados entre os ramos, debaixo das folhas, com uma completa incapacidade para estarem quietos. Se eu fosse romano, interpretaria os aug�rios. Se eu fosse Stephen King, sabia que aug�rios com pardais n�o s�o auspiciosos. Como n�o sou nenhuma dessas coisas, estou solid�rio com os p�ssaros, mas menos irrequieto. ![]()
11:41
(JPP)
Que blogue magn�fico dariam frases fragment�rias como esta horaciana: �UM EPICURISMO feito de abdica��es... Toda a nossa arte deve ser a de reduzir ao m�nimo o elemento doloroso dos prazeres - a f�ria que queiramos p�r neles, o desejo de que durem para al�m do que podem durar, a saudade in�til do que foram... Uma abdica��o l�cida e tranquila, um culto pensadamente ing�nuo de si mesmo e dos pr�prios v�cios, se eles se prestam a esse culto.� Ou este exerc�cio � volta da frase de Wilde sobre como �most people are other people�: �O ARISTOCRATA � o que n�o obedece; por isso, por sua natureza de n�o obedecer, degenera em n�o obedecer a convic��es que tem, em n�o obedecer a si pr�prio. Da� o facto das aristocracias acumularem em geral a teoria moral e a corrup��o pr�tica ambas em alto grau e consciente e sinceramente. O aristocrata � o indiv�duo que sente a necessidade de agir diferentemente dos outros. Ao passo que o burgu�s deseja agir conforme a regra geral, o aristocrata pretende o contr�rio. Ele � o que age por si. Ele e ele, n�o os outros, como dizia o Oscar Wilde da maioria da gente. (�). O aristocrata � a forca desintegrante, do progresso, anarquista. 0 povo � que � a for�a conservadora. Na classe media, basilarmente povo, adoptadamente aristocr�tica, d�-se o equil�brio de tend�ncias que mostra o estado social, a norma vital da sociedade. Aristocratizac�o total = anarquizac�o. O individualismo � limitado. H� gente inindividualiz�vel.� Ou, por �ltimo: �UMA �RVORE N�O VAI a com�cios. Urna pedra n�o tem na ponta da l�ngua (que ali�s n�o possui) tudo o que afinal Karl Marx nunca disse ou quis dizer.� Tudo isto em mais uma s�rie de textos sa�dos da arca infinita: Fernando Pessoa, (Edi��o de Richard Zenith), Escritos Autobiogr�ficos, Autom�ticos e de Reflex�o Pessoal, Lisboa, Ass�rio e Alvim, 2003.
11:15
(JPP)
de ontem, � um azulejo de Iznik, da segunda metade do s�culo XVI. Est� na Mesquita do Sult�o Ahmet em Istambul. Brilha hoje, como h� quinhentos anos.
10:48
(JPP)
Um simples Vinicius, pela manh�: "De manh� escure�o De dia tardo De tarde anoite�o De noite ardo A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo Este � o meu norte. Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem Nas�o amanh� Ando onde h� espa�o: Meu tempo � quando." (Cortesia da Rita M., fiel desde o princ�pio.) * Bom dia e deixem de protestar contra a chuva. A chuva sempre lavou a alma, e enche as terras de for�a. L� no fundo, onde s� a min�scula toupeira v�, n�o vendo, h� festa entre as ra�zes.
01:38
(JPP)
O Ret�rica e Persuas�o perguntava-me sobre as raz�es porque usei uma frase, que tinha publicado no Abrupto, num artigo do P�blico. Reproduzo aqui as perguntas e os meus coment�rios. A quest�o suscitada interessa-me porque a inter-comunicabilidade entre diferentes meios de comunica��o (blogue, audiovisual, escrita) � para mim um problema, ao mesmo tempo te�rico e pr�tico. E n�o me esque�o de que, numa das minhas primeiras notas no Abrupto, eu remetia para uma resposta mais completa a uma determinada quest�o para um debate do Flashback, que j� estava gravado, e isso provocou a f�ria de alguns autores de blogues, como se fosse uma viola��o do ethos da blogosfera. Ali�s, sou frequentemente incitado (algumas vezes provocado) a escrever sobre determinados assuntos e, se n�o o fa�o, imediatamente criticado, com a demasiado r�pida excita��o de alguns blogues, principalmente os de jornalistas, que t�m tanto speed que depois se cansam depressa. Muitas vezes, como j� disse o que queria dizer e como o queria dizer noutro tempo (a mem�ria n�o tem para mim quinze dias, nem quatro Expressos, nem dois meses de TSF), ou noutro s�tio, n�o me vou repetir. 1) Tratou-se de mero lapso [o conte�do de tal post na sua cr�nica no Publico ] ou de uma decis�o consciente? De uma decis�o consciente. O texto fazia parte de um cluster, para usar um anglicismo em moda, de reflex�es fragmentadas que coloquei no blogue. Depois evolu�ram para um texto mais extenso que pensei publicar no P�blico (parecia-me um assunto com interesse geral, e a forma de um Dicion�rio permitia-me acrescentar e cortar algumas notas, e pode ser que no futuro algumas dessas notas venham para o Abrupto). O meu uso dos media a que tenho acesso � comunicante, utilizo o que me parece mais conveniente conforme a natureza dos media e do que pretendo dizer ou escrever. 2) E a confirmar-se a segunda hip�tese: a) dever-se-� reconfigurar a "novidade" como requisito da publica��o jornal�stica? N�o penso que a �novidade� seja o elemento fundamental, embora tenha em conta que o artigo deve ser no essencial in�dito para o grande p�blico do P�blico. Como o jornal tem muitos mais leitores do que o blogue, e a parte que aproveitei do texto do blogue era apenas uma pequena parte (e, mesmo assim, com altera��es), entendi us�-la. J� fiz isso uma ou duas vezes, do blogue para a televis�o, da televis�o para o blogue ou o jornal. Por outro lado, deliberadamente, quando me agrada uma ideia ou uma frase, ou uma determinada formula��o de um problema (um v�rus), esfor�o-me por a usar de forma complementar nos diferentes media, ou seja, infectar as pessoas com ela. Isto inclui o uso da �ret�rica� e da �sedu��o�. Como sempre tenho afirmado, n�o sou indiferente aos resultados do que digo ou escrevo, em particular quando versa mat�rias a que atribuo um significado c�vico. Nas outras mat�rias, j� considera��es de efic�cia t�m pouca import�ncia, ou os mecanismos dessa efic�cia s�o de tipo diferente, narrativo, est�tico, etc.. H�, no entanto, uma distin��o que queria fazer, sabendo que as fronteiras que ela enuncia s�o prec�rias e dif�ceis de definir: eu estou no �mercado das opini�es�, n�o no das �agendas�. N�o s�o mutuamente incompat�veis, e pode-se sempre chamar agenda a qualquer intencionalidade da fala, mas � uma distin��o que tenho vindo a compreender cada vez melhor. Noutra altura voltarei a falar disto, porque � aqui que as quest�es da an�lise, da objectividade, da propaganda, se podem colocar. b) poder� a pr�via edi��o num blogue servir de "bal�o de ensaio" para a publica��o no jornal? Sim, como se v� pelas respostas anteriores. 24.10.03
19:24
(JPP)
![]() Theodorus Metochites, que aqui est� segurando uma igreja que oferece a Cristo, ele representado de lado, Cristo de frente sentado num trono (n�o se v� no fragmento), era um poderoso nobre bizantino. Era rico e culto, excepcionalmente culto, mesmo numa terra onde a nobreza cultivava o saber e tinha livros em casa, o que era muito raro no lado �latino� do mundo. A igreja que restaurou, S. Salvador em Chora (depois, a mesquita de Kariye), foi a que o acolheu quando da sua desgra�a. Depois de ser Grande Logoteta (uma esp�cie de cargo entre tesoureiro e ministro das finan�as) do imperador Andronikos II, envolveu-se numa guerra civil familiar entre av� e neto, na qual ganhou o neto, futuro Andronikus III. Theodorus fugiu e exilou-se. Escapou da morte ou da cegueira, uma habitual puni��o bizantina, e, mais tarde, o imperador concedeu-lhe a possibilidade de regressar ao seu mosteiro. O poderoso Theodorus estava arruinado, velho e doente, e voltou como um monge vulgar, adoptando o nome de Theoleptus. Todos os dias, quando entrava na igreja, olhava para cima e via-se ao lado de Cristo, brilhando na sua roupa dourada, parecendo-se estranhamente com um turco, dos que, cento e vinte anos depois, transformariam a sua igreja numa mesquita. A parecen�a ainda � maior pelo enorme skiadion, t�o semelhante a um turbante, que leva os guias a puxarem para o ex�tico e dizerem que ele estava vestido �� turco�. N�o, n�o estava, estava vestido � bizantino, s� que naquela parte do mundo as coisas acabavam por ser mais parecidas do que imaginamos. Theodorus, agora Theoleptus, viu-se, todos os dias dos seus �ltimos anos, assim no apogeu da sua gl�ria, na juventude, com todo o poder, com o poder de estar ao lado direito de Cristo e lhe dar uma igreja. O seu passado presidia, � entrada da nave da igreja, ao seu presente. Antes estava em cima, agora em baixo. Ironia, ironia triste do tempo. � ao ver estas coisas que eu percebo como foi poss�vel haver poetas, como Kavafis, que ouviram os ecos long�nquos deste mundo antigo dos gregos que achavam que eram os �ltimos romanos.
12:59
(JPP)
Esta � a entrada de "abrupto" no Dicion�rio Houaiss da L�ngua Portuguesa, essa gigantesca obra de saber e erudi��o, que finalmente est� dispon�vel em Portugal: abrupto /ab-ru/ adj (1783, cf. DDP) 1. em declive r�pido ou de inclina��o quase vertical; abruptado, �ngreme 2. fig. Que ocorre de maneira s�bita, inopinada 3. fig. De natureza ou car�cter �spero, rude ETM lat. Abruptus.a.um separado, quebrado, rasgado, interrompido, precipitado, part.pas. de abrumptere quebrar, separar, interromper, destruir; ver romp- SIN/VAR ab-rupto; ver tb. Sinon�mia de inesperado e repentino e antinomia de suave ANT ver sinon�mia de inesperado e antinomia de suave PAR abrupta (f.) / � bruta (loc.)
11:53
(JPP)
por identificar dos �ltimos dias, s�o, com excep��o da �ltima, otomanas e turcas. ESCREVER A DIREITO � um mosaico do Grande Pal�cio que est� no Museu do Mosaico em Istambul. URDIDURA n�o � uma conspira��o, mas um Kilim da Anat�lia oriental. FRONTEIRAS DA UNI�O � uma miniatura otomana do s�culo XVII e, embora pare�a uma cena de guerra, � um jogo de p�lo. Fora do oriente, LES ESPACES LIMPIDES s�o uma vista de Diemen, de Rembrandt.
09:57
(JPP)
Hoje, duas manh�s muito diferentes. Uma em Paris, outra em Granada, uma de agora e outra de h� setecentos ou oitocentos anos. A de Paris � de uma can��o de Jacques Dutronc, com letra de Jacques Lanzmann (cortesia de J�lio Costa e de Jorge Lemos), e � um belo retrato de Paris �s cinco da manh�: Il est cinq heures, Paris s'�veille �Je suis l'dauphin d'la place Dauphine Et la place Blanche a mauvaise mine Les camions sont pleins de lait Les balayeurs sont pleins d'balais Il est cinq heures Paris s'�veille Paris s'�veille Les travestis vont se raser Les stripteaseuses sont rhabill�es Les traversins sont �cras�s Les amoureux sont fatigu�s Il est cinq heures Paris s'�veille Paris s'�veille Le caf� est dans les tasses Les caf�s nettoient leurs glaces Et sur le boulevard Montparnasse La gare n'est plus qu'une carcasse Il est cinq heures Paris s'�veille Paris s'�veille Les banlieusards sont dans les gares A la Villette on tranche le lard Paris by night, regagne les cars Les boulangers font des b�tards Il est cinq heures Paris s'�veille Paris s'�veille La tour Eiffel a froid aux pieds L'Arc de Triomphe est ranim� Et l'Ob�lisque est bien dress� Entre la nuit et la journ�e Il est cinq heures Paris s'�veille Paris s'�veille Les journaux sont imprim�s Les ouvriers sont d�prim�s Les gens se l�vent, ils sont brim�s C'est l'heure o� je vais me coucher Il est cinq heures Paris se l�ve Il est cinq heures Je n'ai pas sommeil� * Depois entramos na �ma�ana�, pela primeira vez e com que fragor, clareza e brilho, com este romance do Romanceiro Viejo, um dos meus preferidos: La ma�ana de San Juan "La ma�ana de San Juan - al tiempo que alboreaba, gran fiesta hacen los moros - por la vega de Granada. Revolviendo sus caballos - y jugando de las lanzas, ricos pendones en ellas - broslados por sus amadas, ricas marlotas vestidas - tejidas de oro y grana. El moro que amores tiene - se�ales de ello mostraba, y el que no ten�a amores - all� no escarmuzaba. Las damas moras los miran - de las torres de la Alhambra, tambi�n se los mira el rey - de dentro de la Alcazaba. Dando voces vino un moro - con la cara ensangrantada: - Con tu licencia, el rey, - te dar� una nueva mala: el infante don Fernando - tiene a Antequera ganada; muchos moros deja muertos, - yo soy quien mejor librara, siete lanzadas yo traigo, - el cuerpo todo me pasan, los que conmigo escaparon - en Archidona quedaban. Con la tal nueva el rey - la cara se le demudaba; manda juntar sus trompetas - que toquen todas el arma, manda juntar a los suyos, - hace muy gran cabalgada, y a las puertas de Alcal�, - que la Real se llamaba, los crisitianos y los moros - una escaramuza traban. Los cristianos eran muchos, - mas llevaban orden mala, los moros, que son de guerra, - d�doles han mala carga, de ellos matan, de ellos prenden, - de ellos toman en celada. Con la victoria, los moros - van la vuelta de Granada; a grandes voces dec�an: - -�La victoria ya es cobrada!" * Bom dia!
00:35
(JPP)
H� quanto tempo n�o via as Pl�iades, ou a Via L�ctea, ou sequer uma estrela decente brilhando num fundo escuro! Assim me preparo para o Cruzeiro do Sul. 23.10.03
12:35
(JPP)
Acabei de votar pelo menos 390 vezes (trezentas e noventa vezes), descontando algumas repeti��es de vota��es que tiveram que ser confirmadas por voto electr�nico. Votei sobre tudo, desde o destino geral do mundo, at� ao "esp�rito empresarial da Europa", dos caminhos de ferro aos stocks de bacalhau, da Bol�via at� ao tr�fico de �rg�os, numa obsess�o proclamat�ria absolutamente irrelevante, tanto mais que a maioria dos documentos votados s�o meras recomenda��es, a que ningu�m liga nenhuma. H� uma verdadeira mania da emenda, um existir pela emenda. Existe-se pela emenda e pela declara��o de voto, e d� resultado. Quando chegarmos �s pr�ximas elei��es europeias, v�o ver como haver� uns jornalistas que interpretar�o as estat�sticas das emendas, das declara��es de voto, das interven��es de um minuto, e outras actividades feitas s� para as estat�sticas , como indicadores do "trabalho". Entretanto, vota-se trezentas e noventa vezes hoje, cento e tal ontem, e cento e tal anteontem. * Numa reuni�o sobre o multilinguismo e o multiculturalismo, duas palavras quentes em v�speras do alargamento, discutiu-se a sinal�tica como alternativa a ter cartazes do tamanho de uma parede com inscri��es em duas dezenas de l�nguas para tudo. Houve, no entanto, reservas quanto � sinal�tica para identificar os quartos de banho das senhoras e dos cavalheiros porque a distin��o saias-cal�as parece ser entendida como confusa e sexista. Como acho que n�o me elegeram para discutir a sinal�tica dos quartos de banho, propus a representa��o estilizada, em nome dos bons costumes, dos �rg�os sexuais masculinos e femininos para identificar as portas. Sem sucesso. Parece que tamb�m n�o � inequ�voco. * Vai haver um enorme problema com o malt�s que passa a ser uma das l�nguas oficiais da Uni�o. Na ilha n�o parece haver mais do que uma dezena de int�rpretes qualificados para todas as institui��es europeias, e n�o se v� muito bem como � que se vai conseguir fazer funcionar os mecanismos institucionais que implicam obrigatoriamente o uso da l�ngua. O acervo comunit�rio (cerca de 80.000 p�ginas) tem que ser traduzido em malt�s e, como os tribunais em Malta s� trabalham em malt�s, n�o se concebe como a legisla��o europeia, na sua magn�fica complexidade burocr�tica e extens�o, pode a tempo ser traduzida. Jovens portugueses, aprendei o malt�s, porque o emprego � assegurado!
08:19
(JPP)
O ar da noite come�a a estar frio, daquele frio que precede o frio verdadeiro, apenas um ou dois graus, e uma pequena nuvem passa a acompanhar-nos como se fossemos um pico de um monte. O ar frio respira-se com maior densidade, sabe a frio, o quente n�o sabe a nada. E de manh� j� h� a "luz do Norte", esse cinzento t�nue mas fundo, que entra nas casas, que parece uma continua��o das casas, das ruas. Um cinzento que n�o � bruma, nem � h�mido, mas apenas uma cor das coisas. * Respondendo ao apelo do senhor Presidente da Rep�blica (e cortesia do Ant�nio Afonso), a manh� de hoje sobe, "eleva-se", "au-dessus des �tangs". �l�vation "Au-dessus des �tangs, au-dessus des vall�es, Des montagnes, des bois, des nuages, des mers, Par del� le soleil, par del� les �thers, Par del� les confins des sph�res �toil�es, Mon esprit, tu te meus avec agilit�, Et, comme un bon nageur qui se p�me dans l'onde, Tu sillonnes gaiement l'immensit� profonde Avec une indicible et m�le volupt�. Envole-toi bien loin de ces miasmes morbides; Va te purifier dans l'air sup�rieur, Et bois, comme une pure et divine liqueur, Le feu clair qui remplit les espaces limpides. Derri�re les ennuis et les vastes chagrins Qui chargent de leur poids l'existence brumeuse, Heureux celui qui peut d'une aile vigoureuse S'�lancer vers les champs lumineux et sereins; Celui dont les penseurs, comme les alouettes, Vers les cieux le matin prennent un libre essor, - Qui plane sur la vie, et comprend sans effort Le langage des fleurs et des choses muettes! " Baudelaire: Les Fleurs du mal * Bom dia! 22.10.03
15:57
(JPP)
Uma carta de Joaquim Torres Costa, sobre a minha interven��o na SIC, representa a cr�tica mais consistente que me foi feita sobre esta mat�ria. Os argumentos do seu autor representam d�vidas que eu tive e algumas que eu tenho. Com a sua autoriza��o, publico-a aqui, acrescentando alguns coment�rios que v�o em bold. "Relativamente � mat�ria da divulga��o das escutas telef�nicas de membros da direc��o do PS, tem voc�, como actor pol�tico e como cidad�o, todo o direito chamar � cola��o as contradi��es patentes dos seus advers�rios estrat�gicos. Isso n�o pode ocultar o facto, t�o manifestamente contrastante com o seu �ethos� p�blico, de voc� ter aceite comentar como �mat�ria� politicamente leg�tima o �conte�do� divulgado das escutas telef�nicas sem, de acordo com a matriz do seu pr�prio discurso, ter sublinhado expressamente as seguintes circunst�ncias :[comecei o que disse na SIC condenando as fugas de informa��o, e s� com processo de inten��o � que se pode considerar que isso � ret�rico] 1) Que a divulga��o do conte�do das escutas resultou necessariamente da perpetra��o de um crime [de acordo] cuja gravidade � an�loga �quela que os seus fautores pretenderam atribuir aos comportamentos alheios. [como n�o sei quais s�o os "seus fautores", n�o posso estar certo da sua intencionalidade. Muito desta carta n�o poderia ser escrito se o seu autor n�o tivesse uma ideia pr�-concebida sobre quem fez as fugas] Refiro-me n�o tanto ao crime (banal) da viola��o do (inef�vel) segredo de justi�a, mas ao de utiliza��o estrat�gica da qualidade de �fonte an�nima� [n�o estamos neste caso perante uma "fonte an�nima", mas perante um documento processual contendo escutas e a sua interpreta��o pelo Minist�rio P�blico; o conte�do das escutas n�o foi negado pelos pr�prios, que apenas afirmaram terem sido citadas fora do contexto] � por parte de quem tem poder de acesso ao teor da investiga��o e a informa��o legalmente reservada � com o objectivo de influir publicamente sobre a posi��o de terceiros que s�o directa ou indirectamente interessados no mesmo processo .[esta frase s� tem sentido se as fugas tiverem a origem que o autor da carta sugere, e n�o tenho elementos para o confirmar ou desmentir; o que mais clarificava todo este processo era a identifica��o dos autores das fugas] 2) Que a formata��o da �fuga� foi intencionalmente dirigida � apet�ncia prim�ria dos media pelas informa��es "ready made". Com efeito, n�o estamos perante transcri��es de escutas telef�nicas oferecidas ao escrut�nio p�blico, mas antes de uma selec��o intencional de passagens dessas transcri��es, devidamente acompanhadas de coment�rios e interpreta��es de uma voz cuja autoridade n�o � justificada, mas proferidos ao abrigo de qualquer contradit�rio. O que as fontes forneceram aos jornalistas foi, portanto, um verdadeiro �press release� antecipadamente constru�do (como � norma) para obter articula��o �ptima entre os objectivos visados e o modo de percep��o dos media necess�rios � sua divulga��o. [ repito o que disse antes: esta frase s� tem sentido se as fugas tiverem a origem e a forma que o autor da carta sugere; n�o tenho elementos para o confirmar ou desmentir, a n�o ser que as conheci atrav�s de um trabalho jornal�stico, quer na SIC, quer na RTP, quer no P�blico, que me pareceu at� bastante s�brio e s�lido para o costume] 3) Que, finalmente, algumas das passagens seleccionadas devem a sua efic�cia simb�lica � explora��o da fractura ontol�gica (universalmente inscrita na ordem psicol�gica, social e mesmo moral) entre a linguagem p�blica e a linguagem privada (mesmo se aplicada a coisas p�blicas), sendo certo que nenhum titular de estatuto p�blico (pol�tico, jur�dico, pedag�gico ou religioso) poderia resistir (salvo em regime da mais totalit�ria autocensura) ao escrut�nio terrorista do seu discurso privado nem � respectiva divulga��o ad hoc como instrumento dos conflitos sociais em que fosse participante. [inteiramente de acordo: sempre que me tenho pronunciado na mat�ria, tenho desvalorizado esse aspecto da linguagem; os plebe�smos utilizados parecem-me de todo irrelevantes e insuscept�veis de qualquer julgamento negativo; na an�lise das escutas tornadas p�blicas n�o � a linguagem, nem as opini�es, que me interessam, mas apenas os factos; s� esses me parecem pass�veis de interpreta��o legitima, se forem do dom�nio dos comportamentos pol�ticos, como penso ser inequ�voco que s�o. Nunca deveriam ter sido conhecidos deste modo, mas � um facto que s�o p�blicos.] � certamente dif�cil imaginar, no mundo real, um comentarista da ��rea do partido X� recusando a oportunidade de explorar a rendibilidade simb�lica de tais �revela��es� sobre �membros do partido Y�, quaisquer que seja os partidos concretos que em cada momento preencham o lugar daquelas inc�gnitas. [n�o � verdade: tenho noutras ocasi�es , no Flashback e em artigos, defendido, mesmo contra o meu partido, respons�veis do PS ; por exemplo, j� mais de uma vez defendi Ferro Rodrigues, como quando da crise das "patetices", que tamb�m incidia sobre uma quest�o vocabular; o problema � que, para certas pessoas e apenas para certas pessoas, nunca h� mem�ria consistente: quando critico Paulo Portas ou o governo ou o PSD, sou "independente" e 'corajoso"; quando critico o PS estou ao "servi�o", sou d�plice ou contradit�rio. Este tipo de "prova de vida", que ali�s tamb�m � d�plice porque n�o exigida a outros, n�o � aceit�vel. J� tenho biografia suficiente nestas mat�rias para estar sempre a ser julgado ... quando critico o PS ou o "outro lado". ] Mas, no mundo ideal do �h� muito que venho dizendo�, o autor e o cidad�o Jos� Pacheco Pereira jamais teriam consentido �comentar� como �informa��o� (como subst�ncia moral e epistemologicamente neutra...) uma representa��o da realidade t�o fundamentalmente inquinada na sua origem, na sua forma e no seu processo por pressupostos cuja den�ncia tem constitu�do exactamente a matriz do seu discurso p�blico. Era nessas � e s� nessas condi��es � que a invoca��o argumentativa que faz das suas pr�prias posi��es passadas e das dos seus advers�rios pol�ticos em face de circunst�ncias semelhantes adquiriria toda a sua efic�cia intelectual e moral. Com todo o respeito, o que o Jos� Pacheco Pereira agora diz no seu blog, ou mesmo o que venha dizer na sua selectiva coluna do P�blico, n�o apaga o que consentiu fazer perante uma gigantesca audi�ncia televisiva em hor�rio nobre: uma arrepiante demonstra��o de realpolitik da intelig�ncia. [N�o h� qualquer regra deontol�gica que impe�a ou limite o coment�rio deste tipo de informa��o, nem esta quest�o nunca fora posta antes, para casos pr�vios de divulga��o de escutas em processos crime - e s�o v�rios os casos, alguns recentes, como o do deputado Ant�nio Preto. Este, pelos vistos, n�o teve direito a nenhuma indigna��o, embora toda a gente comentasse a escuta do epis�dio da mala. Nesta mat�ria, h� distin��es deontol�gicas que podem parecer subtis, mas que s�o fundamentais. S�o, ali�s, as habituais nos grandes �rg�os de comunica��o social internacional, em que a ideia de que este tipo de documentos n�o � pass�vel de discuss�o apareceria como muito bizarra. As minhas regras s�o pr�ximas (mas n�o inteiramente id�nticas, porque n�o sou jornalista) das que v�m em qualquer manual de deontologia: Nunca discutiria escutas que tivessem sido feitas por jornalistas, ou "oferecidas" a um �rg�o de comunica��o social sem conhecimento da fonte nem da legalidade da sua obten��o. As escutas agora divulgadas s�o fruto de um crime (a viola��o do segredo de justi�a) , mas t�m fonte identificada e n�o s�o an�nimas (o autor da fuga n�o � a fonte, mas sim o documento com as transcri��es), s�o legais e n�o foram contestadas na sua veracidade, apenas no "contexto". (Aqui n�o aceito a posi��o socialista porque n�o � dif�cil contextualiz�-las.) Nunca discutiria escutas (nem qualquer outro tipo de documentos) que tivessem a ver com as acusa��es que v�o ser julgadas em tribunal, e que antecipassem a condi��o de inocente ou culpado dos arguidos. Nunca discutiria escutas (nem qualquer documento) que contivesse mat�ria sens�vel e �ntima (de ordem sexual, por exemplo) e que pudesse ser resumido sem perda de teor informativo por frases como "X � acusado de trinta casos de...", evitando uma desnecess�ria viol�ncia pessoal sem prejudicar o eventual interesse p�blico em se saber de que � que um pol�tico � acusado. Tamb�m nunca me pronunciaria sobre escutas que envolvessem, no �mbito desta mat�ria int�ma, terceiros. Por isso, acho inaceit�vel a publica��o na �ntegra do pedido de levantamento da imunidade parlamentar de Paulo Pedroso, como o Independente fez. Se a SIC fizesse o mesmo, ou coisa parecida, recusar-me-ia a comentar. Mas isto significa, por outro lado, que aceito como leg�tima a divulga��o pela comunica��o social de escutas como as que estamos a discutir e que versam mat�ria com significado pol�tico, independentemente do seu valor para o processo. No entanto, se a decis�o de fazer as escutas e as transcrever por parte do MP fosse apenas a parte pol�tica do seu conte�do, elas seriam para mim inadmiss�veis e um claro abuso de poder. Quando tudo se conhecer, at� pode ser esta a minha conclus�o; at� l�, n�o posso eliminar racionalmente a hip�tese de que possa ter havido uma tentativa de "perturba��o do processo" usando o poder pol�tico. N�o estamos em terreno diferente das acusa��es ao ministro Martins da Cruz, s� que com muito maior gravidade. Mas admito que � interpretativo, e portanto inseguro. ] Ora para isso, como sabe melhor do que ningu�m, mais vale, � mesma hora, sintonizar a TVI. " [Tem raz�o]
11:18
(JPP)
O Aviz escreve: "eu temo, sinceramente, um acordo de Bloco Central sobre a mat�ria [caso Casa Pia]. Todos os sinais est�o por a�, dispersos. Quest�o de marketing patri�tico." Eu tamb�m temo, e espero que n�o. Mas j� h� demasiadas conversas privadas e circula��o privilegiada de informa��o para meu gosto. Para os pol�ticos � fundamental, nestes casos, respeitar em absoluto a separa��o de poderes. Nesta mat�ria nunca se toca em privado, em confid�ncia, em nenhuma circunst�ncia. Quem o faz, queima-se.
10:05
(JPP)
Com a figura de um Ministro de Neg�cios Estrangeiros da UE, prevista na Constitui��o, pretende-se um upgrade da capacidade externa da Uni�o. O que se vai ter � um downgrade dessa pol�tica externa. Eu conhe�o bem como se formulam as posi��es de pol�tica externa da UE, a julgar pelo que � essa componente no Parlamento Europeu. As posi��es "europeias" aqui definidas t�m duas caracter�sticas em comum: uma, s�o uma colagem ecl�ctica de posi��es, nem carne, nem peixe, que pretende agradar a todos, desde a extrema-direita aos comunistas; outra, � que, quando tem mais alguma carne ou peixe, s�o as habituais posi��es anti-americanas politicamente correctas. Como os mecanismos de consenso e disc�rdia que aqui funcionam n�o s�o assim t�o diferentes dos que unem os governos europeus, a impot�ncia do novo MNE da UE n�o ser� muito diferente da do Sr. Solana. Recordam-se como ele foi saudado como o sr. PESC, o homem com o n�mero de telefone que Kissinger pedia? Um dos aspectos mais negativos da Constitui��o europeia � que est� cheia destes falsos upgrades, a que n�o corresponde nem vontade pol�tica dos governos, nem legitimidade popular.
09:50
(JPP)
Se estivesse em vigor a Constitui��o europeia, poderia o Primeiro Ministro portugu�s ter organizado e participado na Cimeira dos A�ores durante a crise do Iraque? Se estivesse em vigor a Constitui��o europeia, poderia Portugal ter decidido enviar tropas da GNR para o Iraque? N�o importa aqui saber se as pessoas est�o ou n�o de acordo com estas iniciativas, mas sim saber se existe qualquer autonomia da nossa pol�tica externa numa crise deste tipo.
09:25
(JPP)
De vez em quando, os portugueses descobrem que o seu pa�s n�o est� onde �s vezes o futebol o coloca, mas abaixo do s�tio onde est� a sua economia. Passam da euforia � depress�o e parece n�o haver maneira de sair deste c�rculo. A depress�o desmobiliza, gera apatia e cansa�o, revolta sem destino e constru��o. Mas eu prefiro sempre que as pessoas tenham um espelho cruel que lhes diga a verdade, em vez de uma imagem projectada do seu gigantesco Ego triunfante nas pequenas coisas. Que percebam que o seu pa�s exige um enorme esfor�o para sair de um atraso end�mico, que tem muito a ver com comportamentos, que tem tudo a ver com comportamentos individuais e colectivos, de cada um de n�s e do Estado. Quando, no tempo do engenheiro, toda a gente estava feliz, a bolsa subia, o dinheiro a cr�dito parecia correr dos bancos para os bolsos sem retorno, o pa�s tamb�m se distra�a e folgava. S� que a euforia � mais cara do que a depress�o, e milh�es e milh�es desapareceram nesses anos para nunca mais voltarem. Cada manh�, au petit matin, in the early morning hours, tudo pode recome�ar bem ou mal. Os poemas e can��es matinais que temos publicado olham a manh� de muitas maneiras: como um come�o lustral, como um resto maltratado da noite, como o desespero de mais um dia. Tamb�m assim � com a p�tria. 21.10.03
15:55
(JPP)
�Ainda que conhecesses todos os mist�rios, toda a vastid�o da terra, toda a altura do c�u e a profundidade do mar, se te ignorasses a ti mesmo, serias como aquele que constr�i sem alicerces e prepara n�o um edif�cio, mas uma ru�na. Tudo o que constru�res a teu lado n�o ser� sen�o um monte de poeira que o vento dispersa. (...). O s�bio ser� s�bio em rela��o a si e ser� o primeiro a beber a �gua do seu po�o.�
15:45
(JPP)
nalgumas notas mais abaixo est�o a ser introduzidas com frequ�ncia, dada a correspond�ncia que est� a chegar e a actualidade da quest�o.
15:19
(JPP)
Ant�nio Costa tem toda a raz�o quando afirma que "a publicita��o dessa audi��o, consciente que estava que a associa��o p�blica do nome do deputado Paulo Pedroso a um processo desta natureza teria consequ�ncias irrepar�veis na sua imagem junto da opini�o p�blica. Para al�m de afectar seriamente a imagem do Partido Socialista e do pr�prio Parlamento" Mas aceitaria o PS que tal fosse feito, por exemplo por Guilherme Silva: que telefonasse ao procurador, pedindo-lhe em confid�ncia que um deputado do PSD que estivesse acusado de peculato ou corrup��o, e que igualmente afirmasse a sua inoc�ncia, fosse ouvido em segredo? N�o � certamente o crime de que s�o acusados que faz a diferen�a, pois n�o? E aceitaria o PS que Guilherme Silva se justificasse dizendo que o fizera para "proteger o PSD"? Todos n�s sabemos a resposta. Sou, no entanto, bastante mais sens�vel � preocupa��o de Costa com o efeito "irrepar�vel" de acusa��es, que se venham a provar falsas, contra Pedroso. Se a inoc�ncia actual de Paulo Pedroso n�o for atingida pelas acusa��es que lhe s�o feitas (como toda a gente de bem deve desejar), ele ter� sido v�tima de uma enorme injusti�a que merece uma repara��o inequ�voca de todos.
14:58
(JPP)
que o PS queria fazer, est� descrita por Ant�nio Costa num artigo do P�blico de hoje ( e tamb�m aqui confio plenamente na sua palavra) : "No passado dia 21 de Maio, cerca das 9h00, contactei telefonicamente o senhor conselheiro procurador-geral da Rep�blica para a sua resid�ncia. Passara j� uma semana desde que o deputado Paulo Pedroso requerera formalmente junto da Procuradoria-Geral da Rep�blica a sua audi��o no �mbito do processo, sem que tivesse obtido resposta. Por outro lado, preocupava-me evitar, na medida do poss�vel, a publicita��o dessa audi��o, consciente que estava que a associa��o p�blica do nome do deputado Paulo Pedroso a um processo desta natureza teria consequ�ncias irrepar�veis na sua imagem junto da opini�o p�blica. Para al�m de afectar seriamente a imagem do Partido Socialista e do pr�prio Parlamento. " Acrescente-se que, uma semana antes, do dia 21, nenhum portugu�s, a n�o ser as pessoas directamente envolvidas na condu��o do processo, era suposto saber do que se passava, pelo que estas iniciativas eram conduzidas em segredo. E isto �, d�em-se as voltas que se quiser, o pedido de um favor.
14:39
(JPP)
Se h� coisa que pe�o a mim pr�prio, e, se n�o fosse incr�u, ao Senhor, � n�o cair na duplicidade na an�lise deste processo, todo ele impregnado de duplicidade. Tenho as minhas opini�es, gostos e antipatias, que � imposs�vel n�o mostrar; posso cair em contradi��o, porque isso, �s vezes, � inevit�vel, mas farei todo o poss�vel para n�o ser d�plice.
14:37
(JPP)
de ter ido para o Conselho Superior de Magistratura por causa do processo que envolvia o seu irm�o � insustent�vel. � uma insinua��o do mesmo tipo da que foi feita contra Nobre Guedes e a Ministra da Justi�a, a prop�sito do processo Moderna. A verdade � que a primeira insinua��o veio apenas de Marcelo Rebelo de Sousa e a segunda foi repetida � saciedade por muitos que agora se indignam, como se fosse a coisa mais natural do mundo, e ningu�m pensou em process�-los.
13:36
(JPP)
Houve quem, nos �ltimos vinte anos, em Portugal, quisesse fazer uma "Rep�blica dos Ju�zes" � italiana, respondendo �s vantagens eleitorais do populismo justiceiro. Houve quem n�o tivesse coragem, com receio das consequ�ncias eleitorais negativas, devidas igualmente ao populismo justiceiro, de dizer "n�o" � excessiva concentra��o de poderes num Minist�rio P�blico que n�o responde efectivamente perante ningu�m. A combina��o destes dois factores construiu o "sistema" actual. Foram pol�ticos do PSD, PS e PCP que constru�ram este "sistema" por raz�es estritamente pol�ticas, numa competi��o por agradar (ou pelo medo de desagradar) ao populismo, debaixo dos ventos italianos. Do meu partido, recordo-me da ac��o de dois ministros, Fernando Nogueira e Laborinho L�cio, mas recordo-me tamb�m que, a cada momento, nas revis�es constitucionais, na discuss�o dos principais diplomas sobre justi�a, havia uma forte e agressiva press�o para uma "Rep�blica dos Ju�zes" � portuguesa vinda do PS e do PCP. O PS e o PCP, em particular, comportavam-se como "partidos do Minist�rio P�blico". O �ltimo ministro que prosseguiu neste caminho foi Ant�nio Costa. Enquanto as v�timas eram do PSD, os justiceiros estavam no Independente (com aplauso total da esquerda pol�tica, que lhes dava continuidade no parlamento), e as fugas sistem�ticas eram s� de um lado e sem defesa, porque ningu�m tinha coragem para a fazer; nunca houve problemas com "o sistema" e, a cada caso, o clamor era para novas medidas de refor�o dos poderes judiciais. Por exemplo: quanto �s escutas telef�nicas. � verdade que a inten��o era us�-las para a criminalidade organizada, para o branqueamento de capitais, para o terrorismo, para a corrup��o. Mas conv�m n�o esquecer que este processo � sobre pedofilia (sim, porque o processo de que � arguido Paulo Pedroso � de crimes ped�filos), que toda a gente bate (ou batia) com as m�os no peito considerando um "crime hediondo", e n�o me venham dizer que, se se perguntasse ao ent�o ministro Ant�nio Costa, se a pedofilia era excep��o ao regime das escutas, ele responderia com um sonoro "nunca". Ali�s, as escutas do processo Moderna, para n�o ir mais longe, ou do processo que envolve o deputado Ant�nio Preto, tamb�m inclui escutas que foram divulgadas indevidamente. Est�o esquecidos? N�o ouvi protesto nenhum de Ferro Rodrigues, de Ant�nio Costa , de Paulo Pedroso, etc., nem Manuel Alegre disse que a democracia estava em perigo. O "sistema" � mau, permite abusos de poder, tem escasso controlo? Com certeza. Mas j� era mau antes do caso Pedroso e havia quem o dissesse, curiosamente ningu�m dos que agora clamam contra ele e o ajudaram a construir. Proen�a de Carvalho, M�rio Soares (em defesa de Leonor Beleza), e alguns outros, disseram-no. Recordo-me de muitas discuss�es com Jos� Magalh�es (outro dos que construiram o "sistema"), no Flashback, sobre esta mat�ria, e eu pr�prio, quando membro da CP do PSD, me pronunciei em sede pr�pria contra a imita��o italiana e os seus riscos. Escrevi tamb�m sobre isso e portanto pouco me surpreende o que hoje acontece. Dito isto, sou obviamente defensor de altera��es profundas no "sistema", mas nunca, jamais,em tempo algum, antes do fim do processo Casa Pia, por raz�es decorrentes do modo como deve funcionar uma democracia e um estado de direito. * Escreve o Adufe sobre a nota acima: "n�o s�o os pecadilhos passados e os telhados de vidro que agora poder�o justificar uma esp�cie de auto-diminui��o dos direitos dos visados". Inteiramente de acordo. * De uma mensagem enviada por Luis Rodrigues: "Refere (...): "Dito isto, sou obviamente defensor de altera��es profundas no "sistema", mas nunca, jamais, em tempo algum, antes do fim do processo Casa Pia, por raz�es do modo como deve funcionar uma democracia e um estado de direito". Mas j� pensou nas implica��es desta ideia? Esta opini�o tem impl�cita duas enormes perversidades: 1�- Implica o reconhecimento de que este sistema est�, afinal, errado. Mas que, por raz�es de oportunidade de pol�tica lato sensu, e tamb�m de pol�tica judici�ria, deveremos sacrificar esta "gera��o" de arguidos a este sistema reconhecidamente errado, dizendo-lhes: �Desculpem l�, sabemos que isto est� errado, mas n�o � agora oportuno mudar todo o sistema; mal o vosso caso esteja resolvido, mud�-lo-emos, de modo que a pr�xima "gera��o" de arguidos seja j� abrangida por um sistema reformado e melhor... Quanto a voc�s, aguentem l� "isto" por agora...�. 2�- A segunda perversidade, � que a ideia de que n�o se deve mudar agora o sistema, porque n�o se deve "legislar a quente" esquece que se a ocasi�o � "quente" para estes arguidos, amanh� ser� igualmente quente (quem sabe mais ainda) para outros arguidos, e assim sucessivamente... Nunca se mudar�, portanto...? Ou j� poder� mudar-se a quente para a pr�xima....? " * Paulo Cardoso coloca-me a seguinte quest�o : "O problema (...) �, como diz Vital Moreira, "a publica��o das conversas telef�nicas de dirigentes do PS gravadas no �mbito do caso Paulo Pedroso n�o constitui somente uma flagrante viola��o do segredo de justi�a, mas tamb�m do sigilo das comunica��es pessoais. Definitivamente h� direitos fundamentais em perigo entre n�s. O que causa a maior inquieta��o � que estas conversas entre pessoas alheias ao processo e manifestamente irrelevantes para a descoberta da verdade no mesmo tenham podido ser gravadas e transcritas para o processo e, agora, tenham sido disponibilizadas "oportunamente" para a comunica��o social (toda a gente suspeita como...). Tratando-se de dirigentes pol�ticos, o caso torna-se especialmente grave. O procurador-geral da Rep�blica n�o pode manter-se alheio ao esc�ndalo, sob pena de ter de ser responsabilizado por ele" Imagine que o MP, para investigar os casos de Ant�nio Preto ou Cruz Silva, decide mandar escutar o telefone do Dr. Pacheco Pereira, s� porque � um opinion maker que critica a institui��o de uma Republica de Juizes e � militante no partido desses senhores investigados. O problema �, como dizia Brecht, "ele nunca se preocupou, mesmo quando foram buscar o vizinho, mas um dia bateram-lhe � porta"
12:50
(JPP)
CONVERSAS ORTODOXAS "O seu post como t�tulo "CONVERSAS ORTODOXAS" remeteu-me para a demanda do Reino de Preste Jo�o. Em v�rios escritos de historiadores diz-se que Portugal teria feito a procura de Preste Jo�o com a finalidade de fugir ao papado de Roma e retornar � originalidade da religi�o e "das verdades crist�s como foram pregadas na origem do Cristianismo" (Jo�o Rosa) O QUE � QUE CORREU MAL? "Muito obrigado por se ter referido ao livro do Bernard Lewis, que fiquei interessad�ssimo em ler. Por coincid�ncia, hoje de manh� li uma p�gina do excelente livro da Karen Armstrong, The Battle for God, onde se diz algo que me pareceu divergir um pouco do que percebi ser a tese do Lewis. Permita-me que transcreva os per�odos relevantes da p�g 40 (edi��o Harper Collins, 2000): "The Ottoman state was arguably the most up-to-date in the world during the early sixteenth century.It was, for its time, superbly efficient, had developed a new-style bureaucracy, and encouraged a vibrant intellectual life. The Ottomans were open to other cultures. They were genuinely excited by Western navigational science, stirred by the discoveries of the explorers, and eager to adopt such Western military inventions as gunpowder and firearms. It was the job of the ulema to see how these innovations could be accomodated to the Muhammadan paradigm in Muslim law. The study of jurisprudence (fiqh) did not simply consist in poring over old texts, but also had a challenging dimension. And, at this date, there was no real incompatibility between Islam and the West. Europe was also imbued with the conservative spirit. The Renaissance humanists had tried to renew their culture by a return ad fontes, to the sources. We have seen that it was virtually impossible for ordinary mortals to break with religion entirely. Despite their new inventions, Europeans were still ruled by the conservative ethos until the eighteenth century. It was only when Western modernity replaced the backward-looking mythical way of life with a future-oriented rationalism that some Muslims would begin to find Europe alien." (Jos� Vaz de Mascarenhas) LIVROS PROIBIDOS - MEIN KAMPF "Lembro-me claramente de o ouvir responder � mesma quest�o h� uns anos, aquando de um caso envolvendo skinheads. A prop�sito da proibi��o de livros, andei a investigar recentemente a proibi��o do Ulysses de Joyce nos EUA, onde foi ordenada a sua interdi��o e destrui��o por ordem judicial, vindo mais tarde a ser permitida a sua livre circula��o. Durante essa investiga��o acabei por encontrar uma esp�cie de observat�rio de restri��es � liberdade de express�o da American Library Association (ALA). Foi l� que tamb�m encontrei este texto, precisamente sobre a quest�o de as bibliotecas escolares deverem ou n�o ter o Mein Kampf nas suas estantes: "Let us look for a moment at one book that does, in essence, preach genocide�Adolf Hitler�s Mein Kampf. Few, if any, educators would recommend this book to a student seeking to formulate an individual political perspective. But can a high school library adequately fulfill its mission in a school where a history course covering the Nazi experience is taught, if the fundamental document of the Nazi movement cannot be found for student reference? In such a situation, Mein Kampf�along with other more objective treatments of Hitler�s thought�should probably be in the high school library, funding and space permitting. But, it may be objected, a book that is purchased and shelved for reference purposes, to help students write term papers and learn to analyze controversial materials, will not necessarily be used solely in this manner. What if a little "Hitler cult" emerges in the school and students begin to read Mein Kampf�or some more contemporary racist work�not as an historical or political document, but as a meaningful tract for our times? The situation is troubling, but censorship offers no solution. If there is a problem with racism in a school, removing racist materials from the library will not solve it. Indeed, like other efforts to drive the problem underground, such removals may only exacerbate matters. A good school librarian will work with teachers and school officials continually to take the pulse of student interests. If a segment of the student body seems inordinately attracted to materials that run counter to the purposes of democratic education, then the faculty and staff must work to expose the weaknesses of these materials by discussing them with the students�in class if need be�and by directing students to positive alternatives. One special role played by the school library is to educate students about what libraries are. Students should be taught at an early age that the presence of a book in a library, including in the school library, does not mean that the book is somehow "endorsed" by the librarian or the school. The library is a resource that caters to varied interests; it is a place to go to find out for oneself. This lesson cannot be taught, however, if the school library is not such a place, if the student is in effect told: Come here to find out the things you want to know, but only if established authorities approve them in advance. The school library has an important role to play in educating young people to respect diversity by itself illustrating the breadth of diverse opinion and taste. " Censorship and Selection: Issues and Answers to Schools, Third Edition by Henry Reichman. Pode encontrar mais informa��es aqui. Queima de livros na Alemanha Nazi. Queima de livros em pleno s�c. XXI. (V�tor Brinches e Leitura Partilhada(blog de partilha de leituras; neste momento lemos "Ulysses" de James Joyce)
11:32
(JPP)
Hoje o Abrupto est� franc�fono e franc�filo, m�rito de Baudelaire (cortesia de Jo�o Costa), com o poema mais triste jamais publicado nesta s�rie. � verdade que este tamb�m � o sentimento prevalecente na p�tria: "une mer de brouillards" tamb�m cai sobre n�s. Le cr�puscule du Matin "C'�tait l'heure o� l'essaim des r�ves malfaisants Tord sur leurs oreillers les bruns adolescents ; O�, comme un �il sanglant qui palpite et qui bouge, La lampe sur le jour fut une tache rouge ; O� l'�me, sous le poids du corps rev�che et lourd, Imite les combats de la lampe et du jour. Comme un visage en pleurs que les brises essuient, L'air est plein du frisson des choses qui s'enfuient, Et l'homme est las d'�crire et la femme d'aimer. Les maisons �� et l� commen�aient � fumer. Les femmes de plaisir, la paupi�re livide, Bouche ouverte, dormaient de leur sommeil stupide; Les pauvresses, tra�nant leurs seins maigres et froids, Soufflaient sur leurs tisons et soufflaient sus leurs doigts. C'�tait l'heure o� parmi le froid et la l�sine S'aggravent les douleurs des femmes en g�sine ; Comme un sanglot coup� par un sang �cumeux Le chant du coq au loin d�chirait l'air brumeux ; Une mer de brouillards baignait les �difices, Et les agonisants dans le fond des hospices Poussaient leur dernier r�le en hoquets in�gaux. Les d�bauch�s rentraient, bris�s par leurs travaux. L'aurore grelottante en robe rose et verte S'avan�ait lentement sur la Seine d�serte, Et le sombre Paris, en se frottant les yeux, Empoignait ses outils, vieillard laborieux. " Baudelaire 19.10.03
11:16
(JPP)
Para n�o perder a manh�, dois poemas sobre a aurora, cortesia de In�s Mesquita. Gloire de Dijon "When she rises in the morning I linger to watch her; She spreads the bath-cloth underneath the window And the sunbeams catch her Glistening white on the shoulders, While down her sides the mellow Golden shadow glows as She stoops to the sponge, and her swung breasts Sway like full-blown yellow Gloire de Dijon roses. She drips herself with water, and her shoulders Glisten as silver, they crumple up Like wet and falling roses, and I listen For the sluicing of their rain-dishevelled petals. In the window full of sunlight Concentrates her golden shadow Fold on fold, until it glows as Mellow as the glory roses." D. H. Lawrence * "L�aurore s�allume; L�ombre �paisse fuit; Le r�ve et la brume Vont o� va la nuit ; Paupi�res et roses S�ouvrent demi-closes ; Du r�veil des choses On entend le bruit. Tout chante et murmure, Tout parle � la fois, Fum�e et verdure, Les nids et les toits ; Le vent parle aux ch�nes, L��au parle aux fontaines ; Toutes les haleines Deviennent des voix ! Tout reprend son �me, L�enfant son hochet, Le foyer sa flamme, Le luth son archet ; Folie ou d�mence, Dans le monde immense, Chacun recommence Ce qu�il �bauchait. Qu�on pense ou qu�on aime, Sans cesse agit�, Vers un but supr�me, Tout vole emport� ; L�esquif cherche un m�le, L�abeille un vieux saule, La boussole un p�le, Moi la verit� ! " Victor Hugo, Les Chants du cr�puscule * Bom dia !
11:03
(JPP)
de ontem explica-se a si mesma, no pr�prio quadro, ![]() que est� no Stedelijk Museum, em Amesterd�o.
10:50
(JPP)
Re�no aqui algum correio e notas de v�rios blogues, sobre Istambul e outras quest�es associadas. Obrigada aos meus leitores e aos meus amigos, companheiros, camaradas (a palavra n�o tem pe�onha), pela oportunidade de aqui se poder falar em �rede�, fio daqui para ali, conversa acabada ou inacabada, mem�ria puxa mem�ria, para conservar no extremo Ocidente esse fragmento do Oriente, demasiado pr�ximo. N�o somos �turcophiles�, como Pierre Loti no seu �Stamboul�, mas h� �filias� aqui. E obrigada tamb�m aos que n�o cito, mas que em correio privado se referiram �s v�rias formas de �divina sabedoria�. Acrescentei, como prometido, para melhorar o texto pela vis�o daquilo de que se est� a falar, algumas imagens l� mais para baixo. Em complemento, vale a pena ver as fotografias que M�rio Filipe Pires colocou na Retorta, tiradas em 1992. H� muitos livros sobre Constantinopla e Biz�ncio, mas os meus preferidos como leitura obrigat�ria e introdut�ria s�o os de Steven Runciman, em particular The Fall of Constantinople 1453 , Cambridge University Press, 1992. Na mesma colec��o popular da CUP, a �Canto�, h� uma biografia de Constantino XI e uma colec��o fascinante de retratos de mulheres bizantinas de autoria de Donald M. Nicol , The Immortal Emperor. The Life and Legend of Constantine Palaiologos , Last Emperor of the Romans, Cambridge University Press, 1994 e The Byzantine Lady. Ten Portraits 1250-1500, Cambridge University Press, 1996. Acrescento dois que comprei agora e que me foram muito �teis : Sulyman Kirimtayif, Converted Byzantine Churches in Istanbul. Their Transformation into Mosques and Masiids, Istambul, Yayinlari, 2001, e Faruk Ers�z, A Stamboul avec Pierre Loti, Istambul, Yayinlari, 2001. O subt�tulo deste �ltimo � �cela dure si peu, � mon age les �tes�. * �Leio as suas impress�es de Istambul e n�o deixo de rever as minhas f�rias deste Ver�o e as sensa��es que essa cidade me gravou... chegamos cheios de n�s pr�prios e das nossas pequenas certezas e, de repente, vamos deixando cair tudo e ficamos despojados. A partir da�, recebemos e recolhemos o que Istambul nos oferece e deixamo-nos embalar numa melodia hipnotizadora de cheiros, de sons, de h�bitos, de estranhas formas de vida.(�) O meu hotel tamb�m estava perto da Ayasofya e o constante chamamento � ora��o (curiosamente a ora��o parecia distinta �s restantes mesquitas da Turquia) - infelizmente gravado - ajudou-me muito a reviver as madrugadas do almuadem de Saramago... Se procurar entrar a fundo na vida turca, as sandes de peixe � beira da ponte de Galata s�o uma op��o pouco tur�stica e felizmente sem muitos espanh�is � volta...acredite que se tem a sensa��o de estar noutro mundo...e tamb�m apanhar um autocarro do outro lado da porta do Bazar das Especiarias, passar duas ou tr�s paragens, visitar uma igreja cat�lica e um jardim bonito e passear por um bairro onde as pessoas raras somos n�s.. a� sim, � a verdadeira vida turca, bem mais �rabe do que europeia, com casas de dois pisos, roupa a secar nas ruas sujas, se balader sem sermos assediados porque, a�, o comprador � o turco e n�o o guiri.� (S�lvia Jardim) * Nuno Mendes, no Klepsydra , coloca bem a quest�o do papel do dinheiro de Bruxelas na uniformiza��o das sociedades e dos produtos, embora j� haja �4 MacDonalds � volta de Hagia Sofia ou da Mesquita Azul� , � volta de todas as coisas. A minha d�vida tem a ver com a pobreza, com a pobreza que, quer queiramos quer n�o, � tamb�m uma das raz�es desta diversidade. Prolongo essa d�vida, perguntando-me at� que ponto somos n�s (os ricos) que podemos escolher n�o ir aos McDonalds (embora vamos), que desdenhamos o seu papel em sociedades como esta. Quem diz os McDonalds, diz o "dinheiro de Bruxelas". Seja como for, aqui fica a nota, que transcrevo: �No post Istambul2 Pacheco Pereira afirma que os burocratas de Bruxelas nunca ter�o hip�tese de uniformizar as ruas ca�ticas desta cidade turca. Tamb�m j� l� estive e at� percebo o que quer dizer JPP, aquilo realmente impressiona pela diversidade e pela riqueza cultural, o problema � que Bruxelas tem uma forma muito simples de corromper at� as culturas mais vivas, basta para isso dar dinheiro para que "eles" fiquem mais parecidos com os "outros" que somos n�s (somos? queremos ser?). Quando se diz a um agricultor que tem de deixar de plantar um certo tipo de tangerinas que embora saborosas n�o podem ser vendidas num qualquer "Pingo Doce", podem ter a certeza que ele n�o tem escolha e passa a plantar ma��s "Golden Smith" como todos os outros agricultores europeus. N�o h� maneira melhor de conven�ar algu�m a mudar, por dinheiro todas essas mil variedades de azeitonas de que fala Pacheco passar�o a uma s�, a oficial, a europeia, e no momento em que houver 4 MacDonalds � volta de Hagia Sofia ou da Mesquita Azul, poderemos finalmente dizer que a Turquia faz parte do clube dos pa�ses civilizados, modernos e cada vez mais tristes...� * JMT, a prop�sito das �conversas isl�micas�, acrescenta uma outra em Exacto, resultante de uma viagem ao Egipto. 18.10.03
22:46
(JPP)
do dia 12, e que n�o foi identificada, � de Anton Romako, foi pintada em 1877 e est� em Viena.
22:07
(JPP)
Vincent Bengelsdorff pedia a opini�o sobre a proibi��o (ou n�o) de livros como o Mein Kampf, de Hitler. � um debate interessante, para o qual, penso, n�o s�o necess�rios, neste caso, muitos argumentos: n�o tem sentido a proibi��o de qualquer livro por raz�es pol�ticas, muito menos de uma obra com o significado hist�rico da de Hitler. Ningu�m fica nazi por ler o Mein Kampf, e, mesmo que ficasse, n�o era argumento. N�o � dif�cil encontrar uma longa lista de livros e panfletos da literatura radical abrangendo tradi��es pol�ticas t�o diferentes como o anarquismo, o comunismo, o mao�smo, o trotsquismo, o nacionalismo, o fascismo, o pan-arabismo, o sionismo, o ecologismo radical, nos quais existem apelos � viol�ncia de todo o tipo, de ra�a, de classe, social, nacional, religiosa, etc. Os �nicos livros que, no limite da excepcionalidade quase absoluta, poderia compreender que fossem proibidos, e apenas por decis�o judicial, s�o aqueles que contenham graves cal�nias ou ofensas ao bom-nome de uma pessoa, ou constituam uma viola��o do seu direito � intimidade (sempre), ou privacidade (no caso de n�o existir um forte e inequ�voco interesse p�blico nessa viola��o). Refiro esta distin��o, que me parece importante, entre intimidade e privacidade, porque, nas discuss�es jornal�sticas, � comum fazer-se esta confus�o.
21:37
(JPP)
e que foram lidos pelos leitores do Abrupto: �Nele refere uma listagem dos melhores cem, e menciona os que de todo desconhecia. Entre eles, a obra de John Buchan, que serviu de sustenta��o a Hitchcock para uma das suas obras mais conhecidas, The thirty-nine Steps. " (Victor Peres) �Achei interessante a lista de livros publicada, dos quais tamb�m todos desconhe�o. Curiosamente o The Thirty-Nine Steps li juntamente com minha filha quando ela estava no 9�. ano. � (Paula Canaveira) �Leia o Riddle of the Sands (publicado pela Penguin). � um romance de aventuras de dois jovens ingleses, passado no Mar B�ltico, entre os bancos de areia da costa alem�, escrito em 1903, antecipando j� a 1� guerra mundial, com algum humor, prezando valores como a honra e dignidade pessoais, ing�nuo para a nossa sofistica��o de viol�ncia e sexo, tem um gosto saudoso a coisa do Cavaleiro Andante. O Oscar e Lucinda(*) tem gra�a, passa-se na Austr�lia com um par de jogadores viciados que decidem construir uma igreja de vidro numa zona in�spita, mas n�o vale, realmente a pena. Os Thirty Nine Steps deram origem a 2 ou 3 filmes, o primeiro dos quais nos anos 30, com o Robert Donat.� dos primeiros romances de espionagem que p�em em cena um inocente apanhado nas malhas de uma organiza��o tenebrosa, perseguido por todos, pol�cia e bandidos. Tem uma imensa frescura e o picante do her�i estar algemado a uma menina bonita uma boa parte do tempo. De antip�tico apenas a extrema xenofobia e o patriotismo delirante do autor, ao p� de quem o Kipling � um moderado amador. Defeitos que, no entanto, n�o transparecem neste livro, ao contr�rio doutros do Buchan, que os ingleses conservadores adoram.� (Jos� Vaz de Mascarenhas) "O vento nos salgueiros" ou Wind in the Willows � um livro para crian�as muito bem escrito e sonhador. N�o como os maus livros para crian�as que por serem t�o chatos para os adultos passam para as crian�as. Recomend�vel mesmo para os mais "graudos". Aqui v�o alguns sites onde pode encontar livros gratis - inlusiv� o fant�stico "vento nos salgueiros". 1) Projecto gutemberg - l� pode encontar o vento nos salgueiros (Filipe Charters de Azevedo) �Sobre as "leituras de avi�o" e a lista dos 100 melhores romances do Observer, ewscrevo-lhe s� para dizer que considero Oscar and Lucinda, de Peter Carey, um excelente livro. Ali�s ganhou o Booker Prize de 1988, o que para mim quer dizer qualquer coisa. Como actualmente a maior parte do que leio � de matriz anglo-sax�nica tenho o Booker (agora parece que se chama Man Booker) na conta de um pr�mio muito importante e pessoalmente sigo-o com mais aten��o que o Nobel. Curiosamente Coetzee, embora inclu�do na longlist do Booker deste ano, n�o ficou na shortlist (tal como Martin Amis, mais uma vez) e penso que merecidamente, porque Elizabeth Costello � decepcionante.� Luis Rebolo (*) Nelson de Matos informa-me que Oscar e Lucinda, de Peter Carey (Booker Prize de 1988), est� publicado em Portugal. Assim como os seus outros romances: Jack Maggs e A Verdadeira Hist�ria do Bando de Ned Kelly (Booker Prize de 2001) na Dom Quixote.
14:43
(JPP)
Dois produtos que circulam nos mercados desta zona (Ir�o, Turquia, Arm�nia, Azerbeij�o), como produtos de alto valor: caviar e a�afr�o. Nenhum chega aos mercados por via legal, mas atrav�s de circuitos de contrabando, enlatados com r�tulos falsos, sem datas, misturados com outras variedades menos caras. Mas valem ouro. 17.10.03
23:01
(JPP)
o Abrupto de todos os dias n�o pode ser mantido enquanto eu andar por onde ando. Algumas melhorias tecnol�gicas no meu hardware de viagem permitem-me ocasionalmente, sem certezas, escrever e enviar algumas notas, mesmo do fundo do Taklamakan. Mas n�o posso reler e corrigir o que escrevo, que, para seguir, tem, como se diz agora, uma �pequena janela de oportunidade�. Quando passar pela p�tria, farei as correc��es necess�rias e, nalguns casos, acrescentarei imagens sem as quais o texto fica pobre. Tamb�m, como � �bvio, n�o leio nada nos outros blogues e estou desprovido de not�cias. Acontecer� alguma coisa na p�tria no reino das pequenas coisas? As grandes acabo por sab�-las, mas suspeito que as turbul�ncias continuam muito junto ao ch�o.
22:56
(JPP)
Para um portugu�s, a igreja ortodoxa n�o faz parte das suas experi�ncias, como ali�s, verdadeiramente, o contacto com as outras religi�es. Somos muito perif�ricos e provincianos, e a hist�ria que passou por n�s n�o foi a hist�ria das grandes religi�es. Se calhar � uma sorte. No meio de um grupo de bispos ortodoxos, em frente do Patriarca Ecum�nico de Constantinopla, Bartolomeu, sinto uma enorme estranheza. O que � que eu sei destes homens, vindos da S�rvia, da Gr�cia, da Bulg�ria, da Rom�nia, da Turquia, dos pa�ses que eram comunistas, de igrejas e mosteiros de um mundo mais antigo do que o nosso, mais perto da origem do cristianismo, dos seus locais de g�nese, dos lugares por onde andaram os ap�stolos? Vendo bem, a estranheza come�a logo na acumula��o subtil das diferen�as de vestir, no kalymauki na cabe�a, nas barbas, no rabo-de-cavalo, mesmo na pequena corte de padres e monges que acompanha cada bispo, que j� n�o se v� vulgarmente no ocidente. Muitos s�o, percebe-se de imediato, intelectuais, falando grego, serbo-croata e franc�s entre eles (porqu� franc�s mais que ingl�s?), mas, de repente, aparece um que � o retrato estereotipado do pope campon�s da literatura russa, pequeno, m�os grossas, olhos brilhando numa face redonda e cheia, acentuada pela barba. Mas abre a boca e sai um franc�s l�mpido, e embrenha-se numa discuss�o sobre como o �Esp�rito Santo�, para falar hoje, na sociedade moderna, tem que o fazer atrav�s da laicidade. Como fazer passar o �sagrado� e as suas imagens num mundo laico? N�o �infelizmente laico�, mas �necessariamente laico�, porque o bispo achava que era normal a sociedade civil ser laica. N�o emitia um lamento que fosse por essa laicidade, como � vulgar ouvir a muitos padres. Achava ele, vindo de um antigo pa�s comunista, que sociedades civis democr�ticas, �sem sentido� teleol�gico, valiam mil vezes mais do que as sociedades �com sentido� e� programa� do socialismo real. Por a� adiante. Junto deles, aqui, no Oriente, o estranho sou eu, �latino�, �papista�, agn�stico, de um pa�s mais para o lado da Am�rica do que da Europa que eles conhecem, tentando adivinhar o que � que move estes homens, �pastores� de povos em muitas encruzilhadas, tendo visto guerras recentes (os s�rvios), ou ent�o carregados de mem�rias de guerras passadas.
17:03
(JPP)
A igreja ortodoxa pode-se considerar a herdeira mais pr�xima do imp�rio bizantino. O poder que sobrou, de Moscovo a Atenas, ficou aqui, nesta igreja antiga que, mais do que qualquer outro ramo do cristianismo, se associou � ideia de uma teocracia. Enquanto no ocidente europeu a igreja �latina� perdeu esse v�nculo teol�gico com o estado, n�o s� pelas suas divis�es internas (o protestantismo, as igrejas reformadas), como pelo ascenso das ideias da revolu��o francesa, da laicidade do estado, e tamb�m do nacionalismo rom�ntico. Mesmo o anglicanismo, ao �nacionalizar� a igreja politicamente, tornou civil o v�nculo entre o estado (a monarquia) e a igreja. Ritualizou-o como institui��o humana e n�o como institui��o divina. A igreja ortodoxa sempre teve uma grande capacidade de sobreviver ligando-se ao poder, como no per�odo comunista, em que os altos dignit�rios da igreja mantiveram, ap�s uma crise inicial, uma rela��o pr�xima com as autoridades comunistas. O mesmo aconteceu com a longa conviv�ncia nas antigas terras crist�s ocupadas pelo Isl�o. Nesta parte do mundo, o nacionalismo oitocentista, que noutros s�tios foi um instrumento de laicidade, encontrou na ortodoxia um instrumento de express�o. E igrejas como a �grega� e a �s�rvia� tornaram-se em igrejas de fronteira, instrumentos da identidade nacional dos povos crist�os, contra o Isl�o. (Continua)
16:30
(JPP)
Conversa com A. , jovem mu�ulmana turca, que usa o v�u cobrindo a cabe�a, o que n�o � muito comum nas jovens da sua idade e condi��o social. �Usas o v�u para marcar uma posi��o?�. �N�o, uso-o desde os oito anos e, por causa de o usar, n�o posso entrar para a universidade, nem ser funcion�ria p�blica�. A. foi estudar para a London School of Economics, e trabalha nas rela��es internacionais do Partido para a Justi�a e Desenvolvimento, o partido isl�mico moderado actualmente no poder. Este � um dilema da democracia na Turquia: as origens da laicidade do estado (de que n�s gostamos), tem como penhor o ex�rcito turco e os seus poderes �especiais� (de que n�o gostamos), que se manifestam limitando o poder do partido que ganha as elei��es para implementar pol�ticas como seja a liberdade de usar o v�u nas institui��es p�blicas. �Mas�, disse eu, �depois n�o haveria tend�ncia para pressionar quem n�o o usasse?�. A resposta de A. sobre a toler�ncia n�o me convenceu, porque em muitas cidades �rabes que eram liberais, Argel, Casablanca, Bagdad, ano ap�s ano, nos �ltimos dez anos, as mulheres tinham (e t�m) cada vez mais dificuldade em sair � rua vestidas � ocidental, os len�os eram quase obrigat�rios, as saias eram todos os dias mais longas, as roupas tapavam mais o corpo. N�o � simples. 16.10.03
00:24
(JPP)
tem mais vida que dez cidades da Europa juntas. Parte dessa �vida� vem da pobreza, parte vem da hist�ria, e parte vem do futuro da Turquia. N�o sei que parte vencer�, mas que h� uma for�a imensa nestas ruas de multid�es, de gritos, de demografia a pleno vapor, de caos, h�. ISTAMBUL 2 Se a UE, �Bruxelas� como dizem os ingleses, pensa �uniformizar� esta rua de Istambul � for�a de directivas e do �aquis communautaire�, tire da� as ilus�es. Tragam a Comiss�o e os burocratas uma hora ao Grande Bazar, ou, melhor ainda, para l� do ouro e das carpetes, para o Bazar das especiarias, e a sua extens�o natural nos mercados ao ar livre, at� junto da ponte de G�lata, no meio das mil e uma variantes de azeitonas, de queijo, de fruta, de ch�s, de doces, de p�s e folhas com cores vibrantes, misturados com sapatos, malas, perfumes com os melhores nomes falsos que h� no mundo, onde tudo tem um ar proibid�ssimo, e totalmente desregulado. (Pensando bem, n�s tamb�m temos a feira da Santana, s� que n�o � no centro de Lisboa, e os produtos agr�colas s�o piores.)
00:22
(JPP)
![]() Coloquei a minha m�o no interior frio da coluna que sua. A coluna onde apareceu S.Greg�rio, que lhe transmitiu poderes de cura atrav�s da transpira��o da pedra. Muitas m�os antes da minha romperam o bronze protector, e cavaram no interior do m�rmore um buraco que parece uma boca tortuosa. H� alguma coisa de obsceno neste gesto. NO CH�O, ![]() dispersas, algumas letras gregas no m�rmore. N�o encontrei nenhuma refer�ncia ao seu significado. Fragmentos de vidas ou da ordem das coisas?
00:18
(JPP)
A trag�dia desta casa � que nunca houve dentro dela f� t�o profunda e verdadeira como no seu �ltimo dia de igreja crist�, no s�culo quinze, j� a catedral estava h� muito delapidada. Deca�ra como Biz�ncio. Quando Constantino XI se prostrou perante o altar, j� tinha a certeza de que os grandes �cones que mandara passear em prociss�o na v�spera � o da Virgem Hodegetria e o da Virgem Blachernitissa � n�o o salvariam nem a si, nem � sua cidade. Entrou sem poder naquele pal�cio do poder, monumento � simetria que o poder dos homens pretende ter com o poder de Deus. Size matters. A imensid�o da igreja tornou-a prop�cia � exibi��o do poder dos homens. Na catedral, foi assim desde o primeiro momento. Justiniano, que a reconstruiu na sua forma actual, teria dito ao entrar no edif�cio: �Salom�o, eu venci-te�. Nas suas paredes, os imperadores faziam-se representar ao lado de Cristo e da Virgem, quase com a mesma altura e dignidade. O halo dos santos est� � volta da cabe�a dos poderosos. Somente uma imagem, representando o imperador Le�o VI, o mostra no ch�o a rezar. Mehemet II, que venceu Constantino (e, atrav�s de Constantino, Justiniano), colocou-lhe o crescente do profeta em cima. Ataturk, que duplamente venceu Mehemet e Justiniano, fez esta coisa hoje imposs�vel: tornar uma mesquita, com o valor simb�lico desta, em museu. Como museu, pode-se agora retirar o gesso que tapava os mosaicos que escaparam da destrui��o, e mostrar as faces douradas do passado no seu orgulho e gl�ria perdidos. Agora o seu poder � o da beleza, talvez o mais arrogante de todos os poderes humanos. Acaba por ser numa inscri��o do Cor�o, numa das paredes, na aplicada caligrafia �rabe, que se lembra a omnipot�ncia da divina sabedoria, a que a igreja estava dedicada: �Em nome de Deus o Misericordioso, Deus � a luz do C�u e da Terra. Ele � a verdadeira luz, a que n�o vem nem do brilho do vidro, nem do cintilar da estrela da manh�, nem da cor vermelha da brasa incandescente.� Nem do brilho dourado dos mosaicos, nem da luz coada pelos vitrais, nem das colunas que o sol cria ao entrar pelas janelas debaixo da c�pula, nem da solidez do bronze das portas, nem do azul pintado nos arcos, nem dos entalhes dos capit�is bizantinos, nem do crescente em ouro, a mais alta parte da Ayasofya. 15.10.03
00:24
(JPP)
No folclore popular (e patri�tico) grego, h� v�rios poemas sobre os �ltimos dias de Biz�ncio crist�. Num deles, conta-se a derradeira visita do imperador Constantino XI � maior igreja da cristandade, a da divina sabedoria, Ayasofya. Perante o imperador prostrado, os �cones choravam, e mesmo a Virgem, que encima do alto a nave da igreja, estava perturbada. O poema promete �Est� calma, querida Senhora, est� calma, e n�o chores por eles Porque, mesmo que passem os anos, e passem os s�culos, tudo ser� teu de novo.� No dia seguinte, Biz�ncio era turca e o vencedor fez algo que at� ent�o nunca tinha sido feito: transformou a igreja das igrejas em mesquita. Na primeira sexta-feira, o dia da �comunidade�, veio orar a Al� e o gigantesco edif�cio foi expurgado da idolatria crist�. Os mosaicos de ouro foram tapados com gesso, as cruzes de m�rmore das balaustradas foram picadas. Com os anos, as inscri��es caligr�ficas em honra do profeta taparam os anjos, cuja face foi substitu�da por uma estrela, tornando-se em monstros abstractos, presidindo sem sentido a cada canto da mesquita. Pouco a pouco, pequenos acrescentos t�picos da arquitectura religiosa otomana foram ocupando o interior da igreja: o s�tio de onde o �man fala, um mihrab, etc. Mas � no exterior que os novos minaretes mais semelhan�as lhe d�o com uma mesquita. E no entanto�nem o longo poder otomano apagou um ar, um sil�ncio qualquer, uma presen�a indefinida, uma nostalgia, um lamento, uma lembran�a. N�o queria l� estar � noite, porque demasiada gente invis�vel habita aquelas colunas. ![]() ![]() 14.10.03
01:44
(JPP)
vejo (s�o quase quatro horas da manh�) brilhar iluminada a catedral das catedrais, St�. Sofia. Amanh� cedo, atravessarei com a multid�o a ponte de Galata, para subir at� esse cora��o do mundo, onde muita da nossa hist�ria habita sob a forma de paradoxo.
01:38
(JPP)
Numa viagem longa l�-se muito no avi�o. Desta vez, tive sorte com a imprensa: foi um dia em que v�rios jornais internacionais tinham artigos ou not�cias que valiam a pena (deve haver liga��es para quase todas estas not�cias, mas n�o tenho condi��es para as procurar). O F�garo, que � normalmente um melhor jornal, mais s�lido que o Monde, publicava alguns resultados de um grande estudo feito sobre o sistema educativo franc�s, a pedido do Presidente Chirac. A ideia base do documento � identificar por que raz�o o sistema educativo n�o cumpre os seus objectivos e est� claramente a recuar nos seus resultados. H� em Fran�a um grande debate sobre educa��o e valia a pena acompanh�-lo de Portugal e repetir alguns dos estudos aprofundados que est�o a ser feitos. Uma conclus�o interessante do estudo franc�s � a clara manuten��o da diferencia��o social em todo o percurso escolar, apesar da forte press�o igualit�ria (e se calhar por isso mesmo) da escola. O F�garo publica tamb�m, sob a forma de um artigo, um excerto de um livro de Alain Finkielkraut e de Peter Sloterdijk, intitulado, de modo muito franc�s e sem qualquer imagina��o, �cr�tica da raz�o extremista�. J� n�o sei quantos textos franceses s�o de �cr�ticas � raz�o� de qualquer coisa� O texto � muitas vezes obscuro, mas algumas observa��es t�m interesse, como seja a an�lise da exclusividade que a esquerda se atribui do perd�o, do perd�o a si pr�pria: �La gauche contemporaine est la partie de la societ� ayant le privil�ge de se faire pardonner ses propes erreurs � No La Repubblica , um balan�o bastante pessimista do estado de sub financiamento das institui��es culturais italianas, museus, arquivos, bibliotecas. O El Pais tem uma grande entrevista com a ministra espanhola da cultura. O Observer publica uma lista dos cem maiores romances dos �ltimos quatrocentos anos. Como todo o coleccionador, eu gosto de listas e de me confrontar com elas, de comparar a �minha colec��o� com as dos outros. Na lista do Observer, eu lera cerca de quarenta livros em cem, embora numa ou noutra obra (como o Robinson Cruso� ou o Huckleberry Finn), em edi��es que penso n�o serem integrais ou terem sido condensadas. N�o sei se conta para a �colec��o�, que ali�s n�o � muito dif�cil de fazer porque muitas obras s�o as b�sicas: D. Quixote, Flaubert, Kafka, Joyce, etc. Mas, com alguma surpresa, havia na lista cerca de 15% de romances de que eu nunca tinha ouvido falar. N�o � n�o ter lido, isso h� muito mais, mas nunca, jamais, em tempo algum, ter ouvido falar. Aqui est� a lista das faltas absolutas: Samuel Richardson, Clarissa Thomas Love Peacock , Nightmare Abbey George Eliot, Daniel Deronda Erskine Childers, The Riddle of the Sands Keneth Grahame, The Wind in the Willows John Buchan, The Thirty-Nine Steps Flannery O�Cooner, Wise Blood Chinua Achebe, Things Fall Apart Elizabeth Taylor, Mrs Palfrey at the Claremont Beryl Bainbridge, The Bottle Factory Outing Marylinne Robinson, House Keeping Peter Carey, Oscar and Lucinda Se calhar � injusto, mas, com excep��o do Clarissa , que seria �unputdownable�, tamb�m a nota que justifica a sua inclus�o n�o me entusiasma muito a l�-los. 12.10.03
11:07
(JPP)
Vou precisar de asas outra vez, porque parto para a Porta. Da Porta, um dos s�tios mais fascinantes do mundo, vai ser feito o Abrupto durante a pr�xima semana, se as tecnologias se portarem � altura. Tudo o resto ajuda: o lugar, as pedras, as pessoas, a hist�ria, o ar, as �guas, os barcos, os haman, o pequeno caf� naquela rua, naquela esquina, em terras que foram genovesas, de onde se v� a �sagrada sabedoria�. Pode ser que, com sorte, um certo imperador, que dorme dentro das muralhas, resolva sair e ganhar um velho combate que perdeu h� seiscentos anos. H� t�o pouco tempo. * Domingo de manh�, hora do brunch e do New York Times, se o tempo fosse mais am�vel, mas �there's always someone around you who will call�. Cortesia da �Corneta�, nome prop�cio para acordar de repente, este "Sunday Morning" dos Velvet Underground & Nico do �lbum da banana: "Sunday morning, praise the dawning It's just a restless feeling by my side Early dawning, Sunday morning It's just the wasted years so close behind Watch out, the world's behind you There's always someone around you who will call It's nothing at all Sunday morning and I'm falling I've got a feeling I don't want to know Early dawning, Sunday morning It's all the streets you crossed, not so long ago Watch out, the world's behind you There's always someone around you who will call It's nothing at all Watch out, the world's behind you There's always someone around you who will call It's nothing at all Sunday morning Sunday morning Sunday morning" Bom dia !
10:47
(JPP)
�Nos Estados Unidos, os media passam para o p�blico (entenda-se, povo americano) uma narrativa pol�tica semelhante, com pequenas diferen�as de uma publica��o para outra, mas que revelam interc�mbio de ideias entre os jornalistas e os pol�ticos daquele Pa�s. Na Uni�o Europeia (U.E.) n�o existe uma partilha do mundo pol�tico nas mentes dos europeus dos v�rios pa�ses; n�o existe uma cont�nua actualiza��o da narrativa pol�tica que permita ao p�blico europeu assimilar os acontecimentos da mesma forma, ou sentirem-se uma parte de um todo comum. Muito mais importante que discutirmos quem deve ter direito a voto, a veto, a comiss�rios em Bruxelas, etc., seria o dever de concluir que a inexist�ncia de uma narrativa pol�tica comum - tornando o europeu comum intang�vel, irreal e irrelevante - � um factor que inviabiliza o projecto da Constitui��o Europeia, neste momento. � (Orlando Braga) * �Comprei um telem�vel Sony Ericsson que se enquadra no topo da sua gama. No entanto, reparo que os menus do mesmo t�m erros ortogr�ficos incompreens�veis, do tipo �in�ciar�, para al�m de ser um verdadeiro mart�rio escrever mensagens curtas dada a falta de acentua��o. Para obstar a uma eventual apoplexia ortogr�fica, sou tentado a alterar o idioma para ingl�s, este tratado de forma correcta! O ponto da quest�o �: um telem�vel topo de gama, com o portugu�s como op��o de idioma (porque este mercado n�o ser� desprez�vel), mas tratado de forma plebeia (porque esta l�ngua vale o que vale...), � este um dos sintomas da globaliza��o e da integra��o na Europa? Ser� este um pequeno reflexo, mas exemplificativo, do que valer� a nossa cultura (neste caso, a nossa l�ngua) na futura comunidade europeia?...� (Jos� Manuel Figueiredo) * �� tempo de olharmos a praxe como um fen�meno social que a todos diz respeito. Ao longo destes anos, a praxe era considerada pela sociedade civil como uma pr�tica que apenas podia ser discutida no interior das faculdades e que apenas a elas dizia respeito. Hoje, muito devido aos abusos recentemente surgidos e � luta dos movimentos anti-praxe, este pol�mico tema saiu do mundo herm�tico da faculdade, sendo discutido nos f�runs, jornais, televis�es... O manifesto seguidamente apresentado tem como principal prop�sito o de envolver pessoas da sociedade civil nesta luta contra o autoritarismo, elitismo, seguidismo, veiculados na praxe. Este ritual � celebrado num ambiente de medo e de coac��o impostos pelo topo da hierarquia praxista. A todos os que queiram acabar com este ritual atentat�rio da dignidade humana pedimos que enviem a sua assinatura e indiquem a sua actividade para antipodas@portugalmail.pt ou contactem para os n�meros 964407305(Lu�sa Quaresma) /963133349(Ricardo Coelho). MANIFESTO ANTI-PRAXE Porque vemos na praxe uma pr�tica que atenta contra os mais elementares direitos humanos, nomeadamente a liberdade, a igualdade, a integridade f�sica e psicol�gica e a livre express�o da individualidade, ao mesmo tempo que exalta os valores mais reaccion�rios da nossa sociedade. Porque n�o vemos qualquer motivo para a exist�ncia de hierarquias entre estudantes, tendo em conta que todos devem ser tratados por igual nas rela��es interpessoais. Porque acreditamos que a tradi��o nunca poder� ser um entrave � mudan�a e, muito menos, poder� alguma vez legitimar um comportamento inaceit�vel em qualquer sociedade. Porque n�o aceitamos o poder auto-institu�do e nada democr�tico dos organismos da praxe, que se constituem em estruturas paralelas com regras pr�prias. Defendemos que a recep��o aos novos alunos, sempre que se justifique a sua exist�ncia, se deve basear em rela��es de igualdade. Nesta iniciativa, os estudantes olhar-se-�o nos olhos e tratar-se-�o por �tu�, construindo um conjunto de redes de solidariedade e de camaradagem n�o exclusivas. Todos se divertir�o por igual, deixando a divers�o de uns de ser a humilha��o de outros. Desta forma, incentivar-se-� o verdadeiro altru�smo que consiste em ajudar os outros sem exigir qualquer contrapartida. Defendemos igualmente que a faculdade deve ser uma institui��o aberta ao mundo que a rodeia, transformando-o e sendo por ele transformada. Uma institui��o que deve proporcionar a livre interven��o e fomentar a criatividade, n�o impondo c�digos de conduta nem promovendo a segrega��o. Mas este ideal nunca ser� concretiz�vel enquanto o esp�rito da praxe reinar na faculdade. Exigimos ainda que as institui��es de Ensino Superior tomem sobre si a responsabilidade de prestar todas as informa��es e aconselhamento necess�rios aos estudantes. Exercemos desta forma o nosso direito � indigna��o. Como parte da sociedade civil pensamos que o que se passa no interior das faculdades diz respeito a todos. Logo, jamais poderemos fechar os olhos � triste realidade das �tradi��es acad�micas�. E juntamos a nossa voz � voz de todos os que lutam diariamente contra o cinzentismo da praxe e se batem por uma faculdade cr�tica, aberta, democr�tica e feliz!" (Lu�sa Quaresma) * �Sou estudante do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa(�) N�o querendo interpretar o papel de �advogado do diabo�, n�o posso deixar de defender a figura, na generalidade, dos dirigentes associativos, at� porque j� o fui, apesar de criticar fortemente as actuais condutas de contesta��o e linhas de ac��o reivindicativa. Como tudo, entendo que n�o deveremos entrar em fundamentalismos, e considerar que os dirigentes associativos s�o, como referiu um dos leitores do abrupto, �... Aqueles jovens s�o, muitos deles, estudantes com um estatuto especial, que podem andar o ano inteiro em festas por todo pa�s, teoricamente em representa��o da institui��o...�, entendo existir um pouco de exagero e excesso nestas palavras, at� porque pessoalmente, enquanto dirigente associativo nunca pautei a minha conduta pelos referidos par�metros. O papel dos dirigentes associativos � de extrema import�ncia quer para o funcionamento interno de um estabelecimento de ensino superior, executando papel regulador, de colabora��o ou mesmo como contra-poder. A outra vertente interna � dinamiza��o de v�rios aspectos desportivos ou culturais, contribuindo assim para uma forma��o pessoal dos indiv�duos, como pessoas integrantes de uma sociedade. � que encarar uma licenciatura n�o simplesmente como uma forma��o cientifica de cinco anos (ou talvez mais!), mas como um processo de constru��o quer do pr�prio individuo quer da pr�pria sociedade em que est� inserido, e aqui o papel do Associativismo, salvo melhor opini�o, � fundamental. Esta foi a parte em que fiz o papel de �advogado do diabo�, j� que dei uma na ferradura, vou agora dar uma no cravo... No que concerne a pol�tica educativa e � rela��o com a tutela � que os dirigentes associativos borram a pintura, muitas vezes instrumentalizados pela esquerda, pela direita ou mesmo pelo �big brother� televisivo deste pa�s � beira mar plantado, perdem-se por entre ac��es pouco inteligentes e um discurso enfadonho completamente deslocalizado da realidade do dia-a-dia de qualquer estudante. (�) Assim sendo entendo que existe uma necessidade de separar o que � a �figura de Dirigente Associativo�, das figuras (tristes) feitas pelos dirigentes associativos, para que o associativismo n�o morra esgotado nem asfixiado por aqueles que mais o deveriam apreciar e defender, os estudantes." (Ant�nio Rolha)
02:57
(JPP)
de ontem era de novo n�rdica. O quadro de que tirei o fragmento � de L. A. Ring e foi pintado em 1888, a �estrada principal em Mogenstrup no Outono�.
01:01
(JPP)
est� praticamente terminada. Afinal, com um bocado de trabalho, foi mais r�pida. Os Estudos est�o agora alojados no Weblogs.com.pt, com um arranque que muito deve ao Paulo Querido. O novo endere�o � este: Estudos sobre o Comunismo e as actualiza��es s� ser�o feitas nesta nova vers�o. Para comemorar esta passagem e a abertura de um novo blogue, com muito mais fun��es, coloquei l� um muito curioso (e hoje inc�modo) cartaz e panfleto comunista contra o envio de alimentos pela Caritas, no Natal de 1956, aos refugiados da subleva��o h�ngara. O Abrupto est� velho de mais para mudar e continuar� onde est�, embora a s�rie dos "objectos em extin��o" possa ganhar autonomia. � um projecto em estudo, para o qual v�rios amigos se ofereceram para ajudar. 11.10.03
11:32
(JPP)
"m' illumino d' immenso" * ![]() *Verso de Ungaretti, vindo de "um companheiro de gera��o".
10:57
(JPP)
Os Estudos sobre o Comunismo est�o em mudan�a deste s�tio para este. Com a ajuda preciosa de Paulo Querido, est�-se a construir um novo blogue com outras funcionalidades que eram de h� muito sentidas como necess�rias, a principal das quais � uma maior ordena��o interior dos materiais por sec��es. Outras ser�o entretanto acrescentadas, dada a maior flexibilidade da plataforma do Movable Type. A mudan�a deve demorar um m�s, porque se aproveita para unificar algumas notas, crit�rios bibliogr�ficos, cita��es, etc., mas muitos dos Estudos j� l� est�o. As notas novas j� entrar�o no novo endere�o.
10:56
(JPP)
Enquanto, um pouco por todo o lado, continua a chover �cido, eu fico-me pela fresca chuva. Os leitores do Abrupto continuam a propor can��es matinais. H� muitas em fila de espera, v�rias portuguesas, muitas inglesas, nenhuma em franc�s. Interessante esta desapari��o do franc�s das letras de can��es que se recordam. Injusta, ali�s, porque h� grande poesia matinal francesa, nas can��es e na poesia propriamente dita. Se n�o houver outras sugest�es para fazer entrar a �matin� na �early morning�, eu dou j� um belo exemplo: o �Soleil du Matin�, de Verlaine �Le soleil du matin doucement chauffe et dore Les seigles et les bl�s tout humides encore, Et l'azur a gard� sa fra�cheur de la nuit. L'on sort sans autre but que de sortir ; on suit, Le long de la rivi�re aux vagues herbes jaunes, Un chemin de gazon que bordent de vieux aunes. L'air est vif. Par moment un oiseau vole avec Quelque fruit de la haie ou quelque paille au bec, Et son reflet dans l'eau survit � son passage. Mais le songeur aime ce paysage Dont la claire douceur a soudain caress� Son r�ve de bonheur adorable, et berc� Le souvenir charmant de cette jeune fille, Blanche apparition qui chante et qui scintille, Dont r�ve le po�te et que l'homme ch�rit, Evoquant en ses voeux dont peut-�tre on sourit La Compagne qu'enfin il a trouv�e, et l'�me Que son �me depuis toujours pleure et r�clame.� Passando para outro mundo, veja-se esta letra de Tom Waits (enviada por Ab�lio Carvalho), com um verso �I�m watchin T.V. in the window of a furniture store� que parece tirado dum quadro de Hopper. Cold Water (Mule Variations) �Well I woke up this morning with the cold water with the cold water with the cold water Woke up this morning with the cold water with the cold water with the cold Police at the station and they don�t look friendly Well they don�t look friendly Well they don�t look friendly Police at the station and the don�t look friendly They don�t look friendly well they don�t Blind or crippled Sharp or dull I�m reading the bible by a 40 watt bulb What price freedom Dirt is my rug Well I sleep like a baby with the snakes and the bugs Well the stores are open but I ain�t got no money I ain�t got no money Stores are open but I Ain�t got no money, ain�t got no money Well I ain�t Found an old dog and he seems to like me seems to like me Well he seems to like me Found an old dog and he seems to like me seems to like me well he seems See them fellows with the card board signs scrapin up a little money to buy a bottle of wine Pregnant women and the Vietnam vets I say beggin on the freeway Bout as hard as it gets Well I slept in the graveyard it was cool and still cool and still it was cool and still Slept in the graveyard it was cool and still cool and still and it was cool Slept all night in the Cedar grove I was born to ramble born rove Some men are searchin for the holy grail but there ain�t nothin sweeter than ridin the rails (Solo) I look 47 but I�m 24 Well they shooed me away from here the time before Turned there their backs and they locked their doors I�m watchin T.V. in the window of a furniture store Well I woke up this morning with the cold water with the cold water with the cold water Woke up this morning with the cold water with the cold water with the cold � Francisco Manuel Calafate prop�e duas sugest�es que escapam �s �letras de temas de Blues onde a manh� significa m� disposi��o. Por isso trago aqui duas letras de dois herdeiros dos Blues que apresentam perspectivas bem diferentes. � a paix�o matinal, a mais bela, a que se contrap�e ao actual culto da "paix�o" amn�sica nocturna, embebida em �lcool e nas chamadas drogas do amor, abafada e marcada pelo ritmo mec�nico da batida tecno, resultante da sedu��o imag�stica, da conversa onde a palavra d� lugar � dan�a, ao gesto, ao h�lito e ao perfume. A 1� do Bowie, � de 70�s e tem o seu tom mais surreal e algo neur�tico. A m�sica � ainda do tempo em que o som de Bowie n�o se tinha ainda sofisticado ao ponto de n�o se poder associar ao country e �s harmonias mel�dicas t�picas da Brit�nia Celta. A 2� � de uma fabulosa banda de Philad�lphia, incompreensivelmente desconhecida fora de um c�rculo de cultores. Chamam-se G Love and Special Sauce e t�m um som muito ac�stico, que mistura Folk e Blues com vocaliza��es e ritmos hip-hop interpretados com uma atitude muito Roqueira.� In the Heat of the Morning (David Bowie) "The blazing sunset in your eyes will tantalize Every man who looks your way I watched them sink before your gaze Se�orita sway Dance with me before their frozen eyes I'm so much in love Like a little soldier catching butterflies CHORUS No man loved like I love you Wouldn't you like to love me too In the heat of the morning In the shadow I'll clip your wings And I'll tell you I love you In the heat of the morning I'll tie a knot in rainbow's end, organise the breeze Light my candle from the sun I'll give you daylight for a friend I'll do all of these I'll prove that it can be done, oh, I'm so much in love Like the ragged boy who races with the wind CHORUS In the heat of the morning In the shadow I'll clip your wings And I'll tell you I love you In the heat of the morning" Gimme Some Lovin� (G Love and Special Sauce) �Gimme some lovin� early in the morning I just woke up with this appetite Gimme some love in the morning light Gimme some lovin� early in the morning I just woke up with this appetite Gimme some love in the morning light Some people like it in the afternoon But I don�t think that I can wait that soon Give me some love in the mornin light Some people like it late at night I could wait that long but I don�t think I might Give me some lovin in the mornin light I�m gonna love you soft and love you sweet I can feel your heart beat I need your attention to get me started right I�m gonna wake you up with a kiss on the cheek Come a little closer open up to me Good morning baby good mornin baby Open your eyes just a little bit Good morning sunshine I can�t resist Dreaming about you baby all through the night� Bom dia, good morning Vietnam!
02:16
(JPP)
de ontem: uma �paisagem de comboio�, pintada em 1940 por Eric Ravilious, e que est� na Aberdeen Art Gallery. As tr�s janelas e a tira de couro s�o as mesmas das antigas carruagens que, ainda nos anos setenta, andavam nas linhas do interior. Os bancos estofados tamb�m. Abria-se a porta com um man�pulo de metal (cobre?), do lado de fora, e havia v�rias correias de couro segurando as portas e a janela. Tudo dava uma ideia de solidez e craftmanship, muito ingl�s. A outra imagem, a preto e branco, � de Morten Rossland e data de 1984. O que ela representa infelizmente n�o est� em extin��o, est� em crescendo. E n�o me refiro aos gatos. 10.10.03
15:09
(JPP)
![]() Uma das vit�rias de influ�ncia de Paulo Portas, director do Independente, foi introduzir na an�lise pol�tica uma verdadeira obsess�o com o julgamento moral. Como era inevit�vel, if you live by the press you die by the press, ele foi (�) uma das v�timas dessa obsess�o e amea�a, ali�s, tornar-se a v�tima mais simb�lica da efic�cia dos seus pr�prios julgamentos. Mas a arrog�ncia moral fez escola e � um dos elementos que hoje define a ecologia do jornalismo portugu�s (e de parte da blogosfera, onde a passagem de julgamentos morais taxativos e cortantes � do dia a dia de muitos blogues). Digo portugu�s, porque essa vaga j� teve momentos mais altos no resto do mundo, no jornalismo anglo-sax�nico por exemplo, e percebeu-se que um dos seus efeitos � voltar-se contra os seus autores. Se h� coisa que eu n�o suporto � essa mentalidade self righteous. N�o a suportei em Eanes e no PRD, n�o a suportei no meu partido quando se quiseram p�r a armar ao �Deus, p�tria e fam�lia�, n�o a suportei no PSN de Manuel S�rgio (de que Monteiro e Portas herdaram parte dos votos), n�o a suportei no Independente, n�o a suportei na banda Monteiro-Portas contra os �pol�ticos�, n�o a suportei quando foi da quest�o da �transpar�ncia�, e n�o a suporto em geral. Do que eu gosto � da habitual moralidade das pessoas comuns, com qualidades e defeitos, que n�o se acham melhores do que os outros e que sabem que certas coisas n�o se fazem porque n�o se devem fazer, e, mesmo assim, de vez em quando enganam-se, que n�o andam todos os dias a debitar julgamentos morais sobre tudo e sobre todos. Tenho como certo que o moralismo das elites (e jornalistas e pol�ticos s�o membros das elites) � um instrumento do cinismo e n�o da virtude, mas nem por isso deixa de ser eficaz porque comunica com o justicialismo populista. � uma das principais barreiras contra qualquer reforma e qualquer moderniza��o de Portugal. E � pouco saud�vel � moralmente.
14:18
(JPP)
Convem nomear as excep��es para se perceber a diferen�a. Um bom exemplo de coment�rios de jornalista foi o que Ricardo Costa fez na SIC sobre a crise com o MNE e a mentira oficiosa da nova Ministra do Ensino Superior. Ricardo Costa n�o se limitou a fazer um coment�rio pol�tico, mas falou da textura jornal�stica das not�cias que a SIC deu. Explicou pormenores, sem revelar fontes, de como os jornalistas tinham procurado saber, junto de diplomatas, quais eram as pr�ticas habituais com os seus filhos, e como � que a not�cia do convite � nova ministra j� tinha sido por ela divulgado a outros (Ordem dos Engenheiros, por exemplo) na v�spera. Descreveu as pr�ticas de jornalistas para obter as not�cias, as pr�ticas de evas�o dos pol�ticos (desligar o telefone, o �n�o confirmo nem desminto�), e a an�lise que fora feita na redac��o da SIC da sua relev�ncia. Isto explica a solidez jornal�stica da SIC nestas quest�es: provocou a queda dos ministros e noticiou em primeira-m�o a nova ministra. O resto foi paisagem.
13:07
(JPP)
de ontem, um pimento e um lim�o, sinais dos tempos, foi pintada em 1901, por Odilon Redon, e est� num museu de Haia. Era o s�culo ainda novo, como a toalha da mesa, como o lim�o, como o pimento.
12:52
(JPP)
Os blogues de jornalistas s�o um elemento muito positivo para uma maior transpar�ncia. Eles retratam de uma forma mais l�mpida o pensamento que est� por detr�s das not�cias, assim como o movimento subjectivo de amizades e inimizades, de gostos e �dios, que t�o importante � no modo como se escreve uma not�cia. Saber tudo o que se possa saber sobre as opini�es, pol�ticas e outras, das pessoas que interferem na esfera p�blica, � muito vantajoso. E, como se v�, nos blogues de jornalistas, a agenda pol�tica � dominante e agressivamente empurrada. Pedro Mexia tinha raz�o, na sua an�lise no Dicion�rio do Diabo, sobre o car�cter pushy de alguns blogues dos jornalistas. Mas a opacidade � a regra nos meios medi�ticos, os menos escrutinados dos que interv�m na esfera p�blica. M�ltiplos canais de influ�ncia entre o poder pol�tico e os media n�o t�m qualquer escrut�nio, desde os que se fazem atrav�s dos neg�cios dos donos dos jornais e televis�es, at� a pr�ticas que o p�blico em geral desconhece, como os pequenos almo�os com os directores dos jornais em �off�. Por exemplo, o p�blico em geral devia saber que jornalistas foram assessores de Marques Mendes ou de Jorge Coelho, ou de ministros com fun��es similares, ou de outros membros do governo, ou de grupos econ�micos, e tenho a certeza que, se o soubesse, perceberia melhor os mecanismos de influ�ncia que funcionam nas redac��es. Devia-se igualmente saber como trabalham as empresas de rela��es p�blicas e de �imagem� e como � que antigos e actuais jornalistas colaboram em conjunto, promovendo ou denegrindo �produtos�. � evidente que os cargos formais n�o contam tudo, h� toda uma outra teia de amizades e influ�ncias, de �fontes� privilegiadas e contratos n�o escritos � "eu dou-te informa��es, tu passas-me as not�cias que me interessam" � de dif�cil escrut�nio. Favores, privil�gios e cunhas s�o, e isso � indesment�vel, o p�o-nosso de cada dia. H� tantos exemplos: convites para viagens apetec�veis, trabalhos extra a convite de funda��es, aven�as de empresas, promo��o cultural. Saliente-se que n�o falo apenas do dom�nio estrito do pol�tico: h� situa��es bem complicadas na �rea econ�mica, onde uma not�cia vale milh�es, e, mesmo onde ela vale apenas dezenas, como no dom�nio do jornalismo cultural, grupos e coteries abundam. Em Portugal, todas estas redes s�o desconhecidas do p�blico em geral, embora noutros pa�ses, como no Reino Unido e nos EUA, e, mais recentemente, em Fran�a, comece a haver informa��o detalhada. Com mais ou menos incorrec��es, o livro sobre o Le Monde inclui um retrato de toda a teia de rela��es entre os jornalistas e o poder, mas duvido que fosse poss�vel escrever em Portugal um livro semelhante. Mas que faz falta, faz. (Continua sempre)
12:25
(JPP)
Resta a quest�o da intencionalidade: os pol�ticos falam para promover a sua carreira, ou para defender o seu partido; os outros, os jornalistas em particular, falam com isen��o e desprendimento pol�tico. � verdade, por regra, a primeira parte. Mas � falsa, por regra, a segunda. Por regra, porque h� excep��es, mas o seu caminho � dif�cil e nem sempre un�voco. Todos os domingos sei isso e, quem me v� e ouve, tem pelo menos a transpar�ncia de saber quem sou, a que partido perten�o e se tenho ou n�o interesses na mat�ria � existe uma declara��o de interesses financeiros publicada e acess�vel a todos. Uma parte do ataque aos �comentadores� vem da escassez do mercado. Portugal � um pa�s pequeno, os bens s�o escassos e onde est�o uns, n�o podem estar outros. Outra parte vem da perturba��o que esse coment�rio introduz no monop�lio da �compreens�o�, a fonte do poder do �quarto poder�. H� muitos anos que escrevo que uma parte do conflito entre pol�ticos e jornalistas vem de ambos disputarem um outro bem escasso, a influ�ncia. Um jornal � poderoso se tem influ�ncia, um jornalista � poderoso se tem influ�ncia, um pol�tico � poderoso se tem influ�ncia. Logo, o controlo da opini�o p�blica � um terreno de disputa dur�ssimo, e nessa disputa est�o presentes diferentes corpora��es. H� um elemento que perturba esta rela��o, e tem a ver com a emerg�ncia do populismo moderno, que � um populismo medi�tico. A an�lise deste fen�meno, uma natural evolu��o da forma como o sistema politico-medi�tico funciona e da sua competi��o interior, fica para outra altura. (Continua)
12:11
(JPP)
N�o existe hoje, a n�o ser residualmente, em Portugal, qualquer autonomia entre a esfera do pol�tico e do medi�tico. Quem pretender analisar a vida pol�tica sem ao mesmo tempo analisar o papel dos media, dos jornalistas, dos jornalistas como agentes pol�ticos, e dos donos dos media como actores de poder, econ�mico e pol�tico, � mau analista. N�o � hoje poss�vel discutir qualquer acto pol�tico dissociando-o da sua representa��o nos media, aquela que � a face vis�vel, e, mais importante ainda, a face �compreens�vel�, dos eventos. Os factos s�o dados pela sua representa��o (cuja �, por sua vez, resultado de escolhas jornal�sticas, t�tulos, planos televisivos, sons na r�dio, que s�o a camada mais opaca e mais dif�cil de ler pelo p�blico em geral, e por isso a mais manipuladora), e pela �compreens�o�, que � hoje cada vez mais misturada no relato factual, a tal ponto que este muitas vezes quase n�o existe. A �compreens�o� � a leitura dos factos dando-lhes um sentido, e n�o existe qualquer separa��o de fundo, ou de qualidade, entre um discurso pol�tico feita por um jornalista, um pol�tico, um m�dico veterin�rio, ou um popular. � feito com ideias pol�ticas, mais ou menos elaboradas por outros discursos e saberes, mas assenta em opini�es que t�m uma f�brica comum. (Continua)
11:30
(JPP)
Voltou a febre jornal�stica do �arrasar", um voc�bulo poderoso que os jornalistas gostam muito de usar para acentuar t�tulos que subjectivamente lhes interessam, nos quais t�m um parti pris, quase sempre pol�tico, algumas vezes pessoal. Quando come�a a haver muitos �arrasar�, h� sangue fresco na �gua. Na m� de baixo dos dias dif�ceis, em que o governo parece ir bem, o PS est� uma desgra�a, e o BE n�o chega para �animar a malta�, em que � confort�vel pensar que a �direita� �domina� tudo t�o bem na comunica��o social, e em que s� se fala baixinho, calma e ponderadamente, com enorme isen��o e dist�ncia , entra-se em muitas redac��es numa depress�o leve, numa tristeza subtil com esta �piolheira�. Mas, de repente, o sol levanta-se, o mundo muda, j� n�o h� �direita� que mande, raios e coriscos tombam sobre o governo, a �justi�a� voltou e os presos pol�ticos foram libertados, imagens do 25 de Abril � porta de Caxias perpassam na mem�ria, os bons velhos tempos voltaram e uma milit�ncia acrescida e agressiva compensa bem as noites de queixa no Snob. (Continua)
11:04
(JPP)
Hoje abrimos o dia com a ess�ncia da manh�, a mudan�a. Um belo poema de Robert Frost (enviado pelo Francisco Curate) sobre a �hardest hue to hold�: Nothing Gold Can Stay Nature's first green is gold, Her hardest hue to hold. Her early leaf's a flower; But only so an hour. Then leaf subsides to leaf. So Eden sank to grief, So dawn goes down to day. Nothing gold can stay. Depois, ficamos com a �Voz�, (cortesia de Jos� Manuel de Figueiredo), que, mais do que da manh�, fala da madrugada. E, como sempre, a finura da madrugada, dos seus est�dios de sombra e luz nascente, est� descrita com o rigor das palavras antigas: �Matutinum est inter abscessum tenebrarum et aurorae adventum; et dictum matutinum quod hoc tempus inchoante mane sit. Diluculum quasi iam incipiens parva diei lux. Haec et aurora, quae solem praecedit.� Eis a �Voz�, Frank Sinatra: In The Wee Small Hours Of The Morning "When the sun is high In the afternoon sky You can always find something to do But from dusk til dawn As the clock ticks on Something happens to you In the wee small hours of the morning While the whole wide world is fast asleep You lie awake and think about the girl And never even think of counting sheep When your lonely heart has learned its lesson You'd be hers if only she would call In the wee small hours of the morning That's the time you miss her most of all When your lonely heart has learned its lesson You'd be hers if only she would call In the wee small hours of the morning That's the time you miss her most of all" E, por fim, os "U2 numa bel�ssima can��o do �lbum Unforgettable Fire (�) uma manh�... num meio hostil, a neve, uma luz ao fundo� (enviado por Filipe Freitas), mostram como se pode regressar, uma "esp�cie" de regressar. A Sort of Homecoming "And you know it's time to go Through the sleet and driving snow Across the fields of mourning Light in the distance And you hunger for the time Time to heal, desire, time And your earth moves beneath Your own dream landscape Oh, oh, oh... On borderland we run... I'll be there I'll be there... Tonight A high road A high road out from here The city walls are all come down The dust, a smoke screen all around See faces ploughed like fields that once Gave no resistance And we live by the side of the road On the side of a hill As the valley explode Dislocated, suffocated The land grows weary of its own Oh, oh, oh...on borderland we run... And still we run We run and don't look back I'll be there I'll be there Tonight Tonight I'll be there tonight...I believe I'll be there...somehow I'll be there...tonight Tonight The wind will crack in winter time This bomb-blast lightning waltz No spoken words, just a scream... Tonight we'll build a bridge Across the sea and land See the sky, the burning rain She will die and live again Tonight And your heart beats so slow Through the rain and fallen snow Across the fields of mourning Light's in the distance Oh don't sorrow, no don't weep For tonight, at last I am coming home I am coming home" �I am coming home�; bom dia. Nota: leitores do Abrupto pedem-me que traduza alguns dos textos, em particular os em latim. Mais tarde, tenho a inten��o de traduzir (se o meu latim bastar; se n�o, uso uma tradu��o j� feita) e comentar, em conjunto, todo este texto perfeito de Isidoro, �Hispalensis Episcopi�, sobre as partes da noite, retirado do quinto livro �De Legibus Et Temporibus� do Etymologiarum . Mas, at� l�, o som magnifico das l�nguas antigas, a sua perfei��o formal, a sua conten��o, que no latim � intraduz�vel, perdia-se, distra�a-se, com a tradu��o. 9.10.03
09:08
(JPP)
em breve, para a porta do Oriente. Se nalgum caravansaray conseguir rede, o Abrupto ter� uma semana de Div� ocidental-oriental. Mais ou menos.
08:52
(JPP)
para nada. Nem "early mornings", nem "late evenings", mas palavras, palavras, palavras no moinho delas. Mas depois do "nessun dorme", h� sempre a aurora: "Dilegua, o notte! Tramontate, stelle! Tramontate, stelle! All'alba vincer�!" Na m�sica, claro. 8.10.03
7.10.03
10:38
(JPP)
de ontem: as montanhas s�o de Carl Rottman e erguem-se sobre o Ebsee, que n�o se v� no fragmento. Suspeito que a montanha ao fundo seja o Zugspitz, que tem quase 3000 metros de altura. O quadro est� na Nova Pinacoteca de Munique e foi pintado em 1825. O lago continua l�, como se pode ver nesta fotografia actual. A outra imagem � de uma s�rie de Sara Rossberg sobre adolescentes e vida urbana, exposta na Nicholas Treadwell Gallery de Londres, do in�cio dos anos oitenta. Sobre Sara Rossberg h� mais informa��o aqui.
10:09
(JPP)
Um poema de Sophia de Mello Breyner (lembran�a de Rita Maltez), em que se fala da �verdade da manh�,que , para a manter l�mpida , chega por hoje. "Quando brilhou a aurora, dissolveram-se Entre a luz as florestas encantadas Arvoredos azuis e sombras verdes, Como os astros da noite embranqueceram Atrav�s da verdade da manh�. E encontrei um pa�s de areia e sol, Plano, deserto, nu e sem caminhos. A�, ante a manh�, quebrado o encanto, N�o fui sol nem c�u nem areal, Fui s� o meu olhar e o meu desejo. Tinha a alma a cantar e os membros leves E ouvia no sil�ncio os meus passos. Caminhei na manh� eternamente. O sol encheu o c�u, foi meio-dia, Branco a pique, sobre as coisas mortas. Mais adiante encontrei a tarde l�quida, A tarde leve, cheia de dist�ncias, Escorrendo de c�us azuis e fundos Onde as nuvens se v�o pra outros mundos. Um ponto apareceu no horizonte, Verde nos areais como um sinal. Era um lago entre calmos arvoredos N�o bebi a sua �gua nem beijei O homem que dormia junto �s margens. E ao encontro da noite caminhei.� Bom dia. 6.10.03
21:39
(JPP)
![]() "PAPEL HIGI�NICO E LARANJAS PODRES, O MESMO COMBATE!" �� frequente aparecer na comunica��o social not�cias do g�nero "Os estudantes do T�cnico manifestaram-se contra...". � um abuso de linguagem. Tirando algumas raras ocasi�es em que de facto h� uma mobiliza��o apreci�vel, em geral os referidos "estudantes do T�cnico", n�o passam de algumas dezenas num universo de aproximadamente 9000 estudantes. Muitas vezes fui surpreendido, tal como v�rios colegas meus, por apenas ter sabido de tais manifesta��es pelas televis�es, porque o seu impacto no interior do T�cnico � quase sempre nulo. E chamar aqueles jovens de estudantes � tamb�m um pouco abusivo. Porque em geral os estudantes encontram-se muito ocupados nas salas de aula, nos laborat�rios, bibliotecas, estudando, fazendo trabalhos, relat�rios, tirando fotoc�pias, etc. Aqueles jovens s�o, muitos deles, estudantes com um estatuto especial, que podem andar o ano inteiro em festas por todo pa�s, teoricamente em representa��o da institui��o. Podem fazer isso porque para eles existe uma �poca especial para a realiza��o de exames, realizada mais tarde, em que as provas s�o tipicamente mais f�ceis. A �poca especial de exames apenas deveria ser dada em casos excepcionais, mas � utilizada abusivamente por estes estudantes, que n�o apenas t�m exames mais f�ceis mas muitas vezes se isentam de apresentar trabalhos ao longo do ano em v�rias cadeiras. Isto quer dizer que podem apresentar as mesmas notas que outros com 1/10 do trabalho! Mas estes estudantes, nem com tanto tempo livre o aproveitam para se cultivar um pouco. N�o sabem que o T�cnico n�o foi criado � imagem da Universidade de Coimbra, mas mais como a sua ant�tese. E n�o vou aqui escrever o que disse Voltaire sobre a Universidade de Coimbra por respeito � institui��o. Houve uma altura em que chegaram a colocar uma capa negra na est�tua de Duarte Pacheco, sem se aperceberem da barbaridade que cometiam. Mas uma coisa � certa. Estas manifesta��es, apesar de n�o serem minimamente representativas, conseguem ser bastante efectivas na comunica��o social - nada � fruto do acaso." (M�rio Chainho) "Sou estudante do Instituto Superior T�cnico, mais exactamente do 4� ano de Engenharia Mec�nica, e ao ler o seu post "Papel Higi�nico e Laranjas Podres, o Mesmo Combate" percebi imediatamente que lhe teria de responder, pois h� muito que penso aquilo que acabou de escrever. Tamb�m a mim me causa confus�o o facto de v�rios colegas meus aderirem a este costume ressurgente do traje, ainda por cima numa faculdade com pouca ou nenhuma tradi��o ou esp�rito acad�mico como � o caso do T�cnico. � dif�cil detectar um padr�o, visto que h� rapazes e raparigas, bons e maus alunos. Inclusivamente, alguns colegas e amigos meus com os quais me dou muito bem usam o traje. Por outro lado � e falo do T�cnico - as tunas, nas quais se usa o traje, s�o um �ptimo local para a integra��o social de muitos alunos, especialmente dos mais novos, os "caloiros". Por isso, nada tenho contra os trajes em si, nem contra a "tradi��o". Considero- me de direita e liberal, e respeito por isso as tradi��es, de um modo geral. Mas h� que ver as coisas em perspectiva. O traje, tal como o conhecemos hoje, come�ou a ser usado em Coimbra e durante s�culos apenas a� foi usado. Os trajes e as praxes s�o de facto uma tradi��o Coimbr� e nada mais. � curioso reparar que at� durante o Estado Novo (regime que abomino) tais pr�ticas nunca foram encorajadas nas nossas Universidades. No T�cnico e noutros s�tios eram proibidas. Em Coimbra, devido ao peso da tradi��o, eram toleradas, mas n�o mais que isso. Ent�o porqu� este ressurgimento do traje e das praxes (umas benignas, outras animalescas) nos �ltimos anos, num pa�s livre? Tenho pensado algumas vezes nisto e n�o tenho respostas definitivas. Mas penso que voc� p�s o dedo na ferida ao referir a "altura do varapau, das rixas, das esperas, dos bord�is canalhas, da cont�nua bebedeira e (�) da poesia ultra-rom�ntica". Ali�s, eu n�o chamaria a "isto" de oitocentista, mas de Miguelista, pois � mais exacto. Sinto-me confuso com este fen�meno. Quase 30 anos depois do fim da ditadura, num tempo em que seria suposto os estudantes serem mais maduros, abertos ao mundo, tolerantes e curiosos do que no seu tempo (como ali�s s�o, n�o sejamos pessimistas), � com desilus�o que vejo tantos colegas meus a desenterrarem usos (o traje) e formas de protesto (as laranjas e o papel higi�nico) que os mostram como uma vers�o suburbana e ciganola da fidalguia marialva do tempo da senhora D. Maria I. Embora respeite, acho de facto surreal ver colegas meus andarem orgulhosamente assim vestidos com pelas ruas de Lisboa (e de Portugal em geral) em pleno s�culo XXI. �s vezes interrogo-me at� sobre o que pensar�o os alunos estrangeiros do programa Erasmus que em cada vez maior n�mero v�m a Portugal para estudar. Espero que conhe�am um m�nimo de E�a e de Camilo para compreenderem com benevol�ncia a raz�o de ser desta puls�o Miguelista que tomou conta desta gente. Para finalizar, queria dizer que apesar deste triste espect�culo, seria injusto julgar o T�cnico e os seus estudantes por estas poucas dezenas de marialvas modernos que organizaram o rid�culo protesto das laranjas podres. A esmagadora maioria dos estudantes n�o anda assim vestida e suspeito mesmo que n�o se identifique com estes "novos" velhos costumes. O mais tr�gico � que ao optarem por este folclore para Telejornal ver, estas agremia��es (habilmente dominadas pelos partidos) est�o cada vez mais a hipotecar o respeito, o carinho e o apoio que a sociedade civil devia ter pelos universit�rios e fazendo perder cada vez mais a paci�ncia aos Poderes para que estes aceitem uma rela��o s�ria e madura com os estudantes. Ter� isto um fim?" (Jo�o Daniel Ramos Ricardo)
12:21
(JPP)
![]() ![]() O nosso editor reage mal sempre que uma edi��o da Dom Quixote � criticada, e isso � natural. N�o gostou da compara��o que fiz entre a edi��o portuguesa e a inglesa de Coetzee, que a sua editora teve o m�rito de publicar. Mas agora, que vai ter que reeditar os livros por causa do Nobel, valia a pena corrigir alguns aspectos da edi��o portuguesa de Desgra�a. Para que fique registado, este � o texto de contracapa da edi��o portuguesa da Dom Quixote do Desgra�a, de Coetzee: �Desgra�a ~ o retrato de uma nova Africa do Sul e dos seus tamb�m novos problemas, um retrato que, em (�ltima an�lise, nos fala da beleza e do amor. Um romance inteligente, f�rtil, calmo e brutal que confirma Coetzee como um dos grandes romancistas do nosso tempo.� Ora se h� coisa que o livro n�o �, � isto. Um dos cr�ticos ingleses falou de �narrative darkness�, o que sintetiza muito bem o estilo de Desgra�a e a sua hist�ria. �Calmo�? A escrita de Coetzee � depurada, n�o h� uma palavra a mais, mas nada � �calmo� no livro. �Beleza�? Num livro que explora exactamente a falta de beleza, a aridez, onde nada aparece como belo � paisagens desencantadas, personagens gastas, envelhecidas, no limite da fealdade f�sica � � assim que Lucy , a filha da personagem principal David Lurie � � descrita. Tocada por uma certa fealdade, feiosa, como uma palavra terr�vel diz em portugu�s. . �Amor�? Num sentido quase ontol�gico, n�o h� livro que n�o fale de amor. Mas o que h� em Desgra�a, � �desgra�a� , a perda de sentido de todas as rela��es, a usura da vida num momento de mudan�a social e pol�tica que se manifesta pela viol�ncia inscrita por todo o lado. Mesmo em actos como a aceita��o do filho da viola��o (por parte de Lucy), h� mais expia��o do que amor. H� culpa, todo o livro est� mergulhado em culpa, e por isso � que ele pode ser lido de forma �politicamente correcta� (que n�o fique, no entanto, a d�vida que o considero uma grande romance, sobre o qual escrevi quando ganhou o Booker Prize, e n�o na altura do Nobel). A personagem principal recusa a culpa na quest�o da �conduta desapropriada� na universidade, mas aceita a culpa colectiva dos brancos. Aceita que na criminalidade haja uma esp�cie de vingan�a tr�gica pelas viol�ncias que o apartheid provocou na comunidade negra. H� met�foras do amor, o c�o, por exemplo que t�o bem ilustra a capa inglesa, mais expressiva do que a portuguesa. Mas olhem para a capa inglesa e vejam o mundo do romance, o c�o ferido, os canos com ferrugem, a �narrative darkness�, a imensa tristeza da hist�ria.
10:30
(JPP)
de ontem � de um �leo de 1882, da autoria de Willem Roelofs, uma pac�fica paisagem dos Pa�ses Baixos, com vacas e tudo. Por falar em vacas, Bruxelas, como Londres h� uns tempos, est� cheia de vacas coloridas pelas ruas, incluindo uma decorada com moules, uma verdadeira ofensa ao bicho. Algu�m deve ter encontrado esta nova forma de vender "mobili�rio urbano" e gastam-se milh�es para alimentar a nostalgia do campo. Mais dia, menos dia, chegam as vacas a Lisboa.
10:24
(JPP)
Continuam a chegar muitas letras de m�sicas, que, a seu tempo, entrar�o para a nossa manh�. Hoje, para que, na simplicidade, brilhem mais as palavras, apenas duas entradas. Uma de Bob Dylan, enviada por Miguel Castro Caldas �cantada (�) em 1970, no album "selfportrait", em plena fase Country. Mas foi escrita por G. Lightfoot. Como n�o encontrei a transcri��o da letra, transcrevo eu apenas a primeira estrofe (a mais bonita) �: "in the early mornin' rain with a dollar in my hand and an aching in my heart and my pocket full of sand I'm a long way from home and I miss my love one so in the early mornin' raiiin with nowhere to go" Outra, a primeira entrada em prosa, de V.S. Naipul, enviada por Jo�o Gundersen, �uma achega a essas horas para mim t�o dif�ceis. "A house for Mr Biswas", a sua primeira casa em Port of Spain, j� jornalista do "sentinel", mas ainda ligada aos Tulsis..." "The house faced east, and the memories that remained of these first four years in Port of Spain were above all memories of morning. The newspaper, delivered free, still warm, the ink still wet, sprawled on the concrete, down which the sun was moving. Dew lay on trees and roofs; the empty street, freshly swept and washed, was in cool shadow, and water ran clear in the gutters whose green bases had been scratched and striped by the sweeper�s harsh broom�s. Memories of taking the Royal Enfield out from under the house and cycling in a sun still cool along the streets of the awakening city. Stillness at noon: stripping for a short nap: the window of his room open: a square of blue above the unmoving curtain. In the afternoon, the steps in the shadow; tea in the back verandah. Then an interview at a hotel, perhaps, and the urgent machinery of the Sentinel. The promise of the evening; the expectation of the morning." Bom dia!
10:14
(JPP)
SOBRE A PALAVRA DE HONRA, OS EXEMPLOS V�M DE CIMA�, ETC. "Come�o esta missiva pela cita��o de escrito seu no "abrupto": � � mais f�cil mudar os ministros do que mudar os h�bitos sociais, e � por isso que estas ondas de indigna��o s�o hip�critas at� � ra�z dos cabelos. S� se consegue manter uma sociedade baseada nas cunhas quando essa mesma sociedade tem estes sobressaltos self- righteous. A onda de indigna��o faz parte do mesmo fen�meno, � parte do mesmo atraso, nasce da mesma massa das cunhas.� De facto, demitido que est� o ministro, enviada que vai ser a filha do outro para o estrangeiro, e reclamada por uns a inoc�ncia e a honra do pai, enquanto que por outros a sua cabe�a, n�o ouvi ningu�m insurgir-se contra a lei que legaliza a excep��o (ou antes, as excep��es). Porque no fundo, o que o director geral fez foi dar um parecer de extens�o, de uma excep��o legal, � forma de selec��o na entrada na universidade. E esse regime de excep��o que previligia os filhos de emigrantes, os naturais da Madeira e dos A�ores e os Palops, mesmo em cursos onde a press�o de entrada � violenta como no caso da Medicina, n�o � contestado por ningu�m. De facto, como muito bem diz, �a onda de indigna��o faz parte do mesmo fen�meno, � parte do mesmo atraso, nasce da mesma massa das cunhas� e feito o alarido, a excep��o vai manter-se para que outros privil�gios e cunhas possam continuar a acontecer. Afinal, obrigar o contribuinte portugu�s a financiar a forma��o em medicina do filho de um ministro de Angola, Mo�ambique, Cabo-Verde ou Guin�, � muito mais "justo e democr�tico" do que permitir que a filha do ministro portugu�s se torne uma excep��o em si mesma." (Francisco Santos) �Estou como o Senhor, no meu tempo (n�o ser� em todos os tempos) a palavra de honra era (�) um valor, � um contrato feito entre quem a diz e quem a ouve. Selado pela atitude e configurado pela idoneidade dos intervenientes acto. Subentendo que esse �posted� tem a ver com o �pormenor� pol�tico que nos assaltou na semana passada. Pormenor, entendo eu, que apenas tomou as dimens�es porque a comunica��o social fez dele um caso e, porque os envolvidos lhe deram oportunidade para isso. N�o era um caso nacional (refiro-me �s propor��es que tomou), era, pelo que os envolvidos disseram um caso de honra, resol�vel em sede adequada. Tem raz�o quando diz que as demiss�es constituem hoje, parece, uma banalidade, uma reac��o que d� jeito no desconforto criado a uma figura p�blica. Perdeu-se o sentido de ver no pedido de demiss�o um acto de coragem, um ponto final numa situa��o insustent�vel, que tem por base duas premissas: - Ou se � acusado injustamente e, � a sa�da para manter uma coer�ncia na ac��o, na idoneidade e na dignidade da pessoa. � justificada pela impossibilidade de continuar a desempenhar uma fun��o por falta meios e de confian�a. - Ou se reconhece uma conduta infeliz e irrepar�vel e, assume-se o erro. N�o vejo outra justifica��o para as demiss�es mas, a d�vida em rela��o a um acto praticado n�o o � certamente.� (Rui Silva) �O problema n�o � a honra do ministro. O problema � que um requerimento feito por um ministro, a outro minist�rio, dever� ser respondido por outro ministro, ou ser� que agora um director geral ou l� o que � o homem responde a um ministro que n�o � o dele? Para al�m do que est� dito podemos voltar ao velho dito que diz que �� mulher de C�sar n�o basta ser s�ria��� (F. Oliveira Dias) � A prop�sito de "os exemplos v�m de cima..." fez-me recordar que uma das primeiras coisas que aprendi com o meu av� foi a n�o dizer palavra de honra. Dizia-me ele, na sua infinita sabedoria, que palavra s� h� uma. Nunca se deve dizer palavra de honra, porque, continuava ele, d� a sensa��o que temos mais do que uma. Fiquei perplexo quando ouvi o nosso ministro de N. Estr. utlilizar a sua palavra de honra. Ser� que ele tamb�m a emprega nas reuni�es a que assiste ? E discordo da sua caracteriza��o da nossa sociedade como mergulhada em h�bitos de patrocinato e clientela. Alguma parte dela sim, mas n�o podemos ser t�o radicais. Nunca na minha vida profissional ou pessoal "meti" uma cunha. E como eu muitos outros que conhe�o, an�nimos portugueses. E tamb�m n�o � verdade de se perdeu a medida: o ex-ministro da Educa��o n�o a perdeu. A quest�o de fundo, prezado Dr. Pacheco Pereira, que se est� a tornar demasiado �bvia, � que o Dr. Dur�o Barroso n�o consegue encontrar gente de qualidade para fazer parte do seu elenco governativo. Ser� porque n�o h� ? N�o, � porque n�o querem. E este n�o querer � que � o verdadeiro problema.� (Jo�o Costa) �O problema � mesmo esse, "O Poder"! Porque � que um Ministro ou Director Geral tem "O Poder" de decidir quem entra na Universidade? N�o deveria ser "apenas" a lei a funcionar? Porque � que "O Poder" � t�o apetec�vel para que Directores Gerais, Embaixadores e outros bem instalados na vida, ponham em causa o seu bem estar, o bem estar da sua fam�lia, o n�o serem conhecidos pela Comunica��o Social, para irem trabalhar (muito) mais e ganhar (muito) menos? "O Poder" deixa-nos com vontade de fazer algo... A capacidade de intervir na vida das pessoas concretas (n�o falo aqui do poder legislativo que esse, penso, ainda pertence � Assembleia da Rep�blica). N�o seria muito mais f�cil que "estas coisas" n�o dependessem dum despacho dum Ministro qualquer? Caramba, n�o � dif�cil entender o drama de uma aluna que, mesmo sendo filha de um colega do Ministro, at� ficou prejudicada por mais uma altera��o da mudan�a de resid�ncia do pai (teoricamente, para continuar a servir o pa�s...). O que vale mais? Passar 6 anos a "passear" de escola em escola no estrangeiro ou "apenas" acompanhar o pai no 12� ano? O mal, penso eu, � o Ministro ter "O Poder" de compreender a injusti�a desta excep��o � lei. O mal, foi a filha do Ministro n�o se ter quedado mais um "anito" l� por Madrid, como fazem todos os outros, mesmo que, assim, as suas notas piorassem devido � destabiliza��o emocional motivada por viver sem a fam�lia aos 16/17 anos. Porque foi compreensivo, decidiu intervir! Assim, demitiu-se. O Estado Portugu�s � que, conforme dizem, fica a perder. No m�nimo, ficar� com uma "segunda escolha" de Dur�o Barroso. Por mim, at� para evitar futuras tenta��es, as leis deveriam ser mais claras, mais acess�veis a todos, at� para evitar que, aqueles que t�m "O Poder" de recorrerem ao Tribunal Constitucional e "O Poder" de verem os seus recursos a serem decididos em tempo "normal" (anormal para a velocidade da justi�a portuguesa), possam ver as nossas leis "adaptarem-se" aos seus casos espec�ficos. Eu, como o Ministro, o Baston�rio, alguns deputados e "opinion makers", compreendo aquilo que muita gente passa em Portugal, com as previs�es preventivas, sem saberem de que s�o acusados, quanto mais ainda presum�veis inocentes. Mas estas pris�es preventivas, t�o longas, apenas aconteceram agora? Foi s� neste caso que houve um despacho deste tipo, motivado pela compreens�o da situa��o? Ou anda algu�m por aqui a "mexer uns cordelinhos", tentando afectar a credibilidade deste Governo, que quer mudar muita coisa em pouco tempo? Isto faz-me lembrar uma afirma��o interessante que ouvi h� pouco tempo: "N�s, os portugueses, achamos que tudo est� mal! Tudo! No entanto, quando desafiados para a mudan�a..." (NM) �Sou docente do superior, e esta hist�ria dos ministros deixou-me t�o sensibilizado ao ponto de pela primeira vez escrever assim a algu�m. Pode at� existir um buraco na lei. Mas como posso confiar em algu�m que se aproveita dos buracos na lei ? � o contr�rio dos princ�pios �ticos que tentoo passar aos meus alunos. A dignidade perdeu-se...totalmente. Estou triste, nem sequer revoltado. Triste apenas com este meu pa�s que me envergonha todos os dias.� (AP) * Cr�ticas a estas notas do Abrupto encontram-se em Mata-Mouros e Blogu�tica Nacional, entre outros. 5.10.03
11:22
(JPP)
H� uma alternativa, que se tornar� popular, � palavra de honra: o detector de mentiras.
10:51
(JPP)
Um homem que d� a sua palavra de honra � como um homem que jura: as suas palavras valem mais do que palavras, s�o um acto decisivo em que ele coloca como penhor de si pr�prio, e da veracidade do que diz, a sua identidade. � um acto grave e sem retorno. Eu sou da escola em que se acredita quando algu�m fala assim. (O Latinista Ilustre lembra e bem que, mesmo no estado republicano e laico, esta afirma��o da palavra tem valor jur�dico.) Reconhe�o que vivemos num mundo que t�o pequeno sentido d� a estes valores (at� porque muitos os desrespeitam com a boca cheia de grandes palavras) que, quando um homem, goste-se ou n�o, enuncia que a sua palavra � a sua honra parece uma trivialidade ou um expediente. Eu sinto um calafrio porque naquele momento � ele o forte e eu o fraco nas minhas d�vidas. Posso estar a ser enganado e o homem que invoca a sua honra n�o a tem? Sem d�vida, mas prefiro pagar esse pre�o para que os homens possam continuar, intactos, a nomear a sua honra como �ltimo penhor. A civiliza��o � feita destas coisas.
10:18
(JPP)
de ontem � familiar aos parisienses e aos turistas de Paris. Aquele homem, andando sozinho, como muitas vezes se anda, �L�Homme qui marche�, � uma ilus�o, um trompe l�oeil, pintado numa parede da fachada sul da central do ar condicionado, ao lado do F�rum Les Halles. Vemos e n�o vemos, o que vemos n�o vemos, o que vemos n�o � o que vemos.
10:09
(JPP)
Tanta coisa que acontece pela manh�! Que a �manh� � um meme diriam os nossos darwinistas dwakinianos, e que o meme da manh� infectou in�meras can��es e poemas, � incontest�vel. Aqui vai uma parte da colheita em ingl�s, enviada pelos leitores do Abrupto. Jo�o Pedro da Costa manda uma das suas �favoritas morning songs (�.). � de Nick Drake, e � o tema que fecha o bel�ssimo Pink Moon (1971).� From the morning "A day once dawned, and it was beautiful A day once dawned from the ground Then the night she fell And the air was beautiful The night she fell all around. So look see the days The endless coloured ways And go play the game that you learnt From the morning. And now we rise And we are everywhere And now we rise from the ground And see she flies And she is everywhere See she flies all around So look see the sights The endless summer nights And go play the game that you learnt From the morning." Pedro Cordeiro lembra �uma p�rola�, de Leonard Cohen: HEY THAT'S NO WAY TO SAY GOODBYE "I love you in the morning, our kisses deep and warm, your hair upon the pillow like a sleepy golden storm, yes, many loved before us, I know that we are not new, in city and in forest they smiled like me and you, but now it's come to distances and both of us must try, your eyes are soft with sorrow, Hey, that's no way to say goodbye. I'm not looking for another as I wander in my time, walk me to the corner, our steps will always rhyme you know my love goes with you as your love stays with me, it's just the way it changes, like the shoreline and the sea, but let's not talk of love or chains and things we can't untie, your eyes are soft with sorrow, Hey, that's no way to say goodbye. I love you in the morning, our kisses deep and warm, your hair upon the pillow like a sleepy golden storm, yes many loved before us, I know that we are not new, in city and in forest they smiled like me and you, but let's not talk of love or chains and things we can't untie, your eyes are soft with sorrow, Hey, that's no way to say goodbye." E Pedro Br�s Marques �Empty Skies� do Springsteen, do �lbum 'The Rising' � �um �lbum que est� bem longe de ser uma boa safra do 'Boss', mas passa...� Empty Skies "I woke up this morning I could barely breathe Just an empty impression In the bed where you used to be I want a kiss from your lips I want an eye for an eye I woke up this morning to the empty sky Empty sky, empty sky I woke up this morning to an empty sky Empty sky, empty sky I woke up this morning to an empty sky Blood on the streets Yeah blood flowin' down I hear the blood of my blood Cryin' from the ground Empty sky, empty sky I woke up this morning to an empty sky Empty sky, empty sky I woke up this morning to an empty sky On the plains of Jordan I cut my bow from the wood Of this tree of evil Of this tree of good I want a kiss from your lips I want an eye for an eye I woke up this morning to an empty sky Empty sky, empty sky I woke up this morning to an empty sky Empty sky, empty sky I woke up this morning to an empty sky Empty sky, empty sky I woke up this morning to an empty sky" 4.10.03
11:35
(JPP)
Na entrevista que deu ao P�blico, a prop�sito do seu livro passado nos anos sessenta, Olivier Rolin diz : �Quando t�nhamos 20 anos a felicidade n�o nos interessava profundamente�� o que �, para a �poca, uma grande verdade. O problema � que n�o era s� a nossa, mas tamb�m a dos outros, que �n�o nos interessava profundamente�. O que nos interessava, aos estudantes e intelectuais, era a l�gica fria das ideias, por isso pouca import�ncia se dava ao sofrimento que essas ideias causavam nas pessoas comuns. A atrac��o dos intelectuais no s�culo XX pelo comunismo tinha a ver com esse �ltimo conforto das ideias: v�-las desfilar �organicamente�, ou �dialecticamente�, ou �empurradas pelo vento da Hist�ria� em fun��o do que pens�vamos, mesmo que, sob os �p�s� das ideias, estivessem muitos mortos. �nica e importante diferen�a em Portugal (como na Espanha ou na Gr�cia): havia uma ditadura, logo uma moral de �resist�ncia�. Noutra altura falarei dessa diferen�a.
11:09
(JPP)
![]() Para se reformar uma sociedade mergulhada em h�bitos de patrocinato e clientela, nos �conhecimentos� e n�o no m�rito, na excep��o � excep��o �para al�m da leis�, uma sociedade pr�-burocr�tica, � fundamental o exemplo vir de cima. Ali�s, se n�o vier de cima, n�o vem certamente de baixo. Esta � uma regra simples, cuja enuncia��o e aplica��o basta: este tipo de procedimentos n�o � aceit�vel, implica viola��o grave do exerc�cio de fun��es, e da� que tenha consequ�ncias para os que s�o respons�veis. (Veja-se nota no fim) � mais f�cil mudar os ministros do que mudar os h�bitos sociais, e � por isso que estas ondas de indigna��o s�o hip�critas at� � ra�z dos cabelos. S� se consegue manter uma sociedade baseada nas cunhas quando essa mesma sociedade tem estes sobressaltos self- righteous. A onda de indigna��o faz parte do mesmo fen�meno, � parte do mesmo atraso, nasce da mesma massa das cunhas. Nos Jaquinzinhos h� uma nota intitulada "Portugalidade", que explica � saciedade o que se passa "Rodeado de amigos � mesa de um restaurante, dizia o m�dico: "N�o h� maneira de dar a volta a isto! Estes gajos mal se apanham com algum poder, abusam, isto � s� cunhas, favores aos amigos, esta porra est� enraizada na sociedade! Olha l�, Z�, eu passo-te o atestado por mais 2 dias e assim podes juntar a quarta ao fim-de-semana, est� bem?" Nota final: N�o sei se, em casos como este, a demiss�o � aceit�vel; isto � dif�cil de discutir a quente, porque j� se perdeu toda a medida. Mas que se est� a dar uma banaliza��o da demiss�o, est�. � mais pequena coisa, ela � pedida, e � mais pequena coisa, ela � concedida. E depois h� toda uma enorme injusti�a: � luz desta hist�ria, apesar de tudo uma pequena hist�ria, que gravidade n�o teriam os procedimentos �Modernos�? Onde est� a medida? A �nica que existe � a press�o medi�tica. Eu, quando ou�o algu�m dizer que d� a sua �palavra de honra�, aceito-o, mas isso tamb�m s�o h�bitos pr�-burocr�ticos. Est�-se a criar uma no��o de �culpabilidade objectiva�, que vem dos media (e que tem encontrado em Marcelo Rebelo de Sousa, ele pr�prio um bar�metro dos media, obcecado com o �parecer�, uma voz ouvida) , que introduz na pol�tica o princ�pio da presun��o da culpa. Esta forma moderna de cinismo � uma variante do populismo. As massas pedem a �castra��o�, os jornalistas dizem-lhes todos os dias que � da natureza da pol�tica mentir ou encobrir, e as vozes juntam-se.
02:02
(JPP)
![]() De ontem e anteontem s�o completamente distintas. Anteontem, apareceu um fragmento de um t�pico �gabinete�, cheio de antiguidades gregas e romanas � reconhecem-se alguns vasos gregos e reprodu��es, ou originais, de pinturas romanas. � um detalhe de um quadro de Pietro Fabris, mas a maior parte da pintura n�o est� l�. Na parte ausente, est� o primeiro Conde de Seaforth, na sua casa de N�poles, num concerto para os amigos. A um canto, com o seu pai, tocando um cravo port�til, um rapaz chamado Wolfgang Amadeus Mozart. A pintura de ontem, um jardim com um gato no meio, era identific�vel pelo gato como sendo de Beatrix Potter. 3.10.03
23:51
(JPP)
"Nas universidades, est�-se no in�cio do ano escolar, pelo menos no que diz respeito aos alunos do primeiro ano. E, consequentemente, est�-se na �poca da recep��o ao caloiro. Trata-se de um espect�culo degradante que deveria ser obrigat�rio para todas as pessoas que n�o se cansam de apregoar a �generosidade� da juventude. Talvez ficassem vacinadas para toda a vida, a menos que adoptem o ponto de vista de Miguel Portas, segundo o qual as recep��es ao caloiro s�o encorajadas pelo docentes universit�rios com o objectivo de inculcar o mais cedo poss�vel nos novos alunos terror e subservi�ncia para com os seus superiores hier�rquicos. Quando observo as recep��es ao caloiro lembro-me frequentemente do castigo medieval que consistia em manter uma pessoa presa num local p�blico, de modo que quem passasse poderia dirigir-lhe insultos, lan�ar-lhe excrementos, etc. A diferen�a � que os caloiros n�o est�o fisicamente presos; s�o, isso sim, v�timas de coa��o psicol�gica. Acima de tudo, n�o consigo deixar de pensar que os estudantes que gastam tempo e energia a fazer isto aos caloiros em vez de os ajudarem a adaptar-se a um ambiente totalmente novo s�o provavelmente os mesmos que protestam por o governo n�o investir o suficiente nas universidades." (Jos� Carlos Santos) "Na Sexta fui-me matricular na Faup (Faculdade de Arquitectura da U.Porto) e....mesmo antes de saber a m�dica quantia que temos a pagar de propinas...deparei-me com um �ADMIR�VEL MUNDO NOVO�: Ao longe via apenas a agita��o pr�pria de mais um dia de matriculas. No �trio...tudo mudou: repentinamente os meus olhos s�o assaltados por uma aterradora vis�o negra. Por momentos julguei ter-me enganado na faculdade...senti-me atordoado: morcegos!! Aquilo a que, apesar de tudo, me habituei a chamar de Escola, estava agora invadida de morcegos saltitantes que se passeavam irritante e alegremente perante os meus olhos indignados. Apesar do meu estado de revolta interior, bastante vis�vel exteriormente, todos pareciam lidar naturalmente com a situa��o. Entrei na livraria para comprar os impressos e l� estavam eles �ajudando os caloiros� a preencher papelada: ap�s anos de clandestinidade deliberada, surgem como cogumelos com suas pastinhas negras a pregar os �valores da tradi��o�. Onde estavam eles no passado? Escondiam-se, porqu�? Aqui a tradi��o � outra...!!!ou pelo menos era. A liberdade de express�o e o direito � diferen�a � um valor que muito prezo...HAJA LIBERDADE AT� PARA O HISTORICISMO E A ESTUPIDEZ! Apesar da abertura de esp�rito e toler�ncia que devemos ter... n�o consigo ser indiferente a mais um corte nos elos que nos uniam � ESCOLA. ESCOLA DO PORTO_ �(...) dos atelieres, �s tascas, � escola, um certo estilo de estar juntos, a solidariedade anti-burguesa, mais nos gostos, uma atmosfera culta e progressista como se podia no Porto, ao som da banda de m�sica no coreto de S.L�zaro com gosto a doce da Teixeira.(...)� Ant�nio Quadros" (Lu�s Reis)
19:07
(JPP)
Li os extractos que o Correio da Manh� publicou do livro de Lu�s Filipe Menezes, em que se conta um dos incidentes que marcou o Congresso do PSD no Coliseu, quando Fernando Nogueira e Dur�o Barroso se confrontaram: a interven��o atribulada do �sulista, elitista e liberal� . Acho bem que Menezes tenha escrito o que escreveu e relatado a sua vers�o. Faz falta ao conhecimento p�blico esta dimens�o mais pessoal da ac��o pol�tica, que t�o importante e decisiva �. Claro que o relato de Menezes tem um aspecto de ajuste de contas (embora ele hesite em nomear certas pessoas), e hiper-valoriza o seu pr�prio papel e o do incidente no resultado final do Congresso, que tem outras explica��es, nem todas muito dignificantes. Mas, mesmo assim, vale a pena l�-lo, porque �, no essencial, subjectivamente verdadeiro, tanto quanto uma s� pessoa, no meio daquele vendaval, podia testemunhar os factos que directamente o envolviam. Sou das testemunhas mais pr�ximas do incidente. Menezes falava contra mim, depois de uma interven��o que eu tinha feito, e de cujo conte�do ele nada diz, pelo menos no Correio da Manh�. Recordo-me de preparar mentalmente a resposta ao �sulista, elitista e liberal�, dizendo a Menezes que ele se tinha enganado em quase tudo, porque eu era �nortista, democrata e liberal�, e �liberal� era, para os �nortistas�, uma grande palavra, que vinha de Garrett e D. Pedro, do 24 de Agosto e de Passos Manuel� E j� que estamos numa de mem�ria, ainda pensei em uma maldade, a qual certamente n�o diria em p�blico. Quando, na resposta, chegasse ao Passos Manuel, acrescentava �que, pelo menos, pelos nomes das ruas do Porto devias conhecer�� ; coisas de Congressos. Mas ca�u-nos o c�u ou o inferno em cima (mais propriamente, do Lu�s Filipe Menezes). Fui um dos que, no meio da barulheira, falei com ele, estava Menezes mudo e paralisado no meio do palco. No palco e fora dele, esteve para haver confronto f�sico, tal era o ambiente de tens�o que se vivia. Ao ler as recorda��es de Menezes, mais uma vez, tive a forte impress�o de como t�o pouco se sabe da hist�ria pol�tica dos �ltimos anos, pelo menos daquela que eu pude testemunhar e nunca chegou �s p�ginas dos jornais. O dom�nio, no relato jornal�stico, das �intrigas que s�o contadas�, absorvidas com uma osmose perfeita, � tal, que estas tomam o lugar da descri��o factual.
11:09
(JPP)
A Formiga explodiu, tornando-se o primeiro blogue a desaparecer com grandeur no imenso espa�o do futuro. Que tenha sido uma formiga e n�o a "col�nia" (a �antcolony� que assinava as notas) explica a explos�o. Como � que uma formiga se transforma num indiv�duo? Se uma formiga se comporta com individualidade, que perturba��es profundas gera no comportamento colectivo de que ela � uma pe�a? E vice-versa? O escritor que mais cedo percebeu estes dilemas foi Kafka. As suas formigas nunca ganhavam verdadeira individualidade, mas apercebiam-se do poder do grupo, da �col�nia�, do �colectivo�, porque o podiam ver de fora, podiam ver o seu mecanismo porque eram v�timas dele. Porque � que elas viam e as outras n�o? Se Kafka se limitasse a contrapor individualidade / sociedade, na tradi��o do seu tempo (por exemplo, no teatro de Ibsen), n�o teria sido t�o inovador como �. N�o. A formiga �perde-se� da col�nia por acaso, por um destino t�o cego como as regras do grupo. A formiga K. � processada por erro burocr�tico, e, quer no Processo, quer no Castelo, nunca verdadeiramente sai do labirinto porque n�o h�, no seu t�rmino, qualquer liberdade, logo nenhuma individualidade � poss�vel. No in�cio do s�culo XX, Kafka percebeu o poder colectivo da burocracia moderna, o poder do �enxame� e como a sua for�a an�nima podia levar a momentos como a �solu��o final�. Agora que a Formiga morreu de morte inatural, transcrevo aqui uma das cita��es mais interessantes da blogosfera, que o seu autor repetiu agora , mas que j� l� tinha posto h� muito: Major Tom - If Control's control is absolute, why does Control need to control? HAL9000 - ... Control needs time. Major Tom - Is Control controlled by his need to control? HAL9000 - Yes. Major Tom - Why is Control need Humans, has you call them? HAL9000 - Wait ! Wait! Time are lending me...; Death needs time like a Junkie needs Junk. Major Tom - And what does Death need time for? HAL9000 - The answer is so simple ! Death needs time for what it kills to grow in! (Dead City Radio, William S. Burroughs / John Cale , 1990) 2.10.03
12:40
(JPP)
A correspond�ncia e a colabora��o dos leitores permitiam fazer um blogue ao lado. Entre os temas que suscitaram mais correio, encontra-se a quest�o do Muito Mentiroso, seu significado e seu fim, as propinas e a obsess�o higi�nica dos protestos, e a quest�o europeia. Logo que possa, vou ver se consigo fazer uma s�ntese das opini�es recebidas, organizada por estes temas. Vou tamb�m tentar, ao fim de semana, tornar regular este �Abrupto visto por�� SOBRE ESTA PEDRA �Sobre Aquela Pedra n�o se senta, hoje, Pedro mas Jo�o. Este Papa � uma das figuras marcantes do �ltimo quartel do s�culo XX e, porventura, ainda do XXI. Foi protagonista e espectador dos acontecimentos da �poca referenciada; talvez mais protagonista que espectador. N�o analisarei aqui aspectos espirituais nem teol�gicos, pois n�o disponho de cultura nem forma��o para tal. Contudo, como homem que acompanha os ventos da hist�ria, filtrados pelo que os �media� querem que eu conhe�a, tenho algumas opini�es que gostaria de partilhar consigo. O papa protagonizou (protagoniza) um conceito de ecumenismo alargado, sem atender a credos nem ra�as, como talvez nenhum outro o tenha conseguido fazer. Sob o lema de divulgador do evangelho peregrinou pelo mundo inteiro, deixando uma mensagem simples: o amor pelos outros, quer dizer a paz, quer dizer uma maior justi�a social. Foi t�o simples passar a mensagem. Mas ser� que conseguiu? Parece que n�o, porque n�s os homens gostamos de ouvir (nestes tempos ver o espect�culo de como, quem e onde se diz � um �valor� da nossa sociedade), mas normalmente s� ouvimos e n�o elaboramos sobre o que ouvimos. Contudo, o Papa insiste na mensagem. A lucidez e a clareza com que o faz, contrastam com a tibieza dum corpo fr�gil. Mostra aos �olhos do mundo� a decad�ncia do f�sico, num crescendo que nos sensibiliza e que, penso eu, nos recorda o que acontece aos outros, talvez s� aos outros. N�o sei se pode ou quer renunciar, mas n�o creio em tal. Para terminar direi que, neste aspecto, � um exemplo. Acredita no que diz, faz da palavra uma arma de amor. Ser� que n�s, os outros, conseguiremos acreditar no que dizemos? Ou s� dizemos?� (Rui Silva) SOBRE O GALEGO: �A DELICADA CAMELIA DA NOSA FALA� Extracto de um artigo publicado por Fern�m Velho no dia 1/10/2003 intitulado �A delicadeza do idioma� : �A delicada camelia da nosa fala ver� ferido o seu corpo e a s�a beleza polo salitre escuro dun derradeiro inverno. Non hai moito soubemos que por primeira vez en Galiza o n�mero de persoas maiores de 65 anos, a maior�a falantes en galego, superaba o n�mero de menores de 15, a maior�a falantes en castel�n. E do mesmo xeito soubemos que esta Nai Terra de noso presenta xa unha das taxas de natalidade m�is baixas do mundo. Aquel sabio que foi Florentino L�pez Cuevillas chegou a referirse ao pobo galego como "pobo estra�o'': un pobo que fai todo o pos�bel por desaparecer e que -vela� o seu drama- non o consegue. �Que aconteceu no pa�s que un d�a, na alta flor medieval, foi monoling�e en galego e tivo a m�is alta proxecci�n en Europa con Santiago de Compostela como unha das principais capitais culturais de Occidente? Se deixamos agora que a auga esborralle o castelo de area (o idioma), comezaremos a ser nada. Seremos devorados polo mar do esquezo. Seremos a penas o t�mulo resultante do noso propio fracaso.� NOMES DOS AVI�ES �E porque n�o baptizam os autocarros? Em vez do 21, podia ser "vou apanhar ali o E�a". Ou melhor, para n�o haver a possibilidade de esquecimento do nome, "vou ali apanhar o Z� Maria". ;-)� (Nuno Figueiredo) UM TEXTO DE RUSHDIE �Voltei a descobrir um texto do Salman Rushdie que n�o via h� alguns anos. Foi escrito antes do ataque aos EUA, da recente guerra contra o Iraque e Afeganist�o. � um texto pol�tico, mas tamb�m (e ainda bem) liter�rio, uma carta escrita por Rushdie ao b�b� n�mero 6 mil milh�es que nasceu no nosso planeta, sobre como crescer longe dos moralismos dogm�ticos. Queria partilh�-lo com algu�m que se interesse por ideias, por isso aqui vai....� (Cl�udia) LOMBADAS DOS LIVROS �o que me faz escrever hoje � um fait divers. falo das lombadas dos livros. quando "browsamos" por uma livraria fora, dobramos ligeiramente o pescocinho para a esquerda para ler as lombadas dos livros em parada.de repente, somos acordados naquela viagem porque algumas lombadas t�m o texto a ler ao contr�rio. se os editores soubessem como isso � perturbador..." (Eduarda Maria)
12:16
(JPP)
de ontem � um fragmento de um quadro de L�on Spillaert, "Le Point de Chemin de Fer", data de 1911, e est� no Museu Real de Belas Artes de Bruxelas. Se n�o me engano, o comboio da imagem � a segunda m�quina a entrar nos fragmentos do Abrupto, acompanhando um navio perdido, algures num oceano a s�rio.
11:47
(JPP)
![]() Nazis e comunistas consideravam que a cria��o est�tica era a �ltima legitima��o do poder e mostraram uma grande capacidade de entender a modernidade, principalmente quando ela servia para a propaganda. Hitler e Staline interessavam-se pela arquitectura, o cinema e a m�sica, e ambos patrocinaram o equivalente aos actuais �minist�rios da cultura�, que nenhuma democracia imaginava ter antes de Malraux. Habituados a seguir o p�s-Malraux, via Lang, consideramos hoje natural aquilo que seria completamente bizarro numa democracia no tempo de Hitler e Staline: que um governo pudesse �dirigir� a cultura, sem que isso fosse entendido como propaganda.
10:53
(JPP)
Bom retorno do Socio[B]logue , boas leituras no Almocreve das Petas, o mais regular dos blogues nocturnos, com um retrato fabuloso de Aquilino por Cardoso Pires. Um dia, conto o meu encontro, na prov�ncia profunda, com um padre sa�do vivo dos livros de Aquilino, e das refei��es que comemos juntos (l� n�o havia cap�es, os dois cap�es que me recordo de Aquilino contar que constitu�am um pequeno almo�o paroquial, mas havia bola de carne, trutas genu�nas, carne assada com batatas, onde a carne � carne e as batatas s�o batatas � tanta gente que nunca comeu uma batata verdadeira! -, mais do que um doce, caf� e aguardente), e de como ele me contava que enganava as mulheres da serra, dizendo �Vade retro mulieris� em vez de �Vade retro Satan�s�, quando elas lhe pediam para benzer o gado� EARLY MORNING SONGS: Da verdadeira antologia matinal que me enviou Jos� Manuel Figueiredo, escolho tr�s cl�ssicos: Good Morning Blues (Ella Fitzgerald) "Good morning blues, blues how do you do Good morning blues, blues how do you do Babe, I feel alright but I come to worry you Baby, it's Christmas time and I wanna see Santa Claus Baby, it's Christmas time and I wanna see Santa Claus Don't show me my pretty baby, I'll break all of the laws Santa Claus, Santa Claus, listen to my plea Santa Claus, Santa Claus, listen to my plea Don't send me nothing for Christmas but my baby back to me" Mary In The Morning (Elvis Presley) "Nothing's quite as pretty as Mary in the morning When through the sleepy haze I see her lying there Soft as the rain that falls on summerflowers Warm as the sunlight shining on her head When I awake and see her there so close beside me I want to take her in my arms, The ache is there so deep inside me Nothing's quite as pretty as Mary in the morning Chasing the rainbow in her dreams so far away And when she turns to touch me I kiss her fingers so softly And then my Mary wake to love and love again And Mary's there in summer days or stormy weather She doesn't care how right or wrong the love we share, We share together Nothing's quite as pretty as Mary in the evening Kissed by the shade of night and starlight in her hair And as we walk, I hold her close beside me All our tomorrows for a lifetime we will share" Good Morning Good Morning (Beatles) Nothing to do to save his life call his wife in Nothing to say but what a day how's your boy been Nothing to do it's up to you I've got nothing to say but it's O.K. Good morning, good morning... Going to work don't want to go feeling low down Heading for home you start to roam then you're in town Everybody knows there's nothing doing Everything is closed it's like a ruin Everyone you see is half asleep. And you're on your own you're in the street Good morning, good morning... After a while you start to smile now you feel cool. Then you decide to take a walk by the old school. Nothing has changed it's still the same I've got nothing to say but it's O.K. Good morning, good morning... People running round it's five o'clock. Everywhere in town is getting dark. Everyone you see is full of life. It's time for tea and meet the wife. Somebody needs to know the time, glad that I'm here. Watching the skirts you start to flirt now you're in gear. Go to a show you hope she goes. I've got nothing to say but it's O.K. Good morning, good morning..." Bom dia. 1.10.03
19:35
(JPP)
O Papa est� a fazer uma coisa muito dif�cil, em que o �corpo � que paga�. Est� a morrer diante de n�s, depois de envelhecer diante de n�s, restituindo a uma parte da vida, que escondemos em lares s�rdidos para nosso conforto, uma dignidade essencial. � uma op��o que muitos n�o compreenderam, porque t�m o culto da juventude e da efic�cia, da energia e da vitalidade, e n�o perceberam a �ltima lucidez deste homem � a de nos devolver a integridade da vida toda. O Papa � um dos homens de estado com maior influ�ncia na hist�ria do s�culo XX, e, junto com Reagan, acabou com o imp�rio sovi�tico. Mas n�o se ficou por a�: devolveu, pelo exemplo, � Igreja cat�lica, uma imagem p�blica espiritual, que a burocratiza��o do papado tinha perdido nos �ltimos s�culos. A Igreja vai torn�-lo santo rapidamente, mas desta vez o milagre est� a ver-se todos os dias.
19:13
(JPP)
Setembro foi o m�s do Guiness. M�s com maior n�mero de visitas (mais de 100.000 �pageviews� e 60.000 visitas), dia com maior n�mero de visitas (23 de Setembro, com mais de 6500 �pageviews�), m�dia por dia de 4100 �pageviews� e mais de 2600 visitas, tudo o que possam imaginar. A esquizofrenia dos dois contadores acentuou-se, por raz�es que desconhe�o, para al�m da diferen�a da data de partida. Segundo o Sitemeter, o Abrupto tem neste momento mais de 286.000 �pageviews� , a caminho das 300.000. A mais importante mudan�a est� nos 667 �imbound blogs� e nos 938 �inbound links� na Technorati. . Se a lista dos Technorati Top 100 mundial estivesse actualizada, o Abrupto entraria para o fim, seria o 97. Exultate, jubilate. Sempre � um produto portugu�s numa lista de 100 em um milh�o, numa pequena blogosfera, escrito em portugu�s. V�, aqui tamb�m n�o se fala de pa�s, mas de p�tria, at� porque tantas vezes se est� longe. Obrigado.
17:47
(JPP)
de voar no �Nat�lia Correia�. N�o me importo de voar no �Alexandre Herculano�, no �Ant�nio S�rgio�, no �Humberto Delgado�, mas na Nat�lia, que eu conheci viva e fresca, e depois cansada e gasta, como o tempo nos far� a todos, levou-me a querer mudar de avi�o. J� n�o h� respeito, na morte fazem-nos tudo, at� Airbus.
10:03
(JPP)
Voando sobre um ninho de blogues, encontrei um retrato de como o tempo passa sem darmos por ela, no quotidiano da Mem�ria Inventada ; vi a chuva que invade a p�tria no quadro de Caillebotte, que vem no Salmoura ; e acompanhei uma fam�lia portuguesa na ida � neve pelo Gato Fedorento, quando �um portugu�s de classe m�dia, m�dia-alta, paga mais de cem contos por semana para experimentar viver como um portugu�s de classe baixa.� Se fosse s� na neve�. EARLY MORNING SONGS: est�o-se a tornar t�o populares como foram os �Objectos em extin��o�, antes destes passarem, eles pr�prios, � extin��o. Rui Almeida incluiu no seu blogue "um contributo para a colec��o de "early mornig blues" (...) Os Led Zeppelin s�o uma das minhas descobertas da adolesc�ncia (�), num tempo em que os revivalismos ainda n�o estavam na moda, mas que me foi proporcionada pela conviv�ncia com pessoas da sua gera��o.� Petronius, o �rbitro das Eleg�ncias , lembra, para quem n�o tivesse dado por isso, que a letra dos Alabama 3, �lbum Exile on Coldharbour Lane, faixa �Woke Up This Morning�, que j� aqui se publicou, � que abre os Sopranos, na viagem de Tony a caminho de casa. Lembram-se? "You woke up this morning The world turned upside down, Things ain't been the same Since the blues walked into town. You've got that shotgun shine. Born under a bad sign. With a blue moon in your eyes." Jos� Manuel de Figueiredo mandou-me uma verdadeira antologia matinal. Aqui vai um exemplo de Sinatra (depois dos Sopranos fica bem) : In The Wee Small Hours Of The Morning When the sun is high In the afternoon sky You can always find something to do But from dusk til dawn As the clock ticks on Something happens to you In the wee small hours of the morning While the whole wide world is fast asleep You lie awake and think about the girl And never even think of counting sheep When your lonely heart has learned its lesson You'd be hers if only she would call In the wee small hours of the morning That's the time you miss her most of all When your lonely heart has learned its lesson You'd be hers if only she would call In the wee small hours of the morning That's the time you miss her most of all" Renato Martins envia-me algumas sugest�es em portugu�s. Uma delas � de Chico Buarque (tamb�m cantado por Caetano Veloso - Qualquer coisa, 1975) de 1969 Samba e amor "Eu fa�o samba e amor at� mais tarde E tenho muito sono de manh� Escuto a correria da cidade, que arde E apressa o dia de amanh� De madrugada a gente ainda se ama E a f�brica come�a a buzinar O tr�nsito contorna a nossa cama, reclama Do nosso eterno espregui�ar No colo da bem-vinda companheira No corpo do bendito viol�o Eu fa�o samba e amor a noite inteira N�o tenho a quem prestar satisfa��o Eu fa�o samba e amor at� mais tarde E tenho muito mais o que fazer Escuto a correria da cidade, que alarde Ser� que � t�o dif�cil amanhecer? N�o sei se pregui�oso ou se covarde Debaixo do meu corbertor de l� Eu fa�o samba e amor at� mais tarde E tenho muito sono de manh�" * Bom dia.
09:27
(JPP)
que, dada a magreza das notas, ainda se v� aqui em baixo , � parte de uma natureza morta de Georg Flegel de 1635. Quando , daqui a uns dias, eu colocar outra parte se ver� como a intimidade acolhedora do p�o, do vinho e do alho fanc�s, � enganadora e uma amea�a paira sobre a natureza. A da morte.
� Jos� Pacheco Pereira
In�cio |