ABRUPTO

31.5.03
 


GLOBOS DE OURO


N�o sei se � a coisa mais natural do mundo que Herman Jos� apresentasse os Globos de Ouro. Natural para a SIC., natural para o Herman, natural para todos os que o aplaudiram, natural para todos os que acham natural porque, que eu saiba, ningu�m se estranhou. Eu explico, embora tenha a sensa��o que esta n�o � uma quest�o clear cut, nem que eu tenha a certeza de ter raz�o.

O Herman � sem sombra para d�vidas o melhor no �mbito da sua profiss�o e um homem que ficar� na hist�ria do espect�culo portugu�s que ele revolucionou como poucos. Haver� antes e depois de Herman . Confrontado com a intima��o para ir depor, fez declara��es n�o s� sensatas como rigorosas de como se deve proceder naquelas circunst�ncias. F�-lo racionalmente e sem perder a como��o individual, a preocupa��o, o medo interior, o sentido de perturba��o da vida, que aquela grave adversidade lhe traria. As suas declara��es deveriam ser mat�ria de estudo no PS, que na semana anterior perdeu todo o senso de como, sem perder a emo��o, as obriga��es de amizade e solidariedade, tudo o que for, se devem comportar os cidad�os face � justi�a. Mesmo que suspeitem da sua iniquidade. As declara��es de Herman podem e devem ser comparadas �s do PS porque se fazem no terreno do �espa�o p�blico�, com figuras �p�blicas�.

Agora Herman foi constu�do arguido num processo-crime. N�s sabemos que continua inocente at� prova em contr�rio, mas se consideramos que o que se est� a passar com os processos da Casa Pia � grave (e eu suspeito de h� muito que a condi��o de espectacularidade de tudo isto tem como efeito banalizar a gravidade por muita ret�rica condenat�ria que se fa�a � mistura), n�o existe uma obriga��o de decoro por parte da SIC, em primeiro lugar, e de Herman em seguida, nas suas apari��es p�blicas? Eu n�o vi os Globos de Ouro porque estava em tr�nsito, sen�o veria, mas sei que Herman foi ovacionado de p� por parte da assist�ncia. O que � que foi ovacionado? O artista? N�o h� inoc�ncia naquela ova��o: foi o Herman arguido num processo-crime que recebeu as palmas e por aqui se percebe a enorme ambiguidade que vai perseguir os contactos de Herman com o p�blico. Ele sabe disso e compreendo que subjectivamente queira o conforto dessas palmas. Mas a SIC, que tem tido um papel junto com o Expresso na fronda moralista, sai mal. N�o porque o moralismo, hip�crita desde o primeiro minuto, fique sempre mal, mas porque desrespeitou os seus telespectadores colocando-os perante um dilema inaceit�vel.

Falei de decoro. Sei que � uma atitude que n�o se usa muito nos dias de hoje. Mas decoro, reserva, uma certa retrac��o interior na sua exposi��o p�blica por parte de Herman seria mais consequente com o que ele disse antes de depor. A raz�o porque acho que o que digo n�o � preto no branco, tem a ver com outros considerandos que n�o se podem ignorar. Herman � um artista de espect�culo, logo trabalhar para ele � aparecer em p�blico. Sei tamb�m que � volta dele existe um vasto conjunto de pessoas cujo emprego depende dele e com quem ele sente naturais obriga��es. E, tendo em conta a morosidade dos processos em Portugal, o futuro de todas essas pessoas ficaria em risco. Tudo isso teria que ser ponderado.

Mas o caso dos Globos de Ouro � diferente. Trata-se de um espect�culo excepcional, o mais importante da SIC cada ano. A hip�tese de substituir Herman foi concerteza ponderada e este, se tivesse pensado bem, teria dito � SIC, desde que foi chamado a depor, que n�o estava em condi��es de fazer o espect�culo, mesmo que continuasse com os outros programas. Mas insisto, a atitude da SIC � que � amb�gua. � um pouco o equivalente de, no dia em que um Secret�rio de Estado fosse constitu�do arguido num processo-crime, fosse nomeado para Ministro.
 


INTERESSE GERAL

Chamarei neste blog a aten��o para algumas coisas que aparecem nos Estudos sobre o Comunismo , que penso terem um interesse geral para al�m dos especialistas . Podem a� encontrar um "poema" ultra-estalinista escrito por um "jovem" em 1953 quando da morte de Staline e um c�lebre (nos anos trinta) poema de Jaime Cortes�o sobre um pescador anarquista que cortou a l�ngua para n�o falar na PIDE , uma hist�ria verdadeira .

30.5.03
 


O ESPECT�CULO DA PEDOFILIA

Durante grande parte da manh� a SIC Not�cias est� a fazer directos do DIAP onde o �a chegada do humorista a qualquer momento� � esperada . Os coment�rios s�o do g�nero , a �grande quest�o � saber se vem a p� calmamente ou chega de carro a grande velocidade� � o que ali�s sugere j� comportamentos de culpa ou de inoc�ncia - para al�m da patetice da �grande quest�o� . Todo o espect�culo � porta do DIAP � constru�do para gerar expectativa sobre os Globos de Ouro e ajudar �s audi�ncias . Depois venham l� falar-nos , em tom moralista , sobre a cruzada justiceira dos media para redimir os crimes cometidos na Casa Pia . Ao mais pequeno pretexto l� fogem as justifica��es e fica o show . Haver� algu�m que ou�a o modo como a SIC Noticias (e provavelmente as outras televis�es ) est� a transmitir a �chegada do humorista� que se lembre que se est� a tratar de uma investiga��o criminal , de um crime que todos dizem , rebolando a boca , �hediondo� ? Entretanto , atra�dos pela televis�o , um bando de papalvos vai chegando para fazer de coro da trag�dia .
 


OBJECTOS EM EXTIN��O 6

Continuam as contribui��es para o cat�logo dos objectos em extin��o . Ant�nio lembra-se dos teclados das m�quinas de escrever , que , ali�s . migraram para os computadores :

De facto acabaram as m�quinas de escrever, mas, mais grave ainda, desapareceu o teclado lusitano "HCESAROPZ" que, por for�a das circunst�ncias inform�ticas, foi substitu�do pelo anglo-sax�nico "QWERT". N�o sei se isto � uma perda irremedi�vel para a cultura lus�ada e ignoro o que se passou no Brasil. Sei apenas que, aqui na Fran�a, continuamos a utilizar, sem problemas, o teclado "AZERTY".

Ivone Mendes recorda-se de outros objectos , alguns j� aqui referidos , mas a lista vale pela sua globalidade , na lembran�a sentimental de um mundo a desaparecer debaixo dos nossos olhos :


�-televis�o a preto e branco
-telefonias a v�lvulas
-as v�lvulas das telefonias e, mais tarde das televis�es (fundiam-se e substitu�am-se, lembra-se?)
-discos de 78 rota��es (n�o sou desse tempo mas � a minha m�e ainda viva!)
-grafonolas.
-pick-ups (tive um destes gira discos port�teis cor de rosa clarinho que era um sucesso nas festas todas!)
-canetas de tinta permanente que se enchiam nos frascos (no exame da quarta classe recebi uma linda, nacarada!)
-o exame da quarta classe
-as quartas de manteiga
-sab�o azul e branco a peso
-o a��car a peso tirado de dentro de sacos de estopa
-enfim... quase tudo o que era de mercearia podia ser comprado a peso
-os mar�anos que nos entregavam as compras em casa
-o p�o � porta dentro do saco de pano que dizia bordado em letra inglesa: P�o
-a menina dos olhos (nunca experimentei mas vi quem tivesse experimentado!) [Nota de JPP : penso que ser� a palmat�ria ]
-l�minas gilette e respectivo aparelho que tinha um parafuso em cima que se desapertava para colocar a l�mina que cumpria a sua fun��o dos dois lados. �



Nelson Alexandre comenta o que escrevi sobre a durabilidade e as suas causas de alguns objectos mais antigos :

�� primeira leitura, pareceu-me evidente essa rela��o dos objectos ("... cadeiras , mesas , camas , pratos , copos , alguns talheres , a colher em particular. ") com a forma f�sica do nosso corpo e com a nossa cultura alimentar. Mas s� numa primeira an�lise. Porque, se deixarmos de lado a nossa cultura ocidental e olharmos a Oriente, todos esses refer�ncias culturais mudam e com elas, a forma dos objectos usados e mesmo a maneira como usamos o corpo em rela��o a eles; n�o muda, � claro, a forma f�sica do nosso corpo. Pelo que, se calhar n�o ser�o tanto "objectos muito dependentes da forma f�sica do nosso corpo , do modo como ele pousa , ou se alimenta" mas ligados a resist�ncias culturais intrinsecas em rela��o a aquilo que ser� a nossa alimenta��o. A grande revolu��o dos objectos sempre teve como for�a impulsionadora a tecnologia. S� os avan�os t�cnologicos permitiram que os objectos fossem evoluindo, resolvendo necessidades e, ao mesmo tempo, criando "janelas de possibilidades" para outras necessidades. Obviamente s� uma profunda mudan�a nos nossos h�bitos alimentares poder� criar a necessidade para o aparecimento de novos utensilios, por outro lado, a evolu��o tecnol�gica poder� trazer a faca de cortar a laser, certamente mais higi�nica. E a�, passaremos a discutir uma outra quest�o pertinente, ser� um objecto definido pela sua forma, ou pela sua fun��o? �

29.5.03
 


.NOTAS SOBRE AS ESCOLAS DO JORNALISMO POL�TICO 2

A Escola do Expresso
1. O Expresso encontrou-se depois do 25 de Abril na invej�vel situa��o de ser o �nico �rg�o de comunica��o social moderno que vinha de antes da revolu��o e que passou relativamente inc�lume o PREC. Tinha por isso a vantagem de poder influir poderosamente no modo como se formava o jornalismo da democracia O seu pequeno envolvimento no PREC favoreceu a ultrapassagem da influ�ncia daquela a que chamarei a escola do jornal O Jornal, cujos herdeiros actuais s�o a Vis�o e, no plano cultural, o Jornal de Letras. Este grupo de pessoas mais velhas representava o n�cleo de jornalistas-literatos que vinha da oposi��o e que trabalhara na Vida Mundial, no S�culo, no Di�rio de Lisboa, onde havia n�cleos de jornalistas mais � esquerda, pr�ximos do PCP e do M�S.

2. A escola do Expresso � dominada por Marcelo Rebelo de Sousa que � o patrono de quase todo o jornalismo pol�tico portugu�s at� � apari��o do Independente. Marcelo deixou a sua marca em gera��es de jornalistas e ainda hoje a sua "escola" � largamente dominante no coment�rio , e na formula��o do notici�rio pol�tico. N�o existindo precedente para um jornalismo pol�tico democr�tico, porque a censura tornava-o imposs�vel antes do 25 de Abril, Marcelo foi o primeiro a ocupar esse espa�o e a criar um c�none para esse tipo de jornalismo.

3. A escola do jornalismo pol�tico de Marcelo, � que ele ilustrou na pr�tica durante o tempo que dirigiu o Expresso, que influiu parcialmente no Seman�rio (onde Cunha Rego na �ltima d�cada da sua vida resistiu de algum modo a favor de um jornalismo mais substantivo), e ganhou uma dimens�o audiovisual na TSF e mais tarde na TVI, sempre com suporte escrito na transcri��o dos jornais �, consistia num tratamento ficcional da actividade pol�tica a partir de um autor-interpretador-classificador que � senhor da realidade e a molda. Os "cen�rios" e o seu corol�rio � o "facto pol�tico" como inven��o ficcional � est�o na base deste tipo de jornalismo pol�tico.

4. Os agentes pol�ticos s�o apresentados como centrados na sua ambi��o e na sua carreira e julgados pela performance que mostram na gest�o dessa carreira. Essa gest�o � essencialmente entendida como gest�o medi�tica, e gest�o dos calend�rios, numa permanente procura da oportunidade ideal, e d� pouca aten��o � subst�ncia pol�tica e ideol�gica da ac��o. Este tipo de julgamento da ac��o pol�tica pelo seu efeito medi�tico valoriza o papel do classificador-julgador, ele pr�prio. Da� que Marcelo tenha introduzido em Portugal v�rios mecanismos classificat�rios � o "sobe e desce", as notas, etc. � de grande efeito comunicacional porque muito simples de entender e correspondendo a uma percep��o judicativa por parte das audi�ncias ou dos leitores de uma hierarquia da performance pol�tica. Esse tipo de obsess�o classificativa foi transposta para determinado tipo de consultas de opini�o como as que faz o Di�rio de Not�cias .

5. O poder de classificar � um meio eficaz de deter influ�ncia pol�tica, bastante mais eficaz do que a qualidade das an�lises que suportam a classifica��o. As �maldades� que Marcelo � suposto fazer nos seus coment�rios derivam da impossibilidade de separar, neste tipo de jornalismo, o classificador do classificado, porque ambos se defrontam numa hierarquia ideal, com armas totalmente desiguais.

6. A an�lise por �cen�rios� � t�o prec�ria e fr�gil que raras vezes suporta uma verifica��o retrospectiva. Como este tipo de verifica��es n�o existem numa comunica��o social com mem�ria de quinze dias, o car�cter ficcional, os processos de inten��o, os inuendos passam despercebidos, ficando apenas o brilho verbal e imaginativo do discurso, o seu efeito espectacular. Este tipo de �cenariza��o� � particularmente fr�gil para defrontar fen�menos de conte�do carism�tico � o efeito Cavaco ou Soares � que ultrapassam a dimens�o gestion�ria e de oportunidade medi�tica das carreiras pol�ticas que est� na base da an�lise de Marcelo.

7. Quase todos os jornalistas de segunda linha que cobrem a actividade pol�tica s�o ep�gonos desta escola. Ela fornece-lhes um quadro interpretativo simples e um vocabul�rio judicativo que lhes transmite igualmente uma sensa��o de poder.Ela tamb�m � muito influente nos pol�ticos de segunda linha que n�o sabem falar de pol�tica de outro modo . N�o tem � a habilidade do mestre , nem a aparente distancia��o do jornalista .

(Continua, a seguir vem a escola do Independente )

28.5.03
 


O TEMPO

H� um ponto comum em v�rios "fios da meada" ( h� em portugu�s alguma designa��o para "threads" ?) que daqui tem origem e depois s�o puxados noutros s�tios . Os "objectos em extin��o" e o "ler duas vezes" tem um ponto em comum - s�o sobre o tempo . No primeiro caso , o tempo � mais material , hard , de algum modo inevit�vel como todo o tempo � . No segundo , � o tempo psicol�gico , a nossa f�brica interior que se revela quando lemos diferente o mesmo livro .

OBJECTOS EM EXTIN��O 5

Um exerc�cio que fiz para tentar encontrar mais objectos em extin��o foi proceder ao contr�rio : tentar identificar aqueles que me parece imposs�vel que desapare�am . sei l� , em cem ou duzentos anos , sen�o mais . E olhando � minha volta v�rios objectos parecem-me t�o indispens�veis que � pouco prov�vel que desapare�am : cadeiras , mesas , camas , pratos , copos , alguns talheres , a colher em particular . S�o objectos muito dependentes da forma f�sica do nosso corpo , do modo como ele pousa , ou se alimenta .
O que � interessante � que todos eles s�o os mais antigos dos objectos - o interior de uma casa de Pompeia n�o � assim t�o diferente nestes objectos do quotidiano de uma casa actual . A resist�ncia destes objectos � extin��o parece assim muito mais adquirida do que todos aqueles que s�o mais recentes . Tudo o que � recente � minha volta ou est� a desaparecer ou a ser substitu�do rapidamente . Se for assim h� um n�cleo de objectos t�o pr�ximos do humano que nos acompanham h� mil�nios .

27.5.03
 


LER DUAS VEZES

Tamb�m neste caso somam-se as contribui��es . Registo duas : a do Mwana com o The Catcher in the Rye de Sallinger e , imaginem , o O Sexo dos Anjos do J�lio Machado Vaz. Podia citar mas vale a pena ir ao blog porque s�o duas hist�rias simples e interessantes . No Quinto dos Imp�rios h� tamb�m uma refer�ncia � Ilustre Casa de Ramires , com a vantagem duma cita��o devastadora para o E�a de Agostinho da Silva . A discuss�o imensa e certeira que se podia come�ar a partir dessa cita��o ! Talvez l� volte . Mas fa�o desde j� a sugest�o que imaginemos que Portugal queria Agostinho da Silva que estivesse na Ilustre Casa , onde ele anota que

"N�o h� uma palavra de povo, n�o h� uma palavra de concelhos, n�o h� uma palavra de burgueses, n�o h� uma palavra de economia, n�o h� uma palavra de verdadeira pol�tica."

e se este Portugal , que se entende a partir desta frase e do significado que estas coisas tinham no tempo em que foram ditas , n�o � t�o artificialmente �constru�do� como o que critica em E�a .
 


OBJECTOS EM EXTIN��O 4

1. Frederico Hartley recorda-se assim dos objectos em perdi��o :

Ao ler o post Objectos senti-me invadir por uma estranha melancolia e rapidamente passaram por mim uma miriade de utensilios que (� semelhan�a do lince ib�rico) est�o de tal forma em risco de extin��o que chegamos a duvidar que eles alguma vez tivessem existido. E isto com a agravante de eu ter apenas 26 anos... mas vamos ao que interessa (aos objectos portanto) Os LPS, os singles de vinil; o meu ZX Spectrum 48 K de mem�ria; as declara��es de amor rabiscadas em papelinhos e passadas debaixo da mesa na aula de matem�tica (substituidas por sms com muitos K � mistura num c�digo que eu acho absolutamente indecifr�vel); as cartas, os postais e os telefonemas em cabines telef�nicas em hor�rios previa e meticulosamente combinados quando as f�rias grandes nos apartavam da luz dos nossos olhos e nos remetiam para um sil�ncio e uma dist�ncia dificil de contornar; a m�quina cor-de-laranja de fazer iogurtes consumidos ao pequeno almo�o antes de ir para a praia; as c�pias passadas literalmente a papel quimico; e poderia continuar mas j� tive a minha dose de nostalgia, acho que vou fazer uma corrida de caricas com o meu primo ou ver os desenhos animados apresentados pelo Vasco Granja, intercalados pelos anuncios da pasta medicinal Couto, o Restaurador Olex, a bic laranja escrita fina ou a bic cristal escrita normal.�

2. A quest�o dos objectos em extin��o , que tanto interesse tem suscitado em muitos dos que para este blog escrevem e nos outros blogs ( um dos �ltimos foi a Linha dos Nodos ) , n�o � apenas uma mera lista . O objectivo � perceber se somos capazes de entender essa fluidez do tempo a passar � nossa volta . N�o � em primeiro lugar um exerc�cio de nostalgia , embora tamb�m possa ser , nem um cat�logo da evolu��o tecnol�gica .
Se olharmos em volta para as coisas que nos s�o familiares, a pouco a pouco a desaparecer das partes vis�veis da casa , da roupa , do corpo , e a imperceptivelmente mudarem para as dispensas ou os s�t�os , perdida a sua fun��o �til , percebemos melhor que a for�a invis�vel do tempo atravessa tudo � nossa volta . Se pud�ssemos fazer um filme da nossa vida , dos seus lugares , da sua ecologia , que em minutos resumisse 100 anos � e a prazo isso ser� poss�vel com o projecto do MyLifeBits a caminho do Windows (voltarei a falar disso ) - ter�amos ent�o algo de parecido com os efeitos especiais de alguns filmes de fic��o cientifica . Recordo , por exemplo , uma velha vers�o cinematogr�fica da m�quina do tempo de H.G.Wells , em que isso acontecia � a partir de uma casa vitoriana para os campos verdes da distopia futura . Ali�s a pr�pria m�quina tamb�m desaparece como os nossos objectos

"I seemed to see a ghostly, indistinct figure sitting in a whirling mass of black and brass for a moment�a figure so transparent that the bench behind with its sheets of drawings was absolutely distinct; but this phantasm vanished as I rubbed my eyes. The Time Machine had gone."


26.5.03
 


HIST�RIA DA EUROPA

A melhor hist�ria da Europa publicada recentemente � a do professor Norman Davies , um especialista da Pol�nia e da hist�ria da Europa Central ( Europe : A History ) . � um livro muito bem escrito , na melhor tradi��o da hist�ria narrativa inglesa , que pode ser lido aos bocados , para tr�s e para a frente , com grande prazer . O professor Davies usa uma t�cnica de organiza��o do livro que inclui , no meio do texto , quadros sobre sub temas considerados significativos e que podem ser contados em separado numa ou duas p�ginas , com um desenvolvimento que desequilibraria o texto geral se nele fossem integrados . Uma esp�cie de hipertexto.
Existem outros dois livros recentes de Davies , The Isles : A History e Microcosm e foi reeditada a sua cl�ssica hist�ria da Pol�nia . Para al�m da hist�ria da Europa eu s� li os primeiros cap�tulos de The Isles , a hist�ria das ilhas �brit�nicas� , mas o mesmo prazer de �ver� a hist�ria a fazer-se , neste caso a pr�-hist�ria , a coloniza��o celta e n�rdica , � enorme . Se puderem ler vale mesmo a pena porque � tudo para n�o especialistas. S� a grossura dos livros os torna dificilmente transport�veis .
 


CINCO HAIKAIS DE ISSA

Lento caracol
Devagar, devagar caminha
E o Fuji escala!

Com o rouxinol
E tu, ausentes, vigia
A casa, caracol!

Pato, pato selvagem
Com que idade fizeste
A tua primeira viagem?

Quando voltares
N�o esque�as a minha casa.
Borboleta que partes!

Desaparece o carvalho,
N�o tendo com este mundo impuro
Nada que ver.


Estas tradu��es que fiz , no remoto ano de 1966, foram inclu�das numa selec��o de haikais para ilustrar um pequeno ensaio que foi publicado no Di�rio de Lisboa Juvenil em 17 de Maio do mesmo ano. O ensaio ganhou um primeiro pr�mio ex-aequo com um �Jos� Mariano� que era o Jos� Mariano Gago. O pr�mio era dado por uma variante qu�mica do �dinamite cerebral� de que falavam os anarquistas, o F�sforo Ferrero. Foi uma honra e na altura deu algum dinheiro.
Republico a curiosidade para ilustra��o do processo de forma��o da gera��o da segunda metade dos anos sessenta, que inclui uma atrac��o um pouco hippie pelas coisas orientais, pelo budismo Zen e pelo que se fazia em S. Francisco. Isto hoje parece tudo banalizado, e est� decididamente fora de moda, mas na �poca era uma actividade ultra-elitista, de meia d�zia de cognoscenti. Outro aspecto ignorado neste processo geracional � que a intensa politiza��o � posterior �s atrac��es est�ticas e n�o o contr�rio. � a radicaliza��o est�tica que leva � radicaliza��o pol�tica , como acontecera com os surrealistas . Os surrealistas foram trotsquistas , eu e muitos outros maoistas .
Sobre as tradu��o s�o o que s�o, n�o pude sequer confronta-las com outras entretanto sa�das em portugu�s . S� sei que � data, salvo rar�ssimas excep��es , a maioria das quais brasileiras , o mundo dos haikais era muito pouco conhecido em Portugal . A familiaridade que hoje se tem com a forma n�o existia .
Eu fiz a �tradu��o� usando v�rias vers�es que existiam em franc�s e espanhol na Biblioteca Municipal do Porto , uma das quais tinha a translitera��o do japon�s . Eu lia alto o japon�s para tentar perceber o ritmo da frase , que depois adaptava ao portugu�s . Da� os pontos de exclama��o para marcar o fim r�pido e contido , t�pico dos haikai .
Sobre Issa h� uma p�gina japonesa bilingue que contem uma fotografia da casa onde vivia .
 


UM POEMA PARA OS NOSSOS DIAS EM QUE "MUDO E SECO � J� TUDO"

O sol � grande, caem coa calma as aves,
Do tempo em tal saz�o que s�i ser fria:
Esta �gua, que d'alto cai, acordar-me-ia,
Do sono n�o, mas de cuidados graves.

� coisas todas v�s, todas mudaves,
Qual � o cora��o que em v�s confia?
Passando um dia vai, passa outro dia,
Incertos todos mais que ao vento as naves!

Eu vi j� por aqui sombras e flores,
Vi �guas, e vi fontes, vi verdura;
As aves vi cantar todas d'amores.

Mudo e seco � j� tudo; e de mistura,
Tamb�m fazendo-me eu fui doutras cores;
E tudo o mais renova, isto � sem cura.

(S� de Miranda)

25.5.03
 


AGENDA

1. Ainda tenho muito correio atrasado e o que se atrasa mais � o que tem que ser respondido com mais vagar .

2. Sauda��es a Heterodoxias , � Linha dos Nodos e a Intelligo . Neste �ltimo est� o poema de Tirteu , um dos que foi referido numa discuss�o passada sobre a "estetiza��o da guerra " antes da interven��o no Iraque .

3. Temas a que regressarei : astrologia e ci�ncia , cinema franc�s , objectos em extin��o, tentando daqui a um m�s fazer um primeiro cat�logo geral de todas as sugest�es (veja-se tamb�m a contribui��o de O Pa�s Relativo ) ; ler duas vezes o mesmo livro (veja-se um testemunho interessante em A Espada Relativa de um livro de que nunca me lembraria o Bonjour Tristesse de Fran�oise Sagan ) , jornalismo pol�tico em Portugal , conversa com a Montanha M�gica sobre a poiesis e o destino do mundo � Em mat�ria de ambi��o estamos conversados .

4. Embora eu n�o misture os dois blogs h� uma troca de correspond�ncia sobre os advogados comunistas e da oposi��o antes do 25 de Abril nos Estudos sobre o Comunismo , que penso ter interesse para al�m dos especialistas na mat�ria .

 


EM MEM�RIA

Gostava de colocar na p�gina dos Estudos sobre o Comunismo duas pequenas biografias de Jos� Alexandre Magro ("Ramiro da Costa" ) e Manuel Sert�rio , os dois lembrados amigos da equipa inicial de 1983 da revista com o mesmo nome , que j� morreram . Agradecia a todos os que tiverem elementos para essas biografias que mos fornecessem . Devida nota dessas contribui��es ser� feita .

24.5.03
 


CASO CASA PIA

A bomba inteligente e a Piolheira pedem-me uma opini�o sobre o caso das investiga��es da pedofilia . H� v�rias raz�es porque penso que neste caso nada de �til poderia dizer no blog , nem este me parece a forma apropriada para uma opini�o que teria que ter mais solidez do que as �impress�es� , para acrescentar alguma coisa . Porque �impress�es� � o que h� por todo o lado .

Depois h� outras raz�es . Primeiro porque falei sobre essa mat�ria em devido tempo � quando do lan�amento do meu livro Vai Pensamento coincidindo com a primeira semana do esc�ndalo - e , com toda a franqueza , n�o penso que valha a pena acrescentar algo mais . Quando disse o que disse ainda praticamente ningu�m se tinha pronunciado a n�o ser para repetir os apelos ao sangue e j� se percebia muito bem onde isto iria dar . Nada do que aconteceu a seguir me surpreendeu , nem quanto ao caso em si mesmo , nem quanto ao comportamento dos media e dos pol�ticos . Uma nota breve : nessa mesma noite a Fel�cia Cabrita respondeu-me da solid�o da sua cadeira na SIC , com as impreca��es do costume . Nem ouvi .

Segundo , sobre a pedofilia propriamente dita e sobre o caso belga j� escrevera antes do caso Casa Pia , sobre a selvajaria do modo como mediaticamente se transforma tudo isto num espect�culo , tamb�m .

Terceiro , salvo rar�ssimas excep��es , quando h� situa��es destas , combinando neglig�ncia criminosa , crimes de poderosos , vozearia justiceira nos media , moralismo a rodos , cabalas , persegui��es e conspira��es , a avalanche de palavras � tal , que me apetece � estar calado .

Quarto , se pensam que isto � um grande abalo nas institui��es do pa�s , enganam-se . No que elas se podem abalar , j� est�o abaladas . Isto passar� porque o excesso de como��o � artificial , no fundo ningu�m quer verdadeiramente saber do que � relevante , mas apenas da poeira . H� mais voyeurismo do que genu�na preocupa��o .

Por �ltimo , se houver algu�m interessado em ouvir uma actualiza��o da discuss�o sobre o caso Pedroso e escutas ao PS , amanh� no Flashback da TSF a quest�o � discutida e penso que o programa ficou bom .
 


OBJECTOS EM EXTIN��O 3

Maria Poppe pede-me para dar os parab�ns �� transmontana Alexandra pelo seu trabalho de casa� [ ver nota sobre objectos no Abrupto de 22 de Maio ] e moderar algumas extin��es sugeridas , com uma forte componente de experi�ncia maternal :


�1� - penicos, l� em minha casa, ainda tiveram bastante uso at� h� bem pouco tempo, com 3 pequeninas pilinhas incontinentes que por l� andam;

2� - ganchos, estou com ela, ali�s com este calor temos mais � que agarrar o carrapito!;

3� - Joelheiras para remendos ainda me farto de aplicar para evitar de duas em duas semanas uma visita �s lojas de roupa para crian�as (mas acredito que s� quem tenha 3 jogadores de foot em casa ainda saiba das joelheiras); n�o me lembraria dos protectores de sapatos n�o fora a dica, que agrade�o, talvez o cal�ado (esta pode ir j� para o tal cat�logo das palavras em desuso) passe a resistir um bocadinho mais;

4� - fraldas de pano, imposs�vel n�o ter uma ao p� qd se tem beb�s, o seu destino � que mudou, ao em vez de lhes forrar a "bundinha" (como dizem os brasileiros) passou a ser um instrumento multi-usos: amparador de cabe�a e de chucha, a pr�pria chucha, len�ol, guardanapo, protector solar ...�.



Quanto aos v�us para a missa �acho que s� as noivas ainda o usam, mas como tanto as missas como os casamentos tamb�m eles parecem estar a cair em desuso, por este caminho n�o sei qual desaparecer� primeiro.�

Acrescenta � lista locais ainda n�o extintos mas em vias de extin��o,


- "drogarias e todas as suas iguarias;

- lojas de caf� e ch�(s� de pensar q um dia possamos deixar de ser surpreendidos pelo aroma do caf� a meio de uma caminhada j� come�o a esmorecer);

- todas as retrosarias da rua dos retroseiros;

- o hospital das bonecas;

- servi�os de v�o de escada, g�nero: florista, sapateiro, quiosque;

- lojas de especialidade como a das luvas na Rua do Carmo e a dos Chap�us na baixa


Num outro e-mail , Maria acrescenta as novelas radiof�nicas :

N�o fora o livro do Vargas Llosa "Tia Julia e o escrevedor", (�) e uma cassete (�) com uma grava��o clandestina dos shows do inomin�vel "Joe Frank"(�.), um californiano que durante anos teve um programa de r�dio semanal com hist�rias por ele imaginadas e encenadas, nada mais me restaria dessa deliciosa arte de contar. �

No Folhetim Iluminados , na Liberdade de Express�o e no Mar Salgado tamb�m se discutem as extin��es .
 


A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Poucos livros me deram maior prazer em reler nos �ltimos tempos do que a A Ilustre Casa de Ramires . Hesitei em escrever �reler� , porque em Portugal toda a gente �rel� mesmo que n�o tenha lido , mas no meu caso � a humilde verdade . Mas tamb�m � verdade que j� me lembrava pouco do que tinha lido e , acima de tudo , tinha lido diferente , como muitas vezes se l� noutra idade . Ali�s toda a minha experi�ncia � a de que certos livros devem ser lidos duas vezes . A Alice no Pa�s das Maravilhas , as Viagens de Gulliver , Robinson Cruso� , os Contos de Andersen , tem uma dimens�o na imagina��o da inf�ncia e adolesc�ncia e outra nos sentimentos e no intelecto depois , e nenhuma substitui a outra .
Voltando � Casa . esse retrato p�stumo que E�a deixou de Portugal , do seu amor por Portugal , da sua perten�a a Portugal , devia ser leitura obrigat�ria . Tudo � bom , o retrato do Gon�alo Ramires , a cobardia de Ramires , a prov�ncia e a cidade da pequena pol�tica comunicante entre ambas , a novela �hist�rica� que alguns pensam ser um pastiche ir�nico de Herculano , mas que � uma not�vel hist�ria de per si , o sonho de Ramires , o segundo sonho colonial de Ramires , e o fabuloso di�logo final identificando Gon�alo , nas suas qualidades e defeitos com Portugal , numa aprecia��o certeira de uma personagem secund�ria de quem n�o se esperava tal intui��o .


LER DUAS VEZES � UMA SUGEST�O

Seria interessante conhecer a experi�ncia de quem leu duas vezes o mesmo livro e sentiu a leitura como algo de muito diferente . Voltarei a escrever sobre isto .
 


ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO

Tenho estado a trabalhar noutro blog intitulado Estudos sobre o Comunismo . � um blog de outra natureza , destinado a ser um instrumento de trabalho para os meus estudos de car�cter acad�mico sobre o comunismo e o PCP e , a prazo , ser partilhado com a pequen�sima comunidade de pessoas interessadas nesse assunto . Quem tiver curiosidade de l� ir espreitar tem aqui o endere�o .

23.5.03
 


PA�S BASCO , A DOIS DIAS DE ELEI��ES

Recebi de Edmundo Moreira Tavares um e-mail muito interessante sobre a situa��o no pa�s basco , que aqui publico , numa grande parte , com autoriza��o do autor. Insere-se na tentativa que tenho feito , � sem grandes resultados , a dois dias de elei��es , onde mais uma vez uma parte dos bascos v�o votar sem liberdade plena - , para suscitar uma maior aten��o a esse problema t�o nosso vizinho .


A situa��o que descreve, [ em notas afixadas no Abrupto em 14 e 16 de Maio ] de condicionamento da opini�o "espanholista" � uma realidade que, inclusivamente, vai mais al�m dos exemplos pol�ticos que apresenta. H� basti�es "abertzales" onde o "espanholismo" vive, pode-se dizer, em estado de acantonamento por intimida��o, sen�o mesmo em aut�ntica clandestinidade c�vica. � assim em aldeias do Norte de Navarra, da maior parte de Guip�zcoa ou do extremo leste de Vizcaya. Consultando os resultados eleitorais verifica-se que, n�o obstante uma s�ria eros�o de votantes, as"capas legais" da ETA ainda t�m resultados espantosos.

Diga-se que esse � um universo onde sempre se falou basco e onde o "espanholismo" sociol�gico teve sempre express�o limitada. Contudo, o elemento essencial do radicalismo independentista nem est� tanto a�. Como observa, est� no PNV-EAJ (Partido Nacionalista Vasco) e no EA (Eusko Alkartasuna) - partidos burgueses teoricamente "moderados" que dominam, em conjunto, para a� 2/3 da geografia eleitoral, de uma forma transversal. Esta � a base social de apoio do independentismo hist�rico, havendo uma incontorn�vel cumplicidade entre ela e os jovens radicais, de onde emerge a ETA. For�ando a nota, � um pouco como o que se passa entre Arafat e o Hamas...

As aspas que coloquei em"moderados" adv�m de que, quanto ao objectivo (expl�cito), n�o h� diverg�ncia com os radicais "abertzales". Com efeito, o objectivo � a independ�ncia e h� tamb�m a mesma l�gica de exclus�o em rela��o ao"espanholismo". A burguesia ind�gena, desde a mais at�vica � mais progressista, partilha desta ideia "soberanista" e exclusivista. O bom clero, o diligente professorado, at� o pequeno empresariado empreendedor, partilham esta sensibilidade e acorrem a votar diligentemente de elei��o em elei��o no PNV-EAJ ou no EA, suceda o que suceder.

Esta � uma s�lida base social. Logo, estes partidos "moderados" n�o podem ir mais al�m do que formais homilias condenat�rias e paternais ralhetes sobre os jovens"abertzales"... Toda a "sua gente", l� bem no fundo, simpatiza com essa juventude...O mais curioso � que, sem ignorar a opress�o franquista, o nacionalismo basco assenta as suas bases em alguns equ�vocos.

1 - Ao longo dos tempos pr�-industriais n�o houve significativa tens�o entre os bascos e o estado espanhol - de um modo geral, houve at� muito menos do que noutras regi�es. As primeiras tens�es (e fortes) deram-se com a chegada da industrializa��o, mas, na sua express�o pol�tica, estiveram muito longe de assumir uma forma "anti-espanhola", foram antes manifesta��es de feroz tradicionalismo, perfeitamente integr�veis numa ideia nacionalista espanhola radical (Carlismo).

2 - Uma parte dos s�mbolos e iconografia nacionalista (bandeira, designa��es territoriais) n�o � origin�ria de uma genu�na cultura basca, supostamente rural e herm�tica, mas de um trabalho artificioso dos jovens nacionalistas urbanos de primeira gera��o - finais do s�culo XIX, in�cios do s�culo XX.

3 - A ideologia fundadora do nacionalismo basco (Sabino Arana Goiri, finais do s�culo XIX) constitui uma teoria racista de cariz positivista. Pertence ao mesmo ramo das que estiveram na base da ideologia nazi. Sustenta uma individualidade r�cica, cultural basca, apartada das componentes estruturantes da Espanha moderna. Deve-se notar, contudo, que muitas as linhas de investiga��o, sobretudo atrav�s da l�ngua, convergem no sentido deque alguns elementos da matriz lingu�stica castelhana, no que esta divergedas suas parceiras rom�nicas, s�o origin�rias do basco ! � bem sabido que as origens do castelhano s�o, sob o ponto de vista geogr�fico, �ntimas daquilo a que os independentistas desinam como "Euskal Herria" (Terra dos Bascos): Extremo Norte da actual Prov�ncia de Burgos e La Rioja."
 


FUTEBOL NOS �LTIMOS DIAS

Achei que valia a pena citar o que escrevi sobre esta mat�ria , h� pouco mais de um ano (Mar�o 2002) , na ultima campanha eleitoral :

"A redu��o da campanha eleitoral ao futebol � t�pica de quem entende Portugal como um pa�s do Terceiro Mundo .Infelizmente muita gente que vive hoje num estado de grande excita��o com os eventos recentes � mesmo do Terceiro mundo . Cabe�a leviana e de �pensamento d�bil� , n�o l� e n�o se interessa vivamente por nada , nem por coleccionar selos , nem jardinagem , nem pintar modelos de avi�es , nem por fazer jogging aos domingos . Ou vivem numa pasmaceira ensonada , vitimas de tudo e de todos ; ou zangados com o mundo todo , a come�ar no colega de trabalho e acabar nos �pol�ticos� .
O futebol eles percebem . � simples , uns ganham outros perdem , basta contar os golos . Que tr�s � maior que dois ainda faz parte da matem�tica que se ensina nas escolas . Depois percebem aqueles �nimos exaltados de uns contra os outros , as zangas e as reconcilia��es , toda aquela barulheira que enche a primeira meia hora dos notici�rios televisivos , as mentiras , as perip�cias , os cheques que deviam ter entrado e n�o entram , os neg�cios imobili�rios de milh�es , as �chicotadas psicol�gicas� , soberba designa��o .Pelos vistos tamb�m percebem aqueles ex�rcitos ululantes , vestidos na mesma cor , que agarrados �s grades e ao arame farpado em que est�o enjaulados , chamam coisas am�veis � m�e dos �rbitros e cuja virtude o Estado homenageia pondo lhes um pelot�o de policia de choque � frente .
Os �rg�os de comunica��o social de massas , em particular as televis�es , com destaque para a �p�blica� , acham que este mundo � o mais importante que h� e os rios de palavras e imagens que lhe dedicam em hor�rio nobre iriam da Terra a Plut�o , numa estimativa conservadora . Mentores e espelho deste terceiro mundismo , os �rg�os de comunica��o social criam um poderoso centro de gravidade de que dificilmente se escapa instituindo como importante o que � irrelevante , e impedindo qualquer voo para al�m desta simplicidade asinina mas espectacular , sangu�nea , e grandiloquente . Muita gente pensa que Portugal pode ser reduzido a esta imagem e semelhan�a , mas n�o � este o pais porque me bato ."






22.5.03
 


OBJECTOS EM EXTIN��O 2

Num e-mail que recebi de Alexandra Soares Rodrigues fazem-se v�rios coment�rios de m�todo pertinentes e uma lista de sugest�es de objectos em extin��o .

"Eu tinha interpretado a sua sugest�o como um exerc�cio de constata��o e n�o de futurologia (sem ironia). Como tal, quando comecei a fazer a lista, colocaram-se-me imensos problemas relativos a algumas fronteiriza��es. Do tipo: alguns objectos podem ser sentidos por mim como em desuso, mas ainda serem vulgares em estratos da popula��o latos ou estreito. Ou, ao contr�rio, outros objectos podem ainda ser usados por mim e serem considerados "arcaicos" pela maioria das pessoas. N�o seria, pois, aconselh�vel operar com fronteiras do tipo regionais, s�cio-culturais, etc.? Outra coisa: what do you mean by "nossa gera��o"? "

A lista de objectos inclui :

"- o mais �bvio de todos: escudos;
- ganchos de cabelo para fazer um penteado que na minha terra se chama "crucho" e que � amplamente tratado numa s�rie de pinturas da Gra�a Morais;
- v�u para ir � missa (embora n�o seja j� do tempo em que eu ia � missa, mas do inf�ncia dos meus pais);
- joelheiras para remendos;
- faca para cortar papel;
- candeia;
- protector de sapatos;
- ceroulas;
- penico;
- fraldas de pano;
- polainas;
- combina��o (underware).

Quanto a futurologia, varas manuais de esvarejar oliveiras est�o a ser (s� agora na minha terra - sou transmontana) substitu�das por varas mec�nicas.
Parece-me que objectos como os ditos ganchos, juntamente com o penteado para que servem, soam arcaiqu�ssimos. Eu, que nasci logo a seguir ao 25 de Abril, ainda uso de vez em quando, mas � um objecto desconhecido por muita gente da minha idade.


E , por �ltimo , algumas sugest�es interessantes de alargamento da lista :

"Isto leva-me a pensar que seria tamb�m interessante fazer outro cat�logo: o das atitudes/comportamentos em vias de extin��o. E mais um cat�logo: de palavras ou express�es em desuso. E, j� agora, confrontar objectos em extin��o com as palavras que os designam. Do tipo: grafonola. O objectivo era ver se a palavra prevalece numa express�o "falar como uma grafonola" .



Veja-se tamb�m sobre o mesmo tema um muito interessante coment�rio ( e outra lista de sugest�es ) em A Janela Indiscreta .


 


POUCA HIST�RIA

1. Porque raz�o entre os temas dos blogs e das mensagens neles afixadas h� t�o pouca presen�a da hist�ria ? Pol�tica , literatura , artes , futebol , sexo , s�tira , di�rios �ntimos , tudo l� est� , mas n�o h� quase nada sobre hist�ria . H� respostas poss�veis , como por exemplo , a que nas gera��es mais jovens , educadas numa escola p�s-estruturalista , h� pouco lugar para a hist�ria ; ou que a imediaticidade dos blogs � contr�ria � presen�a de tempos mais longos . Vale a pena discutir .

2. N�o tenho d�vidas nenhumas que o conte�do dos blogs vai ser no futuro tratado como fonte da hist�ria , substituindo um pouco o papel da correspond�ncia tradicional . No entanto , dado seu car�cter p�blico , mesmo que contenham muitas inconfid�ncias , boatos , opini�es vulgares , comuns , n�o tem a liberdade interior de algumas correspond�ncias privadas que s�o fontes privilegiadas da hist�ria porque nos d�o o �outro lado� : os �dios disfar�ados , os ressentimentos , a schadenfreunde .
 


TERT�LIA COM A MONTANHA M�GICA 2

Pergunta-se na Montanha

Chegados aqui, podemos voltar ao princ�pio: que novo s�culo queremos?�

Quando Castorp desceu da Montanha encontrou na plan�cie for�as mais poderosas em ac��o do que as que moviam o �mpeto de Settembrini ou Naphta nas suas discuss�es . Essas for�as eram �filhas� da �educa��o� que l� em cima Castorp teve no mundo �m�gico� da Montanha ( interessante me parece agora a palavra �m�gica� , bem pouco de Mann � ) : o nacionalismo , o comunismo , o nazismo j� estavam dentro quer do jesu�ta quer do ma��o .
Se n�s hoje desc�ssemos da Montanha , onde a �educa��o� provavelmente seria mais pobre , encontramos tamb�m for�as terr�veis em ac��o , talvez com menos �ismos� , a n�o ser o �fundamentalismo� que � mais uma atitude do que um sistema . Se olharmos para o s�culo XXI encontramos uma conflu�ncia de movimentos . desejos , vontades , actos num sentido que talvez nunca tenha sido t�o perigoso.

Penso , de h� muito , que o s�culo XXI vai ter um problema muito s�rio com a prolifera��o de armamento nuclear , qu�mico e biol�gico . S�o cada vez armas mais acess�veis e no caso do armamento biol�gico , potencialmente destrutivas do tecido social , muito antes de deixarem o seu cortejo de mortos . O que se est� a passar com o SARS � apenas um pequeno exemplo , exagerado pela cobertura medi�tica , mas mesmo assim devastador . Se algu�m atacar com a var�ola , ent�o ver-se-� como � .

Havendo os meios , h� tamb�m os executantes . este novo surto de terrorismo apocal�ptico , que , auto-destruindo-se , quer levar consigo o maior n�mero de pessoas , encontra nestas armas um instrumento perfeito . A conjuga��o destes dois factores , armas e vontade implac�vel de as usar , gera riscos infinitos . J� n�o lidamos com guerras macro , mas sim com guerras micro . O small is beautifull chegou � mais antiga e persistente actividade humana . Se Castorp descesse hoje e n�o em 1913 ou 1914 , era esse o �baile tr�gico� que teria de dan�ar .

Diz a Montanha M�gica

� poss�vel, hoje, s�culo XXI, a ressurrei��o de Cristo? � aqui, caro JPP, que parece divergirmos, pois achamos que j� existe esse mundo novo, e ao contr�rio dos primeiros crist�os que se escondiam nas catacumbas, pois n�o tinham outra solu��o, hoje esse Amor existe, e manifesta-se livremente tanto na sociedade em geral (ser� uma minoria? N�o sabemos.), como em v�rios dom�nios espec�ficos, como por exemplo, o das artes. �

N�o sei . Nem nas artes . Pode muita coisa j� ter acabado e n�s n�o termos dado por ela e estarmos num oceano de esterilidade convencidos que a for�a da poiesis continua .

 


Compreende-se a alegria da vit�ria. Compreende-se a paix�o futebol�stica. Compreende-se mesmo o papel que tem o futebol como lenitivo para um pa�s muito deprimido.
O que n�o se compreende � o terceiro-mundismo de ver tudo quanto � autoridade nacional, PR, PM, pol�ticos, deputados, presidentes de c�maras, sentados na bancada de honra, como se o destino da p�tria se jogasse em Sevilha. Como se tivessem medo de , n�o indo , serem criticados ou perderem o �tomo de popularidade perversa que estar na bancada com Pinto da Costa d�. Do outro lado, nem um subsecret�rio do Governo de S. Majestade, num pa�s onde o futebol desperta as paix�es conhecidas, certamente n�o inferiores �s nossas.
O que n�o se compreende � que a televis�o p�blica durante horas e horas se transforme numa emissora desportiva exclusiva, contribuindo para o excessivo papel que tem o futebol na narcose nacional.
O que n�o se compreende � como n�o se compreende que este � o retrato do nosso atraso .
 


SAUDA��ES

Santa Liberdade do Jos� Adelino Maltez e a minha pena de ver parado o melhor instrumento de trabalho cronol�gico online sobre o pensamento pol�tico contempor�neo existente em Portugal .
 


OBJECTOS EM EXTIN��O

Tenho recebido v�rias respostas quer em correio electr�nico , quer nos blogs � sugest�o que fiz de um cat�logo dos objectos em extin��o.
H� coisas interessantes neste cat�logo : uma � sermos capazes de identificar o �vento� da hist�ria � nossa volta , outra distinguirmos onde ele sopra mais e onde ele quase n�o sopra . Por exemplo , � mais f�cil de perceber nos objectos associados a determinadas tecnologias, do que noutros mais pr�ximos do nosso quotidiano .

O Contrafactos faz uma refer�ncia pertinente ao sitio dos Media Mortos que cobre essencialmente instrumentos e tecnologias associados � comunica��o e � informa��o . Talvez nessa mat�ria n�o valha a pena ir mais longe , dado que as listas a� arquivadas s�o bastante completas . Revelam ali�s a enorme acelera��o tecnol�gica dos �ltimos cento e cinquenta anos , mostrando at� que ponto essa velocidade deixou atr�s de si um imenso rastro de objectos que hoje ningu�m saberia para que serviriam e como funcionavam .

A maioria das propostas que me foram enviadas s�o naturalmente desta categoria :

H� v�rias refer�ncias ao telefone, aos telefones antigos, de disco (Sopa de Pedra e Folhetim Iluminados ) e aos sistemas de numera��o telef�nica que podiam indicar zonas dentro da cidade e que entretanto desapareceram . (Folhetim Iluminados )

A disquetes , e outros media de registo electr�nico

Chaves do carro , proposto pelo Complot , a serem substitu�das por outro tipo de �chaves� electr�nicas .

Pager ou Bip

O saco de pl�stico publicit�rio , rolo de fotografia , livro em papel , com mais ou menos certezas ou d�vidas , propostas em A Piolheira .

A Piolheira sugere os �nicos exemplos que saem deste dom�nio exclusivo dos Media Mortos ou a morrer , para outro tipo de objectos : o ma�o de tabaco , e a caixa de f�sforos .

(Continua)


20.5.03
 


AS ESCOLAS DO JORNALISMO POL�TICO EM PORTUGAL 1

Esta nota precede outra que estou a preparar sobre as escolas do jornalismo pol�tico portugu�s . Mas para quem v� e ouve Marcelo Rebelo de Sousa na TVI � f�cil perceber que a sua conversa � estruturada como se fosse um jornal seman�rio , como se fosse o Expresso quando ele o dirigia . Trata da semana anterior , tem editorial , mais neutro , mais distanciado , proclamativo ; tem artigos de opini�o , do pr�prio e do pr�prio com pseud�nimo , contendo cen�rios e calend�rios cenarizados ( o elemento essencial da "an�lise" pol�tica de Marcelo ) ; tem not�cias tratadas ao modo jornal�stico , superficial , e com t�tulos e entradas opinativas - aqui nas mat�rias que n�o lhe interessam , n�o domina mas que tem que falar dado que se trata de um "seman�rio" , como tudo o que disse respeito � guerra do Iraque - ; tem a sec��o "Gente" , crucial neste tipo de jornalismo para incluir informa��es pessoais importantes e perf�dia , que n�o podem ter corpo na parte s�ria ; tem roteiro , com os espect�culos inevit�veis , e com listas de livros ; tem cartas dos leitores . Um pouco por todo o lado h� "encomendas" dos amigos do director , como � igualmente habitual nos seman�rios . De facto n�o � preciso uma multid�o de jornalistas para fazer um jornal - Marcelo faz um todas as semanas sozinho e , quando se percebe a l�gica , mais transparente porque � na primeira pessoa .
 


CINEMA FRANC�S


No De Esquerda , no umblogsobrekleist , na Espada Relativa , h� v�rios coment�rios ao que escrevi sobre o cinema franc�s , onde s�o citados alguns filmes que n�o vi . A minha resposta fica pois adiada � condi��o de ver esses filmes , o que , dado que a maioria do cinema franc�s est� em DVD , n�o me parece muito complicado . Por respeito com os meus interlocutores n�o queria responder-lhes ( dar-lhes raz�o ou n�o ) sem ver esses filmes . Fica anotado e adiado com dia .

19.5.03
 



Fez os Mon�logos de tasco uma descri��o muito certeira das componentes culturais e sociais da cena de Felgueiras , que cito :

"S� mesmo os betinhos das grandes cidades � que podem ficar espantados com as cenas de Felgueiras (...). Quem como eu vive na �prov�ncia�, sobretudo rodeado pelo novo-riquismo industrial do vale do Ave (e frequenta tascos) sabe que se rasparmos aquela crosta superficial de boas roupas e BMW�s vamos encontrar um �grunho� cujo n�vel s�cio-cultural se manteve est�tico desde pelo menos a �poca obscura do Portugal salazarista e rural. O problema � que quem tentar retirar aquela mesma casca, habilita-se a enfrentar esse mesmo �grunho(s)�, disposto a linchar o primeiro que desafie o cacique local, que eventualmente tanto lhes deu a ganhar. E aqui � que est� a quest�o: � enorme o s�quito de empreiteiros, empres�rios, e interesses diversos que orbitam em torno do poder local. Por vezes � o pr�prio autarca, atrav�s de testas de ferro, que controla empresas imobili�rias, de constru��o, ou outras. Toda a gente conhece isso, toda a gente sabe de isso, e o problema � que toda a gente pactua ou tem tamb�m interesses nisso. � quase sempre muito significativa a fatia da economia local que depende, directa ou indirectamente das c�maras. Por isso, os autarcas se eternizam � frente de c�maras, mesmo sendo p�blicas todas as desonestidades e falcatruas.(...) . N�o compreender isto, � n�o compreender o que se passa em Felgueiras."

S� gostaria de acrescentar duas coisas..
Uma � que esta descri��o � muito certeira para zonas como as cidades e vilas dos distritos do Centro e Norte - grosso modo do Oeste para cima - e essencialmente do litoral . A� h� todas as componentes e , desse ponto de vista , o Vale do Ave � t�pico . No sul , no Alentejo , as autarquias funcionam muito mais como absorvedoras do desemprego e o PCP actua doutra maneira .
A outra � que quando existe um clube de futebol local , encostado � autarquia , ou melhor , encostado ao presidente ou ao partido do presidente da autarquia , a situa��o ainda se agrava mais e o tom de viol�ncia comunica-se das claques para a vida p�blica .
 


OBJECTOS

Penso que seria interessante fazer um cat�logo dos objectos que est�o a desaparecer � nossa volta , que a nossa gera��o usou pela �ltima vez . Seremos capazes de os identificar ? Seria interessante saber at� que ponto "sentimos" a hist�ria quando ela passa por n�s .
 


RESPOSTAS AO APELO E OUTRAS

Muito obrigado pelas v�rias respostas ao apelo sobre blogs actualizados e inclusive a proposta de se tentar fazer um pequeno programa que identifique os blogs portugueses quando s�o alterados .

A enorme quantidade de correio impede-me de responder de imediato a todos . Mas logo que possa haver� respostas .
 




FILATELIA 3

Escreveu a Janela Indiscreta

"S� ontem � que dei conta que Jos� Pacheco Pereira escrevera (...) sobre filatelia, referindo-a como um anacronismo. Ou seja: � uma cousa passada. Pois, � mais f�cil imaginar um coleccionador de selos no tempo do Balzac, do que agora, no tempo da teletecnologia. � mais f�cil ainda imaginar selos num museu. Mas a verdade � que os coleccionadores com os seus �lbuns e simultaneamente o interesse, a paci�ncia, o m�todo deles mesmos garantem a sobreviv�ncia do mundo dos selos, isto � , pequenos (ou grandes, mais no caso do selos norte-americanos) pap�is, de forma, a maior parte das vezes rect�ngular, com valores e imagens. "

O anacronismo dos selos vem de n�o serem hoje necess�rios para a sua fun��o inicial de pagar os custos do correio . Da� a minha compara��o com as m�quinas de escrever , igualmente um dos objectos do s�culo XX que ir� desaparecer no XXI . A prazo muito curto bastar� haver e-stamps ou qualquer outra forma semelhante de pagamento electr�nico (que j� h�) ou qualquer outro meio - etiquetas , autocolantes , feitos no momento , etc. Esse material em papel ainda � filat�lico pela sua natureza , mas j� pouco tem a ver com o selo e a sua rela��o cultural e hist�rica com o meio que o produziu . Ali�s s� se fazem selos hoje para ganhar dinheiro com os coleccionadores . Tenho por isso a tenta��o de enfileirar na escola dos que acham que selos pr�priamente ditos s� s�o coleccion�veis at� � segunda guerra mundial e depois disso s� h� papel de parede .

Foi interessante ler o texto de Benjamin que n�o conhecia e que retrata as sensa��es do coleccionador . Como coleccionador anacr�nico n�o posso estar mais de acordo : "os selos n�o s�o meros pap�is. " S� quem nunca lhes mexeu , para os separar e classificar ( por tradi��o usei sempre o Yvert ) as imensas variedades dos selos cl�ssicos , o papel , a filigrana , o denteado , as sobrecargas , a goma , as varia��es da cor , tantas vezes distinguindo imperceptivelmente um selo vulgar de uma raridade , n�o sabe nada sobre uma forma obsessiva de estar no mundo .
Admito que � uma variante mais est�ril do que a taxinomia , mas para quem tem essa obsess�o , n�o h� maneira de escapar .

Para al�m disso aprendi imenso sobre hist�ria com os selos . Antes de ler o Corto Maltese eu tinha na mem�ria a imagem do iate Hohenzolern nos selos coloniais alem�es e sabia de quem eram as Marianas , ou os Camar�es . A infla��o alem� dos anos vinte estava nas sobrecargas dos selos da Rep�blica de Weimar . E , agora na B�lgica , tamb�m quando c� cheguei j� sabia que havia uma B�lgica "alem�" por causa dos selos de Eupen e Malmedy . A lista � quase infinita .

Breve correc��o : o Penny Black , o primeiro selo , data de 1840 e Balzac morreu em 1850 . N�o devia haver ent�o muitos coleccionadores . Os selos s�o uma grande actividade vitoriana , adaptada aos coron�is ingleses reformados que vinham da India .



18.5.03
 


AGENDA

N�o posso agora por falta de tempo � de novo a fazer de judeu errante � comentar algumas coisas que li noutros blogs . Mas , logo que possa , comentarei :

1-A descri��o certeira de Mon�logos de tasco sobre a vida pol�tica local por quem a conhece da prov�ncia . Eu vivi e vivo na �prov�ncia� quando n�o ando de �navio fantasma� . � aquilo mesmo , ou ainda pior .

2- Os protestos de Modus Vivendi sobre �a s�ntese de v�rios inputs� e porque raz�o h� que manter uma diferen�a entre a cultura e a cria��o como frui��o est�tica , entre o que se gosta e o que se sabe .

3- Sobre a filatelia e o anacronismo , falando com a Janela Indiscreta , que tem um interessante post sobre selos , uma mat�ria hoje absolutamente erudita . logo , como disse Borges , �fant�stica� . A quest�o � que nunca ningu�m disse que � mau uma coisa ser �anacr�nica� , bem pelo contr�rio .

4- Agradecer e aceitar o convite de Mukankala , em data a aprazar .

5- Continuar a tert�lia com a Montanha M�gica

6- E , por �ltimo , mas n�o o �ltimo , ir � quest�o que motivou o abaixo assinado dos quatro Coluna Infame , Blog de Esquerda , Blogue dos Marretas e O Pa�s Relativo sobre o artigo do Expresso .

O problema � que h� uma clara tens�o , que admito ao vir para aqui tenha agravado , entre um mundo fechado �a blogosfera � e a viragem dos blogs para fora , para o p�blico da Net e para o p�blico em geral . � natural que uma parte da peculiaridade dos blogs seja falarem entre si , mas com 400 blogs e a subir de n�mero todos os dias , isso deixa de ter sentido . Acresce que se o novo meio se pretende influente e competitivo, mesmo na sua especificidade , � para fora que tem que falar , sendo natural que passe a ser citado na imprensa e as opini�es aqui dadas a terem o curso normal das opini�es - as que tem pernas para andar , andam .
Eu n�o tenho queixas da hospitalidade , nunca fui paternalista e comporto-me por natureza como igual , n�o tenho d�vidas da qualidade de alguns blogs ( j� os lia muito antes de ter um ) , mas o que entre n�s � fundamental � o esp�rito cr�tico . E aplicando um pouco desse esp�rito talvez o abaixo-assinado tenha de facto um tom de reac��o corporativa . Teria sido melhor esperar que a maior exposi��o dos blogs acabasse por naturalmente fazer uma selec��o entre eles . Este � que � um bom esp�rito liberal e by the way very british . Com amizade .

 


FELGUEIRAS 3

A sorte de Francisco Assis foi tudo ser filmado. Se n�o existissem as imagens televisivas, mesmo que tudo se tivesse passado exactamente na mesma, o caso teria sempre pequena import�ncia. Os jornalistas que est�o em Felgueiras, salvo honrosas excep��es, usam uma linguagem legitimadora do que aconteceu (a �multid�o�, a �popula��o�, os populares�, sem qualquer esfor�o para dar n�meros, e identificar respons�veis que o deveriam ser dado que estiveram como tal identificados na �vig�lia� anterior) e , quando confrontados com os agressores , fazem sempre perguntas meigas e ao lado. � o mesmo tipo de rever�ncia que tem com Pinto da Costa.

As explica��es da GNR s�o inaceit�veis. Havendo uma situa��o de instabilidade na cidade, existindo concentra��es na via p�blica, nenhuma for�a de seguran�a que se preze n�o pode deixar de estar presente e de acompanhar o que se passa. Ou foi neglig�ncia ou coniv�ncia. Escolham.

Nalguns blogs h� um estilo �engra�adinho� de tratar estas coisas, como se, no fundo, o Francisco Assis � que fosse respons�vel pelos murros que levou. Eu j� estive mais do que uma vez nestas situa��es, bem menos graves, e se h� coisa que me encanita � este tipo de �engra�adinhos� que se colocam no lado dos agressores.
 


APELO

Algu�m conhece algum blog , ou algum outro s�tio que identifique em cada dia os blogs que s�o actualizados ? Este era um "servi�o p�blico" necess�rio .
 


Lendo os blogs aqui vai um pequeno �ndice de grandes poemas e textos neles transcritos que vale a pena visitar

Poema de Pessoa sobre a Lua no Mar Portugu�z , (� assim mesmo ) em honra do eclipse , t�o de pura imagina��o e mestria com as palavras , que se volta a l�-lo uma , outra e outra vez e a Lua continua l� . Junto est� uma bela foto do eclipse .

Um Soneto de Shakespeare no Modus Vivendi , que s� � pena estar misturado no texto com umas coisas sobre a �liberdade no sentido jur�dico-pol�tico " . Shakespeare e Gomes Canotilho ! n�o � poss�vel .

Grandes , mas grandes poemas er�ticos e obscenos de Bocage e alguns an�nimos contempor�neos no Bloco-Notas . Do ponto de vista liter�rio h� um ou dois excelentes sonetos da nossa literatura nesta s�rie mais obscena que er�tica � ali�s numa pura tradi��o cl�ssica - de Bocage .

V�rio Joyce nas Cr�nicas Matinais

Depois h� mais .

17.5.03
 


TELEVIS�O P�BLICA E AS PALAVRAS


Estou a ver o telejornal das 13 horas sobre a agress�o a Assis . O texto � inacredit�vel: "Francisco Assis ainda tentou entrar na sede do PS em Felgueiras , a popula��o em f�ria impediu-o ." . A "popula��o" ? � insuport�vel esta falta de cuidado que legitima a viol�ncia .



A agress�o a um membro de um �rg�o de soberania � um crime p�blico , penso eu , n�o � necess�ria queixa para que a pol�cia actue . J� n�o falo no flagrante delito O que � que j� foi feito ? Quem � que foi preso ?
 


CONTINUANDO A TERT�LIA COM A MONTANHA M�GICA

No meu texto havia duas quest�es e na resposta da Montanha ambas s�o tratadas . Deixo aqui a segunda ( pode haver hoje �romance� no sentido e na forma da Montanha M�gica ? ) para outra altura . � uma quest�o complexa que exige que se v� mais longe .

Quanto � primeira quest�o penso pode ser resumida desta forma : tem sentido a �educa��o� de Hans Castorp , ou , de outra maneira , tem sentido aprendermos alguma coisa , com a hist�ria , a filosofia , os sentimentos , a �vida� , se depois um destino �cego� � aqui a guerra � torna in�til essa aprendizagem ?

"Perguntar-se-�: valeu a pena Hans Castorp ter estado na Montanha, quando no final, tudo o que aprendeu, n�o p�de colocar em pr�tica?
Quando Thomas Mann escreve, � Este baile macabro a que foste arrastado durar� ainda alguns anos criminosos e n�o queremos apostar muita coisa na tua possibilidade de escapar. Para falar com franqueza, n�o sentimos grandes escr�pulos ao deixar esta resposta sem pergunta.�, mais n�o descreve a falta de aprendizagem de gera��es sucessivas sobre a complexidade da vida humana.
Dostoi�vski, descreve muito bem este processo, na obra, Os Irm�os Karamazov, quando nos diz que �somos todos culpados de tudo e eu mais do que todos os outros�.
(�)
Pois �, o pessimismo de Thomas Mann, que como diz JPP, ele quis contrariar, tamb�m Teixeira de Pascoaes, o colocou no seu brilhante Regresso ao Para�so, onde o descreve assim:
�E a �rvore da nova F�
Levanta para o sol os ramos verdes;
E na amor�vel sombra que projecta
Rebrilham, como estrelas, os dois olhos
Da cobra tentadora.�


Comecemos pela natureza da aprendizagem de Castorp . Penso que h� muito de id�ntico na mec�nica dessa aprendizagem contradit�ria � Naphta , o frio �comunista� crist�o , apaixonado pela obra colectiva e an�nima das catedrais medievais e Settembrini , o republicano racionalista do Risorgimento , individualista e ma��o � com um dilema semelhante colocado no in�cio dos Buddenbrook quando a fam�la com tr�s gera��es � mesa (ou duas ? escrevo tudo isto sem poder consultar os livros de Mann ) discute os m�ritos dos jardins ingleses ou franceses , ou seja o confronto entre uma sensibilidade rom�ntica e a cl�ssica .
Castorp recusa o dilema . Ele n�o se satisfaz com as respostas , no fundo ideol�gicas , que v�o dominar o seu s�culo de forma tr�gica . E f�-lo por uma tenta��o nietzschiana pela morte ( o meu companheiro de tert�lia cita bem neste contexto Unamuno e Pascoaes ) , que � de certa maneira premonit�ria do seu prov�vel destino no �baile macabro� que por c� em baixo se prepara e cujos ecos quase n�o chegam � Montanha . O impacto do livro de Mann e a sua modernidade est� nesta ambival�ncia � id�ntica � dos Buddenbrook que � uma hist�ria de ascens�o e queda � que identifica os nossos tempos como feitos mais por Freud e Nietzsche do que pelos her�is individuais de Settembrini e colectivos de Naphta .
Na tert�lia da A Montanha M�gica pergunta-se :

�Haver� esperan�a numa reden��o do Homem? Para quem tem f�, a convic��o � forte, sabendo desde logo que, a estrada para Damasco � dura de percorrer, debaixo de um sol lancinante. �

mas esta n�o � nem a pergunta nem a resposta de Mann . O que � interessante na Montanha M�gica � que um dos poucos genu�nos humanistas do s�culo da barb�rie , o XX , n�o acredita na sua efic�cia final porque nada se aprende , e tudo se repete , como Nietzsche defendia . O dilema de Mann � tamb�m o nosso (o meu ) � ter pouca �f� na efic�cia da atitude humanista mas n�o poder deixar de ter outra que n�o seja essa . � a �nica atitude decente .


 


MATRIX

Como muito boa gente por estas bandas tamb�m estou com muita curiosidade em ver a sequela do Matrix . Gostei do Matrix original e como tenho pouco tempo para ir ao cinema vou vendo os filmes � medida que saem em DVD . Vi h� pouco tempo o Minority Report . Uma das coisas que me faz ainda gostar mais do cinema americano e abominar a �excep��o cultural� dos franceses � a capacidade que tem de manter o cinema como espect�culo e de tratar hist�rias complexas sem perder a complexidade. Porque imaginem o que a bas�fia filos�fica dos franceses faria a hist�rias, como a do Blade Runner , do Matrix , ou do Minority Report , ou do Crash , ou as dos filmes de David Lynch transformando-as em filmes de tese , imposs�veis de ver com prazer e perplexidade
 


FELGUEIRAS

Vi agora as imagens da agress�o a Francisco Assis em Felgueiras . Assis portou-se como devia e com dignidade .Mas em Felgueiras n�o h� pol�cia ? � poss�vel fazer um tumulto no meio da rua que dura v�rios minutos , agredir um deputado , sem aparecer um pol�cia ?


16.5.03
 


Para um coment�rio que contem respostas aos exemplos de quest�es cientificas que coloquei em Astrologia "P�blica" 2 veja-se este texto no N�nio .
 


FILATELIA 2

Comentando o que escrevi sobre filatelia (em discreto agradecimento a Piolheira que sabe do que falo ) , a Mem�ria Inventada diz o seguinte :


"Fiel ao seu nome, o Abrupto por vezes revela-se algo inopinado. H� cinquenta anos, quantos filatelistas haveria no mundo? � uma pergunta de dif�cil resposta, a pedir muitos av�s, mas n�o lhes parece que a afirma��o � algo absurda? Nos anos cinquenta do s�culo passado a Bossa Nova explodia no Brasil e no mundo, o Rock incendiava os EUA e o mundo, Stockhausen ainda n�o precisava de helic�pteros para reinventar a m�sica, Piaf cantava, Sinatra encantava e a Am�lia ia ao programa do Eddie Fisher, na "Am�rica". No in�cio dos anos cinquenta do s�culo passado um senhor chamado Charlie Parker entrava em decad�ncia n�o sem antes ter escrito parte da hist�ria do Jazz com as suas cascatas sonoras. Morreria nessa d�cada, admirado por todos. De resto, todos estes e muitos outros m�sicos eram, j� naquela �poca, estrelas consagrad�ssimas que arrastavam multid�es."


� pena que neste caso a �mem�ria� seja mesmo �inventada� , porque h� uma enorme diferen�a entre esses anos e a actualidade que n�o permite �pensar para tr�s� sem algum honesto conhecimento . Nos anos cinquenta , em Portugal , ter discos , logo gira-discos , ou ainda mais dif�cil , gravador , era um privil�gio de um pequen�ssimo n�mero de pessoas , a esmagadora maioria muito pouco jovem . Jazz , era um territ�rio de meia d�zia de amadores . Stockhausen s� se tornou conhecido muito depois e por um punhado de mel�manos que , em meados da d�cada de sessenta , se come�ou a interessar pela �m�sica de vanguarda� . A maioria da m�sica que chegava aos portugueses tinha como canal a Emissora Nacional e certamente inclu�a a Am�lia , a Piaf e o Sinatra , s� que num contexto muito diferente daquele em que hoje os vemos .
A Mem�ria Inventada esquece-se de como era fechada, provinciana e mesquinha a vida portuguesa em geral, j� para n�o falar da vida cultural . N�o s� n�o existia nada de equivalente a uma cultura juvenil, uma inven��o dos anos sessenta , quando os jovens come�aram a ter dinheiro para consumir, como o papel de uma longa censura , ininterrupta desde o fim dos anos vinte , impedia os portugueses que n�o viajavam e que n�o dominavam l�nguas estrangeiras de saber o que se passava no mundo . Acompanhar o que se fazia l� fora em tempo pr�ximo do real era pura e simplesmente imposs�vel e tamb�m muito caro . E , fundamental para o que eu disse , os instrumentos de dissemina��o de uma cultura de massas , discos , CDs , v�deos , DVDs , ou os downloads da Internet n�o existiam e os seus grosseiros equivalentes eram car�ssimos .
Noutra altura retorno � raz�o porque tomei como pretexto a filatelia , ent�o o passatempo n�o desportivo mais popular do mundo e que ajudava a saber que tinha existido a Est�nia (o que muito pouca gente sabia ) ou onde era a Car�ntia .
 


PA�S BASCO

Queria voltar � quest�o do Pa�s Basco. N�s estamos sempre prontos a apoiar as mais long�nquas das causas, particularmente as que s�o politicamente mais fortes e conhecidas e esquecemo-nos de que aqui perto h� uma parte de Espanha onde existe terror puro, viola��o das liberdades, opress�o violenta sobre algumas opini�es, uma sociedade que alguns partidos est�o a criar como opressiva. O problema n�o � apenas o terrorismo da ETA � o comportamento dos nacionalistas bascos que s�o maiorit�rios, controlam o sistema escolar, a administra��o, a televis�o e os �rg�os de comunica��o e usam-nos para manter um clima de intimida��o sobre os que consideram �espanholistas�.

H� mil e uma formas como essa intimida��o funciona: afastando de cargos os que n�o sabem basco � uma l�ngua que em muitos s�tios do pa�s basco tinha praticamente desaparecido - , obrigando ilegalmente os eleitores a apresentarem um �cart�o de identidade basco�, identificando-os assim politicamente e intimidando quem vota, amea�ando comerciantes a pagar um �imposto�, usando as escolas para ensinar uma variante extremista e n�o rigorosa da �hist�ria basca� , etc., etc..

Eu participei por solidariedade nas ultimas elei��es bascas , onde pude testemunhar qual era a realidade da vida infernal dos meus colegas do Parlamento Europeu a terem que andar sempre com guarda-costas atr�s , sorte que partilhavam com muitos outros militantes e eleitos do PP e do PSOE , apenas por delito de opini�o pol�tica . E pude imaginar o que � l� viver quando as paredes est�o cheias de inscri��es como esta que fotografei ent�o em Gernika : " ..... el seguiente vas a ser tu " .
 


ASTROLOGIA "PUBLICA" 2

A prop�sito da quest�o da astrologia �p�blica� (ver post anterior ) fica aqui um excerto de uma �ora��o de sapi�ncia� que fiz e que permanece in�dita e em que me refiro �s �duas culturas� :


Outro dos grandes obst�culos para se adquirir uma cultura geral capaz � a absurda tradi��o, tamb�m filha do nosso atraso, de considerar que � "cultura" apenas o que pertence ao dom�nio das humanidades cl�ssicas. Em Portugal um pol�tico pode ser considerado "inculto" por n�o saber o n�mero de cantos dos Lus�adas - que � suposto saber-se mas n�o � t�o importante como t�-los lido, ou parte deles, - ao mesmo tempo que muitos que sabem o n�mero de cantos dos Lus�adas acham que s�o cultos mesmo que n�o percebam o que � a in�rcia ou a Segunda Lei da Termodin�mica. O desprezo pela ci�ncia, leva a que algu�m possa ser considerado culto, sem ter a mais pequena no��o como funciona um r�dio. E que n�o se pergunte como � poss�vel entendermo-nos com o mundo sem saber olhar para o c�u e saber o que l� est�, ou n�o ter a m�nima ideia porque raz�o � que as formigas n�o se afundam (ou os barcos) ou de como � que um avi�o voa ou um gato v� no escuro, ou porque � mais f�cil tirar a pasta de dentro de uma pasta de dentes a torna-la a por l�, ou porque � que o tempo anda sempre para a frente. Tudo coisas completamente triviais e acima de tudo bem pouco complicadas para se saber.�

15.5.03
 


FILATELIA

Os selos s�o hoje um anacronismo e s� continuam a existir por in�rcia e porque h� o neg�cio dos coleccionadores . Os coleccionadores de selos ainda s�o um maior anacronismo . � um mundo que est� a acabar , como as m�quinas de escrever . Se os blogs existissem h� cinquenta anos , haveria certamente alguns de filatelistas e n�o haveria nenhum de m�sica .
Tempus edax rerum .
 


MONTANHA M�GICA 1

Obrigado � Montanha M�gica por ter aceite o meu pedido de publicar as p�ginas finais do livro de Thomas Mann . Sem desprimor para muita coisa magnifica que est� transcrita nos blogs , devem ser das p�ginas mais perturbantes que se podem ler em quaisquer dos nossos s�tios . N�o resisto em retomar os par�grafos finais :

E assim, no tumulto, na chuva, no crep�sculo, perdemo-lo de vista.
Adeus, Hans Castorp, bravo menino mimado da vida! A tua hist�ria terminou. Acab�mos de conta-la. N�o foi nem breve nem longa, � uma hist�ria herm�tica. Cont�mo-la por amor a ela mesma, n�o por amor a ti, porque tu eras simples. (...)
Adeus! Agora vais viver ou morrer! Tens poucas probabilidades. Este baile macabro a que foste arrastado durar� ainda alguns anos criminosos e n�o queremos apostar muita coisa na tua possibilidade de escapar. Para falar com franqueza, n�o sentimos grandes escr�pulos ao deixar esta quest�o sem resposta. Certas aventuras da carne e do esp�rito, que educaram a tua simplicidade permitiram-te vencer no dom�nio do esp�rito aquilo a que n�o escapar�s certamente no dom�nio da carne. Momentos houve em que nos sonhos que tu �governavas�, viste brotar da morte e da lux�ria do corpo um sonho de amor. Ser� que dessa festa da morte, dessa perniciosa febre que incendeia � nossa volta o C�u desta noite chuvosa, tamb�m o amor surgir� um dia."

MANN, Thomas, �A Montanha M�gica�, Lisboa, Edi��o �Livros do Brasil� Lisboa, 2000

Mesmo a acabar a longa saga interior de Castorp , a sua "educa��o" pela doen�a dos outros , Mann n�o deixa de subtilmente se distanciar da narrativa romanesca para empurrar a sua pr�pria hist�ria ficcional para o dom�nio da "hist�ria herm�tica" , contada "por amor a ela mesma, n�o por amor a ti, porque tu eras simples. " . A "simplicidade" de Castorp , prefigura assim o destino do homem comum europeu no in�cio de um s�culo de barbaridades , onde Castorp , nem nenhum desses homens comuns , seria senhor do seu destino . Estavam condenados , sem o saberem . Valeu para alguma coisa o que Castorp aprendeu na Montanha ? Mann sugere que n�o , embora tenha a esperan�a que sim . Estaremos n�s no limiar do s�culo XXI no mesmo s�tio de Castorp , descendo da paz da Montanha para um "baile macabro" ? Castorp tamb�m n�o sabia o que lhe iria acontecer .


MONTANHA M�GICA 2

Sempre que volto a livros como este assalta-me uma d�vida : ser� que este aspecto da cria��o , o romance , acabou de vez ? Eu bem sei que esta pergunta e v�rias respostas j� foram feitas muitas vezes , mas mesmo assim continua a d�vida . Nos �ltimos trinta anos o que � que se escreveu semelhante aos livros de Mann , ou de Musil , ou de Hesse , s� para ficar no alem�o ?

O Dying Animal de Roth , a melhor obra de fic��o contempor�nea que eu li nos �ltimos anos , n�o � resposta porque n�o � um romance . Mesmo assim ainda � na literatura americana que h� alguma esperan�a .



 


Notas europeias - Diplomacia

Para se perceber como hoje a diplomacia feita em nome da UE n�o contribui para a paz mundial , � uma esp�cie de irritante permanente para os americanos (parece ali�s ser essa a sua motiva��o ) e n�o produz quaisquer resultados , veja-se a visita de Solana ( chamado o "sr. PESC" e detentor do n�mero de telefone da Europa que Kissinger dizia que n�o havia ) a Israel e aos territ�rios palestinianos . Numa altura em que se abre uma esperan�a efectiva de paz (produto da interven��o americana no Iraque , por muito que isso custe aos que a atacaram ) , em que essa possibilidade passa claramente pelo isolamento de Arafat e pelo refor�o da posi��o de Abu Mazem , o moderado primeiro ministro palestiniano , Solana insiste em visitar Arafat dando-lhe o estatuto de interlocutor privilegiado . Qual � o resultado objectivo desta atitude , qual a vantagem diplom�tica , pol�tica , para a paz ? Nenhuma , corta as pontes com Israel , sem favorecer qualquer espa�o de manobra com os palestinianos . Um desastre , feito em nosso nome .

14.5.03
 


ASTROLOGIA "P�BLICA"

Uma not�cia da Lusa , retomada no Blog de Esquerda , levanta um problema s�rio , penso que de uma forma errada .

Cerca de 30 cientistas portugueses protestaram hoje contra a contrata��o de astr�logos pelos meios de comunica��o do Estado, situa��o que consideram "incompat�vel com o rigor or�amental" e "imoral do ponto de vista pedag�gico".
"S� a Sra. Cristina Candeias [astr�loga convidada do programa "Pra�a da Alegria", da RTP-1] tem mais tempo de antena, por semana, na televis�o estatal do que todos os cientistas e todas as institui��es de ensino e investiga��o do pa�s", denunciam os cientistas.
Num abaixo-assinado que foi enviado ao Presidente da Rep�blica, Jorge Sampaio, ao ministro da Presid�ncia, Morais Sarmento, e � Direc��o de Programas da RTP, � denunciado o uso de fundos p�blicos para o pagamento de "actividades pseudo-cient�ficas".
O documento lamenta que no �mbito das recentes medidas para controlar as contas p�blicas tenham sido efectuados cortes ao or�amento dedicado ao ensino e � investiga��o, o que se reflectiu "numa diminui��o do n�mero de bolsas de investiga��o atribu�das pela Funda��o para a Ci�ncia e a Tecnologia (FCT)", enquanto s�o subsidiadas "actividades pseudo-cient�ficas".�


Sou muito avesso a este tipo de protestos do g�nero tirem o dinheiro da� para o colocarem aqui , porque acho que neste caso iguala quem pede com quem recebe . Sou para al�m disso avesso � sistem�tica exig�ncia de dinheiro ao estado e , como se sabe , entendo que n�o devia haver televis�o "p�blica" .

O problema est� exactamente na imensa ambiguidade desse car�cter "p�blico" da televis�o generalista que faz com que os seus defensores entendam que os programas de variedades fazem parte do servi�o p�blico . E sendo assim , l� tem a astr�loga , que � igual na sua actividade ao ilusionista , ao domador de le�es , � cantora , ao bailarino - s�o "variedades" e n�o "actividades pseudo-cient�ficas". Quem defende a televis�o p�blica generalista n�o pode dizer n�o ao Alexandrino , nem ao Prof. Karamba , nem ao futebol , nem � Maya , nem �s bruxas , nem a qualquer outro artista de variedades . Est� inscrito no modelo - � para entreter .

Agora saber porque raz�o � que as pessoas entendem que a astrologia � uma "ci�ncia" , isso tem mais a ver com a escola e com o papel ausente da ci�ncia num pa�s dominado pelas humanidades como condi��o de cultura . Mas isso � toda uma outra discuss�o .


 


Agradecimentos
a Palavrar , Mukankala , e Piolheira .

A este �ltimo que faz uma observa��o pertinente , respondo que nada mudou , continuo a ser feroz com a minha privacidade , um direito que todos temos . Desse ponto de vista nada do que est� e estar� aqui � relevante .
Acrescento apenas um fragmento inicial de um texto ainda in�dito - deve sair na Tabacaria - de uma interven��o que fiz na Casa Fernando Pessoa , intitulada "Felicidade , liberdade , posse e abdica��o (Fernando Pessoa lido por um adolescente) " e que come�a assim :

"Foi-me pedida uma leitura "pessoal" de Pessoa. Aqui vai pois uma leitura mais que pessoal, pessoal�ssima, t�o verdadeira como falsa na melhor tradi��o do homem que dizia: "quando falo com sinceridade, n�o sei com que sinceridade falo". A minha, e n�o a minha certamente, porque este texto � uma pura obra de fic��o, intertextual como agora se diz, e imitando aquilo que nos dias de hoje fazem os senhores professores de literatura, Frederico Louren�o e Abel Barros Baptista, para escrever sobre Cam�es, ou sobre o barroco. Ao bom modelo de Pessoa, uso tamb�m a contradi��o ir�nica, �til instrumento ret�rico que n�o me permite que me leve demasiado a s�rio. Por isso, sempre que uso a primeira pessoa, n�o � bem a minha pessoa, que � a primeira."

 


Notas europeias

1) Ainda n�o h� Constitui��o europeia , ainda n�o h� o cargo de Ministro dos Neg�cios Estrangeiros europeus , mas j� h� um candidato Oskar Fischer , o actual MNE da Alemanha . Isto d� para ver como todas estas coisas apontam para pol�ticas de facto consumado .

2) Demiss�o de Clare Short do Governo ingl�s . A esquerda trabalhista , a loonie left mais loonie que h� , est� bem representada no Labour e apadrinha as mais absurdas das causas . Clare Short j� devia ter sa�do , ou ter sido demitida do governo mais cedo . Mas , independentemente disso , � um espect�culo de democracia no melhor sentido ver a pol�tica inglesa a funcionar . Ver a ex-ministra , como j� fizera Robin Cook , vir ao Parlamento dizer com clareza porque saiu , tudo num ambiente confrontacional , mas de grande liberdade interior sem os rodriguinhos que t�o caracterizam a nossa vida pol�tica , feita de salamaleques no exterior e facadas an�nimas nos jornais .

3) Qualquer breve compara��o entre os notici�rios da RTP e os de outras televis�es europeias , mesmo "p�blicas" , revela o peso excessivo , quase obsessivo , que tem o futebol nos org�os de comunica��o social em Portugal . Meia d�zia de not�cias dadas � pressa , "casos humanos" (doen�as e desgra�as) , para logo vir um extenso notici�rio futebol�stico , haja jogos ou n�o haja . At� parece que tudo � feito � pressa para se ir ao que interessa , caiam bombas , suba o desemprego , haja crise ou tempestade . Quando fa�o zapping passam-se not�cias na BBC , na TV5 , na TVE , e j� h� dezenas de minutos que a RTP s� d� futebol.



Notas do Brasil de Porto Alegre

1) F�tima Felgueiras transformada em resistente anti-salazarista , exilada no Brasil na esteira do General Humberto Delgado
 


Aqui est� uma iniciativa que vale a pena apoiar :

Aunque


Aunque los europeos ejercen el derecho constitucional de votar con saludable rutina democr�tica pocos imaginan que en un rinc�n de Europa el miedo y la verg�enza oprimen a los ciudadanos.

Aunque la memoria del Holocausto sea honrada en Europa por el deseo de rehabilitar a las v�ctimas de la barbarie e impedir que el horror vuelva a cometerse, pocos europeos saben que hoy mismo en el Pa�s Vasco ciudadanos libres son injuriados y asesinados.

Aunque parezca mentira: hoy los candidatos de los ciudadanos libres del Pa�s Vasco est�n condenados a muerte por los mercenarios de ETA y condenados a la humillaci�n por sus c�mplices nacionalistas.

Aunque ciudadanos del Pa�s Vasco sean asesinados por sus ideas, y miles hayan sido mutilados o trastornados, los atentados se realizan y celebran en una penosa atm�sfera de impunidad moral propiciada por las instituciones nacionalistas y por la jerarqu�a cat�lica vasca.

Aunque los partidos nacionalistas aprovechan las garant�as constitucionales de la democracia espa�ola, ciudadanos libres del Pa�s Vasco deben esconderse, disimular sus costumbres, omitir la direcci�n de su domicilio, pedir la protecci�n de escoltas y temer constantemente por su vida y la de sus familiares.

Aunque sea frecuente la tentaci�n de ignorar lo que sucede, pedimos a los ciudadanos europeos que el pr�ximo 25 de mayo (d�a de las elecciones municipales en Espa�a) declaren el estado de indignaci�n general: en memoria de las v�ctimas que en el Pa�s Vasco mueren por la libertad, en honor de los que hoy mismo la defienden con el coraje que en un d�a no muy lejano conmover� a Europa.


(los abajo firmantes)

FIRMAS: Fernando Arrabal, Alfredo Bryce Echenique, Michael Burleigh, Paolo Flores d�Arcais, Jorge Edwards, Carlos Fuentes, Nadine Gordimer, G�nter Grass, Juan Goytisolo, Carlos Monsivais, Bernard- Henri L�vy, Paul Preston, Mario Vargas Llosa, Gianni Vattimo

13.5.03
 


Agradecimentos
�s am�veis palavras de Replicar , Diapas�o e Modus Vivendi .
 


Stephen King

H� escritores considerados de segunda que mereciam outra aten��o intelectual . Escrevi , j� h� algum tempo , uns artigos intitulados "Pulp Fiction" no Di�rio de Not�cias sobre isso . Mas , de vez em quando , encontro-me com as mesmas raz�es para me surpreender e os ler .
� o caso do mais bem pago e mais lido autor universal , Stephen King , tido como autor de livros de terror produzidos em s�rie . Ele de facto escreve muito e muitas coisas n�o s�o boas . King tamb�m nunca teve grande sorte com os filmes dos seus livros com a excep��o do The Shining de Kubrick . Mas h� nas suas p�ginas descri��es quase �nicas de fen�menos como o medo , a comunidade de terrores que da inf�ncia � adolesc�ncia nos formam , a dor , a estranheza inexplic�vel e por isso , sem limites , assustadora . E sabe como poucos construir a tens�o dentro de uma hist�ria quase de forma minimalista , mas eficaz.

Estou a ler , ou melhor ando com o livro de um s�tio para o outro nos aeroportos e avi�es , uma antologia que saiu recentemente intitulada Everything's Eventual , com catorze hist�rias de King . Uma delas publicada no New Yorker � um bom exemplo dos m�ritos de King e chama-se "All That You Love Will Be Carried Away" . As primeiras quatro ou cinco p�ginas s�o uma descri��o da vida de um vendedor nas estradas americanas , chegando tarde no meio de uma tempestade a um motel nos arredores de Lincoln , Nebraska . � um puro slice of americana , incluindo pequenas recomenda��es de quem � muito batido em estradas e mot�is , e uma descri��o dos campos de cultivo , a perder de vista , da Am�rica do interior . E de repente

There was a overhang, so he was able to get out of the snow. There was a Coke machine with a sign saying, USE CORRECT CHANGE. There was an ice machine and a Snax machine with candy bars and various kinds of potato chips behind curls of metal like bedsprings . There was NO USE CORRECT CHANGE sign on the Snax machine. From the room to the left of the one where he intented to kill himself, Alfie could hear the early news, but it would sound better in the farmhouse over yonder, he was sure of that. The wind boomed. Snow swirled around his city shoes, an then Alfie let hinself into his room. The light switch was to the left. He turned it on and shut the door.

E depois continua tudo com a mesma normalidade . Ser� que li bem ? " From the room to the left of the one where he intented to kill himself ..." . Li . Depois nada � na mesma .
 


Hoje de manh� na Livraria Kleber , a melhor livraria de Estrasburgo , mais um sinal da patetice que assola os franceses . Na sec��o dos livros de economia estava um cartaz que dizia "La Richesse oui ... Mais Humaine ! " (ipsis verbis) . Isto numa das terras mais s�lidas , provincianas , protestantes e burguesas da Europa , onde tudo respira de uma "riqueza" antiga , e onde Le Pen teve excelentes vota��es .
 


Uma sugest�o � Montanha M�gica - a publica��o das �ltimas p�ginas do romance , quando Hans Castorp desce da Montanha para seguir o seu "destino" prov�vel na guerra , Numa altura em que se fala da guerra e da paz , a enorme for�a e tristeza desse final vale a pena ser lido .

12.5.03
 


Visita a um vulc�o ( Il Vulcano Solfatara ) em Pozzuoli

A Solfatara � um vulc�o adormecido cuja cratera � acess�vel , embora seja um s�tio pouco confort�vel para se estar . . A cratera � uma superf�cie branca e amarelada , devido ao enxofre , e sem qualquer vegeta��o . N�o cresce l� nada . Num dia de sol � muito quente . Quente do vulc�o , quente do reflexo do sol na superf�cie branca , quente do dia . N�o se pode caminhar mesmo no centro da cratera , embora a superf�cie pare�a igual �quela em que se pode caminhar . O ch�o � poroso devido � quantidade de gases e , junto a uma das paredes , h� uma fenda onde a lama negra e cinzenta escura , borbulha . O solo tem movimentos de subida e descida , n�o s� no vulc�o , como em toda a regi�o de Pozzuoli .

Quase a toda a volta , as paredes da cratera e o solo junto das paredes fumegam . H� v�rias fumarolas , a mais conhecida � a Bocca Grande e delas saem v�rios gases , com preval�ncia para compostos de enxofre . O resultado � um cheiro (mau ) muito intenso que se sente em toda a cratera , mas que se mistura com outros cheiros numa combina��o estranha . Percebe-se que o elemento dominante � o enxofre , mas � diferente e �nico o resultado . Cola-se ao corpo com o calor . Os jactos de gas a temperaturas muito altas sobem de fendas cobertas por algas de v�rias cores . Se h� vida ali, tamb�m pode haver em muitos planetas .

� uma visita a aconselhar aos amadores de vulc�es e da antiguidade cl�ssica . A Solfatara era para os romanos uma das entradas do Inferno e o templo de Sibila em Cuma tem a ver com os silvos que saiam do ch�o . O or�culo de Sibila interpretava os ru�dos , traduzia da natureza para a cultura , para a hist�ria .


 


Uma sauda��o especial � Montanha M�gica , com quem partilho o mesmo fasc�nio pela obra de Mann . Se tivesse que escolher um livro , fora dos cl�ssicos que nos fazem inevit�velmente , um �nico livro que me atravessou a vida , esse livro era a Montanha M�gica . O exemplar que li pela primeira vez era do Eug�nio de Andrade que mo emprestou . O Eug�nio tinha o h�bito de usar uns sublinhados e uns sinais a l�pis � margem do texto , que me faziam ler de outra maneira . Acabava por ler por mim a partir da leitura dele , e imaginem o que isso era na idade certa .
 


Agradecimentos em falta ao
Contra a Corrente
Tudo menos a pol�tica
O pa�s relativo
A Coluna Infame , o primeiro blog que eu li sistem�ticamente
bomba inteligente
Janela Indiscreta
Blog de esquerda que , h� que reconhecer , � mais interessante do que o Bloco de Esquerda
Tradu��o Simult�nea
Ponto media

e eu sei que ainda h� mais . Todos ser�o agradecidos porque aqui se acredita na virtude da gentileza e da retribui��o da gentileza .
 


Constitui��o Europeia

Quantos portugueses (quantos europeus ) sabem que um grupo de deputados , escolhidos mais ou menos confidencialmente pelas direc��es partid�rias , e um conjunto de representantes dos governos , est�o a escrever aquilo que , em princ�pio , deveria ser o documento jur�dico mais importante para todos os pa�ses da UE - uma Constitui��o . A primeira e fundamental quest�o devia ser : quem a pediu , quem a exigiu , que movimento de opini�o consistente e generalizado , mostrou a sua necessidade ? Ningu�m , apenas uma elite pol�tica europeista e federalista a defendeu , debaixo de uma razo�vel indiferen�a da esmagadora maioria dos europeus.

Come�ou como quem n�o quer a coisa , por ser uma reflex�o de "s�bios" sobre a "unifica��o e simplifica��o" dos tratados , depois era suposto ser um "tratado constitucional" , hoje � uma Constitui��o e est� a entrar na fase final dos trabalhos . A Conven��o que a est� a preparar , funciona sem vota��es e "por consenso" ( um absurdo revelador da sua composi��o ideol�gica e o que mostra at� que ponto n�o representa a heterogeneidade das opini�es europeias ) . Esta Constitui��o pode muito bem vir a ser aprovada sem ningu�m dar por ela , por governos que de h� muito fazem tudo para retirar a discuss�o europeia da agenda pol�tica nacional , que tem medo de consultas e referendos . No caso portugu�s , parece que tudo se lhe rendeu , pelo efeito perverso de PSD , PS e PP terem hoje a mesma comunidade de sil�ncios europeus . O Presidente at� j� mostrou retic�ncias p�blicas a que a Constitui��o da Conven��o venha a ser referendada em Portugal e ningu�m disse nada . Um dia adormecemos com a Constitui��o portuguesa e no outro acordamos com uma Constitui��o europeia , que � suposto ser "binding" da nossa .

Lembro ali�s que um dos objectivos da Conven��o n�o era tanto tomar o freio nos dentes e ir colocar os governos entre a Constitui��o e parede , mas proceder a um "grande debate europeu" sobre os Tratados - cujo n�o existe por desinteresse , e por sentimento de pouca necessidade . O que os "convencionais" chamam debates tem sido col�quios mais ou menos acad�micos , mais ou menos institucionais , onde todos os participantes s�o escolhidos pelos mesmos m�todos de "consenso" com que funciona a Conven��o . As opini�es cr�ticas de todo o processo s�o cuidadosamente exclu�das para produzir um efeito de inevitabilidade .
Da� , a segunda quest�o essencial : o cada vez maior d�fice democr�tico do processo europeu , retirado do debate pol�tico nacional e entregue cada vez mais apenas aos "europeistas" , que tem medo que o debate das suas propostas se transforme num debate "� inglesa" , exactamente o �nico pa�s , goste-se ou n�o , onde se discutem estas quest�es


Pol�tica externa - S� para dar um exemplo imagine-se que j� estava em vigor este artigo da "Constitui��o" sobre pol�tica externa quando da crise do Iraque ( quem quiser ver toda a parte de pol�tica externa pode consultar o documento da Conven��o ).
"
1. Artigo 29.�
2. Pol�tica Externa e de Seguran�a Comum da Uni�o
1. A Uni�o Europeia compromete-se a conduzir uma pol�tica externa e de seguran�a comum, baseada num desenvolvimento gradual da solidariedade pol�tica m�tua entre os Estados--Membros, na identifica��o gradual das quest�es que se revistam de interesse geral e na realiza��o de um crescente grau de converg�ncia das ac��es dos Estados-Membros.


2. O Conselho Europeu identificar� os interesses estrat�gicos da Uni�o e fixar� os objectivos da sua Pol�tica Externa e de Seguran�a Comum. O Conselho de Ministros elaborar� essa pol�tica de acordo com as modalidades estabelecidas na Parte II da Constitui��o.


3. O Conselho Europeu e o Conselho de Ministros aprovar�o as decis�es necess�rias.


4. A Pol�tica Externa e de Seguran�a Comum ser� posta em pr�tica pelo Ministro dos Neg�cios Estrangeiros da Uni�o e pelos Estados-Membros, utilizando os meios nacionais e os da Uni�o.


5. Os Estados-Membros concertar-se-�o no �mbito do Conselho e do Conselho Europeu sobre todas as quest�es de pol�tica externa e de seguran�a que se revistam de interesse geral, a fim de definir uma abordagem comum. Antes de empreenderem qualquer ac��o no plano internacional ou de assumirem qualquer compromisso que possa afectar os interesses da Uni�o, os Estados-Membros consultar�o cada um dos outros no �mbito do Conselho ou do Conselho Europeu. Os Estados-Membros assegurar�o, atrav�s da converg�ncia das suas ac��es, que a Uni�o possa fazer valer os seus interesses e valores no plano internacional. Os Estados-Membros ser�o solid�rios entre si."


Das duas uma , ou havia uma ruptura institucional da UE , que poria em causa todo o processo europeu , ou ent�o a UE bloquearia como a ONU , o que prejudicaria posi��es como a de Portugal , Pol�nia , Espanha , Reino Unido , etc. , etc.


10.5.03
 


A dist�ncia e sem teclado que permita p�r os acentos direitos , - corrijo depois na p�tria [ entretanto j� o fiz ] - e no meio do bragadoccio das viagens , tenho lido o que tem aparecido sobre o Abrupto e o que se tem discutido nos blogs . Segunda feira penso retomar em pleno e j� possuidor dos meus acentos portugueses . Li o artigo do DN , apressado e ignorante , como � muitas vezes costume e pelos vistos cheio de erros . Lamento ter-lhe dado pretexto , mas infelizmente n�o vai ser �nico.

8.5.03
 


Vai haver agora um pequeno prov�vel sil�ncio , n�o sei se um dia ou dois , dada a natureza da vida de judeu errante do autor.
Mas se conseguir entre avi�es , comboios , carros , vaporettos , e outros meios de mobilidade terrestre , a�ria e aqu�tica , escrever alguma coisa vir� para o Abrupto .
 


A BBC Learning estraga-me o sono � noite , tornando-me num atento aluno da Open University . Ontem foi um document�rio sobre Blake e eu que conhecia a poesia , mas sabia pouco da vida , pude assistir a um magnifico retrato de um genu�no e genial exc�ntrico ingl�s , uma esp�cie que n�o h� em lado nenhum do mundo . N�s percebemos que se h� cria��o liter�ria em estado puro , prof�tico , numa comunica��o directa com a revela��o , com o divino , est� ali , naqueles versos do tigre ardente . O tigre bem pode ser o povo de Paris na Revolu��o e ter levado Blake a empurrar um soldado de Sua Majestade e a proferir frases subversivas sobre Napole�o - que melhor homenagem pode querer o corso que esta - que pouco importa . Aquele fogo arde mesmo , como o de S� de Miranda .

Fica aqui o poema :

Tiger, tiger, burning bright,
In the forest of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?

And what shoulder, and what art,
Could twist the sinews of thy heart?
When thy heart began to beat,
What dread hand forged thy dread feet?

What the hammer? What the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dared its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears
And watered heaven with their tears,
Did He smile his work to see?
Did He who made the lamb make thee?

Tiger, tiger, burning bright,
In the forest of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?
 


A Vis�o de hoje � um exemplo t�pico de como � est�ril o pensamento da nossa esquerda "independente" - n�o gosta do PS , mas vota no PS ; ataca o PCP a favor do PS , mas tem-lhe uma rever�ncia total pelo "antifascismo" ; gosta do BE , mas vota no PS por bipolariza��o . etc . por a� adiante . Vejam-se os artigos - um cheio de raiva do Jos� Carlos Vasconcelos , outros cheios de nada ou coisas piores de Pintasilgo e de Helena Roseta , um de Boaventura muito interessante pela enuncia��o do que � bom ou mau ( serve de �ndice � Vis�o ) , etc. Os elogios a Soares e Freitas s�o espantosos . Saramago que anda mais azedo que o costume , idem .
Mas esta corrente ideol�gica tem mais poder do que se pensa , nos meios culturais , nas editoras , no establishment das funda��es e dos pr�mios . Podem n�o conseguir promover tudo o que querem nos meios liter�rios e art�sticos - no Jornal de Letras , pago do OE em nome dos professores de portugu�s - mas conseguem exercer um efeito de marginaliza��o , o que � bem mais importante .
 


A crise do Iraque , da "guerra" , revelou a fragilidade da comunica��o social chamada de refer�ncia aos nacionalismos , patriotismos e chauvinismos nacionais . Admito que tal � verdade para parte da comunica��o social americana , mas ainda � mais verdadeiro para a francesa . A� n�o � a parte , � o todo . A direita com Chirac , a esqueda com Chirac e todos pela Fran�a , pelo galo-francesismo . Na B�lgica a mesma coisa , incluindo uma proposta fabulosa apoiada por v�rios org�os da comunica��o social de levar o Ministro dos Neg�cios Estrangeiros Michel a Pr�mio Nobel da Paz . Para quem conhe�a Michel , isto parece a Terra de Oz.
Quem se sai bem s�o os ingleses . Os jornais tomaram posi��es editoriais a favor ou contra a interven��o e depois quem lia , j� sabia o que lia . � por isso que nunca me importei de ler os artigos de Robert Fisk no Independent e comprei muitas vezes o Guardian . S� que quando tinha que ler os mesmos artigos de Fisk no DN , penso que o jornal devia informar os seus leitores de que Fisk trabalhava para um org�o de comunica��o social com uma linha editorial defenida . Estou cada vez mais defensor que , nestes casos , os jornais devem ter uma posi��o editorial conhecida e depois nada os impede de serem plurais .
 


Os agradecimentos que ainda falta fazer s�o tantos que o melhor � fazer por junto . N�o ficam esquecidos , ficam para a semana.

7.5.03
 


Para que n�o se perca muito tempo com as d�vidas de autoria , isto sa� amanh� no P�blico :

"Ataturk foi capaz de criar um estado laico, de abolir os v�us nos servi�os p�blicos , de acabar com o fez , de mudar a forma da escrita , com punho de ferro , construindo como instrumento dessa mudan�a o ex�rcito turco e dando-lhe poderes constitucionais incompat�veis com a nossa no��o de democracia . O nosso dilema na UE com a entrada da Turquia � mesmo este : o que gostamos na Turquia � a laicidade do estado � teve sempre o pre�o do que n�o gostamos , os poderes e o seu uso , do e pelo ex�rcito turco ."

Agora as hipoteses est�o reduzidas a tr�s : eu , um jornalista do P�blico , o revisor do dito . A n�o ser que o Minority Report exista . A� j� � bem mais complicado.

Sauda��es a todos que saudaram o Abrupto . Os agradecimentos particulares seguir�o nos pr�ximos dias .
 


Hoje � o dia dos agradecimentos

Repito o haikai desta vez para a Liberdade de Express�o , para a A Causa Foi Modificada , para o Espigas e para a Mem�ria Inventada .

A Mem�ria , fiel ao seu tema , tem receio de que haja invento na �persona� . N�o h� . � o mesmo , ele pr�prio , o outro . E nunca , jamais , em tempo algum , teria um peixe e muito menos com aquele nome , nem um gato com nome socr�tico . E , por favor , deixem l� o Vangelis para o engenheiro .J� serve para identificar ?

 


HAIKAI DOS AGRADECIMENTOS

Mais agradecimentos ,
qual japon�s ,
dobrando-me .



Do Abrupto ao Intermitente , e ao Fora da Lei .


 



SONETO

Dezarrezoado amor, dentro em meu peito
tem guerra com a raz�o. Amor, que jaz
i j� de muitos dias, manda e faz
tudo o que quer, a torto e a direito.
N�o espera raz�es, tudo � despeito,
tudo soberba e for�a, faz, desfaz,
sem respeito nenhum, e quando em paz
cuidais que sois, ent�o tudo � desfeito.
Doutra parte a raz�o tempos espia,
espia ocasi�es de tarde em tarde,
que ajunta o tempo: em fim vem o seu dia.
Ent�o n�o tem lugar certo onde aguarde
amor; trata trei��es, que n�o confia
nem dos seus. Que farei quando tudo arde?



J� que este blog � de inspira��o mirandina ( acho que � assim que se diz) fica aqui outro bel�ssimo soneto de S� de Miranda . Aquele �ltimo verso �Que farei quando tudo arde?� , quando o digo aos meus amigos modernos , ningu�m o identifica como antigo. Esteve para ser o t�tulo do blog mas depois achei que essas things of beauty n�o devem ser trivializadas .
 


Novos agradecimentos

Do Abrupto ao Valete Frates! ao De Direita , ao Gato Fedorento , e ao Fuma�as pela gentileza das refer�ncias . Ao Gato Fedorento , meu am�vel corrector ortogr�fico , introduzidas est�o as correc��es . Nunca tive nada contra a perfei��o .

 


INDIFEREN�A FACE � CORRUP��O

� verdade que o nosso sistema pol�tico contem em si mesmo uma grande indiferen�a face � corrup��o . Na maioria dos casos ele n�o precisa de nenhuma lei a mais "sistematica" , nem da end�mica "reforma do sistema pol�tico" , precisa de actos e de gerar dentro de si escolhas de pessoas que tenham uma simples , epid�rmica e normal recusa da corrup��o . Normal , insisto , porque a vozearia alta e justiceira sobre a corrup��o � quase sempre populista e enganadora em pol�tica , como ali�s se viu e se v� .
Mas a verdade � que esta atitude nos pol�ticos tem uma fundada base popular . Basta olhar para o que se passa em Felgueiras , independentemente de se estar j� a falar de culpados e inocentes , para ver que a atitude normal da maioria dos portugueses � tamb�m de grande indiferen�a face � corrup��o . Basta algu�m se colocar na posi��o da v�tima ou falar alto e grosso e j� tem quem a defenda e minimize os actos . � verdade que outra coisa n�o seria de esperar em quem tem que viver mergulhado (e em muitos casos praticar) na pequena corrup��o das cunhas e favores e subornos e gorjetas . � verdade que os que assim vivem - e nunca conheceram outro mundo - tendem a falar alto contra a "corrup��o" dos outros , mas pouco passa de conversas de caf� , telefonemas para o Forum da TSF ou cartas an�nimas aos jornais . � mais ressentimento social do que genu�na recusa da corrup��o .
Num sociedade como a nossa isto � um dos sinais do nosso atraso .
 


Obrigado

Aos companheiros deste �ter que saudaram o Abrupto com palavras am�veis , ao Bloque dos Marretas , Complot e a Voz do deserto , que eu saiba.
Vamos ver se com a vida de judeu errante que levo consigo manter alguma regularidade . On va voir ...

6.5.03
 


Rio , o Porto e o futebol.

Percebo bem demais as dificuldades que tem Rui Rio em manter uma posi��o de princ�pio face � continuada tradi��o de promiscuidade entre a pol�tica e o futebol . O futebol tem um papel excessivo e pernicioso na nossa vida p�blica e esse papel � hoje ainda mais refor�ado pela quase obsessiva presen�a que tem nos �rg�os de comunica��o social . As press�es sobre quem tenha as posi��es como as de Rio s�o imensas e os �conselhos� s�o c�modos de dar � dist�ncia , dif�ceis de seguir quando se sente interiormente que segui-los � muitas vezes trair uma voz �ntima que as pessoas integras nunca devem perder .
Mas que deve ser muito dif�cil nalguns momentos , �-o certamente e admito que �s vezes n�o se saiba bem o que fazer . No entanto entre ser r�gido e mole nestas ocasi�es prefiro ser r�gido , porque moles h� que basta , e a moleza � mais do nosso desgra�ado car�cter .
Eu sou do Porto , da cidade e , se clube tenho , � aquele . Tamb�m estou contente pelos resultados . Mas o que est� em causa tem pouco a ver com o futebol e a alegria dos portuenses pelo seu clube , tem a ver com o lugar da pol�tica em democracia , com o lugar da pol�tica em Portugal , onde tudo puxa para baixo , para rela��es de alarvidade e de for�a , de trocas de favor e influ�ncia , de grosseria e emo��es colectivas excitadas .


 


Conspira��o dos Pazzi

Para os que leram ou viram (no filme) o dr. Hannibal Lecter em Floren�a a recriar a conspira��o dos Pazzi , antes de comer a cabe�a a um distinto membro do FBI , saiu agora um livro de Lauro Martines , April Blood . Florence and the Plot Against the Medici , da Jonathan Cape , sobre o evento florentino .
 


LEITURAS

Vale a pena ler Diane Ravitch THE LANGUAGE POLICE How Pressure Groups Restrict What Students Learn . H� uma cr�tica no NYT
 


SONETO 49

Quando eu, senhora, em v�s os olhos ponho,
e vejo o que n�o vi nunca, nem cri
que houvesse c�, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando, como em sonho.

Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m'espanto �s vezes, outras m'avergonho.

Que, tornando ante v�s, senhora, tal,
Quando m'era mister tant' outr' ajuda, d
de que me valerei, se alma n�o val?

Esperando por ela que me acuda,
e n�o me acode, e est� cuidando em al,
afronta o cora��o, a l�ngua � muda.

S� de Miranda
 


Porque raz�o tem os contribuintes e os ouvintes que ser sistem�ticamente martelados com frases ideol�gicas sobre o "servi�o p�blico" na RTP nos reclames sobre a emiss�o ?
Porque raz�o tenho que aceitar que um canal de televis�o pago pelo OE me diga que o futebol que passa na televis�o � "futebol de servi�o p�blico" , uma bem bizarra categoria ? A ideologia tem os seus locais , os seus sujeitos e as suas normas de circula��o numa democracia . A ideologia , traduzida em op��es pol�ticas , naturalmente divide . Porque raz�o os respons�veis pela RTP (em ultima inst�ncia o governo ) entendem que o estado portugu�s deve impor ou permitir que se imponha um conceito de "servi�o publico" , completamente imerso em ideologia , a todos os portugueses que ligam para a RTP .
J� de h� muito que esses reclames da "televis�o de servi�o p�blico" deveriam ter acabado .
 


RTP2

5 de Maio de 2003 - Notici�rio das 22 horas - apresenta��o de um livro de poemas contra a guerra no Iraque . M�sica e imagens de fundo propagand�sticas de responsabilidade dos autores do notici�rio . Soldados americanos , bombas , sofrimento nos hospitais . Ser� que os nossos jornalistas n�o percebem que inserir estas pe�as num notici�rio � pura propaganda e nada tem a ver com jornalismo ?

� Jos� Pacheco Pereira
In�cio
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