ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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7.1.15
CARTAS PORTUGUESAS A LUDWIG PAN, GEÓLOGO E AGRIMENSOR NA AUSTRÁLIA
(As duas primeiras aqui, a terceira aqui, a quarta aqui, a quinta aqui, a sexta aqui., a sétima aqui.
Devíamos fazer tréguas no Natal, eu desta constante guerra civil e tu dessa procura da paz pela expiação do pecado alemão de não ter culpa? Eu sei a resposta: não. Eu fiquei missionário da justiça, azorrague dos poderosos, voz dos insatisfeitos, irritação dos contentes, trombeta da moral pública, enfim uma maçada. E tu lá vais voltar para o lado de baixo do mundo a ver se, procurando ouro, consegues ser menos Siegfried e mais aborígene, o que é definitivamente impossível. Uma vez mergulhado no sangue do dragão fica-se assim. Bem sei que, como Aquiles, também tens um soft spot, onde uma folha colada ao corpo te impediu de ser totalmente coberto pelo líquido todo-poderoso do dragão, Mas isso abafa-se com schnapps.
Aqui estamos nós a fazer o que não queremos pela civilização, eu procurando um homem justo, medianamente justo, apenas um pouco de justo, talvez só não injusto e tu, virando mundo ao contrário a comer raízes. C’est la décadence mon cher. Por falar nisso já sabes que nos prometem que 2015 vai ser o ano do retorno, do optimismo, do crescimento, dos maiores rendimentos, do sair do fundo do túnel, da glória das exportações, do fim dos privilégios, dos poderosos e das injustiças. Sim, é como no Harry Potter, há por cá mágicos a mais, todos a mexer nas suas vibrantes varinhas e a transformar chumbo em ouro. Agora chamam-se agências de comunicação, ou de marketing político. Devias contratar um deles a ver se te ajudava nessa procura australiana do pó dourado, mas corrias o risco de quando a valiosa carga chegasse à Alemanha estivesse feita em areia fina.
Mas a minha verdadeira gargalhada vai para o novo mundo em que o nosso mamífero lagomorfo da família dos leporídeos nos diz que acabaram as mordomias, os privilégios, os favores, os poderosos e as injustiças, apenas porque os Espírito Santo caíram do seu pedestal para o vilipêndio do público. Foram muito empurrados por eles próprios, pela inépcia do Banco de Portugal e pelos ziguezagues governamentais, umas vezes pretendendo ser salvíficos, outras vezes hostis, até porque Ricardo Salgado colou-se demais ao engenheiro que está preso e o "bom" Espírito Santo chamava-se Ricciardi e é "amigo" de Relvas e do primeiro-ministro. Tenho sempre as maiores das dúvidas sobre estas "amizades".
Como é? Eram amigos de escola, Relvas e Passos naquelas universidades com cursos instantâneos e o "bom" José Maria saído da casa, onde brincava com o primo, para estudar "Sciences Economiques Appliquées", pelo Instituto de Administração e Gestão da Faculdade de Ciências Económicas, Políticas e Sociais, da Universidade Católica de Lovaina? Então o homem vem de estudar com os jesuítas na Bélgica e fraterniza com um pequeno mação do PSD?
Hum… Ajudaram-no a fazer a tese La Banque et la Prise de Décision d’Octroi de Crédits d’Investissement, ou foi pelo contrário o nobre banqueiro a ajudá-los a fazer os trabalhinhos de casa para a Lusófona? Frequentavam a casa uns dos outros, jogavam ténis, tinham os mesmos alfaiates, as mulheres iam às compras juntas? Investiam em conjunto comparando portfólios da Bolsa e trocando dicas sobre acções, "olha compra aquelas" e não estas, eram "empreendedores" nalguma empresa que fosse deles e não dos seus patrões? Ou pura e simplesmente nalguma esquina do poder, nalgum encontro da imprensa económica, nalgum jantar daqueles que os seus protectores angélicos organizam para os socializar e os apresentar "às pessoas certas", gostaram-se de uma amizade inquebrantável e à primeira vista? Mistérios, tão insondáveis como os divinos, não houvesse mão do Espírito Santo em todas as coisas mundanas.
O pior foram as escutas telefónicas, meu bom Pan, porque em Portugal toda a gente é escutada, tão grande é a endogamia caseira e tão frágil a investigação sem as ditas. O paroxismo foi durante o caso Casa Pia, sabes, aquela "cabala" contra o PS, que motivou as mais lamentáveis cenas no nosso parlamento? Também aí havia um responsável pela investigação que tinha a tese da pesca de arrasto e queria cruzar as chamadas feitas por todos os portugueses para ver se havia padrões com os telefonemas dos pedófilos, os verdadeiros e os imaginados. Sim, o mesmo que colocou o cardeal patriarca numa fila fotográfica de identificação.
Por falar disso, na Alemanha da chanceler também estão sempre a cair os telefones? Também fazem ruídos estranhos, também têm aqueles hiatos comprometedores? Ou já acabou a Stasi? Ou integraram os "técnicos" da outra Alemanha nos serviços federais onde eles se encontraram com os agentes que controlavam ao serviço de "Karla" numa grande festa democrática?
Bem, presumo que na tua longínqua Austrália não deve haver escutas em terras aborígenes. Who cares? Nem o telefone funciona, e as línguas locais são difíceis. Dá notícias da tua chegada, pelo velho processo das cartas, porque a probabilidade de já não haver ninguém a abri-las é grande. Com tanto telefonema, SMS, email, Skype, WhatsApp, nem o mais rico dos serviços ainda tem gente para descolar cartas a vapor e colá-las de novo. Além disso, podemos sempre comunicar como a Al-Qaeda no Afeganistão, mando-te um homem de burro com uma mensagem e um drone atrás. Recebes a carta e um míssil, e isso é que é comunicar!
Bom regresso! (url)
© José Pacheco Pereira
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