ABRUPTO

23.9.14


TALVEZ AGORA VITOR BENTO PERCEBA COM QUEM SE METEU 

Vítor Bento tem escrito sobre o problema da ética nos negócios e na política. Por isso, é uma daquelas partidas que a história prega a todos, poder ouvir palavras como as que Paulo Portas proferiu publicamente numa reunião centrista, em que Vítor Bento passou de bestial a besta. Portas é um dos principais responsáveis, pela sua posição no governo, da escolha de Vítor Bento, visto que todo o processo do BES é conduzido pelo governo utilizando como instrumento o Banco de Portugal. Portas ouviu com certeza as críticas da oposição de que Bento não tinha experiência bancária, de que a escolha tinha sido política, etc. Ele, como toda a muralha de personalidades do governo que se pronunciaram, bem como os comentadores próximos do poder, reagiram indignados a estas acusações incensando Bento até aos limites, como a excepcional escolha para “salvar” o banco. Bento devia ter compreendido que não era tanto ele próprio, nem o resto da sua equipa que eram elogiados, mas a sageza do governo e do seu instrumento o Banco de Portugal, na escolha.

Agora, Vítor Bento teve que ouvir as palavras de Portas, com a mesma repulsa moral que elas suscitam em gente bem formada. Portas fala como se nada tivesse a ver, assim como o governo que faz parte, na escolha de Vítor Bento, uma escolha errada porque não era um “banqueiro” e não “percebia” de banca, não era “profissional” do ofício para que foi escolhido… pelo governo. E depois dá-lhe uma lição moral, a mesma que Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa lhe deram, e que segundo este último, “toda a gente” partilha, do PSD de Alcobaça aos seus companheiros de praia:

“Os bancos gerem-se por profissionais e por gente que tenha espírito de missão e que, em qualquer circunstância, perceba que o interesse nacional é superior a qualquer interesse pessoal.” 

Bento portou-se mal ao demitir-se, devia continuar no banco como responsável de fachada, enquanto a cadeia de comando do governo ao Banco de Portugal decidia tudo em nome dele. Ou seja, Bento não aceitou ser um fantoche e isso só lhe fica bem nestes tempos de dissolução moral. Vem agora um tecnocrata mais dúctil.

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© José Pacheco Pereira
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