ABRUPTO

1.9.14



ÍNDICE DO SITUACIONISMO: COMO É QUE A NOVILÍNGUA SE ESTABELECE

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

 Diz o Primeiro-ministro: 
"Parece-me que a meta que tínhamos definido de 4% para este ano é alcançável, precisa de alguns ajustamentos dentro do nosso orçamento na medida em que há algumas rubricas que têm um peso maior do que tínhamos previsto em consequência de decisões que não fomos nós que tomamos. " 
 Repare-se no sublinhado “em consequência de decisões que não fomos nós que tomamos ", a frase em língua orwelliana. Quer o Primeiro-ministro dizer, e, quase toda a comunicação social que o segue na conjugação do sujeito com o verbo, decisões que (“nós”, o governo) não tomou, mas sim o Tribunal Constitucional. Não, meus amigos é exactamente o contrário: “em consequência de decisões que nós tomamos”, porque as opções por medidas de duvidosa constitucionalidade, para dizer o menos, ou inconstitucionais, foram tomadas pelo governo e por mais ninguém. Nos últimos três anos, o sujeito primeiro das medidas chumbadas pelo Tribunal Constitucional foi sempre o governo, o autor do chumbo foi o Tribunal. Quando chega o chumbo, ergue-se um clamor a dizer que a culpa é sempre do Tribunal, e nunca de quem tem vindo nos últimos anos a somar medidas sobre medidas ilegais à luz da Constituição. E não é por falta de aviso prévio. 

Esta substituição do sujeito da “culpa”, com que a comunicação social colabora sem pensar, é de novo mais um dos casos de situacionismo, de submissão acrítica à linguagem do poder.

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© José Pacheco Pereira
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