ABRUPTO

4.8.14


O NAVIO FANTASMA: HÁ UM PROBLEMA COM O BES, MAS HÁ UM AINDA MAIOR PROBLEMA COM O MODO COMO FUNCIONAM AS NOSSAS INSTITUIÇÕES E A NOSSA COMUNICAÇÃO SOCIAL (1)

Quem deu as "informações" relevantes sobre a "solução" do BES foi um comentador televisivo, Marques Mendes. Fê-lo com um intróito destinado a justificar o Governador do Banco de Portugal. As "informações" foram dadas num contexto destinado a proteger o Governador das críticas que se avolumavam, e foi com esse objectivo que foram "passadas" a Marques Mendes. Mas, Marques Mendes não é jornalista e, por isso, divulgou o que sabia no contexto em que foi "informado". Prestou-se a um papel de legitimação que, infelizmente, é muito comum em certo tipo de comentário político.  Mas, Marques Mendes não é jornalista e, por isso, o que diz pode passar por ser "opinião",  que é livre  e criticável, como todas as opiniões.

Claro que o facto de ser Marques Mendes a anunciar uma medida desta relevância no sábado, ainda antes de serem assinados os documentos legais que o Governo só aprovou no domingo e do anúncio "em segunda mão" do Governador, lança uma luz muito sinistra sobre o modo como funcionam as nossas instituições, como funciona o Banco de Portugal, que nos últimos momentos críticos parece um passador (e pode ter contribuído para inside trading, em operações bolsísticas não esclarecidas), e o Governo que sempre esteve muito mais dentro do processo do BES do que tem vindo a publicitar. Ninguém liga, tão habitual isto é, mas é aquilo que antes se chamava "falta de sentido de Estado". Ou pior.



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© José Pacheco Pereira
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