Tenho, de há muito tempo, chamado a atenção para um dos aspectos desta crise que é que ela se agrava com o tempo e que medidas tomadas naquilo que se chama os anos “piores” vão ser ainda piores nos anos em que se diz que o “pior já passou”. Não há mentira mais abjecta do que o “pior já passou”, apenas porque alguns números desgarrados da economia, que nem sequer chegam para fazer uma série consistente, melhoraram. O que acontece é que em cada ano que passa na crise, as suas principais vítimas ficam pior, deixadas para trás pelo embandeirar em arco e pela perda de atenção da comunicação social, que não lhes encontra novidade.
Um exemplo para quem esteja atento a “outras” estatísticas menos gloriosas, como aumento de percentagem dos incumprimentos na banca, o aumento de penhoras no fisco, a falência de pessoas e famílias. O que se passa é que para muitas pessoas e famílias da classe média que ainda tinham poupanças e suportaram 2012 e 2013, chegados a 2014, tornaram-se insolventes quando chegou o IRS. Ou as centenas de milhares que só agora deixaram de receber o subsídio de desemprego, desempregadas que ficaram nos primeiros anos da crise, e que vão engrossar aqueles que não vem nas estatísticas de emprego. Como é que vão viver? Não se sabe.
Para muitos milhares de portugueses este ano de 2014 é o primeiro ano trágico da sua vida. Encontram algum reflexo disso nas notícias que abrem os telejornais? Nada.