ABRUPTO

20.4.14


 

40 ANOS DE 25 DE ABRIL (1)


 Em vésperas das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril é natural que todos os demónios se soltem. Há várias razões para que as actuais comemorações do 25 de Abril sejam as mais importantes de sempre no plano político. Não sei se vão ter eficácia para os objectivos dos seus proponentes, quer os que as querem evitar cuidadosamente fazendo umas vénias de circunstância, quer os que esperam grandes mobilizações. O 25 de Abril como evento histórico assume hoje um largo consenso, embora o seu simbolismo no discurso político actue como factor de divisão. Parece uma contradição, mas não é. São duas coisas diferentes. 

O inquérito do ICS, divulgado pelo Expresso, revela que o 25 de Abril, enquanto acontecimento já envolvido pela história, não divide os portugueses. Porém, é só esperar pelos próximos dias, à volta da sessão na Assembleia da República e com as manifestações “populares” habituais, cuja dimensão é fácil de prever que vai ser grande, para retirar a conclusão de que a data e a sua interpretação vão polarizar uma parte da elite política e social portuguesa. E essa polarização é tudo menos amável. 

OS 40 ANOS DO 25 DE ABRIL (2) 

 
A esquerda criou para si própria um handicap no modo como nomeia o 25 de Abril. Fez sempre como na história do Pedro e o lobo, tanto berrou que vinha aí o lobo que agora que ele aparece de facto, ninguém acorre ao seu chamamento. E o lobo que vem está muito para além do conflito esquerda-direita, tendo sido aliás mais claramente identificado à direita do que à esquerda. Por isso, a natureza da polarização que tem sentido à volta do 25 de Abril está muito para lá dos temas habituais do “Portugal de Abril”, interpretado pelo PCP, pelo BE e timidamente pelo PS. Envolve a questão da independência e soberania nacional, do modo como se entende o contrato social, mais do que o “estado social”, da saúde da democracia portuguesa. Advém mais do “democratizar”, do que do “desenvolver”, na lista dos 3 Ds. E isso implica uma nova formulação política mais abrangente do que as divisões entre o 25 de Abril pomposo e oficial e o das “comemorações populares”.

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© José Pacheco Pereira
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