ABRUPTO

12.10.13


O GOVERNO (?) A VOO DE PÁSSARO  (1)


Vamos imaginar-nos longe, em cima, não precisa de ser em Sírius, mas na célebre altura do voo de pássaro, e observar aquilo que em Portugal passa por ser governo, é chamado governo, à falta de outra palavra qualquer. 

Temos um Primeiro-Ministro? Tenho muitas dúvidas que o nome corresponda à função. Passos Coelho só aparece na função de quinze em quinze dias na Assembleia da República, mas podia ser mais um deputado do PSD, que não faria muita diferença. Na Europa, sabemos que entra mudo e sai calado nas reuniões, talvez porque se sinta pouco à vontade junto dos outros Primeiros-ministros. Percebo bem que sim. Cá dentro que função é que tem? Relações com a troika? Não, é com Paulo Portas. Concertação social? Não, é com Paulo Portas. Condução da política económica? Não, é com Paulo Portas. Condução política? Não, é com Portas e Maduro, cada um para seu lado. Finanças? Não, é com Portas e Maria Luís, não se sabendo se é cada um para o seu lado. Relações com o Presidente da República? Sim, mas como o Presidente está sempre a sugerir que não sabe ou não é informado, como devia, também não me parece que haja muito a esperar. Coordena o Conselho de Ministros? Duvido que se possa chamar “coordenação”, visto que o papel do Conselho é escasso, os ministros actuam isoladamente, e é o ministro Marques Guedes que faz muito desse trabalho. 

Que faz pois o Primeiro-ministro? Telefona a muita gente? Sim telefona, comenta as notícias. Escolhe os “recados” a dar? Sim, alguns. Passa o dia com o seu assessor de imprensa, com a obsessão pela comunicação social que tem a sua geração de políticos? Sim. Que ouve alguns interesses, ouve. Que veta algumas escolhas, veta. Que faz outras, faz. Mas quando se quer saber quem decide o quê, aparece um pântano de vazios, fugas, irresponsabilidades, foi ele e não fui eu. Como é que surgem decisões como a do corte nas pensões de sobrevivência? Não se sabe muito bem. Que vem das negociações com a troika, vem. Que passa por Maria Luís e Passos Coelho, passa, que se passeia de Harley-Davidson diante de Mota Soares passeia-se, que chega a Portas por “desenhar”, seja o que for que isso signifique, chega. Mas isto é pouco. Como é pouco o que se sabe sobre a governação, ou a não-governação. Tudo está envolto em enganos, passa-culpas , avanços e recuos, e impunidades várias. No centro, como o vazio no meio da roda, está Passos Coelho.

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© José Pacheco Pereira
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