ABRUPTO

26.8.13


PREÇOS DA COBARDIA  (2): DECISÕES ADIADAS E CONFLITOS 

Ambas as decisões são aquelas que vão de facto materializar a fusão e, quer uma quer, outra mexem com poder de facto. No nome, o poder é simbólico, mas já houve cenas de pancadaria para decidir se uma barragem se chamava Crestuma ou Lever, e há mortos na história recente dos conflitos locais. Ora não é de prever que a solução provisória, a medo também, que deu origem a nomes como União das Freguesias de Santa Iria da Azóia, São João da Talha e Bobadela, possa subsistir muito tempo. Apenas em Lisboa, que fez o processo a tempo e sem a pressão de dar alguma coisa à troika, esse problema foi resolvido. 

Depois, há a mais complicada das decisões, a relativa à sede da freguesia. Esta é uma questão muito delicada visto que, com a desertificação do país de correios, serviços administrativos, tribunais, postos de saúde, a localização da sede da freguesia numa área que era antes ocupada por duas ou várias freguesias significa uma perda de qualidade de vida nas freguesias que ficam sem junta aí localizada. As juntas de freguesia ainda são uma das raras fontes de serviços, efectivamente próximos das pessoas, e que as ajudam a preencher os papéis dos impostos, a guardar o correio, a executar algumas tarefas burocráticas e a cuidar da “terra”. 

O resultado destes adiamentos cobardes é que, em muitas freguesias fundidas, as listas, em particular as listas de independentes, são expressão encapotada de grupos de uma junta extinta contra outra, esperando os seus proponentes que a vitória eleitoral lhes dê vantagem na decisão a posteriori quanto à localização da sede da freguesia. Isso transporta um intenso e muitas vezes agressivo localismo para a decisão eleitoral, ultrapassando as divisões ideológicas e partidárias, fazendo votar aldeias e vilas umas contra as outras e tornando o resultado eleitoral numa “vitória” não de pessoas, partidos ou sensibilidades locais mas num conflito local. Os efeitos no dia seguinte aos resultados eleitorais são imprevisíveis, mas há pessoas tratadas de “traidores” quando participam em listas entendidas como sendo da “outra” antiga freguesia, agora vista como inimiga.

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© José Pacheco Pereira
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