ABRUPTO

10.8.13


O NAVIO FANTASMA (32): NÃO HÁ FOME QUE NÃO DÊ EM FARTURA


Antes, dizia-se, o problema do governo é que não "comunicava". Agora, diz-se,  o problema do governo é que "comunica" demais. Como se sabe nunca fui dessa escola da "comunicação", que tem muitos mentores em comentadores e jornalistas que  repetem este argumento, poupando assim a substância das políticas a favor da coreografia. 

Na verdade, nem é uma coisa nem outra. O problema nunca foi o de "comunicar", mas da qualidade da política. Se a política é má não há "comunicação" que a salve. Mesmo o que "comunica" a seu favor segue pelos piores caminhos, os da demagogia, do fascínio do poder, da ignorância mútua e do acantonamento social de jornalistas e políticos nas mesmas experiências, vida, "cultura". E já "comunica" demais, usando as fragilidades da comunicação, o mimetismo dos defeitos dos políticos nos defeitos dos jornalistas. Que são muitos, até porque com o downgrade da governação ficam cada vez mais parecidos, "jotas" e jornalistas, deputados e jornalistas, "fontes" e jornalistas, assessores e jornalistas, agências de comunicação e jornalistas.


O que é que significa dizer que a política é má? No caso actual, é uma combinação de ideologia colada a cuspo; incompetência e ignorância; ideias superfíciais atiradas de forma experimental; indiferença perante o sofrimento alheio; hostilidade à maioria dos portugueses que são pecaminosos do lado do "estado", dos subsídios, do "viver acima das suas posses"; más pessoas e mal escolhidas; falta de ética; propensão para a manipulação e a mentira; muitos aprendizes de feiticeiro e muitos sapateiros a ultrapassarem a sua sandália. Tudo junto, explica tudo.


Há gente séria e capaz no governo? Há, há gente que se esforça por fazer o melhor pelo seu país, que sabe da sua área de governação, que mostra moderação e senso e que não precisa das piruetas da "comunicação" para ser reconhecidos como são. Só que não mandam e tem estado calados demais. Ora, o silêncio, a acedia, é um pecado mortal.



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© José Pacheco Pereira
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