ABRUPTO

27.4.13


REALIDADES DA SEMANA: 
PASSOS QUER O ESPECTÁCULO DE UM “CONSENSO”; 
SEGURO QUER O ESPECTÁCULO DA “RUPTURA”
Para Passos Coelho os desejos da troika são ordens. A troika não lhe diz para mudar a política por causa do PS, diz-lhe que é obrigação dele “envolver” o PS na política exigida pela troika, que é algo de muito diferente. A troika precisa de renovar o compromisso pós-memorando com o PS, não só porque este pode vir a governar a curto prazo, mas também porque os compromissos do PS são vitais para o cumprimento do programa já, limitando o isolamento do governo, levando a UGT a abandonar quaisquer veleidades de ir “representar os trabalhadores”, permitindo dar uma face “nacional” à política de resgate. A troika olha para além de Passos Coelho facilmente, já o faz menos em relação a Gaspar, e teme uma crise política que traria complicações ao seu poder, aqui e na Europa. É que a troika também sabe que às vezes as crises políticas aumentam o poder de negociação de uma das partes, contrariamente ao que se diz por aí, e essa parte não é necessariamente a da troika. Os aspectos políticos sobrepor-se-iam de imediato à tecnocracia e, também contrariamente ao que se diz, as nações da UE tem mais poder a nível político do que se deixarem envolver em receitas pseudo-técnicas. É preciso é exerce-lo, como a Irlanda, a Espanha, mesmo a Grécia e Chipre, tem feito, e Portugal não. 

Voltemos ao “consenso”. Para já o uso da palavra “consenso” é um erro e um engano, o que se deveria estar a dizer é “negociação” se fosse a sério. O “consenso” é um resultado máximo de um processo que ainda nem sequer começou, ou no que começou foi interrompido. Pode inclusive haver “resultados” sem haver consenso que implica um acordo pleno, quase natural entre as partes. Ao se falar apenas do “consenso” atribui-se-lhe um valor quase mágico, como se não fosse preciso nada para lá chegar a não ser existir e sentar-se numa mesa. 

Se o primeiro-ministro viesse dizer (fazer é outra coisa) que quer negociar com o PS, determinadas áreas da governação, ou seja co-governar, isso implicaria todo um tipo de atitudes que o governo nunca teve e também não está a ter. Por exemplo, apresentar ao PS propostas de medidas, as “boas” e as “más” e não só as “más”, antes de fazer compromissos com a troika. Isso não existe, nem Gaspar deixava, porque isso implicava perder o seu poder. O que acontece é que o governo compromete-se com a troika e depois quer o “consenso” do PS para encontrar formas de implementar as políticas já definidas, sem as contestar no contéudo. Elas são sempre apresentadas como inevitáveis, ou seja indiscutíveis, para o PS fica apenas ter um papel (e nem esse tem tido) de dizer se se corta nos professores ou nos enfermeiros, se se despede na função pública ou se aumenta as taxas moderadoras. Este tipo de “consenso” teria sido possível há dois anos, hoje é impossível. Vir acenar com a “viragem” para a “economia”, - e uso as palavras entre aspas porque as uso no seu envenenado curso corrente, - também é poeira para os olhos. O governo pode vir a anunciar algumas medidas de efeito escasso e futuro na economia, mas aquilo a que dedica o grosso dos seus esforços é em aprofundar a austeridade com pacotes de cortes uns atrás dos outros, para tentar encobrir os falhanços das medidas anteriores, com um efeito recessivo sempre muito mais vasto, como aliás admite o Banco de Portugal. O que estraga é sempre muito mais profundo do que pretende ajudar a salvar. 

É por isso que não há nem negociação, nem “consenso”. Ninguém o deseja, nem o governo, nem o PS. Passos Coelho precisa de colocar Seguro numa mesa consigo e tirar muitas imagens de televisão. Seguro vai lá e sai a dizer que está tudo na mesma, até porque era tão bom que as eleições fossem já. Esta é que é a realidade e não as onze incantações do “consenso”.

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]