ABRUPTO

19.4.13


OS ENORMES ESTRAGOS FEITOS AO PSD (2)


Faça-se a justiça de dizer que as raízes dessa destruição já vem de antes. Cavaco, Barroso, Santana Lopes e Menezes ajudaram muito a um processo simultâneo de aparelhizaçao e descaraterização política do partido, que de um modo geral actuam em conjunto. Perda de identidade política-ideológica, de modo a abrir caminho a todas as manobras de sobrevivência do aparelho e às suas carreiras, é um processo que caminha a par e par. A tentação que Loureiro passou a Cavaco de um discurso de back to basics, de "Deus, Pátria e Família", o culto de personalidade pessoal do "menino guerreiro", a displicência de Barroso e Lopes com um PSD classificado como de "direita", são precursores do processo de revisão constitucional de Teixeira Pinto / Passos Coelho, e do abandono flagrante de toda a tradição social-democrata no PSD de Passos. 

Tudo se abandonou: desde a noção meta-política da "dignidade humana", ao valor ético do trabalho, substituídos por um discurso economês e uma prática de voltar costas à classe média, esteio do partido, e ao seu core de self made man, entregues ao desemprego estrutural, à destruição do tecido das pequenas e médias empresas, e a todos os mecanismos que deveriam garantir, na tradição social-democrata, a mobilidade social para cima e não o empobrecimento para baixo. Se se tratasse apenas de identificar um processo tido como inevitável, ou uma impotência de momento, não se admitiria, mas compreenderia. Mas não, este "ajustamento" é visto como uma simultânea punição da classe média e um instrumento de "libertação" da sociedade que nada mais é do que uma co-gestão governativa com a troika e a banca, cuja única racionalidade é a interiorização dos interesses dos credores. Do programa genético do PSD, ou da sua tradição com origem a Sá Carneiro, já quase que não há nada no topo do partido. Estamos no período do "programa da troika é o programa do PSD", como disse Passos. Mas não é.

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© José Pacheco Pereira
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