ABRUPTO

16.2.13


O REDONDISMO NACIONAL


 O PS mostrou num processo atrapalhado e pastoso, como pode fazer bastante mal a um país que infelizmente já tem candidatos bastantes a exercerem essa maldade. Não digo que o PS fez tanto mal ao país como a governação, porque diferencio com clareza o que é do domínio do poder do que são as malfeitorias da oposição, sempre mais inócuas do que o que pode fazer quem detém o poder executivo. 

Mas o PS bem nos podia ter poupado a esta exibição completamente assente numa lógica mediática por fora, embora a realidade da divisão entre os socialistas e a lógica aparelhística sejam a realidade por dentro. É que com esta exibição, a que o nome de medíocre é elogioso, mostra uma das razões pelas quais este governo sobrevive com uma frágil, insegura, débil, comprometida, hesitante, oposição e deixa para os extremos e a rua, a resposta da raiva. 

António Costa quis e a meio deixou de querer, e isso é mortífero para quem quer e não deixou de querer. E o seu maior pecado é deixar-nos sozinhos com Seguro um dos melhores exemplos do redondismo nacional, num país com muitos candidatos à função e em que para se estar no pódio é preciso mesmo muito redondismo. Como todos os “jotas” Seguro actua em função de meia dúzia de ideias sobre a política, em particular aquilo que passa por ser “liderança”, e pelo que os jornais dizem dele. Se dizem que “negoceia”, ele estremece na afronta à sua “liderança”, e vem dar um “murro na mesa”, se dizem que ele é “fraco”, ele vem falar de alto e num discurso cheios de “eus”, “eu avisei”, como há muito disse”, “”eu propus, o governo não quis ouvir e agora faz”, por aí adiante, manifesta uma vanglória vazia que ninguém reconhece, nem sequer ouve.

 Ao fim de uma semana de encenação, Seguro e Costa produziram uma nova variante da “redação da vaca”, do género “a vaca é muito boa, porque dá leite”, etc., que pela sua vacuidade política, insisto política, não merece muitos comentários. Mas voltarei a ele, ao “documento de Coimbra”, com aquele masoquismo essencial que o comentário às vezes tem. Fico-me agora com o revelador incidente do título redondista, “Portugal primeiro”, o mesmo que Passos Coelho usou e que deve existir em múltiplas variantes em centenas de moções das “jotas” de ambos os partidos e depois, quando eles crescem em idade e funções, é transplantado para moções de distritais e federações. Como é que podia ser diferente se eles, Passos, Relvas e Seguro, são iguais, a sua literacia política é idêntica, a sua carreira semelhante que nem a papel químico? Portugal tem uma maldição qualquer em cima.

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© José Pacheco Pereira
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