ABRUPTO

1.7.12


ERA TÃO BOM SE SE ACABASSE COM A POLÍTICA


O PCP anunciou uma moção de censura e caiu-lhe meio mundo em cima. Olha o atrevimento! Ainda por cima porque a “moção não serve para nada”, porque existe uma maioria parlamentar sólida. Tudo isto está a ser dito por partidos que, todos eles, sem excepção, apresentaram moções de censura que se sabia também “não servirem para nada”. (Aliás só uma "serviu" para alguma coisa, dando a primeira maioria absoluta de sempre a Cavaco Silva.) Mas, mesmo assim, fizeram-no, por razões aliás pouco diferentes das do PCP: significa um acto de afirmação política, um momento suplementar de atenção dos media, e um confronto identitário. O PS a seu tempo também o vai fazer nesta legislatura, e também não vai “servir para nada”. 

Claro que todas as moções deste tipo têm uma parte estratégica e outra táctica. A parte estratégica do PCP corresponde a um aspecto fundamental da acção do partido, a sua função tribunícia, o reverso da “responsabilidade de partido de governo” que anima o PS. Tacticamente o PCP tem outros objectivos, a começar por criar dificuldades ao PS, que está preso numa oposição retórica e numa colaboração de facto. A moção de censura tem um papel em dificultar a vida ao PS, ampliado pelas divergências internas que se lhe conhecem. De passagem, ultrapassa o BE, preso em dificuldades e divisões, mas duvido que o BE que tenha estado muito presente na decisão do PCP. O PS sem dúvida, o BE, só de passagem.

 O PCP vive da conjugação entre uma acção tribunícia, com os seus efeitos de propaganda, identidade e afirmação, e o seu papel na protecção da sua “clientela” eleitoral, nos sindicatos e nas autarquias. Por e para isso usa a moção como instrumento. Convém não esquecer nunca aquilo que muitos comentadores esquecem quando referem o PCP: ele não está a falar para todos nós, ele não pretende que a sua “mensagem” nos chegue, porque conhece os seus limites. Ele está a falar para um dos poucos grupos políticos com uma forte identidade não apenas de pertença mais ou menos clubística, mas social. Enquanto os partidos como o PS e o PSD são partidos em que a representação social é difusa e transversal, no PCP sabe-se muito bem quem são os “seus” e o que é que eles precisam do PCP. O PCP nesta fase de defesa, mais do que de ataque, pisa só o solo que melhor conhece.

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© José Pacheco Pereira
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