ABRUPTO

15.7.12


DE ONDE SAEM OS MILHARES DE VOTOS QUE ELEGEM O CEO DO ANO? 


Neste caso é o Diário Económico, mas outros jornais fazem a mesma coisa: eleições através de votação electrónica em linha para escolherem o melhor ou o pior de qualquer coisa, ou, como é muito comum nas televisões, votações por telefone. Num caso e noutro estas votações não têm qualquer mérito nem significado, são mecanismos indirectos de financiamento, quer através do aumento do número de visitas e pageviews que valorizam as páginas na Internet para efeitos de publicidade ou através do valor acrescentado das chamadas telefónicas. 

Mas há um efeito de manipulação da opinião pública que responsabiliza estes órgãos de comunicação, porque contribuem assim para algo que nada tem a ver com o jornalismo, e está até nos antípodas de qualquer concepção deontológica ou normativa profissional. Na área económica, muito menos escrutinada do que a política, estas votações mobilizam grandes interesses pessoais e de empresas. Estes tem os meios, o dinheiro, para manipular profissionalmente os media em todo o espectro, como se dizia num relatório através da "monitorização de e-reputação pela avaliação diária de sites, blogues, fóruns e redes sociais", e da implantação de falsos comentários e outros mecanismos “negros” para defender os interesses dos seus clientes. Isto é feito, como também revelam os documentos judiciais do processo Silva Carvalho / Ongoing, quer através de grandes agências de comunicação, quer através de empresas bizarras como a Setestrelas que aparecia a tratar das “reputações” através da manipulação das redes sociais. 

Ora, eu acho completamente implausível que nos queiram convencer que muitos cidadãos saem da sua letargia habitual para irem votar às dezenas de milhares nos sites nos jornais para elegerem o melhor CEO, e que tenham, num surto inabitual de estima pelo homem que lhes aumenta a factura de electricidade, António Mexia, escolhido na primeira volta como o melhor gestor. É que o anúncio dos resultados da votação vale muito dinheiro, quase em relação inversa à “verdade” da votação que não vale mesmo nada. Ninguém controla o mecanismo da votação, que não tem qualquer fidedignidade, e que se presta a ser “trabalhado” pelas agências de comunicação. “Elas” sabem os serviços que oferecem, “eles” sabem os serviços que compram, talvez seja bom “nós” sabermos o lixo que aceitamos como sendo ouro.

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© José Pacheco Pereira
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