ABRUPTO

15.7.12


COISAS DA SÁBADO

OS FALSOS “ERROS DE COMUNICAÇÃO”
 Uma das razões porque penso que é errada a ideia de que o governo comete sucessivos “erros de comunicação”, é porque esta interpretação pretende esconder que se trata de erros políticos, que é o que o que eles são. Não é por não saber “explicar” as políticas, é porque as políticas estão erradas, ou não são aquilo que se anuncia, ou tem consequências mais que previsíveis que o governo não quer admitir e que depois chegam “de surpresa”, como o desemprego. Algumas são de duvidosa legalidade. De um modo geral, do anúncio virtual à realidade vai uma enorme distância. 

 Este receio de dar o nome às coisas é um dos aspectos menos sadios, esse sim da comunicação, dos tempos presentes, porque representa uma subserviência inaceitável a relações de força não-escritas que vem da política para a sociedade. Acresce que não é certamente por falta de profissionais de spin, assessores de comunicação e de agências de comunicações que o governo peca, já para não falar dos canais informais que mantêm com jornalistas amigos e blogues de propaganda. 

OS VERDADEIROS ERROS POLÍTICOS 

Veja-se o caso do último “erro de comunicação” do Primeiro-ministro em resposta à decisão do Tribunal Constitucional. Confrontado com aquilo que é de facto uma declaração de ilegalidade de uma sua decisão, pense-se o que se pensar da Constituição ou do Tribunal, o Primeiro-ministro revelou na sua resposta mais do que uma incompetência comunicacional. Revelou um irritado revanchismo social, que se pode traduzir nesta frase: “ai sim, pensam que vão escapar, nem pensem nisso, vão levar ainda com uma dose maior”. Já não é a primeira vez que transpira nas suas palavras a ideia que a austeridade é um acto punitivo contra uma população que “viveu acima das suas posses”, entendido como uma espécie de vingança moral do “ajustamento” sobre o esbanjamento. Já quanto aos funcionários públicos, as palavras de vingança são ainda mais duras, tratados como privilegiados por uma garantia de emprego, que o governo já tem dito ser para limitar ou mesmo para acabar, dependendo claro de tal passar no Tribunal Constitucional… 

O problema deste tipo de resposta “ai sim, então ainda vai ser pior”, dada com mais irritação do que preocupação, é que é excepcionalmente empática, ou seja, comunica muito bem. As pessoas percebem que há ali um elemento de vingança e ainda está por descobrir uma população de ratinhos de laboratório que ache em democracia que tem culpa no presente por ter vivido um pouco melhor no passado. Desse ponto de vista, o Primeiro-ministro revelou-se um excelente comunicador, mas o que “comunicou” não lhe é de todo favorável.

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© José Pacheco Pereira
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