ABRUPTO

5.4.12


COISAS DA SÁBADO: O CORNO MANSO 
 
"Si n'être point cocu vous semble un si grand bien, ne vous point marier en est le vrai moyen."
(Molière)


Num editorial escrito num tom raro na imprensa portuguesa e ainda mais na imprensa económica, Pedro Santos Guerreiro fala (e titula) sobre a “OPA do corno manso”. O “corno manso” é aqui a CGD e a sua administração. Aqui está um caso que mais que justifica o plebeísmo, quer pelo sentido, quer pela enfâse. E depois continua: 
Imagem de Sganarelle ou le Cocu imaginaire
"As OPA já não são o que eram: os negócios já só são abertos depois de fechados. A Cimpor será partida entre brasileiros, com o alto patrocínio daquela que mais jurou impedi-lo, a prestimosa Caixa. Foi bem mandada pelo Governo. Os liberais, os ufanos defensores do jogo livre - Passos, Gaspar e Borges -, revelam-se afinal vorazes manipuladores: fecharam eles o negócio com a Camargo. Um bocadinho sonso, este bom aluno. A OPA da Camargo Corrêa à Cimpor já está decidida. (…) A Caixa é um caso perdido. Foi a Caixa que matou a OPA da CSN, para proteger o Centro de Decisão Nacional, que agora entrega de bandeja. É sempre essa historieta dos centros de decisão que serve de borracha para todos os erros. Mas explique lá a lógica da batata: há dois anos, a Caixa não quis vender a Cimpor na OPA a 6,18 euros por acção (a Teixeira Duarte venderia a 6,5 euros; a Lafarge trocaria activos sob uma avaliação a 6,5 euros); há meses, o banco do Estado disse que só o faria a 6,5 euros. E agora vende a 5,5 euros. Hum… Não faz muito sentido, pois não? (…) A decisão "do accionista" é um vexame tão grande para a administração da Caixa (que obedece) (…) que de uma vez por todas se devia assumir que a Caixa não é um banco, é mesmo uma extensão do Ministério das Finanças, um pau mandado do Governo. E acaba-se com a conversa de treta da governança, da independência, do banco de mercado (…) a Caixa é um recreio do Governo. (…) A Caixa é o "corno manso" desta história: foi usada, é enganada (…), e ainda aparece na festa a rir. “ 

Este artigo rompe com uma praga da nossa vida pública: só se discute economia, macro, micro, nano, pico, mega, giga, e por aí adiante e cada vez se sabe menos e se analisa menos o que está a acontecer. Em termos económicos e em termos políticos. Quando foi da privatização de parte da EDP, fui dos pouco a pôr reservas ao festival de elogios que por todo o lado se ouviam. Tinha, infelizmente, razão, e cada vez se vão sabendo pormenores que revelam compromissos do governo, que alteram objectivamente o valor do negócio com os chineses e que foram mantidos em segredo. 

(Continua.)

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© José Pacheco Pereira
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