ABRUPTO

5.3.12


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (146):  
"COMPARAÇÕES" CRIATIVAS
A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.
Aliás, na sequência do Índice anterior, o Diário de Notícias tem outra "notícia" que revela um zelo interessante para com Passos Coelho: o acrescento à notícia da sua reeleição com 95,5% dos votos de uma "comparação" enganadora que não vi os outros jornais fazerem (caso esteja enganado peço que me corrijam). Nessa "comparação" refere-se o número absoluto de votos em Passos Coelho e compara-se com outros líderes eleitos, esquecendo este pequeno pormenor de que todos concorreram em eleições disputadas com outros candidatos, pelo que o número de votantes global era muito superior. De facto, a comparação que seria interessante era saber quantos militantes votaram no universo dos que tinham essa capacidade. Dou de barato que uma lista única, ainda por cima no actual contexto, pode explicar alguma desmobilização e não retira os méritos eleitorais da candidatura e do candidato, mas se a abstenção foi muito grande, isso tem relevo analítico e para o jornalismo, porque o "estado" do PSD como partido do poder é de interesse público. Saliente-se que aqui o Diário de Notícias foi acompanhado por outros jornais que também mostraram indiferença perante esse indicador. Mas nenhum, que eu saiba, fez esta "comparação" que, como todas as manipulações, serve para esconder alguma coisa, neste caso a eventual baixa participação eleitoral. E duvido, podendo estar enganado, que Calvão da Silva tenha feito tal "comparação" ao anunciar os resultados.

NOTA: existem na Rede algumas notícias, nalguns casos com números concretos, com origem em participantes no processo eleitoral, que mereceriam a atenção dos jornalistas, em particular daqueles que tão activos são em blogues. Não estou a dizer que as aceitassem sem contraditório e investigação, mas talvez ajudassem os leitores a compreender, mais do que o apoio a Passos Coelho, o estado de saúde do partido. Vejam-se estas considerações de um dos eleitos de ontem para delegado ao Congresso e apoiante de Passos Coelho, no seu blogue:

No entanto, esta vitória foi obtida com uma participação relativamente baixa dos militantes. Votaram menos de 20.000 militantes.

Na Secção de Lisboa (a maior do país) votaram apenas 716 militantes, de um caderno eleitoral que tinha 3751 militantes, com capacidade para votarem, o que representa uma participação eleitoral de apenas 19,09%!

Em Novembro passado, nas eleições para a Comissão Politica Distrital e para os Delegados à Assembleia Distrital, votaram 1645 militantes. Em menos de 4 meses, votaram menos 929 militantes! Ou seja votaram menos 56,5% dos militantes!
(...)
É também importante criar mecanismos que obriguem  à informação dos militantes. Não pode voltar a acontecer um acto eleitoral, com a importância do que decorreu ontem sem o envio de uma convocatória aos militantes (o que aconteceu pelo menos em Lisboa). É preciso termos a consciência que uma faixa muito grande dos nossos militantes não tem acesso ou não utiliza as novas tecnologia e que muitos dos endereços de e-mail que constam das listagens de militantes estão desactualizados.
Tive oportunidade de contactar alguns militantes nos 2 ou 3 dias que antecederam o acto eleitoral e a maior parte deles não sabia que ia haver eleições. Isto não pode continuar a acontecer.

Por outro lado, pelo menos em Lisboa, o debate politico praticamente acabou. Não houve no último ano uma única Assembleia Concelhia em Lisboa (excluindo as que, como ontem, foram exclusivamente eleitorais). A transformação das próprias Assembleias Distritais, em sessões de esclarecimento, com a presença de membros do governo e outros convidados, e que são sem dúvida importantes, não podem servir de pretexto para a não existência de verdadeiras Assembleias Distritais, que permitam o debate sobre a situação política e autárquica do Distrito.

(...)

Não posso deixar de referir a forma amadora como decorreu o acto eleitoral ontem em Lisboa. Desde a inexistência dos boletins de votos, que provocou um atraso de 30 minutos na abertura das urnas, a cadernos eleitorais com falta de mais de dez páginas (na mesa 5, onde votei), à inexistência de locais onde com algum alguma reserva se pudesse assinalar o voto nos boletins - de tudo aconteceu um pouco, o que em nada dignificou este acto eleitoral.

Também a escolha da sede do Campo Pequeno, num 3º andar sem elevador, não foi de certeza uma escolha feliz. Infelizmente votaram poucos militantes. Mas se tivesse havido uma afluência idêntica à de Novembro passado, teria sido caótico.


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© José Pacheco Pereira
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