ABRUPTO

17.3.12


COISAS DA SÁBADO: A CAMPANHA

Há um aspecto preventivo no que disse o Presidente sobre Sócrates, que tem merecido pouca atenção para os momentos de hoje: o Presidente considera obrigação do Primeiro-ministro informá-lo de tudo o que considere relevante para a política externa e interna. Sem excepções. Alguns “politólogos” vieram com o argumento formal de que a Constituição a tal não obriga, mas tal parece-me absurdo visto que, se o primeiro-ministro não se sente obrigado a informar o Presidente de uma matéria como o PEC IV, então podem os dois passar o tempo a passear nos jardins, que o nosso sistema político transformou-se numa outra coisa que não é o equilíbrio de poderes actual. Fica pois o aviso para a navegação dos dias de hoje: o Presidente exige ser informado, sob pena de considerar “desleal” a atitude do governante em funções. 

E, neste contexto, a última coisa com que o presidente pode ou deve estar preocupado é com as sondagens. O exercício da função presidencial nestes tempos difíceis tem muito pouco a ver com a popularidade. Ele sabe melhor do que ninguém que o relativo sucesso do cerco que lhe tem sido feito resulta de algo que em Portugal de um modo geral tem sucesso: uma coligação de críticas do PS e do PSD, aliada à hostilidade tradicional de uma esquerda cada vez mais radicalizada. A chave aqui é o PSD. 

O que deixa a sensação de solidão presidencial é o papel evidente para os mais atentos, mas ainda despercebido para a maioria, do PSD, hoje no poder, no ataque ao Presidente. Quando aparece uma notícia dizendo que a direcção do PSD mandou “calar” as críticas a Cavaco Silva, podem ter a certeza que é dela e da sua postura que nascem essas críticas. Não é novidade, e é um dado perene da actual conjuntura, quer no PSD, quer na Presidência, e enquanto não mudar nenhum dos dados dessa conjuntura, a conjuntura é a estrutura. A razão é simples: enquanto Cavaco tiver força, o governo sentirá a sua liberdade de actuação limitada. O Presidente actuará sempre numa lógica distinta do governo. Distinta, mas não necessariamente contraditória, por razões institucionais resultantes do exercício da função presidencial. Como a tendência para absolutizar o poder aumenta em momentos de crise, uma parte do PSD fará tudo para enfraquecer o Presidente. Até porque o Presidente preocupa mais o PSD governante do que o PS que hoje existe.

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© José Pacheco Pereira
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