ABRUPTO

24.2.12


DANÇAR COM OS LOBOS  (2)

Liberty for wolves is death to the lambs. (Isaiah Berlin)

DANÇAR COM OS GREGOS 


Dancem, dancem… que isto um dia acorda muito torto. Muito torto mesmo.

Os gregos vão ter mais um plano irrealista de “ajustamento”. Se fosse apenas um plano de “ajustamento”, vá que não vá. Mas é um plano irrealista, por isso é uma receita para o desastre, ou melhor, para a continuação do desastre. Obrigar os gregos a destruirem parte da sua economia que, mal ou bem ainda funciona, para baixar a dívida de 160% para 120,5% até 2020, é uma impossibilidade que pode atrair os partidários do “economês”, mas põe os cabelos no ar do cidadão “senso-comunês”. Diga-se de passagem, que nós não podemos falar muito porque vamos assinar um “pacto orçamental” com idênticas medidas irrealistas. 

Vão ter uma variante do gauleiter, ou seja, no eufemismo tecnocrático, vão ter uma “presença permanente" para os vigiar. São eles que vão governar a Grécia em nome dos credores, o povo grego passa a sujeito e súbdito. Há quem diga “é bem feito” porque andaram a viver à custa do que não tinham. Diga-se, mais uma vez, de passagem que o mesmo se diz de nós, lá fora e cá dentro. Mas quem diz que “é bem feito” devia ser declarado inimputável, porque não sabe o que diz e em que caldeirão de feitiços está a meter a colher. 

Vão ter que mudar a Constituição á força, o que é o supremo vexame para quem acha que as Constituições são mais do que um textozinho precário e que mexer nelas é intrinsecamente um elemento de soberania nacional. Nós também não podemos falar muito porque aceitámos o mesmo diktat. O objectivo é incluir na Constituição uma “regra da prioridade absoluta ao pagamento da dívida”, um absurdo constitucional, uma maneira de afixar na porta da Grécia que esta já teve a visita do cobrador de fraque e este obrigou-a, por escárnio, a anunciar isso numa tabuleta.

*

Lendo os "posts" acima, lembrei-me dum mail muito curioso que recebi sobre como se forma um paradigma. Cruzando-o com estes seus 2 "posts", realmente as palavras têm muito mais poder do que aquilo que lhes atribuímos.

Ainda esta semana escrevi numa caixa de comentários de um artigo de opinião "postado" na edição electrónica de um jornal de economia. Não usando pseudónimos ou outras capas, escrevi um comentário de resposta a um comentário.

Não apoiei o articulista nem insultei o opinador a quem respondi, apenas fui questionando, na troca de comentários subsequente que o mesmo me concedeu, as minhas dúvidas sobre a "receita" económica que está a ser aplicada a Portugal e à Grécia e se não haveria outro caminho possível, nem que fosse mudando de paradigma.

Quase todas as minhas interrogações foram ignoradas, ficando como resposta à última, um simples "Não há outro caminho". A este, vendo que tinha chegado a uma parede ideológica (sem qualquer ofensa para o meu interlocutor que escreveu ao abrigo do manto de um "nickname"), deixei um último "post" onde deixei expresso o meu receio que a Grécia seja Portugal com algum tempo de avanço (a expressão é de Miguel Portas e parece-me adequada para ilustrar o pensamento). Porque o facto de amanhã os meus filhos, mesmo não vindo a passar pela situação, poderem ter colegas que desmaiam de fome na escola, não me descansa nada, mesmo nada!

O resultado de tudo isto foi a eliminação sistemática de toda a sequência de posts, ficando a caixa de comentários apenas com os (infelizmente) já típicos comentários de insulto ao articulista e nada mais.

A minha interrogação é esta: Independentemente do como se chegou a este ponto de intolerância, como é que se dá faz evoluir um País e construir um espaço onde as pessoas vivam felizes e realizadas? Como é que se pode fazer evoluir o pensamento de uma sociedade no sentido de uma maior tolerância e cooperação entre pares, mesmo havendo naturais divergências de pensamento?

Ou estaremos condenados a um monocromismo ideológico que quando substitui o anterior tudo arrasa para começar de novo e quando é substituído pelo seguinte, idem idem aspas aspas?

Não haverá por aí, neste mundo tão grande, bons exemplos de modelos de sociedade que mereçam ser evidenciados e copiados?

João Miguel Pereira Louro


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