ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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24.2.12
DANÇAR COM OS LOBOS (1)
Liberty for wolves is death to the lambs.
(Isaiah Berlin)
DANÇAR COM AS PALAVRAS
O problema com as palavras é que elas mandam mais em nós do que o que supomos. São como uma variante mais mansa do Id freudiano, não sabemos que ele lá está, nem o que é (é o animal em nós), mas que manda mais do que o ego, essa nossa gigantesca ilusão, manda. Pois as palavras são assim. Dizemos de uma coisa que é “irremediável” e deixa de ter sentido procurar remédios. Dizemos de uma coisa que é “inevitável” e deixamos de fazer qualquer esforço para a evitar. Dizemos de uma coisa que é “irrealista” que mude, e logo a realidade se impõe sem apelo nem agravo.
É assim que o discurso oficial trata o desemprego: é “irremediável” que vai haver aumento do desemprego; é “inevitável” que mais uns milhares de pessoas fiquem sem emprego por dia. É “irrealista” pensar que é possível fazer alguma coisa para travar o desemprego, e nada se faz a não ser algumas coreografias de circunstância. Como é óbvio, assim o crescimento acelerado do desemprego é inexorável, irremediável, inevitável e está na natureza dos factos, é a realidade. Não adianta lutar porque lutar é esbracejar e o governo não esbraceja, mas os desempregados vão gloriosamente ao fundo. A culpa é das palavras. Elas tomam-se a sério, nós é que dançamos à sua música.
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© José Pacheco Pereira
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