ABRUPTO

11.2.12


COISAS DA SÁBADO: O CARNAVAL


Acabar com as tolerâncias de ponto, que são só e apenas “tolerâncias”, é inevitável quando se está a acabar com os feriados. Na actual situação económica e financeira, é uma medida inevitável e aceitável. Infelizmente, nos dias de hoje as medidas aceitáveis estão a ser vendidas com uma carga punitiva que acaba por as tornar muito mais conflituosas do que seriam se o governo se limitasse a decidir com discrição e reserva em vez de nos dar uma lição de moral por junto. 

Mas uma coisa é a justeza da decisão de acabar com a tolerância do Carnaval, outra é a má qualidade da implementação da decisão. A forma como esta decisão foi tomada e anunciada é um case study de incompetência. É que uma coisa é o domínio da ideologia e do discurso punitivo, outra a qualidade da governação. Pode acaso saber-se a razão pela qual as tolerâncias de ponto, mais ou menos institucionalizadas como é o caso do Carnaval, não foram levantadas a tempo e horas quando se começou a discutir os feriados? Desde Outubro de 2011 que tal era suposto acontecer e, pelo menos minimizava os prejuízos com contratos e despesas entretanto feitas. Agora fazê-lo em vésperas dos Carnavais preparados, que têm também valor económico para muitas localidades, é pelo menos negligência pura. Por outro lado, o Governo parece desconhecer que, se para os funcionários públicos o Carnaval é uma “tolerância” (e lá vão os deputados pressurosos mostrar que eles também são funcionários públicos…), para muitas das áreas da nossa economia ele está contratualizado em acordos de empresa e sector. Uma parte importante da economia nacional, incluindo a principal exportadora a AutoEuropa, assim como a Secil, a Cimpor, a Brisa, a banca, os seguros, o pessoal das autarquias com festas organizadas (pelo menos Ovar, Torres Vedras, Mealhada, Carregal do Sal, Loulé e Sesimbra) e muita da construção civil, fecha no dia de carnaval. O resultado é dar uma imagem pública de desigualdade, caos e falta de autoridade, que funciona também como um irritante inútil.

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© José Pacheco Pereira
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