ABRUPTO

18.2.12


COISAS DA SÁBADO:
 TALVEZ NA GRÉCIA FOSSE POSSÍVEL FAZER DE OUTRA MANEIRA (4)

A COLOSSAL DIFERENÇA 

O que isso significa é que se esta opção fosse tomada quando começou a crise grega, quase tudo se passaria de forma idêntica, a austeridade em particular. Porém haveria vantagens competitivas que a economia grega poderia tirar de passar a ter moeda própria. Mas há uma diferença abissal, entre fazê-lo como resultado de medidas impostas pela troika europeia e os alemães que nela mandam, ou de fazê-lo por medidas do seu próprio governo, por confusa e “ineficaz” que fosse a política interna grega. É essa diferença, a que chamei abissal, ou colossal, e que cada dia é mais operativa na vida política grega, na opinião pública e na “rua”. É que seriam gregos a cuidar da casa grega, com plena responsabilização de políticos e partidos, e não estrangeiros que cada vez mais o grego comum transforma num inimigo. 

 Os inquéritos de rua mostram como a cada vez maior legitimação da violência vem de, aos políticos “ladrões” e incompetentes, se juntarem os políticos “traidores”, os que aceitariam um gauleiter alemão a controlar a Grécia, ou que procedem como se ele já existisse. Num país como a Grécia isso deixa muito poucas hipóteses de saída, uma das mais prováveis é um golpe militar que acabaria por ter uma dupla vertente de “por ordem nas ruas” e nos políticos, e de ser de carácter nacionalista, para “salvar a Grécia”.

 O nacionalismo grego sempre foi um factor trágico, sentido como dilacerando a “alma” nacional, na história do século XIX e XX. A Grécia começou o século XX com uma tentativa de ser uma Grande Grécia, com a anexação falhada da antiga Jónia, então e hoje turca, com custos enormes em vidas e na destruição da diáspora grega na Anatólia com dois mil anos, continuou com uma vida política tumultuosa, uma invasão alemã que acabou com os judeus de Salónica, seguida de uma guerra civil com os comunistas que apenas acabou com uma nova intervenção militar estrangeira, uma monarquia importada, um golpe militar dos “coronéis”, seguida desta actual desgraça. É um dos últimos países da Europa onde os alemães podem aparecer como mandantes, coisa que a ignorância da história acaba por levar muitos dirigentes europeus a minimizar o factor nacional.

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© José Pacheco Pereira
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