ABRUPTO

10.2.12


 
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O número zero dos Estudos Sobre o Comunismo saiu em Julho de 1983, fará em 2013 trinta anos. Do seu Conselho de Redacção faziam parte Fernando Rosas, Rogério Rodrigues, Maria Goretti Matias,  António Moreira,  José Alexandre Magro (“Ramiro da Costa”).  Manuel Sertório e eu próprio, que era o seu director. Era um grupo heterogéneo, mas na sua maioria tinha passado pela oposição à ditadura antes do 25 de Abril.  O decano do grupo, mais velho do que todos os outros, era Manuel Sertório, um militante da oposição portuguesa com um papel muito importante na Seara Nova, no exílio de Delgado no Brasil, nos eventos  da FPLN em Argel. Desde meados da década de cinquenta,  não há história da oposição sem Manuel Sertório e até praticamente à sua morte, o seu companheirismo e o seu testemunho foram fundamentais. A ele se juntavam Fernando Rosas, que tinha vindo do MRPP e iniciava a sua carreira académica, António Moreira e José Alexandre Magro, ambos com publicações na área da história do movimento operário, e que tinham sido militantes da UDP, Rogério Rodrigues que escrevia sobre o PCP no jornal O Jornal e Maria Goretti Matias a trabalhar na génese daquilo que viria a ser o arquivo do ICS.  Muitos outros amigos colaboraram com a revista, no arranjo gráfico, com artigos e com outros contributos.

Fora de Portugal Annie Kriegel e Stephane Courtois, cuja revista Communisme tinha servido de inspiração aos Estudos, apoiaram sempre a iniciativa. A seu convite participei nos seminários que Kriegel organizava em Nanterre, e, com Stephane Courtois, em várias actividades na França e na Alemanha, com o objectivo de criar uma rede de estudos a nível europeu sobre o fenómeno do comunismo, fora da história “oficial” e do proselitismo anti-comunista, a tenaz que durante muito tempo condicionou a análise de um dos fenómenos mais importantes do século XX. Um dos frutos destas iniciativas veio a ser o Livro Negro do Comunismo e, mais tarde, a explosão documental que o fim da URSS e do “sistema comunista mundial” (a expressão era de Kriegel) trouxeram, tornando obsoletos muitos estudos anteriores a 1991.

Publicar  em 1983 uma revista como esta tinha dificuldades inimagináveis nos dias de hoje. O “campo” de estudos académicos do comunismo em Portugal não existia, muito menos o dos estudos sobre o PCP. Mais do que ser pioneira nessa matéria, – a revista “abriu” toda uma temática da história contemporânea, – a sua própria existência era entendida na época como uma provocação pelo PCP e pela esquerda radical, isto numa altura em que estas instituições eram muito mais poderosas do que nos dias de hoje e detinham uma forte hegemonia nos meios intelectuais. À direita este tipo de “estudos” eram tidos como academicamente impuros. A história académica do período contemporâneo era dominada então pelo estudo do Estado Novo., muito mais pacífico do que a do comunismo. Tudo isto está felizmente  no passado, mas não totalmente. O facto do PCP ser um dos poucos partidos comunistas sobreviventes em todo o mundo que ainda mantém fechados os seus arquivos, continua a funcionar como um bloqueio para o aggiornamento da sua história, prendendo-a ainda no ciclo de “revelações” e negações, de que de há muito se libertou a história do comunismo em muitos países.

Os Estudos sobre o Comunismo existem na Rede desde 2003, numa primeira série digital (2ª se contarmos com a de papel)  aqui e numa segunda série aqui,  com altos e baixos até 2009, altura em que a manutenção do EPHEMERA  me levou a deixar de a actualizar. Embora o problema do tempo continue sempre cada vez mais premente, vou tentar retomar este trabalho que, nos primeiros tempos, será ainda muito imperfeito. Há bibliografias para actualizar, sistemas de categorias por aperfeiçoar, ligações a verificar e a actualizar, e muito material recolhido nos últimos três anos por publicar. Pouco a pouco, talvez se consiga retomar uma sequência regular.

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© José Pacheco Pereira
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