ABRUPTO

12.12.11


 EU SEI QUE NÃO VALE A PENA

Parece que incomodo uns radicais de esquerda e outros de direita, muito irmanados nos ataques ad hominem. Percebo muito bem porquê: conheço-os bem demais do que eles gostariam que os conhecesse. Eles sabem disso e incomoda-os, porque os tomo ao ridículo e eles tomam-se demasiado a sério. Para além disso, há uma frase de George Bernard Shaw que contém uma verdade muito universal: “I learned long ago, never to wrestle with a pig. You get dirty, and besides, the pig likes it”. A blogosfera está cheia de exemplos de que “eles gostam” e de como se promovem assim. Por isso, por regra, nunca respondo 

Há porém agora uma nova versão destes ataques que é a invenção de histórias falsamente testemunhais em que apareço como parte e que são, pura e simplesmente, inventadas. Nem sequer são apenas deturpadas, falsas, são inventadas. De uma ponta a outra. E como na Internet nada se cria e tudo se transforma, elas circulam repetidas dia a dia ganhando nessa repetição o estatuto de verdadeiras. Desde os 20.000 livros que eu teria dito ter lido, história que Baptista Bastos repete ano sim, ano não, mesmo depois de eu lhe ter perguntado onde é que tinha ido buscar tal "afirmação" e ele não ter respondido, às várias  audições "embevecidas"  de Duarte Lima a tocar órgão, igualmente inventadas, por aí adiante.

Talvez o melhor exemplo é uma história  retirada do livro da Zita Seabra, que se percebe no contexto, porque era assim que uma comunista do PCP pensava em 1965, - (como é que era possível que alguém conhecesse Marx e não quisesse fazer parte do glorioso partido da classe operária?), - mas que contém suficientes incongruências cronológicas para não ser tomada a sério. Aliás, já a desmenti várias vezes, inclusive numa entrevista recente ao i, mas lá está na minha “biografia” da Wikipedia e um pouco por todo o lado. Só quem não viveu aqueles tempos é que pode pensar que os mais de seis anos passados entre o princípio da história e o seu fim não fossem seis séculos em que tudo mudou e tudo estava mudado. Mas não é a veracidade da história, desta e doutras,  que as fazem circular, é a vontade de alguns de que sejam verídicas porque lhes é útil, um mecanismo muito comum na propulsão destas “histórias”. 

De vez em quando aparece outra. Uma delas, com origem num blogue extremista de esquerda, envolve um morto que não pode ser chamado à colação, André Martin. Martin teria contado a terceiros uma conversa comigo na TSF, que, ou foi inventada por ele, ou por quem a relata como se fosse dele. Qualquer pessoa que me conhece sabe que tal conversa seria impossível comigo, ponto final. Aliás, como quase todas as histórias inventadas, é demasiado perfeita para ser verdadeira. Gozar alguém por ser torturado ou com alguém que fala com sotaque, é uma impossibilidade num ou noutro caso. Juntos os dois casos, porque, como é tudo invenção, valem o mesmo. Sei o bastante sobre a tortura na América latina para nunca o fazer, e gosto de sotaques, pouca sorte para os inventores desta história. Não excluo a hipótese de Martin, com quem praticamente nunca falei a não ser bom dia e boa tarde, a ter inventado. Há um mecanismo psicológico que faz com que as pessoas inventem “factos“ que as relacionam com alguém que tem a maldição de ser demasiado conhecido, quer positiva, quer negativamente. Já não é a primeira vez que isso me acontece e não será a última. Sei também que não adianta desmentir nada, a história, essa e outras, continuarão a circular. Como disse antes, é a vontade de alguns de que seja verídica, que a faz circular, porque isso é útil para os ataques de carácter.

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© José Pacheco Pereira
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