ABRUPTO

31.12.11


COISAS DA SÁBADO: O ESTADO DAS ARTES


PSD 

O PSD estando no governo está bem e recomenda-se, quase no inverso de como está mal na oposição. Na oposição, prima a intriga pelos bens escassos e o “protagonismo” pelo poder de os distribuir, no governo, a obediência e a gestão cuidada de tudo, palavras, gestos, falas e silêncios é a regra de sobrevivência. 

O seu conteúdo genético e programático está em extinção, não tanto por causa do apregoado liberalismo dos seus dirigentes actuais, mas pelo mesmo que já vem a miná-lo há muitos anos, o oportunismo político, a adaptabilidade primeira à lógica do poder e, só em décimo lugar, às ideias políticas, materializado numas centenas de pessoas que do Norte ao Sul do país fazem do PSD a sua profissão de sucesso. A transformação de Sá Carneiro num ícone empalhado, que não é lido, nem conhecido, nem estudado, a que se fazem umas comemorações rituais destinadas sempre a legitimar o poder, é o melhor exemplo dessa devastação ideológica e política em curso. 

O aparelho detém todo o poder e quase não há respiração fora dele. No governo, mais do que o Primeiro-ministro, funciona o ministro do aparelho em tudo o que é sensível, movimenta interesses e lugares, “posiciona” para o futuro. Muita gente pensa sempre com aquela complacência de achar que há quem faça e há quem seja enganado, ou não saiba, ou não conheça. No caso vertente, a formação do Primeiro-ministro, e do seu principal executor é exactamente a mesma. Podem ter a certeza absoluta que ambos, ambos, ambos, sabem de tudo. Fizeram-se lá e sabem muito bem como se fizeram.

No PSD e no PS, a realidade aparelhística faz com que o partido quase não tenha espaço para mais nada que não sejam as carreiras internas, as oportunidades e interesses internos, as colocações de lugares no estado e no privado por via do poder partidário, cujo já está numa fase quase dinástica. Toda a gente que conhece o interior do partido sabe disto, e fala disto, sem qualquer hesitação mas, para sobreviver, não o diz.

(Continua.)

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© José Pacheco Pereira
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