ABRUPTO

8.12.11


COISAS DA SÁBADO: A EXIGÊNCIA DO REFERENDO 


Vem aí um novo Tratado europeu imposto pela Alemanha como condição para que possa haver um “governo económico europeu” e que sejam tomadas medidas para “salvar” os países periféricos endividados e a moeda única. Conhecem-se em linhas gerais as intenções deste novo tratado, embora ainda se esteja longe de saber como será, ou mesmo, em bom rigor, se irá avante, dadas as objecções britânicas. Não se sabe também se o Tratado se aplicará apenas aos países da zona euro ou a toda a UE. Com excepção da Alemanha, a perspectiva de um novo Tratado, ainda não arrefecido o nado morto Tratado de Lisboa, apavora todos os chefes de governo europeus, que sabem que há muito tempo andam sobre uma fina placa de gelo, dado o crescente divórcio entre as suas decisões europeias e as opiniões públicas dos seus países. Todos eles, a começar por Sarkozy, fizeram um verdadeiro número de circo para evitar referendos ao Tratado de Lisboa. No caso inglês, Cameron viu-se aflito para quebrar as suas promessas eleitorais de fazer um referendo e sabe que pode contar com uma grande oposição dentro dos conservadores. Nos outros países, os da ala dos necessitados, incluindo Portugal, a atitude é engolir tudo em nome dessa mesma necessidade, com o desespero como conselheiro maligno. Uma elite que jura pela pátria todos os dias ao pequeno-almoço, muito embrulhada na bandeira verde-rubra, depois acha que tudo é aceitável para ter almoço, lanche, jantar e ceia. Aliás, em muitos países é só esperar para ver crescer movimentos nacionalistas e populistas anti-europeus, tendo como alvo a Alemanha e os actuais dirigentes europeus e sequiosa de atirar fora o menino e a água do banho 

É por isso que, a confirmarem-se as disposições conhecidas do novo Tratado em preparação, mais do que nunca se justifica um referendo. Se os anteriores Tratados já o justificavam, este ainda mais o exige. E o mais estranho e doentio nos dias que hoje correm é que esta proposta que parece capaz de, caso haja um “sim” reforçar como nunca a legitimidade do processo europeu, e caso haja um “não” obrigar a outras soluções nos âmbito dos tratados actuais, seja recebida como sendo de um extremismo irresponsável. Na verdade, quem a recusa in limine acha que a resposta será certamente um “não” e como não querem essa resposta, que perturba os grandes planos de fazer uma Europa federal sem apoio dos povos e das nações, nem querem ouvir falar de consulta popular. Só que o federalismo autoritário para que se caminha é um projecto de desastre ainda maior do que qualquer “não”, e acabará de vez com a UE e com a paz que ela tem proporcionado às sempre beligerantes nações europeias. Quem vos avisa, vosso amigo é.

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© José Pacheco Pereira
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