ABRUPTO

16.12.11


COISAS DA SÁBADO: A DOENÇA QUE ROÍ POR DENTRO A UE…


… vai tornar inútil quase tudo o que foi decidido na cimeira da “última oportunidade”, como aliás os temíveis mercados já começaram a mostrar. A cimeira assentou num diagnóstico errado, logo numa terapêutica igualmente errada e depois foi conduzida de maneira tão autoritária por Sarkozy e Merkel que conseguiram a alienação do Reino Unido, um soar de finados sobre a Europa. Para além disso abriram uma caixa de Pandora de problemas institucionais, legais, constitucionais e de legitimação política, pura a simplesmente gigantescos. Cegueira pura e cegueira deliberada, porque todas as prevenções foram feitas em devido tempo.

A doença é outra, de natureza muito diferente das maleitas que têm sido diagnosticadas pelos europeístas mais extremos, e tem a ver com o modelo europeu, a posição da Europa num mundo globalizado, a crise da indústria europeia, os problemas de competitividade gerados pelo “modelo social” e pela demografia e por aí adiante. Nenhum destes problemas precisa, para ser defrontado, de novos tratados ou alterações dos tratados. Precisa de vontade política, prudência e “espírito europeu”. 

Para os europeístas extremos, o que falta é ir mais longe no federalismo, é haver “governo económico”, emissão de moeda do BCE ou eurobonds, tudo soluções que levantam dois problemas que, esses, ninguém quer defrontar. Um é que o federalismo e o “governo económico” não correspondem à vontade dos povos e das nações e só encontram verdadeiro entusiasmo numa minoria muito minoritária de intelectuais, funcionários e políticos que sonham com uns Estados Unidos da Europa, e em países endividados que estão dispostos a tudo para aliviar as suas finanças, mesmo a prescindir da sua soberania e da sua democracia. É aqui que o primeiro problema remete para o segundo: é que todas as medidas propostas têm um ónus: são os alemães a paga-las.

A questão não é a Alemanha não querer soluções como a emissão de moeda pelo BCE, com a inflação que isso traria, ou os eurobonds que agravariam o preço do dinheiro dos alemães que tem tripo A, ou incumprimentos sem sanções, é que todas estas soluções assentam num facto indesmentível: sem haver alemães a pagar do seu superavit o deficit alheio, não há “governo económico” possível. Esta realidade poderia ser ultrapassada se o projecto europeu de coesão social estivesse vivo, mas foi morto na última década pela engenharia utópica de um upgrade europeu que ninguém desejou, nem validou. Agora é interesse nacional, versus interesse nacional, sem ecrã, sem mediação, sem moderação. Os países que se preparam para assinar um acordo de divisão da Europa, vão institucionalizar este sistema e matar de vez a UE.

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© José Pacheco Pereira
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