ABRUPTO

6.11.11


“GUERRINHAS”



A concertação social pode ser, em grande parte, uma ficção, mas a democracia vive dessas ficções que incluem elementos de procedimento que são vitais para que o jogo de interesses contraditório não resulte de imediato em conflitualidade social. O modo como o governo tem vindo a lidar com a concertação social mostra uma profunda incompreensão do que se está passar ”lá fora” e uma ideia muito perigosa sobre a impunidade social das suas medidas, mesmo quando erradas. 

As últimas declarações do ministro da Economia, então, são deitar gasolina para a fogueira, etiquetando de “guerrinhas” as diferenças de opinião mais que legítimas entre os participantes e o governo. Para além de os seus assessores de imprensa terem tentado manipular a informação sobre a reunião, dando informações erradas sobre o modo como ela estava a correr, o governo está a colocar-se de tal maneira colado às posições do patronato, que consegue ser mais papista do que os próprios patrões. A alienação dos sectores sindicais mais moderados era patente na fúria de um habitualmente calmo João Proença que acusou o governo de “brincar com a Concertação”, para impor soluções destinadas a salvar a face do Ministro, que nem os patrões acham razoáveis ou sequer eficazes. A única hipótese plausível é que o governo quer mesmo que a greve geral seja um sucesso, para exorcizar qualquer coisa, ou para colocar o que acha a incarnação do Mal nas ruas para todos o verem.

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© José Pacheco Pereira
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