ABRUPTO

2.9.11



COISAS DA SÁBADO: SECRETAS
 Existe hoje um processo muito perigoso que funde duas realidades: uma, é a desagregação dos nossos serviços de informação, rasgados pela mudança de poder dos últimos meses e pelas cumplicidades com grupos empresariais; outra, é a sua recombinação num sistema único mais facilmente controlável por quem não o deve fazer: políticos e partidos no poder. 

Comecemos pela ideia de fundir os dois serviços existentes, SIS e SIED num único, com o argumento que assim se pode poupar algum dinheiro. Tal solução é péssima, quer do ponto de vista institucional, – não é por acaso que em quase todos os países onde há serviços de informação de qualidade eles estão subdivididos essencialmente numa área “externa” e “interna” –, quer por facilitar o controlo político-partidário. 

Que haja partilha de informações e coordenação é uma coisa, outra é  uma fusão que é funcionalmente má e perigosa para as liberdades dos cidadãos. Sem controlo parlamentar, esse serviço único ficará dependente apenas do Primeiro-ministro e de alguns, ou de algum, dos seus mentores. Temo o pior, porque, sabendo-se quem são esses mentores, que sempre se habituaram a “cultivar”, em estilo de “bloco central”, os serviços de informação e a colocar lá homens de mão, sabe-se também que papel efectivo tiveram na crise actual. O pano de fundo desta crise, foi  a transumância prometida de pessoas de sua  “confiança”de uns lugares para outros. 

É por isso que a crise actual dos serviços de informação não é apenas fruto de práticas inadmissíveis de passagem de informações e espionagem ilegal, é também um elo num processo de controlo político-partidário dos serviços de informação, que, insisto, qualquer cidadão minimamente sabedor destas coisas pode bem temer. 

Temer muito.

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© José Pacheco Pereira
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