ABRUPTO

12.8.11


POEIRA: UMA CARTA

Hoje, há novecentos e doze anos, depois de terminada a batalha de Ascalon, os cruzados tinham garantido a segurança da posse de Jerusalém, concluindo com sucesso a primeira cruzada. Buccelin d'Auvergne, vindo da batalha,  sentou-se numa pedra no Monte das Oliveiras e olhou para a cidade santa. O seu escudeiro recolheu as luvas de ferro, segurou a lança, limpou o sangue infiel e prendeu o cavalo junto de uma árvore. Dois ou três soldados cruzados descansavam da batalha calculando o valor de algum saque feito pouco antes nos despojos das tropas fatimidas.  Buccelin viera com Raimundo de Toulouse, que apoiara nas disputas com Godofredo de Bulhões sobre a nova autoridade na cidade, e agora tinha que decidir se ficava com os seus companheiros ou se regressava ao seu castelo, de que não tinha notícias há quase quatro anos. 

O sol estava a por-se à sua frente e os ruídos da cidade chegavam com facilidade ao monte. Resolveu escrever a sua mulher Agnes, estendeu o escudo sobre as pernas e mandou trazer de um dos cavalos da sua comitiva o pequeno embrulho com o material para escrever. Doía-lhe muito o braço, não sabia se da batalha, se de um queda que dera há uns dias. A carta que escreveu nesse fim de tarde e no início da noite na sua tenda sobreviveu e conta os dilemas de Buccelin entre permanecer na Terra Santa, junto com o pequeno grupo de cem cavaleiros que ficou, ou regressar à sua terra e à sua Agnes. A Gesta Francorum é omissa sobre o destino de Buccelin, mas pensa-se que nunca regressou.

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© José Pacheco Pereira
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