ABRUPTO

9.8.11


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (135):  
PACK JOURNALISM, PLÁGIO E REDES DE PODER

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Pedro Tadeu denuncia hoje no Diário de Notícias um abuso que se está a tornar habitual e que revela duas coisas: a tendência para o pack journalism e a completa falta de respeito pelo trabalho alheio.
Vi, domingo passado, o Telejornal. Em destaque esteve o tema das nomeações políticas. Uma peça de largos minutos detalhava os números. Foram feitas, pelo Executivo de Passos Coelho, 450 nomeações, 73 das quais entregues a membros do PSD e do CDS. A peça alertava para o facto de todas as nomeações ainda não serem conhecidas e comparava estes números com o dos anteriores executivos. Resumindo e concluindo: a RTP repetia um trabalho de quatro páginas publicado nesse dia pelo Diário de Notícias.


Quase tudo o que vemos nos noticiários televisivos é tirado, copiado, reciclado ou transformado da imprensa. É uma normalidade a que, aparentemente, ninguém dá importância. A RTP, que não estou aqui a acusar, limitou-se a praticar o que é aceite por todos.
Não podia ter mais razão. Essa prática, quer na variante mais directa da cópia sem disfarce, quer na com disfarce, como seja pegar numa matéria, num "caso",  dois ou três dias depois de ele ter aparecido num outro órgão de comunicação social, como se tivesse sido descoberto pelo que agora o divulga. Aliás é uma prática que conheço bem, quer aqui, quer no EPHEMERA onde é habitual jornalistas  irem buscar notícias e informações, que depois são recicladas sem citação da fonte.  Seja... 

Há porém outro aspecto que é preocupante nestas práticas que é a perpetuação do erro, e a presunção que o trabalho está feito de vez pelo que ninguém volta à matéria de novo. O trabalho do Diário de Notícias está muito aquém da realidade, quer quanto aos filiados partidários, que são muito mais do que 73, quer quanto a outras redes e "micro-poderes" que acompanham hoje as estruturas partidárias, mas estão muitas vezes para além delas. É o caso das relações dentro de algumas lojas maçónicas ou de ligações de negócio (voltaremos aqui). Aliás, ser filiado num partido não significa ser incompetente ou incompatível para um lugar público,  e a confiança pessoal é fundamental num lugar de nomeação política, como é o caso dos assessores de imprensa, por muito que os jornalistas não gostem que se diga isto. Há poucos lugares de maior confiança de um governante do que o da assessoria de imprensa. Era válido para Sócrates e é para Passos Coelho.

(Continua.)

*

A propósito do plágio na imprensa, vale bem a pena ler o delicioso livro de Mario Vargas Llosa «A Tia Júlia e o Escrevedor», em que a personagem principal (o próprio MVL, na altura com 18 anos) fazia os noticiários de uma estação de rádio:  Pegava nos jornais do dia, escolhia as notícias com mais impacto, e dedicava depois o melhor do seu esforço a alterar verbos, adjectivos e advérbios - produzindo peças "originais", de hora a hora, de êxito garantido...

(C. Medina Ribeiro)


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